v15n02 indicadores de sustentabilidade para a energia eletrica no estado do para

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119 Revista Brasileira de Energia, Vol. 15, N o . 2, 2 o  Sem. 2009, pp. 119-151 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE PARA A ENERGIA ELÉTRICA NO ESTADO DO PARÁ Fabricio Quadros Borges 1 RESUMO Este artigo detém o propósito de formular indicadores de sustentabilidade para a energia elétrica no intuito de orientar as estratégias das políticas de investimento no setor elétrico paraense. A construção de indicadores de sustentabilidade energética no Estado do Pará foi subsidiada neste artigo a partir de uma metodologia de análise multivariad a que procurou identi- car variáveis com correlações lineares. Os indicadores foram estruturados a partir dos setores de atividade: agropecuário, industrial, comercial e resi- dencial, de modo a considerar as dimensões de análise: econômica, social, ambiental e política, em cada um destes setores. O estudo verica que a observância de elementos locacionais identicados setorialmente pelas correlações lineares reúne maiores condições de percepção das particu- laridades econômicas, sociais e ambientais do Estado paraense e permite orientar estrategicamente o processo decisório no setor elétrico. Palavras-chave: Indicadores. Sustentabilidade. Energia Elétrica. Estado do Pará. ABSTRACT This article has the purpose of formulating indicators for sustainable energy in order to guide the strategies of investment policies in the electricity sec- tor Para. The construction of indicators of sustainable energy in the state of Pará was subsidized in this article from a methodology of analysis that sou- ght to identify variables with linear correlations. The indicators are structu- 1 Pós-Doutorando pelo IPEN/USP. Doutor em Desenvolvimento Socioambiental e Mestre em Planeja- mento do Desenvolvimento pela UFPa. Administrador de Empresas e Economista pela Unama - Univer- sidade da Amazônia. Professor do Quadro Permanente do CEFET/Pa, Professor Titular e Pesquisador da Unama - Universidade da Amazônia, da FAP - Faculdade do Pará.

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  • 119Revista Brasileira de Energia, Vol. 15, No. 2, 2o Sem. 2009, pp. 119-151

    INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE PARA A ENERGIA ELTRICA NO ESTADO DO PAR

    Fabricio Quadros Borges1

    RESUMO

    Este artigo detm o propsito de formular indicadores de sustentabilidade para a energia eltrica no intuito de orientar as estratgias das polticas de investimento no setor eltrico paraense. A construo de indicadores de sustentabilidade energtica no Estado do Par foi subsidiada neste artigo a partir de uma metodologia de anlise multivariada que procurou identi-ficar variveis com correlaes lineares. Os indicadores foram estruturados a partir dos setores de atividade: agropecurio, industrial, comercial e resi-dencial, de modo a considerar as dimenses de anlise: econmica, social, ambiental e poltica, em cada um destes setores. O estudo verifica que a observncia de elementos locacionais identificados setorialmente pelas correlaes lineares rene maiores condies de percepo das particu-laridades econmicas, sociais e ambientais do Estado paraense e permite orientar estrategicamente o processo decisrio no setor eltrico.

    Palavras-chave: Indicadores. Sustentabilidade. Energia Eltrica. Estado do Par.

    ABSTRACT

    This article has the purpose of formulating indicators for sustainable energy in order to guide the strategies of investment policies in the electricity sec-tor Para. The construction of indicators of sustainable energy in the state of Par was subsidized in this article from a methodology of analysis that sou-ght to identify variables with linear correlations. The indicators are structu-

    1 Ps-Doutorando pelo IPEN/USP. Doutor em Desenvolvimento Socioambiental e Mestre em Planeja-mento do Desenvolvimento pela UFPa. Administrador de Empresas e Economista pela Unama - Univer-sidade da Amaznia. Professor do Quadro Permanente do CEFET/Pa, Professor Titular e Pesquisador da Unama - Universidade da Amaznia, da FAP - Faculdade do Par.

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    red according to the sectors of activity: agricultural, industrial, commercial and residential, in order to consider the dimensions of analysis: economic, social, and environmental policy in each sector. The study finds that com-pliance with locational factors identified by linear correlation subsector brings together most efficient perception of the particular economic, social and environmental state of Para and to guide strategic decision-making in the electricity sector.

    Keywords: Indicators. Sustainability. Electricity. Par State

    1. INTRODUO

    A discusso sobre as relaes entre energia eltrica e desenvolvi-mento socioeconmico vem sendo promovida por vrios organismos na-cionais e internacionais. Nesta perspectiva, verifica-se que a formulao de polticas pblicas para o setor eltrico como uma das bases impulsoras do desenvolvimento socioeconmico depende da construo de indicadores baseados em dados empricos e objetivos.

    Os indicadores podem atribuir ordens de grandeza ao estado de sus-tentabilidade do setor eltrico a partir de cada setor da economia, de forma a orientar o processo decisrio. Os setores da economia apresentam diferentes demandas de eletricidade, potencial de gerao de empregos, valores agrega-dos, necessidades de investimentos, nveis de eficincia, entre outros elemen-tos que atuam diante de caractersticas especificas. Neste sentido, possvel compreender, por meio de indicadores, como o cenrio de crescimento dos investimentos no setor de energia eltrica poderia ser considerado um fator determinante para o desenvolvimento socioeconmico paraense. O setor el-trico do Par ser revisto a partir de uma abordagem que envolva dimenses econmicas, sociais, ambientais e polticas por meio dos setores da economia do Estado e que possua a capacidade de mensurar relaes de sustentabilida-de, de modo a fornecer referncias ao processo de tomada de deciso.

    Na maior parte dos modelos de construo de ndices e indicado-res de sustentabilidade energtica, vrios autores destacam que ainda no foi considerada uma representao da evoluo energtica que possibili-tasse uma avaliao, de modo quantitativo e qualitativo, dos resultados de estratgias e polticas direcionadas ao setor eltrico. Portanto, este estudo se justifica por duas razes: pela oportunidade de analisar o papel do setor de energia eltrica no desenvolvimento socioeconmico do Par, por meio

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    da construo de indicadores que forneam subsdios para futuras polti-cas pblicas direcionadas a um setor estratgico e impulsor do desenvolvi-mento socioeconmico; e pela possibilidade de pensar o desenvolvimento socioeconmico do Estado do Par de modo vinculado ao setor eltrico, na medida em que o insumo energtico pode ser compreendido como um recurso para a garantia de um relativo padro de qualidade de vida da po-pulao em alicerces democrticos.

    Nesta perspectiva, este artigo tem o objetivo de construir indicado-res de sustentabilidade para a energia eltrica no intuito de orientar as es-tratgias das polticas de investimento no setor eltrico paraense. Os indi-cadores foram estruturados a partir dos setores de atividade: agropecurio, industrial, comercial e residencial, de modo a considerar as dimenses de anlise: econmica, social, ambiental e poltica, em cada um destes setores.

    Na realizao destes propsitos o presente artigo est dividido em quatro partes: Na primeira, abordam-se as concepes tericas de refern-cia para a sustentabilidade e o papel dos indicadores de sustentabilidade no processo de desenvolvimento. A segunda parte trata os indicadores de sustentabilidade especificamente no campo energtico. Posteriormente, realiza-se um esforo de construo de indicadores de sustentabilidade energtica a partir das particularidades do Estado do Par. E por fim, dis-correm-se as consideraes finais.

