apostila para professores sobre o paraolimpismo

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Introdução ao Movimento Paraolímpico Manual de Orientação para os Professores de Educação Física

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Orientação aos professores sobre o tema acima descrito no título

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  • Introduo ao Movimento Paraolmpico

    Manual de Orientaopara os Professoresde Educao Fsica

    www.cpb.org.br

  • Manual de Orientaopara Professores

    de Educao Fsica

    Introduo ao Movimento ParaolmpicoAutores: Antonio Joo Manescal Conde

    Pedro Amrico de Souza Sobrinho eVanilton Senatore

    Braslia DF2006

  • COMIT PARAOLMPICO BRASILEIRO

    DIRETORIA EXECUTIVA: 2005/2008

    VITAL SEVERINO NETOPresidente

    SRGIO RICARDO GATTO DOS SANTOSVice-Presidente Financeiro

    FRANCISCO DE ASSIS AVELINOVice-Presidente Administrativo

    ANA CARLA MARQUES TIAGO CORRAAssessora Especial para Assuntos Institucionais

    ANDREW GEORGE WILLIAN PARSONSSecretrio Geral

    WASHINGTON DE MELO TRINDADEDiretor Administrativo

    CARLOS JOS VIEIRA DE SOUZADiretor Financeiro

    EDLSON ALVES DA ROCHADiretor Tcnico

    VANILTON SENATORECoordenador-Geral do Desporto Escolar

    RENAUSTO ALVES AMANAJSCoordenador-Geral do Desporto Universitrio

    Material produzido para o projeto Paraolmpicos do Futuro com recursosda Lei no 10.264/2001 para o desenvolvimento do esporte escolar.

    Distribuio dirigida e gratuita.Venda proibida.

  • Manual de Orientaopara Professores

    de Educao Fsica

    Introduo ao Movimento Paraolmpico

  • Autores:

    Antonio Joo Menescal CondeProfessor de Educao Fsica do Instituto Benjamin ConstantSecretrio-Geral da Confederao Brasileira de Desportos para CegosDiretor Tcnico da International Blind Sports Federation

    Pedro Amrico de Souza SobrinhoGraduao em Educao Fsica pela UFMGEspecializao: Reabilitao e Esporte Adaptado, pelo Instituto de Reabilitao e Esporte Adaptado da Universidade Alemde Educao Fsica e Esporte de Colnia Deutsche Sporthochschule Kln (Alemanha)Estgio, durante 1 ano, na rea de Basquetebol em Cadeira de Rodas com o Dr. Horst StrohkendlMestrado: Cincias da Educao, pela Universidade Johann Wolfgang-Goethe (Frankfurt Alemanha), com subreas emEducao Fsica Adaptada, Pedagogia Especial e Pedagogia Teraputica e Psicologia, com tese sobre Estimulao Sensoriomotoraem Crianas com Paralisia Cerebral e Transtorno de Deficit de Ateno e HiperatividadeDoutorado: Cincias da Reabilitao, pelo Instituto de Reabilitao e Esporte Adaptado da Universidade Alem de EducaoFsica e Esporte de Colnia (Alemanha), com reas de concentrao em Reabilitao e em Didtica, com tese sobre AspectosMotivacionais nas Terapias pelo Movimento e no Esporte de Reabilitao, doutorado reavaliado no Brasil na rea de Cinciasda Reabilitao

    Vanilton SenatoreLicenciado em Educao Fsica pela PUC Campinas/SP, 1972Professor concursado do GDF, desde 1974Coordenador Adjunto da Coordenadoria Nacional para Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia, 1987/1989Diretor do Departamento de Desportos das Pessoas Portadoras de Deficincia Secretaria de Desportos da Presidncia daRepblica, 1990/1993Coordenador Geral do Desporto Escolar do Comit Paraolmpico Brasileiro

    Reviso:Srgio Augusto de Oliveira Siqueirae-mail: [email protected]

    Projeto grfico, reviso e arte-final:Informao Comunicao EmpresarialTels.: (61) 3208 1155 / (11) 3021 5445e-mail: [email protected]

    Impresso:Grfica Cidade

    C745t Conde, Antonio Joo MenescalIntroduo ao movimento paraolmpico: manual de orientao para professores de

    educao fsica / Antonio Joo Menescal Conde, Pedro Amrico de Souza Sobrinho,Vanilton Senatore. Braslia : Comit Paraolmpico Brasileiro, 2006.

    74p.: il.

    ISBN : 85-60336-00-1978-85-60336-00-5

    1. Metodologia do esporte. 2. Deficiente fsico. 3. Movimento paraolmpico.4. Educao fsica. 5. Manual de orientao para professores de educao fsica. I. Ttulo.II. Conde, Antonio Joo Menescal. III. Souza Sobrinho, Pedro Amrico de. IV. Senatore,Vanilton.

    CDU: 796.015

    FICHA CATALOGRFICA

  • SUMRIO

    CAPTULO 1PARAOLMPICOS DO FUTUROVanilton Senatore

    APRESENTAO ................................................................................................................................................ 09

    1. UM PROJETO DESAFIADOR ........................................................................................................................ 09

    2. UM POUCO DA HISTRIA DO MOVIMENTO .......................................................................................... 10

    3. FONTES DE CONSULTA E PESQUISAS BIBLIOGRFICAS ...................................................................... 23

    CAPTULO 2O ESPORTE ADAPTADO E PARAOLMPICO COMO DIREITO DA CRIANA E DO ADOLESCENTEPedro Amrico de Souza Sobrinho

    1. ALGUMAS CONSIDERAES LEGAIS ....................................................................................................... 24

    2. DEFICINCIA .................................................................................................................................................. 26

    3. DEFICINCIA VISUAL ................................................................................................................................... 27

    4. DEFICINCIA FSICA ..................................................................................................................................... 31

    5. PARALISIA CEREBRAL ................................................................................................................................. 33

    6. PARAPLEGIA E TETRAPLEGIA ..................................................................................................................... 41

    7. DEFICINCIA MENTAL E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ESCOLAR.......................................... 44

    8. POSSVEIS IMPLANTAES DA PARALISIA CEREBRAL NA APRENDIZAGEM ESCOLAR ............... 46

    9. CONTRIBUIES DO ESPORTE ESCOLAR PARAOLMPICO PARA O PROCESSO DE APRENDIZAGEM,INCLUSO E VALORIZAO DOS ALUNOS ................................................................................................. 47

