energia para geracoes

Upload: espeto-pipoca

Post on 17-Oct-2015

34 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    1/47

    E N E R G I A P A R A G E R A E S

    90 anos no Brasil

    www.she l l . com.b r

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    2/47

    E N E R G I A P A R A G E R A E S

    Jos Luiz Alqures

    Dilma Rousseff

    Ged Davis

    Pietro Erber

    Pedro Parente

    Tatiana Rosito

    Adilson de Oliveira

    Antonio Luiz Menezes

    Frederico M. Gomes

    Israel Klabin

    Felix de Bulhes e

    Shell Brasil

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    3/47

    SUMRIO

    Apresentao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7

    Linha do Tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10

    1. Energia e Vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17Energia para o Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21

    2. Cenrios Energia at 2050 A viso da Shell Internacional . . . . . .252.1. A importncia dos cenrios2.2. Condicionantes do futuro da energia2.3. Trajetrias alternativas de crescimento: cenrios2.4. Cenrio "Dinmica Usual"2.5. Cenrio "Nova Era"2.6. Suprimento sustentvel de energia

    3. Desafios Brasileiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .45

    3.1. Energia e Desenvolvimento Econmico e Social . . . . . . . . . . . . . . . .47Aprendendo com a crise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .54

    3.2. Energia e Tecnologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59Petrleo no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63Inovao tecnolgica em vrias frentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .66

    3.3. Energia e Meio Ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69Energia e desenvolvimento sustentvel: a questo ambiental . . . . . . . . . . . .75Ao empresarial em prol do ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .78

    4. Vencendo os desafios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .81

    Apndices . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .881. Apresentao dos colaboradores deste livro2. Unidades de Medida

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    4/47

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Aldo Castelli

    1. APRESENTAONa era moderna, a riqueza das naes se associa iniciativa de homens

    industriosos visionrios que arriscaram tudo para concretizar sonhos, projetos,e, a partir das suas prprias empresas, impulsionaram a histria recente. A Shell,que ora completa 90 anos no Brasil, orgulha-se de sua longa trajetria em nossoPas, do pioneirismo e desafios dos primeiros anos at o atual momento, decisi-vo para a humanidade: hoje, a produo da riqueza s admissvel se estiverafinada com os princpios fundamentais da vida, o respeito natureza e a dig-nidade da pessoa humana. Assim, a Shell Brasil continua balizando-se em ele-

    vados valores ticos, suprindo as necessidades do presente sem comprometer asfuturas geraes. neste contexto que a Shell chama a ateno para a importn-cia do debate sobre o desenvolvimento sustentvel no setor de gerao deenergia brasileiro.

    A questo da gerao de energia tornou-se estratgica, em um mundo no qualnovas tecnologias surgem a cada dia e os recursos naturais no so inesgotveis.A partir deste fato, empresas e naes devem buscar produzir levando em contano apenas os seus custos e as demandas dos consumidores, mas tambm osimpactos scio-ambientais de suas operaes. Neste quadro, ciente da histricainterdependncia entre a gerao de energia e o desenvolvimento econmico esocial, a Shell Brasil convidou expressivos nomes da sociedade brasileira para,nas pginas seguintes, relatarem suas vises sobre a importncia do bom supri-

    mento de energia para um futuro melhor do pas, como, por exemplo, a sintoniafina entre a gerao de energia e as novas tecnologias, o desenvolvimento sociale a preservao do meio ambiente.

    As questes do setor de gerao energtica a que nos dedicamos neste livrofazem jus a uma tradio histrica da Shell, cujo trabalho hoje transcende (emuito) a explorao, produo, refino e distribuio do petrleo. Nos 145pases em que est fixada, a Shell sempre procurou diversificar as suas iniciati-vas e apostar na inovao tecnolgica. No Brasil, a Companhia distribui com-bustveis, produz e comercializa lubrificantes, produz e transporta gs, investe

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    5/47

    em energia renovvel, entre inmeras outras iniciativas - todas pautadas nos mes-mos valores que fizeram da Shell um exemplo de integridade, competncia erespeito pelas pessoas. Nos ltimos anos, inaugurou diversas novas reas denegcios Gas Natural e Gerao de Energia, Explorao e Produo, ShellGas, Shell Marine, Shell Energy Efficiency, Shell Services e Shell Solar reforando o conceito de tornar-se uma companhia integrada de energia. No

    Brasil, a Shell colabora na gerao de cerca de 45 mil empregos diretos e indi-retos e tem cerca de US$ 2 bilhes de capital empregado. Investe por ano, nopas, cerca de US$ 200 milhes.

    Aldo Castelli Presidente da Shell Brasil

    E N E R G I A P A R A G E R A E SApresentao

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    6/47

    12

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Linha do Tempo

    HISTRIA DA SHELLNestes 90 anos de Brasil, a Shell comemora os resultados alcanados em

    uma trajetria marcada pelo pioneirismo e constante superao de desafios.Desde os tempos em que o Kerosene Aurora era distribudo em lombo de burroat hoje, a companhia passou por diversos processos de modernizao attornar-se uma das maiores distribuidoras de combustveis do Pas. Balizando-se emvalores ticos, que aliam o desenvolvimento econmico aos princpios de preser-vao do meio ambiente e de respeito ao indivduo, a Shell prossegue em suafirme caminhada na sociedade brasileira.

    1913. Em 9 de abril, decreto assinadopelo presidente Marechal Hermes daFonseca autoriza a funcionar no Brasila empresa The Anglo-MexicanPetroleum Products Company, uma

    associao do Grupo Shell e a iniciati-va privada mexicana.

    1913. No dia 15 de abril, a empresa d incio s suas atividades numpequeno prdio na rua da Alfndega, no Centro, Rio de Janeiro (RJ), entocapital da Repblica.

    1914. Em 5 de maio, a Anglo-Mexican inaugura oprimeiro depsito de leo combustvel do Brasil, no bair-ro da Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. A empresacomea a distribuir, no lombo de burros, alm dos leos

    combustveis industriais, o Kerosene Aurora, lubrificantes,leo diesel e a Gasolina Energina.

    1917. O nome da companhia muda, sendo suprimida apalavra Products, e a sede se transfere para a Rua Primeiro de Maro, tambmno Centro do Rio.

    1922. Surgem as primeiras bombas de gasolina em ruas e garagensde capitais e cidades do interior e tambm ao longo de rodovias.

    1927. Em fevereiro, acontece o primeiro vo comercial do Brasil. A Anglo-Mexican a primeira distribuidora de combustveis e lubrificantes para aeronaves.

    1929. Surgem os primeiros pos-tos de servios da Anglo-Mexican.

    1942. criada a FilmotecaShell, marco inicial do incentivo cultura no Pas.

    1945. A marca Energina deixade ser usada e o produto passaa se chamar Gasolina Shell.

    1946. No dia 8 de julho, a empresa ganha o nome da marca.A The Anglo-Mexican Petroleum Company passa a se chamarShell-Mex Brazil Limited.

    1950. A Shell comea a fornecer combustvel para a equipe italianade Frmula 1, Ferrari.

    1952. A inaugurao do Departamento de Produtos Qumicos, em So Paulo(SP), marca a primeira diversificao das atividades da companhia.

    1952. Em 20 de junho, a Shell Mex passa ase chamar Shell Brazil Ltd.

    1957. A bandeira Shell a primeira a chegar

    a Braslia, com a inaugurao do primeiroposto de abastecimento e servios da futuracapital do Pas.

    1961. Em 4 de agosto, de acordo com o decreto 51.137, assinado pelopresidente Jnio Quadros, a Shell se nacionalizou, passando a ser uma empresabrasileira de capital estrangeiro. Adquire a razo social de Shell Brasil S.A.A sede transferida de Londres para o Rio de Janeiro e os estatutos adaptados legislao do Pas.

    E N E R G I A P A R A G E R A E SLinha do Tempo

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    7/47

    14

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Linha do Tempo

    13

    E N E R G I A P A R A G E R A E SLinha do Tempo

    1970. Patrocina a srie de documentrios Shell Especial,na Rede Globo.

    1971. Em setembro, a Shell associa-se Petrleo Sabb,maior empresa privada de petrleo da Regio Norte.

    1973. criada a Pinacoteca da Shell.

    1975. Atravs da Pecten, subsidiria doGrupo Shell, se associa Petrobras nabacia de Santos, sob o formato de "con-trato de risco".

    1981. Lana o Prmio Shell de Msica,mais tradicional premiao na rea.

    1982. lanado o Shell Responde. A premiada publicao de dicas ao auto-mobilista e educao no trnsito, distribuda gratuitamente nos postos Shell, foi con-

    siderada uma das mais bem sucedidas aes de marketing de todo o Grupo Shell.

    1985. A Shell passa a patrocinar a McLaren. Em 10 temporadas, a parceria con-quistou seis campeonatos mundiais de construtores e sete de pilotos (com Niki Lauda,Alain Prost e, a partir de 1988, com Ayrton Senna).

    1987. inaugurada, em So Paulo, a primeira loja de convenincia em postode servios do Pas, sob a marca Express.

    1989. criado o Prmio Shell de Teatro.

    1990. A companhia lana o Programa Shell EsportesComunitrios, que teve cerca de seis mil crianas partici-pantes em Braslia, So Paulo e Rio de Janeiro nos qua-tro anos de atuao.

    1990. Participao da Shell Brasil na restaurao doMonumento do Cristo Redendetor, no Rio de Janeiro.

    1992. Lanamento da Formula Shell Gasolina.

    1993. A Pecten inicia a pro-duo de gs, juntamentecom a Petrobras, no Campode Merluza, na bacia deSantos - nico empreendi-mento de sucesso entre todos

    os contratos de risco.

    1993. Lanamento do Shell Formula Diesel.

    1994. Chega ao mercado brasileiro o Formula Shell lcool.

    1994. Os funcionrios da fbrica de lubrificantes da Shell, a Icolub, na Ilha doGovernador, comeam a participar, junto com a comunidade local, do projeto derecuperao do Manguezal do Jequi.

    1995. Chega ao Brasil a Select, marca Shell mundial de lojas de convenincia.

    1996. A Shell volta a patrocinar a Ferrari.

    1997. A empresa entra no mercado brasileiro de gs natural ao comprar, emleilo no dia 15 de janeiro, parte das aes da Companhia de Gs de SoPaulo (Comgs), complementando seus investimentos no Gasoduto Bolvia- Brasil.

    1997. No dia 12 de fevereiro, adquire a PetrogasDistribuidora, empresa paulista de engarrafamento e dis-tribuio de Gs Liqefeito de Petrleo, e cria a Shell Gas.

    1998. Em maro, agrega ao seu portflio a rea de Explorao e Produo, a

    fim de prospectar petrleo em guas martimas profundas.

    1998. Implanta o programa de multifidelizao Smart Club nas lojas Select.

    1999. lanado o sistema Integrado de Sade, Segurana e Meio Ambiente, ochamado HSE-MS, um dos pilares da poltica corporativa do Grupo Shell.

