feminismo emancipatorio
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8/19/2019 feminismo emancipatorio
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Pequena Contribuição MetodológicaAo Feminismo Emancipacionista
Milton B. de Almeida Filho
O objetivo deste trabalho é discutir as
bases filosóficas do feminismo emancipacionista.
Entendemos como base filosófica um conjunto de perguntas e respostas cruciais sobre a condição de
existência da mulher. As perguntas são
relativamente fceis de serem feitas mesmo !ue
sejam embaraçosas" j as respostas estão
necessariamente em construção# pois fa$em parte
do próprio processo de emancipação da mulher
!ue é inexoravelmente coletivo. As perguntas são%
O que é ser Mulher? Como é possível conhecer a
Mulher? Que modo de vida propõem as
Mulheres?
A primeira pergunta# de carter
ontológico# demandar respostas da segunda#
afinal# só podemos saber o !ue ser mulher se
encontrarmos um modo ade!uado de conhecê&las.
A terceira pergunta depender de !ue mulher
estamos falando# a !ual classe social ela se
vincula# !ue interesses ela defende.
'urante um tempo demasiadamente longo
e enfadonho a filosofia e a ciência# com seus mais
ilustres e melhores representantes#
des!ualificaram a mulher tornando&a uma
obviedade desinteressante para a investigação
racional. (ais do !ue isso# a apropriação privada
pré&capitalista e capitalista !ue inicialmente
aprisionou&as ) vida doméstica impedindo&nas de
desenvolver uma visão ampla da sua existência e
de suas possibilidades en!uanto ser humano# hoje
as objetifica e mercantili$a# fa$ do corpo feminino
um meio de acesso ) vida publica para eterni$&la
como objeto de desejo dos machos# velhos e
novos. A situação de silencio# obscuridade e banalidade na !ual foram colocadas as mulheres
imp*e como desafio pol+tico estratégico a tarefa
de tra$er ) lu$ suas vo$es# suas mentes# sua
condição humana.
Estamos convencidos de !ue o processo
de conhecimento sobre as mulheres é parte
indispensvel do processo de libertação de
mulheres e homens do jugo do capital.
,omeçamos então por antecipar um conceito !ue
ficar mais claro e preciso apenas ao final do
trabalho# mas !ue orientar as nossas
investigaç*es desde o inicio. - pergunta “o que é
ser mulher” responderemos !ue# em principio# ser
mulher é existir na condição eminina !ue ser
denominada de feminilidade.
!eminilidade ou Condição !eminina de
"xist#ncia é o modo de viver próprio das
mulheres ou o conjunto das condiç*es
socioeconmicas# ambientais e corporais
/condições materiais de vida0# hbitos# rotinas e
tradiç*es /estilo de vida0# conceitos# princ+pios e
valores /concepção de vida0 !ue formam o modo
de vida das mulheres.
1a historia concreta da espécie humana# a
condição feminina se expressa positivamente em
diferentes dimens*es de existência. Essas
dimens*es são as mesmas nas !uais se reali$am a
condição humana em geral e# portanto# são validas
para homens e mulheres. Elas re2nem um
conjunto diverso de propriedades# atributos e
processos denominados de s$cio%culturais& psicol$'icos e (iol$'icos. 3or sua ve$# os aspectos
culturais# psicológicos e biológicos !ue
caracteri$am a condição feminina são gerados
através da mediação com seu oposto imediato e
negativo# a masculinidade# como mostra a 4igura
5.
6omens e mulheres# mesmo sendo tão
diferentes como são# formam uma unidadedin7mica indissol2vel responsvel pela
sobrevivência e desenvolvimento da espécie
5
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humana. Essa unidade é din7mica por!ue homens
e mulheres são# simultaneamente# opostos !ue se
distinguem um do outro por possu+rem diferentes
propriedades e atributos constru+dos numa história
biológica# psicológica e social# e são
complementares# j !ue a história a !ue acabamos
de nos referir é compartilhada durante todo o
processo evolutivo da espécie# o !ue viabili$a# a
interpenetração sistemtica e a conse!8ente
modificação m2tua entre o conjunto das
caracter+sticas biopsicossociais !ue identificam
homens e mulheres.
4igura 5% A menor unidade de analise da4eminilidade é uma tr+ade dialética complexa.