    10. EFEITOS POSITIVOS DO ESPORTE ESCOLAR PARAOLMPICO PARA OS ESTUDANTES COMDEFICINCIA ...................................................................................................................................................... 48

    11. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................................. 48

  • CAPTULO 3EDUCAO FSICA NA ESCOLA INCLUSIVA E A BASE DO ESPORTE PARAOLMPICOAntonio Joo Menescal Conde ....................................................................................................................... 54

    CAPTULO 4OS JOGOS PARAOLMPICOSCoordenao de Comunicao do CPBCompilao: Leandro Ferraz

    1. DE ROMA A ATENAS ..................................................................................................................................... 64

    2. PARTICIPAO BRASILEIRA EM PARAOLIMPADAS .............................................................................. 69

  • O FUTURO MAIS QUE PRESENTE

    O projeto Paraolmpicos do Futuro, que ora se inicia, faz parte de nossos anseios h um bom tempo.Mais precisamente desde 2001, quando foi sancionada a Lei Agnelo/Piva, verdadeiro divisor de guas nahistria do esporte brasileiro. A referida lei, que destina recursos para o fomento a diversas reas daprtica desportiva, atende tambm ao meio escolar.

    Sempre defendi que, antes de tomarmos qualquer iniciativa com relao ao desenvolvimento doesporte para crianas e jovens com deficincia na escola, precisvamos criar uma cultura do esporteparaolmpico no pas. De fato, hoje, a sociedade est bem mais sensvel a esta nobre causa. E, semsombra de dvida, o desempenho de nossos atletas na Paraolimpada de Atenas, em 2004, muito contribuiupara a exposio e a conseqente visibilidade do esporte de alto-rendimento para pessoas com deficincia.

    No contexto atual de escola inclusiva, na qual alunos com e sem deficincia estudam juntos, oParaolmpicos do Futuro vem preencher importante lacuna: apresentar comunidade acadmica oesporte adaptado, torn-lo ferramenta de integrao e, ainda, garimpar futuros talentos. Com umaestratgia de implantao gradativa, que se estender at 2008, o projeto tem, para 2006, aesprogramadas nas cinco regies geogrficas do Brasil: Santa Catarina (Regio Sul), Minas Gerais (Sudeste),Mato Grosso do Sul (Centro-Oeste), Cear (Nordeste) e Par (Norte).

    O trabalho tem cronograma de etapas diferenciadas prevendo a preparao do material didtico ede divulgao e a sensibilizao dos agentes envolvidos diretamente. A meta do ano levar a informaopara 3.000 escolas, mdia de 600 em cada uma das cinco unidades da Federao, e treinar 6.000professores de educao fsica, dois em mdia por unidade escolar.

    Como fechamento do ano, o Comit Paraolmpico Brasileiro realizar em outubro, em parceria como Ministrio do Esporte, o I Campeonato Escolar Brasileiro Paraolmpico de Atletismo e Natao. Acompetio possibilitar a criao de ranking dos jovens atletas, que podero pleitear, em 2007, aBolsa-Atleta, programa de incentivo do governo federal.

    O prximo passo ser seguir o rumo de integrao hoje existente entre Olimpada e Paraolimpada,bem como Pan-americano e Parapan-americano, competies indissociveis, dentro de uma mesmaestrutura organizacional. A idia aproximarmos os Jogos Paraolmpicos Escolares das j tradicionaisOlimpadas Escolares e Universitrias.

    Como pode ver, caro(a) professor(a), na qualidade de referncia dos alunos, de formador de opinio,voc s tende a alavancar a plena ambientao dos estudantes com deficincia na escola. De posse denova capacitao e de compromisso sedimentado em bases ticas e humanas, sua participao fundamental para o sucesso do projeto.

    VITAL SEVERINO NETO

    Presidente do Comit Paraolmpico Brasileiro

  • 9Introduo ao Movimento Paraolmpico

    Captulo 1

    PARAOLMPICOS DO FUTURO

    APRESENTAO

    Caros colegas professores,

    O Comit Paraolmpico Brasileiro CPB d, em boa hora, um passo de suma importncia nadisseminao do conhecimento sobre o movimento paraolmpico em nosso pas ao apresentar o projetoParaolmpicos do Futuro que tem como objetivos e metas aumentar o conhecimento sobre o esportepara as pessoas com deficincia. Com esta iniciativa o CPB deposita suas esperanas e expectativas emuma proposta que, baseada na participao da nossa categoria, contribuir para a melhoria doentendimento e para o crescimento seguro do esporte paraolmpico. Os profissionais de educaofsica, atuantes nas escolas do ensino fundamental e mdio so, sem sombra de dvida, os que podemdar a melhor contribuio para o sucesso desse trabalho. A convivncia deles com crianas, jovens eadolescentes, portadores ou no de deficincias, no ambiente escolar, a melhor oportunidade e omomento mais adequado para que seja revertida uma situao que, h muito tempo, vem reforandopreconceitos e equvocos. Ao oportunizar a prtica esportiva para os alunos com deficincias, osprofessores de educao fsica estaro rompendo e substituindo muitos paradigmas: da incapacidadepela capacidade, da baixa estima pela alta auto-estima, da excluso pela incluso. Certamente a maiorvitria nesse processo ser nossa contribuio para formao de cidados mais conscientes, justos esolidrios. Para auxili-los nesse trabalho, estamos apresentando esse primeiro manual que trata umpouco da histria do movimento, das caractersticas de cada uma das deficincias que so elegeis parao paraolimpismo, da legislao que assegura o direito a cada um de ter o acesso prtica esportiva ecomo a escola inclusiva pode contribuir nessa caminhada.

    1. UM PROJETO DESAFIADOR

    H quanto tempo ouvimos que crianas e adolescentes so o futuro do Brasil? De fato, nossopresente reflete apenas aes e estagnaes do passado. inegvel que questes histricas refreiam oprogresso do pas em campos essenciais, como o econmico, o educacional e o social, por exemplo. Oque dizer, ento, das barreiras enfrentadas por pessoas com deficincia neste Brasil eternamente jovem,promissor e em desenvolvimento?

    Neste contexto, o esporte torna-se uma das mais importantes ferramentas de incluso social e neleo Comit Paraolmpico Brasileiro, preocupado em contribuir para a evoluo, o desenvolvimento e oaprimoramento humano do nosso pas, apresenta o projeto Paraolmpicos do Futuro. O projeto temcomo objetivos divulgar o movimento paraolmpico, oportunizar e facilitar a implantao, em abrangncianacional, da prtica do esporte para pessoas com deficincia a partir das escolas do ensino fundamentale mdio, das redes pblica e privada.

