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ESTER . . . . . . . . . . . . . . . . ............. "... .................. ANO 5 a NUMERO 1 - 1989

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ESTER

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ANO 5 a NUMERO 1 - 1989

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SUPLEMENTO TEOLOGICO

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EXPEDIENTE

VOX CONCORDIANA SUPLEMENTO TEOLÓGICO

Editado pela Congregação de Professores da Escola Superior de Teologia do Instituto Concórdia de São Paulo.

Editor: Deomar Roos

Congregação de Professores: Dr. Rudi Zimmer, diretor geral Ari Lange, vice-diretor Ari Gueths Deomar Roos Erní W. Seibert Paulo F. Flor Paulo M. Nerbas Paulo W. Buss Raul Blum

0 s artigos assinados são da responsabilidade de seus autores, não refle- tindo necessariamente a posição da congregação de professores como um todo. Devem ser considerados mais como ensaios para reflexão do que posicionamentos definitivos sobre os temas abordados.

Endereço para correspondência:

Instituto Concórdia São Paulo Rua Raul dos Santos Machado, 25 Jardim Helga - Campo Limpo 05.794 - São Paulo, SP

ou Caixa Postal 60.754 05.799 - São Paulo, SP

ANO 5 - N . o 1 - 1989

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Neste início de ano letivo a família concordiana foi tomada de surpresa com a notícia do repentino falecimento do aluno Marcos Weber. Todos sentiram-se duramente abalados. Marcos Weber, que nascera a 06 de agosto de 1968, faleceu em trágico acidente automobilístico, na madrugada de 25 de fevereiro do corrente ano, no ônibus com o qual retornava ao ICSP para continuar seus estudos de teologia. Marcos Weber era cristão autêntico, aluno brilhante, certamente seria pastor consagrado, e neste ano cursaria o segundo ano teológio. Mas os caminhos de Deus para o Marcos eram diferentes dos que nós pensávamos. Lamentamos e chora- mos a auçência do irmão, aluno e grande amigo. Mas nos curvamos aos desígnios do Deus, Pai de Jesus Cristo, que consola com grande poder os que aqui ainda ficam, que nos prepara para o caminho rumo a feliz eternidade, e que a todos ressuscitará no dia final. Neste número do Suple- mento publicamos o trabalho de pesquisa que Marcos Weber preparou em cumprimento as exigências da disciplina Isagoge do AT I no terceiro trimestre de 1988. A publicação deste trabalho é feita no sentido de homena- gem póstuma ao irmão que agora está com o Senhor e como testemunho da sua fé aos que vierem a ler o artigo.

A Escola Superior de Teologia lança a sua primeira publicação teológi- ca. Trata-se da obra escrita pelo Prof. Erni W. Seibert intitulada Congre- gação Cristã - Enfoques Teológicos e Práticos. Este l ivro foi escrito visan- do o pastor e o trabalho congregacional. Encomendas do mesmo podem ser feitas diretamente ao ICSP.

Cabe aqui um rápido comentário sobre a matéria desta edição do Suplemento Teolóqico. O artigo sobre a história do ICSP, do Rev. Cesar Scholz, intenciona registrar um segundo documento sobre a vida do ICSP desde o seu início. O Trabalho "Arqueologia Bíblica", escrito pelo que abaixo assina, visa compartilhar com os leitores do Suplemento Teológico uma experiência arqueológica em terras bíblicas que de forma alguma pode ficar "debaixo do alqueire" (Mt 5.15). mas precisa ser dividida com o povo cristão. Os artigos dos Profs. Erni W. Seibert e Paulo M. Nerbas enfocam o mesmo tema: a mulher. O prof. Erni W. Seibert a estuda com vistas a sua participação ativa na congregação cristã. Já o Prof. Paulo M. Nerbas visa a esposa do pastor. A listagem de sugestão de hinos para as leituras bíblicas das perícopes da série trienal C, preparada sob a coordenação do Prof. Raul Blum, foi feita visando o pastor elou o líder congregacional em sua rotina de trabalho. A intenção é facilitar o uso do hinário luterano em sincronização com os textos previstos para os domingos ou grandes festas da Igreja Cristã. Esta publicação traz auxílios

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homi léticos para três grandes datas no calendário litúrgico: Sexta-feira da Paixão, Festa da Páscoa e Festa de Pentecostes.

Este número traz uma nova seção intitulada "Recensão". Trata-se de comentário sobre ~ub l icacões novas. Neste caso, a obra em foco é O Culto Cristão comentada pelo Prof. Raul Blum.

No artiao "Instituto Concórdia de São Paulo: Suas Lutas e Vitórias" (na edição dS Suplemento Teológico do Ano 4, Número 2, 1988), a página 13, foi omitido involuntariamente o nome do Prof. Paulo M. Nerbas na lista dos professores que foram chegando a Escola Superior de Teologia entre os anos de 1984 e 1986. Acrescente-se lá que o Prof. Paulo M. Nerbas chegou a Escola Superior de Teologia em princípios de 1985.

Este número do Suplemento Teológico chega as mãos do seu leitor com formato alterado, especialmente o tamanho. Isto foi feito com o objeti- vo de economizar no custo da revista.

Deomar Roos

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Ester Marcos Weber

Introdução

Neste trabalho visamos apre- sentar alguns dados isagógicos do livro de Ester. Questões como data, autoria, propósito, canonicidade, teologia e outros serão abordadas. A dinâmi ca do trabalho consistirá na canparaçáo das opiniões das dife- rentes linhas teológicas acerca do assunto. Deixaremos primeiro os au- tores "falar" e então, sempre que necessário, serão feitos alguns co- mentários para fechar a idéia expos- ta. A metodologia empregada será de citações diretas e indiretas das fontes consultadas com as devidas marcações por notas que podem ser conferidas ao final do trabalho. Não

.é intenção fazer um trabalho exaus- tivo. Apenas nos limitaremos a con- frontar as correntes liberais e con- servadoras no sentido de reunir os principais dados isagógicos acerca do l ivro de Ester e emitir um juízo de valor sobre eles conforme apre- sentado por cada ala.

Será dada uma ênfase especial ao aspecto teológico, que neste l i - vro parece um tanto controvertido, de modo que alguns cristãos não sa- bem bem o que fazer dele.

I. Nome

O l ivro toma o nome da perso- nagem principal, Ester, palavra per- sa que significa "estrela". Conforme 2.7 o nome hebraico de Ester é Ha:

dassa que traduz-se por "murta". Na Septuaginta seu nome é Ester. No cânon hebraico encontra-. entre os . , Ketuvim e é grafado Ester. E também um dos cinco X u i l o t , - rolosque até hoje são lidos pelos judeus em oca- siões festivas. Ester é o l ivro indica- do para a Festa do Purim, que ocorre no fim de fevereiro ou começo de- março no calendário ocidental. 1

I I. Propósito

Qual teria sido o propósito quando foi escrito este livro? Deixe- mos os autores falar primeiro.

Para D. Harvev. colaborador do The Interpreter's ~ i c t i o n a r ~ of the Bible (IDB) o propósito "é reconci- -- - liar uma atual diversidade na cele- bracáo do Purim nas diferentes Ioca- lidades". 2 Já para C. Moore é "... providenciar a base 'histórica' para a Festa do Purim. " 3

A ala conservadora se manifes- ta de maneira diferente: Edward Young coloca o propósito no sentido de mostrar a atuação da providência divina, de maneira que o povo esco- lhido, mesmo em terra distante não estava só. 4 I. L. Jensen 5 concorda com esta posiçáo, mas apela para o lado da libertação política. Já Nor- man Geisler 6 apresenta um tríplice propósito que se adequa mais ao texto, com as quais concordamos excetuando as considerações de cu-

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nho milenista. Segundo ele o propó- sito era: a) histórico: dar o funda- mento histórico da festa do Purim; b! doutrinário: destacar o providen- cial cuidado de Deus para com os seus; c ) cristológico: Ester, sendo a mediadora da salvacáo dos judeus, é um tipo de Cristo.

As primeiras posições estão carregadas de pressupostos herme- nêuticos deficientes e não conse- guem ver nada de mais substancial no l ivro. Está muito bem colocada a posição de Young, mas a tríplice função defendida por Geisler é mais abrangente quanto ao conteúdo ge- ral. Aliás, ele é o ijnico a fazer men- ção do significado cristológico. Por- tanto, três idéias resumem o propó- s i to d o autor: a providência divina, a historicidade da Festa do Purim e a imagem ou o t ipo cristológico.

III. Autoria, Data e Composiçáo

Tomemos primeiro a questão da autoria. Sugestões variadas têm aparecido. Segundo Young 7 , Josefo atribu.ia a autoria a Mordecai, e o Kaba Bathral uma obra do Talmude, aos "homens da sinagoga". Geisler a apresenta algumas teorias e sua refutação: alguns sugeriram Esdras e Neemias como os autores - não é viável pois seu estilo e linguagem são muito diferentes. Mordecai é a sugestão de Josefo e do Talmude - embora ele tenha tomado notas (9.20), segundo 10.2 sua carreira já havia findado há algum tempo.

O próprio Geisler apresenta al- gumas possíveis características do provável autor. 9 Era judeu, pois tinha conhecimento detalhado dos costumes judeus. Pela clareza dos

seus relatos deve ter sido uma teste- munha ocular e ter acesso aos regis- tros reais. Young 10 concorda nes- tes detalhes e ainda acrescenta que ele teria usado os apontamentos ou escritos de Mordecai (9.20).

Realmente é dif íci l identificar o autor. Em suas evidências fracas é melhor deixá-lo indefinido. O que sa- bemos de concreto é que era um ju- deu, que vivia em Susã, que tinha livre acesso ao palácio e aos arqui- vos reais, e que teria vivido por vol- ta da metade do V século a.C.

Quanto a data da escrita as opi- niões também se dividem. Segundo Gallazi 11, há duas redações (inclui o apêndice grego, que consiste em 105 versíclrlos que não se encontram no texto hebraico do l ivro de Ester e foram intercalados pela tradução grega na Septuaginta. Segundo a tra- dição, esta ediçáo teria sido prepa- rada por um judeu egípcio por volta do ano 100 a.C. e inserida na LXX com o objetivo de inserir notas rel i- giosas nesta história popular e au- mentar seu caráter anti-gentílico 12) e, portanto, também duas datas. O texto grego faz menção de João Hir- cano que governou a Judéia de 114-1 12 a.C. Já o texto hebraico, se- gundo ele é mais difícil de precisar. Ele coloca um limite um tanto absur- do de abrangência: 450 a.C. até de- pois de Cristo. Outra posição liberal é assumida por C. Moore 13. Ele faz alusão a uma "edição final" que teria ocorrido por volta do II século a.C. (período dos macabeus). Por volta de 400 a.C., segundo ele, o l ivro teria começado a ser escrito. Sellin e Fohrer colo- cam a data do III ao I século a.C., pois "os primeiros vestígios da Fes- ta do Purim aparecem em 2 Maca-

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beus 15.36s~ (cerca de 5n a.C.\", e teria surgido anteriormente na diás- pora, tendo sido lentamente incorpo- rado aos costumes palestinos. 1 4

Posições mais conservadoras têm sido tomadas por alguns estu- diosos. Young comenta que é difícil precisar a época de atuação do au- tor, mas segundo E t 10.2 foi depois da morte de Assuero (465 a.C.), pois a história oficial do rei já havia sido escrita. 15 Horace D. Hummel 16 também argumenta neste sentido di- zendo que não há nenhuma indica- ção d o período grego (por volta de 300 a.C.), ficando a data entre estes dois pontos cronológicos.

Com base nestes fatos, sem dú- vida mais preciosos e confiáveis do que os apresentados pelos teólogos liberais, podemos datar o l ivro com alguma precisão entre a morte de Assuero (465 a.C.) e o início da do- minação grega (cerca de 300 a.C.).

Digna de nota é a posição assu- mida por alguns autores liberais quanto a composição do l ivro de Es- ter. Sellin e Fohrer, com obras de publicação católica, defendem três tradições narrativas utilizadas pelo autor: a) a história de Vasti, uma narrativa de origem persa;b) a histó- ria do judeu Mordecai que triunfou sobre o seu inimigo persa Hamã, ori- ginada na diáspora oriental; c ) a his- tória da judia Ester que conquistou as boas graças do rei e pode ajudar seu povo. Ainda segundo eles, "a ca- pacidade narrativa do autor reuniu todos estes fatos em uma história palpitante e contínua." 17 E os ab- surdos não param por aí. Segundo D. Harvey, colaborador do IDB, "há uma edição grega posterior, datada do I século a.C. que entra no texto da tradução feita pelos setenta

(LXX)". 18 Até aí é fato histórico. Mas o incrível é que a Igreja Cató- lica os "aceita como inspirados " 19 segundo a explicação da nota de pé da página da Bíblia de Jerusalém.

Como teria se efetuado então a composição deste livro? De fato não sabemos muito, mas nossos pressupostos hermenêuticos não nos permitem aceitarmos esta ver- dadeira desordem argumentada pela crítica liberal, que tira do relato bí- blico todo o seu caráter transcen- dente e o coloca ao nível da imper- feita história secular. 0 s acréscimos colocados pela LXX demonstram uma clara intenção de incluir aspec- tos religiosos que supostamente es- tariam faltando. As fontes utilizadas poderiam ser os escritos de Morde- cai, os relatos persas, mas isto sob a divina orientação do Espírito San- to.

IV. Destinatários e Contexto Histórico

Para quem o livro de Ester foi escrito? O que acontecia na história secular naquele tempo? Qual foi o contexto histórico do l ivro? Neste capítulo tais perguntas orientará0 nosso estudo.

Quanto aos destinatários, Geis- ler dá uma boa descrição: foram os judeus que não retornaram do cati- veiro por razões domésticas, sociais ou econômicas. Segundo ele ainda, o l ivro teria sido escrito para estes judeus para que ninguém contestas- se a piedade dos que não voltaram.20

Quanto ao plano secular, I. L. Jensen relaciona fatos e pessoas mundialmente conhecidos que foram contemporâneos a história de Ester: as três grandes batalhas de Marato-

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na, Termófilo e Salamina, e a morte de dois grandes lideres mundiais. Bu- da e Confúcio. 21

Quanto ao contexto histórico, Humnel 22 e Jensen 23 concordam que os fatos relatados no l ivro de Ester ocorreram entre os capítulos 6 e 7 de Esdras, entre a primeira volta do exílio com Zorobabel (356 a.C.) e o segundo retorno de Esdras a Jerusalém (458 a.C.). 24 Segundo Schulz, o império persa iniciou em 539 a.C., com a queda da Babilônia sob Ciro, cujo decreto permitiu a volta dos exilados. Nabucodonosor, rei babildnico, já levara para a Babi- Idn ia a Iguns cativos em 597 a .C., en- t re os quais se encontravam os an-

I. Os judeus na corte persa Vasti removida por Assuero Ester escolhida como rainha Mardoqueu salva a vida do re i

li. A ameaça contra o povo judeu Conluio de Hamã para destruir os judeus Os judeus temem o aniquilamento Mardoqueu alerta Ester Ester arrisca sua vida '

111. O tr iunfo dos judeus Mardoqueu recebe honrarias reais Ester intercede - Hamã enforcado Ma rdoq ueu 6 promovi do A vingança dos judeus A Festa do Purim Mardoqueu continua altamente honrado

cestrais de Mordecai e Ester. O tem- plo já havia sido restaurado em 515 a.C. no tempo de Dario I. Jensen ain- da acrescenta que Susã, a cidade em que Ester viveu como rainha foi a mesma cidade onde Daniel, oito anos antes, recebeu uma visão de Deus (Dn 8. 21 ). 25 De fato, Daniel viveu no tempo de Dario I, que foi sucedido por Xerxes no trono da Pérsia.

V. Esboço do Conteúdo

Dentre os autores consultados, Samuel Schultz apresenta o esboço mais sucinto e claro sobre o livro. Por isso o adotaremos a seguir. 26

VI. Canonicidade ponderemos neste capítulo, anali- sando as diferentes posições na his-

Este livro sempre foi aceito co- tória sobre a sua legimidade. mo canônico? A esta pergunta res-

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As opiniões contraditórias acerca da canocidade de Ester re- montam no mínimo a época do con- cílio de Jâmnia (90 A.D.), que "fe- chou" o cânon hebraico de AT. C. Moore 27 apresenta uma boa exposi- ção acerca do livro de Ester na his- tória da Igreja e pelos judeus.

Entre os judeus, segundo ele, os essênios da comunidade de Qumrã (200 a.C. a 100 A.D.) não o conside- ravam como canônico. Aliás Ester é o único l ivro não representado en- tre os manuscritos do Mar Morto. A razão deste preconceito é eviden- te: o l ivro não tinha menção alguma do nome de Deus e apresentava um protagonista que não seguia as leis mosaicas, o que era incompatível com o seu espírito legalista.

Ester aparece, contudo, em mui- tas fontes judaicas como canônico. Há menção no Baba Bathra 14b-15, uma obra talmúdica do I1 séc. a.C. e no Meghila 7a, o Talmude de Jeru- salém.

Tambem entre os cristãos, con- forme coloca Moore, havia diferen- tes posições. Os teólogos do ociden- te: Clemente de Roma, Rufino, Agos- tinho, Inocêncio I, e os concílios de Hipona (393 A.D.) e Cartago (397 A. D.) o'consideravam canônico. Já no oriente a situação era outra. Princi- palmente nas regiões da Anatólia e Síria sua canoncidade foi frequente- mente negada e não aparece em ne- nhum cânon nem é defendida senão por uma minoria dos pais eclesiás- ticos. Segundo o mesmo autor, os grupos ocidentais aceitaram o l ivro de Ester mais facilmente porque seu texto tinha as edições gregas, que suplantara a ausência do nome de Deus. Já os teólogos orientais. que tinham contato com o texto hebrai-

co, sem as adições, encontraram mais dificuldades de entendê-lo co- mo inspirado.

Tal divisão permanece na teolo- gia moderna. Na linha liberal encon- tramos, por exemplo, Klaus Homburg que duvida abertamente de sua cano- nicidade: "é preciso perguntar, po- rém, se foi um erro incluir -- após longa hesitação -- este l ivro no câ- non bíblico." 28 E ele vai além: "de- vemos entender o l ivro como roman- ce histórico ... naturalmente o l ivro de Ester dificilmente çe prestaria 'a proclamação cristã." 29 Apesar de sua extremada radicalidade uma vir- tude ainda lhe resta: a coerência. É obviamente natural que alguém que duvide da canonicidade de um l ivro e o considere como um romance his- tórico se sinta muito mais,propenso a pregar sobre o Dia da Arvore ou coisa que o valha. Horace Hummel cita outra posição extremada:"origi- nalmente o mito teria descrito a r i - validade dos principais deuses da Babilônia e do Elão ... Mordecai ... é... Marduck ... 30 Tais idéias desprezam a verdade da inspiração bíblica e ja- mais devem ser apoiadas por um teó- logo de sã consciência pois condu- zem ao erro, ao afastamento da ver- dade divina e ate do próprio Deus, perecendo na condenação eterna.

Felizmente Deus concedeu a Igreja teólogos conscientes, que sa- bem manter a verdade contra o erro. Sua certeza da canonicidade deste l ivro era tanta que nem acharam ne- cessário dizê-lo explicitamente.

VII. Historicidade

É o l ivro histórico? Diferentes respostas foram e são dadas a este questionamento. A mais acertada,

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porém, deu Hummel: "não há, com certeza, no l ivro (nem mesmo os "milagres em seu sentido restrito") para sugerir que não é." 31 Lutero tinha a sua opinião sobre o livro,mas foi muito mal entendido: "sou tão hostil a este l ivro (2 Macabeus) e a Ester que desejaria que nem exis- tissem, pois judaízam tanto que pos- suem uma depravação pagã ... Lutero julgou bastante negativamente este l ivro" 32, escreve Klaus Homburg orgulhosamente. Contudo estas pa- lavras são muito mal interpretadas. Lutero não negava a canonicidade ou historicidade deste livro. Muito pelo contrário, ele o inclui entre os "Geschischtsbucher" em sua tradu- ção da Bíblia para o alemão. A refe- rência que é feita neste caso especí- fico é acerca de aspectos do livro que obscureciam a mensagem cristã quando mal entendidos, como por exemplo os aspectos judaizantes e a Festa do Purim vista como uma festa pagã. (Reflexão particular).

Diretamente a questão os libe- rais têm respondido enfaticamente. Gallazi sustenta que "pelas informa- ções que temos ... Ester não relata um fato acontecido na realidade pe- l o menos não do jeito que o livro conta." 33 J. Schreiner 34 O caracte- riza como um romance histórico (li- nha de Gunkel), isto em um capítulo entitulado "Romance e História em Israel". D. Harvey, colaborador do IDB acrescenta: "a forma externa do livro mantém a pretensão para a his- toricidade." 35 Estes e outros auto- res que negam sua historicidade le- vantam alguns "problemas" para jus- tificar sua posição. Os mais impor- tantes são analisados por Hummel 36 como segue:

O problema do nome de Assue-

ro: Xerxes (486-465 a.C.) ou Artaxer- xes (404-385 a.C.)? Para Hummel a confusão tem sua origem na LXX que identificou Assuero com Artaxerxes, totalmente fora de contexto.