3ara continuar o racioc+nio tomemos a
feminilidade como um ente real e concreto e não
apenas como um conceito. A ontologia dialética
demonstra !ue todos os entes existentes no
universo estão direta ou indiretamente
interconectados uns com os outros. Ora# se todos
os fenmenos são determinados por sua conexão
universal como investig&los sem conhecer atotalidade9 3ara responder a esta !uestão é
necessrio dedu$ir da proposição ontológica
acima suas implicaç*es epistemológicas. Afirmar
a conexão universal implica di$er também !ue
todos os fenmenos são multideterminados e !ue
é imposs+vel se aproximar da verdade dos fatos
isolando&os uns dos outros. Além disso# é
necessrio identificar a conexão m+nima# !uetorna um ser existente na rede da conexão
universal pass+vel de ser conhecido. ,omo
afirmaram (arx /:;;?0 e @enin /5=>#
5=?=0 a objetividade de !ual!uer ente é garantida
!uando# simultaneamente# esse ente toma para si#
como seu objeto# a sua própria negatividade e# por
outro lado# é tomado como objeto por outro/s0
ente/s0# cuja existência lhe é independente. Bó
dessa forma é poss+vel Creter no positivo a
negatividadeD e com isso revelar a essência
objetiva do fenmeno !ue se !uer compreender. A
aplicação deste princ+pio metodológico permite
explicitar a menor unidade de analise !ue pode se
propor para compreender a feminilidade. Ela
contém necessariamente três componentes !ue
interagem dialeticamente% O Ber 4eminino /50
uma totalidade !ue se expressa positivamente
nas dimens*es biopsicossociais /:0 pela mediação
do seu negativo# o Ber (asculino /F0. 1este
sentido# não se pode entender cientificamente a
complexidade da condição feminina e masculina
simplesmente separando&os como dois opostos
nem subsumindo um ao outro# como
tradicionalmente é feito ao se tomar como modelo
para a compreensão do !ue é ser mulher a
condição de existência dos homens ou vice&versa.
1o paradigma cientifico dominante#
entretanto# as teorias explicam a condição
feminina redu$indo&a a um das dimens*es de
existência da feminilidade. Gsso acontece por!ue a
identificação dos determinantes !ue explicam afeminilidade é feita com base em regras de
simplificação e redução !ue resultam na perda ou
no escamoteamento da complexidade e# portanto#
da multideterminação dos objetos# caracter+stica
ontológica dos fenmenos humanos. A 4igura :
mostra graficamente como funcionam a maioria
dos estudos sobre a condição feminina no interior
do paradigma cientifico reducionista e anti&dialético dominante. 1eles# a feminilidade é
explicada por fatores isolados ou agrupados
:
Dimensões da
feminilidadeFeminilidade
Masculinidade
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dentro de uma mesma e 2nica dimensão.
En!uadram&se nesta classificação todas as
explicaç*es exclusiva ou preponderantemente
biológicas !ue enfati$am as funç*es reprodutivas
femininas ou as diferenças genéticas entre homens
e mulheres" as explicaç*es !ue privilegiam os
fatores psicológicos e a experiência vivida" ou
ainda# as explicaç*es mais modernas ou pós&
modernas# !ue compreendem a feminilidade como
um fenmeno essencialmente cultural
determinado pelas diferentes maneiras pelas !uais
o meio social e os valores culturais formatam#
modelam ou produ$em os diferentes significados
de ser homem e mulher.
4igura :% Hedução da condição feminina a suasdimens*es de existência.
Atualmente# as explicaç*es biologicistas
estão provisoriamente em minoria pelo menos nos
c+rculos feministas e progressistas. ,ontudo# est
bem viva na sociobiologia e psicologia
evolucionista norte&americana cujas tentativas de
estender a lógica do darIinismo a todos os
terrenos da existência humana são amplamente
respaldados por setores pol+ticos e econmicos
conservadores e neoliberais /@eIontin# H. ,."
Hose# B. J Kamin# @. L. 5=?0% trabalham
rigorosamente dentro de um paradigma tradicional
e produ$em vasta informação sobre aspectos
parciais do fenmeno investigado. Apesar destas
limitaç*es os estudos descritivos e comparativos
reducionistas ajudam a tornar mais vis+vel aopressão da mulher e produ$em informação 2til
para pol+ticas publicas# ainda !ue parciais. 4a$em
parte das con!uistas democrticas da luta das
mulheres por sua emancipação.