    Tendo por base o fundamento e a determinao da lei no 10.264/2001, conhecida como Lei Agnelo/Piva, que destina parte dos recursos para aplicao no esporte escolar, o CPB centra seus esforosbuscando no sistema de ensino fundamental e mdio o caminho natural da renovao, consolidao efortalecimento do paraolimpismo em nosso pas.

    Vanilton Senatore

  • 10

    Manual de Orientao para Professores de Educao Fsica

    Este dever ser o norte a ser seguido por este projeto que, entre suas metas, pretende tornar omovimento paraolmpico mais conhecido em toda a rede de escolas do ensino fundamental e mdio.Para isso, prope executar aes de sensibilizao e capacitao dos dirigentes e dos profissionais deeducao fsica atuantes no sistema de ensino. Os profissionais de educao fsica so de fundamentalimportncia para o projeto ao desempenharem o papel estratgico de agentes na identificao e noincentivo para que os alunos elegveis para o movimento paraolmpico iniciem a prtica esportiva empoca mais propcia e adequada do seu desenvolvimento psicomotor.

    O CPB entende que a preparao dos professores envolvidos ser o fator fundamental e que propiciar,alm do crescimento quantitativo do movimento, a qualidade na oferta de opes de programas de treinamentose competies esportivas para estudantes, crianas, jovens e adolescentes com deficincia. Para tanto, importante que se desenvolva um trabalho diferenciado e que todos os alunos possam participar, efetivamentee sem nenhum tipo de excluso, principalmente os mais jovens e menos habilidosos esportivamente.

    Esse trabalho diferenciado exigir dos professores envolvidos um perfeito entendimento e um grandecompromisso com a proposta apresentada e que no se permita confundi-la com programas esportivostradicionais que, via de regra, privilegiam somente aqueles que so os mais talentosos no campo esportivo.Nesse diferencial reside, sem dvidas, o nosso maior desafio.

    2. UM POUCO DA HISTRIA DO MOVIMENTO

    Inicialmente, preciso resgatar alguns fatos referentes s origens do esporte paraolmpico no mundoe, em especial, no Brasil, onde a histria teve seu comeo h aproximadamente meio sculo e j plenade lutas, competies, conquistas e glrias.

    NO MUNDO

    O esporte tem comprovada importncia na qualidade de vida de qualquer pessoa e, sem dvida, muito mais importante ainda para as pessoas com deficincia. Ao fazermos essa afirmao estamos nosbaseando no apenas no que a atividade esportiva pode contribuir para o desenvolvimento fsico detodas as pessoas, mas principalmente na sua possibilidade como poderosa ferramenta de ajuda nareabilitao e incluso das pessoas com deficincias junto sociedade. Mais que tudo, o esporte lhespropicia independncia.

    O esporte para pessoas com deficincia existe h mais de 100 anos. Nos sculos 18 e 19 a contribuiodas atividades esportivas foi maior no sentido da reeducao e da reabilitao das pessoas com deficincia.Depois da I Grande Guerra (1914/1918), a fisioterapia e a medicina esportiva surgiram como recursosimportantes na recuperao das cirurgias internas e ortopdicas.

    As primeiras notcias da existncia de clubes esportivos para pessoas surdas datam de 1888, emBerlim, Alemanha. Em agosto de 1924 foram realizados, em Paris, os Jogos do Silncio, com a participaode 145 atletas de nove pases europeus. Essa foi a primeira competio internacional para pessoas comdeficincia. Durante o evento, no dia 24 de agosto, foi fundado o Comit International des SportsSilencieux CISS.

    Em 1944, ainda durante a segunda grande guerra, o governo britnico contratou, entre outros, oneurocirurgio alemo, Dr. Ludwig Guttmann, para comear um trabalho de reabilitao para lesionadosmedulares dando origem ao Centro Nacional de Lesionados Medulares de Stoke Mandeville na Inglaterra.Dr. Guttmann, tambm uma vtima da guerra que, como judeu, foi obrigado a fugir da Alemanhanazista, marcou seu trabalho de reabilitao mdica e social direcionados aos veteranos de guerra, pelouso da prtica esportiva como parte do tratamento mdico.

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    Introduo ao Movimento Paraolmpico

    O sucesso do trabalho motivou o Dr. Guttmann a organizar a primeira competio para atletas emcadeiras de rodas e no dia 29 de julho de 1948 exatamente a data da cerimnia de abertura dos JogosOlmpicos de Londres, aconteceu a competio denominada Stoke Mandeville Games. Em 1952, ex-soldados holandeses se uniram para participar dos jogos de Stoke Mandeville, e juntamente com osingleses, fundaram a ISMGF International Stoke Mandeville Games Federation Federao Internacionaldos Jogos de Stoke Mandeville, dando incio ao movimento esportivo internacional que viria a ser basepara a criao do que hoje conhecemos como esporte paraolmpico.

    Oito anos depois, em 1960, incentivados pelo Dr. Antonio Maglio, diretor do Centro de LesionadosMedulares de Ostia na Itlia, o comit organizador dos jogos de Stoke Mandeville aceitou o desafio erealizou os jogos em Roma logo aps a realizao dos Jogos Olmpicos. Usando os mesmos espaosesportivos e o mesmo formato das olimpadas, 400 atletas de 23 paises participaram da primeiraParaolimpada. A partir de Roma em 1960 e sempre a cada quatro anos, os jogos vm sendo realizadosde forma cada vez mais organizada e sempre com um nmero crescente de pases participantes. At osjogos de 1972 em Heildelberg, Alemanha, apenas atletas em cadeiras de rodas participavam oficialmentedos jogos. Em 1976, nas Paraolimpadas de Toronto, Canad, houve a incluso dos atletas cegos eamputados e, a partir de 1980, em Arnhem, na Holanda, a incluso dos paralisados cerebrais.

    A dcima segunda edio dos jogos aconteceu em Atenas, na Grcia, bero do movimento olmpicoe Pequim, na China, est-se preparando para receber a dcima terceira edio dos jogos em 2008. Umdado importante e que demonstra a fora do movimento e o seu crescimento contnuo foi o nmerode pases e atletas presentes em Atenas: 3.806 atletas representando 136 pases, nmero maior do queos de Munique nos Jogos Olmpicos de 1972. No captulo 4 - De Roma a Atenas - voc encontrarmais detalhes da histria de cada um dos jogos paraolmpicos de vero e da participao brasileira neles.