Outra grande dificuldade é acerca da idade de Mordecai (ou, em outra tradução, Mardoqueu) e de Ester. Conforme 2.6, argumentam al- guns, Mordecai teria vindo cativo com Nabucodonosor em 597 a.C. - mais que um século antes e, portan- to, não poderia ter sido o primeiro ministro persa e nem Ester seria for- mosa e jovem. Acertadamente Hum- mel derruba o argumento mostrando que o pronome relativo 'asher' em 2.6 se referia a Quis, avô de Morde- cai e, portanto, duas gerações atrás.

O nome da rainha de Xerxes também tem causado dificuldades. Segundo Josefo, a rainha neste pe- ríodo seria Amestris e não Vasti. Hummel contrapõe dois argumentos: a possibilidade da dualidade de no- mes e a inconfiabilidade dos relatos de Josefo, pois ele mesmo não se considerava um historiador fidedig- no.

O posto alcançado por Morde- cai, sendo judeu, no governo persa também é levantado como impossí- vel. A resposta de Hummel é de que há evidência arqueológica de um tal de "marduka" ocupando o cargo de supremo oficial da corte imperial de Susã, e aponta para a casa de Nee- mias, Daniel e outros que consegui- ram tal façanha.

Muitos outros pontos são le- vantados para justificar uma posição contrária a historicidade de Ester. Há, porém, uma linha liberal que de- fende a historicidade de Ester a sua maneira. Mas fazem a sua leitura da história de Ester. Gallazi escreve:

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"os autores sagrados não são jorna- listas, mas procuram avivar a cami- nhada e a fé do povo ... a preocu- pação d o autor não é contar uma história verdadeira, mas a verdade da história, que pode ser vivida e feita por todos os crentes." 37 Ester é identificada como a libertadora que mudou a sorte do povo oprimido. Sem dúvida, um "prato cheio" para quem defende a Teologia da Liberta- ção e tem feito sua "opção pelos pobres".

VIII. Teologia

Quais os temas teológicos que perpassam o l ivro de Ester? Pode um l ivro que nem menciona o nome de Deus ter algum significado teoló- gico. Sellin e Fohrer respondem, friamente a questão: "ao mesmo tempo o livro contém uma narrativa palpitante ... seu valor teológico é posto em dúvida." 38 Sem dúvida. um tema teológico proeminente é a providência divina. Contudo, não é só a providência geral, mas também e principalmente o "escândalo da particularidade", como é muito bem colocado por Humrnel. 39 E Deus elegendo e protegendo o seu povo contra os seus inimigos, inclusive com "guerra santa" se for necessá- rio.

Referências sutis a teologia do livro são encontradas no capítulo 4, nos versículos 14 e 16. No último faz-se menção de práticas judaicas - o jejum era geralmente acompa- nhado de oração. Mas é o versículo 14 que encerra toda a teologia do livro: "de outra parte se levantará socorro e livramento para os ju- deus." Conforme bem coloca Hum- mel, o termo utilizado no hebraico

é magom, que segundo a exegese tradicional pode ser entendido como um circunlóquio para o nome de Deus. 40 Algo semelhante a "céus" na expressão "reino dos céus" de Ma teus.

E bem verdade que o nome de Deus não aparece no livro. Mas esta ausência torna-se muito mais signifi- cativa quando bem entendida. Acer- tadamente Hummel entendeu a ques- tão assim: "a verdadeira ausência da menção explícita do nome de ,Deus no l ivro pode ser explicada como um testemunho de seu controle so- berano em todos os tempos, mesmo quando o homem não pronuncia seu nome." 41

Um último aspecto teológico é talvez o mais importante para a Igre- ja: é o cristológico. Ester, por seu ato de libertação, tendo arriscado sua vida. para salvar o seu povo, é uma sombra tipológica do Salva- dor que de fato daria sua vida para salvar todos os homens.

IX. A Festa do Pairim

Como foi colocado no início deste trabalho, um dos propósitos do autor era descrever o surgimento e dar a base histórica para a Festa do Purim. Há autores contudo, que discordam desta posição. Para K. Homburg "a história de Ester é a lenda da festa do Purim, pois ela fundamenta a adoçáo desta festa pe- los judeus". 42Esteautor representa a ala liberal, que coloca uma origem totalmente pagã para esta festa e defende uma adoçáo pelos judeus da diáspora primeiramente, os quais a introduziram então na comunidade judaica. Esta posição também é de- fendida por Sellin e Fohrer. 43

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O que sabemas de concreto so- bre esta festa eiqual a posição con- servadora sobre o assunto? A Festa d o Purim tem seu nome derivado no fato de Hamá terllançado pur, sorte, para determinar a época do extermí- nio dos judeus (3.7). Como o fato acabou em libertação dos judeus de seus inimigos, n-nome foi aplicado aqueles dias (9.2426) e ficou a festa que comemorava esta libertação de Festa do Purim.

Quanto #I presença de elemen- tos culturais estrangeiros nesta fes- ta, o teólago Iuterano Hummel assu- me uma posição sensata: "é inteira- m n t e possível que a comemoração judaica do Purim mais ou menos concorde com algumas festas per- sas, algtirtps daquelas observâncias populetres yieram a misturar-se com ela." 441

Ester é, sem dúvida, um l ivro muito rico. Historicamente porque narra a origem da Festa do Purim e a situação dos exilados que perma- neceram na Babilônia. Doutrinaria- mente porque toda a sua história transpira a providência divina em fa- vor de seu povo e mostra claramente o escândalo da particularidade. E cristologicamente pois fornece um tipo de Cristo, uma prefiguraçáo da libertação por excelência realizada por Cristo na aurora do Novo Tes- tamento.

E preocupante que tamanha ri- queza seja raramente abordada em sermões ou estudos bíblicos entre os cristãos. Cabe-nos o trabalho de fazer renascer este conteúdo vivo, portador de uma mensagem sempre atual, pois é, acima de tudo palavra de Deus.

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N O T A S

, - - 3 MOORE, T a n c h o r ~ i b l e : Ester. D. 53 4 YOUNG, Introdi 5 JENSEN, J-n's : 6 GEISLER, A Po, 7 YOUNG, i n op. cit., 8 GEISLER, i n -op. cit.; p. 171 9 Idem, ibidem, p. 171

10 YOUNG, i n op. c i t., R. 368 11 GALLAZI, ~ s t e r , a híulher que Venceu o Palácio, p. 11. 12 BUCKE, i n op. cit., p. 151 13 MOORE. i n OD. c i t.. D. 57 14 SELLIN '~ FOHRER .introdução ao Ant igo Testamento, p. 362, 15 YOUNG. i n OD. cit.. D. 368 16 HUMMEL, i n bp. c i i.,' p. 543 17 SELLIN e FOHRER, i n op. cit., p. 362 18 BUCKE, i n op. cit., p. 151 19 BIBLiA DE JERUSALEM, p. 768 20 GEISLER, i n op. cit., p. 172 21 JENSEN, i n op. cit., p. 244 22 HUMMEL, i n op. cit., p. 536 23 JENSEN. i n OD. cit.. o. 241 24 SCHULT~, A ~ i s t ó r i a ' d e Israel no Ant igo Testamento, p. 247 25 JENSEN, i n op. cit., p. 242 26 SCHULTZ. i n OD. cit.. D. 248 27 MOORE, i n op.'cit., b.'21 28 HOFIIBURG, introduçao ao Ant igo Testamento, p. 132 29 idem. ibidem. o. 133 30 HUMMEL, i n 6;. cit., p. 540 31 Idem, ibidem, p. 536 32 HOMBURG, i n op. cit., p. 132 33 GALLAZI. i n OD. cit.. D. 12 34 SCHREINER, ~a1avra .e Mensagem, p. 414 35 BUCKE, i n op. cit., p. 151 36 HUMMEL. i n OD. cit, o. 538 37 GALLAZI, i n ip. cit:, 'p. 13 38 SELLIN e FOHRER, i n op. cit., p. 363 39 HUMhlEL, i n op. cit., p. 547 40 idem, ibidem, p. 547 41 Idem, ibidem, p. 546 42 HOMBURG, i n op. cit., p. 133 43 SELLIN e FOHRER, i n op. cit., p. 360 44 HUMMEL, l n op. cit., p. 542

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Bibliografia

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u l o

* Aluno d a Escola Superior de Teologia do Instituto Con- córdia d e São Paulo. (Vide "Palavra ao Leitor")

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~istóría da Instituto Concórdia de São Paulo

Cerar Scholz *

A partir do momento em que fo- mos contactados para transcrever a história do nosso Instituto Concór- dia de São Paulo (ICSP), nos preo- cupamos e fomos as fontes, e verifi- camos que há fases bem distintas na mesma. A primeira fase ocorreu no Espírito Santo; a segunda, no Rio de Janeiro; a terceira, em São Paulo e a quarta fase é a reabertura das atividades do Instituto a nível de 1" e 20 Graus e também o curso de Teo- logia, enfatizando a criação do se- gundo Seminário da Igreja.

Para que este artigo se tornas- se possível consultamos o l ivro "Crônicas da Igreja", escrito por Carlos H. Warth e o Anuário de 1965 do Instituto Concórdia de São Paulo (ICSP).

Apresentaremos neste artigo a fase um e dois da implantação do Instituto Concórdia, que compreen- de respectivamente Espírito Santo e Rio de Janeiro.

O ICSP possui uma longa histó- ria. Como já vimos, o Instituto não fo i criado aqui em São Paulo, porém chegou até aqui. Ele veio devagar e cambaleante em meio a muitas dif i - culdades, que surgiram no correr dos 14 anos que seguiram a sua fun- dação n o Espírito Santo até se insta- lar definitivamente em São Paulo.

A história do ICSP começa em 1948, no Estado do Espírito Santo, quando pastores e leigos do Distrito

Espírito Santo-Minas Gerais se con- venceram da necessidade da criação de um educandário para a formação de professores que pudessem aten- der as escolas da zona rural daquela região de atividade da Igreja. Como naquela época era difícil conseguir professores formados em nosso Se- minário de Porto Alegre (POA) - tan- t o assim que não existia nenhuma escola sinodal em todo o Estado do Espírito Santo - era igualmente difí- c i l enviar estudantes para Porto Ale- gre. As escolas primárias faziam fal- ta para preparar os futuros dirigen- tes leigos da Igreja num conhecimen- to mais adequado das verdades do Cristianismo.

Sendo assim, o plano foi posto em ação. Foi então criada uma Liga de Leigos Luteranos, a qual caberia assim a tarefa de manutenção da es- cola preparatória de professores ru- rais. Um dos leigos destacou-se por uma oferta toda especial: o Sr. Gui- lherme Belz. Doou duas colônias de terra, inclusive casa e plantação, a fim de que o projeto pudesse entrar em andamento. Situavam-se estas terras em São João Grande, distrito de Itapina, município de Colatina, cerca de 7 Km ao norte do Rio Doce.

As instalações foram primitivas: alguns catres (camas toscas) cons- truídas no próprio local e alguns bancos era tudo em matéria de equi- pamento. Mesmo nestas condições

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16 candidatos se matricularam para início das aulas n o dia 22 de agosto de 1948.

Foi então que dificuldades de toda sorte começaram a obstaculi- zar a pequena escola logo no seu início. Sáo João Grande deixou de ser sede da paróquia indo esta para Mutum Preto. Muitos paroquianos transferiram residência para o norte do Estado em busca de terras mais apropriadas ao cultivo do café. O isolamento do local, confinado num rincão, longe de recursos urbanos, a escassez de ofertas e outras dif i - culdades fizeram muitos pensar nu- ma transferência da escoia para um centro de mais fácil acesso.

A cidade de Baixo Guanciu, na confluência dos r ios Guandu e Doce, a poucos quilômetros da frcnteira com Minas Gerais, servida pcia es- trada de ferro Companhia Vr-ile dí: Rio Doce, foi o ponto esccihido. Com a venda da propriedads irrr Sâc. João Grande e o recebimecic le dm auxílio da Igreja-Mãe dos 1: .,$;idos Unidos foi possível comprar 2 - '~er? feitorias existentes numa yiiad ouc a Prefeitura doou a escola.

As aulas estiveram interi »rnDi- das um ano inteiro, esperando pela conclusão do prédio escolar. As au- las começaram no dia ri7 de setem- bro de 1952, com os alunos transfe- ridos de São João Grande.

O novo problema da escola não era mais transferir-se: era agora transformar-se. Nascida como Esco- la Normal Rural, rapidamente cum- priria essa finalidade. Quando se formou a primeira classe de profes- sores, notou que o mercado de ab- sorção era pequeno para manter uma escola exclusivamente para es- se fim. A primitiva Escola Normal

Rural foi transformada em ginásio. Estabeleceu-se um acordo com o nosso Seminário de Porto Alegre, e Baixo Guandu - j á agora com o nome de Instituto Concórdia - transfor- mou-se assim em Pré-Seminário.

Por que o instituto não perma- neceu em Baixo Guandu7 O que ocorreu na época, é que a igreja es- tava no período de reformulaçáo de seu sistema de ensino. O então re- presentante de Igreja-Mãe argumen- tava, com apoio no mapa do Brasil, sustentar a necessidade de estabe- lecer o Pré-Seminário em Vitória. Porém, 3 rgreja-Mãe acolheu as ra- zões de, representante, e o Rio de Janeirc foi escolhido como sede do Pré-Seviinário. 3 Distrito Espírito Tanto-i\ilinas, na siia conferencia de '~arger r qieijre, resolveu encerrar as > f i ~ i d a ,S :o Instituto em Baixo

iai1a3i -10 ti'oPWi1lO eln que o novo - E - 'i, 11r72it0 c,i:rni;casse a iuncio- dr - 1 - ~itár: di.-ti ito Federal.

i í -?ro ?e janeiro ,o1 adquir!do dn? ~ C I ?r?o #10 Hciirro de Santa Aie-

2r?dr ,.-d . ~ o ~ c ~ ~ n ~ i r ~ ~ t ~ s d o c e n - -, i:aí't- i v í ; ~ m ~ t í P ~ C se ccns-

I , ie'renc dciquirrdo, a escola ' i inc~oi: ,~ 1 3 * n predio aluqado. no al- i d.7 I da .'is'ra, em frente a praça

Afonsr? V i red, na estrada da Floresta j?a 7 ,JUS-a. =m rnarco de 1957, com os trer? alunos e os três professo- res trânsferidos de Baixo Guandu (Prof. Osvaldo Schuler; Hev. A.A. Gruell e a esposa deste, Dona Ethel), começaram as aulas no Rio de Janei- ro. Um ano depois o Rev. A.A. Gruell e esposa voltaram aos Estados Uni- dos, sendo chamado o Prof. Paulo F. Flor para substituí-10.

O Instituto passava a funcionar cinco anos no Rio de Janeiro em prédio alugado. Isso porque a exce-

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Iência do terreno adquirido começou a ser posta em dúvida para a cons- trução de um educandário. Nova- mente se formaram duas correntes, até que o problema foi levado pe- rante a Copvenção Sinodal de 1959. Foi instituida uma comissão para es- tudar o assunto e esta comissão su- geriu a mudança do Instituto para São Paulo, onde havia um terreno em condições aceitáveis.

Novamente houve mudança. Um pequeno caminhão havia transporta- do a escola de São João Grande pa- ra Baixo Guandu. Dois caminhões a levaram ao Rio de Janeiro. Três grandes caminhões estavam com ela a caminho de São Paulo no dia 30 de dezembro de 1961. Esta nova fase durou dez anos, indo de 1962 a 1972.

Sabe-se que o primeiro ano de funcionamento do ICSP foi sensivel- mente prejudicado pelas obras que ainda estavam em pleno andamento. Para que fosse possivel a constru- ção dos prédios, a Igreja-Mãe (Mis- souri Synod) concedeu a soma de Cr$ 141 .161.000,00.

O corpo docente do Instituto, na época era constituído pelos pro- fessores Paulo F. Flor e Osvaldo Schuler e suas respectivas esposas: Wanda Flor e Ivone Schuler, as quais também ministravam aulas. No en- tanto, o Rev. A.A. Gruell, que fora professor no Rio de Janeiro, não se transferiu para São Paulo, porém re- tornou para os Estados Unidos.

Em São Paulo o corpo docente foi reforcado na pessoa do Rev. Martim W. Flor, que havia sido eleito Diretor, do Instituto em 1961, sendo instalado em março de 1962. Na me- dida que o número de alunos matri- culados crescia, foi necessário con- tratar mais professores. Em 1963, foi

contratado o Prof. Breno C. Thomé. Em 1964, o Prof. Guilherme Strelow. Em 1965, o Prof. Walter O. Steyer. Em 1966, a Prof" Frieda Strelow. Em 1970, a Prof" Ignês Strelow. Em 1971, Irma Flor. Em 1972, a Profa Helena V. Flor.

A Assistência espiritual dos alu- nos e professores, até o ano de 1967, foi feita pelo Rev. Ernesto A. Heine, da congregação "Concórdia" de In- dianópolis, bairro da cidade de São Paulo. Em 1967 Campo Limpo tor- nou-se sede de uma paróquia e cam- po de missão. Convém mencionar o fato de que os alunos faziam visitas missionárias as famílias vizinhas do Instituto, a fim de transmitir a Boa Nova. Quando já havia um bom nú- mero de prospectos resolveu-se chamar um missionário para liderar o trabalho evangelístico. Sendo as- sim a futura congregação "Ebené- zer" recebeu o Rev. Galdino Schnei- der como seu pastor e guia espi- ritual.

Convém mencionar que a con- gregação "Ebenezer" se formou em praticamente 6 anos, sendo que a maioria dos membros é de origem não luterana.

Nos anos de 1967 a 1968 o Dire- tor professor Martim W. Flor, foi li- cenciado para dedicar-se a um curso de pós-graduação em teologia, nos Estados Unidos, assumindo interina- mente a direção o Prof. Osvaldo Schuler.

Na 41a Convenção da Igreja, realizada no Colégio Concórdia (Porto Alegre - 1968), foi resolvido anexar o curso colegial ao Instituto Concbrdia de São Paulo, fato que foi efetivado em 1972. No mesmo ano iniciou-se o processo de extin- çáo gradual do ciclo ginasial (5" a

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8a séries). No ano de 1971 uma lei federal

de número 5692 deu uma nova reali- dade para o ensino do Brasil. A par- tir dessa lei houve a fusão da antiga escola primária com o ciclo ginasial numa nova unidade, chamada de pr i - meiro grau, de 8 anos de duração, com obrigatoriedade de frequência em todo o pais. Isto resultou na qua- se automática redução do curso pre- paratório do Seminário da Igreja de 7 para 3 anos (cancelamento do c i - c lo ginasial de 4 anos). Assim sendo, não era possível sustentar duas ins- tituições preparatórias (São Leopol- do e São Paulo); duas administra- ções com dois corpos docentes,para um número de alunos drásticamente reduzido, parecia ser contra-indica- do do ponto de vista racional e de mordomia responsável. Assim sus- pendeu-se temporariamente as fun- ções do ICSP, na categoria de Pré- Seminário, até encontrar-se uma no- va' modalidade de escola para o aproveitamento da propriedade e instalações de Campo Limpo. Essa suspensão efetuou-se com o encer- ramento do ano letivo de 1972, não se efetuando mais matrículas para o ano seguinte. O corpo docente foi transferido para São Leopoldo e Porto Alegre.

Nesta época, em 1971, o Prof. Osvaldo Schuler já havia sido trans- ferido para Porto Alegre, para onde também seguiu, em 1973, o Prof. Walter O. Steyer. No mesmo ano o Prof. Paulo F. Flor foi integrado ao corpo docente do Instituto Concór- dia de São Leopoldo. Em 1974 o Di- retor Martin W. Flor deixou o ICSP para assumir a função de professor do Seminário Concórdia de Porto Alegre. Em São Paulo permaneceu

somente o Prof. Guilherme A. Stre- low, como administrador da proprie- dade.

O ICSP sempre apresentou um bom numero de matriculados, como podemos ver na tabela abaixo:

Em 1948, quando ainda em São João Grande, município de Colatina, ES, havia uma matrícula de dezes- seis alunos; e n'ao temos dados sobre os anos de 4? a 51 em 52, Baixo Guandu, ES, 8 alunos; em 53, 21); em 54, 12; em 55,'24; em 56, 21 alunos. Em 1957 o Instituto passou a funcio- nar no Rio de Janeiro e neste ano contou com uma matrículade 13 alu- nos; em 58,16 alunos; em 59, 17 alu- nos; em 60, 20; em 61, 14 alunos.

No ano de 1962 foi inaugurado o ICSP, desta vez em prédio definiti- vo, que contava com uma matrícula de 23 alunos. Em 63 contou com 41 alunos ao todo; em 64, 71 alunos; em 65, 95; em 66, 98; em 67, 100 alunos; em 68, 112; em 69, 130; em 70, 11 5; em 71, 96; em 72, 72 alunos.

Através destes dados podemos verificar que o ICSP realmente sem- pre apresentou um grande número de alunos e se não fosse a paralisa- ção das atividades, em fins de 1972, certamente o ICSP seria uma escola muito grande, no que se refere ao número de alunos. No entanto, não adianta lamentar o tempo que pas- sou. O que por outro lado nos deixa alegres é o fato de o mesmo ter sido reaberto no ano de 1983.

A quarta fase da vida do Institu- to é a que se refere a reabertura das atividades escolares, que foram interrompidas no final de 1972.

