feminismo emancipatorio

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  • 8/19/2019 feminismo emancipatorio

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    Pequena Contribuição MetodológicaAo Feminismo Emancipacionista

    Milton B. de Almeida Filho

    O objetivo deste trabalho é discutir as

     bases filosóficas do feminismo emancipacionista.

    Entendemos como base filosófica um conjunto de perguntas e respostas cruciais sobre a condição de

    existência da mulher. As perguntas são

    relativamente fceis de serem feitas mesmo !ue

    sejam embaraçosas" j as respostas estão

    necessariamente em construção# pois fa$em parte

    do próprio processo de emancipação da mulher

    !ue é inexoravelmente coletivo. As perguntas são%

    O que é ser Mulher? Como é possível conhecer a

     Mulher? Que modo de vida propõem as

     Mulheres?

    A primeira pergunta# de carter

    ontológico# demandar respostas da segunda#

    afinal# só podemos saber o !ue ser mulher se

    encontrarmos um modo ade!uado de conhecê&las.

    A terceira pergunta depender de !ue mulher

    estamos falando# a !ual classe social ela se

    vincula# !ue interesses ela defende.

    'urante um tempo demasiadamente longo

    e enfadonho a filosofia e a ciência# com seus mais

    ilustres e melhores representantes#

    des!ualificaram a mulher tornando&a uma

    obviedade desinteressante para a investigação

    racional. (ais do !ue isso# a apropriação privada

     pré&capitalista e capitalista !ue inicialmente

    aprisionou&as ) vida doméstica impedindo&nas de

    desenvolver uma visão ampla da sua existência e

    de suas possibilidades en!uanto ser humano# hoje

    as objetifica e mercantili$a# fa$ do corpo feminino

    um meio de acesso ) vida publica para eterni$&la

    como objeto de desejo dos machos# velhos e

    novos. A situação de silencio# obscuridade e banalidade na !ual foram colocadas as mulheres

    imp*e como desafio pol+tico estratégico a tarefa

    de tra$er ) lu$ suas vo$es# suas mentes# sua

    condição humana.

    Estamos convencidos de !ue o processo

    de conhecimento sobre as mulheres é parte

    indispensvel do processo de libertação de

    mulheres e homens do jugo do capital.

    ,omeçamos então por antecipar um conceito !ue

    ficar mais claro e preciso apenas ao final do

    trabalho# mas !ue orientar as nossas

    investigaç*es desde o inicio. - pergunta “o que é

     ser mulher” responderemos !ue# em principio# ser

    mulher é existir na condição eminina  !ue ser

    denominada de feminilidade.

     !eminilidade ou Condição !eminina de

     "xist#ncia  é o modo de viver próprio das

    mulheres ou o conjunto das condiç*es

    socioeconmicas# ambientais e corporais

    /condições materiais de vida0# hbitos# rotinas e

    tradiç*es /estilo de vida0# conceitos# princ+pios e

    valores /concepção de vida0 !ue formam o modo

    de vida das mulheres.

     1a historia concreta da espécie humana# a

    condição feminina se expressa positivamente em

    diferentes dimens*es de existência. Essas

    dimens*es são as mesmas nas !uais se reali$am a

    condição humana em geral e# portanto# são validas

     para homens e mulheres. Elas re2nem um

    conjunto diverso de propriedades# atributos e

     processos denominados de  s$cio%culturais& psicol$'icos e (iol$'icos. 3or sua ve$# os aspectos

    culturais# psicológicos e biológicos !ue

    caracteri$am a condição feminina são gerados

    através da mediação com seu oposto imediato e

    negativo# a masculinidade# como mostra a 4igura

    5.