    O dinamismo e a fora do movimento paraolmpico levou seus organizadores a mais um desafio:esportes de inverno e, em 1976, foi realizada a primeira Paraolimpada de Inverno, evento que tevecomo sede a cidade de Ornskoldsvik, Sucia. A partir de ento e at 1992 os jogos de inverno aconteceramno mesmo ano dos jogos de vero. Em 1994 o ciclo foi ajustado passando a ser realizado no mesmo anodos Jogos Olmpicos de Inverno. A nona edio das Paraolimpadas de Inverno aconteceu na cidade deTorino, Itlia, em 2006.

    Pelo uso constante que fizemos nos pargrafos anteriores temos uma palavra que j nos bastantefamiliar, mas cuja origem precisa ser esclarecida. A palavra Paraolmpico deriva da preposio grega paraque significa ao lado, paralelo e da palavra olmpico. Os jogos paraolmpicos comearam em paralelo aosJogos Olmpicos de Roma, em 1960. A palavra paraolmpico era originalmente uma combinao deparaplgico e olmpico. Entretanto com a incluso de outros grupos de deficientes e a unio das associaesao movimento olmpico, mostraram que agora os dois movimentos existem lado a lado.

    Desde seu incio, em 1948, houve por parte dos organizadores dos jogos para as pessoas comdeficincia uma grande preocupao em tornar a competio a mais justa possvel levando emconsiderao a situao mdica de cada participante e, dessa forma, foram surgindo diferentes classesde competidores agrupadas por tipo de leso. O que inicialmente era apenas uma classificao mdicaganhou muito com a contribuio dada pelo professor de educao fsica, o alemo Horst Strohkendl.Com seus estudos baseados no desempenho dos atletas ele estabeleceu uma classificao funcional quetem por base a possibilidade de utilizao da musculatura e das articulaes preservadas de cada atleta.Essa juno da classificao mdica e funcional tornou ainda mais adequada a diviso das classes decompetio permitindo que, em praticamente todas as modalidades esportivas, os atletas possam participarem condies mais prximas em relao s suas deficincias e com isso os resultados obtidos passam aser conseqncia natural do talento e do treinamento de cada um. A contribuio do Professor Strohkendlfoi de grande valia para que o princpio da igualdade pelo esporte pudesse ser atingido.

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    Manual de Orientao para Professores de Educao Fsica

    Aqui abrimos um parntesis para falar sobre a participao dos atletas com deficincia mental nomovimento paraolmpico. A primeira participao deles ocorreu em algumas provas de atletismo emcarter de demonstrao nos jogos de Atlanta, USA, em 2006. Para os Jogos de Sydney, Austrlia, 2006,eles foram oficialmente includos nas modalidades de atletismo, basquetebol, natao e tnis de mesa.Em razo de problemas srios de irregularidades e fraudes encontradas quanto elegibilidade de algunsatletas presentes em Sydney, houve a suspenso dos atletas com deficincia mental das atividadespromovidas pelo IPC at que se encontre um meio eficaz e seguro de definir sua elegibilidade e por isso elesno participaram dos jogos de Atenas 2004. Em deciso recente do IPC publicada em sua pgina eletrnicade junho de 2006, foi reafirmada a definio de no-participao dos atletas com deficincia mental at osJogos Paraolmpicos de Pequim 2008. A partir de 2009 o sistema de elegibilidade passar a ser deresponsabilidade de cada modalidade esportiva, cabendo a ela definir, se for o caso, as normas de participaodos atletas deficientes mentais.

    O surgimento do esporte das pessoas com deficincia e seu crescimento em todo o mundo fez comque gradativamente fossem criadas entidades mundiais nas diversas reas de deficincia com aresponsabilidade de melhor administr-lo. Dessa forma e em ordem cronolgica, tivemos a fundaodas entidades a seguir relacionadas.

    Para melhor compreenso inserimos algumas informaes complementares sobre as entidades citadas.

    1924 CISS Comit International des Sports Silencieux. O CISS a mais antiga entidadeinternacional em funcionamento na rea do esporte das pessoas com deficincias. Em maio de 2001, oCOI Comit Olmpico Internacional deu autorizao ao CISS para alterar o nome dos seus jogos quepassaram a ser denominados Deaflympics Games, que em traduo livre podem ser denominadosJogos Olmpicos dos Surdos. Em janeiro de 2005, Melbourne na Austrlia, foi sede dos 20o JogosOlmpicos de Vero dos Surdos - Deaflympics Summer Games. Desde 1949, o CISS realiza tambmseus Jogos de Inverno. A cidade de Sundsvall, na Sucia, foi sede em 2003 dos 15o Jogos Olmpicos deInverno dos Surdos - Winter Deaflympics Games. Os eventos de vero e inverno so sancionados peloComit Olmpico Internacional. Embora tenham participado entre 1986 at 1995 do movimentoparaolmpico, o CISS sempre realizou de forma independente os seus prprios jogos. O representantebrasileiro a CBDS Confederao Brasileira de Desportos para Surdos. Para maiores detalhes acesse osite: www.deaflympics.com.

    1952 - ISMGF International Stoke Mandeville Games Federation. Criada inicialmente com onome de Federao Internacional dos Jogos de Stoke Mandeville, destinava-se ao esporte para deficientesem cadeira de rodas e sua ao esportiva estava mais concentrada no basquetebol. Posteriormentepassou a ser denominada ISMWSF International Stoke Mandeville Wheelchair Sports Federation Federao Internacional de Stoke Mandeville para Esportes em Cadeira de Rodas. Em novembro de2004 a ISMWSF e a ISOD se uniram para formar a IWAS International Wheelchair and AmputeeSports Federation - Federao Internacional de Esportes para Cadeiras de Rodas e Amputados. representada no Brasil pela ABRADECAR Associao Brasileira de Desportos em Cadeira de Rodas.Mais informaes no site: www.wsw.org.uk

    1964 ISOD International Sport Organization for the Disabled. Em 1960, com o apoio daFederao Mundial para Ex-Combatentes, foi criado um grupo de trabalho internacional com a finalidadede realizar novos estudos sobre os problemas do esporte para pessoas com deficincias. Uma dasindicaes do grupo resultou na criao, em 1964, da ISOD Organizao Internacional de Esportespara Deficientes. A ISOD foi fundada como uma federao esportiva internacional para atender adeficientes visuais, amputados, paralisados cerebrais e paraplgicos no contemplados pela FederaoInternacional dos Jogos de Stoke Mandeville ISMGF. A ISOD comeou suas atividades com 16 pasesfiliados e foi muito importante no trabalho que resultou na incluso dos cegos e amputados nasParaolimpadas de Toronto, Canad, em 1976, e dos paralisados cerebrais nas Paraolmpiadas de Arnhem,

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    Introduo ao Movimento Paraolmpico

    Holanda, em 1980. Com a evoluo do esporte para deficientes e a fundao de diversas entidadesespecficas por rea de deficincia a ISOD, que havia ficado exclusivamente com os amputados, uniu-se,em 2004, ISMWSF formando a IWAS International Wheelchair and Amputee Sports Federation Federao Internacional de Esportes para Cadeiras de Rodas e Amputados.