No entanto, em 1982 começou a ser implantado gradativamente o Pré-Escolar e a Escola de 1" Grau. Porém, no ano err! que a Igreja Lute-

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rana comemorou os quinhentos anos do nascimento de Lutero, houve um motivo todo especial para regozijo e júbilo no seio da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Acontece que no dia 6 de março de 1983, ocorreu a reabertura do 2" Grau (Magistério em implantaç20 gradativa) e a im- plantação do 20 Seminário Teológi- co da IELB. Com este evento se ini- cia uma nova fase na história da edu- cação da IELB.

Na cerimônia de reabertura do Pré-Teológico e a abertura oficial da 2" Faculdade de Teologia estive- ram presentes, além dos professores da escola, alunos e pais de alunos, a direção da Igreja, convidados es- peciais, mais de seiscentos congre- gados de São Paulo e duas carava- nas do Paraná, que lotaram o auditó- r io do Instituto Concórdia.

O culto de abertura teve início as 16hs. As duas mensagens que fo- ram proferidas - sermão no culto da tarde e aula inaugural no cerimonial da noite - expressaram de maneira singela o significado e importância da abertura desta Escola de 2"rau e 2" Faculdade de Teologia da IELB. O sermão, proferido pelo Rev. Dr. Nestor L. Beck, secretário executivo do Departamento de Ensino, esteve baseado em Rm 10.11 -15 sob o tema "Uma Escola de Teologia para o Propósito do Senhor". A mensagem a aula inaugural foi dirigida pelo Rev. Prof. Dr. Rudi Zimmer sob o tema "Educação teológica modelada sobre o amor de Deus".

Neste culto foram investidos pelo Rev. Johannes H. Gedrat, presi- dente da IELB, os professores do Instituto Concórdia de São Paulo: Rev. Rudi Zimmer, como Diretor da Escola Superior de Teologia; Rev.

Paulo F. Flor e Rev. Ari Lange como professores. Também foi instalado o Prof. Erno Oscar Koller como Di- retor da Escola de 10 e 20 Graus.

Muitos talvez estejam indagan- do o porquê da reativação da Escola de 2" Grau e abertura da 2" Faculda- de de Teologia da IELB? A resposta para tal pergunta está na mensagem proferida pelo Rev. Nestor L. Beck.

O Rev. Beck sublinhou quatro razóes para justificar este empreen- dimento da Igreja:

- "Estamos abrindo esta escola proque o Senhor deseja que todos os homens creiam nele e o invoquem para serem salvos. "Pois como invo- carão a quem não creram?"

- "Estamos fundando esta esco- la porque o Serihor quer que todos os homens ouçam a palavra da fé, para poderem crer nele e ser justifi- cados. "Pois como crerão naquele de quem nada ouviram?"

- "Estamos criando esta escola para atender a demanda crescente de pregadores da palavra da fé. "Pois como ouvirão se não há quem pregue?"

- "Estamos abrindo esta escola porque o Senhor deseja autorizar muitos pregadores a anunciarem a palavra da fé. "Pois como pregarão se não forem enviados?"

Através destes aspectos nota- mos que a reabertura do 2" Grau e a abertura da 2" Faculdade de Teolo- gia tem uma base da própria Palavra de Deus.

A igreja necessita ter sempre mais obreiros qualificados para le- var a única mensagem, aquela men- sagem que realmente pode transfor- mar a vida de uma pessoa e lhe tra- zer a salvação em Cristo.

Estamos certos que cada vez

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mais jovens dedicarão suas vidas a Conio checjamos ao final da ma- obra do Senhor. Podes :arê lo em Iéria, a oual nos havíamos proposto um dos nossos educandários Tanto neste arriao, esperames que o mes- em São Leopoldo (RSI, corno em rrio tenna realmente servido para se São Paulo (SP). Lembremo-nos tão conhecer a emocionante história do somente que o trabalho na seara do ICSP. Senhor náo é em vão.

* Pastor da JELR. O presente artigo foi publicado na L'ox Concordiana, ano 1, 1983, números 1, 2 e 3.

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Rrqueologia Bíblica Deomar Roos *

O presente artigo tem um duplo propósito. Primeiro, sistematizar al- gumas noções básicas a respeito da arqueologia bíblica. Segundo, des- crever sucintamente (e assim dividir com a IELB) a quinta temporada ar- queológica na cidade de Abila. Apr i - meira parte do artigo enfoca o as- pecto teórico. A segunda parte é a teoria posta em prática.

PRIMEIRA PARTE: ARQUEOLOGIA BIBLICA

NA TEORIA

I. Definição

O termo "arqueologia" tem sua origem na justaposição dos termos gregos archaios e logos e significa, numa compreensãoliteral, o estudo das coisas do princípio, ou ciência das antiguidades. Há várias maneiras de se defini r arqueologia. Diferentes autores formulam a definição de di- ferentes formas. Merri l C. Unger a entende como "... ciência baseada na escavação, decifração e avaliação dos registros do passado."l. Desta forma a arqueologia bíblica lida "... com a escavação, decifração e ava- liação crítica de registros antigos que têm a ver direta ou indiretamen- te com a Bíblia e sua mensagem."2 Em outro lugar entende-se arqueo-

logia como a "... recuperaçáo, análi- se, e interpretação sistemáticas das

evidências da atividade humana ain- da existentes."s Ou mesno que a arqueologia é "... o método de inves- tigação a respeito do passado da ra- ça humana em seus aspectos mate- riais, e o estudo dos produtos deste passado."4 Por extensão, entende- se arqueologia bíblica como esta mesna atividade porém direcionada ao texto e mundo bíblicos.

As definições multiplicam-se na proporção do número de autores. O que foi mencionado é suficiente para uma compreensão básica. De qual- quer forma, três elementos funda- . mentais não podem faltar numa defi- nição de arqueologia: recuperaçáo do material antigo (normalmente via escavação), identificação e análise dos achados, interpretação dos mes- mos num contexto mais amplo e com visão de perspectiva.

Tradicionalmente a arqueologia era entendida como uma subciência da história. Porém no século passa- do recebeu o status de ciência for- mal com objetivo e métodos pró- prios. Entretanto o interrelaciona- mento de ambas continua. Ambas complementam-se, Enquanto a histó- ria está primariamente voltada para os registros escritos das civil iza- ções, a arqueologia lida com os re- manescentes materiais das mesmas (objetos. moradias, ferramentas, a r - vas, construções, tumbas, etc.).

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As pessoas sempre foram curio- sas a respeito do seu passado. Ainda nos tempos do AT, os reis resgata- vam e preservavam pedaços de está- tuas antigas e outras peças desco- bertas no decorrer de suas constru- ções. Mais tarde os romanos ricos traziam da Grécia muitas destas es- tátuas para embelezar as suas pro- prias mansões. O interesse em co- nhecer os locais bíblicos recebeu grande impulso após a Reforma e muitos passaram a descrever suas viagens pela Palestina. A partir do s6culo XIX A.D. ficou mais fácil estu- dar e viajar. Desta forma cresceu o interesse por coisas antigas. Por um bom tempo este tipo de material foi boa fonte de lucro para aqueles que o achavam ou o escavavam. Mu- seus e galerias pagavam um bom di- nheiro por boas peças.

O primeiro passo para um estu- do consciente da antiguidade veio com Napoleão em 1798. Ao planejar a invasão do Egito, ele incluiu na expedição um time de estudiosos com a tarefa de fazer um levanta- mento dos monumentos al i existen- tes e levar alguns destes para a França. (Diga-se de passagem, isto não impediu seus soldados de prati- carem t i ro ao alvo no nariz da esfin- ge que se encontra ao lado das pirâ- mides de Gezer!) Durante esta inva- são a Pedra Roseta foi achada. (Esta consiste num bloco de pedra no qual o mesmo texto acha-se registrado nas línguas gregas e em duas formas de hieróglifos. Este achado foi um auxílio importantíssimo nas mãos de Champollion para a decifração dos hieróglifos em 1824).

O interesse pelas antiguidades

aumentou cada vez mais. Alguns dos que se propuseram a estudar o Oriente Próximo não passavam de caçadores de tesouros. Outros fize- ram levantamentos sérios. particu- larmente Israel, pelo fato de ser a Terra Santa e receber peregrinos com regularidade, era relativamente bem conhecida. Em 1838 o Prof. Ed- ward Robinson (um professor de Iite- ratura bíblica dos EUA), acompanha- do por Eli Smith, empreendeu o pri- meiro estudo cuidadoso da Terra Santa. Ambos fizeram um levanta- mento topográfico e identificaram diversos locais antigos com lugares , que aparecem na Bíblia. Igualmente o Egito e o terr i tór ioda antiga Assí- ria, em virtude de sua rica tradição histórica, também despertaram o in- teresse de muitos. Na Assíria, é dig- no de menção o nome do cônsul francês Paul-Emile Botta que esca- vou parte de Níneve em 1842-43. O britânico Henry Layard também des- cobriu inscriçóes importantes na mesma região em 1845. Em 1850 es-

I I

tas tabuinhas foram decifradas: não eram nada mais nada menos que a I escrita cuneiforme babilonica! As escavações no Egito, Assíria, Babi- Iónia aumentaram a medida em que o tevpo passava. Vieram equipes de diferentes partes do mundo (França, Inglaterra, Itália, Alemanha, Estados Unidos), algumas financiadas por museus com o objetivo de trazer ob- jetos que enriquecessem suas expo- sições. Arqueólogos na tivos dos paí- ses mencionados também davam sua contribuição. A preocupação destes era especialmente a preservação da sua herança nacional.

O Início das escavações ar- queológicas na Palestina não foi di- ferente. Procurava-se monumentos

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imponentes com o objetivo de im- pressionar o público ocidental. Há quem entenda que o francês De Saul- cy foi o primeiro a realizar uma es- cavação verdadeiramente arqueoló- gica na Terra Santa - isto se deu nas imediações de Jerusalém.6 Em 1867-70, a equipe de Charles War- ren, trabalhando na área de Jerusa- lém, atingiu os fundamentos do Tem- plo de Herodes e fez o levantamento de outros remanescentes antigos. Sir William Flinders Petrie marcou época na arqueologia da Terra San- ta ao escavar Tell el-Hesi, perto de Gaza, em 1890. Ele percebeu que a cerâmica encontrada em diferentes níveis era distinta uma das outras. E a classificou em diferentes estilos conforme a sua idade. Desta forma ele inaugurou o uso da cerâmica co - mo instrumento de datação do local escavado, prática hoje adotada re- gularmente em expedições arqueoló- gicas. Outros nomes igualmente im- portantes surgiram na escavação da Terra Santa, tais como G.A. Reisner e C.S. Fischer (trabalharam em Sa- maria em 1908-ll) , ou mesmo Wi- Ilian F. Albright (que desenvolveu o sistema básico de datação da cerâ- mica palestina). A escola britânica foi adiante desenvolvendo o sistema de escavação estratigráfica (de cer- ta forma já utilizada por Sir William Flinders Petrie). Esta consiste na ve- rificação e análise minuciosa das di - ferentes camadas do solo que podem significar diferentes níveis de ocu- pação humana. Kathleen Kenyon fo i a primeira a aplicar este sistema ao trabalhar em Samaria em 1931-35. O mesmo método foi usado por ela com sucesso em Jericó a partir de 1952. Desde então o método de esca- vação estratigráfica tem sido adota-

do em praticamente todas asexpedi- ções arqueológicas.

A arqueologia, portanto, é ciên- cia com história recente. No entanto veio para ficar. Nos dias atuais igno- rar a arqueologia significa ignorar as contribuições decisivas da mesma aos estudos bíblicos. Não é mais possível fazer um estudo sério do texto sagrado sem, de alguma forma, reportar-se aos avanços arqueoló- g icos.

111. DATAÇÃO DA ARQUEOLOGIA BIRLICA

A cronologia das coisasda anti- guidade sempre apresenta dificulda- des. Como é possível datar de forma precisa e inconfundível aquilo que não apresenta evidências incontes- táveis? E isto se verifica de forma especial nos episódios do AT, ou mesmo naqueles anteriores aos grandes momentos do AT. Por exem- plo, como vamos datar a criação do universo? Ou o dilúvio? Ou a tenta- tiva de construção da torre de Ba- bel? Uma grande dificuldade se apre- senta quando se trata de datar even- tos muito recuados. Os estudiosos sabem disto. E ninguém se arrisca a apresentar uma proposta de crono- logia como algo definitivo e incon- testável.

Via de regra, a linha divisória entre a história e a pré-história é o desenvolvimento da escrita. Isto não significa que os episódios que antecederam a escrita não sejam história. Porém não há documento escrito que o comprove. Portanto, pré-história é o período anterior a existência da escrita. E história é o que lhe segue até onde já se pode verificar nos estudos da civilização

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ocidental, a escrita apareceu ao re- dor de 3.500 a.C. no Egito e na Meso- potâmia. O vale do Rio Nilo produziu a escrita hieroglífica que até hoje pode ser vista nos grandes monu- mentos egípcios. O vale dos Rios Ti- gre e Eufrates nos legou a escrita cuneiforme, hoje amplamente com- provada e estudada a partir de acha- dos arqueológicos e que em muito ajudam na compreensão do AT. A periodização arqueológica baseia- se especialmente nos avanços tec- nológicos apresentados em diferen- tes momentos. São novos momentos marcados por mudanças significan- tes na atuação do ser humano. Em períodos mais recentes, o cr i tér io para a periodização é a civil ização que domina no momento e que, natu- ralmente, introduz o seu modus vi- v a (inclusive sua tecnoloqia e v i - são de mundo) no seu contexto de influência.

A periodização que segue vale para o mundo bíblico. (E preciso lembrar que em diferentes lugares as datas podem variar em virtude de terem recebido determinadas a l - terações de civilização em diferen- tes momentos). É provisória, esta "sujei ta a chuvas e trovoadas", e de forma alguma pretende ser a "última palavra" sobre o assunto. Não há consenso entre os especialistas no assunto. O que existe é uma concor- dância generalizada com relação aos grandes períodos. mas quando se entra nos detalhes, as opiniões variam. 0 s grandes momentos ar- queológicos são os que seguem 7:

1. Períodos Paleolítico, Mesolí- tico, Neolítico, e Calcolítico, todos anteriores a 3.100 a.C. São os está- gios mais primitivos da vida humana. Compreende o período pré-histórico

clássico, a era das cavernas, os iní- cios da vida em comunidades, a eco- nomia baseada na agricultura, o de- senvolvimento da tecnologia do co- bre.

2. idade do Bronze, de 3.100 a 1.200 a.C. O uso do bronze é o que caracteriza este período. A popula- ção da Palestina altera-se e começa a ser habitada por novos povos. Ocupações ocorrem. A produção de cerâmica aumenta. A arquitetura ma- nifesta tendência para a urbaniza- ção. Verifica-se uma rápida transi- ção das vilas para cidades fortif ica- das e defendidas. Os grandes centros de civilização no Egi toe na Mesopo- tâmia desenvolvem-se neste perío- do. Este período é dividido em três fases (alquns autores subdividem as fases em subfases) bronze anterior (3.liX-2.000 a.C.), bronze médio 12.900- 1.550 a.C.), e bronze poste- r ior (1.550-1.200 a.C.). A história pa- triarcal enquadra-se no período do bronze védio.

?. idade do Ferro, de 1.200 a 333 asr;. C grande avanço deste pe- riodo 4 o dorrínio da tecnologia do ferro. 1Ja Dalestina, os filisteus fize- ram hcr7 U F O desta técnica e torna- ram-se verdadeira ameaça a sobre- v i ~ ê n e ~ a de israel como nação. (Sa- muei já o sentiu e corr Saiil princi- piou a reversáo). Até aqui aspopula- cões ocupavam mais os vales e pla- nícies. A partir deste momento as regiões montanhosas passa a ser ocupadas. Na história de Israel, este é o período da monarquia unida, da divisão em dois reinos, dos cativei- ros do Norte e do Sul, do retorno de Judá para a Terra Prometida. No horizonte internacional figuram a Assíria, a Babilônia, e o Império Me- do-Persa. Também este período é di-

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vidido em idade do ferro anterior (1.200-900 a.C.), ferro médio (900-600 a.C.), e ferro posterior 1600-332 a.C.).

4. período Helenístico, de 332 a 63 a.C. O Império Persa caiu diante de Alexandre, o Grande. A partir de então a cultura e as idéias gregas passaram a dominar. Nesta fase se encaixa o período da história inter- testamenta I.

5. Período Romano, de 63 a.C. a 324 A.D. Em 63 a.C., o general ro- mano Pompeu conquistou a cidade de Jerusalém e a presença romana se fez sentir na civilização ocidental (também na Terra Santa) por alguns séculos. Neste período entra a vida de Jesus, a atividade apostólica a Igreja Primitiva.

6. Período Bizantino, de324 a 640 A.D. Bizâncio e a Igreja Oriental recebem proeminência. A expansão do cristianismo tornou-se uma mar- ca característica desta fase. 0 s re- manescentes arqueológicos deste periodo estão presentes em toda parte na Terra Santa.

7. Período Islâmico, de 640 a 1099 A.D. a fé muculmana entra em cena. Este é o pe;íodo do domínio árabe.

8. Após estes, seguem os perío- dos das Cruzadas (1099-1291 A.D.), dos Mamelucos (1291 -1516 A.D) e dos Turcos (151 6-1918 A.D.).

IV. BEWEFICIOS DA ARQUEOLOGIA BIBLICA

Ninguém consegue entender corretamente a Bíblia sem um co- nhecimento da história e cultura bí- b l i ca~ . E ninguém pode menosprezar a contribuição da arqueologia bíbli- ca aos estudos hist6ricos e culturais

do mundo bíblico. A sua participação para a compreensão do texto bíblico é simplesmente inegável. As grandes áreas de contribuição da arqueolo- ciia bíblica são as aue seauem: -

1. Estudos lingbísticÕs. A recu- peração de Iínguas do Antigo Orien- te tem sido uma das principais con- tribuições da arqueologia aos estu- dos bíblicos. Muitas Iínguas do mun- do bíblico (acádico, ugarítico, egíp- cio, sumeriano, etc.) foram desco- bertas e decifradas. Centenas, até milhares de documentos escritos nestas (e noutras) Iínguas foram tra- duzidos. São documentos provenien- tes dos mais diferentes períodos his- tbricos (isto inclui as épocas pré-bí- blicas, bíblicas, e pós-bíblicas), e consta de todos os gêneros literá- rios conhecidos até então. A tradu- ção, estudo e comparação de tais escritos trouxeram muita informa- ção preciosa para os estudos das antiguidades e tornou compreensível muitos textos bíblicos até então obs- curos.

2. Suplementaçáo histórica. Apesar da bíblia ser verdadeira em toda a sua narrativa, ela não contém um relato histórico completo da Pa- lestina e das nações do mundo blbli- co. E com freqüência a sua aborda- gem é mais teológica do que históri- ca, política, ou económica. Assim sendo, o texto bíblico deixa lacunas que são preenchidas pelas descober- tas arqueológicas. De modo seme- lhante, tais descobertas confirmam informações conhecidas apenas a partir dos textos bíblicos. Muitos episódios bíblicos tem sido questio- nados por estudiosos quanto a sua veracidade. (Por exemplo, a histori- cidade do exllio babilónico.) A ar- queologia, no entanto, tem sido po-

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deroso instrumento para a confirma- cão d o texto em auestão.

3. ~ e c u ~ e r a ç ã o da cultura. Não só a cultura dos tempos bíblicos está sendo recuperada, mas também dos períodos pré-bíblicos, e chega a épo- cas muito recuadas na história. Isto é de um valor incalculável para os estudos bíblicos. A barreira do tem- po e da cultura que separa o moder- no leitor da Bíblia do mundo bíblico pouco a pouco deixa de ser tão in- transponível. A arqueologia já de- senterrou muitos aspectos impor tan- tissimos da cultura material de civi- lizações dos tempos bíblicos, cuja existência não se cogitava nem se- quer existia em documentos escri- tos. Hoje se sabe como os antigos moravam, com que material cons- truíam seus edifícios, que armas le- vavam para a guerra, qual a sua moe- da corrente, o que comiam, o que criam, quais eram os seus deuses, como sepultavam os seus mortos, etc.

4. Descoberta de manuscritos. A descoberta de textos bíblicos e extra-bíblicos tem sido fonte de es- tudos, comparações, correções e atualizações dos textos sagrados originais. Papiros, pergaminhos, os- traca (cerâmica com inscrições), fragmentos de toda sorte são conhe- cidos e utilizados no estabelecimen- t o dos textos bíblicos originais. Para exempl ificar, basta mencionar a des- coberta dos manuscritos de Qumran, ao lado do Mar Morto. Os mais anti- gos textos que temos de documentos do AT brotaram de algumas daqueles cavernas. Aquele pastor beduino árabe, que casualmente descobriu a primeira caverna em Qumran, não podia imaginar que dali surgiriam talvez os mais importantes manus-

critos para os estudos textuais e principiou uma virtual revisão de to- do o texto do AT, especialmente.

Ao reportar-se a contribuição da arqueologia para o estudo do AT, Merril F. Llngera sistematiza idéias semelhantes com palavras um pouco diferentes. E afirma três coisas:

1. A arqueoloqia autentica a Bí- blia. A Bíblia não precisa ser "prova- da." Deus mesmo toma conta da ve- racidade de sua revelação. Entretan- to os resultados dos achados ar- queológicos formam excelente ma- téria que confirma o texto. Isto é especialmente út i l no confronto com posições teológicas críticas e libe- rais. Este é o emprego apologético da arqueologia.

