ppp ifrn 2012_versao para consulta publica 05mar2012
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Projeto político pedagógico IFRNTRANSCRIPT
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Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN:
uma construo coletiva
DOCUMENTO BASE
Verso para consulta pblica comunidade
acadmica do IFRN
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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAO, CINCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE
Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN:
uma construo coletiva
DOCUMENTO BASE
Verso para consulta pblica comunidade acadmica
do IFRN
Natal-RN
Mar./2012.
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ORGANIZAO
Anna Catharina da Costa Dantas
Nadja Maria de Lima Costa
ASSESSORIA PEDAGGICA
Ana Lcia Pascoal Diniz
Rejane Bezerra Barros
REVISO TCNICO-PEDAGGICA
Ana Lcia Pascoal Diniz
Anna Catharina da Costa Dantas
Francy Izanny de Brito Barbosa Martins
Nadja Maria de Lima Costa
Rejane Bezerra Barros
COORDENAO DE REVISO LINGUSTICO-TEXTUAL
Joo Maria Paiva Palhano
NORMALIZAO BIBLIOGRFICA
Maria Ilza da Costa
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MINISTRO DA EDUCAO
Aloizio Mercadante
SECRETRIO DE EDUCAO PROFISSIONAL E TECNOLGICA
Marco Antnio de Oliveira
REITOR DO IFRN
Belchior de Oliveira Rocha
CONSELHO SUPERIOR DO IFRN
Belchior de Oliveira Rocha Presidente
Nadir Arruda Skeete Secretria
Membros Titulares:
Amaro Sales de Arajo
Anna Catharina da Costa Dantas
Antnio Andr Alves
Carlos Alberto Poletto
Cludio Ricardo Gomes de Lima
Danilma de Medeiros Silva
Francisco das Chagas de Mariz Fernandes
Francisco Fernandes de Oliveira
Francisco Pereira da Silva Neto
Gustavo Fontoura de Souza
Hlio Pignataro Filho
Ismael Flix Coutinho Neto
Jos de Ribamar Silva Oliveira
Jos Miguel Rosalvo da Silva
Karina Bezerra da Fonseca e Silva
Lzaro Mangabeira de Gis Dantas
Manoel Jusselino de Almeida e Silva
Marcel Lcio Matias Ribeiro
Mrcio Adriano de Azevedo
Marcones Marinho da Silva
Maria Elizabeth Fernandes
Patrcia Carol Rodrigues de Melo
Rodrigo Vidal do Nascimento
Silvio Csar Farias de Oliveira
Sonia Cristina Ferreira Maia
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AGRADECIMENTOS
Em uma instituio da magnitude do Instituto Federal de Educao, Cincia e
Tecnologia do Rio Grande do Norte, a elaborao de um Projeto Poltico-Pedaggico tarefa
de autoria coletiva. um trabalho em que as veleidades pessoais se enfraquecem e o crivo
institucional e, indelevelmente, ifrniano assoma. Por isso, necessrio agradecer.
Agradecemos queles que assumiram a coordenao geral de todo o processo de
construo do Documento.
Agradecemos queles que conduziram as discusses, realizadas em todos os campi
da Instituio e com ampla participao da comunidade ifrniana.
Agradecemos queles que teceram os textos norteadores dos debates acadmicos.
Agradecemos queles que, nos debates, exercitaram o direito voz, emitindo juzos,
defendendo ideias, contrapondo-se a pontos de vista...
Agradecemos queles que sistematizaram, sob forma escrita, a trama, viva e nem
sempre to fcil de ser depreendida, das discusses.
Agradecemos queles que, em um esforo muitas vezes exaustivo, urdiram o texto
final.
Agradecemos queles que, tambm em um esforo exaustivo, procederam s
revises de contedo e de linguagem.
Agradecemos queles que formataram e que normalizaram o Documento.
Agradecemos, por fim, a todos aqueles que, acreditando em um horizonte
institucional cada vez mais desafiador, instigante e promissor, despenderam esforos em
benefcio da produo deste Documento.
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Tudo o que a gente puder fazer no sentido de
convocar os que vivem em torno da escola, e dentro
da escola, no sentido de participarem, de tomarem
um pouco o destino da escola na mo, tambm.
Tudo o que a gente puder fazer nesse sentido
pouco ainda, considerando o trabalho imenso que
se pe diante de ns que o de assumir esse pas
democraticamente.
Paulo Freire
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Disposio geogrfica e rea de abrangncia dos campi do IFRN em 2011. 28
Figura 2 Paradigma crtico-dialtico de gesto democrtica (concepo em espiral). 62
Figura 3 Representao do princpio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extenso, no IFRN. 98
Figura 4 Representao grfica da organizao curricular dos cursos tcnicos de nvel
mdio em ncleos politcnicos. 111
Figura 5 Requisitos e formas de acesso para os cursos tcnicos integrados regulares. 114
Figura 6 Requisitos e formas de acesso para os cursos tcnicos integrados na
modalidade EJA. 117
Figura 7 Requisitos e formas de acesso para os cursos tcnicos subsequentes. 120
Figura 8 Representao da estrutura curricular dos cursos superiores de tecnologia. 130
Figura 9 Requisitos e formas de acesso para os cursos superiores de tecnologia. 131
Figura 10 Modelo proposto para os cursos de engenharia em dois ciclos. 134
Figura 11 Requisitos e formas de acesso para os cursos de engenharia. 138
Figura 12 Modelo de formao profissional de professores, apontado por estudiosos
e pesquisadores progressistas. 141
Figura 13 Representao do desenho curricular dos cursos de licenciatura. 153
Figura 14 Requisitos e formas de acesso para os cursos de licenciatura. 157
Figura 15 Representao do desenho curricular dos cursos de licenciatura na forma
de segunda licenciatura. 159
Figura 16 Requisitos e formas de acesso para os cursos de licenciatura em educao
bsica, na forma de segunda licenciatura. 161
Figura 17 Representao do desenho curricular dos cursos de licenciatura em
educao profissional. 163
Figura 18 Requisitos e formas de acesso para os cursos de licenciatura em educao
profissional. 164
Figura 19 Representao grfica da organizao curricular da formao inicial e
continuada. 182
Figura 20 Representao de processos e documentos institucionais no mbito do
Programa Institucional de Avaliao. 236
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Comparao entre os paradigmas de gesto tradicional e de gesto crtico-
dialtica. 56
Quadro 2 Possibilidades de atividades complementares e espaos e aes
correspondentes. 92
Quadro 3 Diretrizes e indicadores metodolgicos gerais para a formao de
professores. 149
Quadro 4 Etapas de estgio docente previstas para os cursos de licenciatura. 155
Quadro 5 Etapas de estgio docente previstas para os cursos de licenciatura na forma
de segunda licenciatura. 160
Quadro 6 Indicadores sociais da assistncia estudantil no IFRN. 223
Quadro 7 Sistematizao dos processos avaliativos no mbito do Programa
Institucional de Avaliao. 237
Quadro 8 Fases da avaliao processual do PPP. 239
Quadro 9 Fases da avaliao global do PPP. 240
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SUMRIO
PREFCIO 9
1 INTRODUO 11
2 IDENTIDADE E ORGANIZAO INSTITUCIONAL 15
2.1 ORGANIZAO INSTITUCIONAL E PERFIL IDENTITRIO 16
2.1.1 Funo social 18
2.1.2 Princpios 18
2.1.3 Caractersticas e finalidades 19
2.1.4 Objetivos 20
2.2 AS MARCAS NO TEMPO: O IFRN TECENDO A SUA HISTRIA 21
2.3 UMA INSTITUIO EM EXPANSO E COMPROMETIDA COM O
DESENVOLVIMENTO REGIONAL 26
3 CONCEPES, PRINCPIOS E FUNDAMENTOS DO CURRCULO E DAS PRTICAS INSTITUCIONAIS 31
3.1 CONCEPO INSTITUCIONAL DE SER HUMANO, SOCIEDADE, CULTURA,
CINCIA, TECNOLOGIA, TRABALHO E EDUCAO 32
3.1.1 Concepo de ser humano 33
3.1.2 Concepo de sociedade 35
3.1.3 Concepo de cultura 38
3.1.4 Concepo de cincia 40
3.1.5 Concepo de tecnologia 43
3.1.6 Concepo de trabalho 45
3.1.7 Concepo de educao 47
3.2 CONCEPO DE CURRCULO INTEGRADO 50
3.2.1 Fundamentos do currculo integrado 52
3.2.2 Princpios do currculo integrado 53
3.3 CONCEPO DE GESTO EDUCACIONAL 54
3.4 PRINCPIOS ORIENTADORES DA PRTICA PEDAGGICA 64
3.4.1 A pesquisa como princpio pedaggico 66
3.4.2 O trabalho como princpio educativo 67
3.4.3 O respeito diversidade 68
3.4.4 A interdisciplinaridade 70
3.5 DIRETRIZES PARA A PRTICA PEDAGGICA 71
3.5.1 O planejamento pedaggico 71
3.5.1.1 O planejamento coletivo na prtica pedaggica 72
3.5.1.2 O planejamento e seus elementos constitutivos 75
3.5.2 A avaliao da aprendizagem 78
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3.5.3 Os projetos integradores 80
3.5.3.1 Concepo de projeto integrador 81
3.5.3.2 Objetivos dos projetos integradores 83
3.5.3.3 Aspectos metodolgicos dos projetos integradores 84
3.5.4 A prtica profissional 86
3.5.4.1 A prtica profissional como componente curricular 87
3.5.4.2 O estgio supervisionado (na formao tcnica e na formao docente) 89
3.5.4.3 Outras formas de atividades acadmico-cientfico-culturais 91
3.5.5 O trabalho de concluso de curso 91
3.5.6 As atividades complementares 92
3.5.7 Os perfis esperados do professor e do aluno 93
4 POLTICAS E AES INSTITUCIONAIS 95
4.1 A INDISSOCIABILIDADE COMO PRINCPIO NORTEADOR DAS POLTICAS E
AES INSTITUCIONAIS 96
4.2 POLTICA DE ENSINO 98
4.2.1 A atuao no ensino 100
4.2.2 O processo de reviso das ofertas educacionais 101
4.3 POLTICA DE EDUCAO PROFISSIONAL TCNICA DE NVEL MDIO 101
4.3.1 Concepo da educao profissional tcnica de nvel mdio 102
4.3.2 Princpios orientadores da educao profissional tcnica de nvel mdio 105
4.3.3 Diretrizes e indicadores metodolgicos para os cursos tcnicos de nvel
mdio 109
4.3.3.1 Diretrizes e indicadores metodolgicos para os cursos tcnicos de nvel mdio
na forma integrada (regular) 112