    2. A SUSTENTABILIDADE E O PAPEL DOS INDICADORES

    O conceito de desenvolvimento sustentvel cercado de contra-dies. Conforme Kitamura (1994), este desenvolvimento vincula-se a uma tica que incorpora tanto os valores ecolgicos quanto espirituais. O pro-blema reside no fato de que os interesses econmicos no so submissos s noes de tica. Seu conceito supe ainda uma nova ordem internacional, que tem como produto uma ampla redistribuio do poder (KITAMURA, 1994). A idia desta nova ordem de desenvolvimento, entretanto, ignora as correlaes de foras que so atuantes no mercado mundial, e os interesses das naes industrializadas em manter a posio de vantagem no panora-ma internacional (REDCLIFT, 1987; SPANGENBERG2, 2000).

    2 Spangenberg coordenou um projeto com o objetivo de desenvolvimento e teste de um novo sistema de indicadores a ser apresentado ONU. Tratava-se de um indicador em nvel macrorregional implan-tado na sia Central.

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    O fato de os interesses econmicos no se subjulgarem aos prin-cpios ticos que acolhem valores ecolgicos e espirituais comprometem a essncia da idia terminolgica do que seria o desenvolvimento susten-tvel. Os interesses das naes industrializadas, na manuteno da condi-o de vantagem econmica no cenrio mundial, representa na prtica a impossibilidade de implantao deste referencial normativo, pelo menos, a partir de suas bases conceituais. O contexto de implantao do desenvol-vimento sustentvel caracterizado, inclusive, implicitamente, por padres de uma economia de mercado, o que leva a concluso de que a idia deste tipo de desenvolvimento est profundamente vinculada a idia de cresci-mento econmico. Dito isso, constata-se que a idia mais aceitvel para a construo do entendimento do desenvolvimento sustentvel, de forma a iniciar uma contribuio ao termo a partir de uma dimenso mais categ-rica, alicera-se na idia de que o desenvolvimento sustentvel compreen-de uma condio de crescimento contnuo de uma economia, de modo a permitir uma razovel distribuio concreta da riqueza social por meio da ampliao do acesso das populaes satisfao de necessidades bsicas como sade, educao, energia, gua e saneamento.

    Em meio a esta reflexo contraditria, a discusso sobre esta tem-tica est intimamente relacionada ao debate a respeito de metodologias para a medio do nvel do desenvolvimento de sociedades e da sustenta-bilidade de seus sistemas de produo (REIS; FADIGAS; CARVALHO, 2005). Segundo Bruyn e Drunden (1999), os parmetros forneceriam informaes sobre um determinado fenmeno que importante para o desenvolvimen-to e seriam demonstrados por meio de indicadores.

    O World Resources Institute (WRI) realizou um estudo no incio da d-cada de 1990 para identificar o estado-da-arte a respeito de indicadores de sustentabilidade por meio de pesquisas que foram ou estavam sendo efetu-adas at ento (HAMMOND et al., 1995). Conforme Marzall (1999), estas pes-quisas analisaram programas elaborados por vrios organismos nacionais e internacionais, onde se constatou que o marco de referncia foi a Confern-cia Mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento, a Rio-92, com a cons-truo de seu documento final, a Agenda 21. Na Conferncia conhecido o que foi chamado de Estratgia Global para a Biodiversidade, apresentado pelo WRI, dos Estados Unidos da Amrica, e pela Unio Mundial para a Natureza, da Sua. O documento foi constitudo por algumas sugestes no intuito de conservar a diversidade biolgica da Terra e apresentava um plano para a utilizao de recursos biolgicos de forma sustentvel.

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    Os mecanismos de avaliao desenvolvidos pela CDS constitu-ram-se em indicadores que deveriam ser: pautados em critrios cientficos amplamente reconhecidos; relevantes para o desenvolvimento sustent-vel; transparentes na sua seleo, no seu clculo e compreenso fora do mundo acadmico; quantitativos, sempre que possvel; e limitados, con-forme os seus propsitos (ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS, 1995). A noo de sustentabilidade proposta pela CDS refere-se a uma concepo socioambiental, que trabalha com uma sequncia de temas e subtemas do desenvolvimento (SPANGENBERG, 2000). Os indicadores apontados pela CDS dividem-se em aspectos de natureza: econmica, social, ambiental e institucional. No aspecto econmico as temticas so: a cooperao inter-nacional para acelerar o desenvolvimento sustentvel dos pases em de-senvolvimento e polticas correlatas; mudanas nos padres de consumo; recursos e mecanismo de financiamento; e transferncia de tecnologia am-biental saudvel, cooperao e fortalecimento institucional. Quanto ao as-pecto social a CDS utiliza como temticas: o combate pobreza; dinmica demogrfica e sustentabilidade; promoo do ensino, da conscientizao e do treinamento; proteo e promoo das condies de sade humana; e promoo do desenvolvimento sustentvel dos assentamentos humanos (ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS, 1995).

    Todavia, como destacam Reis, Fadigas e Carvalho (2005), esses indi-cadores so muito importantes na avaliao da sociedade e economia como um todo, mas so numerosos quando o objeto de avaliao compreende um setor especfico como, por exemplo, o de energia eltrica. Em relao aos indicadores da CDS, Rechatin (1997) em concordncia com Reis, Fadigas e Carvalho (2005) destacam que o nmero de indicadores de desenvolvimento sustentvel das Naes Unidas excessivo e demonstra a ausncia de uma metodologia que integre as dimenses econmica, social e ambiental.

    O debate em relao sustentabilidade precisa sair do mbito terico e se tornar operacional. De acordo com Ribeiro (2001), para que isso seja exequvel, necessita-se refletir a respeito da mensurao desta sustentabilidade, acrescentando ainda, que essa questo to densa e complexa quanto a prpria discusso sobre o conceito de desenvolvimen-to sustentvel. Begossi (1993) expe a necessidade de se compreender e considerar abordagens cientficas direcionadas a uma melhor dinmica de entendimento das relaes sociedade e meio ambiente. Muller (1995) oportunamente alerta que considerando a amplitude dos elementos socio-ambientais, os indicadores sero igualmente mensurados seja nos aspec-

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    tos biofsicos, seja nos aspectos antrpicos e/ou combinaes entre estas categorias.

    Fenzl (1997) situa o leitor ao destacar que a identificao da infor-mao relevante, capaz de potencialmente esclarecer a existncia de quais-quer processos no-sustentveis de desenvolvimento na relao entre so-ciedade e meio ambiente, algo somente possvel para uma sociedade, se ela dispuser de instrumentos cientficos, tcnicos e polticos construdos com esse objetivo. Neste sentido, indicadores representam parmetros ou valores derivados de parmetros, que fornecem informaes a respeito da situao de determinado fenmeno, meio ou rea com uma importncia estendida maior que a alcanada diretamente pela observao das proprie-dades (WETERINGS, 1994). Entretanto, com Marzall (1999) que se observa uma abordagem mais crtica. O autor alerta para a idia de que um indi-cador somente uma medida, no um instrumento de previso ou uma medida estatstica absoluta, ou mesmo uma evidncia de causalidade; ele apenas comprova uma determinada realidade. No que se refere s razes e decorrncias que podem ser construdas, seriam para o autor, um esforo de abstrao do observador a partir de seu conhecimento e experincia.

