ppp ifrn 2012_versao para consulta publica 05mar2012

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Projeto Político-Pedagógico do IFRN: uma construção coletiva DOCUMENTO BASE Versão para consulta pública à comunidade acadêmica do IFRN

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Projeto político pedagógico IFRN

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  • Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN:

    uma construo coletiva

    DOCUMENTO BASE

    Verso para consulta pblica comunidade

    acadmica do IFRN

  • INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAO, CINCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE

    Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN:

    uma construo coletiva

    DOCUMENTO BASE

    Verso para consulta pblica comunidade acadmica

    do IFRN

    Natal-RN

    Mar./2012.

  • ORGANIZAO

    Anna Catharina da Costa Dantas

    Nadja Maria de Lima Costa

    ASSESSORIA PEDAGGICA

    Ana Lcia Pascoal Diniz

    Rejane Bezerra Barros

    REVISO TCNICO-PEDAGGICA

    Ana Lcia Pascoal Diniz

    Anna Catharina da Costa Dantas

    Francy Izanny de Brito Barbosa Martins

    Nadja Maria de Lima Costa

    Rejane Bezerra Barros

    COORDENAO DE REVISO LINGUSTICO-TEXTUAL

    Joo Maria Paiva Palhano

    NORMALIZAO BIBLIOGRFICA

    Maria Ilza da Costa

  • MINISTRO DA EDUCAO

    Aloizio Mercadante

    SECRETRIO DE EDUCAO PROFISSIONAL E TECNOLGICA

    Marco Antnio de Oliveira

    REITOR DO IFRN

    Belchior de Oliveira Rocha

    CONSELHO SUPERIOR DO IFRN

    Belchior de Oliveira Rocha Presidente

    Nadir Arruda Skeete Secretria

    Membros Titulares:

    Amaro Sales de Arajo

    Anna Catharina da Costa Dantas

    Antnio Andr Alves

    Carlos Alberto Poletto

    Cludio Ricardo Gomes de Lima

    Danilma de Medeiros Silva

    Francisco das Chagas de Mariz Fernandes

    Francisco Fernandes de Oliveira

    Francisco Pereira da Silva Neto

    Gustavo Fontoura de Souza

    Hlio Pignataro Filho

    Ismael Flix Coutinho Neto

    Jos de Ribamar Silva Oliveira

    Jos Miguel Rosalvo da Silva

    Karina Bezerra da Fonseca e Silva

    Lzaro Mangabeira de Gis Dantas

    Manoel Jusselino de Almeida e Silva

    Marcel Lcio Matias Ribeiro

    Mrcio Adriano de Azevedo

    Marcones Marinho da Silva

    Maria Elizabeth Fernandes

    Patrcia Carol Rodrigues de Melo

    Rodrigo Vidal do Nascimento

    Silvio Csar Farias de Oliveira

    Sonia Cristina Ferreira Maia

  • AGRADECIMENTOS

    Em uma instituio da magnitude do Instituto Federal de Educao, Cincia e

    Tecnologia do Rio Grande do Norte, a elaborao de um Projeto Poltico-Pedaggico tarefa

    de autoria coletiva. um trabalho em que as veleidades pessoais se enfraquecem e o crivo

    institucional e, indelevelmente, ifrniano assoma. Por isso, necessrio agradecer.

    Agradecemos queles que assumiram a coordenao geral de todo o processo de

    construo do Documento.

    Agradecemos queles que conduziram as discusses, realizadas em todos os campi

    da Instituio e com ampla participao da comunidade ifrniana.

    Agradecemos queles que teceram os textos norteadores dos debates acadmicos.

    Agradecemos queles que, nos debates, exercitaram o direito voz, emitindo juzos,

    defendendo ideias, contrapondo-se a pontos de vista...

    Agradecemos queles que sistematizaram, sob forma escrita, a trama, viva e nem

    sempre to fcil de ser depreendida, das discusses.

    Agradecemos queles que, em um esforo muitas vezes exaustivo, urdiram o texto

    final.

    Agradecemos queles que, tambm em um esforo exaustivo, procederam s

    revises de contedo e de linguagem.

    Agradecemos queles que formataram e que normalizaram o Documento.

    Agradecemos, por fim, a todos aqueles que, acreditando em um horizonte

    institucional cada vez mais desafiador, instigante e promissor, despenderam esforos em

    benefcio da produo deste Documento.

  • Tudo o que a gente puder fazer no sentido de

    convocar os que vivem em torno da escola, e dentro

    da escola, no sentido de participarem, de tomarem

    um pouco o destino da escola na mo, tambm.

    Tudo o que a gente puder fazer nesse sentido

    pouco ainda, considerando o trabalho imenso que

    se pe diante de ns que o de assumir esse pas

    democraticamente.

    Paulo Freire

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Disposio geogrfica e rea de abrangncia dos campi do IFRN em 2011. 28

    Figura 2 Paradigma crtico-dialtico de gesto democrtica (concepo em espiral). 62

    Figura 3 Representao do princpio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e

    extenso, no IFRN. 98

    Figura 4 Representao grfica da organizao curricular dos cursos tcnicos de nvel

    mdio em ncleos politcnicos. 111

    Figura 5 Requisitos e formas de acesso para os cursos tcnicos integrados regulares. 114

    Figura 6 Requisitos e formas de acesso para os cursos tcnicos integrados na

    modalidade EJA. 117

    Figura 7 Requisitos e formas de acesso para os cursos tcnicos subsequentes. 120

    Figura 8 Representao da estrutura curricular dos cursos superiores de tecnologia. 130

    Figura 9 Requisitos e formas de acesso para os cursos superiores de tecnologia. 131

    Figura 10 Modelo proposto para os cursos de engenharia em dois ciclos. 134

    Figura 11 Requisitos e formas de acesso para os cursos de engenharia. 138

    Figura 12 Modelo de formao profissional de professores, apontado por estudiosos

    e pesquisadores progressistas. 141

    Figura 13 Representao do desenho curricular dos cursos de licenciatura. 153

    Figura 14 Requisitos e formas de acesso para os cursos de licenciatura. 157

    Figura 15 Representao do desenho curricular dos cursos de licenciatura na forma

    de segunda licenciatura. 159

    Figura 16 Requisitos e formas de acesso para os cursos de licenciatura em educao

    bsica, na forma de segunda licenciatura. 161

    Figura 17 Representao do desenho curricular dos cursos de licenciatura em

    educao profissional. 163

    Figura 18 Requisitos e formas de acesso para os cursos de licenciatura em educao

    profissional. 164

    Figura 19 Representao grfica da organizao curricular da formao inicial e

    continuada. 182

    Figura 20 Representao de processos e documentos institucionais no mbito do

    Programa Institucional de Avaliao. 236

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Comparao entre os paradigmas de gesto tradicional e de gesto crtico-

    dialtica. 56

    Quadro 2 Possibilidades de atividades complementares e espaos e aes

    correspondentes. 92

    Quadro 3 Diretrizes e indicadores metodolgicos gerais para a formao de

    professores. 149

    Quadro 4 Etapas de estgio docente previstas para os cursos de licenciatura. 155

    Quadro 5 Etapas de estgio docente previstas para os cursos de licenciatura na forma

    de segunda licenciatura. 160

    Quadro 6 Indicadores sociais da assistncia estudantil no IFRN. 223

    Quadro 7 Sistematizao dos processos avaliativos no mbito do Programa

    Institucional de Avaliao. 237

    Quadro 8 Fases da avaliao processual do PPP. 239

    Quadro 9 Fases da avaliao global do PPP. 240

  • SUMRIO

    PREFCIO 9

    1 INTRODUO 11

    2 IDENTIDADE E ORGANIZAO INSTITUCIONAL 15

    2.1 ORGANIZAO INSTITUCIONAL E PERFIL IDENTITRIO 16

    2.1.1 Funo social 18

    2.1.2 Princpios 18

    2.1.3 Caractersticas e finalidades 19

    2.1.4 Objetivos 20

    2.2 AS MARCAS NO TEMPO: O IFRN TECENDO A SUA HISTRIA 21

    2.3 UMA INSTITUIO EM EXPANSO E COMPROMETIDA COM O

    DESENVOLVIMENTO REGIONAL 26

    3 CONCEPES, PRINCPIOS E FUNDAMENTOS DO CURRCULO E DAS PRTICAS INSTITUCIONAIS 31

    3.1 CONCEPO INSTITUCIONAL DE SER HUMANO, SOCIEDADE, CULTURA,

    CINCIA, TECNOLOGIA, TRABALHO E EDUCAO 32

    3.1.1 Concepo de ser humano 33

    3.1.2 Concepo de sociedade 35

    3.1.3 Concepo de cultura 38

    3.1.4 Concepo de cincia 40

    3.1.5 Concepo de tecnologia 43

    3.1.6 Concepo de trabalho 45

    3.1.7 Concepo de educao 47

    3.2 CONCEPO DE CURRCULO INTEGRADO 50

    3.2.1 Fundamentos do currculo integrado 52

    3.2.2 Princpios do currculo integrado 53

    3.3 CONCEPO DE GESTO EDUCACIONAL 54

    3.4 PRINCPIOS ORIENTADORES DA PRTICA PEDAGGICA 64

    3.4.1 A pesquisa como princpio pedaggico 66

    3.4.2 O trabalho como princpio educativo 67

    3.4.3 O respeito diversidade 68

    3.4.4 A interdisciplinaridade 70

    3.5 DIRETRIZES PARA A PRTICA PEDAGGICA 71

    3.5.1 O planejamento pedaggico 71

    3.5.1.1 O planejamento coletivo na prtica pedaggica 72

    3.5.1.2 O planejamento e seus elementos constitutivos 75

    3.5.2 A avaliao da aprendizagem 78

  • 3.5.3 Os projetos integradores 80

    3.5.3.1 Concepo de projeto integrador 81

    3.5.3.2 Objetivos dos projetos integradores 83

    3.5.3.3 Aspectos metodolgicos dos projetos integradores 84

    3.5.4 A prtica profissional 86

    3.5.4.1 A prtica profissional como componente curricular 87

    3.5.4.2 O estgio supervisionado (na formao tcnica e na formao docente) 89

    3.5.4.3 Outras formas de atividades acadmico-cientfico-culturais 91

    3.5.5 O trabalho de concluso de curso 91

    3.5.6 As atividades complementares 92

    3.5.7 Os perfis esperados do professor e do aluno 93

    4 POLTICAS E AES INSTITUCIONAIS 95

    4.1 A INDISSOCIABILIDADE COMO PRINCPIO NORTEADOR DAS POLTICAS E

    AES INSTITUCIONAIS 96

    4.2 POLTICA DE ENSINO 98

    4.2.1 A atuao no ensino 100

    4.2.2 O processo de reviso das ofertas educacionais 101

    4.3 POLTICA DE EDUCAO PROFISSIONAL TCNICA DE NVEL MDIO 101

    4.3.1 Concepo da educao profissional tcnica de nvel mdio 102

    4.3.2 Princpios orientadores da educao profissional tcnica de nvel mdio 105

    4.3.3 Diretrizes e indicadores metodolgicos para os cursos tcnicos de nvel

    mdio 109

    4.3.3.1 Diretrizes e indicadores metodolgicos para os cursos tcnicos de nvel mdio

    na forma integrada (regular) 112

    4.3.3.2 Diretrizes e indicadores metodolgicos para os cursos tcnicos de nvel mdio

    na forma integrada na modalidade EJA 114

    4.3.3.3 Diretrizes e indicadores metodolgicos para os cursos tcnicos de nvel mdio

    na forma subsequente 117

    4.4 POLTICA DE EDUCAO SUPERIOR DE GRADUAO 120

    4.4.1 Concepo da educao superior de graduao 122

    4.4.2 Os cursos superiores de tecnologia ou de graduao tecnolgica 124

    4.4.2.1 Princpios orientadores dos cursos de graduao tecnolgica 127

    4.4.2.2 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos superiores de tecnologia

    ou graduao tecnolgica 128

    4.4.3 Os cursos de engenharia 131

    4.4.3.1 Princpios orientadores e caractersticas dos cursos de engenharia 132

    4.4.3.2 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos de engenharia 133