    6omens e mulheres# mesmo sendo tão

    diferentes como são# formam uma unidadedin7mica indissol2vel responsvel pela

    sobrevivência e desenvolvimento da espécie

    5

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    humana. Essa unidade é din7mica por!ue homens

    e mulheres são# simultaneamente# opostos !ue se

    distinguem um do outro por possu+rem diferentes

     propriedades e atributos constru+dos numa história

     biológica# psicológica e social# e são

    complementares# j !ue a história a !ue acabamos

    de nos referir é compartilhada durante todo o

     processo evolutivo da espécie# o !ue viabili$a# a

    interpenetração sistemtica e a conse!8ente

    modificação m2tua entre o conjunto das

    caracter+sticas biopsicossociais !ue identificam

    homens e mulheres.

    4igura 5% A menor unidade de analise da4eminilidade é uma tr+ade dialética complexa.

    3ara continuar o racioc+nio tomemos a

    feminilidade como um ente real e concreto e não

    apenas como um conceito. A ontologia dialética

    demonstra !ue todos os entes existentes no

    universo estão direta ou indiretamente

    interconectados uns com os outros. Ora# se todos

    os fenmenos são determinados por sua conexão

    universal como investig&los sem conhecer atotalidade9 3ara responder a esta !uestão é

    necessrio dedu$ir da proposição ontológica

    acima suas implicaç*es epistemológicas. Afirmar

    a conexão universal implica di$er também !ue

    todos os fenmenos são multideterminados e !ue

    é imposs+vel se aproximar da verdade dos fatos

    isolando&os uns dos outros. Além disso# é

    necessrio identificar a conexão m+nima# !uetorna um ser existente na rede da conexão

    universal pass+vel de ser conhecido. ,omo

    afirmaram (arx /:;;?0 e @enin /5=>#

    5=?=0 a objetividade de !ual!uer ente é garantida

    !uando# simultaneamente# esse ente toma para si#

    como seu objeto# a sua própria negatividade e# por

    outro lado# é tomado como objeto por outro/s0

    ente/s0# cuja existência lhe é independente. Bó

    dessa forma é poss+vel Creter no positivo a

    negatividadeD e com isso revelar a essência

    objetiva do fenmeno !ue se !uer compreender. A

    aplicação deste princ+pio metodológico permite

    explicitar a menor unidade de analise !ue pode se

     propor para compreender a feminilidade. Ela

    contém necessariamente três componentes !ue

    interagem dialeticamente% O Ber 4eminino /50

    uma totalidade !ue se expressa positivamente

    nas dimens*es biopsicossociais /:0 pela mediação

    do seu negativo# o Ber (asculino /F0. 1este

    sentido# não se pode entender cientificamente a

    complexidade da condição feminina e masculina

    simplesmente separando&os como dois opostos

    nem subsumindo um ao outro# como

    tradicionalmente é feito ao se tomar como modelo

     para a compreensão do !ue é ser mulher a

    condição de existência dos homens ou vice&versa.

     1o paradigma cientifico dominante#

    entretanto# as teorias explicam a condição

    feminina redu$indo&a a um das dimens*es de

    existência da feminilidade. Gsso acontece por!ue a

    identificação dos determinantes !ue explicam afeminilidade é feita com base em regras de

    simplificação e redução !ue resultam na perda ou

    no escamoteamento da complexidade e# portanto#

    da multideterminação dos objetos# caracter+stica

    ontológica dos fenmenos humanos. A 4igura :

    mostra graficamente como funcionam a maioria

    dos estudos sobre a condição feminina no interior

    do paradigma cientifico reducionista e anti&dialético dominante. 1eles# a feminilidade é

    explicada por fatores isolados ou agrupados

    :

    Dimensões da

    feminilidadeFeminilidade

    Masculinidade

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    3/9

    dentro de uma mesma e 2nica dimensão.

    En!uadram&se nesta classificação todas as

    explicaç*es exclusiva ou preponderantemente

     biológicas !ue enfati$am as funç*es reprodutivas

    femininas ou as diferenças genéticas entre homens

    e mulheres" as explicaç*es !ue privilegiam os

    fatores psicológicos e a experiência vivida" ou

    ainda# as explicaç*es mais modernas ou pós&

    modernas# !ue compreendem a feminilidade como

    um fenmeno essencialmente cultural

    determinado pelas diferentes maneiras pelas !uais

    o meio social e os valores culturais formatam#

    modelam ou produ$em os diferentes significados

    de ser homem e mulher.