    1968 Special Olympics International Destinada ao esporte para deficientes mentais e fundadapela Joseph Kennedy Foundation tem como principal caracterstica oferecer esportes sem a preocupaodo alto-rendimento. Com um sistema de organizao prprio em que os atletas de cada esporte soagrupados por nvel de rendimento esportivo, permite que todos os deficientes mentais,independentemente do seu grau de deficincia, possam participar em condies de igualdade. Pelascaractersticas da deficincia mental, tem sido a forma mais adequada de oferecer atividade esportivapara esse segmento. No Brasil tem como representante a Special Olympics Brazil. Mais detalhes pelosite: www.specialolympics.org.

    1978 CP-ISRA Cerebral Palsy International Sports and Recreation Association. Com base notrabalho desenvolvido pela ISOD a partir de 1964, a CP-ISRA foi fundada em 1978 para atuar comoentidade internacional especfica para o esporte e a recreao das pessoas com paralisia cerebral. Suafiliada no Brasil a ANDE Associao Nacional de Esportes para Deficientes. Mais informaes pelosite: www.cpisra.org.

    1981 IBSA International Blind Sports Federation. Destinada especificamente ao esporte paracegos e deficientes visuais, foi fundada em Paris e tem sua sede na Espanha aps um perodo de mais de20 anos em que o segmento havia ficado sob a organizao da ISOD. No Brasil, sua entidade filiada aCBDC Confederao Brasileira de Desportos para Cegos. Mais informaes no site: www.ibsa.es.

    1982 ICC International Co-ordination Committee of World Sports Organizations for the Disabled.O rpido desenvolvimento do esporte para pessoas com deficincia deu origem a muitas competiesnas diversas reas de deficincia, propiciando o surgimento dos eventos multideficincias e entre eles osde maior importncia, as Paraolimpadas, com a incluso, a partir dos jogos de Toronto em 1976, deatletas com deficincia visual, cegos e amputados e dos jogos de Arnheim, em 1980, com os paralisadoscerebrais. Com essa nova situao de participao de diferentes reas de deficincia, foi reforada anecessidade da criao de um organismo para administrar e realizar os eventos com maior eficcia e aomesmo tempo que tambm pudesse ter voz junto ao Comit Olmpico Internacional. Assim, quatro dasentidades internacionais existentes criaram em 1982 o ICC Comit Internacional de Coordenao dasOrganizaes Mundiais de Esportes para Deficientes que inicialmente foi composto pelos presidentesda CP-ISRA, IBSA, ISMGF e ISOD, um secretrio-geral e um membro adicional. O CISS e a INAS-FIDjuntaram-se ao comit em 1986. Por deciso prpria, o CISS se retirou do movimento paraolmpico em1995, preferindo continuar realizando seus eventos de forma independente e isolada. Seguindo seusobjetivos o ICC, com a interlocuo e o apoio do COI, organizou as Paraolimpadas de Seul, Coria,1988, usando, pela primeira vez de forma oficial, as mesmas instalaes dos Jogos Olmpicos promovidospelo Comit Olmpico Internacional. O sucesso no trabalho e a crescente presso dos pases membrospor mais representatividade no ICC levaria fundao, em 1989, de instituio democraticamenteorganizada, o IPC International Paralympic Committee que passou a ser responsvel pelas atividadesdo movimento paraolmpico em todo o mundo.

    1986 INAS-FID International Sports Federation for Persons with Intellectual Disability. Destinadaao esporte de alto-rendimento para deficientes mentais foi fundada na Holanda. Desde sua criao vembuscando uma forma de definio de elegibilidade que evite a participao de atletas que no sejamefetivamente portadores de deficincia mental. Embora a INAS-FID seja uma das signatrias da fundaodo IPC, em 1989, a falta de uma forma segura na definio de elegibilidade tem impedido a participaodos deficientes mentais nos jogos paraolmpicos. Na nica exceo ocorrida em 2000, nos JogosParaolmpicos de Sydney, Austrlia, houve a comprovao de fraudes na equipe de basquetebol da

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    Manual de Orientao para Professores de Educao Fsica

    Espanha que havia conquistado a medalha de ouro. Alguns atletas da equipe no eram deficientesmentais e, simplesmente, haviam fraudado laudos e exames para participarem do evento. A ABDEM Associao Brasileira de Desportos para Deficientes Mentais sua filiada brasileira. Mais detalhes nosite: www.inas-fid.org.

    1992 WOVD World Organization Volleyball for Disabled. Organizao Mundial de Voleibol paraDeficientes. O jogo de voleibol sentado para deficientes surgiu na Holanda em 1956 e foi aceito comoesporte no programa da ISOD em 1978. Em 1981, a ISOD estabeleceu uma seo de Voleibol em suaestrutura que, em 1992, foi transformada em entidade independente denominada World OrganizationVolleyball for Disabled. A WOVD tem como sua filiada brasileira a ABVP Associao Brasileira deVoleibol Paraolmpico. O site da entidade internacional : www.wovd.info.

    1993 - IWBF International Wheelchair Basketball Federation. Federao Internacional deBasquetebol em Cadeira de Rodas. Criada a partir de um desmembramento da ISMGF a responsvelinternacionalmente pelo basquetebol em cadeira de rodas. Tem como filiada brasileira a CBBC Confederao Brasileira de Basquetebol em Cadeira de Rodas. Mais informaes no site: www.iwbf.org.

    Finalizando esta parte do breve histrico do esporte para pessoas com deficincia no mbitointernacional mundial, falaremos um pouco do IPC, o Comit Paraolmpico Internacional, que aprincipal entidade do movimento paraolmpico e tem a responsabilidade de conduzir o programamundialmente.

    O IPC foi fundado em 22 de setembro de 1989 na cidade de Dusseldorf, Alemanha, pelas quatroentidades, CP-ISRA, IBSA, INAS-FID, ISOD e ISMWSF, que, em 1982, haviam se juntado para criar o ICC.