    2000. Rubens Barrichello vai para a Ferrari, e a Shell volta a patrocinar umpiloto brasileiro.

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    8/47

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Energia e Vida

    15

    E N E R G I A P A R A G E R A E SEnergia e Vida

    2000. A companhia implanta o pro-grama Saber Dividir, que visa sensi-bilizar os funcionrios para aimportncia de ser voluntrio.

    2001. No incio do ano,

    lanado o programa "DNA daShell" com o intuito de inibir aadulterao de combustveis emsua rede de postos.

    2001. Entra em ao o Iniciativa Jovem, programa que busca estimular oesprito empreendedor de jovens, com foco nos que se encontram emdesvantagem social.

    2001. Cria a Shell Energy Efficiency, diviso da rea de Gs Natural e Geraode Energia, cujo objetivo auxiliar clientes a reduzir o consumo de energia.

    2001. A Shell Marine Products inicia suas operaes em territrio nacional.

    2001. No fim do ano, torna-se a primeiracompanhia privada a encontrar petrleo depoisda abertura do mercado, no bloco BS-4, nabacia de Santos.

    2002. Em janeiro, a Shell Services comea a atuarem 14 pases, entre os quais, o Brasil, o nico daAmrica do Sul.

    2002. A d q u i r e , e m m a i o , a e m p r e s aEnterprise Oil, assumindo o desenvolvimentodos campos de petrleo de Bijupir e Salema,na bacia de Campos.

    2002. Entra em operao a termoeltrica de Cuiab (480 MW), com 28% departicipacao da Shell, suportada por um gasosuto de 621 Km, do qual a Shell scia com 50% do lado boliviano e 44% do lado brasileiro.

    2002. Com a aquisio da diviso solar daSiemens, em outubro, a empresa inicia suasoperaes na rea de energias renovveis,com a Shell Solar.

    2002. Os piltos da Ferrari, Michael Schumacher e

    Rubens Barrichello, ocupam os dois lugares mais altosdo pdio no fim da ltima temporada de Frmula 1.A Shell contabiliza, assim, at o fim de 2002, 216vitrias na F1, das quais 103 com a Ferrari.

    2003. Chega ao Brasil a gasolina Shell V-Power.

    2003. Com incio de produo do campo de Bijupir e Salema, em meados doano, a Shell Brasil se torna a primeira empresa a produzir petrleo depois daflexibilizao do monoplio estatal.

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    9/47

    1. ENERGIA E VIDA

    Jos Luiz Alqueres

    A vida em nosso planeta seria impossvel sem a converso de energia solar

    em biomassa, pela fotosntese. A vida humana e, particularmente, aquela dassociedades modernas urbanas, depende dessa forma primria de transformaode energia renovvel, que a alimenta, e tambm dos combustveis fsseis e fontesrenovveis, que facultam a produo e o transporte de bens e servios.

    O heri grego Prometeu, "o que antev", roubou do Olimpo o fogo sagrado a energia para d-lo aos homens. Colocou-os assim acima dos demais seresdo reino animal, na capacidade de multiplicar sua potncia, suas foras, suaproduo e sua percepo do mundo.

    A evoluo das sociedades humanas, desde as pocas mais primitivas, estligada a seu sucesso no controle das reservas de energia ou de seus fluxos.

    As civilizaes se desenvolveram pari passu ao domnio das tcnicas de con-verso e aproveitamento de energia, a partir da simples converso de alimentos

    em esforo muscular dos homens, passando pela produo de alimento para osanimais domesticados o arado traccionado por um cavalo poupa o esforo deoito a dez homens e seguindo por toda a cadeia de inovaes tecnolgicas.A energia hidrulica e a elica foram das primeiras energias renovveis, alm dalenha, a serem utilizadas no mundo antigo, sendo que as tecnologias de suaexplorao experimentaram grande progresso na Idade Mdia. H apenas trssculos passou-se a empregar o calor, da queima do carvo mineral e da lenha,para obteno de energia mecnica, embora essa possibilidade j fosseconhecida h dois milnios, quando foi aplicada por Heron, de Alexandria.

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    10/47

    19

    E N E R G I A P A R A G E R A E SEnergia e Vida

    20

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Jos Luiz Alqueres

    Com a revoluo industrial, a utilizao de mquina a vapor e subsequenteutilizao de diferentes combustveis para produo de calor e movimento - lenha,carvo vegetal, carvo mineral, leo, gs natural, combustveis nucleares - a vidahumana mudou. O efeito da crescente utilizao de energia sobre as condiesnaturais da vida em todo o planeta passou a ser questionado face estar pondoem risco a prpria sobrevivncia da humanidade.

    Vida ou Morte? Bem-estar ou destruio? Qual ser o balano da utilizaode energia pelo homem? O fogo de Prometeu viabilizou a metalurgia, a fabri-cao de utenslios para maior produtividade do trabalho, a concentrao daspopulaes em cidades, os deslocamentos a grandes distncias, a ocupao deregies antes no habitveis, e o aumento da produo de alimentos. O consumotil de energia por uma sociedade passou a ser o melhor indicador de seu graude desenvolvimento econmico e cultural. Entretanto, desde as mais primitivastcnicas de trabalho em metais, a energia tambm tem sido a grande viabi-lizadora de instrumentos de guerra cada vez mais mortferos e devastadores.

    O USO DA ENERGIAA energia deve estar a servio da sociedade e este tem sido o objeto de dife-

    rentes concepes da organizao da sua produo e suprimento.Na grande tradio da inovao, os industriais do final do sculo 19 e in-

    cio do sculo 20 criaram uma multiplicidade de equipamentos, levando agrandes segmentos da populao mundial os benefcios de uma vida melhor.O progresso das cincias, o estmulo da competio e a expanso dos mer-cados, levaram ao desenvolvimento de aparelhos de iluminao, eletrodoms-ticos, meios de transporte. Uma infinidade de aplicaes da energia foram seaperfeioando e vieram a modificar os padres de qualidade de vida queprevaleciam no passado.

    A organizao da produo de energia ao longo do sculo 20 foi objeto dediferentes concepes, especialmente no tocante ao papel reservado ao Estadoe iniciativa privada. To convictos do poder transformador da energia sobre asociedade, os regimes socialistas e comunistas impuseram sua produo edistribuio como monoplios de Estado. Mais tarde, esta ortodoxia se flexibili-zou e hoje, um sculo aps, a prevalncia das solues de mercado.

    A poltica energtica continua sendo entendida como fator essencial aodesenvolvimento das sociedades. Ela se far, cada vez mais, luz de relaesestabelecidas num contexto de economia de mercado, balizadas por prioridadessociais e pela necessidade de mitigar e minorar os efeitos locais e globais daproduo e consumo e de energia sobre o meio ambiente fsico e social.

    Como os homens obtm a energia que utilizam? Dado que os combustveisfsseis so a fonte principal cerca de 80% da energia, da resultam emissesde poluentes atmosfricos e mudana de clima pelo aquecimento da atmosfera,devido ao efeito estufa.

    Essa predominncia dos combustveis fsseis e sua desigual distribuiogeogrfica entre os pases tem sido uma fonte permanente de tenses, volatili-dade de preos e guerras.

    Quando se observam as tendncias futuras, as preocupaes quanto apossveis restries no suprimento afloram porque os limitados recursosenergticos faro frente a uma crescente demanda, alimentada pela expan-so demogrfica, econmica e pela superao da pobreza por parte signi-ficativa das populaes mundiais.

    Nesse contexto destacam-se dois fatores decisivos na compreenso do futuroenergtico do mundo.

    O primeiro resulta das relaes entre energia e desenvolvimento social. Umaoferta de energia a preos razoveis fundamental para o desenvolvimento.Embora ainda no resolvido em muitos pases, esse problema da expanso daoferta vem apresentando progresso com a crescente utilizao de energia defontes comerciais, o que resulta em maior eficincia na sua utilizao. O des-perdcio devido a hbitos inadequados de consumo e a pouca eficincia dosaparelhos consumidores ainda so grandes.Na medida, porm, em que sereduza o uso predatrio e no-sustentvel e as foras de mercado faam prevale-cer sinais adequados de preo para as formas comerciais de energia, seroinduzidos melhores hbitos de consumo e adotados equipamentos mais eficientes,levando ao uso de energia de forma cada vez mais eficaz e mais limpo.

    Combustveis Fsseis 80%Carvo 23%Petrleo 36%

    Gs natural 21%Energia Nuclear 6%Energias Renovveis 14%

    Estatstica Mundial da Participao das Fontes de Energia

    Evoluo do Consumo Mundial de Energia em GtepFonte Consumo(1850/2000) Reservas + RecursosCarvo 148 3.370Petrleo 123 788Gs Natural 61 87

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    11/47

    O segundo fator o desenvolvimento tecnolgico que favorecer a melhorquantificao das reservas de energia, o desenvolvimento de formas maiseconmicas de explorar e colocar disposio dos consumidores essas reservas,bem como a de equipamentos utilizadores de energia na indstria, nas residn-cias e no setor de comrcio e servios.

    O CONHECIMENTO RELACIONADO ENERGIAEmpresas de energia eltrica, petrleo, gs, carbonferas, de energia nucleare das energias alternativas, como a solar e elica, ncleos de desenvolvimentotecnolgico que promovem a energia nuclear ou a "era do hidrognio" tm sidoos grandes condutores de estudos globais sobre perspectivas de longo prazo.

    De vises inicialmente simplistas e tendenciais, estes estudos ganharamprofundidade e passaram a envolver agentes de mltiplos setores: estudiososda economia, das alteraes climticas, do desenvolvimento scio-poltico,de tecnologia, de estratgia militar e de inmeros outros segmentos doconhecimento humano.

    O Grupo Shell tem se destacado nos ltimos anos como uma das principaissedes desse saber e esse conhecimento que mediante este livro, valorizado pela

    contribuio de especialistas brasileiros, repartido de forma ampla com asociedade e, em particular, com aqueles que, profissionalmente ou comocidados, se interessam pelo tema da energia na sua dimenso atual e na suaconsiderao para as geraes futuras.

    E N E R G I A P A R A G E R A E SEnergia e Vida

    22

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Dilma Rousseff

    Energia para o Brasil

    A situao do setor de energia eltrica no incio de 2003 imps ao GovernoBrasileiro a necessidade de uma profunda redefinio de prioridades de forma asuperar grandes desafios, tais como:

    equacionamento do modelo de desenvolvimento sustentvel para osetor de energia; soluo dos problemas emergenciais da atual crise no setor de energia eltrica; compatibilizao da poltica setorial com a poltica macroeconmica do

    Governo Federal.

    Essas prioridades vm se traduzindo em aes cuja implementao requereu,em um primeiro momento, diagnstico abrangente dos problemas, de forma aorientar as estratgias para seu enfrentamento. O segundo passo a formulaodas solues, necessariamente equilibradas e integradas, de modo a que os resul-tados contribuam para o benefcio geral e no privilegiem um ou outro agenteda cadeia de produo.