    4.4.4 A formao de professores 138

    4.4.4.1 Dimenses da formao profissional docente 140

  • 4.4.4.2 Formao profissional para a docncia 143

    4.4.4.3 Princpios orientadores da formao de professores 148

    4.4.4.4 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos de licenciatura em

    educao bsica 150

    4.4.4.5 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos de licenciatura em

    educao bsica, na forma de segunda licenciatura 157

    4.4.4.6 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos de licenciatura em

    educao profissional 162

    4.5 POLTICA DE EDUCAO SUPERIOR DE PS-GRADUO 164

    4.5.1 Concepo e princpios da educao superior de ps-graduao 165

    4.5.2 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos de ps-graduao lato

    sensu 169

    4.5.3 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos e programas de ps-

    graduao stricto sensu 170

    4.6 POLTICA DE FORMAO INICIAL E CONTINUADA OU QUALIFICAO

    PROFISSIONAL 172

    4.6.1 Concepo da formao inicial e continuada 172

    4.6.2 Objetivos da formao inicial e continuada 173

    4.6.3 Princpios orientadores da formao inicial e continuada 174

    4.6.4 Os cursos de formao inicial e continuada 176

    4.6.5 Os programas de qualificao profissional 176

    4.6.5.1 O PROEJA FIC Fundamental 177

    4.6.5.2 O programa de iniciao tecnolgica e cidadania (ProITEC) 178

    4.6.5.3 O programa Mulheres Mil 178

    4.6.6 Diretrizes e indicadores metodolgicos da formao inicial e continuada 179

    4.6.6.1 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos FIC 182

    4.6.6.2 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos PROEJA FIC Fundamental 183

    4.7 POLTICA DE CERTIFICAO PROFISSIONAL 184

    4.7.1 Princpios orientadores da certificao profissional 186

    4.7.2 Diretrizes e indicadores metodolgicos da certificao profissional 187

    4.8 POLTICA DE EDUCAO A DISTNCIA 193

    4.8.1 Concepo de educao a distncia 193

    4.8.2 Princpios orientadores para a educao a distncia 198

    4.8.3 Objetivos da educao a distncia 198

    4.8.4 Caractersticas do projeto pedaggico para educao a distncia 199

    4.8.5 Diretrizes e indicadores metodolgicos para a educao a distncia 201

    4.9 POLTICA DE EDUCAO INCLUSIVA 202

    4.9.1 Concepo de educao inclusiva 203

    4.9.2 Princpios orientadores de educao inclusiva 205

  • 4.9.3 Diretrizes e indicadores metodolgicos de educao inclusiva 206

    4.10 POLTICA DE PESQUISA E INOVAO 208

    4.10.1 Concepo de pesquisa 210

    4.10.2 Princpios orientadores da pesquisa 212

    4.10.3 Diretrizes e indicadores metodolgicos da pesquisa 212

    4.11 POLTICA DE EXTENSO E INTERAO COM A SOCIEDADE 214

    4.11.1 Concepo de extenso 217

    4.11.2 Princpios orientadores de extenso e interao com a sociedade 218

    4.11.3 Diretrizes e indicadores metodolgicos de extenso e interao com a

    sociedade 219

    4.12 POLTICA DE ASSISTNCIA ESTUDANTIL 220

    4.12.1 Concepo de assistncia estudantil 220

    4.12.2 Princpios orientadores de assistncia estudantil 221

    4.12.3 Diretrizes e indicadores metodolgicos de assistncia estudantil 222

    4.13 POLTICA DE FORMAO CONTINUADA E DESENVOLVIMENTO

    PROFISSIONAL SERVIDORES 224

    4.13.1 Concepo de formao continuada e desenvolvimento profissional 224

    4.13.2 Princpios orientadores de formao continuada e desenvolvimento

    profissional 227

    4.13.3 Diretrizes e indicadores metodolgicos de formao continuada e

    desenvolvimento profissional 228

    5 ACOMPANHAMENTO E AVALIAO DO PROJETO POLTICO-PEDAGGICO 230

    5.1 CONCEPO DE AVALIAO DO PPP 231

    5.2 ASPECTOS TERICO-METODOLGICOS DO PROCESSO 231

    5.3 DIRETRIZES PARA A IMPLEMENTAO DO PROCESSO 233

    5.4 O PROGRAMA INSTITUCIONAL DE AVALIAO 235

    6 CONSIDERAES FINAIS 243

    REFERNCIAS 243

    APNDICE A Diagnstico: contexto atual e desafios (2009 a 2011) 257

    APNDICE B Marco legal para as ofertas educacionais 304

    APNDICE C Matriz de anlise para avaliao do PPP 308

  • PREFCIO

    O Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN: uma construo coletiva o resultado de um

    esforo democrtico e participativo. Sob esse foco, a feitura do Documento espelha a mesma

    tnica aberta e dialogal que rege as prticas pedaggicas e administrativas institucionais.

    Na condio de arquitetar um projeto, o Documento, em um dimensionamento

    flexvel capaz de comportar a dinmica da sociedade, apresenta o planejamento, os pilares e

    as aes para que a Instituio possa desempenhar sua funo social. Na condio de definir

    uma ancoragem poltica, o Documento visibiliza o compromisso com a democratizao da

    educao, entendendo-se essa democratizao como um direito irrenuncivel da sociedade e

    como um compromisso com a formao profissional, cidad crtica, poltica e reflexiva. Na

    condio de definir uma ancoragem pedaggica, o Documento tangibiliza as aes

    educativas, explicitando os objetivos, as intenes e os meios de ao o conjunto de

    propsitos e de prticas necessrios ao fazer pedaggico.

    Sob essa focagem, a (re)elaborao do Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN

    simbolizou mais que a sistematizao de um documento. Constituiu-se como um pensar e

    como um planejar o fazer, tendo, na ponta inicial do longo fio da trajetria percorrida, a

    reportao historicidade institucional, o diagnstico de como a Instituio se encontra

    neste primeiro decnio do sculo XXI e a depreenso das concepes institucionais (de ser

    humano, de sociedade, de cultura, de cincia, de tecnologia, de trabalho...).

    Foram muitos os artfices deste Projeto. Contamos, desde os primrdios do processo,

    com o apoio da Equipe Tcnico-Pedaggica, que, em todos os campi da Instituio, definiu

    as diretrizes e assessorou as discusses, garantindo o trabalho sistmico da comisso

    central, coordenada pela Pr-Reitoria de Ensino. Contamos tambm com o apoio dos

    gestores e dos dirigentes do IFRN, em especial dos Diretores Acadmicos, dos

    Coordenadores de Cursos e dos Coordenadores de Ncleos Centrais Estruturantes.

    Sob um olhar mais perscrutador, a construo do Projeto fez emergir a vontade, a

    fragilidade e a fora do IFRN. Mostrou-se como o resultado do entrecruzamento de algumas

    vigas imprescindveis sustentao da seriedade e do compromisso: o conhecimento das

    polticas da educao brasileira e das prticas pedaggicas, sejam essas ltimas

    institucionais ou no; a capacidade de mediar debates demarcados pelo pluralismo

    ideolgico; a vontade de realizar o melhor em prol da Instituio; a humildade para aprender

    e para ouvir; a firmeza e a doura para conduzir o processo; e a defesa de uma educao de

    qualidade e do papel poltico-social da educao profissional e tecnolgica na vida do

    cidado.

    Para garantir o perfil coletivo da construo, realizamos planejamentos, estudos,

    reunies, seminrios, fruns, mesas-redondas, palestras... Recorremos aos encontros

    presenciais e semipresenciais. Em um jogo dialgico sistematizador das mais diversas

  • contribuies, advindas do conglomerado das vozes institucionais, tomaram forma

    elaboraes e reelaboraes. Tratava-se de um jogo cujo vencedor seria a Instituio.

    Ressaltamos a complexidade do processo de corporificar tantas informaes

    histricas, terico-metodolgicas, filosficas e polticas na verso final deste documento.

    Para isso, contamos com a pacincia e a colaborao de diversos atores, responsveis pela

    concatenao lgica e concisa dos mltiplos dizeres institucionais e pela reviso criteriosa

    dos contedos, das escolhas lexicais, das organizaes frasais, da formatao, das

    convenes acadmicas previstas pela ABNT...

    claro que no acertamos em tudo, o que espervel do movimento dialtico desse

    processo de construo. Estamos convictos, entretanto, de que, embora enfrentando alguns

    entraves, realizamos um trabalho de qualidade, buscando atingir o objetivo traado no incio

    do processo. Estamos convictos tambm de que, dado o carter de incompletude permeador

    de toda atividade humana, o Documento oferece lacunas e exige constante avaliao das

    polticas, das diretrizes e das aes nele inscritas. Mesmo assim, cremos ter sistematizado

    um instrumento orientador tanto das prticas poltico-pedaggicas institucionais quanto da

    formao continuada dos educadores que ingressam nesta Casa.

    Em nenhum momento, no nos esquecemos de que, ao completar cem anos, o IFRN

    retomou a caminhada, robustecendo-se em uma expanso poltica, geogrfica e acadmica.

    Passamos de duas para mais de quinze unidades de ensino; da oferta, praticamente

    exclusiva, de cursos tcnicos integrados para mais de dez formas e/ou modalidades de

    educao profissional e tecnolgica; de pouco mais de quinhentos para mais de mil e

    quinhentos servidores; de quatro mil para mais de vinte mil estudantes, atendidos em cursos

    e em programas institucionais.