    Como entidade mxima do movimento paraolmpico mundial, o IPC responsvel pela organizaoe execuo dos Jogos Paraolmpicos de vero e de inverno, das competies multi-deficincias, como oscampeonatos mundiais, e por projetos de fomento desenvolvidos ao redor do mundo. Os JogosParaolmpicos de Inverno de Lillehammer, em 1994, foram o primeiro evento realizado sob aresponsabilidade direta do IPC.

    Apesar de o IPC ter menos de 20 anos de existncia oficial, o nmero de pases que hoje so filiadosatesta o rpido e crescente desenvolvimento do movimento paraolmpico em todo o mundo, comoficou comprovado nos Jogos Paraolmpicos de Atenas 2004, em que 3.806 atletas de 136 pases estiveramparticipando da competio. O Brasil representado oficialmente junto ao IPC pelo CPB ComitParaolmpico Brasileiro.

    Nesse pouco tempo de vida e atividades, o IPC vem trabalhando arduamente na promoo e nodesenvolvimento do movimento paraolmpico em todo o mundo e tem conseguido avanar naconsolidao, no reconhecimento e no respeito da comunidade esportiva internacional em relao aoesporte das pessoas com deficincia.

    Uma das aes de maior impacto foi, sem dvida alguma, a assinatura em 19 de junho de 2001, deum acordo entre o IPC e o COI que tornou obrigatrio a partir de Pequim-2008 que a cidade aoapresentar sua candidatura para os Jogos Olmpicos de Vero e Inverno englobe na mesma proposta arealizao das Paraolimpadas. Assim, o que vinha sendo feito de maneira informal desde Seul, em 1988,passa a ser requisito na candidatura de qualquer cidade a sede dos jogos olmpicos. O estreitamento dasrelaes entre o movimento olmpico e paraolmpico se d tambm nas diversas comisses e comits do COIe do IPC em que ambos participam em conjunto na busca de melhores caminhos para o esporte mundial.

    A evoluo do esporte paraolmpico tambm contribui para a modernizao da estrutura organizacionaldo IPC que hoje tem a sua Assemblia Geral como principal poder de deciso e est constituda porquatro IOSDs Entidades Internacionais por rea de Deficincia, seis IFs Federaes EsportivasInternacionais, onze IPC Sports esportes administrados diretamente pelo IPC por serem multideficincia,sete IOSD Sports esportes sob responsabilidade das IOSDs por serem para uma nica deficincia,

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    Introduo ao Movimento Paraolmpico

    quatro ROs - organizaes regionais, duas IPC Regionais e cento e sessenta e um NPCs ComitsParaolmpicos Nacionais, entre eles o CPB. O IPC administrado pela Diretoria Executiva e sua equipecom assessoramento de cinco conselhos e 12 comits.

    O IPC tem um dos mais completos stios sobre o movimento esportivo das pessoas com deficinciae por isso recomendamos sua visita para conhecimentos e consultas: www.paralympic.org.

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    Manual de Orientao para Professores de Educao Fsica

    NO BRASIL

    Em nosso pas podemos considerar como marco inicial do movimento esportivo para deficientes aexibio da equipe de Basquetebol em Cadeiras de Rodas PAN JETS, formada por funcionrios deficientesda Pan American World Airlines. Eles fizeram duas apresentaes no Brasil, em novembro de 1957 noGinsio do Ibirapuera em So Paulo e em seguida no Ginsio do Maracanzinho no Rio de Janeiro. Avinda dos americanos foi possvel graas aos contatos mantidos por Srgio Seraphin del Grande, umjovem esportista de So Paulo que, ao se acidentar em 1951, foi para os Estados Unidos em busca detratamento. Sua passagem pelo Instituto Kesller, em Wiste Orange, New Jersey, o fez conhecer areabilitao pelo esporte. Srgio retornou ao Brasil no final de 1955 e, no ano seguinte, apresentou aoDr. Renato Bonfim, um dos fundadores da AACD (Associao de Ateno Criana Defeituosa) de SoPaulo, sua experincia com a reabilitao pelo esporte. O Dr. Bonfim passou a ser um dos entusiastas daidia e deu grande apoio a Srgio para trazer a equipe americana para as apresentaes no Brasil.

    Com o sucesso alcanado nas apresentaes e incentivado por amigos, Srgio formou a primeiraequipe brasileira de basquetebol em cadeiras de rodas denominada azes da cadeira de rodas que fez asua estria em exibio pblica em fevereiro de 1958 no Ginsio de Esportes do Conjunto DesportivoBaby Barioni na gua Branca em So Paulo. O passo seguinte foi naturalmente a criao do primeiroclube voltado ao esporte para pessoas com deficincia. Em 28 de julho de 1958, aconteceu a assembliade fundao do CPSP (Clube dos Paraplgicos de So Paulo), mais uma iniciativa de Srgio Seraphim DelGrande que podemos considerar, sem dvida alguma, como um dos maiores nomes do esporteparaolmpico brasileiro. O CPSP permanece em efetiva atuao at a presente data, oferecendo iniciao,treinamento e oportunidades de competio para deficientes fsicos. Sua primeira diretoria eleita teveo Dr. Fernando Boccolini como presidente e Srgio Seraphim Del Grande como vice. Mais informaesesto disponveis no site: www.cpsp.com.br.

    Cpia do registro da Ata deFundao do CPSP Clubedos Paraplgicos de So Paulo

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    Introduo ao Movimento Paraolmpico

    No mesmo ano de 1958, na cidade do Rio de Janeiro, foi criado o Clube do Otimismo, idealizado porRobson Sampaio de Almeida, outro grande nome de destaque no esporte paraolmpico, e que contoucom o apoio do professor Aldo Miccolis. Em 1959, o CPSP e o Clube do Otimismo realizaram o primeirojogo de basquetebol em cadeira de rodas entre equipes brasileiras.

    Do pioneirismo do CPSP em1958 aos dias de hoje, centenas de entidades de prtica esportiva para aspessoas com deficincia foram sendo criadas. Essas associaes e clubes so, como em todo sistemaesportivo, a base onde o esporte efetivamente praticado desde sua iniciao at as competies demais alto nvel. Sem sua existncia, sem o trabalho muitas vezes silencioso e de completa dedicao, namaioria dos casos voluntariamente, dos seus dirigentes e tcnicos, no teramos os atletas para fazer ahistria do esporte adaptado em nosso pas. Organizados por deficincia ou por esporte, eles sofiliados s diversas entidades dirigentes estaduais e nacionais e garantem o funcionamento contnuo doesporte paraolmpico brasileiro.