Entre os setores !ue contestam a forma
dominante /e patriarcal0 de se produ$ir
conhecimento cient+fico estão as feministas !ue
estruturam suas investigaç*es em torno dacategoria '#nero) 'iferentemente do
reducionismo tradicional os estudos de gênero
F
Redu ão aos Determinantes
Sócio/Cultural
Psicoló ico
Bioló ico
Feminilidade
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procuram compreender a condição feminina em
sua intima conexão com o seu negativo# a
condição masculina# enfati$ando as relaç*es de
dominação e exploração patriarcais e dão maior
atenção ) produção teórica e metodológica e a
criação de modelos explicativos mais abrangentes.
nesta rea também !ue se encontram os setores
!ue atacam o feminismo marxista a partir de uma
posição ) es!uerda.
Norna&se cada ve$ mais evidente#
entretanto# as limitaç*es desta abordagem. 'e um
lado# o dialogo entre o masculino e o feminino
!uase nunca segue um procedimento dialético#
pois a relação é concebida fundamentalmente
como oposição sem complementaridade# seja
por!ue se eliminam as dimens*es onde existem
complementaridades /e até semelhanças0 mais
evidentes# a biológica e a psicológica# sejam
por!ue o uso de regras simplificadoras e
reducionistas indu$em a investigação para o
território das comparaç*es entre a condição
feminina e masculina caindo nas limitaç*es dos
estudos descritivos. O uso de referencias
metodológicas reducionistas resultaram também
numa identificação das propriedades e atributos da
condição de gênero a significados socialmente
produ$idos. 3or esse principio se apreenderia a
totalidade da condição de gênero investigando
apenas o aspecto simbólico da dimensão sócio&cultural. ,onfigura&se assim# a mais importante
limitação metodológica dos estudos de gênero !ue
é a redução da feminilidade a determinantes
sociais e a redução do social ao aspecto simbólico.5 A 4igura F mostra como os estudos de gênero ao
fa$erem a critica do marxismo se afastam de uma
descrição dialética dos elementos !ue constituem
a condição feminina de existência.
5 3ara um estudo mais abrangente e critico sobre oconceito de gênero# ver Hevista ,ritica (arxista nP55.
4igura F% 1os estudos de gêneros o aspectosimbólico da dimensão cultural determina afeminilidade e a masculinidade e as diferentes posiç*es de poder !ue ocupam na sociedade.
A ênfase nas relaç*es de poder como
expressão 2nica ou principal das complexas
relaç*es entre homens e mulheres# entremasculinidade e feminilidade encobre um outro
aspecto fundamental% a alienação !ue atinge os
dois pólos da contradição. 'ominantes e
dominados são seres alienados de si mesmos# de
suas potencialidades e !ualidades humanas.
'e um ponto de vista materialista e
dialético a interpenetração entre o masculino e o
feminino não resulta apenas ou principalmente emrelaç*es de poder e dominação# histórica e
socialmente constru+das# mas num modo de ser e
viver# um modo de vida !ue separa e une homens
e mulheres. Gsto significa !ue as mulheres vivem e
expressam sua condição biopsicossocial por meio
das formas históricas concretas da dominação
masculina# os modelos patriarcais. Nais modelos
se impuseram ao longo da história evolutiva#social e pessoal das mulheres por meio da
violência f+sica e psicológica# mas também através
da adesão de uma parcela das mulheres a estes
modelos.
O modo como as mulheres vivem o seu
próprio corpo# sua sexualidade ou maternidade# a
maneira como se comportam e pensam o trabalho#
a escola# a fam+lia# o la$er# os papeis e funç*es
sociais !ue desejam e se preparam para exercer
são concreti$ados através de modelos e de normas
<
DominaçãoMasculina
Dimensão
Sócio/CulturalAsecto
Sim!ólico
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sociais !ue visam a manutenção da ordem social
vigente# na !ual os homens não só exercem o
poder econmico# pol+tico e ideológico mas o
fa$em em nome de valores e regras sociais !ue
preservam as diferenças e a dominação masculina
e para as !uais se monta um enorme aparato
institucional com vistas ao controle da sua
produção e reprodução. 1este sentido os modelos
patriarcais dominam todas as instituiç*es
responsveis pela sociali$ação das sucessivas
geraç*es de mulheres e homens nas sociedades
divididas em classes. (etodologicamente# o !ue
significam estes pressupostos# ou como podemos
usar estes princ+pios para compreender e revelar a
condição feminina en!uanto conhecimento e luta
social9
Ora# se um ente concreti$a sua
positividade por meio da sua negatividade# o seu
ser concreto e historicamente observvel# o ser
realmente vivido# est alienado de si mesmo e de
sua potencia humana e a 2nica maneira de redu$ir
ao m+nimo esta alienação é diminuir a distancia
com seu negativo. Este racioc+nio é igualmente
valido para o pólo masculino !ue na condição de
dominador concreti$a sua positividade através de
uma negatividade encoberta e mutilada pela
própria dominação !ue exerce. Assim# a
feminilidade através da !ual se expressa as
caracter+sticas biopsicossociais dos homens é umaespécie de imagem falsa por!ue encobriu o
potencial humano da mulher# mas é também uma
auto&imagem incompleta e distorcida por!ue o
feminino com !ual ele se relaciona é uma
projeção de sua própria imagem ideali$ada. Esta é
a forma concreta pela !ual se alienam homens e
mulheres nas sociedades dominadas por modelos
patriarcais de produção# reprodução e controlesocial. Os modelos patriarcais não contêm apenas
uma imagem limitada e dominadora do homem#
mas também uma projeção distorcida do ser
mulher e é através deles !ue homens e mulheres
são sociali$ados e posto em ação na sociedade de
classes. A 4igura < ilustra o !ue estamos
descrevendo.