    Marzall e Almeida (1998) observam que os indicadores apresentam modelos de interpretao da realidade social. O resultado desses modelos demonstra a importncia de se analisar modalidades de percepo subje-tivas do ambiente. A avaliao de uma determinada realidade e a conse-quente definio dos rumos a serem adotados devem utilizar um amplo sistema de informaes e considerar a reao da populao frente dada realidade. importante registrar, todavia, que a construo de sistemas de indicadores demanda dados de fontes confiveis e os sistemas de informa-es locais ainda so frgeis. A maioria dos estados que forma a Amaznia no conseguiu desenvolver uma sistematizao de dados consistente (RI-BEIRO, 2001). Porm, de acordo com Marzall e Almeida (1998), o desenvol-vimento de indicadores de sustentabilidade ainda est em seu incio. Para os autores ainda se busca uma compreenso da sustentabilidade e de sua caracterizao. As propostas de indicadores devem ainda ser testadas, cor-rigidas, adaptadas novas realidades. Paralelamente, h a necessidade de estudos da realidade em si, buscando entender as interaes que ocorrem nos diferentes sistemas, com e sem a interveno humana, determinando tambm os aspectos efetivamente relevantes para a avaliao e monito-ramento da sustentabilidade possibilitando a elaborao de indicadores eficientes em vrios campos estratgicos, dentre eles, o energtico.

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    3. INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE ENERGTICA

    O setor energtico caracteriza-se como um segmento estratgi-co e impulsor ao processo de desenvolvimento, uma vez que possibilita a promoo de vrias necessidades bsicas da populao. Destarte, busca-se identificar no cenrio do setor eltrico, elementos que possam expressar relaes de sustentabilidade envolvendo os aspectos: econmico, social, ambiental e poltico.

    O captulo 9 da Agenda 21 ressalta que a energia essencial para o desenvolvimento socioeconmico e para uma melhor qualidade de vida. Segundo Surez (1995) a energia possui uma misso importante em rela-o ao ndice de Desenvolvimento Humano (IDH). A diferena entre socie-dades de economias desenvolvidas e em desenvolvimento, conforme Foley (1992) foi promovida em maior parte pela disponibilidade relativa de ener-gia nestas duas realidades. Entretanto, a energia, por si s, no capaz de promover o desenvolvimento socioeconmico; neste sentido, o propsito seria o de melhor conhecer seu papel para melhor orientar sua utilizao.

    De acordo com Reis, Fadigas e Carvalho (2005), os indicadores ener-gticos podem ser classificados como descritivos e estruturais. Os descriti-vos demonstram a utilizao da energia e suas modificaes por setor e, em um nvel mais preciso, por meio de subsetores de atividade. J os estrutu-rais, demonstram de que maneira as atividades ou produtos se relacionam com a utilizao do insumo energtico.

    Na tentativa de realizar uma discusso mais especfica a respeito de indicadores de sustentabilidade energtica, Bermann (2003) considera es-ses indicadores como ferramentas necessrias para operacionalizao dos propsitos na perspectiva do desenvolvimento sustentvel e fundamentais referncias no processo decisrio. Assim, o autor elabora indicadores que tratam as dimenses: energia e equidade, energia e meio ambiente, ener-gia e emprego, energia e eficincia, e energia e democracia.

    No indicador energtico de equidade as variveis propostas por Bermann (2003) so: participao da dendroenergia (lenha e carvo vege-tal) no consumo energtico do setor residencial; taxa de eletrificao dos domiclios (trata-se de uma avaliao quantitativa e qualitativa da forma com que os domiclios urbanos e rurais alcanam suas demandas de ener-gia eltrica conforme os tipos de uso final); posse de equipamentos ele-

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    trodomsticos bsicos; carncia energtica (para a definio de uma cesta bsica energtica); forma de energia eltrica utilizada; e gastos energticos em funo da renda familiar (esta varivel possui o propsito de avaliar o nvel de comprometimento da renda familiar com gastos no atendimento das demandas energticas).

    Em relao ao indicador energtico de meio ambiente as variveis so: emisses de CO2 por fonte energtica (importante no apenas pela re-levncia da questo em si, mas pelo problema do aquecimento global de-corrente das emisses de gases de efeito estufa) e a participao das fontes renovveis na oferta energtica.

    No indicador energtico de emprego o autor demonstra o poten-cial de gerao de empregos por meio dos setores de atividade econmi-ca. No que se refere ao indicador energtico de eficincia, abordado o rendimento energtico mdio. E no indicador energtico da democracia, o autor trata da publicizao, que compreende o acesso da populao s informaes pertinentes ao setor eltrico por meio dos meios de comuni-cao, enquanto instrumentos polticos (BERMANN, 2003). Observa-se por meio do Tabela 1, a seguir, os indicadores de sustentabilidade energtica elaborados por Clio Bermann.

    Tabela 1 - Indicadores de sustentabilidade energtica

    DIMENSO INDICADORES

    Energia e equidade

    Participao da dendroenergia no consumo ener-gtico do setor residencial;

    Taxa de eletrificao dos domiclios Posse de equipamentos eletrodomsticos bsicos carncia energtica (para a definio de uma cesta bsica energtica);

    Forma de energia eltrica utilizada; Gastos energticos em funo da renda familiar.

    Energia e meio ambiente Emisses de CO2 por fonte energtica Participao das fontes renovveis na oferta ener-gtica.

    Energia e emprego Potencial de gerao de empregos por meio dos setores de atividade econmica.Energia e eficincia Rendimento energtico mdioEnergia e democracia Publicizao

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    Bermann (2003) admite ter encontrado dificuldades para a elabo-rao dos indicadores, sobretudo quanto natureza de atualizao de da-dos. Porm, os maiores limites deste esforo de construo de indicadores de sustentabilidade energtica esto na estrutura destes instrumentos de mensurao, que mais analisam dados e estimativas do que formulam pro-priamente um arcabouo consistente.

    A HELIO INTERNATIONAL, uma rede no-governamental com sede em Paris e criada em 1997, formada por um grupo de especialistas na rea energtica. Em sua anlise da sustentabilidade, utiliza-se de um con-junto de oito indicadores, divididos em quatro dimenses: ambiental, que apresenta como indicadores os impactos globais (emisses per capita de carbono no setor energtico) e locais (nvel de poluentes locais mais sig-nificantes relacionados energia); social, apontando como indicadores os domiclios com acesso eletricidade (percentual de domiclios com acesso eletricidade) e os investimentos em energia limpa, como um incentivo criao de empregos (investimentos em energia renovvel e eficincia energtica em usos finais, como um percentual do total de investimentos no setor energtico).