4.3.3.2 Diretrizes e indicadores metodolgicos para os cursos tcnicos de nvel mdio
na forma integrada na modalidade EJA 114
4.3.3.3 Diretrizes e indicadores metodolgicos para os cursos tcnicos de nvel mdio
na forma subsequente 117
4.4 POLTICA DE EDUCAO SUPERIOR DE GRADUAO 120
4.4.1 Concepo da educao superior de graduao 122
4.4.2 Os cursos superiores de tecnologia ou de graduao tecnolgica 124
4.4.2.1 Princpios orientadores dos cursos de graduao tecnolgica 127
4.4.2.2 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos superiores de tecnologia
ou graduao tecnolgica 128
4.4.3 Os cursos de engenharia 131
4.4.3.1 Princpios orientadores e caractersticas dos cursos de engenharia 132
4.4.3.2 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos de engenharia 133
4.4.4 A formao de professores 138
4.4.4.1 Dimenses da formao profissional docente 140
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4.4.4.2 Formao profissional para a docncia 143
4.4.4.3 Princpios orientadores da formao de professores 148
4.4.4.4 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos de licenciatura em
educao bsica 150
4.4.4.5 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos de licenciatura em
educao bsica, na forma de segunda licenciatura 157
4.4.4.6 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos de licenciatura em
educao profissional 162
4.5 POLTICA DE EDUCAO SUPERIOR DE PS-GRADUO 164
4.5.1 Concepo e princpios da educao superior de ps-graduao 165
4.5.2 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos de ps-graduao lato
sensu 169
4.5.3 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos e programas de ps-
graduao stricto sensu 170
4.6 POLTICA DE FORMAO INICIAL E CONTINUADA OU QUALIFICAO
PROFISSIONAL 172
4.6.1 Concepo da formao inicial e continuada 172
4.6.2 Objetivos da formao inicial e continuada 173
4.6.3 Princpios orientadores da formao inicial e continuada 174
4.6.4 Os cursos de formao inicial e continuada 176
4.6.5 Os programas de qualificao profissional 176
4.6.5.1 O PROEJA FIC Fundamental 177
4.6.5.2 O programa de iniciao tecnolgica e cidadania (ProITEC) 178
4.6.5.3 O programa Mulheres Mil 178
4.6.6 Diretrizes e indicadores metodolgicos da formao inicial e continuada 179
4.6.6.1 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos FIC 182
4.6.6.2 Diretrizes e indicadores metodolgicos dos cursos PROEJA FIC Fundamental 183
4.7 POLTICA DE CERTIFICAO PROFISSIONAL 184
4.7.1 Princpios orientadores da certificao profissional 186
4.7.2 Diretrizes e indicadores metodolgicos da certificao profissional 187
4.8 POLTICA DE EDUCAO A DISTNCIA 193
4.8.1 Concepo de educao a distncia 193
4.8.2 Princpios orientadores para a educao a distncia 198
4.8.3 Objetivos da educao a distncia 198
4.8.4 Caractersticas do projeto pedaggico para educao a distncia 199
4.8.5 Diretrizes e indicadores metodolgicos para a educao a distncia 201
4.9 POLTICA DE EDUCAO INCLUSIVA 202
4.9.1 Concepo de educao inclusiva 203
4.9.2 Princpios orientadores de educao inclusiva 205
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4.9.3 Diretrizes e indicadores metodolgicos de educao inclusiva 206
4.10 POLTICA DE PESQUISA E INOVAO 208
4.10.1 Concepo de pesquisa 210
4.10.2 Princpios orientadores da pesquisa 212
4.10.3 Diretrizes e indicadores metodolgicos da pesquisa 212
4.11 POLTICA DE EXTENSO E INTERAO COM A SOCIEDADE 214
4.11.1 Concepo de extenso 217
4.11.2 Princpios orientadores de extenso e interao com a sociedade 218
4.11.3 Diretrizes e indicadores metodolgicos de extenso e interao com a
sociedade 219
4.12 POLTICA DE ASSISTNCIA ESTUDANTIL 220
4.12.1 Concepo de assistncia estudantil 220
4.12.2 Princpios orientadores de assistncia estudantil 221
4.12.3 Diretrizes e indicadores metodolgicos de assistncia estudantil 222
4.13 POLTICA DE FORMAO CONTINUADA E DESENVOLVIMENTO
PROFISSIONAL SERVIDORES 224
4.13.1 Concepo de formao continuada e desenvolvimento profissional 224
4.13.2 Princpios orientadores de formao continuada e desenvolvimento
profissional 227
4.13.3 Diretrizes e indicadores metodolgicos de formao continuada e
desenvolvimento profissional 228
5 ACOMPANHAMENTO E AVALIAO DO PROJETO POLTICO-PEDAGGICO 230
5.1 CONCEPO DE AVALIAO DO PPP 231
5.2 ASPECTOS TERICO-METODOLGICOS DO PROCESSO 231
5.3 DIRETRIZES PARA A IMPLEMENTAO DO PROCESSO 233
5.4 O PROGRAMA INSTITUCIONAL DE AVALIAO 235
6 CONSIDERAES FINAIS 243
REFERNCIAS 243
APNDICE A Diagnstico: contexto atual e desafios (2009 a 2011) 257
APNDICE B Marco legal para as ofertas educacionais 304
APNDICE C Matriz de anlise para avaliao do PPP 308
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PREFCIO
O Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN: uma construo coletiva o resultado de um
esforo democrtico e participativo. Sob esse foco, a feitura do Documento espelha a mesma
tnica aberta e dialogal que rege as prticas pedaggicas e administrativas institucionais.
Na condio de arquitetar um projeto, o Documento, em um dimensionamento
flexvel capaz de comportar a dinmica da sociedade, apresenta o planejamento, os pilares e
as aes para que a Instituio possa desempenhar sua funo social. Na condio de definir
uma ancoragem poltica, o Documento visibiliza o compromisso com a democratizao da
educao, entendendo-se essa democratizao como um direito irrenuncivel da sociedade e
como um compromisso com a formao profissional, cidad crtica, poltica e reflexiva. Na
condio de definir uma ancoragem pedaggica, o Documento tangibiliza as aes
educativas, explicitando os objetivos, as intenes e os meios de ao o conjunto de
propsitos e de prticas necessrios ao fazer pedaggico.
Sob essa focagem, a (re)elaborao do Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN
simbolizou mais que a sistematizao de um documento. Constituiu-se como um pensar e
como um planejar o fazer, tendo, na ponta inicial do longo fio da trajetria percorrida, a
reportao historicidade institucional, o diagnstico de como a Instituio se encontra
neste primeiro decnio do sculo XXI e a depreenso das concepes institucionais (de ser
humano, de sociedade, de cultura, de cincia, de tecnologia, de trabalho...).
Foram muitos os artfices deste Projeto. Contamos, desde os primrdios do processo,
com o apoio da Equipe Tcnico-Pedaggica, que, em todos os campi da Instituio, definiu
as diretrizes e assessorou as discusses, garantindo o trabalho sistmico da comisso
central, coordenada pela Pr-Reitoria de Ensino. Contamos tambm com o apoio dos
gestores e dos dirigentes do IFRN, em especial dos Diretores Acadmicos, dos
Coordenadores de Cursos e dos Coordenadores de Ncleos Centrais Estruturantes.
Sob um olhar mais perscrutador, a construo do Projeto fez emergir a vontade, a
fragilidade e a fora do IFRN. Mostrou-se como o resultado do entrecruzamento de algumas
vigas imprescindveis sustentao da seriedade e do compromisso: o conhecimento das
polticas da educao brasileira e das prticas pedaggicas, sejam essas ltimas
institucionais ou no; a capacidade de mediar debates demarcados pelo pluralismo
ideolgico; a vontade de realizar o melhor em prol da Instituio; a humildade para aprender
e para ouvir; a firmeza e a doura para conduzir o processo; e a defesa de uma educao de
qualidade e do papel poltico-social da educao profissional e tecnolgica na vida do
cidado.
Para garantir o perfil coletivo da construo, realizamos planejamentos, estudos,
reunies, seminrios, fruns, mesas-redondas, palestras... Recorremos aos encontros
presenciais e semipresenciais. Em um jogo dialgico sistematizador das mais diversas
-
contribuies, advindas do conglomerado das vozes institucionais, tomaram forma
elaboraes e reelaboraes. Tratava-se de um jogo cujo vencedor seria a Instituio.
Ressaltamos a complexidade do processo de corporificar tantas informaes
histricas, terico-metodolgicas, filosficas e polticas na verso final deste documento.
Para isso, contamos com a pacincia e a colaborao de diversos atores, responsveis pela
concatenao lgica e concisa dos mltiplos dizeres institucionais e pela reviso criteriosa
dos contedos, das escolhas lexicais, das organizaes frasais, da formatao, das
convenes acadmicas previstas pela ABNT...
claro que no acertamos em tudo, o que espervel do movimento dialtico desse
processo de construo. Estamos convictos, entretanto, de que, embora enfrentando alguns
entraves, realizamos um trabalho de qualidade, buscando atingir o objetivo traado no incio
do processo. Estamos convictos tambm de que, dado o carter de incompletude permeador
de toda atividade humana, o Documento oferece lacunas e exige constante avaliao das
polticas, das diretrizes e das aes nele inscritas. Mesmo assim, cremos ter sistematizado
um instrumento orientador tanto das prticas poltico-pedaggicas institucionais quanto da
formao continuada dos educadores que ingressam nesta Casa.
Em nenhum momento, no nos esquecemos de que, ao completar cem anos, o IFRN
retomou a caminhada, robustecendo-se em uma expanso poltica, geogrfica e acadmica.
Passamos de duas para mais de quinze unidades de ensino; da oferta, praticamente
exclusiva, de cursos tcnicos integrados para mais de dez formas e/ou modalidades de
educao profissional e tecnolgica; de pouco mais de quinhentos para mais de mil e
quinhentos servidores; de quatro mil para mais de vinte mil estudantes, atendidos em cursos
e em programas institucionais.