4igura
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investigadores adotam. 'o ponto de vista marxista
vimos !ue uma resposta clara a esta !uestão busca
manter a complexidade dialética e a materialidade
histórica do fenmeno. Entretanto a resposta !ue
demos ate agora é parcial# pois só destacou as
interpenetraç*es dialéticas entre o masculino e o
feminino e como estas relaç*es são geradoras de
dominação e alienação. Os resultados a !ue
chegamos até o momento nos permite cumprir o
preceito metodológico marxista&leninista !ue
afirma !ue o primeiro passo na demarcação clara
de um objeto de estudo é explicitar como a
negatividade de mantêm como parte intr+nseca e
fundamental de !ual!uer fenmeno. Simos#
portanto apenas a din7mica relacional do feminino
com seu negativo e acentuamos !ue as
propriedades e atributos biopsicossociais !ue
caracteri$am as mulheres são reali$ados na
história concreta pela mediação dos modelos
patriarcais. (as as caracter+sticas biopsicossociais
das mulheres mudam ao longo do tempo.
3ortanto# do ponto de vista metodológico é
necessrio agora olhar para o outro par relacional
do ente feminino# a sua própria potencia humana
expressa num complexo de competências
biológicas# sociais e psicológicas. Gnsistimos !ue
não apresentaremos teorias sobre estas !uest*es e
sim princ+pios ontológicos e indicaç*es
metodológicas e epistemológicas sobre a condiçãofeminina a partir do materialismo dialético.
As transformaç*es biopsicossociais
femininas ocorreram antes da existência dos
modelos patriarcais de sociali$ação e ação e
existirão depois !ue eles tiverem sido superados
pela luta revolucionria e soterrados pela história.
Elas têm# portanto# precedência e transcendência
frente a !ual!uer modo de dominação masculinaou alienação da espécie humana.
Tma leitura metodológica da obra de
(arx nos ajuda a encontrar uma sa+da para esta
!uestão. ,omo sabemos todos os fenmenos
humanos possuem três caracter+sticas
indissociveis% 50 Bão# essencialmente# relaç*es
sociais# :0 Nem a sua gênese e desenvolvimento ao
longo de um tempo biológico# histórico e pessoal
irrevers+veis e F0 Bão determinados em ultima
instancia pela produção e reprodução da vida
material. ,ada um destes pressupostos
ontológicos tra$em consigo implicaç*es
metodológicas !ue serão desenvolvidas a seguir.
O pressuposto 5 j foi parcialmente
desenvolvido !uanto a suas implicaç*es
metodológicas !uando exploramos a feminilidade
como o produto de uma relação dialética com o
masculino !ue se concreti$a historicamente pela
mediação dos modelos patriarcais. Este
pressuposto ser retomado mais adiante !uando
formos desenvolver as conse!8ências
epistemológicas do item F. 3or en!uanto vamos
tirar as conse!8ências lógicas da afirmação de !ue
todo fenmeno humano ocorre em três n+veis
distintos de desenvolvimento ou passa por
transformaç*es !ue ocorrem simultaneamente em
três aspectos diferentes e interconectados da vida
humana# !ual sejam% o n+vel de desenvolvimento
filogenético ou ilo'#nese onde ocorrem as
transformaç*es de ordem evolutiva# particularmente o surgimento do trabalho e da
linguagem# !ue envolvem diferenciadamente toda
a espécie humana e !ue podem ser observadas em
unidades temporais !ue medem milhares de anos"
o n+vel de desenvolvimento sóciogénetico ou
socio'enese onde ocorrem as transformaç*es
históricas !ue produ$em sucessivos e distintos
modos de produção e de vida e separam os sereshumanos em classes# gêneros# etnias# etc." o n+vel
de desenvolvimento ontogenético ou onto'#nese&
U
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onde ocorrem as transformaç*es !ue acompanham
todo o ser humano desde o seu nascimento até sua
morte. A 4igura nos permite visuali$ar estas
interconex*es.