    No tocante dimenso econmica, a HELIO INTERNACIONAL (2005) prope indicadores como a exposio a impactos externos (exportao de energia no-renovvel como um percentual do valor total de exportao e importao de energia no-renovvel como um percentual da oferta total primria de energia); carga de investimento em energia no setor pblico (investimento pblico em energia no-renovvel como percentual do PIB); e por fim a dimenso tecnolgica, que trabalha como indicadores a intensi-dade energtica (consumo de energia primria por unidade do PIB) e a par-ticipao de fontes renovveis na oferta primria de energia (HELIO INTER-NACIONAL, 2005). A seguir, verifica-se por meio do Tabela 2, os indicadores de sustentabilidade energtica elaborados pela HELIO INTERNACIONAL.

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    Tabela 2 - Indicadores de sustentabilidade energtica

    DIMENSO INDICADORES

    Ambiental Impactos globais Impactos locais

    Social Domiclios com acesso eletricidade Investimentos em energia limpa, como um incentivo cria-o de empregos.

    Econmica Exposio a impactos externos Carga de investimentos em energia no setor pblico

    Tecnolgica Intensidade energtica Participao de fontes renovveis na oferta primria de energia

    O grupo de especialistas da HELIO INTERNACIONAL (2005) destaca ainda a necessidade de comparao entre situaes anteriores e situaes futuras no esforo de avaliar o grau do processo de desenvolvimento socio-econmico, de forma a possibilitar orientaes ao processo de tomada de deciso no setor eltrico.

    A Aneel (1999), por seu turno, destaca que os indicadores energ-ticos so instrumentos: de comunicao entre tomadores de deciso e o grande pblico; de informaes quantitativas sobre a sustentabilidade de sistemas energticos; de integrao do uso e reduo de desperdcios. Os indicadores apresentados pela Aneel, foram desenvolvidos a partir das dire-trizes da Organizao Latino-Americana de Energia (Olade,1996) e dividem-se em aspectos polticos: segurana no abastecimento e desconcentrao de poder pblico; econmicos: equilbrio no balano de pagamentos e apropriao de renda e gerao de receitas fsicas; sociais: gerao de em-pregos e reduo de desigualdades regionais; ecolgicos: minimizao de impactos sobre o meio ambiente fsico e bitico e mxima valorizao de recursos energticos renovveis; e tecnolgicos: qualidade e confiabilidade adequadas e minimizao de riscos de acidentes. A relao de indicadores da Aneel pode ser verificada por meio do Tabela 3.

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    Tabela 3 - Indicadores de sustentabilidade energtica

    DIMENSO INDICADORES

    Poltica Segurana no abastecimento Desconcentrao de poder pblico

    Econmica Equilbrio no balano de pagamentos Apropriao de renda e gerao de receitas fsicas

    Social Gerao de empregos Reduo de desigualdades regionais

    Ecolgica Minimizao de impactos sobre o meio ambiente fsico e bitico

    Mxima valorizao de recursos energticos renovveisTecnolgica

    Qualidade e confiabilidade adequadas Minimizao de riscos de acidentes

    Em mbito mais especfico, Camargo, Ugaya e Agudelo (2004) de-senvolvem estudos a respeito dos indicadores de sustentabilidade ener-gtica a partir de um dos componentes do sistema eltrico, a gerao de energia. Segundo os autores, os impactos causados pela gerao so normalmente permanentes e contnuos, por isso devem ser mensurados e acompanhados mais cuidadosamente. A proposta de Camargo, Ugaya e Agudelo (2004) possui um enfoque voltado a indicadores empresariais ou corporativos aplicveis ao setor eltrico brasileiro. Estes indicadores podem ser: sociais, econmicos e ambientais.

    Os indicadores sociais so: alimentao; encargos sociais; valor pago previdncia privada; assistncia mdica e social aos empregados; nmero de acidentes de trabalho; investimento em educao dos empre-gados; nmero de doenas ocupacionais; investimentos em projetos cultu-rais para os empregados; capacidade de desenvolvimento profissional; n-mero de mulheres que trabalham na empresa; auxlio creche; participao nos resultados da empresa; transparncia e comunicao das informaes; nmero de empregados portadores de deficincia; percentual de cargos de chefia ocupados por mulheres; eficcia das contribuies para a socieda-de; aes judiciais relativas a problemas ambientais; empregados treinados ISO 14.004; investimentos em educao para a comunidade; investimentos em projetos sociais; investimentos em pesquisa universitria (CAMARGO; UGAYA; AGUDELO, 2004).

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    Os indicadores econmicos so: despesas com salrios e benef-cios; impostos e taxas em geral; investimento em segurana, meio ambien-te e sade; investimento em pesquisa e desenvolvimento; investimento em desenvolvimento comunitrio; investimento em tecnologia nacional; e pa-trocnio de projetos ambientais.

    Por fim, os indicadores ambientais so: qualidade do ar; eficincia energtica; utilizao de recursos naturais; qualidade ambiental; qualidade da gua; e responsabilidade ambiental. Observa-se por meio do Tabela 4, a seguir, os Indicadores de sustentabilidade energtica elaborados por Ca-margo, Ugaya e Agudelo (2004):

    Tabela 4 - Indicadores de sustentabilidade energtica

    DIMENSO INDICADORES

    Social

    Alimentao Encargos sociais Valor pago previdncia privada Assistncia mdica e social aos empregados Nmero de acidentes de trabalho Investimento em educao dos empregados Nmero de doenas ocupacionais Investimentos em projetos culturais para os empregados Capacidade de desenvolvimento profissional Nmero de mulheres que trabalham na empresa Auxlio creche; participao nos resultados da empresa Transparncia e comunicao das informaes Nmero de empregados portadores de deficincia Percentual de cargos de chefia ocupados por mulheres Eficcia das contribuies para a sociedade Aes judiciais relativas a problemas ambientais Empregados treinados ISO 14.004 Investimentos em educao para a comunidade Investimentos em projetos sociais Investimentos em pesquisa em universidades

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    DIMENSO INDICADORES

    Econmica

    Despesas com salrios e benefcios Impostos e taxas em geral Investimento em segurana, meio ambiente e sade Investimento em pesquisa e desenvolvimento Investimento em desenvolvimento comunitrio Investimento em tecnologia nacional Patrocnio de projetos ambientais

    Ambiental

    Qualidade do arEficincia energtica

    Utilizao de recursos naturaisQualidade ambientalQualidade da gua

    Responsabilidade ambiental

    O conjunto destes indicadores foi obtido a partir da combinao de indicadores das empresas: Hydro Qubec (Canad), Petrobras (Brasil) e Tennessee Valley Autorithy (EUA). Os autores acreditam que o produto desta combinao perfeitamente aplicvel ao setor eltrico brasileiro. En-tretanto, em virtude de especificidades do sistema eltrico nacional, fica re-gistrada a necessidade de se continuar os estudos a respeito desse assunto (CAMARGO; UGAYA; AGUDELO, 2004).

    No cmputo geral, todas as propostas de construo de indicado-res de sustentabilidade energtica, aqui discutidas, procuraram utilizar di-menses que atendessem aos propsitos que lhe fundamentaram. Neste sentido, acredita-se que o propsito de analisar o papel do setor eltrico na melhoria concreta da qualidade de vida da populao indica a necessida-de de se considerar as dimenses: econmica, social, ambiental e poltica; conforme a estrutura recomendada pela CDS em anlises com perspectiva ao desenvolvimento sustentvel. Como destaca Reis, Fadigas e Carvalho (2005), a desconsiderao dessas dimenses-chave dificultaria o gerencia-mento de polticas pblicas comprometidas com a sustentabilidade.