2 ; A arqueologia ilustra e expli- ca a Biblia. Neste emprego, a ar- queoloqia visa a tornar a Escritura mais iiteligível a mente humana. As descobertas a respeito de situações semelhantes as da Bíblia são ilustra- ções muito preciosas para a com- preensão bíblica.

3. A arqueologia suplementa a Bíblia. Os autores bíblicos nem sem- -- pre tinham grandes preocupações com os aspectos históricos, geográ- ficos, étnicos, culturais, etc. do que estavam escrevendo. Com frequên- cia estas pespectivas eram pressu- postas pelos autores. Logo, já que o texto não traz todas as informa- ções a respeito de si mesmo, nada melhor do que a informação que vem de fora e o ilumina.

No entanto é preciso ser caute- loso e não exagerar o papel da ar- queologia no estudo da Bíblia. Não é prudente pensar que agora todas as dificuldades textuais estão resol- vidas e a arqueologia é o verdadeiro "salvador da pátria." Se por um lado

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a arqueologia bíblica é excelente au- xil io para o esfudo bíblico, por outro ela também traz problemas. Isto se verifica, por exemplo, quando pre- tende-se que determinadas desco- bertas arqueológicas contrariem o texto bíblico. Portanto, o uso da ar- queologia nos estudos da Bíblia pre- cisa ser seletivo e cauteloso. Por outro, Deus não precisa de advoga- dos e sua palavra não necessita de elementos externos para confirmar sua veracidade. A palavra de Deus é verdadeira pelo fatode ser palavra de Deus e ter sua origem no próprio. Deus mesmo encarrega-se de defen- dê-la e de revelá-la veraz ao se i hu- mano.

Arqueologia é cidncia. Como tal necessita metodologia cientlfica. E a tem. Não se trata de, picareta em punho, escavar o solo a esmo, en- cher o terreno de buracos informes, levar para casa o que se achou, e o assunto está encerrado. De forma alguma! A escavação arqueológica requer sistematização precisa e r i - gorosa metodologia de trabalho. Pois uma vez escavado o local, a evidência original foi tocada, na maioria das vezes até deixa de exis- tir, e não há como retornar a ela em seu estado original. Neste senti- do, a arqueologia é uma ciência des- trutiva. E caso não utilize metodo* logia rigorosa, as evidgncias k fão simplesmente destruídao, a pesquisa deixará de ser objetiva,ae 13 proveita será mínimo ou quase nada.

A metodologia 'arqueol6giea compreende três momentos distintos e sucessivas: identificação, escava- ção e interpretação.

1. Identificaqãwc iOtrrviarnen4wk o primeiro passo< Aihtede oameçm a trabalhar é pleCis0 , eaber onde pesquisar. Esta identi ficação consi9. te na localização, levam.tamento,. e delimitação da área arqueológica a ser pesquisada. Muitos 'favores 'p6- dem contribuir para a e&colha.de Wn determinado local arqueoi'dgi~o. Dentre estes figuram a importância histórica, o tamanho do local, a faci- lidade de acesso, os achados casuais de grande significância, evidência$ na superfície, remanescentes arqui- tetonicos ou estruturais, etc. Deve haver uma razão muito forte para se escavar em determinado local. Havendo isto, faz-se um levantamen- to da área. Este precisa ser o mais completo possível. Aí entra o levanb tamento topográfico, gebfógico, fa- tográfico (se possivel, bft! fotos a& reas!), histórico, pesqyi&de superfí- cie (buscando pr indpqlmnte os re- manescentes arqultetbnicos e -q ce- râmica). O arquiteto, o- geól'ogo, 4 ceramicista, O f~tr5graf0, .o e,qecFã,- lista em c i v i l i ~a i ç~eg anfjggs,,a$ ,fqh- tes histórl<qs, deseqpenbam a1 gw6I decisivo. 1 s t ~ ~ custa.,Seqoi, ,'trqba\ho e dinheiro, ' ~ o r é m é ,urna neqessida- de. Já nssta:fa~,muifo se saberá do local e was pepp@çti;ya$, Poder- se-á, de forma bem qwetiva .e qom base em ehfidêmie~ çientífivas, dfruj- dir exatamente ande ascavar. ,Feito isto, o lucal *a ser pesquisada ests identificado e-está pronto phra ram- lar ú segredo:aH guardetdo na ferra há ~ c u l o s 1 6 i I . ,

2. Escava Ba Esta.faae consis- te na bus -h-i a ,das1 evidQn6ias afnda existentese al&rn~&vds e q u e k ia- cal. Evidentembnte- nã6 s@í~eéIbe 0 que se trai achav:ern~de%rrninado lb- bd. E s p e r d ~ s multõ e aSiezes nada

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se acha. T m b h o inverso aconte- ce. Quinze minutos podem mudar tu- do! A arqueologia bíblica, via de re- gra, utiliza-çe da escavação estrati- gráfica. Isto é, delimita-se e marca- se m a área quadrada (m "square") c m dimnsões pr6determiriadas (5m x Sm, ou 10m x IOm, w algo parecidc err, Abila convencionou-se 4m x 4m). Dependendo da preferen- cia do diretor da expedição ou da conveniência do local, a forma geo- métrica da área a ser escavada pode variar (um retângulo, por exmplo), desde que seja possivel manter con- trole preciso do que ali acontece em tervos de achados. Este é o mo- mento em que a picareta entra em açso! Não sb a picareta. Também a p6, a colher de pedreiro. o carrinho de mão, o balde, a peneira, o péde- cabra, a marreta. ,. enfim qualquer ferramenta é benvinda - desde que ajude. O trabalho de escavação é fei- to com muita paciência e grande cautela. Os achados importantes re- cebem tratamento especial (são fo- tografados jn si tu, faz-se o seus de- senhos, o local exato onde foram achados é medido e registrado). Ob- serva-se cuidadosamente osdiferen- tes sedimentos de solo no decorrer da escavação (podem significar dife- rentes ocupações humanas em dife- rentes períodos históricos). A cerâ- mica (ou cacos ainda existentes) e as moedas são instrunentos precio- sos para a da tação do periodo ocu- pacional. Estas, portanto, recebem atenção especial. Se possível. os re- manescentes estruturais (paredes. arcos, estradas, túneis, colunas, etc.) ficam lá mesmo onde estão. I&nti fi- ca -se as técnicas de engenharia em- pregadas na sua construção e as suas carac teristicas arqui tetdnicas Tudo é registrado, controlado. ob-

servado. Quase tudo (ao menos aqui- l o que parece ser importante) é foto- grafado. Gasta-se bom tempo com os registros e estes precisam ser os mais acurados possíveis. A sua pre- cisão tem que ser tal de forma que alguém que al i não esteve. tenha condições de "recriar" o local a par- tir das anotaçõesdo arqueólogo. Até a cor da terra é classificada!) E é preciso ser assim, pois uma vez es- cavado o local, nunca mais volta-se a ele tal qual era antes e a evidência in situ não mais existe. Tudo isto é feito até se chegar a rocha virgem ou a alguma evidência clara de que dali para baixo não há mais o que achar. Cacos de cerâmica, remanes- centes. metálicos, e outros achados são etiquetados, levados para o alo- jamento onde recebem tratamento próprio (são lavados, secados, sele- cionados. identificados, e alguns - os mais importantes-são desenha- dos, fotografados e guardados). De forma sucinta, é esta a metodologia estratigráfica utilizada na escava- ção de um tM (colina artificial devi- do a superposiçáo de diferentes ca- madas ocupacionais). Quando se tra- ta de escavar muralhas, cemitérios, sistemas de água do local arqueolb- gico. este método é adaptado con- forme a circunstância e a necessi- dade.

3. Interpretação. Esta fase con- siste no estudo minucioso das evi- dencias encontradas e publicação dos resultados. Neste momento o ar- queólogo interpreta os resultados da escavação. Estuda-se a estratigrafia e a topografia do terreno escavado. a cerâmica, as estruturas arquitetd- nicas, os metais, os ossos, os obje- tos menores (anéis, brincos, etc.). os vidros, os remanescentes da fauna e da flora. etc. Cruza-se inform-

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ções, faz-se um estudo comparativo. Inclui-se achados e evidências de temporadas anteriores. Verifica-se o que existe nas regiões vizinhas ou em locais arqueológicos mais próxi- mos. Compara-se com a história do local. A partir de todos estes (e ou- tros) dados tenta-se formar um qua- dro geral e chegar a uma visão glo- bal do local em foco.Chega-se a de- terminadas conclusões. Responde-se a algumas perguntas, novas questões são levantadas. Chega-se ao relató- r io final quando todos os outros es- tudos preliminares estão prontos. Com freqüência o relatório final R trabalho de equipe que envolve es- pecialistas de várias áreas, cada um responsável pelo seu setor. Estes re- latórios são finalmente publicados. isto R necessário. A publicação dos resultados é elemento importantis- simo em todo o processo. Caso con- trário a escavação perde o seu valor para a pesquisa arqueológica em ge- ral. Se o mundo acadêmico não A informado do que se passou em de- terminado local, todo o trabalho vai dar err nada. Os interessados no as- sunto receberão beneficio nenhum daquela pesquisa arqueológica.

SEGUNDA PARTE: ARQUEOLOGIA BIBLICA

NA PRATICA

O processo que culminou com a minha participação nesta tempora- da arqueológica em Abila teve seu início na vez anterior (ano de 1986) na qual trabalhei pela primeira vez. Naquela ocasião, ainda na Jordânia, o diretor da expedição me convidou para voltar na etapa seguinte. O

mesmo convite se repetiu posterior- mente atravAs de correspondência. Os contatos necessários (com ins- tâncias superiores do ICSP e da IELB) foram feitos e a aprovação veio de todos os lados. Desta forma foi possível concretizar o projeto.

2. ARILA E A REGIAO DE DECÁPOL IS

O local onde se desenvolveu a pesquisa arqueológica da qual parti- cipei é a cidade de Abila. Em termos de AT, Abila situa-se nas terras da tribo de ManassRs, localização tam- bém conhecida como a região de Gi- leade. Na linguagem do NT, a antiga cidade de Abila localiza-se no terri- tório bíblico de Decápolis. Ruínas e . escombros é o que resta hoje desta cidade. Além de referências feitas pelo NT. (Mt 4.25; Mc 5.20; 7.31), De- cápolis (que significa "dez cidades") também 6 mencionada por outros es- critos antigos. Muitas fontes indicam que toda aquela área era um centro de atividades cristãs. Com toda cer- teza Abila era uma de suas cidades proeminentes em determinados pe- ríodos da história de Decápolis. Ou- tras cidades do território de Decá- polis, incluem Damasco, Filadélfia (a atual Aman, capital da Jordânia), Ge- rasa, Gadara, Pella (cidade para on- de os cristãos fugiram de Jerusal6m um pouco antes da sua queda no ano 70 A.D.), etc. As menções escritas junta-se extensiva evidência arqueo- lógica que está sendo exposta por escavações feitas no território de- capolitano. Muitas escavações ar- queológicas já foram ou estão pre- sentemente sendo realizadas nas ci- dades de Decápolis. Estas pesquisas certamente trarão à luz muita infor-

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mação sobre toda esta região. Atual- mente Abila si tua-se ao norte da Jor- dânia, praticamente junto a fronteira com a Síria (dá para caminhar até lá). Na direção oeste, não muito lon- ge, acha-se a divisa com o moderno Estado de Israel. Também não muito longe, apesar de não fazer fronteira com a Jordânia, encontra-se o Líba- no. (Praticamente todos os dias ou- víamos estampidos que por vezes nos assustavam. Quando perguntá- vamos aos árabes que conosco tra- balhavam do que se tratava, eles com toda a naturalidade e sem gran- des preocupações respondiam que eram tiros trocados entre Israel e Líbano em mais uma de suas intermi- náveis hostilidades! E continuavam a trabalhar normaimente!)

3. PATROCINADOR E EQUIPE

Pela quinta vez, no ano de 1988, este grupo voltou a trabalhar em Abila. As outras temporadas arqueo- lógicas foram nos anos de 1980, 1982, 1984 e 1986, respectivamente. O grande responsável pelas ativida- des arqueológicas em Abila e que patrocina as escavações é unia so- ciedade arqueológica intitulada Near East Archaelogical Society. Esta so- ciedade tem personalidade jurídica e seus associados são instituições (institutos bíblicos, seminários, uni- versidades, etc.) ou indivíduos. Entre os seminários associados, acha-se o Concordia Seminary, de Saint Louis, pertencente à nossa Igreja dos Esta- dos Unidos. A equipe que foi para a Jordânia na temporada de 1988 t i - nha um total de 26 membros (um bra- sileiro, uma estudante holandesa, e os demais eram norte-americanos). Quase todos eram cristãos prove-

nientes de diferentes denominações protestantes. Compunha-se por pro- fissionais ligados a arqueologia e por voluntários que tinham interesse em aprender a arte arqueológica. Entre os especialistas figuravam ar- queólogos profissionais, um arquite- t o e topóyrafo, um fotógrafo (mon- tou um laboratório no alojamento), um médico (que encarregou-se espe- cialmente do trabalho com os os- sos), diversos professores de algu- ma forma ligados a atividade ar- queológica. Também havia vários estudantes em nível de terceiro grau e outras pessoas com interesse em arqueologia. A expedição de 1988 extendeu-se por 7 semanas (nos dias 18 de junho a 06 de agosto de 1988) no período de verão nas terras bí- b l i c a ~ .

4. GEOGRAFIA ARQUEQL~GICA DE ABILA

Abila 6 uma grande cidade. A sua geografia consta de duas colinas principais, uma área onde presumi- vefrnente deveria estar um teatro (bem como uma hasílica e outras conslrriç6eç ainda não identificadas corn precisão), talvez remanescen- tes de :ermas romanas, uma muralha, urr: sistemt7 subterrâneo de água. Não milito longe estão centenas de catacunibas muito antigas (dos pe- riodos rorriano e bizantino, princi- palmente), sendo que boa parte de- las, em diferentes estilos, foram es- cavadas na rocha. A supeficie de to- da esta área apresenta sinais nítidos de uma cidade florescente em tem- pos passados. Pedaços de cerâmica estão espalhados por toda a área. Lá se vê pedras e blocos trabalha- dos em formatos diversos, pedaços

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de colunas redondas, capitéis, pe- quenos cubos de pedra usados para a formação de mosaicos, parte de arcos arquitetonicos, muros ou pa- redes caídas, etc. Tudo isto se acha na supefície do terreno! Quando se escava, surge outros materiais ar- queológicamente ainda mais precio- sos. Há muito o que fazer em termos de arqueologia em Abila. Esta tem- porada de forma alguma esgotou o potencial arqueológico do local. Muitas temporadas ainda virão até completar-se a pesquisa naquele lu- gar.

5. TEMPORADA DE 1988

Nesta temporada trabalhou-se em cinco áreas: nas duas colinas principais (Tell Abila e Umm el'A- mad), na área do suposto teatro, na muralha da cidade, e nas catacum- bas. Havia outras áreas a serem ex- ploradas, porém o contigente hu- mano não era suficiente. Toda a equipe foi dividida em grupos, cada um encarregado de uma área especí- fica. Cada grupo tinha um líder e responsável pelo que acontecia em determinada parte do terreno: era o supervisor de área, de preferência alguém já experimentado na arte ar- queológica. Os integrantes daquele grupo, por sua vez, respondiam pri- meiro ao seu supervisor que os acompanhava e orientava em seu trabalho de campo. Trabalhadores árabes locais foram contratados pa- ra auxiliar em tarefas simples que não exigiam conhecimento ou trei- namento especial. Fui designado pa- ra trabalhar nas catacumbas. Entre outras coisas, tive a oportunidade de escavar uma tumba do período da Idade do Bronze (ca. de

6. F.'lETODOLBGIA DE TRABALHO

A metodologia de trabalho util i- zada em Abila A a da escavaçáo es- tratigráfica. Esta modalidade obser- va com cuidado as diferentes cama- das de terra acumuladas numa certa área e tenta identificar as diferentes ocupações humanas (via de regra, diferentes populações em diferentes épocas) que ocorreram naquelas ca- madas. A cerâmica (pedaços, cacos, ou exemplares inteiros que porven- tura tenham sobrevivido) e as estru- turas arquitetônicas ainda existen- tes foram analisadas com muito cui- dado. Deu-se muita atenção às ins- crições antigas e às moedas encon- tradas. Estas são evidências precio- sas para a datação das diferentes camadas ocupaci onais. Achou-se, nesta temporada, na área do teatro, uma pedra com parte de uma inscri- çáo grega. Como o bloco está que- brado, a inscriçáo está incompleta. Também foi achado, num nível pro- fundo da muralha, uma moeda roma- na em bom estado de conservação. Tanto a inscriçáo grega quanto a moeda estão sendo analisados cui- dadosamente pois trata-se de exce- lentes instrumentos de datação das suas respectivas áreas. (A pedra com a inscriçáo grega já estava a caminho do monte de entulhos. Não fosse a vista aguçada de um dos componentes da equipe, aquela ins- crição grega ter ia terminado os seus dias lá no lixo!) O trabalho nas cata- cumbas trouxe à luz (entre outras coisas) muitos ossos, ou o que ainda restava dos mesmos. O médico da equipe encarregou-se de identificá-

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los, catalogá-los e estudá-los. Pelos remanescentes ósseos se descobre o sexo das pessoas al i enterradas, a idade, os hábitos alimentares, a média de vida, algumas doenças co - muns, algo sobre a mortalidade in- fantil, um pouco sobre a agricultura local, o estágio em que se encontra- vam os estudos médicos de então. (Ao analisar a parte superior de um crânio encontrado numa catacumba do período bizantino, o médico da equipe percebeu cortes laterais que o fizeram desconfiar de uma opera- ção cirúrgica! Talvez, há cerca de m i l anos atrás, aquele homem tenha sido submetido a uma cirurgia cra- niana ou cerebral! Se isto realmente aconteceu, o médico era da opinião que o paciente não resistira e morre- ra logo após a cirurgia). A forma como as catacumbas eram feitas va- riavam. Algumas eram finamente de- coradas e tinham uma arquitetura equilibrada e harmoniosa. Outras eram muito simples. Isto tem algo a dizer sobre o nível econômico e social da cidade. As catacurnbas também "produziram" cerâmica, v i - dros e utensílios para cosméticos, metais preciosos (anéis, brincos, braceletes, moedas, etc.) e não pre- ciosos (pregos e cantoneiras de cai- xões, etc.), pinturas, afrescos, inscri- ções, sarcórfagos. Enfim, muito ma- terial pelo qual se tira conclusões quanto a cultura, sociedade, econo- mia, religião, artesanato, etc.de Abi- Ia. Também se examinou as semen- tes e os remanescentes vegetais en- contrados. Há sementes que são tre- mendamente resistentes ao tempo. Duram séculos. São informação so- bre a agricultura, economia, talvez até sobre a forma de trabalho. Tudo isto fo i posto em prática em Abila

na temporada de 1988. Juntou-se in- formações de várias fontes. Estas, por sua vez, foram ou ainda estão sendo analisadas e interpretadas a luz de dados já existentes.

7. ROTINA DE TRABALHO

A rotina de atividades em Abila era bem definida. Durante toda a temporada, moramos numa pequena vila árabe não muito longe do local das escavações. Estávamos alojados em uma escola de primeiro grau. Es- ta fo i transformada num verdadeiro "quarta1 general" da expedição. As acomodações nada tinham de sofis- ticação. Dormíamos em colchões de espuma colocados no chão das salas de aula. As instalações sanitárias eram coletivas. Nós mesmos instala- mos os chuveiros. O trabalho de l im- peza e manutenção de todo o aloja- mento estava sob a nossa responsa- bilidade. Montamos também a cozi- nha numa das salas de aula. O cozi- nheiro contratado pelo diretor era natural da Síria e o seu ajudante era jordaniano. As refeições por eles reparadas eram um misto de cozi- nha árabe com pratos americanos. (Houve ocasiões em que eu não sa- bia direito o que estava no meu pra- to. Porém o cansaço e a fome ven- ciam o receio!) Levantava-se cedo: as 03:45 hs. (mais ao fir;al da tempo- rada, as 0400 hs.). Todos os dias de trabalho eram iniciados com a leitura de um trecho bíblico e uma oração proferida por um participan- te da equipe. Após isto, o desjejum reforçado era servido as 04:00 hs. e por volta das 04:40 hs. estávamos de saída para o trabalho. Um Ónibus local nos transportava para Abila. Com o raiar do sol (e, as vezes, até

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antes), a equipe já estava no local das escavações. Era a hora de pegar duro na picareta, marreta, pá, balde, peneira, colher de pedreiro, etc. Limpamos o terreno, cavamos, que- bramos pedras, peneiramos terra, procuramos entradas de catacum- bas, tiramos as medidas dos locais pesquisados, desenhamos ou esque- matizamos os mesmos, fotografa- mos, recolhemos e etiquetamos os achados. Em certas si tuações, a fer- ramenta era a picareta ou a marreta. Já em outras, utilizávamos a pinça para trabalho delicado. AS 09:OO hs. tínhamos meia hora de intervalo pa- ra o lanche. Esta atividade de campo e muito cansativa e esgota. Não tem outro jeito: era feita na poeira e sob o escaldante sol de verão do Oriente Médio. Devido ao calor, o trabalho de campo encerrava-se às 13:OO hs. Pegávamos o 6nibus local e vol táva- mos. Os registros e achados eram recolhidos e trazidos para o aloja- mento. Almoçávamos às 14:OO hs. e descansávamos ate às 16DO hs. A tarde, depois deste necessário e me- recido descanso, era hora de lidar com o material achado. Era feito a limpeza, restauração, identificação, estudo, avaliação, conservação, classificação, catal ogação, desenho do que era trazido para o alojamen- to. Esta atividade se estendia até metade da noite, quando todos iam dormir para, no dia seguinte, come- çar tudo de novo. Aos domingos, realizávamos regularmente um mo- mento de culto no final da tarde. Além da atividade de campo, cada membro da equipe também se ocupa- va com algum trabalho na área de manutenção, classificação, catalo- gação, conservação, desenho, regis- tro, etc. dos objetos achados ou al-

guma outra atividade relacionada com a técnica arqueológica. Nesta área, trabalhei particularmente co- mo assistente de computação e ma- nutenção do banco de dados da tem- porada. (No material de trabalho da equipe havia um computador portátil para auxiliar no controle dos regis- tros.) Isto além de outros serviços executados no alojamento (restau- ração de objetos, registro dos núme- ros, etc.).