    Por fim, ressaltamos o aprendizado institucional diante do processo democrtico e

    coletivo de construo deste Projeto Poltico-Pedaggico. Nesse sentido, crescemos todos

    com as discordncias, com os contrapontos e com as conciliaes, oportunos e necessrios.

    Crescemos como seres humanos e como profissionais. Crescemos, sobretudo, como aqueles

    que fazem parte de uma Instituio cuja marca indelvel, mantida na linha do tempo, se

    singulariza pela presena da qualidade e da responsabilidade.

    Desfrutemos da leitura e da implementao deste Documento sem esquecermos que

    ele constitui um exerccio de gesto democrtica, de cidadania e de compromisso social com

    a educao. No nos esqueamos tambm de que se trata de letra viva e que, por isso, deve

    nortear, em todos os mbitos do IFRN, as prticas poltico-pedaggicas institucionais.

    Belchior de Oliveira Rocha

    Anna Catharina da Costa Dantas

    Nadja Maria de Lima Costa

  • Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN: uma construo coletiva.

    Verso para consulta pblica comunidade acadmica. IFRN, 2012.

    11

    1 INTRODUO

    O projeto poltico-pedaggico busca um rumo, uma

    direo. uma ao intencional, com um sentido

    explcito, com um compromisso definido coletivamente.

    Por isso, todo projeto pedaggico da escola , tambm,

    um projeto poltico por estar intimamente articulado ao

    compromisso scio - poltico e com os interesses reais e

    coletivos da populao majoritria. [...] Na dimenso

    pedaggica reside a possibilidade da efetivao da

    intencionalidade da escola, que a formao do cidado

    participativo, responsvel, compromissado, crtico e

    criativo. Pedaggico, no sentido de se definir as aes

    educativas e as caractersticas necessrias s escolas de

    cumprirem seus propsitos e sua intencionalidade.

    Ilma Passos Veiga

    O projeto poltico-pedaggico deve ser compreendido como um planejamento global

    de todas as aes de uma instituio educativa, abarcando direcionamentos, pedaggicos,

    administrativos e financeiros. um instrumento de gesto democrtica que possibilita a

    reflexo crtica e contnua a respeito das prticas, dos mtodos, dos valores, da identidade

    institucional e da cultura organizacional.

    Construdo de modo participativo, o projeto poltico-pedaggico permite resgatar o

    sentido humano, cientfico e libertador do planejamento. Ope-se, assim, lgica do

    planejamento burocrtico ou meramente estratgico, bastante difundido nas esferas mais

    conservadoras da educao e nas reformas neoliberais dos anos 1990. Situado nessa

    perspectiva emancipatria, o projeto poltico-pedaggico objetiva, sobretudo, promover

    mudanas nas concepes e nas prticas cotidianas, traando diretrizes referenciadoras da

    caminhada educativa.

    Por esse motivo, toda instituio educativa, se comprometida com uma educao de

    qualidade social e com a proeminncia dos valores democrticos na gesto educacional,

    adere s formas de participao e de fortalecimento da autonomia expressas no movimento

    de construo de seu projeto poltico-pedaggico. Dado tal vis de amplitude, de

    organicidade e de abertura ao dilogo, o projeto poltico-pedaggico possibilita, inclusive,

    integrar, em prticas interdisciplinares, o ensino, a pesquisa e a extenso.

    No caso especfico do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio

    Grande do Norte IFRN, a cultura institucional de reger-se por meio de um projeto poltico-

    pedaggico vem se consolidando desde 1994, com a elaborao da Proposta curricular da

    Escola Tcnica Federal do Rio Grande do Norte ETFRN. Em 1999, a Instituio promoveu

    uma reviso desse documento em virtude das reformas decorrentes do Decreto 2.208/97 e

    do Programa de Expanso da Educao Profissional PROEP. O projeto poltico-pedaggico

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    ento vigente passou a contemplar duas propostas curriculares: uma, para a formao

    profissional; e outra, para o ensino mdio.

    Em 2004, no perodo ps-cefetizao, a Instituio desenvolveu, em consequncia

    das reformas na educao profissional brasileira, um profcuo trabalho de

    redimensionamento da ao educativa. Tal iniciativa culminou na reelaborao do projeto

    poltico-pedaggico, agora denominado Redimensionamento do Projeto Poltico-Pedaggico

    do CEFET-RN: um documento em construo. Por descontinuidades de polticas internas,

    tanto o processo de redimensionamento quanto a feitura do documento foram

    interrompidos.

    Em 2009, estabeleceu-se novo movimento poltico-pedaggico na Instituio, em

    virtude do projeto de reestruturao e expanso da rede federal de ensino. Essa poltica

    governamental, criadora de uma nova institucionalidade para as instituies federais de

    educao profissional, trouxe, tona, novos desafios polticos, filosficos e pedaggicos.

    Houve, por isso, necessidade premente de revisar ou de (re)construir os documentos que

    regiam a Instituio, dentre eles o projeto-poltico-pedaggico.

    Nesse contexto de implantao de uma nova institucionalidade, instaura-se o

    processo coletivo e participativo de (re)construo do atual Projeto Poltico- Pedaggico do

    IFRN. Esse processo exigiu a (re)definio das finalidades, dos objetivos institucionais, das

    ofertas educacionais, das prticas pedaggicas e dos referenciais orientadores de todas as

    aes institucionais. Exigiu, fundamentalmente, uma imerso no universo da cultura

    institucional e das prticas pedaggicas, com o fito de proporcionar unidade nas aes do

    Instituto.

    Alm das questes complexas inerentes ao processo de elaborao participativa de

    um projeto poltico-pedaggico, a Instituio vivenciou, simultaneamente, um momento

    histrico de expanso geogrfica e acadmica. Os campi estavam sendo implantados em

    diversas regies do Estado; o quadro de servidores estava sendo acrescido de novos

    professores e novos tcnico-administrativos; o quantitativo de estudantes estava se

    ampliando; e a oferta educacional estava sendo redimensionada.

    Com o propsito de implementar um processo democrtico de (re)construo do

    Projeto Poltico-Pedaggico, elegeu-se a metodologia participativa. Em uma perspectiva

    crtica, tomaram-se, como referncia, os pressupostos terico-metodolgicos dos projetos

    anteriores e as experincias acumuladas nos vrios processos de construo desses projetos

    institucionais. Para o desenvolvimento do processo, optou-se por encaminhamentos

    metodolgicos que privilegiam o dilogo, abrindo-se, assim, para o debate com todos os

    segmentos da Instituio. Essa experincia coletiva assumiu um carter inusitado, devido ao

    novo contexto institucional pluricurricular e multicampi, com novos desafios polticos,

    pedaggicos e organizacionais.

    No percurso metodolgico participativo, props-se, dentre outras estratgias,

    seminrios, palestras e fruns, envolvendo a participao de servidores e de alunos, de

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    modo a garantir, no mbito de proposies e de avaliaes, as discusses, as interlocues

    e as interferncias. De incio, traou-se um planejamento abrangente, objetivando definir

    equipes de coordenao do processo, delimitar cronograma geral e eleger temas a serem

    discutidos. Nessa etapa inicial, contemplaram-se os encaminhamentos que iriam orientar

    todo o processo de discusso e que iriam compor o documento final. Entendeu-se esse

    documento como sntese do pensamento institucional e resultado do planejamento coletivo

    e participativo. Constitui-se, assim, uma proposta de projeto contendo marco situacional,

    marco terico e marco operacional.

    Para atender a diversidade de temticas, finalidades, concepes, polticas e aes

    educativas, necessariamente enfocadas no Projeto Poltico-Pedaggico de uma instituio

    pluricurricular como o IFRN, dividiu-se o documento em sete volumes. Assim, a estrutura

    geral do Projeto Poltico-Pedaggico organiza-se nos seguintes tomos : Volume I

    Documento-Base; Volume II O Processo de Construo do Projeto Poltico-Pedaggico do

    IFRN; Volume III Organizao Didtica do IFRN; Volume IV Diretrizes Orientadoras das

    Ofertas Educacionais; Volume V Propostas de Trabalho para as Disciplinas do Ensino

    Mdio; Volume VI Projetos Pedaggicos de Cursos; e Volume VII Cadernos Temticos.

    O Volume I - Documento-Base estrutura-se em cinco captulos, distribudos na

    seguinte ordenao: Introduo; Identidade e Organizao Institucional; Concepo,

    Princpios e Fundamentos do Currculo; Polticas e Aes Institucionais; Acompanhamento e

    Avaliao do PPP; e Consideraes Finais.

    O Captulo 1 apresenta a concepo do Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN, os

    princpios que orientam a construo de projetos poltico-pedaggicos, a contextualizao

    histrica dos projetos poltico-pedaggicos da Instituio, as razes de se construir um novo

    projeto poltico-pedaggico, o contexto em que transcorreu o processo de construo desse

    novo documento e a metodologia adotada em tal construo.

    O Captulo 2 aborda o perfil identitrio institucional no contexto histrico-social

    hodierno do IFRN. Para tanto, pe em foco a estrutura institucional, as finalidades e a funo

    social da Instituio, o histrico da Instituio e a contextualizao poltica e geogrfica do

    projeto de expanso da rede federal de educao profissional e tecnolgica no Rio Grande

    do Norte.

    O Captulo 3 explicita o conjunto de concepes tericas e de bases epistemolgicas

    e filosficas que fundamenta a opo pelo currculo integrado. Explicita tambm a

    concepo de currculo orientadora da prtica pedaggica institucional e a concepo de

    gesto democrtica na educao.

    O Captulo 4 versa sobre as polticas e as aes educativas da Instituio. Apresenta

    em que consiste essas polticas e essas aes, no que se refere aos objetivos, s formas de

    organizao das ofertas educacionais, a quem se destinam e aos indicadores metodolgicos

    de cada poltica.

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    O Captulo 5 expe uma proposta de avaliao processual global e emancipatria

    do Projeto Poltico-Pedaggico institucional com a finalidade de corrigir rumos e

    retroalimentar as polticas e as aes institucionais.

    O Captulo 6 reala as consideraes finais do processo de construo do Projeto

    Poltico-Pedaggico. Reafirma os compromissos assumidos e evidencia as novas etapas de

    implementao e de avaliao do documento. Destaca, por fim, os desafios dessa

    construo coletiva, no que concerne consolidao da gesto democrtica no IFRN.

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    2 IDENTIDADE E ORGANIZAO INSTITUCIONAL

    Identidade fonte de significado e experincia de um

    povo. Do ponto de vista sociolgico, toda e qualquer

    identidade construda. [...] o processo de construo

    de significado com base em um atributo cultural, ou

    ainda um conjunto de atributos culturais inter-

    relacionados o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras fontes

    de significados.