    4igura :% Hedução da condição feminina a suasdimens*es de existência.

    Atualmente# as explicaç*es biologicistas

    estão provisoriamente em minoria pelo menos nos

    c+rculos feministas e progressistas. ,ontudo# est

     bem viva na sociobiologia e psicologia

    evolucionista norte&americana cujas tentativas de

    estender a lógica do darIinismo a todos os

    terrenos da existência humana são amplamente

    respaldados por setores pol+ticos e econmicos

    conservadores e neoliberais /@eIontin# H. ,."

    Hose# B. J Kamin# @. L. 5=?0% trabalham

    rigorosamente dentro de um paradigma tradicional

    e produ$em vasta informação sobre aspectos

     parciais do fenmeno investigado. Apesar destas

    limitaç*es os estudos descritivos e comparativos

    reducionistas ajudam a tornar mais vis+vel aopressão da mulher e produ$em informação 2til

     para pol+ticas publicas# ainda !ue parciais. 4a$em

     parte das con!uistas democrticas da luta das

    mulheres por sua emancipação.

    Entre os setores !ue contestam a forma

    dominante /e patriarcal0 de se produ$ir

    conhecimento cient+fico estão as feministas !ue

    estruturam suas investigaç*es em torno dacategoria  '#nero)  'iferentemente do

    reducionismo tradicional os estudos de gênero

    F

    Redu ão aos Determinantes

    Sócio/Cultural

    Psicoló ico

    Bioló ico

    Feminilidade

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     procuram compreender a condição feminina em

    sua intima conexão com o seu negativo# a

    condição masculina# enfati$ando as relaç*es de

    dominação e exploração patriarcais e dão maior

    atenção ) produção teórica e metodológica e a

    criação de modelos explicativos mais abrangentes.

    nesta rea também !ue se encontram os setores

    !ue atacam o feminismo marxista a partir de uma

     posição ) es!uerda.

    Norna&se cada ve$ mais evidente#

    entretanto# as limitaç*es desta abordagem. 'e um

    lado# o dialogo entre o masculino e o feminino

    !uase nunca segue um procedimento dialético#

     pois a relação é concebida fundamentalmente

    como oposição sem complementaridade# seja

     por!ue se eliminam as dimens*es onde existem

    complementaridades /e até semelhanças0 mais

    evidentes# a biológica e a psicológica# sejam

     por!ue o uso de regras simplificadoras e

    reducionistas indu$em a investigação para o

    território das comparaç*es entre a condição

    feminina e masculina caindo nas limitaç*es dos

    estudos descritivos. O uso de referencias

    metodológicas reducionistas resultaram também

    numa identificação das propriedades e atributos da

    condição de gênero a significados socialmente

     produ$idos. 3or esse principio se apreenderia a

    totalidade da condição de gênero investigando

    apenas o aspecto simbólico da dimensão sócio&cultural. ,onfigura&se assim# a mais importante

    limitação metodológica dos estudos de gênero !ue

    é a redução da feminilidade a determinantes

    sociais e a redução do social ao aspecto simbólico.5 A 4igura F mostra como os estudos de gênero ao

    fa$erem a critica do marxismo se afastam de uma

    descrição dialética dos elementos !ue constituem

    a condição feminina de existência.

    5 3ara um estudo mais abrangente e critico sobre oconceito de gênero# ver Hevista ,ritica (arxista nP55.

    4igura F% 1os estudos de gêneros o aspectosimbólico da dimensão cultural determina afeminilidade e a masculinidade e as diferentes posiç*es de poder !ue ocupam na sociedade.

    A ênfase nas relaç*es de poder como

    expressão 2nica ou principal das complexas

    relaç*es entre homens e mulheres# entremasculinidade e feminilidade encobre um outro

    aspecto fundamental% a alienação  !ue atinge os

    dois pólos da contradição. 'ominantes e

    dominados são seres alienados de si mesmos# de

    suas potencialidades e !ualidades humanas.