    A dimenso econmica est alicerada no papel da mercadoria energtica no mercado por meio dos termos de troca que procuram pro-mover um processo de acumulao de capital. Como observa Bermann (2003), o valor da mercadoria energtica no mercado determina direta-mente a taxa de lucro da atividade produtiva. A dimenso social, por sua vez, verificada pela identificao de nveis bsicos de necessidades, ou

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    seja, caracterizada pela possibilidade de utilizar o insumo energtico em condies mnimas. A dimenso social detm o carter mais desafiador (REIS; FADIGAS; CARVALHO, 2005).

    J a dimenso ambiental identificada pelo nvel de deteriorao que a utilizao da energia pode causar ao meio ambiente. A eletricidade usada em diversos setores como o agropecurio, industrial, comercial e residencial; em cada um deles a energia transformada de acordo com os propsitos destas atividades, processo chamado de metabolismo energ-tico-material, que no caso das sociedades industrializadas apresenta um intensivo consumo de matria e energia (FISCHER-KOWALSKI et al., 1997, KALTENEGGER, 1995; SMIL, 1993). Neste sentido, os fluxos energtico-ma-teriais devem ser regulamentados por meio dos setores sociais e econmi-cos, de modo que as fontes energticas e materiais (recursos renovveis e no-renovveis) no sejam usadas de forma predatria e possam garantir a sustentabilidade do metabolismo em longo prazo.

    Por fim, a dimenso poltica caracterizada pela dinmica que pau-ta as relaes entre o setor de energia eltrica e a sociedade. O planejamen-to pblico e o grau de participao da sociedade neste processo vm repre-sentar o carter poltico do insumo energtico. A dinmica deste processo deve ser orientada de modo a no favorecer interesses individuais, assim como, deve estar comprometida com o bem-estar comum.

    Entretanto, o maior desafio para a construo de indicadores de sustentabilidade energtica reside na escolha de metodologias apropriadas que identifiquem, por meio da seleo e combinao de variveis, os efeitos dos investimentos em energia eltrica na dinmica do desenvolvimento so-cioeconmico por meio dos meandros dos setores de uma economia.

    4. CONSTRUO DE INDICADORES DE SUSTENTABILI-DADE ENERGTICA NO ESTADO DO PAR

    A construo de indicadores de sustentabilidade energtica no Es-tado do Par foi subsidiada neste artigo a partir de uma metodologia de anlise multivariada que procurou identificar variveis com correlaes li-neares. O resultado de tal anlise um coeficiente que mensura o grau de dependncia entre grandezas relacionadas, um valor que quantifica um n-vel de correlao denominado coeficiente de Pearson (p).

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    Para que se possa comear a desenvolver o processo de construo dos indicadores de sustentabilidade energtica se faz necessrio relacionar a lista de variveis e componentes observados que identificaram correlaes lineares, de acordo com a natureza de suas dimenses: econmicas, sociais, ambientais e polticas; e a partir dos setores de atividade: agropecurio, in-dustrial, comercial e residencial. So elas: consumo de energia eltrica; Pro-duto Interno Bruto; unidade de consumo; valor investido em energia eltri-ca; tarifa mdia de energia eltrica; renda mdia do trabalhador; nmero de empregos gerados; coeficiente de Gini; rendimento energtico; quantidade de emisses de dixido de carbono (CO2); quantidade de emisses de me-tano (CH4); Frequncia equivalente de interrupo no consumo (FEC); Dura-o equivalente de interrupo no consumo (DEC); taxa de eletrificao dos domiclios; parcela de renda entre os 5% mais ricos; parcela de renda entre os 50% mais pobres; ndice Aneel de satisfao do consumidor residencial em relao confiabilidade nos servios prestados pela distribuidora local; ndice Aneel de satisfao do consumidor residencial em relao ao acesso empresa de energia eltrica local; e quantidade de energia exportada pelo Estado do Par. A seguir, apresentam-se cada uma delas.

    a) Quantidade consumida de energia eltrica

    O consumo de energia eltrica um relevante indicador de desen-volvimento socioeconmico. Altas taxas de mortalidade infantil, analfabe-tismo e baixa qualidade de vida geralmente so indiretamente ligados a um baixo consumo de energia eltrica per capita. Por outro lado, a e xpanso do consumo de energia per capita no equivale necessariamente a uma melhoria na qualidade de vida da populao, j que existem populaes que apresentam diferentes nveis de consumo de eletricidade e semelhan-tes nveis de qualidade de vida. Neste sentido, avaliar o comportamento desta varivel e seus reflexos causados junto ao processo de desenvolvi-mento socioeconmico do Estado representa ponto indispensvel. A vari-vel consumo de energia eltrica medida em GWh3 por ano.

    b) Produto Interno Bruto

    O Produto Interno Bruto representa o valor agregado de todos os bens e servios finais produzidos dentro da economia de um determinado pas ou regio. Sob a tica da produo, o PIB corresponde somatria dos

    3 1 GWh equivale a 1.000.000.000 Wats; 1MW compreende 1.000.000 Wats e 1 kW representa 1.000 Wats.

  • 134 REVISTA BRASILEIRA DE ENERGIA

    valores agregados lquidos dos setores primrio, secundrio e tercirio da economia, adicionando os impostos indiretos, mais a depreciao do ca-pital, menos os subsdios do Governo (SANDRONI, 2003). O PIB do Par calculado pela Secretaria Executiva de Estado de Planejamento Oramento e Finanas (Sepof), com a colaborao do IBGE, por meio do Departamento de Contas Nacional (DECNA-RJ). A varivel medida em bilhes de reais4.

    c) Unidade de consumo

    As unidades consumidoras representam os aparelhos de registro de consumo instalados pela distribuidora de energia eltrica local junto aos domiclios, organizaes agropecurias, industriais, comerciais e pblicas. Por meio desta varivel, possvel avaliar individualmente a intensidade no consumo de energia eltrica por meio dos setores de atividade no Estado.

    d) Valor investido em energia eltrica

    Esta varivel registra a aplicao de recursos no setor eltrico para-ense para expandir o sistema de eletrificao rural e urbano, alm de reduzir as perdas de energia eltrica. A importncia da anlise do investimento est pautada em sua relao com a capacidade produtiva. Assim, o investimento significa a aplicao de capital em meios que levam ao crescimento desta capacidade. Em princpio, se o investimento em energia eltrica for realizado, a capacidade produtiva se expandir. A expanso da capacidade produtiva, por sua vez, permite a expanso do insumo energtico. O crescimento do insumo energtico promover o aumento da procura, o que se traduziria em melhoria das condies de vida da populao por meio da satisfao das ne-cessidades de energia eltrica. Da a relevncia em avaliar o comportamento desta varivel, que valorada nesta anlise em milhes de dlares.

    e) Tarifa mdia de energia eltrica

    Compreendem tarifas pagas pela prestao de servios pblicos de energia eltrica. As tarifas so cobradas por meio da unidade de medida kWh. Quando analisadas por meio dos setores de atividade econmica indicam di-ferentes preos que podem ser confrontados com o retorno socioeconmico de cada setor para a sociedade. A varivel mensurada em R$/kWh.