4igura % As caracter+sticas biopsicossociais dosseres humanos mudam ao longo do tempoevolutivo# histórico e pessoal de modos diferentes para homens e mulheres.
Samos nos deter um pouco na analise da
figura acima. 1ela# as dimens*es da feminilidade
aparecem interconectadas entre si e o mesmo
ocorre com os n+veis de desenvolvimento. L
vimos !ue !ual!uer privilégio causal para uma
das dimens*es nos leva aos braços do
reducionismo cujo produto final é uma imagem
incompleta e distorcida do ser mulher. O mesmo
ocorre com os n+veis de desenvolvimento% eles
não podem ser desconectados um dos outros# pois
existem simultaneamente como processos !ue
ocorrem com todos os seres humanos. Entretanto#
as transformaç*es !ue ocorrem nos n+veis de
desenvolvimento obedecem a uma lógica
temporal completamente diferente das !ue
ocorrem com as dimens*es da feminilidade.
Nransformaç*es filogenéticas significativas
podem levar de$enas ou centenas de milhares de
anos para ocorrerem# transformaç*es
sociogenéticas podem não acontecer ou durar
acontecendo por de$enas ou centenas de anos e
transformaç*es ontogenéticas podem ocorrem em
meses ou anos na dimensão social e certamente
ocorrem diariamente nas dimens*es biológica e
psicológica de homens e mulheres. Gsto significa
!ue !uando olhamos para as dimens*es !ue
positivam a feminilidade o !ue vemos são
mudanças ocorrendo de forma diferenciada nas
dimens*es biológicas# psicológicas e sociais.
En!uanto !ue o corpo# a mente e as emoç*es das
mulheres estão em permanente transformação as
condiç*es sociais de sua existência podem
permanecer as mesmas durante toda a sua vida.
Ora# como todo esse processo de mudança é
mediado por modelos patriarcais# ou seja# por
instituiç*es sociais conservadoras# as distintas
formas de viver sua corporeidade# sua
racionalidade e sua afetividade estarão em tensão#
mas circunscritas# aos limites impostos pela
hegemonia destes modelos.
3odemos concluir então# !ue# se com
relação )s dimens*es !ual!uer ênfase nos retira do
campo do materialismo dialético# ou seja# seres
humanos são# em !ual!uer circunst7ncia# seres
biopsicossociais e conse!uentemente devem ser
sempre compreendidos e estudados desta forma# o
mesmo não se pode di$er !uanto aos seus n+veis
de desenvolvimento. 1este caso# existe uma
prioridade !uando se trata de identificar o alcance
das transformaç*es# pois !uando ocorrem apenas
no n+vel ontogenético elas não atingem os
modelos patriarcais# fenmenos sociais !ue possuem uma din7mica transformadora de longa
duração devido a sua institucionali$ação e
persistência como tradição e# principalmente# pelo
lugar !ue estes modelos ocupam na produção#
reprodução e controle da ordem econmica
vigente.
A figura também nos mostra !ue cada
uma das dimens*es est sujeita a transformaç*esem todos os n+veis de desenvolvimento. 'evemos
investigar como o corpo feminino se modificou#
>
Dimensões da Feminilidade
Bioló ica Social Psicoló ica
Filog%nese
Sociogenese
&ntog%nese
Níveis de
Desenvolvimento
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diferentemente e em interação com o masculino#
ao longo da escala evolutiva# !ue pontos cruciais
dessa escala marcam as transformaç*es
!ualitativas !ue fi$eram homens e mulheres terem
a estrutura e as propriedades biológicas !ue
possuem atualmente. 'evemos também investigar
como ao longo da história social da humanidade
mulheres e homens foram vivendo de maneira
!ualitativamente nova sua existência corporal# os
diferentes usos !ue os corpos femininos e
masculinos tiveram ao longo do tempo histórico.