    Alguns elementos desse diagnstico so:

    o setor de energia eltrica recebeu aportes de recursos de investidoresnacionais e internacionais em um momento de pico da valorizao de ativos;hoje, no apenas as companhias de distribuio brasileiras mas tambm empre-sas globais do setor de energia, bens de capital, telecomunicaes, informtica,etc., sofrem o efeito da desvalorizao desses ativos, muitas destas at de formamais aguda que aquelas;

    desde 1997, quando se intensificou o processo de privatizao das dis-tribuidoras de energia eltrica, a taxa de cmbio se elevou substancialmente,trazendo presses sobre os custos dessas empresas e revertendo as expectativas

    que tinham quando ento definiram suas estratgias empresariais; a volatilidade que apresentaram vrios mercados e, mais recentemente, a crisede confiana sobre os resultados de empresas globais de vrios setores refletiram-seno mercado internacional de capitais, aumentando a "averso ao risco" dos investi-dores e virtualmente paralisando o fluxo de capitais para os mercados emergentes;

    a atuao das agncias reguladoras por vezes introduziu elementos adi-cionais de incerteza na definio das estratgias empresariais, sobretudo no que

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    12/47

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Dilma Rousseff

    23

    E N E R G I A P A R A G E R A E SEnergia para o Brasil

    se refere deciso por novos investimentos: a definio dos "valores normativos"para a nova gerao de energia exemplo tpico;

    um dos principais benefcios de se dispor de um processo de planejamentoativo e integrado seria aproveitar a sinergia inerente s cadeias produtivas; adesarticulao do planejamento na rea de energia impediu a otimizao dosresultados, com reflexos na oferta de emprego e na qualidade de vida da popu-

    lao: o racionamento ocorrido entre junho de 2001 e fevereiro de 2002 seuelemento mais visvel; a indita interrupo do crescimento do consumo de energia eltrica, que se

    seguiu ao racionamento, no s introduziu novo elemento na avaliao de riscopor parte dos investidores como tambm retirou, ou reduziu drasticamente, a pos-sibilidade de se implementar ajustes corretivos no setor, na medida em que o con-texto foi alterado para o de uma situao econmica desfavorvel, em que osagentes foram penalizados de forma desigual. A maior evidncia dessa situao a sobre-oferta de energia, superior a 7.000 MW, comprometendo a situaofinanceira de distribuidores e geradores.

    Esse diagnstico impe desafios cujo enfrentamento no trivial. Na direo

    de super-los j est em marcha a implantao de solues, as quais devemobservar alguns princpios bsicos, ratificados pela populao no ltimo pleitopresidencial:

    polticas pblicas para o setor de energia so essenciais. No foi a partici-pao privada que gerou a crise que o setor atravessa e sim a falta dessas polti-cas. O Ministrio de Minas e Energia est empenhado na formulao de polti-cas claras e que consultem ao interesse pblico. E bom deixar claro que issono significa uma volta ao passado, ou seja, polticas pblicas no querem dizerreestatizao, caminho que no parece ser vivel nem oportuno;

    o planejamento setorial de longo prazo vital. Os agentes carecem, paradefinirem adequadamente suas estratgias empresariais, de sinalizao segura econfivel do futuro. Contudo, o planejamento deve ser estruturado de forma trans-parente e aberta para toda a sociedade;

    o tratamento dos problemas emergenciais crucial. As questes que hojeafligem os agentes setoriais recebero solues concebidas, de um lado, de

    forma a garantir que sejam compatveis e consistentes com o quadro mais amplode solues permanentes e estruturais e, de outro, de modo a assegurar que atransio seja o menos possvel custosa para os agentes e os consumidores;

    a partir de uma concepo moderna de Estado, a integrao da polticasetorial com as polticas para os demais setores da economia fundamental. Para

    tanto, so bsicos o conhecimento das cadeias produtivas e o apoio a iniciativasque tragam benefcios para a economia brasileira como um todo e no apenaspara o setor de energia. Um exemplo de ao observando este princpio adeciso de aumentar a participao nacional nas encomendas das plataformasP-51 e P-52 da Petrobrs, que recebeu apoio geral da indstria.

    Temos hoje um calendrio de curto prazo no tocante s aes emergenciais.Alm disso, o tempo tambm curto para a necessria reestruturao do mode-lo setorial de energia eltrica, que dever estar formulado at o segundo semes-tre deste ano e cujo desenvolvimento envolver, ainda, os Ministrios da Fazendae do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior, dentre outros.

    No setor de energia eltrica, no se cogita abolir prticas de mercado. Mas

    a competio na gerao deve permitir que os benefcios dela decorrentes pos-sam ser percebidos e apreendidos pelos consumidores finais. As vantagenseconmicas obtidas com o menor preo ofertado no processo competitivo pelagerao sero repassadas aos consumidores.

    O futuro da energia no Brasil ser assegurado por polticas pblicas formuladascom base na compreenso dos papis vitais tanto da iniciativa privada como doEstado para o desenvolvimento econmico da Nao, na direo da reduo dapobreza, das desigualdades regionais e da maior integrao da Amrica do Sul.

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    13/47

    2. CENRIOS - ENERGIA AT 2050A Viso do Grupo Shell

    Shell Brasil

    2.1. Importncia dos Cenrios

    Ao longo do sculo 20, o suprimento mundial de energia t ransformou-se a par-tir de um sistema dominado pela energia do carvo at o panorama atual queapresenta grande diversidade de combustveis e tecnologias (figura 2.1). provvel que, neste sculo, as mudanas venham a ser tambm to ou mais rad-icais do que no sculo passado. Mas quais?

    Hoje em dia, essencial imaginar possibilidades de mudana para melhorembasar a ao dos investidores, dos formuladores de poltica, dos quedelineiam as regulamentaes, dos cidados que pensam no futuro das suasfamlias, comunidades e mundo.

    claro que esse processo se constitui num exerccio, j que no podemoster certeza quanto ao futuro. Mas podemos refletir sobre ele questionar

    hipteses, reconhecer incertezas crticas, compreender a dinmica dos fatosque o condicionam.

    H 30 anos, a Shell vem usando cenrios que auxiliam na reflexo sobre ofuturo. Eles so construdos a partir da experincia nos negcios de energia edesenvolvimento de tecnologia e com valiosa contribuio de consultoria espe-cializada externa.

    Sabemos que no podemos explorar todos aspectos do futuro. Temos quemanter o foco nas questes que importam para as decises que temos que tomarhoje. Alm disso, os cenrios tm que ser questionadores. Eles no so um fim

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    14/47

    28

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Shell Brasil

    27

    E N E R G I A P A R A G E R A E SCenrios Energia

    em si mesmo mas ferramentas para estimular e orientar o pensamento. Segundoa experincia da Shell, a utilizao da tcnica de cenrios funciona melhorquando eles so constitudos contrapondo duas histrias alternativas instigantes.Por isso, aps algumas consideraes bsicas sobre a energia, vamos apresen-tar nossos dois cenrios de referncia:

    Dinmica Usual; Nova Era.

    Quais as perguntas que os cenrios de longo prazo elaborados pela Shellprocuram responder?

    Primeiro, existe uma questo preponderante sobre a capacidade de umsistema dinmico de energia responder mudana climtica. O que dever mo-delar o sistema para que se interrompa o crescimento das emisses de dixidode carbono induzidas pelo homem nos 50 anos vindouros e levem a uma esta-bilizao dos nveis de carbono a nveis inferiores a 550 ppmv (partes pormilho, em volume) sem inibir o desenvolvimento econmico?

    Escolhemos esse nvel de 550 ppmv porque o mesmo tem sido aceito como de

    segurana mxima. De acordo com os dados mais recentes do IPCC PainelIntergovernamental sobre Mudana Climtica, at 2100, sua manuteno provo-caria um aquecimento mdio de 2C (no intervalo entre 1.4 a 3.2) e 30cm deelevao do nvel do mar (no intervalo de 10 a 55cm). Mas, na realidade, nosabemos qual o nvel seguro para carbono na atmosfera e provavelmente nuncasaberemos. Podemos apenas reconhecer a incerteza dentro da qual temos que agire estarmos preparados para nos ajustarmos medida que o conhecimento evolui.

    Outras questes fundamentais exploradas nesses cenrios incluem:

    Quando as fontes de petrleo e gs no podero mais atender ao cresci-mento da demanda? E o que ir substituir o petrleo no setor de transporte?

    Qual a tecnologia que ir vencer a corrida para melhorar os automveis? Quem ir liderar a expanso das fontes renovveis de energia necessria

    para a reduo de custos? E como poder ser resolvido o problema de armazena-mento da energia para fontes renovveis intermitentes como a energia solar?

    Como a demanda por energia ir influenciar o sistema de energia? Como poderia se desenvolver uma infra-estrutura de hidrognio? Como a ndia e a China equilibraro as necessidades crescentes de energia

    com o aumento da dependncia das importaes e com a degradao ambiental? Como as escolhas dos consumidores e cidados afetaro a trajetria da energia?

    figura 2.1. Evoluo do sistema de energia 1850-2000

    2.2. CONDICIONANTES DO FUTURO DA ENERGIADestacamos quatro influncias importantes na modelagem do futuro da energia:

    demografia; urbanizao; renda; desregulamentao.

    Projees demogrficas recentes das Naes Unidas indicam que em2050, teremos 8,5 bilhes de pessoas dos quais mais de 80% provavel-mente vivendo nas cidades. Isso representa claramente um grande aumentodas necessidades de energia.

    80%

    60%

    40%

    20%

    0%1800 1875 1900 1925 1950 1975 2000

    tradicional

    carvo

    petrleo

    gs

    hidreltrica

    nuclear

    renovveis

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    15/47

    30

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Shell Brasil

    29

    E N E R G I A P A R A G E R A E SCenrios Energia

    A riqueza est aumentando e se disseminando. Mesmo um crescimentoeconmico consideravelmente mais lento do que o ocorrido na metade do scu-lo passado poderia propiciar a melhor distribuio da riqueza at 2050. Mas oconsumo de energia cresceria menos vagarosamente a relao entre a deman-da de energia e a riqueza muda medida que a renda aumenta e os pasessobem a escada da energia.

    Devemos nos lembrar que muitas pessoas sequer chegaram ao degraumais baixo da escada. Talvez dois bilhes de pessoas ainda dependam deformas tradicionais, no- comerciais , de energia: sofrem desgaste fsico aobuscarem energia, causam danos sade pelo seu uso e so excludas dasamenidades que outras pessoas j consideram como naturais. Outros trsbilhes de pessoas apenas atendem s condies bsicas para terem aces-so energia. Capacitar essas pessoas a comearem a subir a escada daenergia um grande desafio.

    Comparando-se o crescimento da energia com o da renda per capita pos-svel ver um padro comum em muitos pases (figura 2.2):

    At cerca de 3 mil dlares de renda per capita, a demanda de energia

    tem um crescimento explosivo em funo da industrializao e da conquistada mobilidade pessoal;

    Entre 3 e 10.000 dlares de renda per capita, o crescimento da demandadiminui medida que se esgota o primeiro passo da industrializao;

    Entre 10.000 e 15.000 dlares, o consumo de energia cresce maisvagarosamente do que a renda medida que as necessidades domsticas soatendidas, a industrializao se equilibra e os setores de servios dominam ocrescimento econmico;

    Da at 25.000 dlares, o crescimento econmico j pouco exige emtermos incrementais de energia na medida em que os mercados ficam saturados.