    Manuel Castells

    A identidade institucional confere singularidade ao IFRN e traduz o que se considera

    o ideal pedaggico da Instituio. Esse ideal encontra-se representado na funo social, nos

    compromissos pedaggicos e nos valores culturais, trs aspectos demarcados neste Projeto

    Poltico-Pedaggico. A funo social define os sentidos da existncia da Instituio; os

    compromissos pedaggicos tangibilizam a situao desejvel para o presente e para o

    futuro institucionais; e os valores constituem o parmetro para a circunscrio do que pode

    ser tomado como sensato e adequado no contexto scio-histrico atual.

    As instituies educativas, na condio de serem parte integrante de uma sociedade

    em constantes transformaes e de atuarem na instncia social da formao humana,

    portam, necessariamente, questes identitrias pujantes e latentes em todos os movimentos

    e em todos os momentos histricos. Nesse sentido, a histria das instituies escolares

    funde-se histria da educao. Portanto, o processo de (re)constituio da identidade

    institucional no pode prescindir, por exemplo, de conhecimentos acerca da cultura

    organizacional, dos sistemas educativos e dos impactos das polticas educativas no mbito

    institucional e no mbito sociocultural.

    Segundo Gatti Jnior (2002, p. 20), a histria das instituies educativas investiga o

    que se passa no interior da escola pela apreenso daqueles elementos que conferem

    identidade instituio educacional, ou seja, daquilo que lhe confere um sentido nico no

    cenrio social do qual fez ou ainda faz parte, mesmo que ela tenha se transformado no

    decorrer dos tempos. Assim, constituir a identidade institucional implica perscrutar, dentre

    outros elementos, o ciclo de vida das instituies (criao, desenvolvimento, crises e

    expanses), os elementos da arquitetura (estruturao fsica interna e externa), o perfil dos

    agentes (corpos docente, discente e tcnico e funcionrios terceirizados), os processos de

    gesto, os projetos e as propostas pedaggicas.

    A nova institucionalidade do IFRN, atribuda a uma Instituio educativa centenria,

    est alicerada em valores, tradies, prticas, inter-relaes sociais, funes sociais, reas

    de atuao, pblicos-alvo, prestgio social e insero no projeto micro e macrossocial. A esse

    cenrio, acrescente-se que as mudanas implementadas trouxeram novos componentes de

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    gesto administrativo-pedaggica articulados ao processo institucional de expanso e de

    interiorizao. Trata-se de uma re(construo) identitria que, necessariamente, demandou

    ser balizada pelos princpios da gesto democrtica, da participao e da incluso social, em

    virtude do encargo simblico da cultura construda.

    Ademais, a (re)constituio e o fortalecimento da identidade de uma organizao

    recm-sada de uma reestruturao institucional implicam redefinio dos compromissos,

    das finalidades, dos objetivos e dos modos de organizar-se. Nesse cenrio propiciador de

    transformaes poltico-filosficas, poltico-pedaggicas e poltico-organizacionais, assume-

    se a centralidade pedaggica como cone da cultura organizacional e da identidade

    institucional. Assim, a (re)construo do Projeto Poltico-Pedaggico surge como ao de

    gesto democrtica e viabiliza a reorganizao institucional, possibilitando por meio de

    um processo pautado no dilogo, na participao e na interdependncia das relaes

    interpessoais e institucionais a redefinio da identidade institucional.

    Ao reafirmar o potencial reflexivo e transformador de uma ao coletiva do porte de

    um projeto poltico-pedaggico, Gadotti (apud GARCIA; QUEIROZ, 2009, p. 119) explicita que

    essa ao [...] no nega o institudo da escola que a sua histria, que o conjunto de seus

    currculos, dos seus mtodos, o conjunto de seus atores internos e externos e o seu modo

    de vida. Um projeto sempre confronta esse institudo com o instituinte. Por assim se

    entender, priorizou-se, no incio do processo de construo deste Projeto Poltico-

    Pedaggico, a reconstituio identitria do IFRN a partir de ampla reflexo coletiva,

    culminando no diagnstico do contexto atual da Instituio. Esse momento de ao-reflexo

    consolidou-se como marco referencial para as demais etapas de elaborao do Projeto.

    Este captulo sintetiza a identidade institucional do IFRN, desvelada na (re)construo

    do Projeto Poltico-Pedaggico institucional e, portanto, circunstanciada historicamente.

    Definem-se, assim, a funo social, os princpios, as caractersticas e os objetivos da

    Instituio. Para tanto, demarcam-se as questes identitrias, abordando-se uma

    reconstituio histrica dessa Instituio centenria. Percorre-se uma trajetria tecida por

    ideologias diversas: da fundao da Escola de Aprendizes Artfices, no primeiro decnio do

    sculo XX, criao do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio Grande do

    Norte, no primeiro decnio do sculo XXI. Trata-se de um trajeto que espelha, de modo por

    demais incisivo, tanto o processo de implantao do IFRN quanto o percurso de

    reestruturao e de expanso da rede federal de educao profissional, cientfica e

    tecnolgica no Rio Grande do Norte e no Brasil.

    2.1 ORGANIZAO INSTITUCIONAL E PERFIL IDENTITRIO

    O Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN),

    nova institucionalidade dada pelos termos da Lei 11.892, de 29 de dezembro de 2008, faz

    parte da rede federal de educao profissional e tecnolgica, vincula-se ao Ministrio da

    Educao, possui natureza jurdica de autarquia e detm autonomia administrativa,

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    patrimonial, financeira, didtico-pedaggica e disciplinar. Trata-se de uma instituio de

    educao superior, bsica e profissional, especializada na oferta de educao profissional e

    tecnolgica nas diferentes modalidades de ensino, conjugando conhecimentos cientficos,

    tcnicos e tecnolgicos a ideais pedaggicos de fundamentao histrico-crtica.

    Com estrutura multicampi, o IFRN est sediado na Reitoria, localizada na Rua Dr. Nilo

    Bezerra Ramalho, n 1692, Tirol, Natal-RN. composto, tomando-se o ano de 2011 como

    referncia, por dezenove campi (Apodi, Caic, Canguaretama, Cear-Mirim, Currais Novos,

    Educao a Distncia, Ipanguau, Joo Cmara, Macau, Mossor, Natal-Central, Natal-Cidade

    Alta, Natal-Zona Norte, Nova Cruz, Parnamirim, Pau dos Ferros, Santa Cruz, So Gonalo do

    Amarante e So Paulo do Potengi).

    De organizao pluricurricular, o IFRN oferece um ensino pblico, laico, gratuito e de

    qualidade. Oferta, nesse sentido, cursos em sintonia com a funo social que desempenha,

    visando a consolidao e o fortalecimento dos arranjos produtivos, culturais e sociais locais.

    Apresenta, para tanto, um currculo organizado a partir de trs eixos cincia, trabalho,

    cultura e tecnologia que atuam, de modo entrelaado e intercomplementar, como

    princpios norteadores da prtica educativa. O Instituto desenvolve a pesquisa e a extenso,

    na perspectiva de produo, socializao e difuso de conhecimentos. Estimula a produo

    cultural e realiza processos pedaggicos que levem gerao de trabalho e renda. Em um

    contexto mais amplo, a Instituio visa contribuir para as transformaes da sociedade, visto

    que esses processos educacionais so construdos nas relaes sociais.

    No que concerne comunidade acadmica, tem-se os sujeitos sociais diretamente

    envolvidos com os processos pedaggicos e administrativos do IFRN. Essa comunidade

    constituda por trs segmentos: estudantes, professores e tcnico-administrativos. Numa

    perspectiva mais abrangente, acrescenta-se, a esse coletivo, a comunidade local, composta

    tanto por pais dos estudantes e/ou responsveis pelos estudantes quanto por

    representantes da sociedade civil.

    No que concerne destinao de vagas, o IFRN contempla, em cada exerccio, os

    mnimos de 50% (cinquenta por cento) para a educao profissional tcnica de nvel mdio,

    prioritariamente na forma integrada, e de 20% (vinte por cento) para a formao de

    professores da educao bsica, sobretudo nas reas de Cincias e de Matemtica. O

    restante das vagas destinado s demais formas de oferta educacional ou

    complementao dos mnimos estabelecidos.

    No mbito da gesto institucional, o IFRN busca mecanismos participativos para a

    tomada de deciso, em seus colegiados, com representantes de todos os segmentos da

    Instituio e de determinados setores da sociedade civil, perseguindo o objetivo de

    consolidar uma sociedade democrtica, regida pelo princpio da participao e da

    autonomia.

    Para efeito de regulao, avaliao e superviso da Instituio e dos cursos de

    educao superior, equipara-se s universidades federais. Alm de se submeter legislao

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    federal especfica, rege-se pelos seguintes instrumentos normativos: estatuto; regimento

    geral; regimento interno dos campi e dos demais rgos componentes da estrutura

    organizacional dos institutos federais; resolues do Conselho Superior (CONSUP);

    deliberaes do Colgio de Dirigentes (CODIR) e do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extenso

    (CONSEPEX); e atos da Reitoria.

    A expanso do IFRN amplia, significativamente, a atuao nas reas de ensino, de

    pesquisa e de extenso; contribui, de modo mais extensivo, para a formao humana e

    cidad; e estimula o desenvolvimento socioeconmico, medida que potencializa solues

    cientficas, tcnicas e tecnolgicas, com compromisso de estender benefcios comunidade.

    Essa ampla abrangncia em todo o territrio norte-rio-grandense contribui para

    posicionar tanto o IFRN como uma instituio de educao, cincia e tecnologia quanto os

    seus campi como elos de produo de conhecimento e de desenvolvimento social. Garante,

    assim, a manuteno da respeitabilidade junto s comunidades nas quais os campi se

    inserem e da credibilidade construda ao longo da histria da Instituio.

    2.1.1 Funo social

    A funo social do IFRN ofertar educao profissional e tecnolgica de qualidade

    referenciada socialmente1

    e de arquitetura poltico-pedaggica capaz de articular cincia,

    cultura, trabalho e tecnologia comprometida com a formao humana integral, com o

    exerccio da cidadania e com a produo e a socializao do conhecimento, visando,

    sobretudo, a transformao da realidade na perspectiva da igualdade e da justia sociais.

    Desse modo, o IFRN contribui para uma formao omnilateral que favorece, nos mais

    variados mbitos, o (re)dimensionamento qualitativo da prxis social.