8. DESCOBERTAS

"O que foi achado?" 6 a pergun- ta que logo surge. Na temporada de 1988 a quantidade e variedade das descobertas fo i muito grande. Entre o material coletado e áreas escava- das figuram muros, paredes, arcos arquitetonicos, basílicas, um conjun- to de edificaçóes que talvez sejam parte de um teatro, uma estrada ro- mana, assoalhos de mármore, mo- saicos, diferentes tipos de constru- ções, colunas em diferentes estilos, catacumbas diversificadas, esquele- tos, ossos avulsos, candeias, vidros de cosméticos, moedas, uns poucos objetos de metais preciosos. Alguns achados indicam a existência de ocupação em Abila no perlodo da monarquia em Israel (tempos do AT). Achou-se também indícios da Idade de Bronze que retrocedem até o pe- ríodo dos patriarcas (ao redor de 2.000 a.C.). Tudo isto já foi ou está sendo cuidadosamente analisado e, em momento oportuno, os resulta- dos serão publicados. Comparações serão feitas com os achados e resul- tados das expedições anteriores. Mais escavações serão empreendi- das no futuro. Desta forma, a cada nova temporada se define mais e se

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amplia a compreensão do quadro to- do da cidade de Abila.

9. PROGRAMA EDUCACIONAL

Paralelo a atividade arqueoló- gica, havia um programa educacio- nal em andamento. Este programa compunha-se de palestras e viagens. Com regularidade havia duas pales- tras semanais proferidas por compo- nentes da própria equipe, sendo que cada um abordava temas de sua es- pecialidade. Houve também a part ici- pação de arqueólogos do Departa- mento de Antiguidades da Jordânia onde o assunto enfocado era algum aspecto da arqueologia jordaniana. Nesta temporada tivemos o privilé- g io de receber a visita pessoal do Ministro da Cultura da Jordânia. Ele esteve na escola vendo o nosso tra- balho e fo i visitar o local das esca- vações. A presença do ministro foi interpretada como uma honra muito grande para a equipe e como apoio para os trabalhos em andamento. Nos finais de semana, quando tínha- mos o nosso tempo livre,empreen- demos viagens de estudo e conheci- mento dos diversos locais bíblicos e arqueol6gicos da Jordânia. Se comparadas com o Brasil, as distân- cias na Jordânia são curtas. Visita- mos os principais pontos arqueoló- g icos e cidades bíblicas do pais, tais como Monte Nebo, Gerasa, Gadara, Petra, Madaba, Deir Alla (Peniel), Pella, Philadelphia (Aman), Umm er' Rasas, Umm el'Jimmal, etc. Em al- guns destes locais tivemos o privilé- gio de ter o respectivo diretor da expedição arqueológica daquele lu- gar como o guia pela cidade e expo- sitor do que al i se passava. A volta ao Brasil foi via Egito. Com mais

cinco colegas da expedição, estive nas terras bíblicas, históricas e ar- queológicas do Egito. Lá, fomos ve- rif icar os grandes locais e os magní- ficos monumentos da história mile- nar egípcia. Esta atividade educacio- nal foi um verdadeiro curso a respei- t o da terra e do mundo bíblicos.

Viver dois meses em terras bí- b l i c a ~ foi uma experiência efetiva- mente enriquecedora. Em muitos as- pectos, a cultura árabe conserva tra- ços dos tempos bíblicos. Apesar de nos encontrarmos ao final do século XX, o mundo bíblico ainda está lá, especialmente nas vilas. Respira-se o ambiente do AT e NT. Planta-se e colhe-se trigo como nos tempos bíblicos. Azeitona e romã também são cultivadas. Ao lado do local das escavações havia um bom número de figueiras. As crianças al i passa- vam quando iam buscar os figos e, com freqüência, no-las ofereciam. Muitos dos árabes que conosco tra- balhavam tinham em casa a sua par- reira de onde colhiam uva de boa qualidade. Dois beduínos árabes tra- balhavam conosco e moravam em tendas ali perto. Pastores com reba- nhos de ovelhas e cabritos estavam em todos os lugares. Comemos car- ne de ovelha e cabrito. 0 s açougues também vendem carne de cabrito. Por ocasião de um grande feriado religioso árabe, os moradores de uma vila próxima a Abila, mataram um camelo e deliciaram-se com a sua carne. Nas vilas, a vestirnenta usada pelo povo lembra muito a in- dumentária bíblica. 0 s homens usam turbantes e um longo roupão, carac- teristicamente árabes. As mulheres

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cobrem a cabeça com um lenço. O vestido é sempre comprido até o tor- nozelo e as mangas vão até o punho. A hospitalidade árabe é como nos textos sagrados. Os procedimentos para o matrimônio e sua celebração continuam muito próximos ao pa- drão dos tempos bíblicos. Estive em festas de casamento que ~ a r e c i a m cópias das festas descritas no texto sagrado. O casamento é ocasiáo de muito júbilo. Dura dias. Canta-ses dança-se, demonstra-se muit? aie- gria. Ali, homem dança com humerr:, e mulher com mulher. N3o é danca de par (dois a dois), i uma esoécle de brincadeira de rod? algo pare cioa con-I as festí.? juniras r20 R r ? ç i i , Para o árabe iradicloni' das c/tiar: a dança na0 tem a conotacao srxu.1 dc munao ocidental. A danca que testemunhei era uma expreçsao de nlegria, z!go sernelhantc à: brinca- deiras d~ rads rias c r i a n ~ a s rio lr7fe- r i g r do Brasil Fui r:onvidí-lis ir-3

reíeiçoe; na residerrci? de dmiqos araDes onde sente! no chão ( e r es- teiras o11 colchonetes) :2 cíjrni com a mão, /A estrutura patriarc-il ria r - milia, a preponderincia d o Porrvw, o papel da mulher, a edwcaçao d c - filnos. a forrnaqãc~ social das L i ias etc., tudo leriibrã o texto sagrado.

6 preciso perguntas se valeu a pena investir tempo, trabalho e d i - nheiro neste empreendimento. Quais são os benefícios trazidos para a IELB e para o ICSP? Não tenho dúvi- das sobre o valor positivo desta at i- vidade arqueológica. A arqueologia bíblica não é uma ciência que tem um fim em si mesma. Ela visa benefi- ciar outros, visa dividir com outros

os resultados do seu labor. Neste caso, os beneficiados diretos são a comunidade docente e discente do ICSP, seguidos pelas congregações e pela IELB de forma mais ampla. Trouxe l ivros para a biblioteca do ICSP e, do Egito, uma "folha" de papiro. Também veio uma coleção de cerâmica arqueológica onde se encontram exemplares desde o pe- ríodo dos patriarcas do AT. Através de correspondência com o diretor da expedição, estou tentando conse- guir para o ICSP objetos araueoló- y icos inteiros (como candeias, v i - dros, O D ! ~ : O S de metal, etc.). A inten- ção é ler ern nossa escola uma expo- sição ar?ueológica para fins acadê- micos e culturais. Toda a alividade arqueci0gic;i foi fotografada, o que, i n finar. resultou em 10 rolos de sli- aes, Lsfe material está sendo apre- sentadr eqi ocasiões oportunas. O diretor a7 expedição abriu a possibi- llaade para professores, alunos ou eessoa; interessadas da nossa IELB irrtegra:ern-se a equipe em futuras temeowias.

G cristianismo não é uma rel i- giáo :meada simplesmente em idéias. Ela tem diante de si fatos coricretos e palpaveis. A Bíblia rela- ta fatos históricos que se passaram em determinado momento cronoló- gico, nurn certo espaço geográfico, e num contexto cultural específico. O universo criado por Deus não é uma vaga idéia, mas a Igo muito con- creto sobre o qual os nossos pés estão pisando. Nosso pai Abraáo saiu da Mesopotâmia e caminhou em direção a terra que, mais tarde, seria dada a Israel. Os descendentes de

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Jacó foram escravos no Egito num determinado momento da história daquele império. Tempos depois, pe- regrinaram pelo deserto, atravessa- ram o Rio Jordão, entraram na terra de Canaã, a dominaram, e tiveram longa e tumultuada (mas também abençoada) história. Tudo isto dá para ver no mapa, pode-se conferir a data e estudar na história. Coisa semelhante aconteceu com Jesus. Ele foi um israelita que nasceu em Belém, viveu na Galiléia rodeado por discípulos também de Israel, e mor- reu na cidade de Jerusalém em tem- pos de ocupação romana. Todos es- tes fatos são concretos. Os cristãos não crêem num vago "Cristo da fé" imaginado pela comunidade primiti- va. Porém a fé cristã fundamenta-se num Jesus real, de carne e osso, que viveu num certo lugar, num certo momento da história, e num determi- nado contexto social e cultural. 0 s grandes episódios do cristianismo aconteceram dentro do tempo, do espaço, e da matéria. No bojo dos elementos visíveise concret-os, Deus

se apresenta ao homem com os seus conteúdos invisíveis e permanentes. Ora, aqui entram os estudos arqueoi- lógicos. A arqueologia bíblica busca recuperar este espaço visível e con- creto tal qual era antes. E tenta en- tendê-lo. E entendendo o aspecto externo e passageiro, procura pene- trar melhor na intenção interna e eterna de Deus com sua manifesta- ção naquele lugar. Abila faz parte deste espaço bíblico, geográfico, histórico, cultural e temporal. E até possível que Cristo e os apóstolos tenham andado por ali. Por isso, qualquer informação proveniente de Abila que venha a iluminar o nosso conhecimento bíblico será recebida com muito entusiasmo. Isto é o que faz a arqueologia bíblica: procura t i- rar da terra e dos escombros o se- gredo guardado há séculos que está relacionado com o texto e os episó- dios bíblicos. Apenas isto (sem men- cionar outras mais) já é uma justifi- cativa muito convincente para a ati- vidade arqueológica em terras bíbli- cas.

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N O T A S

1 UNGER. Arqueologia do VT, p. 1. 2 Idem, ibidem, p. 1. 3 SCHOVILLE. Bib l ica l Archaeology i n Focus, p. 16. 4 KENYON. Beginning i n Archaeology, p. 9. 5 Devo mu i to a EnciclopBdia Ilustrada da Blbiia. 6 NOVO DICIONARIO DA B~BLIA, v. 1, p. 124, col. a. 7 A l is ta transcri ta acima fo i tomada e condensada da obra Bib l ica l Archaeology

i n Focus (pp. 25-65), escri ta por Ke i th N. Schoville a quem rendo todo o méri to. 8 UNGER. i n op. cit., pp. 4-9.

BIBLIOGRAFIA

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UNGER, Merll F. Arqueologia d o Velho Testamento. São Paulo, Imprensa Bat is ta Regular, 1985.

* Professor na Escola Superior de Teologia do Instituto Concbrdia de Silo Paulo.

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O Papel da Mulher na Igreja

Erní Walter Seibert *

Em teologia aprendemos que cada período da história da Igreja Cristã tem, além de suas peculiari- dades, algumas doutrinas em parti- cular que precisam ser repensadas e definidas. Isto indica que, se de um lado temos a revelacão de tudo aquilo que Deus queria que tivésse- mos para sermos sábios para a sal- vação em Jesus Cristo ('I Tm 3.15), de outro lado a Igreja precisa formu- lar claramente as diversas doutrinas que estão expostas na Escritura Sa- grada. Esta última é a tarefa desafia- dora da teologia

Nos primeiros séculos da csis- tandade muito se meditou debateu. trabalh'óu até que fosse formulada com clareza a doutrina da Santíssi- ma Trindade. Foram necessários longos anos de estudo, foi necessá- ria a criação de uma linguagem apro- priada (~essoa, trindade), para que aquiloque a Escritura Sagrada reve- la, ficasse estabelecido com clareza.

Desde o final do século passado iniciou-se um novo debate dentro do cristianismo. Este debate gira em torno do papel da mulher na Igreja. O que a Bíblia diz já está estabele- cido desde que Deus nos deu as Es- crituras. Mas a clareza em torno desta doutrina ainda não fo i alcan- çada n o seio do cristianismo. São levantadas nas diversas igrejas cris- tãs, perguntas das mais variadas em torno do papel da mulher na Igreja.

Pergunta-se desde se ela pode ser ordenada como sacerdotiza, até se ela pode votar nas asserribléias de uma congregação, se ela pode assu- mir cargos eletivos. se ela pode en- sinar a Palavra de Deusa um homem, se ela pode dirigir um estudo bíblico, e assim por diante.

Por tratar-se de um assunto so- bre o qual a cristandade ainda não chegou 3 um corisenso. pode-se t a - cilmente que, além de d i f i c i l , ~ mes- mo é polêmico. O que ciueremos ner - te trabalho fazer, nao é levantar to- (Jas as questões concernonles ao te- ma proposto, mas a partir do exame 3a doutrina do sacerdoc:lc. universdi de todos os crentes e do r~ in i s té r i o eclesiást ic~, tentar resPoriflw iilg',- mas questões sobre o papel d. rnu- Iher pa Igreja.

Y - O ÇACERD~CIO UPIIVEWSAI. DOS CRENTES

Se quisermos tomar emprestada uma definição bem simples do que seja o sacerdócio universal dos crentes, podemos tomar as palavras de Alfred Koehler, em Sumario da Doutrina Cristã:

Pela fé em Cristo todos os cris- tãos são sacerdotes reais diante de Deus. "... sois ... sacerdócio real" (1 Pedro 2.9). Em virtude deste fato são os reais possuidores do ofício das chaves, e tudo o que este ofício im-

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plica. "Tudo é vosso,." (1 Coríntios 3.21 -23); (Mateus 28.19-20; João 20.22).

- Os cristáos também devem exercer os privilégios e poderes de seu sacerdócio. No lar, entre os i r - mãos e vizinhos, nos contatos com o mundo devem, com palavra e ato, proclama r "as virtudes daquele que vos chamou das trevas para sua ma- ravilhosa luz" (1 Pedro 2.9). Devem ser testemunhas de Cristo, confes- sá-lo diante dos homens, ensinar a sua palavra, reprovar o pecado e o erro, admoestar e confortar, orar e interceder por outros. Em caso de necessidade também podem batizar e absolver (Cf. "Artigos de Esmal- calde", Do Poder, 67, Triglotta, P. 523). E tudo que o leigo faz nessa matéria é tão válido e certo como se um ministro de Cristo ordenado o tivesse feito. O caráter oficial do ministro não adiciona vir tude e vali- dade aos meios da graça. 1

O sacerdócio dos crentes está contido nas Escrituras Sagradas, tanto n o Antigo como no Novo Tes- tamento. Quando Deus escolheu o povo de Israel para ser o seu povo, ele disse que este povo seria para ele "reino de sacerdotes" (Êx 19. 5,6). No Novo Testamento é muito semelhante a palavra de Pedro na sua primeira carta: "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real ..." (1 Pe 2.9,10).

As funções deste sacerdócio também ficam claras. Tomados os cristáos como sacerdotes reais, têm c a n o incumbência testemunhar, en- sinar, confessar a Cristo, reprovar o pecado, admoestar, confortar,orar, interceder. Esta relação de incum- bências pode ser ampliada para res- saltar ainda mais a importância e a

extençáo do sacerdócio universal dos crentes. 2 Não vamos fazê-lo aqui por não ser este o objetivo prin- cipal deste trabalho. O que pretende- mos ressaltar é que nas incurribên- cias dadas por Deus ao seu reino de sacerdotes, aos seus sacerdotes reais, não há distinção de responsa- bilidades ou restrições de atividades para homens ou mulheres, moços e velhos, cultos e iletrados. Deus con- fiou o sacerdócio universal e todas as suas responsabilidades a todos os cristãos.

II - PROBLEPMAS PRATICOS 1 QUANTO AO EXERCICIO DO

SACERDUCIO UNIVERSAL PELAS MULHERES

Há uma grande distância entre o reconhecimento do sacerdócio universal dos crentes como algo confiado por Deus também as mulhe- res e o efetivo exercício deste sa- cerdócio pelas mesmas. São várias as razões pelas quais este sacerdó-

I cio não vem sendo exercido. Quere- - mos expor algumas.

Uma das razões pode ser de ori- gem histórico-cultural. Ao longo da .

história, na maioria das culturas,a posição da mulher tem sido pelo me- nos na prática inferior a do homem. A mulher não assumiu regularmente posições de mando, as profissões, e assim por diante, em igualdade de condições ao homem. Ela foi confina da a determinados papéis que lhe eram atribuídos culturalmente como próprios. Isto fez com que ela não desenvolvesse totalmente suas ca- pacidades. E é evidente que esta in- fluência histórico-cultural se fez e se faz sentir na igreja.

Outra razão, em parte decor-

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rente da anterior, é o preconceito. Preconceitos existem em todas as situações do convívio humano. Por vezes as pressões cul,turais diminuí- ram e até nem existem mais, porém o preconceito impede a mulher de exercer integralmente o seu sacer- dócio. O preconceito pode ser tanto da parte do homem como da própria mulher. Ele se manifesta em frases semelhantes a estas: "Vai ficar mal eu dar meu testemunho nesta situa- ção". "Se permitirmos que a mulher faça isto, ela vai terminar tomando conta de tudo".

Há uma razão ainda para as mu- lheres não desenvolverem seu sa- cerdório. Acontece que o diabo, o mundo e a carne são os grandes ini- migos do sacerdote e do exercício do mesmo. Eles tentam impedir que a mulher desenvolva o seu sacerdó- cio porque se ela o fizer eles serão mortalmente atingidos. Assim a car- ne resiste em fazer a vontade de Deus, o mundo impõe as tentações e dificuldades ao exercício feminino do sacerdócio. E o diabo age como poderoso inimigo em.todas as situa- ç ões.

Cabe a todos os cristãos lutar contra estas dificuldades que impe- dem o exercício do sacerdócio ou ministério universal dos crentes e cabe a todos, homens e mulheres, dedicarem-se com todos os seus dons e habilidades ao serviço do Salvador Jesus Cristo que criou pa- ra seu serviço um sacerddcio real.

Se na participaçáo.da mulher no sacerdócio universal dos crentes já havia e há problemas práticos, es-

tes são muito mais acentuados quan- do se fala do ministério eclesiástico. E justamente aí que a igreja precisa clarear e definir posições. A partici- pação da mulher no ministério ecle- siástico não era problema no tempo da reforma e não foi problema para a igreja até o final do século XIX. A partir daí começou o questiona- mento se era ou não possível a mu- lher ser sacerdotiza, ou ministra na igreja. Inicialmente a resposta era simplesmente não. Com o passar dos anos muitas igrejas começaram a mudar de opinião. Hoje a situação é assim que, excluídas a igreja cató- lica romana e as igrejas ortodoxas orientais, a maior parte das igrejas cristãs já aceita como sendo válido o ministério eclesiástico ser ocupa- do por mulheres.

Esta tendência no sentido de aceitação do ministério eclesiástico feminino, no entanto, não significa que seja isto o que deve ocorrer ou que seja esta a vontade de Deus ex- pressa nas Escrituras Sagradas. E preciso nesta questão, humildade em relação a vontade de Deus expressa em sua palavra e bom senso para não cair em extremos que trazem mais dificuldades que soluções.

As opiniões em torno deste as- sunto nem sempre são muito ponde- radas. A interpretação das Escritu- ras a respeito deste assunto segue, por vezes, mais o desejo do intér- prete do que a vontade revelada de Deus. Assim é que muitos simples- mente se recusam textos como os de 1 Coríntios 14 e 1 Timóteo 2 por afirmarem que os mesmos não são inspirados.