    4 Os valores em reais utilizados para informar o PIB durante o perodo analisado neste estudo foram corrigidos monetariamente pela prpria fonte fornecedora, a SEPOF (2006).

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    f) Renda mdia do trabalhador

    Equivale ao que o trabalhador paraense recebe a ttulo de rendi-mento mensal. Em face ao extremo cenrio nacional de desigualdade na distribuio de renda, esta varivel procura identificar a capacidade de sa-tisfao das necessidades bsicas por parte dos trabalhadores no Estado do Par. A varivel quantificada anualmente em reais5.

    g) Nmero de empregos gerados

    A capacidade de gerao de empregos representa um elemento estratgico na orientao de polticas pblicas. A necessidade de priorizar atividades com maior potencial de fomento de postos de trabalho e ge-rao de renda colabora estrategicamente ao desenvolvimento socioeco-nmico. Os elementos de tomada de deciso nas polticas pblicas devem obedecer a critrios de oportunidades de emprego e gerao de renda (BERMANN, 2003). Assim, associar o potencial de criao de empregos ao consumo de energia eltrica por meio dos setores de atividade econmica, por exemplo, pode indicar possibilidades de redirecionamento de polticas e melhoria de qualidade de vida. A varivel analisada em nmeros abso-lutos por meio dos saldos entre os anos em anlise.

    h) Coeficiente de Gini

    Consiste em um fator numrico de mensurao da concentrao de renda. O coeficiente de Gini foi uma contribuio do italiano Corrado Gini. De acordo com este fator, quanto mais o coeficiente se aproximar de 1 (um), maior a concentrao de renda, assim como menor ser esta concen-trao se este aproximar-se de 0 (zero).

    i) Rendimento energtico

    O rendimento energtico da eletricidade produto da relao en-tre a quantidade de energia final, que consumida segundo diferentes usos finais, e a energia til efetivamente consumida para a produo de bens e/ou servios. Conforme Bermann (2003), a energia til alcanada a partir de dados empricos que procuram determinar a eficincia tpica dos

    5 Os valores referentes renda mdia do paraense durante o perodo analisado nesse estudo foram corrigidos monetariamente pela prpria fonte fornecedora, o IBGE (2005).

  • 136 REVISTA BRASILEIRA DE ENERGIA

    diversos equipamentos e mensurar as perdas que ocorrem nos processos de converso energtica. Alguns autores consideram esta varivel como de relevncia na anlise da dimenso ambiental na medida em que a quase to-talidade desta eletricidade, no pas, oriunda de recursos hdricos, portan-to o rendimento energtico representaria a eficincia da prpria natureza que, por sua vez, sofre impactos quando da implantao e manuteno de barragens. A varivel quantificada em valores percentuais e baseia-se em informaes do Balano de Energia til (BEU).

    j) Quantidade de emisses de dixido de carbono oriundo da gerao de eletricidade (CO2)

    Este componente detm relevncia de anlise pelas propores de quantidade emitidas e pelos impactos causados na atmosfera. O aqueci-mento global representa uma realidade, em que a emisso de gases, como o dixido de carbono (CO2), vem comprometendo a camada de oznio do planeta. A gerao de energia eltrica tambm contribui neste contexto, pois o fechamento de um rio por uma barragem provoca uma alterao es-trutural onde as guas passam de um sistema corrente, para um sistema de gua parada, com taxas de emisses diferentes. O componente observado estimado em toneladas.

    k) Quantidade de emisses de metano oriundo da gerao de eletricidade (CH4)

    O gs metano (CH4) tambm possui papel de comprometimento da camada de oznio por meio da construo de hidreltricas. O metano produzido quando a decomposio de matria orgnica ocorre no fundo do reservatrio. O componente observado estimado em toneladas.

    l) Frequncia equivalente de interrupo no consumo (FEC)

    A FEC um indicador utilizado pela Aneel para acompanhar o de-sempenho especfico das concessionrias de energia eltrica, entre elas a Celpa, e registra o nmero de interrupes nas unidades consumidoras. A varivel medida em termos percentuais6.

    6 Tomando como base o ano de incio de apurao da FEC (1995), estabelecida uma escala de n-meros mximos e mnimos de interrupes durante o perodo de 1 ano. Assim, para se apurar a FEC

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    m) Durao equivalente de interrupo no consumo (DEC)

    A DEC mede o nmero de horas que o consumidor ficou sem ener-gia eltrica durante um determinado perodo. A varivel medida em ter-mos percentuais7.

    n) Taxa de eletrificao em domiclios (%)

    A taxa de eletrificao indica o percentual de acesso da populao energia eltrica. Esta varivel pode ser considerada um bom indicador de equidade.

    o) Parcela de renda entre os 5% mais ricos

    Esta varivel um indicador (em %) de concentrao de renda. Quanto maior o percentual de renda da populao situado entre os 5% mais ricos, maior a deteno de renda na mo de poucos.

    p) Parcela de renda entre os 50% mais pobres

    Compreende uma varivel de identificao da disposio global da renda em uma determinada regio. Quanto maior o percentual da renda de uma determinada populao estiver alocado dentre os 50% mais pobres, menor ser sua concentrao de renda. A varivel quantificada em termos percentuais.

    deve-se comparar o nmero de interrupes em um determinado perodo analisado com os nmeros mximos e mnimos do ano base. O resultado se expressa por meio de valores percentuais.

    7 Tomando como referncia o ano de incio de apurao da DEC (1995), estabelecida uma escala de nmeros mximos e mnimos de horas que o consumidor ficou sem energia eltrica durante o perodo de 1 ano. Neste sentido, para se calcular a DEC deve-se comparar o nmero total de horas destas inter-rupes em um determinado perodo analisado com os nmeros mximos e mnimos de horas do ano base. O resultado se expressa por meio de valores percentuais.

  • 138 REVISTA BRASILEIRA DE ENERGIA

    q) ndice Aneel de satisfao do consumidor residencial em relao confiabilidade nos servios prestados pela distribuidora local (%)

    A varivel avalia o nvel de satisfao de consumidores residenciais no tocante confiabilidade nos servios oferecidos pelas concessionrias.

    r) ndice Aneel de satisfao do consumidor residencial em relao ao acesso empresa de energia eltrica local (%)

    Esta varivel calculada pela Aneel para determinar a proximidade dos clientes empresa, assim como a qualidade da comunicao com o consumidor (AGNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELTRICA, 2005).

    s) Quantidade de energia exportada pelo Estado do Par

    A energia exportada merece relevncia na medida em que, ao mes-mo tempo em que o Par vende energia eltrica em grandes propores, se caracterizando como um Estado exportador de insumo primrio, ele tam-bm arca com os impactos ambientais desta produo de energia a partir da hidroeletricidade. Os custos econmicos, sociais e ambientais deste po-tencial exportado devem ser considerados na presente anlise. A varivel mensurada em GWh. Aps conhecer as variveis e os componentes per-tinentes ao ambiente do setor eltrico e ao processo de desenvolvimento socioeconmico no Estado do Par; assim como suas respectivas correla-es lineares, apresenta-se a estrutura para a construo de indicadores e ndices de sustentabilidade energtica (Tabelas 5 e 6).