    2.1.2 Princpios

    Em se tratando de um direito reconhecido, a educao com qualidade socialmente

    referenciada somente se torna possvel e real quando perseguida no horizonte em que a

    formao integral capaz de contribuir para a consolidao da cidadania almejada se

    estabelece como direito social, direito de cidadania e direito do ser humano. Portanto, o

    Instituto deve promover uma formao pautada em uma viso humanstica e ancorada nos

    seguintes princpios:

    justia social, com igualdade, cidadania, tica, emancipao e sustentabilidade

    ambiental;

    1

    Entende-se qualidade referenciada socialmente no sentido de a Instituio servir aos interesses pblicos,

    pautando-se nos princpios da democracia e da justia social. Assim, a Instituio envolve a sociedade e permite que

    essa mesma sociedade e os sujeitos [...] participem, democraticamente, da tomada de deciso concernente ao

    destino da escola e da sua administrao. Assim, a participao dos usurios na gesto da escola inscreve-se como

    instrumento, o qual a populao deve ter acesso para exercer o seu direito de cidadania (CASTRO, 2009, p. 41).

    Nestes termos, a gesto democrtica deve propiciar a construo de um espao pblico de direito com vistas

    promoo de condies de igualdade de acesso educao socialmente referenciada [...]. A qualidade defendida se

    afasta do conceito de qualidade total que tem um enfoque empresarial com fulcro nos princpios mercadolgicos de

    produtividade conforme preleciona o gerencialismo (CABRAL NETO, 2011, p. 274).

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    gesto democrtica, com transparncia de todos os atos, obedecendo aos

    princpios da autonomia, da descentralizao e da participao coletiva nas

    instncias deliberativas;

    integrao, em uma perspectiva interdisciplinar, tanto entre a educao

    profissional e a educao bsica quanto entre as diversas reas profissionais;

    verticalizao do ensino e sua integrao com a pesquisa e a extenso;

    formao humana integral, com a produo, a socializao e a difuso do

    conhecimento cientfico, tcnico-tecnolgico, artstico-cultural e desportivo;

    incluso social quanto s condies fsicas, intelectuais, culturais e

    socioeconmicas dos sujeitos, respeitando-se sempre a diversidade;

    natureza pblica, gratuita e laica da educao, sob a responsabilidade da Unio;

    educao como direito social e subjetivo; e

    democratizao do acesso e garantia da permanncia e da concluso com

    sucesso, na perspectiva de uma educao de qualidade socialmente referenciada.

    2.1.3 Caractersticas e finalidades

    Uma das formas de a Instituio se inserir na sociedade est no redimensionamento e

    na articulao de sua estrutura e de seu funcionamento, em consonncia com suas aes de

    ensino, de pesquisa e de extenso. Em adequao nova institucionalidade e sob orientao

    dos Arts. 6 e 7, dispostos pela Lei 11.892/08, o IFRN define suas caractersticas, suas

    finalidades e seus objetivos.

    As caractersticas e as finalidades bsicas do IFRN so as seguintes:

    ofertar educao profissional e tecnolgica, em todos os nveis e em todas as

    modalidades, formando e qualificando cidados para atuao profissional nos

    diversos setores da economia, com nfase no desenvolvimento humano e

    socioeconmico;

    desenvolver a educao profissional e tecnolgica como processo educativo e

    investigativo de gerao e adaptao de solues tcnicas e tecnolgicas que

    atendam s demandas sociais e s peculiaridades regionais;

    promover a integrao e a verticalizao em todos os nveis de ensino (da

    educao bsica, educao profissional e educao superior), otimizando a

    infraestrutura fsica e valorizando os recursos humanos;

    orientar a oferta formativa em benefcio da consolidao, do desenvolvimento e

    do fortalecimento dos arranjos produtivos sociais e culturais, identificados com

    base no mapeamento das potencialidades locais e regionais;

    constituir-se em centro de excelncia na oferta do ensino de cincias, em geral, e

    de cincias aplicadas, em particular, estimulando o desenvolvimento de esprito

    crtico, reflexivo e voltado pesquisa;

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    qualificar-se como centro de referncia no apoio oferta do ensino de cincias

    nas instituies pblicas de ensino, oferecendo formao inicial e continuada aos

    docentes das redes pblicas de ensino;

    desenvolver programas de extenso e de divulgao cientfica e tecnolgica;

    realizar e estimular a pesquisa cientfica e tecnolgica, a produo cultural e a

    inovao tecnolgica;

    estimular o cooperativismo e o desenvolvimento cientfico e tecnolgico; e

    promover a produo, o desenvolvimento e a transferncia de tecnologias,

    notadamente as voltadas sustentabilidade ambiental e s demandas da

    sociedade.

    2.1.4 Objetivos

    Como decorrncia das caractersticas e das finalidades, o IFRN apresenta os

    seguintes objetivos:

    ministrar educao profissional tcnica de nvel mdio, prioritariamente, na

    forma integrada, para os concluintes do ensino fundamental e para o pblico

    da educao de jovens e adultos;

    ministrar cursos de formao inicial e continuada ou de qualificao

    profissional, objetivando a formao, o aperfeioamento, a especializao e a

    atualizao de profissionais, em todos os nveis de escolaridade, nas reas da

    educao profissional e tecnolgica;

    fomentar a pesquisa como princpio educativo;

    realizar pesquisas aplicadas, estimulando o desenvolvimento de solues

    tanto tcnicas quanto tecnolgicas e estendendo os benefcios comunidade;

    desenvolver atividades de extenso articuladas com o mundo do trabalho e

    com os segmentos sociais, enfatizando o desenvolvimento, a produo, a

    difuso e a socializao de conhecimentos culturais, cientficos e

    tecnolgicos;

    estimular e apoiar processos educativos que levem gerao de trabalho e de

    renda e emancipao do cidado, na perspectiva do desenvolvimento

    humano, cultural, cientfico, tecnolgico e socioeconmico local e regional; e

    ministrar, em nvel de educao superior, cursos superiores de tecnologia,

    bacharelado e engenharia, visando a formao de profissionais para as

    diferentes reas do conhecimento e para as demandas da sociedade; cursos

    de licenciatura e programas especiais de formao pedaggica, com vistas

    formao de professores para a atuao na educao profissional e na

    educao bsica, sobretudo nas reas de cincias da natureza e de

    matemtica; cursos de ps-graduao lato sensu (tanto de aperfeioamento

    quanto de especializao), visando a formao de especialistas nas diferentes

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    reas do conhecimento; e cursos de ps-graduao stricto sensu (tanto de

    mestrado quanto de doutorado), visando o estabelecimento de bases slidas

    em educao, cincia e tecnologia.

    2.2 AS MARCAS NO TEMPO: O IFRN TECENDO A SUA HISTRIA2

    A anlise das razes histricas, polticas e sociais do IFRN possibilita um melhor

    entendimento das recentes mudanas e contribui para o fortalecimento da identidade

    institucional. Enseja, assim, uma maior compreenso do perfil institucional, na perspectiva

    de consolidar a funo social, os objetivos e os princpios orientadores do Instituto. Desse

    modo, optou-se por um breve relato a respeito do histrico institucional como forma de se

    compreenderem os sentidos e as razes das mudanas polticas e pedaggicas ocorridas ao

    longo da histria institucional.

    Criada pelo Decreto 7.566, de 23 de setembro de 1909, como Escola de Aprendizes

    Artfices, essa Instituio passou por diversas mudanas e recebeu vrias denominaes ao

    longo do tempo. Instalada, inicialmente, em janeiro de 1910, no prdio do antigo Hospital

    da Caridade, na Praa Coronel Lins Caldas, n 678, Cidade Alta, onde hoje funciona a Casa

    do Estudante de Natal, a Escola de Aprendizes Artfices oferecia curso primrio de desenho e

    oficinas de trabalhos manuais. Em 1914, o estabelecimento foi transferido para a Avenida

    Rio Branco, n. 743, ocupando, durante cinquenta e trs anos, um edifcio construdo no

    incio do sculo XX.

    Mais tarde, ocorreu a mudana de denominao para Liceu Industrial de Natal,

    orientada pela reforma instituda pela Lei 378, de 13 de janeiro de 1937, do Ministrio da

    Educao e Sade, rgo a que a Instituio estava subordinada desde 1930. Na poca, eram

    oferecidas oficinas de desenho, de sapataria, de funilaria, de marcenaria e de alfaiataria,

    inspiradas, segundo Meireles (2006, p. 55), em modelos exteriores ao Brasil, o que

    evidencia a influncia de outros formatos culturais, educacionais, tecnolgicos e produtivos

    na realidade eira do sculo XX.

    Designada como Escola Industrial de Natal (EIN), no ano de 1942, aps a

    promulgao da Lei Orgnica do Ensino Industrial, a Instituio transformou as oficinas em

    cursos bsicos de primeiro ciclo, organizados em quatro sees: Trabalhos de Metal,

    Indstria Mecnica, Eletrotcnica e Artes Industriais. Ademais, a Escola tambm estava

    autorizada a oferecer cursos de mestria para os professores atuantes nessas reas.

    Transformadas em autarquia pela Lei Federal 3.552, de 16 de fevereiro de 1959,

    todas as Escolas Industriais do Brasil conseguiram autonomia administrativa, didtica e

    2 Para maiores informaes acerca do percurso histrico da Instituio ao longo de seus cem anos, sugere-se a

    consulta a outras fontes, como os projetos poltico-pedaggicos anteriores Projeto Pedaggico (ETFRN, 1994),

    Proposta Curricular (ETFRN, 1997), Projeto de Estruturao do CEFET-RN (CEFET-RN, 1999, vol. I e II), Proposta

    Curricular do Ensino Mdio do CEFET-RN (CEFET-RN, 2001) e Projeto Poltico-Pedaggico do CEFET-RN: um

    documento em construo (CEFET, 2005) e os estudos de Pegado (2006) e de Medeiros (2009). Tambm se sugere

    a consulta do caderno temtico Percurso histrico da educao profissional e tecnolgica no IFRN: da Escola de

    Aprendizes Artfices a Instituto Federal, constante dos Cadernos Temticos que compem o Volume VII do Projeto

    Poltico-Pedaggico do IFRN.

  • Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN: uma construo coletiva.

    Verso para consulta pblica comunidade acadmica. IFRN, 2012.

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    financeira, transformando-se em instituies federais destinadas a ministrar cursos tcnicos

    de nvel mdio. Porm, somente em 1963, a EIN implantou seus primeiros cursos tcnicos de

    nvel mdio, com as ofertas de Minerao e de Estradas. O novo modelo tinha equivalncia

    ao ensino de 2 grau, o que permitia a continuidade de estudos no ensino superior para os

    egressos que assim o desejassem.

    Em 1965, o Estabelecimento passou a nomear-se Escola Industrial Federal do Rio

    Grande do Norte (EIFRN). Nessa dcada, no dia 11 de maro de 1967, ocorreu a inaugurao

    da nova Escola Industrial nas recm-construdas instalaes do prdio situado na Avenida

    Salgado Filho, n 1559, no bairro Tirol, atendendo a uma comunidade escolar de 233

    servidores e cerca de 1.100 estudantes.