Por fim, ressaltamos o aprendizado institucional diante do processo democrtico e
coletivo de construo deste Projeto Poltico-Pedaggico. Nesse sentido, crescemos todos
com as discordncias, com os contrapontos e com as conciliaes, oportunos e necessrios.
Crescemos como seres humanos e como profissionais. Crescemos, sobretudo, como aqueles
que fazem parte de uma Instituio cuja marca indelvel, mantida na linha do tempo, se
singulariza pela presena da qualidade e da responsabilidade.
Desfrutemos da leitura e da implementao deste Documento sem esquecermos que
ele constitui um exerccio de gesto democrtica, de cidadania e de compromisso social com
a educao. No nos esqueamos tambm de que se trata de letra viva e que, por isso, deve
nortear, em todos os mbitos do IFRN, as prticas poltico-pedaggicas institucionais.
Belchior de Oliveira Rocha
Anna Catharina da Costa Dantas
Nadja Maria de Lima Costa
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Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN: uma construo coletiva.
Verso para consulta pblica comunidade acadmica. IFRN, 2012.
11
1 INTRODUO
O projeto poltico-pedaggico busca um rumo, uma
direo. uma ao intencional, com um sentido
explcito, com um compromisso definido coletivamente.
Por isso, todo projeto pedaggico da escola , tambm,
um projeto poltico por estar intimamente articulado ao
compromisso scio - poltico e com os interesses reais e
coletivos da populao majoritria. [...] Na dimenso
pedaggica reside a possibilidade da efetivao da
intencionalidade da escola, que a formao do cidado
participativo, responsvel, compromissado, crtico e
criativo. Pedaggico, no sentido de se definir as aes
educativas e as caractersticas necessrias s escolas de
cumprirem seus propsitos e sua intencionalidade.
Ilma Passos Veiga
O projeto poltico-pedaggico deve ser compreendido como um planejamento global
de todas as aes de uma instituio educativa, abarcando direcionamentos, pedaggicos,
administrativos e financeiros. um instrumento de gesto democrtica que possibilita a
reflexo crtica e contnua a respeito das prticas, dos mtodos, dos valores, da identidade
institucional e da cultura organizacional.
Construdo de modo participativo, o projeto poltico-pedaggico permite resgatar o
sentido humano, cientfico e libertador do planejamento. Ope-se, assim, lgica do
planejamento burocrtico ou meramente estratgico, bastante difundido nas esferas mais
conservadoras da educao e nas reformas neoliberais dos anos 1990. Situado nessa
perspectiva emancipatria, o projeto poltico-pedaggico objetiva, sobretudo, promover
mudanas nas concepes e nas prticas cotidianas, traando diretrizes referenciadoras da
caminhada educativa.
Por esse motivo, toda instituio educativa, se comprometida com uma educao de
qualidade social e com a proeminncia dos valores democrticos na gesto educacional,
adere s formas de participao e de fortalecimento da autonomia expressas no movimento
de construo de seu projeto poltico-pedaggico. Dado tal vis de amplitude, de
organicidade e de abertura ao dilogo, o projeto poltico-pedaggico possibilita, inclusive,
integrar, em prticas interdisciplinares, o ensino, a pesquisa e a extenso.
No caso especfico do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio
Grande do Norte IFRN, a cultura institucional de reger-se por meio de um projeto poltico-
pedaggico vem se consolidando desde 1994, com a elaborao da Proposta curricular da
Escola Tcnica Federal do Rio Grande do Norte ETFRN. Em 1999, a Instituio promoveu
uma reviso desse documento em virtude das reformas decorrentes do Decreto 2.208/97 e
do Programa de Expanso da Educao Profissional PROEP. O projeto poltico-pedaggico
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Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN: uma construo coletiva.
Verso para consulta pblica comunidade acadmica. IFRN, 2012.
12
ento vigente passou a contemplar duas propostas curriculares: uma, para a formao
profissional; e outra, para o ensino mdio.
Em 2004, no perodo ps-cefetizao, a Instituio desenvolveu, em consequncia
das reformas na educao profissional brasileira, um profcuo trabalho de
redimensionamento da ao educativa. Tal iniciativa culminou na reelaborao do projeto
poltico-pedaggico, agora denominado Redimensionamento do Projeto Poltico-Pedaggico
do CEFET-RN: um documento em construo. Por descontinuidades de polticas internas,
tanto o processo de redimensionamento quanto a feitura do documento foram
interrompidos.
Em 2009, estabeleceu-se novo movimento poltico-pedaggico na Instituio, em
virtude do projeto de reestruturao e expanso da rede federal de ensino. Essa poltica
governamental, criadora de uma nova institucionalidade para as instituies federais de
educao profissional, trouxe, tona, novos desafios polticos, filosficos e pedaggicos.
Houve, por isso, necessidade premente de revisar ou de (re)construir os documentos que
regiam a Instituio, dentre eles o projeto-poltico-pedaggico.
Nesse contexto de implantao de uma nova institucionalidade, instaura-se o
processo coletivo e participativo de (re)construo do atual Projeto Poltico- Pedaggico do
IFRN. Esse processo exigiu a (re)definio das finalidades, dos objetivos institucionais, das
ofertas educacionais, das prticas pedaggicas e dos referenciais orientadores de todas as
aes institucionais. Exigiu, fundamentalmente, uma imerso no universo da cultura
institucional e das prticas pedaggicas, com o fito de proporcionar unidade nas aes do
Instituto.
Alm das questes complexas inerentes ao processo de elaborao participativa de
um projeto poltico-pedaggico, a Instituio vivenciou, simultaneamente, um momento
histrico de expanso geogrfica e acadmica. Os campi estavam sendo implantados em
diversas regies do Estado; o quadro de servidores estava sendo acrescido de novos
professores e novos tcnico-administrativos; o quantitativo de estudantes estava se
ampliando; e a oferta educacional estava sendo redimensionada.
Com o propsito de implementar um processo democrtico de (re)construo do
Projeto Poltico-Pedaggico, elegeu-se a metodologia participativa. Em uma perspectiva
crtica, tomaram-se, como referncia, os pressupostos terico-metodolgicos dos projetos
anteriores e as experincias acumuladas nos vrios processos de construo desses projetos
institucionais. Para o desenvolvimento do processo, optou-se por encaminhamentos
metodolgicos que privilegiam o dilogo, abrindo-se, assim, para o debate com todos os
segmentos da Instituio. Essa experincia coletiva assumiu um carter inusitado, devido ao
novo contexto institucional pluricurricular e multicampi, com novos desafios polticos,
pedaggicos e organizacionais.
No percurso metodolgico participativo, props-se, dentre outras estratgias,
seminrios, palestras e fruns, envolvendo a participao de servidores e de alunos, de
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Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN: uma construo coletiva.
Verso para consulta pblica comunidade acadmica. IFRN, 2012.
13
modo a garantir, no mbito de proposies e de avaliaes, as discusses, as interlocues
e as interferncias. De incio, traou-se um planejamento abrangente, objetivando definir
equipes de coordenao do processo, delimitar cronograma geral e eleger temas a serem
discutidos. Nessa etapa inicial, contemplaram-se os encaminhamentos que iriam orientar
todo o processo de discusso e que iriam compor o documento final. Entendeu-se esse
documento como sntese do pensamento institucional e resultado do planejamento coletivo
e participativo. Constitui-se, assim, uma proposta de projeto contendo marco situacional,
marco terico e marco operacional.
Para atender a diversidade de temticas, finalidades, concepes, polticas e aes
educativas, necessariamente enfocadas no Projeto Poltico-Pedaggico de uma instituio
pluricurricular como o IFRN, dividiu-se o documento em sete volumes. Assim, a estrutura
geral do Projeto Poltico-Pedaggico organiza-se nos seguintes tomos : Volume I
Documento-Base; Volume II O Processo de Construo do Projeto Poltico-Pedaggico do
IFRN; Volume III Organizao Didtica do IFRN; Volume IV Diretrizes Orientadoras das
Ofertas Educacionais; Volume V Propostas de Trabalho para as Disciplinas do Ensino
Mdio; Volume VI Projetos Pedaggicos de Cursos; e Volume VII Cadernos Temticos.
O Volume I - Documento-Base estrutura-se em cinco captulos, distribudos na
seguinte ordenao: Introduo; Identidade e Organizao Institucional; Concepo,
Princpios e Fundamentos do Currculo; Polticas e Aes Institucionais; Acompanhamento e
Avaliao do PPP; e Consideraes Finais.
O Captulo 1 apresenta a concepo do Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN, os
princpios que orientam a construo de projetos poltico-pedaggicos, a contextualizao
histrica dos projetos poltico-pedaggicos da Instituio, as razes de se construir um novo
projeto poltico-pedaggico, o contexto em que transcorreu o processo de construo desse
novo documento e a metodologia adotada em tal construo.
O Captulo 2 aborda o perfil identitrio institucional no contexto histrico-social
hodierno do IFRN. Para tanto, pe em foco a estrutura institucional, as finalidades e a funo
social da Instituio, o histrico da Instituio e a contextualizao poltica e geogrfica do
projeto de expanso da rede federal de educao profissional e tecnolgica no Rio Grande
do Norte.
O Captulo 3 explicita o conjunto de concepes tericas e de bases epistemolgicas
e filosficas que fundamenta a opo pelo currculo integrado. Explicita tambm a
concepo de currculo orientadora da prtica pedaggica institucional e a concepo de
gesto democrtica na educao.
O Captulo 4 versa sobre as polticas e as aes educativas da Instituio. Apresenta
em que consiste essas polticas e essas aes, no que se refere aos objetivos, s formas de
organizao das ofertas educacionais, a quem se destinam e aos indicadores metodolgicos
de cada poltica.
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O Captulo 5 expe uma proposta de avaliao processual global e emancipatria
do Projeto Poltico-Pedaggico institucional com a finalidade de corrigir rumos e
retroalimentar as polticas e as aes institucionais.
O Captulo 6 reala as consideraes finais do processo de construo do Projeto
Poltico-Pedaggico. Reafirma os compromissos assumidos e evidencia as novas etapas de
implementao e de avaliao do documento. Destaca, por fim, os desafios dessa
construo coletiva, no que concerne consolidao da gesto democrtica no IFRN.
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2 IDENTIDADE E ORGANIZAO INSTITUCIONAL
Identidade fonte de significado e experincia de um
povo. Do ponto de vista sociolgico, toda e qualquer
identidade construda. [...] o processo de construo
de significado com base em um atributo cultural, ou
ainda um conjunto de atributos culturais inter-
relacionados o(s) qual(is) prevalece(m) sobre outras fontes
de significados.