Já os editores do documento Batismo, Eucaristia, Ministério do Conselho Mundial de Igrejas, fazem

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as seguintes colocaçóes sobre o as- sunto:

Onde quer que Cristo esteja pre- sente, há um derrubar das bar- reiras humanas. A igreja 'é cha- mada a apresentar ao mundo a imagem de uma nova humani- dade. Em Cristo não há homem nem mulher. Homens e mulheres devem descobrir em conjunto as suas contribuições ao serviço de Cristo na igreja. A Igreja deve descobrir os ministérios que po- dem ser exercidos por mulheres, bem como os que podem ser exercidos por homens. Deve-se manifestar mais amplamente na vida da Igreja uma compreensão mais profunda da amplitude do ministério que reflita a interde- pendência dos homens e das mu- I heres. Não obstante estarem de acorde sobre a necessidade dessa refle- xão, as Igrejas tiram conclusões diferentes no que diz respeito à admissão de mulheres ao mi- nistCrio ordenado. Um número crescente de Igrejas chegou a conclusão de que não há impedi- mento bíblico ou teológico quanto à ordenação de mulheres, e muitas delas já a estão prati- cando. Contudo, muitas outras Igrejas afirmam que a tradição da Igreja sobre este assunto não deve ser alterada. 3 Depois desta conclusáo, o do-

cumento faz o seguinte comentário: As Igrejas que praticam a orde- nação de mulheres fazem-no motivadas pela sua compreensão do Evangelho e do minist6rio. Tal prática assenta para elas na convicção teológica de que ao ministério ordenado da Igreja

falta alguma coisa quando é li- mitado a um sb sexo. A expe- riência dessas Igrejas durante-os anos em que incluíram mulheres nos seus minist6rios ordenados fortaleceu uma tal conviccão teológica. Elas descobriram que os dons das mulheres são tão am- plos e variados quanto os dos homens, e que o seu ministério é abençoadi tão plenamente pelo Esnírito Santo como o minist6- rio dos homens. Nenhuma delas encontrou motivo para voltar atrás na decisão tomada. As Igrejas que não praticam a orde- nacão de mulheres consideram q u e a força de dezenove séculos de tradição contra esta ordena- ção não deve ser posta de lado. Crêem que não se pode renunciar a esta tradição, como se ela fos- se uma falta de respeito pelo pa- pel da mulher na Igreja. Crêem que h á problemas teológicos, respeitantes à natureza humana e a cristologia, que estão vincu- lados a essência das suas convic- ções e da sua compreensão do papel das mulheres na Igreja. 4 Os editores do documento aci-

ma reconhecem a diferença na prát i- ca das igrejas e dizem que são moti- vadas por tradicões e ou questões teológicas.

No Eerdmans' Handbook @ C - ristian Belief, a pergunta "Devem as -- mulheres ser ordenadas?" E respon- dida com maior cuidado. Vejamos o que aí é dito:

Os que pensam que deveríamos ordenar mulheres, em geral, di- zem : - O evangelho o requer. Se Je- sus morreu por todos e se igual- mente é base espir<tual

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da comunidade cristã, então a ordenação de mulheres é um princípio que afeta a liberdade de todos. - O Novo Testamento mostra homens e mulheres trabalhando lado a lado no ministério e ne- nhuma diferença de qualifica- ção é evidente. - As palavras de Paulo sohre mulheres permanecerem em si- lêncio na igreja derivam de con- venções sociais da época (ou simplesmente se referem a co- chichos). Elas não deveriam ser usadas como um freio para o uso dos dons das mulheres na igreja. Aqueles que dizem que não deve- mos ordenar mulheres argumen- tam: - Jesus escolheu doze homens. Se fosse seu desejo que o minis- tério incluisse mulheres, ele fa- ria com que sua vontade fosse conhecida. - Há textos que excluem as mu- lheres dos ofícios de ensinar na igreja, tais como o de Paulo: "eu não permito que elas ensi- nem, nem tenham autoridade so- bre os homens". - A Bíblia ensina que a autori- dade precisa ser exercida pelos homens. - A preocupação contemporâ- nea com a ordenação é promo- vida mais por pressão de nossa sociedade que por aprofunda- mento no estudo do evagelho. - Aqueles que acreditam num sa- cerdócio especial de pessoas que representam Jesus na eucaristia e na absolvição, em geral gos- tam de acrescentar aue é i m ~ r 6 - 1

prio para mulheres terem esta função sacerdotal. s

E o Eerdmans' Handbook con- clui sua exposição do assunto di- zendo;

E difícil ser objetivo num assun- to que desperta fortes emoções. De qualquer modo, qualquer pes- soa de mente aberta irá concor- dar que as mulheres não têm usa- do seus dons na igreja como de- veriam. O ministério feminino não é, por isto, tanto um proble- ma, mas é uma oportunidade pa- ra a igreja para utilizar os talen- tos dados às mulheres que sen- tem o chamado do Espírito para trabalhar para Jesus na sua igre- ja. 6 Em artigo publicado no fascí-

culo da revista "Concilium" 1 202 - 198516, sobre o tema Teologia Fe- minista, a autora católica romana, Elisabeth Schussler Fiorenza, anali- sa a invisihilidade da mulher na es- trutura do catolicismo romano d i - zendo:

As mulheres como Igreja são in- visíveis não por acidente nem por nossa negligência mas pela lei patriarcal que nos exclui dos cargos eclesiásticos por causa do sexo. (Essa discriminação na base do sexo hoje em dia é geral- mente reconhecida como sexis- mo). A atual política e a teologia oficial da hierarquia romana ainda fazem valer a exigência neotestamentária "as mulheres se calem em todas as Igrejas" e procuram legitimar esta políti- ca com argumentos teológicos. A declaração do Vaticano con- trária à ordenação de mulheres argumenta que a mulher não tem uma "semelhança natural" com a masculinidade de Cristo. Esse argumento, porém, implica uma

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de duas coisas: ou as mulheres não podem ser bati zadas porque no batismo os cristãos se tornam membros do corpo (masculino) de Cristo ou n6s não permane- cemos mulheres porque os bati- zados se conformaram ao "ho- mem perfeito". Em ambos os ca- sos, uma tal teologia nega a uni- versalidade da encarnação e da salvação a fim de manter e legi- timar as estruturas patriarcais da Igreja. 7 De todos os argumentos acima

expostos, a favor ou contra a orde- nação de mulheres na igreja, pode- mos notar que há doisfatoresdecisi- vos. Um é a maneira como as pes- soas se aproximam da Bíblia Sagra- da. Há praticamente unanimidade em afirmar que se tomamos os textos bíblicos assim como eles normal- mente são aceitos pela cristandade, as Escrituras Sagradas colocam res- trições quanto ao ingresso das mu- lheres no ministério eclesiástico. Para concluir a partir das Escrituras que as mulheres podem ser ordena- das, é preciso, ou interpretar os tex- tos como não inspirados, ou como não determinantes para estabelecer a questão.

O outro fator, de certa forma dependente do anterior, mas que tem aspectos próprios, é o conceito de ministério eclesiástico. As diferen- tes posições a favor ou contra a par- ticipação das mulheres no ministério ordenado das igrejas têm como pano de fundodistintas concepções de mi- nistério.

Novamente precisamos fazer uma limitação de tema. Para fins deste estudo vamos evitar entrar na área hermenêutica e da exegese dos textos bíblicos. A este respeito nos

permitimos recomendar o excelente trabalho do Prof. Donaldo Schuler "A Função da Mulher na Igreja" apresentado à Convenção Nacional da Igreja Evangélica Luterana do Brasil e publicado na revista "Igreja Luterana" em 1971.8 Em nosso estu- do vamos tentar nos aproximar do tema a partir da teologia sistemá- tica. 9

IV - 0 CONCEITO DE F~IINISTÉRIO ECLEÇIÁSTICO

A Confissão de Augsburgo ao referir-se ao ministério eclesiástico usa as seguintes palavras:

Para que alcancemos esta fé, foi instituído o ministério que ensi- na o evangelho e administra os sacramentos. Pois, mediante a palavra e pelos sacramentos, co- mo por instrumento, é dado o Espírito Santo, que opera a fé, onde e quando agrada a Deus, naqueles que ouvem o evange- lho ... 10

A relação entre a doutrina do ministério eclesiástico e a doutrina do sacerdócio universal dos crentes nem sempre fica clara e é causa de muita confusão. Na realidade o mi- nistério eclesiástico é uma institui- ção de Deus para a sua igreja e na sua igreja. O ministério eclesiástico é distinto do sacerdócio universal dos crentes. O primeiro pressupõe o segundo. Mas um se distingue do outro em virtude da instituição espe- cial de Deus para o Ministério ecle- siástico e na maneira de se ingressar em um e outro. Enquanto que no sa- cerdócio universal dos crentes se entra pelo Batismo, no ministério eclesiástico se entra mediante cha- mado que é dado pela igreja para

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pessoas com características espe- ciais definidas nas Escrituras Sagra- das (1 Tm 3.1-13; Tt 1.5-9). 11

Entre as qualificações que Deus revelou para alguém entrar no minis- tério eclesiástico, uma é ser homem (1 Tm 2.12-14). Podemos não enten- der claramente porque Deus fez esta exigência e a nossa razão pode até levantar argumentos contrários à palavra de Deus. Mas isto em nada altera o texto bíblico.

Ao lado deste aspecto de quali- ficação para o ministério, é preciso corrpreender o que significa o exer- cício do ministério eclesiástico. Exercer o ministério eclesiástico implica em desempenhar muitas fun- ções. O ministro prega a palavra, o ministro ensina, batiza, administra a Santa Ceia, Testemunha, consola, ampara, dirige o culto público e as- sim por diante. Exercer o ministério não significa que o ministro seja a pessoa que desempenha todas estas funções. Aí todos os membros da igreja participam auxiliando o seu ministro para que todas as funções do mi nistérioeclesiástico sejam bem desempenhadas. 0 s membros da congregação participam do ministé- r i o auxiliando no ensino, no testemu- nho, na adoração, na comunhão, no serviço. Permanece, no entanto, co- mo responsável peloministério ecle- siástico a pessoa do ministro.

Esta é a razão porque numa congregação não é apenas a pessoa do ministro que precisa pregar, le- cionar escola bíblica, visitar os en- fermos e os necessitados e assim por diante. Embora estas funções se- jam da responsabilidade do ministro, todos os cristãos, homens e mulhe- res, podem participar das mesmas, auxiliando o seu ministro. 12

V - DIFICULDADES QUANTO A PARTICIPAÇÃO DA RrlULHER NO

MINISTERIO ECLESIASTICO

Muitas das dificuldades em rela- ção à participação da mulher nas ati- vidades da igreja pertinentes ao mi- nistér io eclesiástico, se devem às di- ficuldades em relação à compreen- são de ministério e em dificuldades na compreensão do relacionamento entre ministério eclesiástico e o sa- cerdócio universal dos crentes.

Quanto à compreensão do mi- nistério há um grande divisor de águas entre as igrejas luteranas e as igrejas reformadas. Enquanto que na igreja luterana, a rigor, existe apenas um ministério instituído por Deus, as igrejas reformadas falam em ministérios instituídos por Deus, e na igreja romana o conceito de ministério tem a ver com a hierar- quia.

Como os luteranos reconhecem apenas um ministério, e como o tex- to bíblico restringe o ministério pas- toral aos homens, é difícil para mui- tos aceitar que as mulheres possam exercer funções que pertencem ao ministério pastoral. Assim alguns não concedem que as mulheres ensi- nem onde estão homens presentes. Outros têm difi-culdade em ver a mu- lher como evangelista e assim por diante.

A solução deste tipo de dificul- dade está, acreditamos n6s, no apro- fundamento do estudo da doutrina do ministério eclesiástico e na cora- gem de implantar na prática as con- sequências sadias que o estudo des- ta doutrina implicar, ou seja, que ho- mens e mulheres podem auxiliar o ministro da igreja exercendo fun-

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çóes deste ministério sob a supervi- são do ministro.

Outro tipo de dificuldade que mencionamos é quanto à Compreen- são do relacionamento entre o mi- nistério eclesiástico e o sacerdócio universal dos crentes. Como cada cristão pode e deve testemunhar, en- sinar, perdoar, e assim por diante, para muitos é dificil compreender qual a diferença entre o atuar de um cristão qualquer e o pastor. Aí são necessários alguns esclareci- mentos.

O ministério eclesiástico A dife- rente do sacerdócio universal dos crentes e não é derivado do Último. No sacerdócio universal entra-se pe- l o batismo e no ministério mediante chamado da igreja. O sacerdote uni- versal age em seu nome. O ministro eclesiástico age em nome da igreja para administrar os meios da graça de Deus. Com isto vê-se claramente que ser um dos sacerdotes do povo de Deus não implica em ser um mi- nistro da igreja.

Por outro lado, mesmo distin- guindo entre ambos não significa que os dois agem separadamente ou em oposição um ao outro. Pelo con- trário, o povo de sacerdotes deve prover para que o ministério ecle- siástico cumpra suas funções da me- lhor forma possível, participando com suas orações e ações, aplican- do seus dons e talentos.

Assim, homens e mulheres po- dem ajudar o ministro de sua igreja testemunhando, ensinando crianças, jovens e adultos, amparando aos ne- cessitados, promovendo comunhão e adoração e assim por diante. Partici- par das funções do ministério não implica em ser ministro. Mas não ser ministro não implica em omitir-se do

Q

ministerio. Algumas questões que as con-

gregações ainda debatem são se as mulheres, nas assembléias das con- gregações podem participar, votar e serem votadas. Algumas congrega- ções não tem restrição nenhuma a esta participação. Algumas congre- gações permitem a participaçao e vetam o votar. Outras permitem par- ticipar e votar, mas não permitem que mulheres sejam votadas. Nos pa- rece que se tivermos a compreensão acima de ministério e suas funções não haverá impedimento em permitir que mulheres participem, votem e sejam votadas. Deve-se, no entanto,

1 nesta questão, ter bom senso e res- peitar os que pensam e agem de mo- do diferente, pois não há mandamen- to bíblico com referência ao que de- ve ser feito nesta questão.

Algumas congregações mos- tram muita resistência em permitir que mulheres dirijam estudos bibli- cos em seu meio e participem mais 1 ativamente de algumas funções do ministério. Também nesta questão é - necessária prudência para distinguir entre o que é lícito e o que convém. O fato de alguém dirigir um estudo bíblico não torna esta pessoa um mi- nistro da igreja. O dirigente do estu- do bíblico pode ser um auxiliar do ministro para melhor desempenho do ministro em seu ministério público. Assim sendo, não nos parece ser im- próprio uma mulher dirigir um estu- do bíblico para a congregação. Po- rém, se isto causar escândalo por não estar o povo preparado para uma tal participação, deve-se ter o cuidado de ensinar antes este povo a respeito da participação feminina, e não é conveniente começar antes de haver tal esclarecimento.

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co~c~usÃo que tenhamos a devida coragem e bom senso para lutar por aquilo que

Cremos que pudemos abordar a palavra de Deus nos ensina e per- a Igumas questões doutrinárias e prá- mite e que tenhamos a devida humil- ticas da participaçâo das mulheres dade para aceitar aquilo que a pala- na vida da igreja. Rogamos a Deus vra de Deus nos diz, mesmo que nos- que desperte multas pessoas para sa razão não compreenda. re f l e t í rm acerca desta questão e

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N O T A S

1 KOEHLER, Sumário da Doutrina Cristã, p. 250 * 2 Lluito inspirador sobre este assunto é o capítulo ent i tulado "The Ministry d

the Laity" de Oscar E. Feucht, l n Everyone a Minister, (St. Louis, C PH, 1976), pp. 68-82.

3 BATiShlO, EUCARISTIA, MINISTÉRIO, p. 41. 4 Idem, p. 42. 5 KEELEY, Editor. Eerdmans' Handbook t o Christ ian Belief, pp. 406-407. 6 Idem, Ibidem, p. 407. 7 FIORENZA, "Quebrando o Silêncio: a Mulher se Torna Visível", in a Mulher Invisível

na Teologia e na Igreja, p. 9. 8 SCHULER, 'A Função da Mulher na Igreja", i n Igreja Luterana, Ano XXXII, pp.

24-41. 9 Encontramos ampla discussão exegética de textos bíblicos sobre o papel da

mulher na igreja nas obras de Nei l R. Lightfoot, Gi lbert Bi lz ikian e Stephen B. Clark, as quais apresentamos na bibl iograf ia ao f inal deste trabalho.

10 Livro de Concdrdia, CA, V, 1-2. 11 PIEPER, Christ l iche Dogmatik, III, pp. 503-506. 12 The Ministry, Offices, Procedures and Nomenclature. A Report of The Comission

on Theology and Church Relations of The Lutheran Church-Missouri ~.

Synod. Septenber, 1981. Este documento é precioso porque além de mostrar como a terminologia (nomenclatura) em torno do ministér io causa mau entendimento, ele oferece uma boa fundamentação para o min is tér io eclesiást ico e mostra como se dlstinguem e integram o ministér io e suas diferentes funções.

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BATISMO, EUCARISTIA, MINISTERIO, Rio de Janelro, CONIC, CEDI, 1983

BILEZIKIAN, Gilbert. Beyond Sex Roles. Grand Rapids, Baker --- Book House, 1986.

CLARK, Stephen B. Man and Wornan i n Christ. Ann Arbor, Michigan, Sewant Books, 1980.

FEUCHT, Oscar, E. Everyone a Minister. St. ~ o u i s : C.P.H., 1976. --- KEELY, Robert ed. Eerdrnans' Handbook To Chr is t ian Bellef. --

Grand Rapids, Eerdrnans P.C., 1982- KOEHLER, Alfred. Surnárlo da Doutrlna Cristã. Por to Alegre,

Concórdia, 1981 LEMAIRE, André. Ministérios na Igreja. São Paulo Paulinas, --

1977. LIGHTFOOT, Neii. R. O Papel da Mulher. As Perspectivas do Novo Testamento.

São Paulo, Vida Cristã, 1979. LIVRO DE CONC~RDIA. Arnaldo Schuler, trad. Por to AlegrelSão Leopoldo,

ConcdrdiaISinodal, 1980. MUELLER, Arnold C. The Mlnistry of The Lutheran Teacher. St. Louis,

C.P.H., 1964. PIEPER, Franz. Christ l lche Dogmatik. Vol. I I I . St. Louis, C.P.H.,

1920. SCHULER, Donaldo. "A Funqão da Mulher na Igreja", i n Igreja Luterana. Ano XXXII.

Por to Alegre, Concdrdia, 1971 (pp. 24-41). THE MINIÇTRY, OFFICES, PROCEDURES, AND NOMENCLATURE. A Report of The Cornis-

sion on Theology and Church Relations of Lutheran Church-Missouri Synod. Septernber, 1981

Vdrias Autoras. A Mulher Invisível na Teologia e na Igreja. Petrópoiis, Vozes, 1985186. --------

* Professor na Escola superior d e Teologia do Instituto Concbrdia de S%o Paulo.

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R Esposa do Pastor

Paulo M. Nerbas *

As esposas de pastores do Dis- t r i to Paulista tiveram o seu encontro anual referente a 1988 no dia 28 de maio. Fui honrado com o convite pa- ra elaborar e apresentar um estudo sobre o tema: A Esposa do Pastor. As colocações feitas para uma refle- xão conjunta com as que estiveram presentes ao encontro seguem neste espaço. Visam auxiliar tanto a pasto- res como esposas interessados em compreender cada vez melhor o que vem a ser uma esposa de pastor. Não é um assunto que se esgota em algu- mas linhas, por isso tenciono apenas promover um despertamento no sen- tido de se valorizar conveniente- mente a presença da esposa junto ao ministro do evangelho.

"Meu marido é pastor" - quando uma senhora pronuncia esta frase não está apenas declarando qual a profissão do seu esposo. A expres- são "maridolpastor" engloba mais do que simplesmente designar a at i- vidade profissional de a Iguém. Quem tem um maridoipastor, tem como companheiro não só um marido, mas também alguém que exerce uma fun- ção muito especial - o ministério da Palavra. Por ser algo especial, o mi- nistério exige da parte da esposa uma visão diferente a respeito do seu esposo, pois ele não é somente um profissional de alguma área, po- rém um servo de Deus no ministério de pastor?

O que é, então, ser esposa de pastor?

Ao forniar a mulher, o Senhor teve em mente o seguinte propósito, conforme o registro de Gn 2.18: "Não é bom que o homem, esteja só: far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea". Dignas de destaque são estas duas palavras: auxiliadora e idônea. "Auxiliadora, ajudadora" é aquela que está ao lado do marido como parte integrante e fundamental em sua vida. Para tanto, deve ser idônea, ou seja, a outra parte, a ou- tra metade, o lado oposto, não em oposição, porém em complementa- ção. Sem a mulher o homem não está completo. Por isso, Deus I he deu a auxiliadora que o complementa.

Como outra metade, permitam- me o termo, ela se encaixa na meta- de-marido, formando a unidade ma- trimonial. Até onde acontece este encaixe ou união? Dá-se no terreno espiritual, afetivo, paternal (função de pais), sexual e proí.issional (espe- cialmente no ministério). O tema res- tringe nossa abordagem ao último aspecto, por isso, detalhemos a ação da esposa auxiliadora idônea no mi- nistério.

A auxiliadora idônea tem visão do ministério semelhante a do espo- so. "Ministério" é, antes de tudo, serviço, onde essencialmente servi- mos. O ministro é aquele que serve a Cristo, Senhor da igreja, e ao pr6-

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ximo. O pastorado não se restringe a um mero trabalho como meio de vida, contudo se caracteriza como ação em que se serve. O pastor e esposa que vêem o ministério assim, formarão uma unidade utilíssima nas mãos do Senhor que chamou a tão nobre serviço. O servo de Deus que tem.a seu lado tal auxiliadora idô- nea, conta com alguém que ajuda, acompanha e sustém, não s6 o mari- do, mas também a obra sublime que ele desenvolve ("excelente obra", segundo I Tm 3.1 ). Onde a compa- nheira não encaixa consigo na visão de ministério, poderá o pastor en- contrar dificuldades para desempe- nhar fielmente sua missão, porque não há harmonia entre o casal quan- t o à compreensão do que vem a ser o pastorado.