    Na condio de Escola Tcnica Federal do Rio Grande do Norte (ETFRN), mudana

    impetrada pela Portaria Ministerial 331, de 16 de junho de 1968, o Conselho de

    Representantes deliberou a extino gradativa dos cursos industriais bsicos, passando-se a

    ministrar somente o ensino profissional de nvel tcnico. Em consequncia, foram criados,

    entre 1969 e 1973, os cursos tcnicos de nvel mdio em Eletrotcnica, em Mecnica, em

    Edificaes, em Saneamento e em Geologia, sob a orientao da Lei 5.692/71, a qual definia

    a estrutura do ensino de 2. grau como ensino profissionalizante obrigatrio. A partir de

    ento, a ETFRN passou a dedicar-se, exclusivamente, ao ensino tcnico profissionalizante de

    2 grau.

    Atrelada a acontecimentos diversos, sobretudo nos aspectos polticos e artstico-

    culturais, a dcada de 1975 a 1985 imprimiu esses valores socioculturais ao currculo

    institucional, com a criao do Coral Lourdes Guilherme (1975), a implantao do Atelier de

    Artes Plsticas; a criao do Grupo de Ginstica Rtmica; a fundao do Teatro Laboratrio; a

    formao da Banda de Msica e do Grupo de Metais; e a implantao, no dia 11 de

    dezembro de 1985, do Grmio Estudantil Djalma Maranho.

    Em continuidade, o ano de 1986 evidenciou um imponente pleito: as primeiras

    eleies diretas para Diretor-Geral, cuja disputa elegeu, entre os seis candidatos, a nica

    mulher a exercer o cargo, at o presente momento, na Instituio, a professora Luzia Vieira

    de Frana. Desde essa data, ficou estabelecida a prtica de eleies diretas para o cargo de

    Direo-Geral.

    A ETFRN, em 1995, despontou com uma proposta curricular inovadora na perspectiva

    da formao omnilateral e da educao politcnica. Essa proposta, resultante de um

    processo de construo coletiva e historicamente demarcada como o primeiro Projeto

    Poltico-Pedaggico institucional, consolidou-se em um projeto curricular de referenciais

    histrico-crticos, com princpios filosficos emancipatrios e de tendncia pedaggica

    progressista. Reconhecida nacionalmente, a proposta apresentava uma reorganizao e/ou

    substituio das ofertas vigentes, estruturando-as em seis reas de conhecimento:

    Construo Civil, Eletromecnica, Geologia e Minerao, Informtica, Servios e Tecnologia

    Ambiental. Estava surgindo, assim, um novo desenho curricular e novos encaminhamentos

  • Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN: uma construo coletiva.

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    de gesto pedaggica, evidenciando-se a formao humana integral tanto nos espaos

    formativos da antiga ETFRN quanto em outros espaos institucionais da esfera federal. No

    obstante, esse modelo foi desarticulado precocemente, em funo da regulamentao da

    educao profissional brasileira, por meio do Decreto 2.208/97 e da conjuntura de reformas

    instauradas na educao nacional.

    Essa regulamentao dos Artigos 39 a 42 da Lei 9.394/96 (LDB), que tratam da

    organizao e do funcionamento da educao profissional, orientou uma srie de reformas

    com implicaes in loco, ao instituir a separao formal entre o ensino mdio e o ensino

    tcnico. Em meio a essas mudanas, a ETFRN, com resistncias, passou a oferecer o ensino

    mdio propedutico e a formao tcnica em cursos subsequentes. Coube, assim,

    Instituio, ministrar o ensino profissionalizante nos nveis bsico, tcnico e tecnolgico. O

    movimento de resistncias separao do ensino mdio da formao tcnica deve-se s

    discordncias em relao ao processo de reformas neoliberais, implementadas nos anos

    noventa, na educao profissional brasileira. Tais reformas tinham, como elemento central, a

    desregulamentao e a descentralizao do Estado na prestao dos servios pblicos,

    incluindo a educao

    Nessa mesma dcada, houve uma importante iniciativa de interiorizao da educao

    profissional ofertada pela ETFRN, com a implantao da Unidade de Ensino Descentralizada

    de Mossor (UNED Mossor), cuja inaugurao, em 29 de dezembro de 1994, se constituiu

    no marco inicial da interiorizao da rede federal de educao profissional e tecnolgica no

    Rio Grande do Norte. Entretanto, esse processo de ampliao da oferta de educao

    profissional no Pas foi impedido pela Lei 9.649, de 27 de maio de 1998, que explicita, no

    Art. 47, a proibio de investimentos destinados criao e manuteno de unidades de

    ensino de educao profissional.

    No ano de 1994, iniciou-se outro processo de transio das escolas tcnicas federais.

    No entanto, somente no dia 18 de janeiro de 1999, efetivou-se a mudana de ETFRN para

    Centro Federal de Educao Tecnolgica do Rio Grande do Norte (CEFET-RN). De acordo com

    os documentos oficiais, os centros de educao tecnolgica foram implantados com a

    finalidade de formar e qualificar profissionais no mbito da educao tecnolgica, em

    diferentes nveis e modalidades de ensino, para os diversos setores da economia. Tambm

    objetivavam realizar pesquisa aplicada e promover o desenvolvimento tecnolgico de novos

    processos, produtos e servios, em estreita articulao (especialmente de abrangncia local

    e regional) com os setores produtivos e com a sociedade.

    Em funo das determinaes legais do Decreto 2.208/97, bem como das

    consequncias curriculares inerentes implementao do Programa de Expanso da

    Educao Profissional (PROEP), imps-se, no ano de 1999, a necessidade de reviso do

    Projeto Poltico-Pedaggico vigente. Em decorrncia, materializou-se o Projeto de

    Reestruturao Curricular (CENTRO FEDERAL DE EDUCAO TECNOLGICA DO RIO GRANDE

    DO NORTE, 1999). Nessa reestruturao, o Estabelecimento passou a oferecer cursos de

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    formao profissional, organizados por reas, nos nveis bsico, tcnico e tecnolgico. Sob

    as diretrizes das reformas na educao brasileira, o ensino mdio institucional passou a ser

    estruturado em trs reas interdisciplinares e suas respectivas tecnologias, assumindo

    caractersticas propeduticas. Passou tambm a ser ofertado, por fora de lei,

    separadamente da formao tcnica.

    Decorrente do modelo de educao profissional implantado nos centros federais de

    educao tecnolgica, emergiu a nova estruturao curricular, composta por cursos tcnicos

    de nvel mdio, nas formas concomitante e subsequente, e por cursos de graduao e de

    ps-graduao. Os cursos, ento, assumiram formatos e durao variados, organizando-se

    por mdulos e com flexibilidade curricular. Tal reforma foi arregimentada sob os conceitos

    da pedagogia das competncias e instituda de forma descontextualizada, desprovida de

    fundamentao terica e carente de processos formativos para docentes, tcnicos e

    especialistas. Mesmo assim, esse conjunto de profissionais tornou-se protagonista das

    reformas implementadas em mbito institucional. Nesse contexto, implantaram-se, no

    CEFET-RN, os cursos tcnicos subsequentes, a concomitncia interna entre ensino mdio e

    formao tcnica, os cursos de graduao tecnolgica e os cursos de especializao lato

    sensu.

    As problemticas geradas pela padronizao das reformas educativas motivaram

    debates e reflexes, fazendo-se necessrio repensar o projeto institucional, com o fito de

    superar a separao imposta pelo Decreto 2.208/97, de construir novos processos de gesto

    pedaggica e administrativa, de integrar as reas formativas e de propiciar espaos

    formativos sobre as aes. Nesse sentido, iniciou-se, ao final de 2003, o redimensionamento

    do Projeto Poltico-Pedaggico do CEFET-RN, numa perspectiva de participao e de

    construo coletiva. Esse redimensionamento, no entanto, s se consolidou no ano de 2004,

    luz do Decreto 5.154/04. A orientao advinda desse Decreto teve, como maior destaque,

    a reestruturao da educao profissional e tecnolgica em cursos e programas,

    possibilitando o retorno oferta de cursos tcnicos integrados educao bsica.

    Como principais mudanas curriculares decorrentes do redimensionamento do

    Projeto Poltico-Pedaggico, destacaram-se, em 2005, o retorno oferta dos cursos tcnicos

    de nvel mdio integrado; a reorganizao acadmica institucional; a reestruturao das

    ofertas dos cursos tcnicos subsequentes e dos cursos superiores de graduao tecnolgica;

    e a reestruturao curricular dos cursos superiores de licenciaturas, estes ltimos existentes

    desde 2002. Ainda em 2005, ocorreu a redefinio das normas internas, como os

    Regulamentos dos Cursos e a Organizao Didtica, contribuindo, efetivamente, para o

    funcionamento e para a gesto pedaggica dos diversos nveis de atuao institucional.

    Doze anos aps a implantao da UNED-Mossor, o Governo Federal consolidou, no

    ano de 2006, em nvel nacional, um arrojado plano de expanso da rede federal. Com

    caractersticas de interiorizao da educao profissional e tecnolgica para todo o Pas,

    foram implantadas mais trs unidades de ensino vinculadas ao CEFET-RN: as unidades de

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    ensino da Zona Norte de Natal, de Ipanguau e de Currais Novos, criadas na fase I da

    expanso da rede no Rio Grande do Norte. Ainda nesse mesmo ano, devido ao lanamento

    do Programa Nacional de Integrao da Educao Profissional com a Educao Bsica na

    Modalidade de Educao de Jovens e Adultos (PROEJA), o CEFET-RN comeou a atuar na

    educao profissional tcnica de nvel mdio, na modalidade de educao de jovens e

    adultos, oferecendo tambm, para educadores que atuam nessa modalidade, cursos de

    formao em nvel de ps-graduao lato sensu.

    Ao limiar de um sculo de existncia, a Instituio adquiriu nova configurao,

    transformando-se em Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio Grande do

    Norte (IFRN), nos termos da Lei 11.892, de 29 de dezembro de 2008. De acordo com o

    estabelecido oficialmente, os institutos federais so instituies, pluricurriculares e

    multicampi, de educao superior, bsica e profissional. So especializados na oferta de

    educao profissional e tecnolgica nas diferentes modalidades de ensino, ancorando-se na

    conjugao de conhecimentos tcnicos e tecnolgicos com as prticas pedaggicas. Esse

    processo, uma vez criada a rede federal de educao profissional, cientfica e tecnolgica,

    constituiu-se em elemento de redefinio do sistema de ensino brasileiro. Reforou, por

    outro lado, a autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didtico-pedaggica e

    disciplinar dessas instituies educativas, alm de imprimir a equivalncia s universidades

    federais, no que se refere s disposies que regem a regulao, a avaliao e a superviso

    das instituies e dos cursos de educao superior.