Manuel Castells
A identidade institucional confere singularidade ao IFRN e traduz o que se considera
o ideal pedaggico da Instituio. Esse ideal encontra-se representado na funo social, nos
compromissos pedaggicos e nos valores culturais, trs aspectos demarcados neste Projeto
Poltico-Pedaggico. A funo social define os sentidos da existncia da Instituio; os
compromissos pedaggicos tangibilizam a situao desejvel para o presente e para o
futuro institucionais; e os valores constituem o parmetro para a circunscrio do que pode
ser tomado como sensato e adequado no contexto scio-histrico atual.
As instituies educativas, na condio de serem parte integrante de uma sociedade
em constantes transformaes e de atuarem na instncia social da formao humana,
portam, necessariamente, questes identitrias pujantes e latentes em todos os movimentos
e em todos os momentos histricos. Nesse sentido, a histria das instituies escolares
funde-se histria da educao. Portanto, o processo de (re)constituio da identidade
institucional no pode prescindir, por exemplo, de conhecimentos acerca da cultura
organizacional, dos sistemas educativos e dos impactos das polticas educativas no mbito
institucional e no mbito sociocultural.
Segundo Gatti Jnior (2002, p. 20), a histria das instituies educativas investiga o
que se passa no interior da escola pela apreenso daqueles elementos que conferem
identidade instituio educacional, ou seja, daquilo que lhe confere um sentido nico no
cenrio social do qual fez ou ainda faz parte, mesmo que ela tenha se transformado no
decorrer dos tempos. Assim, constituir a identidade institucional implica perscrutar, dentre
outros elementos, o ciclo de vida das instituies (criao, desenvolvimento, crises e
expanses), os elementos da arquitetura (estruturao fsica interna e externa), o perfil dos
agentes (corpos docente, discente e tcnico e funcionrios terceirizados), os processos de
gesto, os projetos e as propostas pedaggicas.
A nova institucionalidade do IFRN, atribuda a uma Instituio educativa centenria,
est alicerada em valores, tradies, prticas, inter-relaes sociais, funes sociais, reas
de atuao, pblicos-alvo, prestgio social e insero no projeto micro e macrossocial. A esse
cenrio, acrescente-se que as mudanas implementadas trouxeram novos componentes de
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gesto administrativo-pedaggica articulados ao processo institucional de expanso e de
interiorizao. Trata-se de uma re(construo) identitria que, necessariamente, demandou
ser balizada pelos princpios da gesto democrtica, da participao e da incluso social, em
virtude do encargo simblico da cultura construda.
Ademais, a (re)constituio e o fortalecimento da identidade de uma organizao
recm-sada de uma reestruturao institucional implicam redefinio dos compromissos,
das finalidades, dos objetivos e dos modos de organizar-se. Nesse cenrio propiciador de
transformaes poltico-filosficas, poltico-pedaggicas e poltico-organizacionais, assume-
se a centralidade pedaggica como cone da cultura organizacional e da identidade
institucional. Assim, a (re)construo do Projeto Poltico-Pedaggico surge como ao de
gesto democrtica e viabiliza a reorganizao institucional, possibilitando por meio de
um processo pautado no dilogo, na participao e na interdependncia das relaes
interpessoais e institucionais a redefinio da identidade institucional.
Ao reafirmar o potencial reflexivo e transformador de uma ao coletiva do porte de
um projeto poltico-pedaggico, Gadotti (apud GARCIA; QUEIROZ, 2009, p. 119) explicita que
essa ao [...] no nega o institudo da escola que a sua histria, que o conjunto de seus
currculos, dos seus mtodos, o conjunto de seus atores internos e externos e o seu modo
de vida. Um projeto sempre confronta esse institudo com o instituinte. Por assim se
entender, priorizou-se, no incio do processo de construo deste Projeto Poltico-
Pedaggico, a reconstituio identitria do IFRN a partir de ampla reflexo coletiva,
culminando no diagnstico do contexto atual da Instituio. Esse momento de ao-reflexo
consolidou-se como marco referencial para as demais etapas de elaborao do Projeto.
Este captulo sintetiza a identidade institucional do IFRN, desvelada na (re)construo
do Projeto Poltico-Pedaggico institucional e, portanto, circunstanciada historicamente.
Definem-se, assim, a funo social, os princpios, as caractersticas e os objetivos da
Instituio. Para tanto, demarcam-se as questes identitrias, abordando-se uma
reconstituio histrica dessa Instituio centenria. Percorre-se uma trajetria tecida por
ideologias diversas: da fundao da Escola de Aprendizes Artfices, no primeiro decnio do
sculo XX, criao do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio Grande do
Norte, no primeiro decnio do sculo XXI. Trata-se de um trajeto que espelha, de modo por
demais incisivo, tanto o processo de implantao do IFRN quanto o percurso de
reestruturao e de expanso da rede federal de educao profissional, cientfica e
tecnolgica no Rio Grande do Norte e no Brasil.
2.1 ORGANIZAO INSTITUCIONAL E PERFIL IDENTITRIO
O Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN),
nova institucionalidade dada pelos termos da Lei 11.892, de 29 de dezembro de 2008, faz
parte da rede federal de educao profissional e tecnolgica, vincula-se ao Ministrio da
Educao, possui natureza jurdica de autarquia e detm autonomia administrativa,
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patrimonial, financeira, didtico-pedaggica e disciplinar. Trata-se de uma instituio de
educao superior, bsica e profissional, especializada na oferta de educao profissional e
tecnolgica nas diferentes modalidades de ensino, conjugando conhecimentos cientficos,
tcnicos e tecnolgicos a ideais pedaggicos de fundamentao histrico-crtica.
Com estrutura multicampi, o IFRN est sediado na Reitoria, localizada na Rua Dr. Nilo
Bezerra Ramalho, n 1692, Tirol, Natal-RN. composto, tomando-se o ano de 2011 como
referncia, por dezenove campi (Apodi, Caic, Canguaretama, Cear-Mirim, Currais Novos,
Educao a Distncia, Ipanguau, Joo Cmara, Macau, Mossor, Natal-Central, Natal-Cidade
Alta, Natal-Zona Norte, Nova Cruz, Parnamirim, Pau dos Ferros, Santa Cruz, So Gonalo do
Amarante e So Paulo do Potengi).
De organizao pluricurricular, o IFRN oferece um ensino pblico, laico, gratuito e de
qualidade. Oferta, nesse sentido, cursos em sintonia com a funo social que desempenha,
visando a consolidao e o fortalecimento dos arranjos produtivos, culturais e sociais locais.
Apresenta, para tanto, um currculo organizado a partir de trs eixos cincia, trabalho,
cultura e tecnologia que atuam, de modo entrelaado e intercomplementar, como
princpios norteadores da prtica educativa. O Instituto desenvolve a pesquisa e a extenso,
na perspectiva de produo, socializao e difuso de conhecimentos. Estimula a produo
cultural e realiza processos pedaggicos que levem gerao de trabalho e renda. Em um
contexto mais amplo, a Instituio visa contribuir para as transformaes da sociedade, visto
que esses processos educacionais so construdos nas relaes sociais.
No que concerne comunidade acadmica, tem-se os sujeitos sociais diretamente
envolvidos com os processos pedaggicos e administrativos do IFRN. Essa comunidade
constituda por trs segmentos: estudantes, professores e tcnico-administrativos. Numa
perspectiva mais abrangente, acrescenta-se, a esse coletivo, a comunidade local, composta
tanto por pais dos estudantes e/ou responsveis pelos estudantes quanto por
representantes da sociedade civil.
No que concerne destinao de vagas, o IFRN contempla, em cada exerccio, os
mnimos de 50% (cinquenta por cento) para a educao profissional tcnica de nvel mdio,
prioritariamente na forma integrada, e de 20% (vinte por cento) para a formao de
professores da educao bsica, sobretudo nas reas de Cincias e de Matemtica. O
restante das vagas destinado s demais formas de oferta educacional ou
complementao dos mnimos estabelecidos.
No mbito da gesto institucional, o IFRN busca mecanismos participativos para a
tomada de deciso, em seus colegiados, com representantes de todos os segmentos da
Instituio e de determinados setores da sociedade civil, perseguindo o objetivo de
consolidar uma sociedade democrtica, regida pelo princpio da participao e da
autonomia.
Para efeito de regulao, avaliao e superviso da Instituio e dos cursos de
educao superior, equipara-se s universidades federais. Alm de se submeter legislao
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federal especfica, rege-se pelos seguintes instrumentos normativos: estatuto; regimento
geral; regimento interno dos campi e dos demais rgos componentes da estrutura
organizacional dos institutos federais; resolues do Conselho Superior (CONSUP);
deliberaes do Colgio de Dirigentes (CODIR) e do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extenso
(CONSEPEX); e atos da Reitoria.
A expanso do IFRN amplia, significativamente, a atuao nas reas de ensino, de
pesquisa e de extenso; contribui, de modo mais extensivo, para a formao humana e
cidad; e estimula o desenvolvimento socioeconmico, medida que potencializa solues
cientficas, tcnicas e tecnolgicas, com compromisso de estender benefcios comunidade.
Essa ampla abrangncia em todo o territrio norte-rio-grandense contribui para
posicionar tanto o IFRN como uma instituio de educao, cincia e tecnologia quanto os
seus campi como elos de produo de conhecimento e de desenvolvimento social. Garante,
assim, a manuteno da respeitabilidade junto s comunidades nas quais os campi se
inserem e da credibilidade construda ao longo da histria da Instituio.
2.1.1 Funo social
A funo social do IFRN ofertar educao profissional e tecnolgica de qualidade
referenciada socialmente1
e de arquitetura poltico-pedaggica capaz de articular cincia,
cultura, trabalho e tecnologia comprometida com a formao humana integral, com o
exerccio da cidadania e com a produo e a socializao do conhecimento, visando,
sobretudo, a transformao da realidade na perspectiva da igualdade e da justia sociais.
Desse modo, o IFRN contribui para uma formao omnilateral que favorece, nos mais
variados mbitos, o (re)dimensionamento qualitativo da prxis social.