    'e um ponto de vista materialista e

    dialético a interpenetração entre o masculino e o

    feminino não resulta apenas ou principalmente emrelaç*es de poder e dominação# histórica e

    socialmente constru+das# mas num modo de ser e

    viver# um modo de vida !ue separa e une homens

    e mulheres. Gsto significa !ue as mulheres vivem e

    expressam sua condição biopsicossocial por meio

    das formas históricas concretas da dominação

    masculina# os modelos patriarcais. Nais modelos

    se impuseram ao longo da história evolutiva#social e pessoal das mulheres por meio da

    violência f+sica e psicológica# mas também através

    da adesão de uma parcela das mulheres a estes

    modelos.

    O modo como as mulheres vivem o seu

     próprio corpo# sua sexualidade ou maternidade# a

    maneira como se comportam e pensam o trabalho#

    a escola# a fam+lia# o la$er# os papeis e funç*es

    sociais !ue desejam e se preparam para exercer

    são concreti$ados através de modelos e de normas

    <

    DominaçãoMasculina

    Dimensão

    Sócio/CulturalAsecto

    Sim!ólico

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    sociais !ue visam a manutenção da ordem social

    vigente# na !ual os homens não só exercem o

     poder econmico# pol+tico e ideológico mas o

    fa$em em nome de valores e regras sociais !ue

     preservam as diferenças e a dominação masculina

    e para as !uais se monta um enorme aparato

    institucional com vistas ao controle da sua

     produção e reprodução. 1este sentido os modelos

     patriarcais dominam todas as instituiç*es

    responsveis pela sociali$ação das sucessivas

    geraç*es de mulheres e homens nas sociedades

    divididas em classes. (etodologicamente# o !ue

    significam estes pressupostos# ou como podemos

    usar estes princ+pios para compreender e revelar a

    condição feminina en!uanto conhecimento e luta

    social9

    Ora# se um ente concreti$a sua

     positividade por meio da sua negatividade# o seu

    ser concreto e historicamente observvel# o ser

    realmente vivido# est alienado de si mesmo e de

    sua potencia humana e a 2nica maneira de redu$ir

    ao m+nimo esta alienação é diminuir a distancia

    com seu negativo. Este racioc+nio é igualmente

    valido para o pólo masculino !ue na condição de

    dominador concreti$a sua positividade através de

    uma negatividade encoberta e mutilada pela

     própria dominação !ue exerce. Assim# a

    feminilidade através da !ual se expressa as

    caracter+sticas biopsicossociais dos homens é umaespécie de imagem falsa por!ue encobriu o

     potencial humano da mulher# mas é também uma

    auto&imagem incompleta e distorcida por!ue o

    feminino com !ual ele se relaciona é uma

     projeção de sua própria imagem ideali$ada. Esta é

    a forma concreta pela !ual se alienam homens e

    mulheres nas sociedades dominadas por modelos

     patriarcais de produção# reprodução e controlesocial. Os modelos patriarcais não contêm apenas

    uma imagem limitada e dominadora do homem#

    mas também uma projeção distorcida do ser

    mulher e é através deles !ue homens e mulheres

    são sociali$ados e posto em ação na sociedade de

    classes. A 4igura < ilustra o !ue estamos

    descrevendo.

    4igura

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    investigadores adotam. 'o ponto de vista marxista

    vimos !ue uma resposta clara a esta !uestão busca

    manter a complexidade dialética e a materialidade

    histórica do fenmeno. Entretanto a resposta !ue

    demos ate agora é parcial# pois só destacou as

    interpenetraç*es dialéticas entre o masculino e o

    feminino e como estas relaç*es são geradoras de

    dominação e alienação. Os resultados a !ue

    chegamos até o momento nos permite cumprir o

     preceito metodológico marxista&leninista !ue

    afirma !ue o primeiro passo na demarcação clara

    de um objeto de estudo é explicitar como a

    negatividade de mantêm como parte intr+nseca e

    fundamental de !ual!uer fenmeno. Simos#

     portanto apenas a din7mica relacional do feminino

    com seu negativo e acentuamos !ue as

     propriedades e atributos biopsicossociais !ue

    caracteri$am as mulheres são reali$ados na

    história concreta pela mediação dos modelos

     patriarcais. (as as caracter+sticas biopsicossociais

    das mulheres mudam ao longo do tempo.