  • 139VOL. 15 | No 2 | 2o SEM. 2009

    Tabela 5 - Estrutura para a construo de indicadores e ndices de susten-tabilidade energtica nos setores econmicos

    ndices Indicadores Composio das variveis

    Agropecurio

    Econmico

    Relao entre o valor do Produto Interno Bruto no setor agropecurio e a quantidade de Gwh consumida no setor.

    Relao entre o valor investido pela distri-buidora paraense em eletricidade no Estado e o valor do Produto Interno Bruto, por uni-dade de consumo, no setor agropecurio.

    Relao entre a tarifa mdia da eletricidade cobrada por kWh no setor agropecurio e o Produto Interno Bruto, por unidade de con-sumo, neste setor.

    Relao entre o valor investido pela distri-buidora paraense em eletricidade no Estado e o nmero de unidades de consumo no se-tor agropecurio.

    Social

    Relao entre a quantidade de GWh consu-mida no setor agropecurio e a renda mdia dos trabalhadores paraenses.

    Relao entre a quantidade de GWh consu-mida no setor agropecurio e o coeficiente de Gini registrado no Estado do Par.

    Ambiental

    Relao entre a quantidade de GWh consu-mida no setor agropecurio e o rendimento energtico verificado neste setor.

    Relao entre a quantidade de GWh con-sumida no setor agropecurio e a emisso acumulada gs metano (CH4) e gs carbono (CO2) derivado de hidroeltricas no Estado do Par.

    Poltico

    Relao entre a tarifa mdia da eletricidade cobrada por kWh no setor agropecurio e a Frequncia equivalente de interrupo por unidade consumidora em todos os setores do Estado.

    Relao entre a quantidade de Gwh consu-mida no setor agropecurio e a Frequncia equivalente de interrupo por unidade consumidora em todos os setores do Estado.

  • 140 REVISTA BRASILEIRA DE ENERGIA

    ndices Indicadores Composio das variveis

    Industrial

    Econmico

    Relao entre o valor do Produto Interno Bru-to no setor industrial e a quantidade de Gwh consumida no setor.

    Relao entre o valor do Produto Interno Bru-to no setor industrial e o nmero de unidades de consumo no setor.

    Relao entre a tarifa mdia da eletricidade cobrada por kWh no setor industrial e o Pro-duto Interno Bruto neste setor.

    Relao entre o valor investido pela distribui-dora paraense em eletricidade no Estado e o nmero de unidades de consumo no setor.

    Social

    Relao entre o valor investido pela distri-buidora paraense em eletricidade no Estado e o nmero de empregos gerados no setor industrial.

    Relao entre a quantidade de kW consumida no setor industrial e o Coeficiente de Gini re-gistrado no Par.

    Relao o nmero de unidades de consumo no setor industrial e o Coeficiente de Gini re-gistrado no Par.

    Ambiental

    Relao entre a quantidade de GWh consumi-da no setor industrial e o rendimento energ-tico verificado neste setor.

    Relao entre a quantidade de GWh consumi-da no setor industrial e a emisso acumulada gs metano (CO2) e gs carbono (CO2) deriva-do de hidroeltricas no Estado do Par.

    Poltico

    Relao entre a tarifa mdia da eletricidade cobrada por kWh no setor industrial e a Fre-quncia equivalente de interrupo por uni-dade consumidora em todos os setores do Estado.

    Relao entre o nmero de unidades con-sumidoras no setor industrial e a frequncia equivalente de interrupo por unidade con-sumidora em todos os setores do Estado.

    continuao Tabela 5

  • 141VOL. 15 | No 2 | 2o SEM. 2009

    ndices Indicadores Composio das variveis

    Comercial

    Econmico

    Relao entre o valor do Produto Interno Bruto no setor co-mercial e a quantidade de GWh consumida no setor.

    Relao entre o valor do Produto Interno Bruto no setor co-mercial e o nmero de unidades de consumidoras no setor.

    Relao entre o valor investido pela distribuidora paraense em eletricidade no Estado e o nmero de unidades de con-sumidoras no setor comercial.

    Relao entre o valor investido pela distribuidora paraense em eletricidade no Estado e a quantidade de Gwh consumi-da no setor comercial.

    Relao entre a quantidade de GWh consumida no setor comercial e a tarifa mdia da eletricidade cobrada por kWh no setor.

    Relao entre a quantidade de GWh consumida no setor co-mercial e o nmero de unidades de consumidoras no setor.

    Relao entre a tarifa mdia da eletricidade cobrada por kWh no setor comercial e o nmero de unidades de consu-midoras no setor.

    Social

    Relao entre a quantidade de GWh consumida no setor co-mercial e o nmero de empregos gerados neste setor.

    Relao entre o nmero de unidades de consumidoras no setor comercial e o nmero de empregos gerados neste se-tor.

    Relao entre o valor investido pela distribuidora paraense em eletricidade no Estado e o nmero de empregos gerados no setor comercial.

    Relao entre a quantidade de KW consumida no setor co-mercial e o coeficiente de Gini registrado no Estado do Par.

    Ambiental

    Relao entre a quantidade de GWh consumida no setor comercial e o rendimento energtico verificado neste setor.

    Relao entre a quantidade de GWh consumida no setor co-mercial e a emisso acumulada gs metano (CH4) derivado de hidroeltricas no Estado do Par.

    Relao entre a quantidade de GWh consumida no setor co-mercial e a emisso acumulada de gs dixido de carbono (CO2) derivado de hidroeltricas no Estado do Par.

    Poltico

    Relao entre a tarifa mdia da eletricidade cobrada por kWh no setor comercial e a Frequncia equivalente de in-terrupo por unidade consumidora em todos os setores do Estado.

    Relao entre a quantidade de GWh consumida no setor co-mercial e a durao equivalente de interrupo por unidade consumidora em todos os setores do Estado.

    Relao entre o nmero de unidades de consumidoras no setor comercial e a durao equivalente de interrupo por unidade consumidora em todos os setores do Estado.

    Relao entre o nmero de unidades de consumidoras no setor comercial e a durao equivalente de interrupo por unidade consumidora em todos os setores do Estado.

    Relao entre o nmero de unidades de consumidoras no setor comercial e a frequncia equivalente de interrupo por unidade consumidora em todos os setores do Estado.

    continuao Tabela 5

  • 142 REVISTA BRASILEIRA DE ENERGIA

    Tabela 6 - Estrutura para a construo de indicadores e ndices de susten-tabilidade energtica no setor residencial

    Residencial

    Econmico

    Relao entre o valor investido pela distribuidora paraense em eletricidade no Estado e a quantidade de kW consumida no se-tor residencial.

    Relao entre o valor investido pela distribuidora paraense em eletricidade no Estado do Par e o valor da tarifa mdia da ele-tricidade cobrada por kWh no setor residencial.

    Relao entre o nmero de unidades consumidoras e a tarifa mdia da eletricidade cobrada por kWh no setor.