2.1.2 Princpios
Em se tratando de um direito reconhecido, a educao com qualidade socialmente
referenciada somente se torna possvel e real quando perseguida no horizonte em que a
formao integral capaz de contribuir para a consolidao da cidadania almejada se
estabelece como direito social, direito de cidadania e direito do ser humano. Portanto, o
Instituto deve promover uma formao pautada em uma viso humanstica e ancorada nos
seguintes princpios:
justia social, com igualdade, cidadania, tica, emancipao e sustentabilidade
ambiental;
1
Entende-se qualidade referenciada socialmente no sentido de a Instituio servir aos interesses pblicos,
pautando-se nos princpios da democracia e da justia social. Assim, a Instituio envolve a sociedade e permite que
essa mesma sociedade e os sujeitos [...] participem, democraticamente, da tomada de deciso concernente ao
destino da escola e da sua administrao. Assim, a participao dos usurios na gesto da escola inscreve-se como
instrumento, o qual a populao deve ter acesso para exercer o seu direito de cidadania (CASTRO, 2009, p. 41).
Nestes termos, a gesto democrtica deve propiciar a construo de um espao pblico de direito com vistas
promoo de condies de igualdade de acesso educao socialmente referenciada [...]. A qualidade defendida se
afasta do conceito de qualidade total que tem um enfoque empresarial com fulcro nos princpios mercadolgicos de
produtividade conforme preleciona o gerencialismo (CABRAL NETO, 2011, p. 274).
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gesto democrtica, com transparncia de todos os atos, obedecendo aos
princpios da autonomia, da descentralizao e da participao coletiva nas
instncias deliberativas;
integrao, em uma perspectiva interdisciplinar, tanto entre a educao
profissional e a educao bsica quanto entre as diversas reas profissionais;
verticalizao do ensino e sua integrao com a pesquisa e a extenso;
formao humana integral, com a produo, a socializao e a difuso do
conhecimento cientfico, tcnico-tecnolgico, artstico-cultural e desportivo;
incluso social quanto s condies fsicas, intelectuais, culturais e
socioeconmicas dos sujeitos, respeitando-se sempre a diversidade;
natureza pblica, gratuita e laica da educao, sob a responsabilidade da Unio;
educao como direito social e subjetivo; e
democratizao do acesso e garantia da permanncia e da concluso com
sucesso, na perspectiva de uma educao de qualidade socialmente referenciada.
2.1.3 Caractersticas e finalidades
Uma das formas de a Instituio se inserir na sociedade est no redimensionamento e
na articulao de sua estrutura e de seu funcionamento, em consonncia com suas aes de
ensino, de pesquisa e de extenso. Em adequao nova institucionalidade e sob orientao
dos Arts. 6 e 7, dispostos pela Lei 11.892/08, o IFRN define suas caractersticas, suas
finalidades e seus objetivos.
As caractersticas e as finalidades bsicas do IFRN so as seguintes:
ofertar educao profissional e tecnolgica, em todos os nveis e em todas as
modalidades, formando e qualificando cidados para atuao profissional nos
diversos setores da economia, com nfase no desenvolvimento humano e
socioeconmico;
desenvolver a educao profissional e tecnolgica como processo educativo e
investigativo de gerao e adaptao de solues tcnicas e tecnolgicas que
atendam s demandas sociais e s peculiaridades regionais;
promover a integrao e a verticalizao em todos os nveis de ensino (da
educao bsica, educao profissional e educao superior), otimizando a
infraestrutura fsica e valorizando os recursos humanos;
orientar a oferta formativa em benefcio da consolidao, do desenvolvimento e
do fortalecimento dos arranjos produtivos sociais e culturais, identificados com
base no mapeamento das potencialidades locais e regionais;
constituir-se em centro de excelncia na oferta do ensino de cincias, em geral, e
de cincias aplicadas, em particular, estimulando o desenvolvimento de esprito
crtico, reflexivo e voltado pesquisa;
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qualificar-se como centro de referncia no apoio oferta do ensino de cincias
nas instituies pblicas de ensino, oferecendo formao inicial e continuada aos
docentes das redes pblicas de ensino;
desenvolver programas de extenso e de divulgao cientfica e tecnolgica;
realizar e estimular a pesquisa cientfica e tecnolgica, a produo cultural e a
inovao tecnolgica;
estimular o cooperativismo e o desenvolvimento cientfico e tecnolgico; e
promover a produo, o desenvolvimento e a transferncia de tecnologias,
notadamente as voltadas sustentabilidade ambiental e s demandas da
sociedade.
2.1.4 Objetivos
Como decorrncia das caractersticas e das finalidades, o IFRN apresenta os
seguintes objetivos:
ministrar educao profissional tcnica de nvel mdio, prioritariamente, na
forma integrada, para os concluintes do ensino fundamental e para o pblico
da educao de jovens e adultos;
ministrar cursos de formao inicial e continuada ou de qualificao
profissional, objetivando a formao, o aperfeioamento, a especializao e a
atualizao de profissionais, em todos os nveis de escolaridade, nas reas da
educao profissional e tecnolgica;
fomentar a pesquisa como princpio educativo;
realizar pesquisas aplicadas, estimulando o desenvolvimento de solues
tanto tcnicas quanto tecnolgicas e estendendo os benefcios comunidade;
desenvolver atividades de extenso articuladas com o mundo do trabalho e
com os segmentos sociais, enfatizando o desenvolvimento, a produo, a
difuso e a socializao de conhecimentos culturais, cientficos e
tecnolgicos;
estimular e apoiar processos educativos que levem gerao de trabalho e de
renda e emancipao do cidado, na perspectiva do desenvolvimento
humano, cultural, cientfico, tecnolgico e socioeconmico local e regional; e
ministrar, em nvel de educao superior, cursos superiores de tecnologia,
bacharelado e engenharia, visando a formao de profissionais para as
diferentes reas do conhecimento e para as demandas da sociedade; cursos
de licenciatura e programas especiais de formao pedaggica, com vistas
formao de professores para a atuao na educao profissional e na
educao bsica, sobretudo nas reas de cincias da natureza e de
matemtica; cursos de ps-graduao lato sensu (tanto de aperfeioamento
quanto de especializao), visando a formao de especialistas nas diferentes
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reas do conhecimento; e cursos de ps-graduao stricto sensu (tanto de
mestrado quanto de doutorado), visando o estabelecimento de bases slidas
em educao, cincia e tecnologia.
2.2 AS MARCAS NO TEMPO: O IFRN TECENDO A SUA HISTRIA2
A anlise das razes histricas, polticas e sociais do IFRN possibilita um melhor
entendimento das recentes mudanas e contribui para o fortalecimento da identidade
institucional. Enseja, assim, uma maior compreenso do perfil institucional, na perspectiva
de consolidar a funo social, os objetivos e os princpios orientadores do Instituto. Desse
modo, optou-se por um breve relato a respeito do histrico institucional como forma de se
compreenderem os sentidos e as razes das mudanas polticas e pedaggicas ocorridas ao
longo da histria institucional.
Criada pelo Decreto 7.566, de 23 de setembro de 1909, como Escola de Aprendizes
Artfices, essa Instituio passou por diversas mudanas e recebeu vrias denominaes ao
longo do tempo. Instalada, inicialmente, em janeiro de 1910, no prdio do antigo Hospital
da Caridade, na Praa Coronel Lins Caldas, n 678, Cidade Alta, onde hoje funciona a Casa
do Estudante de Natal, a Escola de Aprendizes Artfices oferecia curso primrio de desenho e
oficinas de trabalhos manuais. Em 1914, o estabelecimento foi transferido para a Avenida
Rio Branco, n. 743, ocupando, durante cinquenta e trs anos, um edifcio construdo no
incio do sculo XX.
Mais tarde, ocorreu a mudana de denominao para Liceu Industrial de Natal,
orientada pela reforma instituda pela Lei 378, de 13 de janeiro de 1937, do Ministrio da
Educao e Sade, rgo a que a Instituio estava subordinada desde 1930. Na poca, eram
oferecidas oficinas de desenho, de sapataria, de funilaria, de marcenaria e de alfaiataria,
inspiradas, segundo Meireles (2006, p. 55), em modelos exteriores ao Brasil, o que
evidencia a influncia de outros formatos culturais, educacionais, tecnolgicos e produtivos
na realidade eira do sculo XX.
Designada como Escola Industrial de Natal (EIN), no ano de 1942, aps a
promulgao da Lei Orgnica do Ensino Industrial, a Instituio transformou as oficinas em
cursos bsicos de primeiro ciclo, organizados em quatro sees: Trabalhos de Metal,
Indstria Mecnica, Eletrotcnica e Artes Industriais. Ademais, a Escola tambm estava
autorizada a oferecer cursos de mestria para os professores atuantes nessas reas.
Transformadas em autarquia pela Lei Federal 3.552, de 16 de fevereiro de 1959,
todas as Escolas Industriais do Brasil conseguiram autonomia administrativa, didtica e
2 Para maiores informaes acerca do percurso histrico da Instituio ao longo de seus cem anos, sugere-se a
consulta a outras fontes, como os projetos poltico-pedaggicos anteriores Projeto Pedaggico (ETFRN, 1994),
Proposta Curricular (ETFRN, 1997), Projeto de Estruturao do CEFET-RN (CEFET-RN, 1999, vol. I e II), Proposta
Curricular do Ensino Mdio do CEFET-RN (CEFET-RN, 2001) e Projeto Poltico-Pedaggico do CEFET-RN: um
documento em construo (CEFET, 2005) e os estudos de Pegado (2006) e de Medeiros (2009). Tambm se sugere
a consulta do caderno temtico Percurso histrico da educao profissional e tecnolgica no IFRN: da Escola de
Aprendizes Artfices a Instituto Federal, constante dos Cadernos Temticos que compem o Volume VII do Projeto
Poltico-Pedaggico do IFRN.
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financeira, transformando-se em instituies federais destinadas a ministrar cursos tcnicos
de nvel mdio. Porm, somente em 1963, a EIN implantou seus primeiros cursos tcnicos de
nvel mdio, com as ofertas de Minerao e de Estradas. O novo modelo tinha equivalncia
ao ensino de 2 grau, o que permitia a continuidade de estudos no ensino superior para os
egressos que assim o desejassem.
Em 1965, o Estabelecimento passou a nomear-se Escola Industrial Federal do Rio
Grande do Norte (EIFRN). Nessa dcada, no dia 11 de maro de 1967, ocorreu a inaugurao
da nova Escola Industrial nas recm-construdas instalaes do prdio situado na Avenida
Salgado Filho, n 1559, no bairro Tirol, atendendo a uma comunidade escolar de 233
servidores e cerca de 1.100 estudantes.