    Na primeira metade do sculo 21 o sistema de energia provavelmente irenfrentar seu maior desafio porque a maioria da populao mundial estar ultra-passando os degraus iniciais da escala.

    As necessidades de energia reduzem-se medida que as melhorias aumen-tam a eficincia. O grande aumento da eficincia dos motores a vapor em doissculos d uma idia da importncia dessas melhorias.

    A melhor tecnologia disponvel 25% mais eficiente do que a mdia instala-da, o que se traduz na existncia de equipamentos que usam muita energia jque os baixos custos da energia desestimulam os investimentos em eficincia. O

    acesso a novas tecnologias permite que os pases que se desenvolveram maisrecentemente subam a escada da energia mais rapidamente e necessitem pro-porcionalmente de menos energia.

    figura 2.2. A escada da energia uma relao em constante mudana

    Mercados desregulamentados propiciam uma maior eficincia e abrem novaspossibilidades de novas solues de suprimento de energia.

    O que tudo isso significa em termos de demanda de energia? Assumindo queno apaream novos usos de energia e dependendo da motivao para investir,o consumo global poderia chegar saturao entre 100 e 200 GJ per capita.Colocando isso em perspectiva, hoje consumimos uma mdia de 160 GJ por pes-soa na Europa Ocidental. Nesse quadro, o mundo precisaria, at 2050, de duasa trs vezes o volume de energia que consome hoje. A diferena significativamas no ir determinar a trajetria da energia apenas a sua cronologia.

    350GJ / capita

    GDP / capita ('000 1997S PPP) fonte: MF, BP

    250

    150

    50

    0

    0 5 10 15 20 25 30

    EUA

    Austrlia

    UE

    Japo

    Coria

    Malsia

    Tailndia

    China

    Brasil

    ndia

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    16/47

    32

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Shell Brasil

    31

    E N E R G I A P A R A G E R A E SCenrios Energia

    Os fatores decisivos para o nvel de demanda de energia so :

    limitaes de recursos, desenvolvimento tecnolgico e mudana social e prioridades pessoais.

    Algumas pessoas vem restries iminentes na capacidade dos combustveisfsseis de continuarem atendendo ao crescimento da demanda de energia.Acreditamos que a escassez de petrleo incluindo aquele proveniente de

    fontes no convencionais e ainda complementado pelo gs natural improvvel antes de 2025 e poderia acontecer bem mais tarde. Isso basea-do em estimativas da USGS (US Geological Survey) de uma reserva de 3trilhes de barris de petrleo recupervel e de mais de um trilho adicional depetrleos pesados e LNGs (fig. 2.3). Os preos continuariam a ser delimita-dos de acordo com a nossa capacidade de acessar novos reservatrios edesenvolver substitutos para o petrleo.

    figura 2.3. A montanha do petrleo

    Fontes de gs so ainda mais incertas. A escassez tanto poderia ocorrer jem 2025 como talvez bem depois de 2050. O problema mais imediato sepodemos, ou devemos, desenvolver a infra-estrutura para entregar gs de formaeconomicamente vivel em locais remotos.

    No h escassez de carvo. No entanto, grandes recursos esto concentra-dos em alguns poucos pases e esto ficando cada vez mais caros para serem

    explorados e usados de forma ambientalmente aceitvel.Os recursos renovveis so adequados para atender as necessidades, a despeitoda concorrncia com o uso da terra para alimentos e lazer (fig. 2.4). Mas o amplo usode energia solar e elica ir demandar novas formas de armazenamento de energia.

    Os avanos tecnolgicos so fundamentais para transies no setor de energia.O motor a vapor, o dnamo eltrico, o motor de combusto interna, as turbinas ags de ciclo combinado foram bem sucedidos porque ofereceram uma qualidadesuperior transformando estilos de vida e modos de fornecimento de energia.

    figura 2.4. Energias Renovveis podem ser adequadas para atender a todas asdemandas de energia de 10 bilhes de pessoas

    125

    mln bbl / dia

    50 7,5%ao ano

    2%ao ano

    75

    100

    25

    01950 1975 2000 2025 2050

    1000GJ per capita

    400

    600

    800

    200

    dema

    nda

    0

    Amri

    cadoN

    orte

    Amri

    cadoS

    ul

    Europ

    a

    AntigaUn

    io

    Sovi

    tica f

    rica

    Orien

    teMd

    ioe

    Nort

    edaAfrica s

    iaTo

    tal

    hidroeltrica

    elica

    solar

    geotrmica

    biomassa

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    17/47

    34

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Shell Brasil

    33

    E N E R G I A P A R A G E R A E SCenrios Energia

    Duas tecnologias transformadoras de energia merecem ateno especial. Aenergia solar fotovoltica oferece a possibilidade de energia abundante direta eamplamente distribuda. As clulas de combustvel de hidrognio oferecem apossibilidade de um alto desempenho e energia limpa a partir do consumo deuma variedade de combustveis.

    Ambas encontram-se nos estgios iniciais de desenvolvimento do processo

    da inveno at a comercializao e enfrentam grandes desafios. O armazena-mento de energia o problema fundamental e ambas ainda tero um longo cami-nho a percorrer em termos de reduo de custos.

    O mundo est entrando num perodo muito inovador para o desenvolvimentoda energia. Mais recursos do que tinham sido destinados anteriormente estosendo usados para pesquisa cientfica e desenvolvimento tecnolgico.Tecnologia de informao e de comunicaes oferecem novas formas de anali-sar a informao e compartilhar o conhecimento. Avanos em biotecnologia, tec-nologia de materiais tais como nanofibras de carbono e computao iro apoiaro desenvolvimento de biocombustveis, clulas de combustvel, novos transporta-dores de energia como hidrognio, redes de micro-energia e novas geraes detecnologias solares (fig. 2.5).

    figura 2.5. Descontinuidades das tecnologias de Energia

    Cada um desses avanos tem o potencial de provocar os maioresimpactos no sistema de energia. No entanto, muito difcil escolher osvencedores. No incio do sculo passado, o motor de combusto internaparecia uma escolha improvvel at que Henry Ford viabilizou a massifi-cao de sua fabricao.

    Na base do desenvolvimento da energia est a influncia das pessoas que

    se expressam atravs das suas preferncias pessoais como consumidores e suasprioridades como cidados.

    2.4. TRAJETRIAS ALTERNATIVAS DE CRESCIMENTO: CENRIOSPodemos oferecer dois cenrios alternativos para o desenvolvimento do sis-

    tema de energia durante a primeira metade deste sculo (fig. 2.6).

    figura 2.6. Cenrios derivados das trajetrias alternativas de crescimento

    O primeiro chamado de Dinmica Usual. Ele se concentra na opo doscidados por uma energia limpa, segura e sustentvel que frente crescenteescassez de recursos orienta a evoluo da oferta e a valorizao das fontes

    1800

    1850

    1900

    2000

    2050

    direto: madeira, vento, gua, animais

    motor a vapor: carvo 1830 - 1900

    dnamo eltrico: carvo 1905 - 1940

    motor de combusto interna: petrleo 1910 - 1970

    nuclear 1970 - 1990

    CCGT: Gs 1990 - ?

    VANTAGEM PRODUTIVA

    clula combustvelhidrognio

    eletricidade diretasolar

    - demografia

    - urbanizao

    - restriesde recursos

    - tecnologias

    - prioridadessociais epessoais

    INOVAO

    e

    COMPETIO

    opesdeene

    rgia

    (cidados)

    sistemaevolutiv

    o

    DINMICA

    USUAL

    ESPRITODANOVAERA

    opesdeenergia(consumidores)desenvolvimentosrevolucionrios- renda e

    demanda- liberalizao

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    18/47

    36

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Shell Brasil

    35

    E N E R G I A P A R A G E R A E SCenrios Energia

    renovveis. No entanto, essa transio est longe de ser suave e reflete a con-corrncia intensa entre prioridades e tecnologias.

    Este cenrio explora a continuao da dinmica que modelou a evoluo daoferta de energia na direo de combustveis de baixo carbono tendo a eletri-cidade como condutora como resposta s demandas para uma energia limpae mais conveniente.

    J o cenrio Nova Era se concentra na opo por parte dos consumidores portecnologias revolucionrias emergindo de reas inesperadas que transformamo sistema. Geralmente essas possibilidades so menos exploradas.

    Os dois cenrios refletem diferenas nos recursos energticos, no tempo ena natureza dos desenvolvimentos da tecnologia e nas prioridades pessoais esociais. Essas que iro determinar a trajetria nas prximas duas ou trsdcadas embora os elementos subjacentes possam eventualmente se unir nasegunda metade do sculo.

    No entanto, os cenrios tambm tm traos comuns importantes, incluindo:

    o papel vital do gs natural como um combustvel-ponte pelo menos nasprximas duas dcadas,

    as presses sobre o mercado de petrleo medida que se difundem novastecnologias,

    a guinada na direo da oferta associada de energia eltrica e calor dis-tribudo, por razes sociais e econmicas e

    o potencial das energias renovveis como fonte primria de energia, caso sejamencontradas solues robustas para a conservao e armazenamento de energia.

    2.5. CENRIO: DINMICA USUALOs principais segmentos temporais deste cenrio so :

    a boa resposta das tecnologias existentes aos novos desafios; a corrida para o gs; a exploso de crescimento das energias renovveis e sua estabilizao; a substituio do petrleo e o renascimento das energias renovveis.

    A boa resposta das tecnologias existentesA demanda por uma energia limpa, segura e sustentvel estimula a busca

    da eficincia da energia nas tecnologias existentes, particularmente emrelao ao motor de combusto interna. Combusto interna avanada emotores hbridos so desenvolvidos para terem o mesmo desempenho de

    veculos padro mas usando apenas 1/3 do combustvel. Os inconve-nientes do abastecimento reduzem o apelo dos veculos movidos a clulas decombustvel. A disseminao de veculos de alta eficincia perturba osmercados de petrleo. Os preos ficaro reprimidos at que se consolidempela demanda crescente por combustveis para aquecimento e transporte dospases em desenvolvimento aps 2015. O consumo de petrleo cresce de

    forma constante mas fraca durante 25 anos.Corrida para o gs

    O uso de gs natural se expande rapidamente no incio do sculo refletindosuas vantagens econmicas e ambientais nos mercados desregulamentados.Onde houver disponibilidade de gs, ele alimenta a nova gerao de energia eresponde por trs quartos da capacidade incremental da OCDE - Organizaopara a Cooperao e Desenvolvimento Econmico at 2015. Antigas usinasgeradoras a carvo no podem atender aos rigorosos padres de emisso esero substitudas por gs.

    figura 2.7. A histria de duas pocas crescimento e estabilizao da

    oferta de energias renovveisE J

    50

    - preocupaes ambientais e sociais- notoriedades para energia verde- forte suporte governamental

    75

    25

    02000 2010 2020 2030

    - descontinuidades emergem

    - estagnao da demandana OCDE- barreiras expanso

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    19/47

    38

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Shell Brasil

    37

    E N E R G I A P A R A G E R A E SCenrios Energia

    Os custos crescentes e a complexidade logstica de se expandir as entregas decarvo a partir das minas localizadas no noroeste, esto fazendo com que aChina se apresse a abraar mais firmemente os projetos de importao de gs.Surgem redes de gs na Amrica Latina e em toda a sia. O comrcio de LNG(Gs Natural Liquefeito) em grande escala fica cada vez mais competitivo. Em2020 o gs desafia o petrleo como a fonte dominante de energia primria. Noentanto, a expanso fica limitada pelas preocupaes de fornecimento seguro ebaixos preos. Novas unidades nucleares tm problemas de concorrncia em mer-cados desregulamentados. Grande parte da capacidade nuclear existente man-tida. Mas a energia nuclear continua perdendo mercado nos pases da OCDE.