    No incio do ano de 2009, com o projeto de expanso em sua fase II, o IFRN passou a

    contar com mais seis novos campi3

    , localizados nos municpios de Apodi, Caic, Joo

    Cmara, Macau, Pau dos Ferros e Santa Cruz. Em continuidade fase II da expanso, a

    Instituio ampliou, em 2010, sua rede com mais quatro campi: um, na Cidade Alta, em

    Natal; e trs, no interior do Estado, respectivamente em Nova Cruz, em Parnamirim e em So

    Gonalo do Amarante. Alm disso, criou o campus de Educao a Distncia, sediado no

    campus Natal-Central. Esclarea-se que o campus Natal-Cidade Alta, alm de ofertar cursos,

    preserva, na condio de se encontrar instalado no antigo prdio do Liceu Industrial de

    Natal, tanto a memria histrico-cultural da educao profissional no Brasil quanto, mais

    particularmente, a memria do IFRN.

    Esse movimento poltico de reestruturao da rede federal de educao profissional

    no Brasil trouxe um novo perfil identitrio para as instituies integrantes da rede, medida

    que reconfigurou as estruturas administrativas e conceituais na forma e no mtodo de

    organizar as ofertas na educao profissional e tecnolgica do Pas. Em 2005, uma vez

    instalado esse processo de expanso e interiorizao da educao profissional, o sistema

    federal de educao profissional e tecnolgica detinha, apenas, 140 escolas tcnicas. Em

    continuidade a esse amplo projeto poltico de desenvolvimento social e econmico do Pas,

    3 Com a transformao em Instituto Federal, cada uma das unidades descentralizadas de ensino passou a ser

    denominada campus. Com a expanso, o IFRN, em 2009, estruturou-se em nove campi, listados a seguir por ordem

    cronolgica de criao: Natal-Central, Mossor, Natal-Zona Norte, Ipanguau, Currais Novos, Apodi, Pau dos Ferros,

    Macau, Joo Cmara, Santa Cruz e Caic.

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    Verso para consulta pblica comunidade acadmica. IFRN, 2012.

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    estima-se um desdobramento do quantitativo, em 2014, para, aproximadamente, 600

    campi, o que atender, diretamente, a 515 municpios em todo o Pas, conforme o Plano de

    Desenvolvimento da Educao (PDE), na edio 2011.

    Na poltica de expanso e de reestruturao da educao profissional e tecnolgica

    do Ministrio da Educao, a nova institucionalidade do IFRN concede, Instituio, o papel

    de atuar em todo o Rio Grande do Norte, oferecendo educao profissional e tecnolgica

    pblica, laica e gratuita nos diversos cursos, tanto na modalidade presencial quanto na

    modalidade a distncia, e tendo, como foco desafiador, a atuao no ensino, na pesquisa e

    na extenso, numa perspectiva indissocivel. Desse modo, a Instituio passa a se

    configurar como uma [...] rede de saberes que entrelaa cultura, trabalho, cincia e

    tecnologia em favor da sociedade (BRASIL, 2008, p. 23).

    2.3 UMA INSTITUIO EM EXPANSO E COMPROMETIDA COM O DESENVOLVIMENTO

    REGIONAL

    A expanso da rede federal de educao profissional e tecnolgica est pautada na

    interiorizao da educao profissional, com o compromisso de contribuir,

    significativamente, para o desenvolvimento socioeconmico do Pas. Nessa perspectiva, a

    criao dos institutos federais responde necessidade da institucionalizao definitiva da

    educao profissional e tecnolgica como poltica pblica permanente de Estado.

    Esse processo de interiorizao da educao profissional e tecnolgica contribui para

    o combate s desigualdades estruturais de diversas ordens, proporcionando o

    desenvolvimento social por meio da formao humana integral dos sujeitos atendidos.

    Propicia, ainda, o desenvolvimento econmico, a partir da articulao das ofertas

    educacionais e das aes de pesquisa e de extenso. Tal articulao vincula-se aos arranjos

    produtivos sociais e culturais, com possibilidades de permanncia e de emancipao dos

    cidados assim como de desenvolvimento das diversas regies do Estado.

    Ampliando a compreenso do contexto onde se situa o IFRN, apresenta-se, a seguir,

    um panorama parcial de aspectos econmicos, sociais, culturais e geogrficos do Rio Grande

    do Norte, com a perspectiva de identificar os arranjos produtivos sociais e culturais de cada

    microrregio, a distribuio da populao em todo o Estado e as localidades que constituem

    cidades-polo. A Tabela 1 elenca os aspectos socioeconmicos que, juntamente com outros

    elementos como condies pedaggicas, aspectos operacionais e polticos determinaram

    a definio das reas de atuao do IFRN, visando atender s necessidades da populao

    local e regional, no que se refere formao humana e profissional.

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    Tabela 1 Expanso da Rede Federal de Educao Profissional e Tecnolgica no Rio Grande

    do Norte em sintonia com os arranjos produtivos sociais e culturais locais.

    Mesorregio Microrregio Municpio

    Populao

    abrangida4

    (habitantes)

    Arranjos produtivos

    sociais e culturais

    locais

    Agreste

    Potiguar

    Baixa Verde Joo Cmara 58.936

    Cajucultura, agricultura,

    pecuria, apicultura e

    comrcio

    Borborema

    Potiguar Santa Cruz 130.369

    Confeces e

    ovinocaprinocultura

    Agreste Potiguar

    Nova Cruz 115.970 Agropecuria, indstria e

    servios

    So Paulo do Potengi 82.195 Agropecuria, comrcio

    e extrativismo

    Central

    Potiguar

    Serid Ocidental Caic 96.094 Confeces, bordados,

    laticnio e pecuria

    Serid Oriental Currais Novos 118.004 Minrio, laticnios e

    alimentos

    Macau Macau 46.729

    Sal marinho,

    carcinicultura, pesca e

    petrleo

    Leste Potiguar

    Natal

    Natal (Campus Natal-

    Central)

    968.773

    Indstria, servios e

    comrcio

    Natal (Campus Natal-

    Cidade Alta)

    Cultura, hospitalidade e

    servios

    Natal (Campus Natal-

    Zona Norte)

    Indstria, servios e

    comrcio

    Regio

    Metropolitana de

    Natal

    Parnamirim 202.413 Comrcio, turismo,

    indstria e artesanato

    So Gonalo do

    Amarante 87.700

    Agropecuria, pesca,

    comrcio, indstria e

    apicultura

    Macaba Cear-Mirim 330.177

    Agropecuria, comrcio,

    extrativismo, indstria e

    pesca

    Litoral Sul Canguaretama 129.077

    Carcinicultura, Comrcio,

    agricultura, turismo e

    servios

    Oeste Potiguar

    Chapada do

    Apodi Apodi 72.425

    Apicultura,

    ovinocaprinocultura e

    cermica

    Vale do Au Ipanguau 145.212

    Apicultura, agricultura,

    pecuria, cermica e

    fruticultura

    Mossor Mossor 304.293

    Petrleo e gs natural,

    sal, fruticultura, servios

    e comrcio

    Pau dos Ferros Pau dos Ferros 80.437 Caprinocultura, pecuria,

    comrcio e servios

    Todas --- Natal (Campus de

    Educao a Distncia) 3.168.130 reas diversificadas

    Fonte: IBGE (2011).

    Situando-se nesse contexto socioeconmico e cultural do Rio Grande do Norte e

    buscando ancoragem na defesa da educao pblica de qualidade, nas novas definies

    polticas para a educao profissional e tecnolgica no Brasil, no estudo dos arranjos

    4

    Os quantitativos referentes populao abrangida correspondem populao que atendida no entorno do

    municpio em que cada campus est situado, em um raio de 50 Km. Portanto, no se referem ao nmero estatstico

    do senso populacional de cada municpio.

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    28

    produtivos, sociais e culturais locais e nas condies pedaggicas da Instituio, o IFRN

    implanta novos campi como polos especializados em reas geogrficas estrategicamente

    definidas. Apresenta, portanto, uma proposta acadmica de atuao que atende a todas as

    microrregies do Estado. A Figura 1 expe a distribuio geogrfica do IFRN, de acordo com

    as mesorregies e as microrregies. Evidencia a expanso da rede federal de educao

    profissional e tecnolgica no Rio Grande do Norte at o final de 2011, destacando-se os

    municpios contemplados, as caractersticas socioprodutivas e a abrangncia de atuao

    local e regional de cada campus.

    Figura 1 Disposio geogrfica e rea de abrangncia dos campi do IFRN em 2011.

    Fonte: Adaptado do Projeto de Implantao do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do

    Rio Grande do Norte (CENTRO FEDERAL DE EDUCAO TECNOLGICA DO RIO GRANDO DO NORTE,

    2008).

    Nesse contexto de atuao, torna-se imprescindvel desenvolver estudos especficos

    das necessidades e das potencialidades socioeducacionais, para que se possam trazer mais

    elementos elucidadores da definio das ofertas de educao profissional e tecnolgica no

    Rio Grande do Norte. Somente assim, possvel atingir abrangncia equilibrada e possibilitar

    formaes significativas que venham a contribuir para o desenvolvimento local e regional.

    A expanso , portanto, um desafio que precisa ser enfrentado com planejamento e

    com clareza dos objetivos sociopolticos da proposta educacional, a fim de se garantirem a

    manuteno e a ampliao da qualidade da ao poltico-pedaggica. No se pode esquecer

    de que essa dimenso qualitativa foi construda, historicamente, pela Instituio. preciso,

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    29

    assim, buscar, continuamente, alternativas de atuao condizentes com essa nova realidade

    institucional, objetivando uma real insero nos contextos sociais das diversas localidades

    onde os campi do IFRN esto presentes.

    O compromisso da Instituio cumprir sua funo social, promovendo mudanas

    significativas no mbito da formao humana, da formao para o trabalho e do

    desenvolvimento social e econmico. Persegue-se, assim, uma atuao integrada e

    referenciada local, regional e nacionalmente possibilitando o entrelaamento entre

    desenvolvimento, territorialidade e educao sistmica, a partir de aes como, por

    exemplo, avaliao das prticas, intercmbio (em mbito cientfico, acadmico e cultural) e

    formao continuada dos servidores. So aes como essas que contribuem decisivamente

    para a no fragmentao da proposta educacional da rede federal de educao profissional e

    tecnolgica.

    inegvel que, no decorrer de seus cem anos, a Instituio j se consolidou, quando

    se trata do ensino tcnico de qualidade. Faz-se necessrio, entretanto, intensificar polticas e

    aes focadas na pesquisa e na extenso, com o objetivo de se firmar, na mesma proporo

    qualitativa, nesses dois outros mbitos. Amplia-se, assim, o leque de atuao do IFRN.