Na condio de Escola Tcnica Federal do Rio Grande do Norte (ETFRN), mudana
impetrada pela Portaria Ministerial 331, de 16 de junho de 1968, o Conselho de
Representantes deliberou a extino gradativa dos cursos industriais bsicos, passando-se a
ministrar somente o ensino profissional de nvel tcnico. Em consequncia, foram criados,
entre 1969 e 1973, os cursos tcnicos de nvel mdio em Eletrotcnica, em Mecnica, em
Edificaes, em Saneamento e em Geologia, sob a orientao da Lei 5.692/71, a qual definia
a estrutura do ensino de 2. grau como ensino profissionalizante obrigatrio. A partir de
ento, a ETFRN passou a dedicar-se, exclusivamente, ao ensino tcnico profissionalizante de
2 grau.
Atrelada a acontecimentos diversos, sobretudo nos aspectos polticos e artstico-
culturais, a dcada de 1975 a 1985 imprimiu esses valores socioculturais ao currculo
institucional, com a criao do Coral Lourdes Guilherme (1975), a implantao do Atelier de
Artes Plsticas; a criao do Grupo de Ginstica Rtmica; a fundao do Teatro Laboratrio; a
formao da Banda de Msica e do Grupo de Metais; e a implantao, no dia 11 de
dezembro de 1985, do Grmio Estudantil Djalma Maranho.
Em continuidade, o ano de 1986 evidenciou um imponente pleito: as primeiras
eleies diretas para Diretor-Geral, cuja disputa elegeu, entre os seis candidatos, a nica
mulher a exercer o cargo, at o presente momento, na Instituio, a professora Luzia Vieira
de Frana. Desde essa data, ficou estabelecida a prtica de eleies diretas para o cargo de
Direo-Geral.
A ETFRN, em 1995, despontou com uma proposta curricular inovadora na perspectiva
da formao omnilateral e da educao politcnica. Essa proposta, resultante de um
processo de construo coletiva e historicamente demarcada como o primeiro Projeto
Poltico-Pedaggico institucional, consolidou-se em um projeto curricular de referenciais
histrico-crticos, com princpios filosficos emancipatrios e de tendncia pedaggica
progressista. Reconhecida nacionalmente, a proposta apresentava uma reorganizao e/ou
substituio das ofertas vigentes, estruturando-as em seis reas de conhecimento:
Construo Civil, Eletromecnica, Geologia e Minerao, Informtica, Servios e Tecnologia
Ambiental. Estava surgindo, assim, um novo desenho curricular e novos encaminhamentos
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de gesto pedaggica, evidenciando-se a formao humana integral tanto nos espaos
formativos da antiga ETFRN quanto em outros espaos institucionais da esfera federal. No
obstante, esse modelo foi desarticulado precocemente, em funo da regulamentao da
educao profissional brasileira, por meio do Decreto 2.208/97 e da conjuntura de reformas
instauradas na educao nacional.
Essa regulamentao dos Artigos 39 a 42 da Lei 9.394/96 (LDB), que tratam da
organizao e do funcionamento da educao profissional, orientou uma srie de reformas
com implicaes in loco, ao instituir a separao formal entre o ensino mdio e o ensino
tcnico. Em meio a essas mudanas, a ETFRN, com resistncias, passou a oferecer o ensino
mdio propedutico e a formao tcnica em cursos subsequentes. Coube, assim,
Instituio, ministrar o ensino profissionalizante nos nveis bsico, tcnico e tecnolgico. O
movimento de resistncias separao do ensino mdio da formao tcnica deve-se s
discordncias em relao ao processo de reformas neoliberais, implementadas nos anos
noventa, na educao profissional brasileira. Tais reformas tinham, como elemento central, a
desregulamentao e a descentralizao do Estado na prestao dos servios pblicos,
incluindo a educao
Nessa mesma dcada, houve uma importante iniciativa de interiorizao da educao
profissional ofertada pela ETFRN, com a implantao da Unidade de Ensino Descentralizada
de Mossor (UNED Mossor), cuja inaugurao, em 29 de dezembro de 1994, se constituiu
no marco inicial da interiorizao da rede federal de educao profissional e tecnolgica no
Rio Grande do Norte. Entretanto, esse processo de ampliao da oferta de educao
profissional no Pas foi impedido pela Lei 9.649, de 27 de maio de 1998, que explicita, no
Art. 47, a proibio de investimentos destinados criao e manuteno de unidades de
ensino de educao profissional.
No ano de 1994, iniciou-se outro processo de transio das escolas tcnicas federais.
No entanto, somente no dia 18 de janeiro de 1999, efetivou-se a mudana de ETFRN para
Centro Federal de Educao Tecnolgica do Rio Grande do Norte (CEFET-RN). De acordo com
os documentos oficiais, os centros de educao tecnolgica foram implantados com a
finalidade de formar e qualificar profissionais no mbito da educao tecnolgica, em
diferentes nveis e modalidades de ensino, para os diversos setores da economia. Tambm
objetivavam realizar pesquisa aplicada e promover o desenvolvimento tecnolgico de novos
processos, produtos e servios, em estreita articulao (especialmente de abrangncia local
e regional) com os setores produtivos e com a sociedade.
Em funo das determinaes legais do Decreto 2.208/97, bem como das
consequncias curriculares inerentes implementao do Programa de Expanso da
Educao Profissional (PROEP), imps-se, no ano de 1999, a necessidade de reviso do
Projeto Poltico-Pedaggico vigente. Em decorrncia, materializou-se o Projeto de
Reestruturao Curricular (CENTRO FEDERAL DE EDUCAO TECNOLGICA DO RIO GRANDE
DO NORTE, 1999). Nessa reestruturao, o Estabelecimento passou a oferecer cursos de
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formao profissional, organizados por reas, nos nveis bsico, tcnico e tecnolgico. Sob
as diretrizes das reformas na educao brasileira, o ensino mdio institucional passou a ser
estruturado em trs reas interdisciplinares e suas respectivas tecnologias, assumindo
caractersticas propeduticas. Passou tambm a ser ofertado, por fora de lei,
separadamente da formao tcnica.
Decorrente do modelo de educao profissional implantado nos centros federais de
educao tecnolgica, emergiu a nova estruturao curricular, composta por cursos tcnicos
de nvel mdio, nas formas concomitante e subsequente, e por cursos de graduao e de
ps-graduao. Os cursos, ento, assumiram formatos e durao variados, organizando-se
por mdulos e com flexibilidade curricular. Tal reforma foi arregimentada sob os conceitos
da pedagogia das competncias e instituda de forma descontextualizada, desprovida de
fundamentao terica e carente de processos formativos para docentes, tcnicos e
especialistas. Mesmo assim, esse conjunto de profissionais tornou-se protagonista das
reformas implementadas em mbito institucional. Nesse contexto, implantaram-se, no
CEFET-RN, os cursos tcnicos subsequentes, a concomitncia interna entre ensino mdio e
formao tcnica, os cursos de graduao tecnolgica e os cursos de especializao lato
sensu.
As problemticas geradas pela padronizao das reformas educativas motivaram
debates e reflexes, fazendo-se necessrio repensar o projeto institucional, com o fito de
superar a separao imposta pelo Decreto 2.208/97, de construir novos processos de gesto
pedaggica e administrativa, de integrar as reas formativas e de propiciar espaos
formativos sobre as aes. Nesse sentido, iniciou-se, ao final de 2003, o redimensionamento
do Projeto Poltico-Pedaggico do CEFET-RN, numa perspectiva de participao e de
construo coletiva. Esse redimensionamento, no entanto, s se consolidou no ano de 2004,
luz do Decreto 5.154/04. A orientao advinda desse Decreto teve, como maior destaque,
a reestruturao da educao profissional e tecnolgica em cursos e programas,
possibilitando o retorno oferta de cursos tcnicos integrados educao bsica.
Como principais mudanas curriculares decorrentes do redimensionamento do
Projeto Poltico-Pedaggico, destacaram-se, em 2005, o retorno oferta dos cursos tcnicos
de nvel mdio integrado; a reorganizao acadmica institucional; a reestruturao das
ofertas dos cursos tcnicos subsequentes e dos cursos superiores de graduao tecnolgica;
e a reestruturao curricular dos cursos superiores de licenciaturas, estes ltimos existentes
desde 2002. Ainda em 2005, ocorreu a redefinio das normas internas, como os
Regulamentos dos Cursos e a Organizao Didtica, contribuindo, efetivamente, para o
funcionamento e para a gesto pedaggica dos diversos nveis de atuao institucional.
Doze anos aps a implantao da UNED-Mossor, o Governo Federal consolidou, no
ano de 2006, em nvel nacional, um arrojado plano de expanso da rede federal. Com
caractersticas de interiorizao da educao profissional e tecnolgica para todo o Pas,
foram implantadas mais trs unidades de ensino vinculadas ao CEFET-RN: as unidades de
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ensino da Zona Norte de Natal, de Ipanguau e de Currais Novos, criadas na fase I da
expanso da rede no Rio Grande do Norte. Ainda nesse mesmo ano, devido ao lanamento
do Programa Nacional de Integrao da Educao Profissional com a Educao Bsica na
Modalidade de Educao de Jovens e Adultos (PROEJA), o CEFET-RN comeou a atuar na
educao profissional tcnica de nvel mdio, na modalidade de educao de jovens e
adultos, oferecendo tambm, para educadores que atuam nessa modalidade, cursos de
formao em nvel de ps-graduao lato sensu.
Ao limiar de um sculo de existncia, a Instituio adquiriu nova configurao,
transformando-se em Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio Grande do
Norte (IFRN), nos termos da Lei 11.892, de 29 de dezembro de 2008. De acordo com o
estabelecido oficialmente, os institutos federais so instituies, pluricurriculares e
multicampi, de educao superior, bsica e profissional. So especializados na oferta de
educao profissional e tecnolgica nas diferentes modalidades de ensino, ancorando-se na
conjugao de conhecimentos tcnicos e tecnolgicos com as prticas pedaggicas. Esse
processo, uma vez criada a rede federal de educao profissional, cientfica e tecnolgica,
constituiu-se em elemento de redefinio do sistema de ensino brasileiro. Reforou, por
outro lado, a autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didtico-pedaggica e
disciplinar dessas instituies educativas, alm de imprimir a equivalncia s universidades
federais, no que se refere s disposies que regem a regulao, a avaliao e a superviso
das instituies e dos cursos de educao superior.