O Novo Testamento exige do bispo (pastor) certas qualificações indispensáveis para o desempenho de seu ministério. Grande bênção re- cebe aquele pastor que possui consi- go uma auxiliadora disposta a acom- panhá-lo na busca do preenchimento constante das qualificações requeri- das pelo Senhor da*lgreja. O ministé- r i o de um homem sai fortalecido quando ao seu lado há uma mulher ciente das quali~ficações exigidas de seu marido e disposta a apoiá-lo, for talecê-10, aconselhá-lo e, por que não, até a sofrer com ele caso for preciso. Pastor e esposa fazem bem quando retomam para suas medita- ções textos como I Tm 3.1-7, Tt 1.7-9 e I Pe 5.1-4, onde deparamos com palavras a respeito daquilo que 'se requer do bispo". Não há porque analisar cada um dos termos lá en- contrados. Basta, para nosso propó- si to, destacar o "irrepreensível" de 1 Tm 3.2. Termo forte, sem qualquer

dúvida! Qualificação que remete dia- riamente o pastor ao socorro na gra- ça e na suficiência de Deus, pois "ir- repreensível" significa "sem mácu- la", "de reputação inatacável". No que se refere a esposa, muito lhe cabe como auxiliadora idônea ao la- do do esposo, cuja reputação deve ser intacável. Além de compreendê- l o e ampará-lo na sua luta e esforços para preencher o que dele se requer, participa ativamente com ele tam- bém nas orações suplicantes pela graça e suficiência divinas para su- pr i r o que nele falta.

O pastor fiel, certo de que Deus o colocou naquele lugar para alí de- senvolver o "ministério da reconci- liação" (2 Co 5.18), vive e age leva- do pelo amor a seu Salvador, que o amou primeiro, e para com os que lhe foram confiados. A exemplo de Paulo, nenhum de nós é enviado para "mercadejar a palavra" (2 Co 2.17), ou seja, oferecê-la friamenteem tro- ca de nossos rendimentos. Se este fosse o caso, estaríamos a cata de colocação em lugares onde os rendi- mentos e as vantagens materiais pa- reçam melhores. No entanto, como representantes daquele que amou in- condicionalmente os seus, s6 pode- mos agir consoante o exemplo que ele deixou. O amor pelo seu povo não só o pastor oferece; acompa- nha-o a esposa! Poderá um pastor se sentir a vontade para encarar os desafios de seu trabalho, quando a esposa não comunga do mesmo amor pelo rebanho? Escutam-se vo- zes às vezes que alegam falta de adaptação ao local como razão para mudanças. Sem pretender emitir juí- zo sobre nenhum caso, saliento, to- davia, a necessidade do casal exami- nar seriamente as razões invocadas

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em defesa da alegada falta de adap- tação. Motivo banais, carentes de fundamento, tornarão infeliz o mi- nistério em determinado lugar.

Nas suas ações em amor, a es- posa ao lado do marido, mantém-se humilde no trato com os congrega- dos. O fato de ser a "esposa do pas- tor" não a coloca automaticamente acima de ninguém. Junto com o es- poso, ela serve, ministra, a todos in- distintamente, sem olhar para as condições financeiras ou intelec- tuais de quem é servido. A partir dis- so, solidifica-se um relacionamento com os congregados, num tratamen- t o ao mesmo nível, nunca acima de ninguém, de tal modo que todos en- contrem tanto no pastor como na esposa, alguém que os ame. Lembre- mos sempre dos frutos do Espírito recomendados em GI 5.22,23!

O pastor é, em tudo, o modelo para o rebanho. Devido a isso, olha- se para ele a espera de um exemplo de bom mordomo. Entendo "mordo- mia" no sentido abrangente, não se restringindo ao aspecto financeiro. A esposa auxiliadora idônea admi- nistra com o marido o tempo, dons e bens, não a parte nem contra ele. Problemas espinhosos surgem entre o casal, afetando diretamente o mi- nistério, quando uma esposa se julga no direito de exigir mais do que a si tuação permite. Esta afirmação, contudo, não exclui o emperiho do casal em tentar modificar situações muitas vezes injustas às quais são submetidas famílias pastorais. Antes de tudo, porém, há que ser, no míni- mo, prudente o casal na avaliação das situações e nas reivindicações levantadas.

Partilhando do ministério do marido, a esposa precisa assumir

uma determinada postura diadte de inevitáveis problemas surgidos na congregação. Assim como compete a qualquer outro integrante do corpo de Cristo, ela falará apenas onde o Senhor, conforme Mt 18, espera que fale. Se não se guiar por este princi- pio, facilmente transporá limites pe- rigosos e inconvenientes, sujeita a destruir ao invés de edificar. Temos dificuldades de guardar para nós as fraquezas dos outros. Dificilmente, contudo, iremos auxiliá-los ou recu- perá-los quando divulgamos a uma outra pessoa os deslizes de A. ou 9. Há outra atitude a tomar, certa- mente mais eficaz: em vez de falar aos outros o que está acontecendo, falemos a Deus em oração a favor de quem está com problemas.

A esposa companheira do minis- t ro deve se munir de muita cautela e força para não deixar escapar ati- tudes contrárias ao que o marido prega e ensina. Não se discute que, antes de tudo, ela também é pecado- ra, sujeita aos absurdos que o peca- do provoca no comportamento de cada um de nós. Mas, e esta é uma das cargas atreladas aos ombros da família pastoral, estamos como que expostos numa vitrine, com centenas de olhos a nos observar. O que dese- jam ver tais olhos? Coerência entre o que pregamos e vivemos! Mesmo que tal coerência aguarda-se de qualquer cristão, é, todavia, do pas- tor e dos de sua casa que ela mais é cobrada. E, sabemos, onde não se manifesta, um ministerio dedicado pode ficar desacreditado.

A esposa o pastor pode também desempenhar outra valiosa atividade junto ao marido, ou seja, a de alguém que está pronta a ouví-10, especial- mente em seus desabafos e presen

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teá-lo com sábios conselhos. Há pas- tores que não cogitam ter na esposa uma conselheira, visto não possuir ela o curso de Teologia, como se apenas teólogos pudessem aconse- lhar teólogos. Não esqueçamos, po- rém, que a experiência como esposa, mãe, e, principalmente como mulher cristã, também conta muito e faculta à companheira idônea o direito de aconselhar sabiamente, evitando as- sim, em alguns casos, que o marido cometa grandes asneiras. As espo- sas, entretanto, precisam cuidar pa- ra serem objetivas nos seus conse- lhos e pareceres, visando o bem do ministério, não a satisfação de dese- jos individuais ou egoístas.

Tanto quanto possível, espe- cialmente conforme seus dons, a es- posa participa ativamente com as demais senhoras da igreja no servi- ço humilde do senhor. Há vários se- tores do ministério em que a influên- cia e a liderança dela são marcantes e positivas. No entanto, é i r longe demais quando existe a pretensão de tornar a esposa do pastor sempre a responsável pela liderança em tu- do que lhe diz respeito, esperando dela a Última palavra. Nenhum traba- lho deve estar centralizado na espo- sa do pastor, mas em Cristo, o salva- dor, a quem ela, junto com outras irmãs, serve da melhor forma pos- sível.

Mesmo que o apóstolo Paulo te- nha afirmado que aquele que não se casa pode cuidar melhor das coisas do Senhor (1 Co 7.32-34), Deus, con- tudo, não proibiu o matrimônio ao bispo e também estende bênçãos ao lar do pastor. É, sem dúvida um lar todo especial, empenhado em cum- prir com um propósito supremo: de- senvolver o ministério da reconci-

liação entre os homens e Deus, le- vando Cristo aos corações, pois só nele se torna possível a reconcilia- ção. Para que tal propósito seja al- cançado, muito contribui a esposa do pastor, a auxiliadora idônea, que encaixa no marido como a outra me- tade que lhe faltava, tornando-se os dois um apenas, a buscar, entre ou- tras coisas, também o cumprimento do ministério que Ihes foi confiado. Esposas de pastores tem a seu en- cargo uma tarefa gigantesca, mas, ao mesmo tempo, gloriosa, pois se o ministério é gigantesco tanto para o marido como para ela, seres limi- tados e indignos de tamanha respon- sabilidade, é, acima de tudo, glorio- so, porque a "excelente obra" visa colocar na glbria do céu almas imor- tais. Haverá no mundo algo com re- sultados mais duradouros e glorio- sos?

Algumas sugestões: -busquem adquirir um conheci-

mento maior a respeito do ministério e de suas implicações. Procurem dialogar com o marido e leiam o que estiver a mão sobre esse tema, infor- mando-se interessadamente de tudo o que se relaciona com o trabalho pastoral e, especialmente, a partici- pação da esposa;

- consultem com frequência na Palavra de Deus quais são as virtu- des recomendadas a esposa (1 Pe 3.1 -7, por exemplo) e apliquem-nas ao desempenho tanto de esposa co- mo de companheira idônea no mi- nistério;

- e, acima de outra cousa, nu- tram-se da suficiência que somente o salvador Jesus dispõe e oferece. Para as falhas há perdãol: está em Jesus; para os temores há amparo: está em Jesus; para as fraquezas há

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fortalecimento: descubram-no em Jesus; para as decepções há reergui- mento: surge das promessas de Je- sus; para as esperanças há confirma- ção: está garantida pelo fiel salva- dor.

A misericórdia divina alcança- nr;; Cristo nos meios da graça. Neles nos saciamos daquilo que necessi- tamos para realizar a parte que nos

cabe no ministério da reconciliação, tanto pastores como esposas. Olhan- do para as nossas fraquezas, treme- mos; Cristo, porém, nos fortalece e nos mostra que, mesmo fracos, so- mos instrumentos úteis aos seus propósitos, pois o seu poder se aper- feiçoa em nossa fraqueza (2 Co 12.9).

E, assim vamos em frente!

* Professor na Escola Superior de Teologia do Instituto Cor+ córdia de São Paulo.

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Hinos do Hinarim Luterano Refac ionados Com as

Lei turas da Série Trienal "C" Raul Blum *

Continuando o trabalho inicia- do no ano de 1987 (vide Vox Concor- diana - Suplemento Teológico, ano 3, número 2, 1987)' os alunos do pri- meiro ano teológico da Escola Supe- rior de Teologia elaboraram uma lis- ta como sugestão de hinos para as leituras da série Trienal "C". Este trabalho faz parte do curso de Litúr- gica e foi coordenado pelo Prof. Raul Blum.

1 O Domingo no Advento Jr 33.14-16 144 1 TS 3.9-13 391 LC 21.25-36 OU 44 1 LC 19.28-40 5

2" Domingo no Advento MJ 3.1-4 12 F1 1.3-11 8 LC 3.1 -6 1 1

3" Domingo no Advento Sf 3.14-18 13 FI 4.4-7 208 LC 3.7-18 12

4" Domingo no Advento Mq 52-4 14 Hb 10.5-19 9 LC 1.39-45 (46-55) 7

Natividade de Nosso Senhor l 0 Culto (VAspera de Natal) IS 92-7 24

Procurou-se evitar repetir hi- nos já usados na série anterior. O objetivo é usar o hinário luterano da forma mais abrangente possível. Com este trabalho se quer auxiliar o pastor na escolha de hinos para os cultos diminuindo-lhe o tempo dispendido para esta tarefa.

A Série "C" passou a ser usada a partir do Primeiro Domingo no Ad- vento de 1988.

Natividade de Nosso Senhor 2" Culto (Matinal) 1s 52.7-10 Hb 1.1 -9 Jo 1.1 -1 1

Natividade do Nosso Senhor 3" Culto (Dia de Natal) IS 62.10-12 T t 3.4-7 Lc 2.1-20

1" Domingo apbs Natal Jr 31.10-13 Hb 2.10-1 8 LC 2.41-52

2" Domingo após Natal 1s 61.1 0-62.3 E f 1.3-6, 15-1 8 JO 1.1-18

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Epifania do Nosso Senhor IS 60.1 -6 E f 3.2-12 Mt 2.1-12

Epifania do FJosso Senhor IS 42.1 -7 At 10.34-38 LC 3.15-17,21,22

20 Domingo após Epifania IS 62.1-5 1 C0 12.1-11 Jo 2.1 -1 1

3 Domingo após Epifania IS 61.1 -6 1 C0 12.12-21,26,27 LC 4.14-21

40 Domingo após Epifania Jr 4.1 -10 1 C0 12.27-13,13 LC 4.21 -32

50 Domingo após Epifania 1 s 6.1 -8 (9-13) 1 C O 14.12b-20 LC 5.1 -1 1

60 Domingo após Epifania Jr 17.5-8 1 C 0 15.12,16-20 LC 6.17-26

7" Domingo após Epifania Gn 45.3-8a,15 1 Co 15.35-38a,42-50 LC 6.27-38

80 Domingo após Epifania Jr 7.1 -7 (8-1 5) 1 C0 15.51 -58 LC 6,39-49

A Transfiguração de Jesus

Dt 34.1 -12 438 65 3 C 0 4.3-6 339 64 LC 9.28-36 284 61

Quarta-Feira de Cinzas ABC (Trienal)

64 JI 2.12-19 354 275 2 C0 5.2013-6.2 78

67 Mt 6.1-6,16-21 360

l 0 Domingo na Quaresma 68 Dt 26.5-10 40 1

307 Rm 10.8b-13 357 62 Lc4.1-13 505

1 2 Domingo na Quaresma

265 Jr 26.8-15 204 299 Fp 3.1 7-4.1 523 282 L C 13.31 -35 291

30 Domingo na Quaresma Ex 3.1 -8a,l0-15 21 1 1 C0 10.1-13 31 7 LC 13.1-9

40 Domingo na Quaresma IS 12.1-6

I 156

1 C0 1.18-31 OU

1 C 0 1.1 8,22-25 250 LC 15.1 -3, l l -32 362

50 Domingo na Quaresma

Domingo de Ramos Dt 32.36-39 209 Fp 2.5-11 167 L C 22.1 -23 97

Segunda-Feira na Semana Santa IS 42.1 -9 262 Hb 9.11-15 264 JO 12.1 -1 1 263

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Terça-Feira na Semana Santa 1s 49.1-6 261 1 C0 1.18-25 242 JO 12.20-36 259

Quarta-Feira na Semana Santa, 1s 50.4-9 258 Rm 5.6-1 1 79 Mt 26.14-25 257

Endoenças Jr 31.31 -34 Hb 10.15-39 LC 22.7-20

Sexta-Feira Santa 1s 52.13-53.12 Hb 4.14-16 JO 19.1 7-30

Sábado de Aleluia Dn 3.1,3-9,12-29 1 Pe 3.17-22 M t 27.56-66

Vigflia Pascal Êx 14 Rm 6.3-1 1 MC 16.1-8

Domingo de páscoa SI 118.14-24 1 C0 15.1-11 LC 24.1-11

Páscoa de Noite Dn 12.1-3 1 C0 5.6-8 LC 24.13-49

2" Domingo de Páscoa

3" Domingo de Páscoa A t 9.1 -20 105 Ap 5.11-14 122 JO 21.1-14 118

4" Domingo de Páscoa At 13.15-16a 2 40 Ap 7.9-17 538 JO 10.22-30 249

5" Domingo de Páscoa A t 13.44-52 355 Ap 21.1 -5 529 JO 13.31-35 3 88

60 Domingo de Pdscoa At 14.8-18 2 74 Ap 21 .I@-14,22-23 539 JO 14.23-29 152

Ascenção de Nosso Senhor At 1.1-11 1 28 Ef 1.16-23 412 LC 24.44-53 344

7" Domingo de Páscoa A t 16.6-10 1 27 Ap 22.12-17,20 270 JO 17.20-26 379 Véspera de Pentecostes EX 19.1-9 OU

A t 2.1-1 1 135 Rm 8.14-17,22-27 322 Jo 7.37-39a 267

Pentecostes Gn 11.1 -9 147 A t 2.37-47 247 JO 15.26-27, 16.6-1 1 54 1

10 Domingo apbs Pentecostes PV 8.22-31 188 Rm 5.1 -5 407 JO 16.12-1 5 248

2" Domingo apbs Pentecostes

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30 Domingo ap6s Pentecostes 1 RS 17.17-24 403 GI 1.11-24 337 LC 7.11-17 273

40 Domingo ap6s Pentecostes 2 S m 11.26-12.10,13-15 345 GI 2.1 1-21 378 LC 7.36-50 280

5" Domingo apds Pentecostes ZC 12.7-10 41 7 G I 3.23 -29 366 LC 9.18-24 31 8

60 Domingo apbs Pentecostes 1 RS 19.14-21 3 90 GI 5.1,13-25 386 LC 9.51 -62 3 98

I; Domarqo apds Pentecostes S 5 66.10-:-i 21 9 L-' 6.: 1B,14-16 3 92 ir; 10.~-1C,16:17-LCi) 333

80 Daminqo ap6s Pentecostes C t 30.9-14 132 CI 1.1 -14 3 75 LC 10.25-37 391

90 Domingo apFs Pentecostes Gn 18.1 -10a(10-14) 421 CI 1.21-28 3 77 LC 10.38-42 136

100 Domingo após Pentecostes Gn 18.20-32 208 C1 2.6-1 5 191 L C 11.11-13 133

11" Domingo apbs Pentecostes EC 1.2; 2.1 8-26 380

120 Domingo ap6s Pentecostes Gn 15.1-6 369 Hb 11.1-3,8-16 320 LC 12.32-40 542

130 Domingo ap6s Pentecostes Jr 23.23-29 242 Hb 12.1-13 321 LC 12.49-53 276

140 Domingo ap6s Pentecostes IS 66.18-23 186 \ Hb 12.18-24 1 92 LC 13.22-30 404

15" Domingo apds Pentecostes PV 25.6-7 342 Hb 13.1-8 40C LC 14.1,7-14 21 8

1 no Domingo após Pentecostes PV 9.8-12 7 35 Fm 1 .(2-9)lG-21 734 1 LC 14.25-33 143

17" Domingo após Pentecostes EX 32.7-14 344 1 Tm 1.12-17 315 - LC 15.1 -10 2 86

18" Domingo após Pentecostes Am 8.4-7 359 1 Tm 2.1 -8 367 LC 16.1-13 481

190 Domingo ap6s Pentecostes Am 6.1-7 352 1 Tm 6.6-16 3 83 L C 16.9-31 358

200 Domingo após Pentecostes HC 1.1 -3,2.1-4 349 2 Tm 1.3-14 402

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210 Domingo ap6s Pentecostes Rt 1.1-19a 30 1 2 Tm 2.8-13 408 LC 17.11-19 21 4

220 Domingo ap6s Pentecostes Gn 3222-30 303 2 Tm 3.14-4.5 249 Lc 18.1-8a 532

230 Domingo ap6s Pentecostes Dt 10.12-22 305 2 tm 4.6-8,16-18 436 LC 18.9-14 378

24" Domingo ap6s Pentecostes E X 34.5-9 172 2 TS 1.1 -5,11-12 21 6 LC 19.1-10 363

250 Domingo ap6s Pentecostes 1 Cr 29.10-13 21 3 2 TS 2.13-3.5 295 LC 20.27-38 405

Antependltirno Domingo do Ano da Igreja Êx 32.15-20 356

Penbkimo Domingo do ano da Igreja

Último Domingo do Ano da Igreja MI 3.14-18 OU Jr 23.2-6 Ap 22.6-13 OU CI 1.13-20 LC 12.42-48 OU

LC 23.35-43

* Professor na Escola Superior de Teologia do Irstituto Cori- cãrdia de Sáo Paulo.

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Raul Blum *

ZIMMER, Allan R., SCHROE- DER, George W., ZEMKE, Herman J. O Culto Cristão. Trad. por Irving Ivo Hoppe e Cldvis Gedrat de A. Cate- chisrr of .Christian WorshiD. Porto Alegre, Concórdia, 1958

O objetivo deste Iivreto está ex- posto no "Apresentando" da página 7: "O Culto Cristão é uma pequena introdução à liturgia cristã. Foi pro- duzido em forma de catecisno (per- guntas e respostas) com o fim de facilitar a compreensão dos conteú- dos comunicados ..."

Vem em boa hora este l ivreto, pois faltava-nos algo bem prát ico que pudesse ser uti l izado em grupos ou individualmente a fim de introdu- zir os luteranos a compreenderem melhor o seu culto principal (com Santa Ceia) e os cultos menores (matinas e vésperas) bem como os outros elementos ligados aos cultos: o templo, o ano eclesiástico e a sim- bologia em geral.

Ao tratar da adoração pela "construção de igrejas" vemos neste l ivreto referências ao tipo antigo e tradicional de templos; o mesmo acontece com o altar. Mas, mesmo que hoje a prática seja um pouco diferente e mais simplificada na edi- ficação de igrejas e altares, a expo- sição sucinta e clara do significado do local de nossa adoração, torna o estudo deste assunto agradável e

prático. Quando são expostos o Ano

Eclesiástico e as cores do Ano Ecle- siástico foram feitas as devidas revi- sões e ampliações que se adotaram junto com a s6rie Trienal de leituras bíblicas. Mas houve um lapso na pá- gina 39 quando se fala que a cor verde é usada durante a época da Trindade. Mais adequado, segundo as revisões do Ano Eclesiástico, se- r ia dizer que a cor verde é usada do segundo ao oitavo doniingo apbs Epifania e do segundo ao últirro do- rringo apbs Pentecostes.