    Esse novo panorama, contudo, no deve se configurar em obstculo s demandas

    institucionais vigentes. Deve, ao contrrio, explicitar desafios e apontar tanto para o

    redimensionamento de aes conjuntas quanto para o estabelecimento de diretrizes capazes

    de efetivarem a funo social da Instituio.

    Para ampliar a compreenso da realidade vivenciada e como subsdio ao marco

    situacional deste Projeto Poltico-Pedaggico, desenvolveu-se um diagnstico qualitativo do

    cenrio poltico, administrativo e pedaggico em que estava inserida a Instituio. Essa

    perscrutao assumiu um contorno formativo e reflexivo, possibilitando uma viso

    sistematizada do Instituto. Tambm funcionou, sobretudo como elemento de busca

    identitria em meio a tamanho processo de reestruturao.

    Apresenta-se, no Apndice A, o referido diagnstico do IFRN, evidenciando-se as

    potencialidades consolidadas e as dificuldades enfrentadas. Convm ressaltar, ainda, que os

    desafios presentes nesse perfil refletem a complexidade pluricurricular e multicampi do

    IFRN, equiparado s universidades, e a insero do Instituto em vrias regies do Rio grande

    do Norte. Na composio desse diagnstico, destacam-se os seguintes aspectos:

    financiamento da educao profissional e tecnolgica; desenvolvimento da pesquisa;

    desenvolvimento da extenso; indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extenso;

    proposio de aes afirmativas para educao inclusiva; formao continuada e

    desenvolvimento profissional de servidores; organizao e gesto administrativo-

    pedaggica; e sistematizao e desenvolvimento dos processos avaliativos.

    A avaliao desses elementos do processo de gesto poltico-pedaggica,

    administrativa e financeira do contexto do IFRN constitui-se em importante indicador para as

    polticas e para as aes traadas neste Projeto Poltico-Pedaggico (doravante PPP).

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    Verso para consulta pblica comunidade acadmica. IFRN, 2012.

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    Considerando-se a profundidade das reflexes, a temporalidade do processo e as propostas

    apresentadas como desafios no conjunto das polticas institucionais, o diagnstico

    construdo representa um marco decisivo no processo coletivo de reviso e de construo

    deste PPP institucional. No Apndice A, encontra-se a sistematizao do diagnstico.

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    3 CONCEPES, PRINCPIOS E FUNDAMENTOS DO CURRCULO E DAS PRTICAS

    INSTITUCIONAIS

    O currculo o espao onde se corporificam formas de

    conhecimento e de saber. O currculo um dos locais

    privilegiados onde se entrecruzam saber e poder,

    representao e domnio, discurso e regulao e

    tambm no currculo que se condensam relaes de poder

    que so cruciais para o processo de formao de

    subjetividades sociais. Em suma, currculo, poder e

    processo de formao esto mutuamente implicados.

    Tomaz Tadeu da Silva

    Historicamente, o currculo tem sido um campo de disputa, de contestao e de

    conflito. medida que se chega ao sculo XXI numa sociedade marcada por diferenas de

    classe, de gnero, de etnia, de religio e de gerao, dentre outras , as decises e

    prescries relativas ao currculo esto vinculadas, estreitamente, a estruturas de poder e de

    dominao. Isso faz da educao formal, ofertada na instituio escolar e na academia, um

    espao poltico de embates permanentes por autonomia intelectual e poltica, por igualdade

    e por solidariedade (SILVA, 2007).

    A questo central para qualquer teoria que problematize o currculo orientar a ao

    educativa em um dimensionamento amplo e integrado. E isso compreende muito mais do

    que listar contedos, cargas horrias e matrizes curriculares. Envolve saber, numa

    perspectiva poltica, qual conhecimento deve ser ensinado, quais as finalidades desse

    conhecimento, para quem ele se destina e a quem ele interessa. Nesse sentido, a indagao

    o que selecionar como elemento constituinte de um currculo? deve ser necessariamente

    antecedida por o que os educandos devem se tornar?.

    Esses questionamentos so fundamentais para uma constituio curricular

    perspectivada em um processo de construo e de desenvolvimento interativo, dinmico e

    complexo. Tal processo implica

    [...] unidade, continuidade e interdependncia entre o que se decide ao nvel

    do plano normativo, ou oficial, e ao nvel do plano real, ou do processo de

    ensino e aprendizagem. Mais ainda, o currculo uma prtica pedaggica

    que resulta da interao e confluncia de vrias estruturas (polticas,

    administrativas, econmicas, culturais, sociais, escolares...) na base das

    quais existem interesses concretos e responsabilidades compartilhadas

    (PACHECO, 2001, p. 20).

    Nesse entendimento, o currculo constitui-se em um instrumento de mediao para o

    domnio do conhecimento cientfico; para o desenvolvimento do pensamento lgico,

    construtivo e criativo; para a formao de atitudes e convices; e, consequentemente, para

    a efetiva participao social, poltica, cultural e econmica.

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    Tomando-se, como diretriz, essa linha de pensamento, tambm enfatizada por Costa

    (2005), assume-se que o currculo e seus componentes constituem um conjunto articulado e

    normatizado de saberes regidos por uma determinada ordem estabelecida em permanente

    debate. H de se considerar que esse debate enfoca sempre as vises de mundo e os lugares

    sociais onde se produzem essas vises. Sendo assim, o currculo e seus componentes

    elegem e transmitem representaes, narrativas e significados sobre as coisas e os seres do

    mundo. O currculo tem o poder de se constituir em um dos mecanismos sociais que

    compem o caminho capaz de tornar os sujeitos naquilo que eles so.

    Em decorrncia, alar uma proposta de educao profissional pautada no

    compromisso com a formao humana integral e focada na apreenso conjunta dos

    conhecimentos cientficos, tecnolgicos, histrico-sociais e culturais exige a assuno de

    princpios e de pressupostos referenciadores.

    Este captulo versa sobre as concepes e os princpios basilares para delinear e

    materializar as diretrizes do currculo, as quais nortearo as aes e as prticas

    institucionais. Para tanto, ancora-se na tentativa de discutir as concepes vigentes no

    coletivo institucional, consideradas fundamentais para a formulao e para a tessitura de

    uma construo curricular orientadora de todas as prticas e de todas as vivncias

    institucionais.

    3.1 CONCEPO INSTITUCIONAL DE SER HUMANO, SOCIEDADE, CULTURA, CINCIA,

    TECNOLOGIA, TRABALHO E EDUCAO

    Cada modo de compreender o ser humano, a sociedade, a educao, a cultura, o

    trabalho, a cincia e a tecnologia (enfim, as concepes filosficas que orientam o

    pensamento em determinado contexto scio-histrico) gera implicaes tanto sobre a

    construo do conhecimento escolar quanto sobre a organizao, a gesto e as finalidades

    da educao formal. Configura-se, assim, conforme as teorias do currculo, que as definies

    e as escolhas curriculares esto associadas, diretamente, s questes filosficas de

    identidades, de subjetividades e de poder, visto que selecionar ou privilegiar um tipo de

    conhecimento uma ao de poder prioritria das instituies educativas (SILVA, 2007).

    Essa ao decisria no est nas mos apenas das instituies educativas. Ela se

    constitui em um mosaico de valores, uma vez que a construo curricular est interligada a

    padres culturais, a identidades, a costumes e a crenas. Nesse sentido, o processo

    produtivo mostrado pela histria constitui um fator determinante na prtica educativa. No

    se deve esquecer de que todo esse cabedal de elementos materializado em leis, em

    orientaes e em polticas governamentais, constituindo, assim, marcos orientadores das

    definies curriculares

    Apresentam-se, a seguir, as concepes definidas como elementos estruturantes do

    currculo e do conjunto das prticas institucionais que envolvem a ao educativa.

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    3.1.1 Concepo de ser humano

    Aristteles define o homem como animal racional e poltico. A opo por esse

    entendimento permite que a racionalidade se sobressaia ante outras caractersticas prprias

    do ser humano. J Plato e outros filsofos gregos compreendem o homem como um ser

    dual, que possui a dimenso da medida e da ordem, da desordem e da desmedida, do

    apolneo e do dionisaco, da vida e da morte, da juventude e da velhice. Para Plato, esses

    aspectos coexistem simultaneamente em ns, cabendo afetividade os unir para o melhor e

    para o pior, em uma luta sem fim. Todas essas dualidades so prova da densidade do ser

    humano, da sua multiplicidade interior, das suas possibilidades e das suas potencialidades.

    Por isso, no possvel reduzir o humano a um s princpio ou a um s componente,

    quer seja o inconsciente, o consciente, a matria, o esprito, a racionalidade ou a

    irracionalidade. O humano transcende todas essas divises e separaes, portanto deve ser

    pensado de forma aberta, a partir da perspectiva de um sujeito multidimensional e de um

    sujeito sempre em construo. O homem capaz tanto de agir racionalmente quanto de ser

    impulsionado pelo egosmo; tanto de atuar por interesses individualistas quanto de se

    mover sob a fora do altrusmo.

    No entanto, a classificao homo sapiens acentua a dimenso racional do ser

    humano. Evidencia as ideias de controle, de ordem e de medida, distinguindo o homem das

    outras espcies. Compreendendo-se, portanto, o homem apenas como sapiens, concede-se

    demasiado valor razo e se mutila um entendimento multidimensional. No se podem

    esconder a desrazo e a desmedida (hubris) que Plato distingue na alma, quando afirma

    que esta composta por trs partes: a racional, a irascvel e a concupiscvel.

    Nesse sentido, a afetividade est associada racionalidade. Est presente nas

    diversas manifestaes da razo e nos processos ditos racionais. As maiores e mais

    extraordinrias invenes do homem so fruto do trabalho conjunto da inteligncia racional

    e da inteligncia afetiva. A arte, a poesia, a literatura, o mito, a religio, a cincia e a filosofia

    nasceram de uma experincia humana que funde emoo, desejo de conhecer, espanto,

    medo, exaltao esttica e necessidade de domnio sobre o inquietante mistrio

    psicoafetivo, mistrio criador de angstia, inquietude, esperana e consolao.

    Ampliando essa perspectiva, Morin (2002) afirma que o ser humano

    extraordinariamente complexo, unindo, em si, dialgica e recursivamente, vrios

    componentes mantenedores sempre de contradio, de ambiguidade e de incerteza. A

    dificuldade em compreender esse ser reside, portanto, na inadequao de metodologias que

    o reduzem a um s componente, a uma s dimenso. A insistncia em tentar pensar o

    humano de maneira disjuntiva a partir de uma lgica binria do tudo ou do nada acaba por

    inviabilizar uma apreenso mais ampla da prpria ideia de humanidade. O ser humano ,

    simultaneamente, tudo o que se pode afirmar e negar sobre ele, sempre de modo

    antagonicamente complementar.

  • Projeto Poltico-Pedagg