No incio do ano de 2009, com o projeto de expanso em sua fase II, o IFRN passou a
contar com mais seis novos campi3
, localizados nos municpios de Apodi, Caic, Joo
Cmara, Macau, Pau dos Ferros e Santa Cruz. Em continuidade fase II da expanso, a
Instituio ampliou, em 2010, sua rede com mais quatro campi: um, na Cidade Alta, em
Natal; e trs, no interior do Estado, respectivamente em Nova Cruz, em Parnamirim e em So
Gonalo do Amarante. Alm disso, criou o campus de Educao a Distncia, sediado no
campus Natal-Central. Esclarea-se que o campus Natal-Cidade Alta, alm de ofertar cursos,
preserva, na condio de se encontrar instalado no antigo prdio do Liceu Industrial de
Natal, tanto a memria histrico-cultural da educao profissional no Brasil quanto, mais
particularmente, a memria do IFRN.
Esse movimento poltico de reestruturao da rede federal de educao profissional
no Brasil trouxe um novo perfil identitrio para as instituies integrantes da rede, medida
que reconfigurou as estruturas administrativas e conceituais na forma e no mtodo de
organizar as ofertas na educao profissional e tecnolgica do Pas. Em 2005, uma vez
instalado esse processo de expanso e interiorizao da educao profissional, o sistema
federal de educao profissional e tecnolgica detinha, apenas, 140 escolas tcnicas. Em
continuidade a esse amplo projeto poltico de desenvolvimento social e econmico do Pas,
3 Com a transformao em Instituto Federal, cada uma das unidades descentralizadas de ensino passou a ser
denominada campus. Com a expanso, o IFRN, em 2009, estruturou-se em nove campi, listados a seguir por ordem
cronolgica de criao: Natal-Central, Mossor, Natal-Zona Norte, Ipanguau, Currais Novos, Apodi, Pau dos Ferros,
Macau, Joo Cmara, Santa Cruz e Caic.
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estima-se um desdobramento do quantitativo, em 2014, para, aproximadamente, 600
campi, o que atender, diretamente, a 515 municpios em todo o Pas, conforme o Plano de
Desenvolvimento da Educao (PDE), na edio 2011.
Na poltica de expanso e de reestruturao da educao profissional e tecnolgica
do Ministrio da Educao, a nova institucionalidade do IFRN concede, Instituio, o papel
de atuar em todo o Rio Grande do Norte, oferecendo educao profissional e tecnolgica
pblica, laica e gratuita nos diversos cursos, tanto na modalidade presencial quanto na
modalidade a distncia, e tendo, como foco desafiador, a atuao no ensino, na pesquisa e
na extenso, numa perspectiva indissocivel. Desse modo, a Instituio passa a se
configurar como uma [...] rede de saberes que entrelaa cultura, trabalho, cincia e
tecnologia em favor da sociedade (BRASIL, 2008, p. 23).
2.3 UMA INSTITUIO EM EXPANSO E COMPROMETIDA COM O DESENVOLVIMENTO
REGIONAL
A expanso da rede federal de educao profissional e tecnolgica est pautada na
interiorizao da educao profissional, com o compromisso de contribuir,
significativamente, para o desenvolvimento socioeconmico do Pas. Nessa perspectiva, a
criao dos institutos federais responde necessidade da institucionalizao definitiva da
educao profissional e tecnolgica como poltica pblica permanente de Estado.
Esse processo de interiorizao da educao profissional e tecnolgica contribui para
o combate s desigualdades estruturais de diversas ordens, proporcionando o
desenvolvimento social por meio da formao humana integral dos sujeitos atendidos.
Propicia, ainda, o desenvolvimento econmico, a partir da articulao das ofertas
educacionais e das aes de pesquisa e de extenso. Tal articulao vincula-se aos arranjos
produtivos sociais e culturais, com possibilidades de permanncia e de emancipao dos
cidados assim como de desenvolvimento das diversas regies do Estado.
Ampliando a compreenso do contexto onde se situa o IFRN, apresenta-se, a seguir,
um panorama parcial de aspectos econmicos, sociais, culturais e geogrficos do Rio Grande
do Norte, com a perspectiva de identificar os arranjos produtivos sociais e culturais de cada
microrregio, a distribuio da populao em todo o Estado e as localidades que constituem
cidades-polo. A Tabela 1 elenca os aspectos socioeconmicos que, juntamente com outros
elementos como condies pedaggicas, aspectos operacionais e polticos determinaram
a definio das reas de atuao do IFRN, visando atender s necessidades da populao
local e regional, no que se refere formao humana e profissional.
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Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN: uma construo coletiva.
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Tabela 1 Expanso da Rede Federal de Educao Profissional e Tecnolgica no Rio Grande
do Norte em sintonia com os arranjos produtivos sociais e culturais locais.
Mesorregio Microrregio Municpio
Populao
abrangida4
(habitantes)
Arranjos produtivos
sociais e culturais
locais
Agreste
Potiguar
Baixa Verde Joo Cmara 58.936
Cajucultura, agricultura,
pecuria, apicultura e
comrcio
Borborema
Potiguar Santa Cruz 130.369
Confeces e
ovinocaprinocultura
Agreste Potiguar
Nova Cruz 115.970 Agropecuria, indstria e
servios
So Paulo do Potengi 82.195 Agropecuria, comrcio
e extrativismo
Central
Potiguar
Serid Ocidental Caic 96.094 Confeces, bordados,
laticnio e pecuria
Serid Oriental Currais Novos 118.004 Minrio, laticnios e
alimentos
Macau Macau 46.729
Sal marinho,
carcinicultura, pesca e
petrleo
Leste Potiguar
Natal
Natal (Campus Natal-
Central)
968.773
Indstria, servios e
comrcio
Natal (Campus Natal-
Cidade Alta)
Cultura, hospitalidade e
servios
Natal (Campus Natal-
Zona Norte)
Indstria, servios e
comrcio
Regio
Metropolitana de
Natal
Parnamirim 202.413 Comrcio, turismo,
indstria e artesanato
So Gonalo do
Amarante 87.700
Agropecuria, pesca,
comrcio, indstria e
apicultura
Macaba Cear-Mirim 330.177
Agropecuria, comrcio,
extrativismo, indstria e
pesca
Litoral Sul Canguaretama 129.077
Carcinicultura, Comrcio,
agricultura, turismo e
servios
Oeste Potiguar
Chapada do
Apodi Apodi 72.425
Apicultura,
ovinocaprinocultura e
cermica
Vale do Au Ipanguau 145.212
Apicultura, agricultura,
pecuria, cermica e
fruticultura
Mossor Mossor 304.293
Petrleo e gs natural,
sal, fruticultura, servios
e comrcio
Pau dos Ferros Pau dos Ferros 80.437 Caprinocultura, pecuria,
comrcio e servios
Todas --- Natal (Campus de
Educao a Distncia) 3.168.130 reas diversificadas
Fonte: IBGE (2011).
Situando-se nesse contexto socioeconmico e cultural do Rio Grande do Norte e
buscando ancoragem na defesa da educao pblica de qualidade, nas novas definies
polticas para a educao profissional e tecnolgica no Brasil, no estudo dos arranjos
4
Os quantitativos referentes populao abrangida correspondem populao que atendida no entorno do
municpio em que cada campus est situado, em um raio de 50 Km. Portanto, no se referem ao nmero estatstico
do senso populacional de cada municpio.
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produtivos, sociais e culturais locais e nas condies pedaggicas da Instituio, o IFRN
implanta novos campi como polos especializados em reas geogrficas estrategicamente
definidas. Apresenta, portanto, uma proposta acadmica de atuao que atende a todas as
microrregies do Estado. A Figura 1 expe a distribuio geogrfica do IFRN, de acordo com
as mesorregies e as microrregies. Evidencia a expanso da rede federal de educao
profissional e tecnolgica no Rio Grande do Norte at o final de 2011, destacando-se os
municpios contemplados, as caractersticas socioprodutivas e a abrangncia de atuao
local e regional de cada campus.
Figura 1 Disposio geogrfica e rea de abrangncia dos campi do IFRN em 2011.
Fonte: Adaptado do Projeto de Implantao do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do
Rio Grande do Norte (CENTRO FEDERAL DE EDUCAO TECNOLGICA DO RIO GRANDO DO NORTE,
2008).
Nesse contexto de atuao, torna-se imprescindvel desenvolver estudos especficos
das necessidades e das potencialidades socioeducacionais, para que se possam trazer mais
elementos elucidadores da definio das ofertas de educao profissional e tecnolgica no
Rio Grande do Norte. Somente assim, possvel atingir abrangncia equilibrada e possibilitar
formaes significativas que venham a contribuir para o desenvolvimento local e regional.
A expanso , portanto, um desafio que precisa ser enfrentado com planejamento e
com clareza dos objetivos sociopolticos da proposta educacional, a fim de se garantirem a
manuteno e a ampliao da qualidade da ao poltico-pedaggica. No se pode esquecer
de que essa dimenso qualitativa foi construda, historicamente, pela Instituio. preciso,
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Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN: uma construo coletiva.
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assim, buscar, continuamente, alternativas de atuao condizentes com essa nova realidade
institucional, objetivando uma real insero nos contextos sociais das diversas localidades
onde os campi do IFRN esto presentes.
O compromisso da Instituio cumprir sua funo social, promovendo mudanas
significativas no mbito da formao humana, da formao para o trabalho e do
desenvolvimento social e econmico. Persegue-se, assim, uma atuao integrada e
referenciada local, regional e nacionalmente possibilitando o entrelaamento entre
desenvolvimento, territorialidade e educao sistmica, a partir de aes como, por
exemplo, avaliao das prticas, intercmbio (em mbito cientfico, acadmico e cultural) e
formao continuada dos servidores. So aes como essas que contribuem decisivamente
para a no fragmentao da proposta educacional da rede federal de educao profissional e
tecnolgica.
inegvel que, no decorrer de seus cem anos, a Instituio j se consolidou, quando
se trata do ensino tcnico de qualidade. Faz-se necessrio, entretanto, intensificar polticas e
aes focadas na pesquisa e na extenso, com o objetivo de se firmar, na mesma proporo
qualitativa, nesses dois outros mbitos. Amplia-se, assim, o leque de atuao do IFRN.