    Exploso de crescimento das energias renovveis e sua estabilizaoO forte apoio governamental nos pases da OCDE permite que a energia re-

    novvel cresa rapidamente por duas dcadas e seja distribuda atravs de redesde eletricidade. Os custos da energia elica continuam a cair medida que asturbinas superam 3 MW de tamanho. O comissionamento de uma unidade deproduo fotovoltaica de 200 MW antes de 2010 melhora dramaticamente aprodutividade. Mercados desregulamentados oferecem oportunidades para

    energia verde. Em 2020, uma grande variedade de fontes renovveis estsuprindo um quinto da eletricidade de muitos mercados da OCDE e quase umdcimo da energia global primria. A o crescimento se estabiliza (figura 2.7).

    As comunidades rurais que aceitaram alguns moinhos de vento passam a rejeit-los quando so aos milhares. Os custos logsticos, a disponibilidade de terra e pre-ocupaes ambientais evitam o desenvolvimento em grande escala da eletricidadeda biomassa. O pequeno avano em termos de armazenamento e a confiabilidadeda rede de transmisso impedem maiores crescimentos da energia solar e elica.Embora a populao apie as energias renovveis, o crescimento limitado da eletri-cidade reduz a expanso nos pases da OCDE. Nos pases em desenvolvimento,as energias renovveis no concorrem com os recursos convencionais de baixocusto. A exploso de crescimento fez nascer um conjunto de tecnologias vento,

    solar, biomassa e geotrmica que pouco se beneficiaram dos avanos de cadauma. medida que as energias renovveis atingem uma estagnao e cresce apreocupao com a segurana do suprimento do gs, no fica claro qual o com-bustvel que alimentar as futuras necessidades de energia. A energia nuclear tentaum retorno parcial, particularmente na sia. Investimentos em maior eficincia noconsumo de energia consomem tempo. As tecnologias conhecidas enfrentam cres-centes dificuldades em atender aos padres ambientais cada vez mais restritivos. um perodo de grandes dilemas de poltica de energia (perodo 2025/2040).

    A substituio do petrleo e o renascimento das energias renovveisEm 2040, quando o petrleo se tornar escasso, avanos em biotecnologia,

    junto com uma grande eficincia dos veculos, permitem uma transio relativa-mente suave para biocombustveis lquidos. Os sistemas de transporte nessapoca podero ser modificados a um custo baixo. Surge uma nova gerao detecnologias de energias renovveis. So desenvolvidas novas formas dearmazenamento e utilizao de energia solar produzida de forma distribuida. Em2050, as energias renovveis atingem um tero da energia mundial primria ealimentam a maior parte da energia incremental .

    2.5. CENRIO NOVA ERAOs principais segmentos temporais deste cenrio so:

    a quebra de paradigmas, a clula de combustvel, o salto de desenvolvimento da China, uma economia do hidrognio.

    Quebrando ParadigmasO walkman da Sony sistematicamente descartado por grupos especializados computadores portteis e telefones celulares so exemplos de inovaes quequebraram os paradigmas existentes.

    Esses desenvolvimentos geralmente se originam nas fissuras de nichos de mer-cado ignorados pelos fornecedores onde as limitaes fsicas foram a ino-vao e os consumidores se dispem a pagar a mais por isso.

    Os fabricantes de automveis sabem que os veculos movidos a clulas de com-bustvel caem no gosto do pblico porque so mais limpos, silenciosos e tm um altodesempenho. Tambm exigem maior quantidade de inovaes: comunicaes digi-tais, pr-entrada em servio do aquecimento e refrigerao e mais lazer dentro docarro. Os consumidores desejam, mas essas inovaes consomem muita energia.

    A limitao passa a ser a infra-estrutura de distribuio de combustveis eos riscos comerciais do seu desenvolvimento. Isso superado pelo desen-volvimento de um novo combustvel "dentro da caixa" para veculos movidos aclulas de combustvel emergindo de aplicaes em pequena escala embicicletas, computadores e telefones celulares. Caixas vedadas evitam riscos sade. O combustvel lquido de petrleo, gs ou biomassa reformu-lado para hidrognio nos veculos. Isso reflete o maior volume ocupado emcomparao com o gs e baterias .

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    20/47

    40

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Shell Brasil

    39

    E N E R G I A P A R A G E R A E SCenrios Energia

    Combustveis embalados quebram o paradigma da distribuio. Umaembalagem de combustvel de 12 litros suficiente para 400 km. Podemser vendidos atravs de uma grande quantidade de canais mesmo emmquinas de auto-atendimento como os refrigerantes ou entregues adomiclio. Tambm so populares nos pases em desenvolvimento comlimitada infra-estrutura de combustvel e limitaes de espao urbano onde muitos consumidores s podem comprar pequenas quantidades decombustvel de cada vez.

    A clula de combustvelA demanda por clulas de combustvel estacionrias, para os usurios que

    admitem pagar mais caro para garantir energia de alta confiabilidade, ajuda areduzir os seus custos a um nvel abaixo de 500 dlares por kW. Isso cria umaplataforma para usos do setor de transporte, estimulando futuras redues decusto bem abaixo da energia convencional e tecnologias de calor. Prdioscomerciais e residenciais instalam sistemas de baixo custo alimentados a partirda rede existente de gs natural e comercializam eletricidade na hora de picoatravs de mercados na Internet. gua quente fornecida pelo excesso de calor

    gerado pelas clulas de combustvel.Os automveis no precisam mais ficar ociosos durante 95% do tempo.Usando "estaes de acoplamento" eles podem fornecer energia para casas eedifcios. Esses desenvolvimentos atendem s necessidades das economiasemergentes substituindo GLP, querosene, lmpadas e foges tradicionais.Caminhes, em localidades remotas de pases em desenvolvimento, podero,quando estacionados, fornecer energia.

    Em 2025, um quarto da frota de veculos da OCDE usa clulas de com-bustvel que respondem por metade dos novos veculos nos pases daOCDE e um quarto dos novos veculos do mundo. A indstria automobils-tica global se consolida rapidamente em torno dessa nova plataforma.Avanos tcnicos em transporte e servios de energia alimentam uns aos

    outros, resolvendo problemas mtuos. As clulas de combustvel tambm sebeneficiam dos amplos desenvolvimentos da tecnologia de materiais.Nanotubos de carbono so amplamente usados em 2025 devido suasuperior resistncia, apoiando o desenvolvimento de nanofibras de car-bono como o mais avanado meio de armazenagem de hidrognio. Masesse armazenamento no essencial e uma possvel transio decombustveis lquidos para hidrognio "slido" passa quase que desperce-bida de to natural.

    O salto da ChinaNa segunda quarta parte do sculo, a China usa tecnologias avanadas de

    hidrocarbonetos como ponte para uma economia de hidrognio.Em 2025, a grande e crescente utilizao de veculos na China est gerando

    uma dependncia inaceitvel de petrleo importado. As preocupaes sobre asustentabilidade dos recursos regionais de gs e a confiabilidade dos forneci-mentos externos encorajam o uso do carvo nativo. Mas isso se torna logistica-mente e ambientalmente problemtico. A escassez da terra agriculturvel limita asoportunidades de biocombustvel. A ndia enfrenta os mesmos problemas.

    A demanda global crescente por gs e hidrognio estimula avanos naextrao in-situ de carvo e xisto betuminoso. Esses desenvolvimentos avana-dos de hidrocarbonetos dependem da infra-estrutura e das tecnologias existentesassim como do fluxo de caixa e dos recursos dos fornecedores de combustvel. AChina capaz de usar essas tecnologias assim como os avanos tecnolgicosprprios para extrair energia dos seus recursos de carvo e envi-la por dutosao invs de utilizar milhares de trens. Isso propicia o desenvolvimento de sistemasde energia e transporte baseados em clulas de combustvel.

    Uma economia do hidrognioAs vantagens da nova tecnologia foram a transio para o hidrognio bemantes que o petrleo escasseie. Quanto maior a demanda por clulas de com-bustvel, menor a busca por petrleo. Em alguns pases em desenvolvimento opetrleo suficientemente barato para ser usado em gerao de calor e eletrici-dade mas isso no chega a compensar o declnio de sua utilizao no mercadode transporte. A energia renovvel faz progressos firmes mas pouco notveis at2025. Nichos de "energia verde" continuam reduzidos em algumas regies. Asvendas de painis fotovoltaicos para comunidades rurais nos pases em desen-volvimento crescem rapidamente a princpio. As pessoas querem pagar um extrapelo conforto e acesso televiso mas suas necessidades logo iro superar o queos painis fotovoltaicos podem oferecer. As clulas de combustvel mostram ser

    uma opo melhor. A urbanizao reduz a demanda rural de energia.Depois de 2025, o uso crescente de clulas de combustvel para aqueci-

    mento e energia cria uma demanda rapidamente crescente para hidrognioque amplamente produzido a partir de carvo, campos de petrleo e gscom dixido de carbono extrado e isolado na fonte a um custo bem barato.Em 2050, um quinto das emisses de dixido a partir da produo e uso deenergia est sendo isolado.

    Depois de 2030, esquemas de energia renovvel e nuclear para produzir

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    21/47

    42

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Shell Brasil

    41

    E N E R G I A P A R A G E R A E SCenrios Energia

    hidrognio por eletrlise em grande escala comeam a se tornar atraentes. Aenergia renovvel se transforma em um negcio de fornecimento a granel ecomea a se expandir rapidamente. O hidrognio transportado em redes degs at que a demanda justifique tubulaes exclusivas para hidrognio.

    Tem incio o sculo de desenvolvimento da infra-estrutura de hidrognio.

    2.6 - SUPRIMENTO SUSTENTVEL DE ENERGIAOs dois cenrios exploram diferentes trajetrias de energia mas tem traos

    comuns conforme apontado no item 2.4 anterior."Dinmica Usual" destaca a evoluo do fornecimento de energia a partir de

    combustveis de alto carbono para baixo carbono e na direo da eletricidadecomo transportador dominante de energia a partir de fontes distribudas ori-entado pela demanda por segurana, limpeza e sustentabilidade (fig. 2.8).

    figura 2.8. Transies da Energia Cenrio Dinmica Usual

    figura 2.9. Mix de energia Cenrio Nova Era

    A energia precisa mais do que dobrar em 2050, com a demanda por leoe gs crescendo ao longo do perodo. No entanto, as energias renovveis se tor-nam cada vez mais importantes no segundo quarto do sculo. Em 2050, elesrespondem por 27% das necessidades primrias de energia. Os biocombustveis

    fornecendo uma parcela crescente dos combustveis lquidos respondem pelosoutros 6% da energia primria.