    3ortanto# do ponto de vista metodológico é

    necessrio agora olhar para o outro par relacional

    do ente feminino# a sua própria potencia humana

    expressa num complexo de competências

     biológicas# sociais e psicológicas. Gnsistimos !ue

    não apresentaremos teorias sobre estas !uest*es e

    sim princ+pios ontológicos e indicaç*es

    metodológicas e epistemológicas sobre a condiçãofeminina a partir do materialismo dialético.

    As transformaç*es biopsicossociais

    femininas ocorreram antes da existência dos

    modelos patriarcais de sociali$ação e ação e

    existirão depois !ue eles tiverem sido superados

     pela luta revolucionria e soterrados pela história.

    Elas têm# portanto# precedência e transcendência

    frente a !ual!uer modo de dominação masculinaou alienação da espécie humana.

    Tma leitura metodológica da obra de

    (arx nos ajuda a encontrar uma sa+da para esta

    !uestão. ,omo sabemos todos os fenmenos

    humanos possuem três caracter+sticas

    indissociveis% 50 Bão# essencialmente# relaç*es

    sociais# :0 Nem a sua gênese e desenvolvimento ao

    longo de um tempo biológico# histórico e pessoal

    irrevers+veis e F0 Bão determinados em ultima

    instancia pela produção e reprodução da vida

    material. ,ada um destes pressupostos

    ontológicos tra$em consigo implicaç*es

    metodológicas !ue serão desenvolvidas a seguir.

    O pressuposto 5 j foi parcialmente

    desenvolvido !uanto a suas implicaç*es

    metodológicas !uando exploramos a feminilidade

    como o produto de uma relação dialética com o

    masculino !ue se concreti$a historicamente pela

    mediação dos modelos patriarcais. Este

     pressuposto ser retomado mais adiante !uando

    formos desenvolver as conse!8ências

    epistemológicas do item F. 3or en!uanto vamos

    tirar as conse!8ências lógicas da afirmação de !ue

    todo fenmeno humano ocorre em três n+veis

    distintos de desenvolvimento ou passa por

    transformaç*es !ue ocorrem simultaneamente em

    três aspectos diferentes e interconectados da vida

    humana# !ual sejam% o n+vel de desenvolvimento

    filogenético ou  ilo'#nese onde ocorrem as

    transformaç*es de ordem evolutiva# particularmente o surgimento do trabalho e da

    linguagem# !ue envolvem diferenciadamente toda

    a espécie humana e !ue podem ser observadas em

    unidades temporais !ue medem milhares de anos"

    o n+vel de desenvolvimento sóciogénetico ou

     socio'enese onde ocorrem as transformaç*es

    históricas !ue produ$em sucessivos e distintos

    modos de produção e de vida e separam os sereshumanos em classes# gêneros# etnias# etc." o n+vel

    de desenvolvimento ontogenético ou onto'#nese&

    U

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    7/9

    onde ocorrem as transformaç*es !ue acompanham

    todo o ser humano desde o seu nascimento até sua

    morte. A 4igura nos permite visuali$ar estas

    interconex*es.

    4igura % As caracter+sticas biopsicossociais dosseres humanos mudam ao longo do tempoevolutivo# histórico e pessoal de modos diferentes para homens e mulheres.