Uma observação na página 42 onde encontramos "Atividades Su- geridas". No l ivro original em inglês os autores tiveram o cuidado de acrescentar a cada questão as pas- sagens bíblicas específicas, o que fa- ci l i ta o trabalho do estudante. Infe- lizmente nesta tradução estas passa- gens foram omitidas o que torna es- tafante a tarefa de quem quiser res- ponder estas questões. Como se tra- ta de simples citações das dimen- sões, utensílios e partes do taberná- culo do Antigo Testamento, não há mérito nenhum em ficar procurando onde se encontram as respostas na Bíblia, e, convinha para uma próxima edição, incluir estas passagens.

Uma última observacão auanto ao nome que foi dado ao livreto: Q Culto Cristão. No original é A Cate- c h i m of Worship, que, traduzido, é

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Um Catecismo do Culto. Este nome original expressa exatamente como o l ivro foi organizado: em forma de perguntas e respostas, ou seja, em forma de catecismo. Além do mais, o título ficou idêntico a de outro l ivro já publicado pela ASTE: O m - t o Cristão de J. J. von Allmen.

No entanto, estas pequenas ob-

servações não tiram o valor desta obra que precisaria estar na casa de cada luterano. Realmente, de for- ma concisa e direta, O Culto Cristão traz as informações básicas para que se possa participar dos cultos luteranos com mais proveito e cons- ciência de tudo o que se passa nes- tes ofícios cristãos.

* Professor na Escola Superior de Teologia do Instituto Con- cõrdia de São Paulo.

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Estudos Homiléticaç Sexta-feira da Paixão Série Trienal C AT: I salas 52.13-53.12 i

I. As Leituras do Dia _ I I

Com as quatro leituras combi- nando na temática geral - o sofri- mento e morte vicários de Cristo - o pregador haverá de utilizar-se de- las em sua mensagem, dando-lhe maior riqueza de conteúdo e profun- didade. Convém notar que as quatro leituras ainda que falando do sacrifí- cio, tormento e morte, têm um enfo- que de vi t6ria do Senhor e de reden- ção completa e de bênção incompa- rável para toda a humanidade:

1. Salmo 22.1 -24:o clamor do Messias; seu sofrimento perante os homens; sua confiança em Iãhweh, a quem A dado todo louvor.

2. Isalas 52.13-53.12: o sofri- mento do Servo de lahweh, em favor dos homens, por causa dos pecados destes. Morto de forma humililante, mas exaltado e vitorioso ao final.

3. Hebreus 4.1 4- 16; 5.7-9: Je- sus é o nosso sumo-sacerdote, pois sofreu (ofereceu-se como sacrifici o) para nos salvar eternamente.

4. João 19.17-30: o relato da crucificação e morte de Jesus, com ênfase no perfeito cumprimento 'das profecias e na afirmação vitoriosa: "Está consumada!" I ' '

11. Q Textoldu'$ermão

1. Contexto

Judá v'iviaêm situação extrema- mente dif ici lsfr i sua politica interna- cioriãl. O profeta Isaías p r e g ~ ~ v i g u - rbsamen~ete, primeiro, para que' seu i povo não se fiasse em akianças com outros palses para' ter segurança, mas ,em lahwen. Depois, possiveL- mente visando para o que viriam a ser, exilados na Babildnia, cbnsola- os com ã cetteza de que Deus'agirá conforme a sua promessa. Q texto está dentro do chamado "Vqlume da Consolaçao'' (40.1 -66.24), n o qual est io também os outros três "Csnti- cos do Servo": 42.1-9; 49.1-7; 50.4-1 1 , que enfooam a atuação do

I Messias, como enviado por lahweh -

para redirriir o seu povo. O próprio Novo Testamento se encarrega de mostrar que o Servo$do Senhor é - Jesus Cristo, na sua missão de bus- car e salvar o perdido (At &:32-35; e outras cltaçbes d o NT).

2. Anotações Sohce o Texto

O servo do Senhor: há, ao me- nos dois enfoques que podem ser da- dos Sobre o significado de "servo" no Antigo testamento; t. no sentido sociológico - escravo; aquele-que é comprado por preço para realizar o serviço de seu senhor; 2. aquele que está ao lado de outro, de quem

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é o "braço direito". Alguém que des- fruta de honra e autoridade. O Servo do Senhor é, então, alguém através de quem Deus age com seu poder e autoridade (exemplos: Abraão, Moisés, Ciro).

A perícope em questão pode ser dividida em cinco partes (após cada breve comentário, sugere-se temas para estudo e reflexão).

1.") 52.13-53.1: o Servo do Se- nhor exaltado (glorificado) é o mes- mo que se apresenta extremamente sofrido e humilhado - um desafio à razão. O v. 13 bem pode ser traduzi- do: "O meu Servo prosperará (terá sucesso)". A situação lembra um so- berano apresentando à corte um rei amigo, que vencerá, apesar das difi- culdades, os inimigos. Mas a aparên- cia desfigurada (arruinada, destruí- da) do Servo causa espanto! Rm 15.21, que cita o texto, esclarece que é sobre os gentios que se fala (v. 15) - a mensagem da cruz faz os gentios se aquietarem e os leva a "considerar a tentamente" (= "enten- derão"). Para estudo e reflexão: "O Escândalo da Cruz".

2.) 53.2,3: a extrema humilha- ção do Servo e sua rejeição por par- te dos homens. O seu próprio povo o rejeita (Jo 12.37-38) - por causa da "pregação" (o Evangelho, que não veio segundo a sabedoria huma- na) e de sua aparência (não de um Messias como esperavam, mas de um sofredor). Para estudo e reflexão: "Estado de Humilhação de Jesus".

3.") 53.4-6: o sofrimento do Servo por nós (o cerne do Evange- lho) - por sete vezes, neste trecho, s obra do Servo é declarada ser fei- ta a nosso favor, por causa do nosso 3ecado. N6s somos os doentes (à norte) - mas ele suportou as dores;

nós somos transgressores (inimigos de Deus), - mas ele foi castigado por isso (em nosso lugar); nós somos rebeldes (auto-suficien tes; cada vez mais longe de Deus) -ele suportou a responsabilidade (a nosso favor). Para estudo e reflexão: "Sacrifício Vicário de Cristo".

4.") 53.7-1na: o sofrimento e morte do Servo -que aconteceu na forma de castigo, cumprimento de pena; mesmo sendo inocente, acei- tou tudo como se o merecesse. Não reivindicou seus direitos! Foi julga- do como se fosse bandido, um vio- lento ("perversosn). Mas, por detres da ação maldosa dos homens está a vontade de lahweh, que quis esma- gar o Servo, como oferta pela culpa da humanidade. Para estudo e refle- xão: "Obediência Passiva de Cristo".

5.") 53.1 0-1 2: os resultados da obra do Servo: 1. terá muitos do seu lado (os salvos = Igreja); 2. viverá

(Ressurrei cão); 3. realizará perfeita- mente a vontade de lahweh (sua obra tem valor objetivo). De sua obra não decorre uma mudança na essência do homem, mas uma declaração fo- rense ("justificará"). Para estudo e reflexão: "Justificação e Reconcilia- ção Objetivos".

3. O Texto para o Ouvinte

O objetivo do texto é evidente- mente de fé: que os ouvintes confiem sua reconciliação com Deus e eterna salvação na obra já realizada de Cristo.

A moléstia (lei no segundo uso) que o texto sugere é a nossa situa- ção natura1:doentes (a morte), inimi- gos de Deus, rebeldes; e, por isso, sem esperança de encontrar "algo de bom" dentro de nós.

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O (Evangelho) é rica emul- tiformemente exposto no texto: Je- sus, o Servo do Senhor, assumiu o

. . nosso pecado (culpa), "vestiu-se" com a nossa indignididade (substi- tuto), suportou o nosso castigo, fez oferta necessária e suficiente para nos resgatar, declara-nos justos, dá- nos plena vitória.

III. Esboço do Sermão

Tema': Como a obra do Servo Jesus nos interessa.

I. Seu sofrimento nos traz re- denção:

A. Nossa triste situação: doentes, transgressores, rebeldes.

B. Seu sofrimento A vicário: por nbs! (VV. 4-6)

C. Nisto consiste a certeza de estarmos reconciliados com Deus (ver a Epistola do dia).

II. Sua gldria nos A certeza de v ida :

A. A razão humana não com- ' preende tal figura (52.14-53.13). Mui-

tos o têm como exerrplo sorriente (moralimo)-por isso se escandaliza.

8. O Servo Jesus é vitorioso na sua obra:

1. Sua inocência suporta o nosso castigo (vv. 7-10a);

2. Com sua obra justifica o pecador (v. 11);

3. Esta obra é aceita por Deus - ele vence (52.1 ; 53.1 0-12).

C. Somos o "resultado práti- co" da obra de Cristo - nele está nossa certeza de vida.

Rev. Gerson L. Linden

Domingo de Páscoa Série Trienal C

AT: Êxodo 15.1-11

Na igreja cristã, Páscoa é a grande festa da salvação, da liberta- ção. Lembramos a vitória do Salva- dor Jesus sobre os nossos grandes inimigos espirituais: o pecado, a morte e Satanás. A passagem pelo Mar Vermelho tinha, para a igreja do Antigo Testamento (AT), um sen- tido semelhante de libertação. Por esta razão, o texto de Êx. 15.1-11 foi escolhido como uma das perlco- pes para o Domingo da Páscoa.Ele faz parte do contexto de Ex. 13.17 a 15.21.

O livro de Êxodo tem, no AT, um papel semelhante ao dos Evange- lhos no NT. Ele fala a respeito das ações de Deus para a salvação do seu povo. A Teologia da redenção é uma das grandes ênfases do livro (ex.: a narrativa da Páscoa no cap. 12, e a aliança no cap. 24). O episb- dio do cap. 14 dá o nome ao livro. O relato da passagem pelo Mar Ver- melho é, por assim dizer, o centro do evangelho no AT. Ele reaparece seguidamente em textos ligados à redenção operada por nosso Deus.

O cap. 15 é conhecido como o Te Deum do AT. Ele dá uma versão poética dos acontecimentos relata- dos no cap. 14, que terminou com a observação de que o povo "temeu ao Senhor" e "confiaram no Senhor" (V. 31). Esta fé em lahweh é agora expressa no cântico de Moisés. Ele e o povo, espontaneamente, louvam a Deus pela sua vitória sobre as for- ças do mal, representadas por faraó, seus exércitos e os deuses em quem eles confiavam. O centro deste cân- tico é Deus mesmo (v. 11 ). Seu nome divino, lahweh, aparece 10 vezes. Ele é o único agente da salvação,

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Israel não cooperou em nada no epi- sódio da passagem do Mar Verme- lho. Deus agiu! Ele salvou! Não há ninguém como ele, "magnífico em santidade, terrível em proezas, autor de prodígios" (v. 11 - Bíblia vozes). Ele é o objeto da adoração e do louvor do seu povo.

O cântigo de Moi&s tem 5 es- trofes (vv. 1-5, 6-8, 9-10, 11-12, 13-18) que se dividem, basicamente, em dois assuntos distintos. Os pri- meiros 12 versículos recontam a his- tória do livramento junto ao Mar Vermelho sem se preocupar em se- guir a seqüência cronológica dos acontecimentos louvando ao Senhor por sua grandeza e poder (vv. 1, 3, 6, 7, 11). 0 s atributos de lahweh fi- cam evidentes no que aconteceu. 0 s Últimos versículos profetizam a res- peito da conquista de Canaá, do es- tabelecimento do reino de Deus so- bre as nações e de sua presença en- tre o povo redimido.

Moisés e o povo não podem fa- lar da salvação do Senhor com uma postura imparcial de espectadores distantes. Por esta razão usam a pri- meira pessoa do singular para ex- pressar a alegria que brota de seus corações (v. 1). "Cantarei ao Se- nhor" torna-se uma maneira comum de iniciar hinos de louvor (Jz 5.3; SI 89.1, 101.1, 108.1).

As palavras da primeira metade do v. 2 podem ser encontradas em passagens correlatas como SI 118.14 e 1s 12.2. Louva-se aqui "o Deus de meu pai", o Deus de Abraso, Isaque e Jacó, pois o que ele prome- teu em Gn 15.14 e 46.3-4 agora se cumpriu.

No v. 3, o Senhor é chamado de "homem e guerra". Em diversos ,textos do AT (Dt 1.30; Jz 4.14; 2 Sm

5.24; 2 Cr 20.17), ele é descrito como um rei que sai à frente, que lidera o seu povo na batalha. Sua ação contra os egípcios é uma demons- tração clara de seu poder irresistí- vel e uma manifestação preliminar da sua Justiça inexorável que aguar- da todos os seus inimigos. O Senhor revela o seu furor (v. 7) contra o mal (Jo 3.36; Rm 1.18; Ef 5.6; CI 3.5-6). Mas a ação de Deus que pele- ja e destrói os inimigos, é também uma demonstração de amor para com o seu povo. Ele torna-se o con- solo de Israel, a sua esperança e o episódio relatado no cap. 14 e can- tado no cap. 15 é continuamente re- lembrado em todo o'AT.

As pretençóes dos inimigos são grandiosas (v. 9), porém o Senhor vence. 0 s vv. 8 e 10 lembram que o livramento ocorreu no momento em que lahweh o determinou, e acon- teceu sob a sua direção. Por esta razão, o nosso texto termina com uma grande expressão de louvor e consagração ao Senhor: "Quem é como tu?" (v. 11 ). Expressões seme- lhantes podem ser encontradas em passagens paralelas como SI 35.10, 71.19, 89.6, 113.5 e Mq 7.18. O Se- nhor não tolera rivais. Ele derrotou todos os deuses do Egito e seus ado- radores. Isto precisava ser enfatiza- do, pois o povo de Israel havia pas- sado quase 4 séculos num ambiente de idolatria e necessitava reconhe- cer e louvar os atributos do seu Se- nhor.

Sugerimos que este texto seja usado homileticamente como objeti- vo de levar o povo de nossos dias, seguindo o exemplo de Israel, a cele- brar a salvação efetuada pelo Se- nhor e a reconsagrar-se ao serviço de seu Deus. A moléstia que o texto

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apresenta está no contexto maior de Êxodo: toda a situação de servidão aos inimigos espirituais tinha como resultado a nossa condenação eter- na. Mas, como no Êxodo, Deus agiu para salvar o seu povo. Ele usou o seu poder e venceu as forças do mal. Os meios que ele empregou para fazê-lo estão na morte e na ressur- reição do Salvador Jesus.

Ao pregarmos sobre este texto, devemos traçar um paralelo entre as ações de Deus para a salvação no Mar Vermelho, no túmulo vazio na manhã de Páscoa, e em nossas vidas. Deixamos como sugestão o seguinte esboço para o sermão:

Tema: O Senhor me foi por sal- vação.

1. Por que eu precisei de salvação?

2. Como o Senhor me sal- vou?

3. Que resultados a salva- ção provoca em minha vida?

Prof. Ari Gueths

Pentecostes Sdrie Trienal C AT: Gênesis 11.1-9

Pentecostes é uma das grandes e importantes festas da igreja cristã. Pentecostes é menos badalada do que as festas do Natal e da Páscoa mas nem por isso menos significa- tiva. Oportuna é a pergunta: estamos cientes do valor de Pentecostes e festejamo-lo devidamente? Natal e Páscoa fazem sentido somente gra- ças ao Pentecostes, isto é, a dádiva do Espírito Santo que dá compreen- são ao Evangelho e gera a fé que se apropria dos beneficias da obra

redentora de Cristo. Pentecostes é a celebração do Fim da confusão en- tre criatura e Criador em virtude da comunicação estabelecida entre am- bos pelo Esirito Santo.

Pentecostes é uma festa a ser anunciada com entusiasmo a congre- gação, em tempo hábil, para que a celebração atinja o maior número possivel de membros e convidados.

O TEXTO

Vv. 1 -2, uma constatação: Entre a ost ter idade de Noé inexistiam bar- . reiras de comunicação no que se re- fere à linguagem (idioma) e à manei- ra de falar (termos tinham sentido comum para todos). A descendência de No6 deixou a pátria antiga - Ar- mênia, próximo a Ararate - e mudou- se para o belo e fdrtil vale de Sinear localizado na bacia do Tigre-Eufra- tes.

Vv. 3-4, um projeto gigantesto: Constata-se aqui a busca e a arribi- 1 ção da grandez.a. O projeto consistia I na construção de uma cidade e de uma torre (zigurate, pirâmide). O - motivo humano do projeto fica claro no v. 4: tornar célebre o nome. Por- tanto, o projeto não visa atender a

-

uma necessidade do povo. Antes, ex- pressa o pecado do orgulho e da presunção. Trata-se da busca de fa- ma - entrar no "Livro dos Records", diríamos hoje. Na raiz da motivação está a mesma atitude de adão e Eva: ser igual a Deus; romper os laços com o Criador; ser independente e, em Última análise, destronar Deus. O projeto espelha conspiração deli- berada, arrogância, hostilidade, blasfêmia contra Deus.

Vv. 5-7, a interferência de Deus: G1 6.7. O Senhor frustrou o plano.

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Deus e Sua ação são descritos em termos antropomórficos (SI 2.4). 0 s verbos no plural do v. 7 sugerem a Trindade (Gn 1.26) e indicam a ação de Deus com poder e sabedoria plenos (o hebraico Elohim termina no plural).

Vv. 8-9, as conseqüências: A in- tervenção de Deus no projeto huma- no resultou na dispersáo e na evolu- ção de vários idiomas de modo que uns não compreendessem os outros. Deus, o doador do dom da comuni- cação inteligível, pode transformar este dom em fonte de confusáo.

O termo "Babel" provém da pa- lavra hebraica que significa "para confundir". Em si mesmo o termo significa "Por ta de Deus". O que ho- mens intentavam transformar em porta de Deus e alcançar o céu, tor- nou-se "confusão" a partir do mo- mento em que Deus interferiu. Ve- mos aqui o juízo de Deus sobre a incredulidade, a alienação, o orgu- lho, a presunção.

OSOUTROSTEXTOS

O texto de ,Gn é lei de Deus e não apresenta boa nova de salva- ção. Na confusão e dispersão não houve esperança que o homem pu- desse ser salvo. No cap. 12, porém, temos a providência divina do remé- dio para a moléstia do pecado: Deus chama Abraáo e dá a promessa de, através de sua descendência (Rm 9.5), abençoar "todas as famílias da

terra". O Salmo 143 retrata a comuni-

cação com Deus através da oração. Deus liberta e, pelo seu Espírito San- to, conduz o seu povo. Na epístola salienta-se a ação do Espirito Santo que comunica e aplica a graça de Deus. O Senhor deseja a salvação de todos os homens e a estende a todos os povos no Pentecostes. O evangelho do dia apresenta a pro- messa de Cristo de dar o Espírito Santo,o que se consumou no Pente- costes. O Espírito Santo torna inteli- gível em qualquer idioma a b,oa nova do que Deus fez em Cristo para unir e reconciliar céu e terra.

O pensamento central do texto é o juizo de Deus sobre os homens que levantam-se contra o Senhor. Objetiva-se como sermão levar o ou- vinte ao arrependimento do pecado do orgulho e confortá-lo com a pro- messa da dádiva do Espírito Santo.

A moléstia que o texto aponta é o pecado do orgulho e da presun- ção que rompe a ligação com Deus e causa confusão. Opregador saberá diagnosticar sintomas desta molés- tia em sua congregação. Com a dádi- va do Espírito Santo, Deus oferece o remédio para a moléstia e concede forças para combatê-la. 0 s reflexos da ação do remédio da, graça divina transpareceráo na vida do cristão a exemplo do relato da epístola.

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Tema: Da confusão para a comunicação.

1. Projeto que resultou em confusão: Babel 1.1 Houve comunicação inteligível entre descendentes de Noé. 1.2 Houve confusão entre homens e Deus. 1.2.1 Comunicação rompida desde o Eden. 1.2.2 Comunicação rompida entre descendentes de Noé e Deus. 1.3 Edificaçáo da cidade e torre reflete comunicação rmp ida . 1.4 Intervenção do Senhor. 1.4.1 Frustra o projeto humano. 1.4.2 Confunde a linguagem e dispersa o povo.

3. Projeto que resultou em comunicação eficiente: Pentecostes 2.1 Deus não deseja criaturas alienadas. 2.1.1 Tem projeto eterno de comunicação. 2.1.2 Suscita descendência a Abraão (Gn 12.1 -3). 2.1.3 Estabelece comunicação em Cristo. 2.2 Cristo promete dar o Espírito Santo (evangelho do dia). 2.3 Espírito Santo é dado (epístola do dia). 2.3.1 Evangelho propagado em vários idiomas. 2.3.2 Espírito torna inteligível o evangelho. 2.4 Espírito comunicador do evangelho produz resultados. 2.4.1 Oração. 2.4.2 Comunhão. 2.4.3 Caridade. 2.4.4 Evangelimo.

Rev. Arno Bessel

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