    No cenrio "Nova Era", os fornecimentos de energia continuam a se desenvolvera partir dos slidos, passando pelos lquidos at chegar ao gs (primeiro metano edepois hidrognio), suplementados pela eletricidade direta de energia renovvel enuclear e como fontes de longo prazo de produo de hidrognio (fig. 2.9).

    A energia primria precisa crescer mais rapidamente do que nocenrio anterior. A demanda por petrleo declina no segundo quarto do

    80%

    60%

    40%

    20%

    0%1800 1900 1950 2000 2050

    tradicional

    carvo

    petrleogs

    hidreltrica

    nuclear

    renovveis

    biocombustveis

    100%

    80%

    60%

    40%

    20%

    0%1850 1900 1950 2000 2050

    slidos

    lquidos

    gases

    eletricidade direta

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    22/47

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Shell Brasil

    43

    E N E R G I A P A R A G E R A E SEnergia e Vida

    sculo. O gs se torna o combustvel dominante e o consumo mais do quetriplica em 2050. Renovveis em grande escala crescem rapidamente nosegundo quarto do sculo.

    As emisses diminuem mais cedo em Dinmica Usual em resposta spresses sociais mas depois aceleram de novo aps 2025. Na Nova Era,elas aumentam mais rpido inicialmente mas chegam ao topo mais cedo e

    decaem a partir e 2025. As concentraes atmosfricas permanecem abaixode 550 ppmv at o resto do sculo e parecem estar no rumo da estabilizaoabaixo desse nvel.

    Esses cenrios nos fazem questionar nossas hipteses sobre como o sis-tema de energia ir se desenvolver e as foras que iro direcionar essedesenvolvimento. Mais especificamente, eles nos lembram das possibili-dades de inovao tecnolgica e comercial e a necessidade de estarmosatentos para os avanos decorrentes das quebras de paradigmas quesurgem dos locais mais inesperados.

    A maioria do pessoal do setor de petrleo, quando pensa no desen-volvimento da energia, faz isso dentro do contexto de fontes sempre emevoluo e concorrentes tradicionais. Os cenrios ora desenvolvidos

    mostram que devemos procurar os concorrentes em outros lugares. Poderiaser na cadeia de distribuio ou em qualquer outro elo. Tambm temos aimpresso, no Ocidente, que a que surgiro novos desenvolvimentos.No podemos estar certos quanto a isso.

    Os cenrios tambm nos lembram que improvvel que a mudana sejasuave. Somente pelo fato de uma tecnologia estar vencendo hoje, no sig-nifica que ir vencer amanh. Compreender o ambiente do negcio de ener-gia exige uma perspectiva ampla e uma viso a longo prazo. Acreditamosque as vantagens do gs so to expressivas que provavelmente ele irdesempenhar um papel importante em qualquer cenrio. Expandir o uso dogs entregar fornecimentos competitivos e seguros a clientes distantes

    talvez seja a forma mais importante e imediata de salvaguardar o meio ambi-ente sem subestimarmos a necessidade de segurana dos fornecimentos.

    Esperamos que esses cenrios possam contribuir para o debate pblicosobre questes vitais. Por fim, para os governos, eles ilustram a dificuldade deidentificar e estimular os vencedores tecnolgicos particularmente num pero-do de grande inovao e a incerteza da futura trajetria da energia.

    Os cenrios refletem a dicotomia entre as escolhas individuais das pessoase as preferncias sociais. Mas tambm demonstram que os governos tm um

    papel fundamental na definio de uma estrutura onde um sistema comerciale dinmico possa dar respostas s necessidades, escolhas e possibilidadesem processo de mudana. Eles sugerem que o crescimento das emisses dedixido de carbono possa ser interrompido dentro dos prximos 50 anos levando a uma estabilizao dos nveis de dixido de carbono na atmosferaabaixo de 550 ppmv sem colocar em risco a capacidade do sistema de

    energia de responder s nossas necessidades como cidados e consumidores.

    J L Al

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    23/47

    3. DESAFIOS BRASILEIROS

    Jos Luiz Alqures

    Do ponto de vista global, a questo energtica se apresenta de uma maneiraque reala fortemente os desafios ligados proviso de recursos energticos paraalimentar os grandes fluxos de energia para as economias desenvolvidas e asconseqncias ambientais da utilizao dos combustveis fsseis.

    Esse quadro global tende a esconder muitos aspectos que se evidenciam emnveis regionais e subregionais. A energia hidreltrica, por exemplo, um deles.Tendo sido a primeira a ser explorada nas economias hoje mais desenvolvidas,seus grandes projetos se localizam nas economias emergentes da Amrica doSul, China e Sudeste Asitico e, s vezes, sequer so mencionados em anlisesmais globalizadas.

    Da a importncia de se referenciar o quadro exposto no captulo anterior scondies brasileiras onde o desafio energtico se insere num contexto espaciale, mesmo, temporal no sentido braudeliano diferente. A energia, no tempo

    brasileiro, deve ser vista nas suas inter-relaes:

    energia e desenvolvimento econmico e social, energia e tecnologia, energia e meio-ambiente.

    Em alguns campos estamos mais avanados que o resto do mundo. Na maio-ria deles ainda estamos carentes de desenvolvimento. Para nos atualizarmos e nossuperarmos, precisamos primeiro de nos conhecer.

    Pi t E b

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    24/47

    47

    3.1 ENERGIA E DESENVOLVIMENTOECONMICO E SOCIAL

    Pietro Erber

    Ao longo dos trs sculos do perodo colonial e mesmo durante o sculo 19,aps algumas dcadas de extrativismo, a economia brasileira foi dominada pelas

    atividades agrcolas e de produo mineral, com predominncia daquelasvoltadas para a exportao.

    Embora diretamente associada produo agrcola, no pode ser descon-siderado o carter industrial da produo aucareira, um dos principais produtosdo pas, at o sculo 19. Por mais rudimentares que fossem os engenhos,envolviam significativo aporte de capital e de conhecimentos para assegurar seufuncionamento, especialmente o de processos com uso intenso de energia.Afinal, no ter sido por simples capricho da Coroa Portuguesa que o livro deAntonil, "Cultura e Opulncia do Brasil por suas Drogas e Minas" foi recolhidologo aps sua publicao. Esse livro apresenta descrio pormenorizada daconstituio e funcionamento de um engenho e do comrcio de acar, alm de

    tratar da minerao do ouro.O prximo degrau na crescente utilizao de energia pela indstria deve-se metalurgia. Embora as primeiras tentativas de implantar fornos para produo deferro, em So Paulo, ainda no sculo 18, tenham tido pouco sucesso, o Brasil tornou-se grande produtor de ferro e ao graas descoberta das jazidas de Minas Gerais,cuja explorao comeou no sculo 19, em Monlevade. O incio foi rduo. Aimplantao de indstrias de transformao para a produo de materiais e equipa-mentos, como aquelas do Baro de Mau, em Ponta dAreia, no Estado do Rio deJaneiro, voltadas para a fabricao de tubos metlicos para transporte de gua e de

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Pietro ErberE N E R G I A P A R A G E R A E SEnergia e Desenvolvimento

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    25/47

    50

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Pietro Erber

    49

    E N E R G I A P A R A G E R A E SEnergia e Desenvolvimento

    gs, e para a construo de navios, tiveram que superar percalos notveis como afalta de mo-de-obra, limitaes financeiras, institucionais e, mesmo, culturais.

    Graas a esforos de pioneiros locais e concesses outorgadas a investidoresestrangeiros, o pas comeou a ser dotado de uma infraestrutura de transporte fer-rovirio, martimo e fluvial, servios urbanos e indstrias de bens de consumo,como as de tecidos, alimentos, produtos qumicos, cimento, etc.

    O quadro "Energia e Sociedade", apresentado ao final deste item 3.1, mostraque, ao longo do sculo 20, a eficincia na utilizao de energia aumentousubstancialmente, reduzindo-se de 49 MJ/US$ de PIB para 16 MJ/US$ de PIB ouso de energia primria. Esse aumento de eficincia tem a ver com os diferentes cic-los de substituio de formas de energia menos eficientes para formas mais eficientes,ao lado, evidentemente, do declnio da utilizao de formas no comerciais.

    At o incio do sculo 20 a fonte energtica predominante foi a lenha. Obagao de cana, embora disponvel junto aos engenhos, no apresentavacondies de transportabilidade para ser empregado como combustvel. Emmeados do sculo 19, seno mesmo antes, foi iniciada a importao decarvo mineral, proveniente da Inglaterra e, a partir de 1880, tambm dosEstados Unidos. Estatsticas da exportao inglesa para o Cone Sul Brasil,

    Argentina e Uruguai indicam uma evoluo de 60 mil toneladas em 1850para 2 milhes de toneladas em 1900.No foi apenas o aumento da demanda de energia que propiciou essa

    expanso, mas tambm a competitividade do carvo, pela reduo de custos deproduo e de transporte. De 1872 a 1902 o custo do frete de Cardiff ao Riode Janeiro foi reduzido a menos da metade. Nesse perodo houve importante pro-gresso tecnolgico, com a triplicao da eficincia dos motores navais.Fenmeno semelhante foi registrado no sculo 20 no tocante eficincia dostransportes areos, em termos de consumo de combustvel por passageiro.km.

    O carvo mineral brasileiro, disponvel principalmente nos trs Estados da regioSul, comeou a ser minerado por volta de 1912 e ultrapassou um milho de toneladasem 1939, atendendo 47% da demanda. Sua produo mxima ocorreu em 1985,

    com 24,6 milhes de toneladas de carvo bruto. A substituio de sua frao me-talrgica por carvo importado restringiu o mercado do carvo nacional produotermeltrica. Como esta tem o carter de uma gerao complementar hidreltrica,somente em anos secos ela se destaca, como foi o caso de 2000, onde foi requeri-da forte complementao termeltrica. A produo de carvo alcanou 13,8 milhesde toneladas, com um aumento de 42% em relao produo do ano anterior.

    A partir de meados do sculo 19, o Brasil importou derivados de petrleo,principalmente querosene para a iluminao. Em 1902, o consumo de derivados

    era de 60 mil toneladas e, em 1939, de 1.237 mil toneladas. Apesar da notvelexpanso de seu uso, sua participao na matriz energtica s veio a superar ado carvo aps a Segunda Guerra Mundial.

    Embora a busca pelo petrleo em territrio brasileiro tenha sido iniciada a par-tir de 1864, os primeiros resultados positivos s foram obtidos em Lobato, naBahia, em 1939. As atividades de refino, iniciadas em escala modesta em1933, em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, foram ampliadas para 1500barris/dia, ainda naquele Estado, em 1939. Elas adquiriram porte expressivoem 1955, com uma produo anual de 3,1 milhes de toneladas, quadruplica-da em 1963, com as refinarias implantadas pela Petrobrs, criada em 1953.