    Samos nos deter um pouco na analise da

    figura acima. 1ela# as dimens*es da feminilidade

    aparecem interconectadas entre si e o mesmo

    ocorre com os n+veis de desenvolvimento. L

    vimos !ue !ual!uer privilégio causal para uma

    das dimens*es nos leva aos braços do

    reducionismo cujo produto final é uma imagem

    incompleta e distorcida do ser mulher. O mesmo

    ocorre com os n+veis de desenvolvimento% eles

    não podem ser desconectados um dos outros# pois

    existem simultaneamente como processos !ue

    ocorrem com todos os seres humanos. Entretanto#

    as transformaç*es !ue ocorrem nos n+veis de

    desenvolvimento obedecem a uma lógica

    temporal completamente diferente das !ue

    ocorrem com as dimens*es da feminilidade.

    Nransformaç*es filogenéticas significativas

     podem levar de$enas ou centenas de milhares de

    anos para ocorrerem# transformaç*es

    sociogenéticas podem não acontecer ou durar

    acontecendo por de$enas ou centenas de anos e

    transformaç*es ontogenéticas podem ocorrem em

    meses ou anos na dimensão social e certamente

    ocorrem diariamente nas dimens*es biológica e

     psicológica de homens e mulheres. Gsto significa

    !ue !uando olhamos para as dimens*es !ue

     positivam a feminilidade o !ue vemos são

    mudanças ocorrendo de forma diferenciada nas

    dimens*es biológicas# psicológicas e sociais.

    En!uanto !ue o corpo# a mente e as emoç*es das

    mulheres estão em permanente transformação as

    condiç*es sociais de sua existência podem

     permanecer as mesmas durante toda a sua vida.

    Ora# como todo esse processo de mudança é

    mediado por modelos patriarcais# ou seja# por

    instituiç*es sociais conservadoras# as distintas

    formas de viver sua corporeidade# sua

    racionalidade e sua afetividade estarão em tensão#

    mas circunscritas# aos limites impostos pela

    hegemonia destes modelos.

    3odemos concluir então# !ue# se com

    relação )s dimens*es !ual!uer ênfase nos retira do

    campo do materialismo dialético# ou seja# seres

    humanos são# em !ual!uer circunst7ncia# seres

     biopsicossociais e conse!uentemente devem ser

    sempre compreendidos e estudados desta forma# o

    mesmo não se pode di$er !uanto aos seus n+veis

    de desenvolvimento. 1este caso# existe uma

     prioridade !uando se trata de identificar o alcance

    das transformaç*es# pois !uando ocorrem apenas

    no n+vel ontogenético elas não atingem os

    modelos patriarcais# fenmenos sociais !ue possuem uma din7mica transformadora de longa

    duração devido a sua institucionali$ação e

     persistência como tradição e# principalmente# pelo

    lugar !ue estes modelos ocupam na produção#

    reprodução e controle da ordem econmica

    vigente.

    A figura também nos mostra !ue cada

    uma das dimens*es est sujeita a transformaç*esem todos os n+veis de desenvolvimento. 'evemos

    investigar como o corpo feminino se modificou#

    >

     Dimensões da Feminilidade

    Bioló ica Social Psicoló ica

    Filog%nese

    Sociogenese

    &ntog%nese

     Níveis de

     Desenvolvimento

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    8/9

    diferentemente e em interação com o masculino#

    ao longo da escala evolutiva# !ue pontos cruciais

    dessa escala marcam as transformaç*es

    !ualitativas !ue fi$eram homens e mulheres terem

    a estrutura e as propriedades biológicas !ue

     possuem atualmente. 'evemos também investigar

    como ao longo da história social da humanidade

    mulheres e homens foram vivendo de maneira

    !ualitativamente nova sua existência corporal# os

    diferentes usos !ue os corpos femininos e

    masculinos tiveram ao longo do tempo histórico.

    'a mesma forma# deve se olhar com particular

    atenção para as transformaç*es !ue nossos corpos

     passam ao longo de nossa curta existência pessoal

    e como vivemos estas mudanças na condição de

    mulheres e homens. 3odemos e devemos fa$er o

    mesmo com a dimensão psicológica e enri!uecer

    enormemente a investigação e a consciência

    marxista sobre a condição da mulher.