    Relao entre a quantidade de GWh consumida no setor resi-dencial, por unidade de consumo, e a tarifa mdia da eletricida-de cobrada por kWh no setor.

    Social

    Relao entre a taxa de eletrificao do Estado e a parcela da renda dente os 50% mais pobres no Par

    Relao entre a tarifa cobrada no setor residencial e a taxa de eletrificao do Estado do Par.

    Relao entre o valor investido pela distribuidora paraense em eletricidade no Estado do Par e a taxa de atendimento pblico de energia eltrica em domiclio.

    Relao entre o consumo de energia eltrica no setor residen-cial e o coeficiente de Gini no Par.

    Relao entre o valor investido pela distribuidora paraense em eletricidade no Estado do Par e o percentual de renda dos 5% mais ricos da populao paraense

    Relao entre a tarifa cobrada no setor residencial e o coeficien-te de Gini no Par.

    3Relao entre o consumo de energia eltrica no setor residen-cial e a taxa de eletrificao no Par.

    Relao entre o coeficiente de Gini no Estado do Par e a taxa de eletrificao no Estado do Par.

    Relao entre a quantidade de energia eltrica exportada pelo Estado do Par e a parcela de renda dos 5% mais ricos da po-pulao paraense

    Relao entre a tarifa cobrada no setor residencial e a parcela de renda dos 5% mais ricos da populao paraense

    Relao entre a tarifa cobrada no setor residencial e a parcela da renda dente os 50% mais pobres no Par.

    Relao entre a quantidade de energia eltrica exportada pelo Estado do Par e o percentual de renda dos 50% mais pobres da populao paraense

    Relao entre o nmero de unidades de consumo no setor resi-dencial e a parcela da renda dente os 50% mais pobres no Par

    Relao entre o consumo de energia eltrica no setor residencial e a parcela de renda dos 5% mais ricos da populao paraense.

    Relao entre o consumo de energia eltrica no setor residen-cial e a parcela da renda dente os 50% mais pobres no Par

    Relao entre o nmero de unidades de consumo no setor resi-dencial e o coeficiente de Gini no Par.

    Relao entre a quantidade de energia eltrica exportada pelo Estado do Par e o coeficiente de Gini no Par.

    Relao entre o nmero de unidades de consumo no setor re-sidencial e a parcela de renda dos 5% mais ricos da populao paraense.

  • 143VOL. 15 | No 2 | 2o SEM. 2009

    Residencial

    Ambiental

    Relao entre a quantidade de GWh consumida no setor resi-dencial e o rendimento energtico verificado neste setor.

    Relao entre o nmero de unidades consumidoras no setor residencial e o rendimento energtico verificado neste setor.

    Relao entre a quantidade de GWh consumida no setor resi-dencial e a emisso acumulada gs metano (CH4) derivado de hidroeltricas no Estado do Par.

    Relao entre a quantidade de GWh consumida no setor re-sidencial e a emisso acumulada de gs dixido de carbono (CO2) derivado de hidroeltricas no Estado do Par. Relao entre o nmero de unidades consumidoras no setor residencial e a emisso acumulada gs metano (CH4) e gs car-bono (CO2) derivado de hidroeltricas no Estado do Par.

    Poltico

    Relao entre o consumo de energia eltrica no setor residen-cial e o ndice Aneel de satisfao do consumidor residencial em relao ao acesso empresa por parte do cliente de energia eltrica paraense.

    Relao entre o nmero de unidades consumidoras no setor residencial e o ndice Aneel de satisfao do consumidor resi-dencial em relao ao acesso empresa por parte do cliente de energia eltrica paraense.

    Relao entre o consumo de energia eltrica no setor residen-cial e o ndice Aneel de satisfao do consumidor residencial em relao confiabilidade do cliente de energia eltrica para-ense nos servios prestados pela distribuidora local.

    Relao entre o nmero de unidades consumidoras no setor residencial e o ndice Aneel de satisfao do consumidor resi-dencial em relao confiabilidade do cliente de energia el-trica paraense nos servios prestados pela distribuidora local.

    O ndice de sustentabilidade energtica de cada setor baseou-se na agregao dos indicadores: econmico, social, ambiental e poltico. O ndice agregado de sustentabilidade energtica do Par tambm poderia ser calculado com base na reunio dos ndices setoriais de sustentabilidade do Estado.

    5. CONSIDERAES FINAIS

    A anlise da relao entre energia eltrica e desenvolvimento so-cioeconmico no Par por meio das correlaes lineares identificou um campo complexo de estudo. Esta complexidade aumenta ainda mais quan-do se sabe que a energia eltrica no a nica responsvel por um proces-so de desenvolvimento socioeconmico.

    O consumo de energia eltrica um relevante indicador de desen-volvimento socioeconmico. Altas taxas de mortalidade infantil, analfabe-tismo e baixa qualidade de vida geralmente so indiretamente ligados a um

    continuao Tabela 6

  • 144 REVISTA BRASILEIRA DE ENERGIA

    baixo consumo de energia eltrica per capita. Por outro lado, a e xpanso do consumo de energia per capita no equivale necessariamente a uma melhoria na qualidade de vida da populao, j que existem populaes que apresentam diferentes nveis de consumo de eletricidade e semelhan-tes nveis de qualidade de vida. Neste sentido, avaliar o comportamento desta varivel e seus reflexos causados junto ao processo de desenvolvi-mento socioeconmico do Estado representa ponto indispensvel. A vari-vel consumo de energia eltrica medida em GWh8 por ano.

    No cmputo geral, todas as propostas de construo de indicado-res de sustentabilidade energtica discutidas no estudo procuraram utilizar dimenses que atendessem aos propsitos que lhe fundamentaram. Toda-via, acredita-se que o propsito de analisar o papel do setor eltrico na me-lhoria concreta da qualidade de vida da populao indica a necessidade de se considerar as dimenses: econmica, social, ambiental e poltica; confor-me a estrutura recomendada pela CDS em anlises com perspectiva ao de-senvolvimento sustentvel. Como destaca Reis, Fadigas e Carvalho (2005), a desconsiderao dessas dimenses-chave dificulta o gerenciamento de polticas pblicas comprometidas com a sustentabilidade.

    A construo de indicadores de sustentabilidade energtica no Estado do Par alcanou um resultado bastante razovel quando da utili-zao da anlise multivariada na medida em que foram identificadas vari-veis com correlaes lineares de acordo com a natureza de suas dimenses: econmicas, sociais, ambientais e polticas; e a partir dos setores de ativida-de no Estado paraense.

    Em suma, o artigo apresenta uma proposta metodolgica de in-dicadores de sustentabilidade para a energia eltrica capaz de subsidiar a tomada de deciso no setor eltrico paraense. Esta estrutura de indica-dores possui em sua dinmica de construo, a observncia de elementos locacionais identificados pelas correlaes lineares e rene condies de percepo das particularidades econmicas, sociais e ambientais do Estado pelo vis da energia eltrica.

    8 1 GWh equivale a 1.000.000.000 Wats; 1MW compreende 1.000.000 Wats e 1 kW representa 1.000 Wats.

  • 145VOL. 15 | No 2 | 2o SEM. 2009

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