    Os primeiros 20 anos do movimento brasileiro tiveram como fator principal a dedicao e a abnegaode alguns atletas, dirigentes, entidades e profissionais de educao fsica, que no mediram esforos nofirme propsito de garantir sustentabilidade ao ainda frgil e incipiente desporto paraolmpico emnossa terra. At o final da dcada de 80, o movimento foi conduzido de forma herica e conseguiucrescer e fincar razes graas a um grupo de pessoas, s quais rendemos as homenagens e osagradecimentos. Sem demrito a tantos outros, permitimo-nos citar apenas trs pessoas que j nosdeixaram e que muito bem simbolizaram essa poca de lutas: Jos Gomes Blanco, Sergio Seraphim DelGrande e Robinson Sampaio de Almeida.

    No final da dcada de 80, para acompanhar os acontecimentos internacionais que sinalizavam um novorumo na forma de administrao do esporte paraolmpico e para organizar adequadamente a participaobrasileira nos Jogos Paraolmpicos de Seul - 1988, as entidades nacionais ento existentes a AssociaoBrasileira de Desporto para Cegos ABDC, presidida por Mario Srgio Fontes; a Associao Brasileira deDesporto em Cadeira de Rodas ABRADECAR sob a presidncia de Jos Gomes Blanco; e a AssociaoNacional de Desporto para Deficientes ANDE, tendo como presidente o professor Aldo Miccolis,buscaram o apoio do governo federal por meio da Secretaria de Educao Fsica e Desportos do Ministrioda Educao (SEED-MEC) e da Coordenadoria Nacional para Integrao da Pessoa Deficiente (CORDE).

    Em reunio histrica realizada no Palcio do Itamaraty no Rio de Janeiro em 11 de abril de 1988, osaudoso Jos Gomes Blanco, baluarte do esporte paraolmpico brasileiro e ento presidente da SADEF RJe da ABRADECAR, props a criao do Comit Paraolmpico Brasileiro. Aps consultas ao COB e ao CND Conselho Nacional dos Desportos, rgo do MEC e responsvel mximo pela regulamentao do esportebrasileiro, foi verificada a impossibilidade legal da criao do comit em funo das restries daConstituio vigente, da lei no 6.251 de 1975 e do Decreto no 80.228 de 1977 que normatizavam aprtica esportiva em nosso pas.

    Como opo para o problema e por iniciativa da CORDE, foi constituda, por meio da PortariaInterministerial no 1207/88 SEDAP/Secretaria da Administrao Pblica, a Comisso ParadesportivaBrasileira formada por dois representantes do governo federal, um da SEED/MEC e um da CORDE, epelos presidentes da ABDC, ABRADECAR e ANDE. A comisso assumiu a responsabilidade pela organizaoadministrativa e participao da delegao brasileira nos Jogos de Seul.

    O trabalho da comisso foi apresentado oficialmente ao pblico com um ato solene no Salo Nobredo Palcio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, em 11 de agosto de 1988. O evento contou com a presenade patrocinadores, imprensa e dolos do esporte, com destaque para Roberto Dinamite do futebol; osintegrantes da equipe Olmpica Brasileira de 1988: Magic Paula, do basquete; Ana Richa, do vlei;Robson Caetano, do atletismo e o querido e saudoso Joo do Pulo Carlos de Oliveira. A proposta decriao do Comit Paraolmpico Brasileiro, discutida na comisso, foi apresentada oficialmente durantea solenidade, firmando-se o propsito que as aes deveriam ser intensificadas aps a promulgao da

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    Manual de Orientao para Professores de Educao Fsica

    nova Constituio Brasileira em debate na Assemblia Nacional Constituinte. A constituio foipromulgada em 3 de outubro de 1988 e, a partir dela, foi iniciado o processo de reforma da lei no 6.251/75e do decreto no 80.228/77, finalizado com a sano da lei no 8.672 de 6 de julho de 1993 e ficouconhecida como Lei Zico.

    O sucesso da participao brasileira nas Paraolimpadas de Seul 1988, quando foram conquistadas27 medalhas, quatro de ouro, nove de prata e 14 de bronze, contribuiu para tornar o movimentoparaolmpico mais conhecido em nosso pas e foi decisivo na formulao do modelo de administraoesportiva adotado pelo governo eleito em 1989 que, ao assumir em maro de 1990, criou a Secretariados Desportos da Presidncia da Repblica (SEDES) tendo, na sua estrutura organizacional, o Departamentode Desportos para Pessoas Portadoras de Deficincia (DEPED).

    A SEDES teve como seu primeiro Secretrio o grande atleta do futebol brasileiro, Arthur AntunesCoimbra, Zico, que, alm de amigo pessoal de Jos Gomes Blanco, era um entusiasta e incentivador doesporte paraolmpico. A partir de 1991, a SEDES incluiu em seu oramento anual, pela primeira vez nahistria do governo brasileiro, recursos especficos para o esporte das pessoas portadoras de deficincia.

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    Introduo ao Movimento Paraolmpico

    Em razo da legislao esportiva vigente e ainda no reformulada que continuava a dificultar as aespara a fundao do Comit Paraolmpico, a recm-criada Secretaria resolveu, em janeiro de 1991, re-editar a Comisso Interministerial, mantendo o mesmo formato adotado em 1988 com a participaode dois representantes do Governo Federal, SEDES e CORDE, e os trs presidentes das entidades nacionaisde desporto para deficientes existentes, ABDC, ABRADECAR e ANDE. A Comisso ficou, mais uma vez,com a responsabilidade pela coordenao dos preparativos e da participao da delegao brasileira nosJogos Paraolmpicos de Barcelona 1992 tendo trabalhado durante 18 meses em estreita parceria comas trs entidades nacionais. Em Barcelona, os atletas paraolmpicos brasileiros conquistaram setemedalhas, trs de ouro e quatro de bronze.

    Os trabalhos desenvolvidos pelas duas comisses em 1988 e 1991/1992, alm de se pautarem pelasnormas e procedimentos adotados internacionalmente, pelo ICC e IPC, foram base slida para oestabelecimento de uma nova postura no movimento paraolmpico brasileiro. Essa base e a nova estruturalegal do esporte brasileiro permitiram que as entidades nacionais, espelhadas na tendncia mundial e naexperincia adquirida na preparao e participao nos Jogos Paraolmpicos de 1988 e 1992, caminhassemde forma determinada no processo que terminou, naturalmente, com a fundao do CPB em 9 defevereiro de 1995.