    ,omo j afirmamos anteriormente# todas

    estas transformaç*es ocorrem sob a mediação dos

    modelos de sociali$ação e ação patriarcais e#

     portanto# o conhecimento sobre a feminilidade#

     parte fundamental da emancipação feminina# seria

    tosco e frgil se não investigasse a fundo como os

    modelos patriarcais surgiram e se desenvolveram

    ao longo da escala evolutiva# se existiram ou não

    fenmenos evolutivos !ue facilitaram a imposição

    destes modelos. Além disso# é igualmenteestratégico# compreender como tais modelos se

    sustentaram ao longo da história humana# como os

    diferentes modos de vida e produção se apoiaram

    neles e os desenvolveram e# finalmente# como tais

    modelos são objetivados e subjetivados nas

    experiências das mulheres e dos homens

    existentes ao longo de suas trajetórias pessoais de

    vida.3ara completarmos esse enorme painel

    sobre a complexidade da feminilidade ter+amos

    !ue investigar como# em cada um dos n+veis de

    desenvolvimento# mudanças !ualitativas nas três

    dimens*es foram construindo a unidade e as

    diferenças dentro da espécie humana# de suas

    sociedades e entre as pessoas !ue as comp*em.

    ,om este painel tentamos responder# de

    um ponto de vista materialista e dialético# o !ue é

    ser mulher. A resposta !ue encontramos foi a de

    !ue a mulher vive sua condição de existência

    feminina em m2ltiplas dimens*es e n+veis de

    desenvolvimento# interconectados através da

    mediação de sua negatividade na forma de

    modelos patriarcais de sociali$ação e ação

    resultando numa condição histórica de dominação

    masculina sobre as mulheres e alienação de ambos

    os membros da espécie# de longa duração# !ue

    retroage sobre os modelos patriarcais#

    institucionali$ando&os e enrai$ando&os na tradição

    existente.

    3ara responder a pergunta o que é ser

    mulher? tivemos necessariamente !ue responder a

    segunda !uestão !ue formulamos no inicio do

    texto% como se conhece a mulher 9 Em primeiro

    lugar# as afirmaç*es ontológicas devem ser

    convertidas em princ+pios orientadores !ue

    descrevem o ser e sua din7mica relacional

    m+nima# a!uela !ue garante a objetividade e a

    efetividade do fenmeno !ue se !uer estudar. A

    din7mica relacional m+nima é uma tr+ade dialéticaentre o objeto como totalidade# sua negatividade e

    sua positividade em !ue o negativo media a

    relação da totalidade com sua expressão positiva.

    Em segundo lugar# as dimens*es e os n+veis de

    desenvolvimento ontológicos devem ser postos

    em relação e exploradas todas as possibilidades

    combinatórias entre eles. ,ontudo# os princ+pios

    epistemológicos e as referencias metodológicas!ue apresentamos até agora não se referiram ainda

    )s causas e mecanismos responsveis pelas

    ?

  • 8/19/2019 feminismo emancipatorio

    9/9

    transformaç*es e conservaç*es !ue dão forma

    concreta ) feminilidade ao longo do tempo.

    Vual o papel das classes sociais e do seu

    modo de vida na determinação da feminilidade9

    ,omo explicar !ue as relaç*es de produção a

    determinam em 2ltima inst7ncia9 ,omo as outras

    determinaç*es se articulam com a determinação

    econmica9 Vue estrutura conceitual e categórica

     pode ser proposta para fa$er avançar o

    conhecimento e a emancipação feminina9 Vue

    tipo de sociedade pode de fato extirpar a

    dominação masculina e minimi$ar a alienação9

    Vue modo de vida poder abrigar mulheres e

    homens emancipados9 Este conjunto de !uest*es

    serão tratadas no próximo artigo.

    Refer%ncias Bi!liogr'ficas#

    5. (arx# K. /:;;?0. O (étodo da Economia3ol+tica. Os 3ensadores# Ed. Abril ,ultural#Bão 3aulo.

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    /5=?. Kuhn# N. /5=?>0 A estrutura das revoluç*escientificas. Editora 3erspectiva# Bão 3aulo.

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    =