    A nfase conferida aos programas de expanso rodoviria e a modernizaoda economia a partir da dcada de 40 aceleraram a reduo da presena docarvo, praticamente restrito ento siderurgia e produo termeltrica, embenefcio dos derivados do petrleo e gs. A difuso do emprego do GLP paraaquecimento e coco contribuiu para a preservao ambiental, ao substituir ouso da lenha e do carvo vegetal. Contribuiu tambm para a segurana doms-tica, ao substituir o querosene empregado nas cozinhas.

    O consumo anual de derivados de petrleo alcanou 88 milhes de toneladas

    em 2000. A produo, em 2000, foi de 83 milhes de toneladas. Nesse ano,as importaes de derivados alcanaram perto de 16 milhes de toneladas, pre-dominando o GLP e o leo diesel. Nas exportaes, da ordem de 11 milhes detoneladas, predominou a gasolina. O nvel de autosuficincia em matria de leocru foi de 76%, em 2000, aproximando-se atualmente de 90%.

    O emprego do lcool etlico como combustvel automotivo antigo no pas,mas foi acentuado a partir dos anos 80, quando, alm de sua mistura gasolina,veio a ser usado em motores projetados para seu consumo exclusivo, mediante osincentivos coordenados pelo Programa Nacional de lcool PROALCOOL, quevisava reduzir a dependncia do pas a combustveis importados. A reduo dospreos internacionais do petrleo levou a uma retrao desse uso. Mais recente-mente tem se voltado a considerar seu uso mais intensificado, tendo em vista as

    vantagens ambientais proporcionadas pelo uso de combustveis renovveis.Inicialmente, a eletricidade foi empregada, no Brasil, para a iluminao pbli-

    ca, acionamento de transportes urbanos e tambm em equipamentos para a mine-rao. Aps alguns empreendimentos menos relevantes, em 1883 foi inaugura-do, segundo um jornal da poca, na "cidade da goiabada e da luz eltrica, aluminosa Campos", Estado do Rio de Janeiro, um sistema de iluminao pblicacom 39 lmpadas, acionado por uma usina termeltrica. No mesmo ano, prxi-mo a Diamantina, em Minas Gerais, foi inaugurada uma hidreltrica para

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Pietro ErberE N E R G I A P A R A G E R A E SEnergia e Desenvolvimento

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    26/47

    52

    Pietro Erber

    51

    Energia e Desenvolvimento

    acionar equipamentos de minerao. A potncia instalada, ao final de 1883,era de 52 kW. Em 1995, era de 52 GW. A expanso da oferta de energiaeltrica foi rpida, como indica a tabela a seguir (valores arredondados).

    A energia eltrica substituiu a quase totalidade dos combustveis empregados na

    iluminao e uma parte, ainda que restrita, daqueles empregados em transportes.Suas novas aplicaes, a maioria barateada pela massificao dos equipamentosde consumo ampliaram o seu mercado. Dentre os aparelhos de consumo respon-sveis por esta mudana de mercado e de modo de vida esto os eletrodomsti-cos, como condicionadores de ar, refrigeradores, congeladores, processadores dealimentos, aquecedores de gua, alm dos equipamentos eletroeletrnicos. Estesaparelhos alteraram os padres de conforto domstico e em ambientes de trabalho.Influram tambm nos padres arquitetnicos e no comportamento familiar.

    A energia eltrica viabilizou a expanso vertical das cidades, com o elevadore a bomba de recalque, para abastecimento de gua. E viabilizou a obtenode alguns materiais, como o alumnio, em condies econmicas, alm de con-tribuir para a qualidade dos produtos das indstrias tradicionais, pela maior pre-

    ciso dos controles dos processos.No Brasil, o incio da gerao de energia eltrica foi predominantemente de

    origem trmica, mas em 1910 a capacidade hidreltrica j representava 86% dototal. Para essa opo concorreram a disponibilidade de potenciais hidreltricosfavoravelmente localizados em relao aos maiores centros de consumo, almdos custos e da insegurana de suprimento inerentes a combustveis importados.A partir da dcada de 1950 foram implantadas termeltricas na Regio Sul, paraaproveitar o carvo local. A produo dessas usinas, integrada do sistema

    interligado, onde predominam as hidreltricas, assume carter complementar,para evitar desperdcio de gua turbinvel.

    A natureza da gerao tende a se alterar, nas prximas dcadas, emboramantendo predomnio da hidreletricidade. A nova disponibilidade do gs natu-ral, inclusive na Amaznia, em cujos sistemas isolados parte expressiva da gera-o termeltrica empregando derivados de petrleo, oferece importante alter-nativa de expanso. A gerao distribuda tambm poder assumir um papel sig-nificativo mediante o emprego de rejeitos industriais, particularmente o bagaode cana, a gerao elica e, mais futuramente, a fotovoltaica, que ainda cara.

    Cabe destacar o papel da biomassa, alm da hidreletricidade, no futuroquadro energtico brasileiro. At as ltimas dcadas, a biomassa foi empregadapara fins energticos de forma predatria, sendo obtida pelo desmatamento deflorestas nativas. A nova perspectiva, fruto de uma conscincia ambiental maisdesenvolvida e atenta, considera a biomassa apenas quando integralmente origi-nada da lavoura e do manejo florestal.

    O principal produto energtico da biomassa no caso brasileiro o lcool etli-co, proveniente da cana. Possivelmente esta a nica fonte que enseja, naproduo desse combustvel, um balano energtico positivo e que no Brasil

    ainda pode ser otimizado com a utilizao do bagao para produo de ener-gia eltrica mediante tecnologia mais eficiente do que a tradicional. A adiodo lcool gasolina ou seu uso exclusivo tem contribudo para reduzir a poluiourbana, particularmente o primeiro, ao dispensar aditivos altamente poluentes.

    O emprego da energia solar, para aquecimento, vem sendo difundido, substi-tuindo o GLP e a eletricidade. J a energia fotovoltaica ainda requer amplareduo de custo para assumir papel significativo na matriz energtica do pas. Ea energia elica, juntamente com a gerao de eletricidade a partir da biomassae de pequenas centrais hidreltricas podero vir a apresentar considervel desen-volvimento caso se consolide o PROINFA Programa de Fontes Alternativas.

    Apreciando a utilizao de energia verifica-se que de 1960 a 2000, enquan-to a populao brasileira mais do que duplicou, seu PIB foi multiplicado por cerca

    de 6 ou seja, sua renda per capita foi triplicada. O consumo de energia per capitanesse perodo tambm aumentou trs vezes. Mas o consumo de energia eltricaaumentou mais de 9 vezes, graas extenso do atendimento que, de 26% dosdomiclios em 1960 veio a alcanar 96% das residncias em 2000, indicandoa modernizao da economia. Essa evoluo contrasta com aquela dosquarenta anos precedentes, quando apesar de notvel aumento da renda percapita, o consumo de energia per capita manteve-se praticamente constante, emdecorrncia da gradual substituio de modalidades de energia de emprego

    Brasil Parque Produtor de Energia Eltrica

    Capacidade Instalada (MW) Produo (GWh)

    Ano Hidro Termo Total

    1883 0,05 0,05 0,1 1889 1,5 3,1 4,6 91900 5,6 6,6 12,2 301910 140 20 160 4001920 280 80 360 1.0001940 920 180 1.100 3.0001960 3.200 1.500 4.700 21.0001980 28.000 5.800 33.800 140.000

    2000(*) 66.000 11.000 77.000 390.000(*) Inclusive a cota de Itaipu

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Pietro ErberE N E R G I A P A R A G E R A E SEnergia e Desenvolvimento

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    27/47

    53

    g

    menos eficiente por outras, como os derivados de petrleo e energia eltrica.A tabela a seguir compara os consumos per capita de energia, em diversas

    regies, com o consumo do Brasil, em 1997.

    Observa-se que em termos de produo de energia eltrica o Brasil situa-

    se bem mais prximo da mdia mundial do que no tocante utilizao deenergia primria. Essa diferena deve ser debitada, em boa parte, ao fatoda energia eltrica, no Brasil, ser quase toda de origem hidrulica e portan-to, requerer cerca da tera parte da energia primria que seria necessriapara produzi-la a partir de fontes trmicas, tal como acontece predominante-mente na maioria dos demais pases. Por outro lado, a significativa partici-pao da indstria de transformao, como ao, cimento e alumnio nas ativi-dades do setor secundrio e a extenso do pas, que lhe impe elevado con-sumo de energia em transportes, realam seus relativamente elevados ndicesde consumo na Amrica Latina, superiores aos dos pases da Europa do Leste,apesar das diferenas climticas.

    No Brasil, a universalizao dos servios de energia eltrica, bem como a

    oferta de combustveis que ensejam elevada eficincia no uso da energia tmsido e sero fatores relevantes para a reduo da pobreza. Nesse sentido, desta-cam-se os programas de eletrificao de favelas e de eletrificao rural, como oatual Luz no Campo, conduzido pela ELETROBRS, alm de outros, promovidospor diversos Estados da Federao.

    Uma perspectiva abrangente da utilizao de energia no Brasil dada noquadro "Energia e Sociedade", a seguir, onde se indica o comportamento dasprincipais variveis setoriais, da populao da economia no Brasil, ao longo do

    perodo 1901-2020 . A previso at 2020 pressupe a duplicao do PIB, de2000 a 2020. Para atender os requisitos de energia, a oferta primria tambmteria de duplicar. Essa oferta aumentaria de 53 GJ per capita em 2000 para 84GJ per capita, em 2020.

    Observa-se que o consumo per capita se mantm estvel at 1960, quandoa industrializao e a expanso rodoviria ganharam maior impulso. Essa esta-bilidade, no entanto, no ocorre no consumo por unidade de PIB, que decrescesignificativamente nessas primeiras dcadas, devido substituio da biomassa,basicamente lenha e carvo vegetal, por combustveis fsseis. Considera-se quea biomassa, em funo principalmente do lcool e do bagao de cana, alm deoutras energias renovveis, venham manter crescimentos absolutos expressivos,ainda que sua participao na matriz energtica seja decrescente no perodo.

    A participao do carvo mineral dever ser mantida e a do gs natural,ampliada em funo, principalmente, de sua utilizao na gerao de energiaeltrica. A hidreletricidade manter sua participao majoritria, embora decres-

    cente no quadro das fontes de produo de energia eltrica. A elevada partici-pao do petrleo na matriz um fator de preocupao, tendo em vista os cres-centes volumes requeridos e a limitao das reservas nacionais. A autosuficin-cia, que poder ser alcanada em curto prazo, dificilmente poder ser mantidano horizonte considerado. Esta perspectiva sugere a necessidade de aumentar aeficincia no emprego de derivados de petrleo, modernizando a frota automo-tiva, ampliando a oferta de transporte de massa eletrificado e melhorando ascondies de trfego urbano e interurbano, com a recuperao da malha viria.