'a mesma forma# deve se olhar com particular
atenção para as transformaç*es !ue nossos corpos
passam ao longo de nossa curta existência pessoal
e como vivemos estas mudanças na condição de
mulheres e homens. 3odemos e devemos fa$er o
mesmo com a dimensão psicológica e enri!uecer
enormemente a investigação e a consciência
marxista sobre a condição da mulher.
,omo j afirmamos anteriormente# todas
estas transformaç*es ocorrem sob a mediação dos
modelos de sociali$ação e ação patriarcais e#
portanto# o conhecimento sobre a feminilidade#
parte fundamental da emancipação feminina# seria
tosco e frgil se não investigasse a fundo como os
modelos patriarcais surgiram e se desenvolveram
ao longo da escala evolutiva# se existiram ou não
fenmenos evolutivos !ue facilitaram a imposição
destes modelos. Além disso# é igualmenteestratégico# compreender como tais modelos se
sustentaram ao longo da história humana# como os
diferentes modos de vida e produção se apoiaram
neles e os desenvolveram e# finalmente# como tais
modelos são objetivados e subjetivados nas
experiências das mulheres e dos homens
existentes ao longo de suas trajetórias pessoais de
vida.3ara completarmos esse enorme painel
sobre a complexidade da feminilidade ter+amos
!ue investigar como# em cada um dos n+veis de
desenvolvimento# mudanças !ualitativas nas três
dimens*es foram construindo a unidade e as
diferenças dentro da espécie humana# de suas
sociedades e entre as pessoas !ue as comp*em.
,om este painel tentamos responder# de
um ponto de vista materialista e dialético# o !ue é
ser mulher. A resposta !ue encontramos foi a de
!ue a mulher vive sua condição de existência
feminina em m2ltiplas dimens*es e n+veis de
desenvolvimento# interconectados através da
mediação de sua negatividade na forma de
modelos patriarcais de sociali$ação e ação
resultando numa condição histórica de dominação
masculina sobre as mulheres e alienação de ambos
os membros da espécie# de longa duração# !ue
retroage sobre os modelos patriarcais#
institucionali$ando&os e enrai$ando&os na tradição
existente.
3ara responder a pergunta o que é ser
mulher? tivemos necessariamente !ue responder a
segunda !uestão !ue formulamos no inicio do
texto% como se conhece a mulher 9 Em primeiro
lugar# as afirmaç*es ontológicas devem ser
convertidas em princ+pios orientadores !ue
descrevem o ser e sua din7mica relacional
m+nima# a!uela !ue garante a objetividade e a
efetividade do fenmeno !ue se !uer estudar. A
din7mica relacional m+nima é uma tr+ade dialéticaentre o objeto como totalidade# sua negatividade e
sua positividade em !ue o negativo media a
relação da totalidade com sua expressão positiva.
Em segundo lugar# as dimens*es e os n+veis de
desenvolvimento ontológicos devem ser postos
em relação e exploradas todas as possibilidades
combinatórias entre eles. ,ontudo# os princ+pios
epistemológicos e as referencias metodológicas!ue apresentamos até agora não se referiram ainda
)s causas e mecanismos responsveis pelas
?
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transformaç*es e conservaç*es !ue dão forma
concreta ) feminilidade ao longo do tempo.
Vual o papel das classes sociais e do seu
modo de vida na determinação da feminilidade9
,omo explicar !ue as relaç*es de produção a
determinam em 2ltima inst7ncia9 ,omo as outras
determinaç*es se articulam com a determinação
econmica9 Vue estrutura conceitual e categórica
pode ser proposta para fa$er avançar o
conhecimento e a emancipação feminina9 Vue
tipo de sociedade pode de fato extirpar a
dominação masculina e minimi$ar a alienação9
Vue modo de vida poder abrigar mulheres e
homens emancipados9 Este conjunto de !uest*es
serão tratadas no próximo artigo.
Refer%ncias Bi!liogr'ficas#
5. (arx# K. /:;;?0. O (étodo da Economia3ol+tica. Os 3ensadores# Ed. Abril ,ultural#Bão 3aulo.
F. @enin# S G. /5=?=0 ,adernos 4ilosóficos.Ediç*es Avante# @isboa# pgs% 5==&:;F
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?. 'ossiê (arxismo e 4eminismo /:;;;0.Hevista ,ritica (arxista. 1P55. Bão 3aulo
=