Esse novo panorama, contudo, no deve se configurar em obstculo s demandas
institucionais vigentes. Deve, ao contrrio, explicitar desafios e apontar tanto para o
redimensionamento de aes conjuntas quanto para o estabelecimento de diretrizes capazes
de efetivarem a funo social da Instituio.
Para ampliar a compreenso da realidade vivenciada e como subsdio ao marco
situacional deste Projeto Poltico-Pedaggico, desenvolveu-se um diagnstico qualitativo do
cenrio poltico, administrativo e pedaggico em que estava inserida a Instituio. Essa
perscrutao assumiu um contorno formativo e reflexivo, possibilitando uma viso
sistematizada do Instituto. Tambm funcionou, sobretudo como elemento de busca
identitria em meio a tamanho processo de reestruturao.
Apresenta-se, no Apndice A, o referido diagnstico do IFRN, evidenciando-se as
potencialidades consolidadas e as dificuldades enfrentadas. Convm ressaltar, ainda, que os
desafios presentes nesse perfil refletem a complexidade pluricurricular e multicampi do
IFRN, equiparado s universidades, e a insero do Instituto em vrias regies do Rio grande
do Norte. Na composio desse diagnstico, destacam-se os seguintes aspectos:
financiamento da educao profissional e tecnolgica; desenvolvimento da pesquisa;
desenvolvimento da extenso; indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extenso;
proposio de aes afirmativas para educao inclusiva; formao continuada e
desenvolvimento profissional de servidores; organizao e gesto administrativo-
pedaggica; e sistematizao e desenvolvimento dos processos avaliativos.
A avaliao desses elementos do processo de gesto poltico-pedaggica,
administrativa e financeira do contexto do IFRN constitui-se em importante indicador para as
polticas e para as aes traadas neste Projeto Poltico-Pedaggico (doravante PPP).
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Considerando-se a profundidade das reflexes, a temporalidade do processo e as propostas
apresentadas como desafios no conjunto das polticas institucionais, o diagnstico
construdo representa um marco decisivo no processo coletivo de reviso e de construo
deste PPP institucional. No Apndice A, encontra-se a sistematizao do diagnstico.
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Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN: uma construo coletiva.
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3 CONCEPES, PRINCPIOS E FUNDAMENTOS DO CURRCULO E DAS PRTICAS
INSTITUCIONAIS
O currculo o espao onde se corporificam formas de
conhecimento e de saber. O currculo um dos locais
privilegiados onde se entrecruzam saber e poder,
representao e domnio, discurso e regulao e
tambm no currculo que se condensam relaes de poder
que so cruciais para o processo de formao de
subjetividades sociais. Em suma, currculo, poder e
processo de formao esto mutuamente implicados.
Tomaz Tadeu da Silva
Historicamente, o currculo tem sido um campo de disputa, de contestao e de
conflito. medida que se chega ao sculo XXI numa sociedade marcada por diferenas de
classe, de gnero, de etnia, de religio e de gerao, dentre outras , as decises e
prescries relativas ao currculo esto vinculadas, estreitamente, a estruturas de poder e de
dominao. Isso faz da educao formal, ofertada na instituio escolar e na academia, um
espao poltico de embates permanentes por autonomia intelectual e poltica, por igualdade
e por solidariedade (SILVA, 2007).
A questo central para qualquer teoria que problematize o currculo orientar a ao
educativa em um dimensionamento amplo e integrado. E isso compreende muito mais do
que listar contedos, cargas horrias e matrizes curriculares. Envolve saber, numa
perspectiva poltica, qual conhecimento deve ser ensinado, quais as finalidades desse
conhecimento, para quem ele se destina e a quem ele interessa. Nesse sentido, a indagao
o que selecionar como elemento constituinte de um currculo? deve ser necessariamente
antecedida por o que os educandos devem se tornar?.
Esses questionamentos so fundamentais para uma constituio curricular
perspectivada em um processo de construo e de desenvolvimento interativo, dinmico e
complexo. Tal processo implica
[...] unidade, continuidade e interdependncia entre o que se decide ao nvel
do plano normativo, ou oficial, e ao nvel do plano real, ou do processo de
ensino e aprendizagem. Mais ainda, o currculo uma prtica pedaggica
que resulta da interao e confluncia de vrias estruturas (polticas,
administrativas, econmicas, culturais, sociais, escolares...) na base das
quais existem interesses concretos e responsabilidades compartilhadas
(PACHECO, 2001, p. 20).
Nesse entendimento, o currculo constitui-se em um instrumento de mediao para o
domnio do conhecimento cientfico; para o desenvolvimento do pensamento lgico,
construtivo e criativo; para a formao de atitudes e convices; e, consequentemente, para
a efetiva participao social, poltica, cultural e econmica.
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Projeto Poltico-Pedaggico do IFRN: uma construo coletiva.
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Tomando-se, como diretriz, essa linha de pensamento, tambm enfatizada por Costa
(2005), assume-se que o currculo e seus componentes constituem um conjunto articulado e
normatizado de saberes regidos por uma determinada ordem estabelecida em permanente
debate. H de se considerar que esse debate enfoca sempre as vises de mundo e os lugares
sociais onde se produzem essas vises. Sendo assim, o currculo e seus componentes
elegem e transmitem representaes, narrativas e significados sobre as coisas e os seres do
mundo. O currculo tem o poder de se constituir em um dos mecanismos sociais que
compem o caminho capaz de tornar os sujeitos naquilo que eles so.
Em decorrncia, alar uma proposta de educao profissional pautada no
compromisso com a formao humana integral e focada na apreenso conjunta dos
conhecimentos cientficos, tecnolgicos, histrico-sociais e culturais exige a assuno de
princpios e de pressupostos referenciadores.
Este captulo versa sobre as concepes e os princpios basilares para delinear e
materializar as diretrizes do currculo, as quais nortearo as aes e as prticas
institucionais. Para tanto, ancora-se na tentativa de discutir as concepes vigentes no
coletivo institucional, consideradas fundamentais para a formulao e para a tessitura de
uma construo curricular orientadora de todas as prticas e de todas as vivncias
institucionais.
3.1 CONCEPO INSTITUCIONAL DE SER HUMANO, SOCIEDADE, CULTURA, CINCIA,
TECNOLOGIA, TRABALHO E EDUCAO
Cada modo de compreender o ser humano, a sociedade, a educao, a cultura, o
trabalho, a cincia e a tecnologia (enfim, as concepes filosficas que orientam o
pensamento em determinado contexto scio-histrico) gera implicaes tanto sobre a
construo do conhecimento escolar quanto sobre a organizao, a gesto e as finalidades
da educao formal. Configura-se, assim, conforme as teorias do currculo, que as definies
e as escolhas curriculares esto associadas, diretamente, s questes filosficas de
identidades, de subjetividades e de poder, visto que selecionar ou privilegiar um tipo de
conhecimento uma ao de poder prioritria das instituies educativas (SILVA, 2007).
Essa ao decisria no est nas mos apenas das instituies educativas. Ela se
constitui em um mosaico de valores, uma vez que a construo curricular est interligada a
padres culturais, a identidades, a costumes e a crenas. Nesse sentido, o processo
produtivo mostrado pela histria constitui um fator determinante na prtica educativa. No
se deve esquecer de que todo esse cabedal de elementos materializado em leis, em
orientaes e em polticas governamentais, constituindo, assim, marcos orientadores das
definies curriculares
Apresentam-se, a seguir, as concepes definidas como elementos estruturantes do
currculo e do conjunto das prticas institucionais que envolvem a ao educativa.
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3.1.1 Concepo de ser humano
Aristteles define o homem como animal racional e poltico. A opo por esse
entendimento permite que a racionalidade se sobressaia ante outras caractersticas prprias
do ser humano. J Plato e outros filsofos gregos compreendem o homem como um ser
dual, que possui a dimenso da medida e da ordem, da desordem e da desmedida, do
apolneo e do dionisaco, da vida e da morte, da juventude e da velhice. Para Plato, esses
aspectos coexistem simultaneamente em ns, cabendo afetividade os unir para o melhor e
para o pior, em uma luta sem fim. Todas essas dualidades so prova da densidade do ser
humano, da sua multiplicidade interior, das suas possibilidades e das suas potencialidades.
Por isso, no possvel reduzir o humano a um s princpio ou a um s componente,
quer seja o inconsciente, o consciente, a matria, o esprito, a racionalidade ou a
irracionalidade. O humano transcende todas essas divises e separaes, portanto deve ser
pensado de forma aberta, a partir da perspectiva de um sujeito multidimensional e de um
sujeito sempre em construo. O homem capaz tanto de agir racionalmente quanto de ser
impulsionado pelo egosmo; tanto de atuar por interesses individualistas quanto de se
mover sob a fora do altrusmo.
No entanto, a classificao homo sapiens acentua a dimenso racional do ser
humano. Evidencia as ideias de controle, de ordem e de medida, distinguindo o homem das
outras espcies. Compreendendo-se, portanto, o homem apenas como sapiens, concede-se
demasiado valor razo e se mutila um entendimento multidimensional. No se podem
esconder a desrazo e a desmedida (hubris) que Plato distingue na alma, quando afirma
que esta composta por trs partes: a racional, a irascvel e a concupiscvel.
Nesse sentido, a afetividade est associada racionalidade. Est presente nas
diversas manifestaes da razo e nos processos ditos racionais. As maiores e mais
extraordinrias invenes do homem so fruto do trabalho conjunto da inteligncia racional
e da inteligncia afetiva. A arte, a poesia, a literatura, o mito, a religio, a cincia e a filosofia
nasceram de uma experincia humana que funde emoo, desejo de conhecer, espanto,
medo, exaltao esttica e necessidade de domnio sobre o inquietante mistrio
psicoafetivo, mistrio criador de angstia, inquietude, esperana e consolao.
Ampliando essa perspectiva, Morin (2002) afirma que o ser humano
extraordinariamente complexo, unindo, em si, dialgica e recursivamente, vrios
componentes mantenedores sempre de contradio, de ambiguidade e de incerteza. A
dificuldade em compreender esse ser reside, portanto, na inadequao de metodologias que
o reduzem a um s componente, a uma s dimenso. A insistncia em tentar pensar o
humano de maneira disjuntiva a partir de uma lgica binria do tudo ou do nada acaba por
inviabilizar uma apreenso mais ampla da prpria ideia de humanidade. O ser humano ,
simultaneamente, tudo o que se pode afirmar e negar sobre ele, sempre de modo
antagonicamente complementar.
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