    Energia Primria e Produo de Eletricidade per Capita 1997

    GJ kWh

    Brasil 50 2.320(*)

    frica 27 560sia (Menos China) 25 625China 34 850Oriente Mdio 96 2.400Europa do Leste 42 1.710Ex-URSS 127 4.200OECD 234 9.920Amrica Latina 38 1.430Mundo 67 2.440(*) inclui importao de Itaipu

    Brasil Energia e Sociedade

    1901 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

    Populao (106

    ) 18 23 27 34 41 52 70 92 117 142 152 172 191PIB (109 US$ 2001) 6 8 11 17 26 46 81 143 327 382 496 710 1030

    Energia Primria (106 tep) 7 9 12 14 16 19 28 69 121 149 191 274 383

    GJ / capita 16 16 19 17 16 15 17 31 43 44 53 67 84

    MJ / US$ 49 47 46 35 26 17 15 20 16 16 16 16 16

    Estrutura da Oferta (%)

    Petrleo - 1 3 5 9 23 41 38 47 41 47 49 48

    Carvo Mineral 10 14 9 11 9 8 5 4 5 7 7 7 8

    Gs Natural - - - - - - - 1 2 3 6 12 14

    Hidro - - - 1 1 3 5 5 9 14 15 13 14

    Nuclear - - - - - - - - - - 1 2 3

    Biomassa + Solar + Elica 90 85 88 83 81 66 49 52 37 35 24 17 13

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Pedro Parente*E N E R G I A P A R A G E R A E SAprendendo com a Crise

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    28/47

    56

    Pedro Parente

    55

    Aprendendo com a Crise

    A crise do setor eltrico que atingiu o Brasil no segundo trimestre de 2001somente pode ser compreendida em sua totalidade se consideradas as transfor-maes econmicas e sociais ocorridas no Pas durante a dcada de 90. Oaumento da renda real dos brasileiros propiciado pelo Plano Real permitiu cres-cente consumo e utilizao de aparelhos eletrodomsticos e garantiu algumcrescimento econmico, apesar das vrias crises financeiras internacionais ocor-ridas ao longo da segunda metade da dcada. Ao mesmo tempo, a reformu-lao do papel do Estado no processo de desenvolvimento brasileiro foi um fatormarcante desse perodo, condicionada pela acelerao da integrao econmi-ca global, pelas crescentes restries fiscais do setor pblico e pela necessidadede fortalecimento de seu papel regulador. Mas a crise tambm apontou novoscaminhos para a produo mais eficiente de energia e demonstrou impressio-nante maturidade e responsabilidade dos consumidores brasileiros em seu con-junto famlias, empresas e demais instituies.

    Um breve relato dos principais temas considerados pela Cmara de Gestoda Crise de Energia Eltrica (GCE) ao longo de mais de doze meses de fun-

    cionamento desde a sua criao, em 29 de maio de 2001, revela que a supera-o da escassez temporria de eletricidade incluiu profunda e pormenorizadareviso do modelo do setor eltrico brasileiro, num processo cuja implementaoainda no terminou. O Plano de Ao da GCE compreendia cinco reas de atu-ao: i) Programa de reduo da demanda (racionamento); ii) Programa emer-gencial de aumento da oferta de energia eltrica; iii) Programa estrutural deaumento da oferta de energia eltrica; iv) Conservao e racionalizao; ev) Revitalizao do modelo do setor eltrico. O escopo dos temas consideradosno Plano de Ao da GCE demonstra que, desde o princpio, a superao dacrise foi percebida num contexto mais amplo da necessidade de evitar suarepetio no futuro, por meio de medidas estruturais.

    O programa de reduo da demanda baseou-se num conjunto de incentivos

    por meio de bnus e sobretaxas, tendo como meta uma reduo mdia do con-sumo de energia eltrica de 20% e incluindo vrias excees, notadamente paraas famlias de baixa renda. Embora no tenham sido poucas as vozes a favor deum sistema de corte linear, com apages ao longo de vrias horas por dia, ocaminho escolhido foi aquele que imporia menores sacrifcios populao,deixando a seu critrio como e quando, ao longo do ms, reduzir o consumo de

    energia. A colaborao da sociedade brasileira foi fundamental para evitar ostemveis apages, que acabaram nunca ocorrendo. A reduo do consumo visa-da pela GCE foi plenamente atingida, o que permitiu direcionar parte dasatenes para os problemas estruturais de oferta.

    A economia total de energia feita durante o perodo do racionamento foinotvel. Estimativas da GCE ao final do perodo de racionamento mostraram que,em mdia, no perodo de junho a dezembro de 2001, as famlias economizaram

    24,1%, as indstrias 15,7% e o setor comercial 10,7%. Mesmo aps o fim doracionamento, em fevereiro de 2002, os nveis de consumo mantiveram-se muitoabaixo das previses anteriores do Planejamento Anual da Operao Energtica2001/2002. No perodo de maro a dezembro de 2002, por exemplo, amdia ocorrida de consumo de energia no subsistema Sudeste/Centro-Oesteficou 10,8% abaixo das previses feitas no ano 2000, e 7,0% abaixo das pre-vises adotadas pela GCE. De modo geral, somente no incio de 2003 o con-sumo de energia total est se aproximando dos nveis do ano 2000.

    Embora o programa de racionamento inclusse medidas punitivas, a grandemaioria das famlias superou as metas estabelecidas, no sendo raros os relatosna mdia de cidados satisfeitos em evitar desperdcios. Uma outra particulari-

    dade do programa de reduo da demanda foi o de atenuar os impactos doracionamento na atividade econmica, seja instituindo um mercado de troca de"direitos de consumir", seja reduzindo os limites de reduo de consumo paraempresas ou setores quando o acompanhamento do nvel dos reservatrios e dareduo geral de consumo indicava margem para isso.

    As medidas de revitalizao do setor eltrico tiveram como ponto de partidao reconhecimento de que a transio de um modelo baseado na produo, dis-tribuio e comercializao estatal de energia eltrica, conforme o existente at1996/97, para um novo modelo, em que o Estado tivesse sobretudo um papelregulador, fora incompleta e necessitava de uma correo de rumos. Contudo,os principais pilares do novo modelo deveriam ser mantidos: competio na ge-rao e comercializao; regulao na distribuio e transmisso; prevalncia

    dos investimentos privados; e aumento da qualidade dos servios. Identificaram-se, tambm, uma srie de bices que impediam o pleno funcionamento do novomodelo, seja pela participao ainda excessiva do Estado, seja pela ausnciade regulao mais forte onde necessrio. Cabe aqui notar que o caminhotrilhado pelo Brasil para a prestao de servios de utilidade pblica a partir demeados dos anos 90 teve como um de seus condicionantes fundamentais a inca-

    E N E R G I A P A R A G E R A E S Pedro ParenteE N E R G I A P A R A G E R A E SAprendendo com a Crise

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    29/47

    57

    pacidade fiscal do Estado de fazer os macios investimentos necessrios parapermitir a expanso de setores como o de energia eltrica. Pelo tamanho dopas e pela complexidade adicional de um sistema integrado de geraohidrotrmica, no seria demasiado afirmar que os problemas de implementaoencontrados pelo Brasil naturalmente seriam maiores do que aqueles enfrentadospor outros pases desenvolvidos que iniciaram a liberalizao do setor emcondies muito mais favorveis.

    A revitalizao do modelo do setor eltrico teve como principal objetivo definire implementar as medidas necessrias para garantir o pleno funcionamento domercado de energia eltrica no Brasil e a oferta plena de energia, com atenu-ao dos impactos tarifrios. Para tanto, negociou-se um acordo geral do setor,capaz de equalizar as perdas sofridas por geradoras e distribuidoras, alm deum rol de mais de 30 medidas que incluam desde o processo de formao depreos, at a reestruturao do Mercado Atacadista de Energia e a reorganiza-o institucional do Ministrio das Minas e Energia. O resultado mais importantedesse processo, contudo, talvez no possa ser captado pelas medidas anunci-adas. Tratou-se do estabelecimento de um dilogo mais fluido e produtivo entreos diversos atores do setor, incluindo o rgo regulador, o governo e as empre-

    sas geradoras e distribuidoras. Como em todos os setores da vida em sociedade,a confiana entre os atores do processo fundamental para garantir suatransparncia e pleno funcionamento, sobretudo quando se trata de um setor tofundamental para os cidados brasileiros.

    Uma das importantes conseqncias da crise foi o fato de a sociedadebrasileira ter acordado para a importncia da conservao de energia eltrica epara a racionalizao de seu consumo. Aprovou-se uma lei sobre a PolticaNacional para a Conservao e o Uso Racional de Energia e as mudanas noshbitos de consumo podem ser notadas pela reduo maior do que esperada doconsumo de energia ps-crise e pelos lanamentos de novos produtos energeti-camente eficientes. Alm disso, muitas empresas iniciaram programas de uso alter-nativo de energia que s tendem a ampliar-se no futuro.

    preciso reconhecer, finalmente, que a crise deixou algumas lies para oPas e a sociedade. Em primeiro lugar, demonstrou a necessidade de aper-feioamentos no planejamento e na prpria estrutura do sistema eltrico brasileiro,muitos dos quais j foram implementados, e outros que continuam sendo objetode debates no setor. Em segundo lugar, abriu a discusso sobre se ainda necessria e em que extenso a participao do Estado no setor no apenas

    como regulador, mas tambm como investidor, devido complexidade do sistemahidrotrmico interligado em operao no Brasil. Finalmente, a crise mostrou, maisuma vez, que a sociedade brasileira tem grande disposio quando chamada acontribuir para o bem-estar nacional, num autntico exerccio de cidadania. Comcerteza este ser um dos maiores trunfos para as transformaes por que aindadevem passar este e outros setores na trilha da acelerao do desenvolvimentoeconmico e social no Brasil.

    *colaborao de Tatiana Rosito

    Adilson de Oliveira

  • 5/27/2018 Energia Para Geracoes

    30/47

    59

    3.2. ENERGIA E TECNOLOGIA

    Desde que o homem dominou o fogo, sua primeira vitria no campo da ener-gia, at a Idade Mdia, quando foram obtidos sensveis aumentos da eficincia

    de equipamentos como moinhos, rodas dgua, etc. assegurando a expansoda produo que criou as bases materiais para o Renascimento, a humanidadepercorreu um longo caminho no aprimoramento das tecnologias da energia.

    Os limites da matriz energtica que sustentou o Renascimento comearam ase patentear no sculo 17. Na Inglaterra, as florestas haviam sido devastadas.O uso do carvo mineral crescia rapidamente, porm sua minerao encontravaobstculo importante na necessidade de ser retirada a gua acumulada nas gale-rias na medida em que as minas se tornavam mais profundas. O gnio inovativode Watt criou a mquina a vapor, motor universal que deu origem RevoluoIndustrial. O carvo mineral esteve no cerne da Revoluo Industrial, libertando ohomem dos ciclos naturais de suprimento energtico e abrindo um leque amplode oportunidades para o desenvolvimento econmico.

    A mquina a vapor era, contudo, um motor de utilizao restrita. Por serequipamento volumoso, de alto custo e eficincia energtica muito baixa, seu usoficava limitado a poucas atividades econmicas e seus benefcios confinados empequena parcela da populao.

    No final do sculo 19, o esforo dos homens de cincia para colocar seu co-nhecimento a