    A criao oficial do CPB propiciou ao Brasil o incio de um segundo estgio no seu ainda jovemmovimento paraolmpico. Com aes que se caracterizaram pela busca da consolidao e dodesenvolvimento com mais qualidade, nosso pas conquistou, na Paraolimpada de Atlanta - 1996, 21medalhas, sendo duas de ouro, seis de prata e 13 de bronze. Mais quatro anos e nos Jogos de Sydney -2000 nosso pas conseguiu 22 medalhas, seis de ouro, dez de prata e seis de bronze, com evidnciasclaras de que o trabalho desenvolvido estava no rumo certo.

    Aps a garantia dos recursos pblicos estabelecida no oramento federal a partir de 1991, podemosafirmar, com absoluta segurana, que a entrada em vigor, em julho de 2001, da lei no 10.264/2001, quedefiniu o repasse continuado de recursos financeiros das loterias exploradas pela Caixa EconmicaFederal para o esporte brasileiro includo o esporte paraolmpico, foi decisiva para que o movimentoiniciasse um novo estgio de organizao e desenvolvimento.

    No temos nenhuma dvida em afirmar que a Lei AGNELO/PIVA, como conhecida a lei no 10.264/01,representa o grande diferencial da histria paraolmpica brasileira. Ela tem assegurado ao movimento acondio fundamental de trabalho, permitindo a formulao e o desenvolvimento de um planejamentoestratgico que est contribuindo, de forma incontestvel, para sua consolidao e expanso em todo o pas.

    Com ela temos, a partir de 2001, o incio do terceiro e mais importante estgio at o momento doparaolimpismo brasileiro. Como demonstram os resultados alcanados nos Jogos de Atenas - 2004, oBrasil est trilhando, com deciso e firmeza, o caminho correto na consolidao do movimentoparaolmpico. Foi motivo de orgulho e honra para todos os brasileiros poder acompanhar nossos atletasna conquista do melhor resultado da histria paraolmpica de nosso pas, justamente no bero seculardo movimento olmpico mundial. Foram 33 medalhas, 14 de ouro, 12 de prata e sete de bronze,resultado que, por si s, retrata a luta e a obstinao desses heris guerreiros.

    Em 2005, comeamos a vivenciar mais um ciclo paraolmpico que se estender at Pequim 2008.Sem traumas e angstias, sabemos que alguns dos nossos heris, dentro de uma lgica natural da vida,j comeam a sentir o peso dos anos e devero, em algum tempo, estar cedendo seus lugares a novoscampees. preciso que o trabalho de busca desses novos talentos seja constante e estruturado paragarantir que o processo natural de renovao no seja interrompido.

    A proposta de trabalho do projeto Paraolmpicos do Futuro ora apresentada possui os ps fincadosna experincia vivenciada ao longo dos ltimos anos e os olhos voltados para o futuro do movimento eno pode e no deve ser confundida como ao imediatista. Seus resultados so esperados e devem sercobrados em mdio e longo prazo e comearo a ser percebidos a partir de 2008 com a realizao doI Jogos Paraolmpicos Escolares Brasileiros.

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    Manual de Orientao para Professores de Educao Fsica

    Nesse captulo da histria do movimento paraolmpico brasileiro importante ainda apresentar,com um breve histrico de cada uma, as entidades que foram criadas para administrar o esporte parapessoas com deficincia em nosso pas.

    Vale ainda ressaltar que, enquanto esteve vigente no Brasil a lei no 6.251/75, regulamentada peloDecreto no 80.228/77, a criao das entidades dirigentes para o esporte das pessoas portadoras dedeficincia fossem elas municipal, estadual ou nacional, dependia de aprovao prvia do CND ConselhoNacional de Desportos que emitia deliberaes autorizando sua existncia. A base legal do CND era oDecreto no 80.228/77 que preceituava em seu Artigo 186: A organizao das entidades dirigentes edas atividades desportivas praticadas por paraplgicos, surdos, cegos e excepcionais, ser estabelecidade acordo com normas fixadas pelo Conselho Nacional de Desportos, cabendo a este celebrar convnioscom rgos de outros ministrios, ou entidades a eles vinculados, quando convier, inclusive para aobteno de recursos.

    ANDE Associao Nacional de Desporto de Deficientes. Foi fundada em 1975 na cidade do Riode Janeiro com o objetivo de atender aos atletas de todas as reas de deficincia. Seu primeiro presidentefoi professor Aldo Miccolis. Com o desenvolvimento do esporte adaptado no Brasil foram sendo criadasas entidades por reas de deficincia, ficando a ANDE como responsvel pelos atletas portadores deparalisia cerebral e os outros. Internacionalmente est filiada a CP-ISRA e nacionalmente ao CPB sendoresponsvel no movimento paraolmpico pelos esportes da bocha e futebol de sete. Site www.ande.org.br.

    ABRADECAR Associao Brasileira de Desporto em Cadeira de Rodas. A Deliberao 03/82 doCND Conselho Nacional de Desportos publicada no Dirio Oficial da Unio em 31 de maro de 1982autorizou a criao da ABRADECAR, que teve como seu primeiro presidente Jos Gomes Blanco. Aentidade surgiu para atender s modalidades esportivas praticadas por usurios de cadeira de rodas.Sua ao inicial mais forte se concentrou em basquetebol, atletismo e natao. Filiada internacionalmente IWAS e em nvel nacional ao CPB, representa hoje no movimento paraolmpico apenas nas modalidadesde esgrima e rugby. Site: www.abradecar.org.br.

    CBDS Confederao Brasileira de Desporto para Surdos. A CBDS teve a sua criao autorizadapelo CND Conselho Nacional de Desportos por meio da Deliberao no 07/82 publicada no DirioOficial da Unio em 17 de setembro de 1982. Seu primeiro presidente foi Sentil Delatorre. A CBDSrepresenta o Brasil no CISS Comit Internacional de Esportes de Surdos. Por deciso prpria daentidade internacional, os surdos realizam os prprios jogos e no participam do movimento paraolmpico.Site: www.surdos.com.br/cbds.

    ABDC Associao Brasileira de Desporto para Cegos. A Deliberao 14/83 editada pelo CND em9 de dezembro de 1983 e publicada no Dirio Oficio da Unio em 26 de dezembro de 1983 autorizoua criao da ABDC. Com a criao da entidade, o esporte para pessoas cegas e deficientes visuais deixoude ser comandado pela ANDE passando a ter administrao prpria. Seu primeiro presidente foi oProfessor Aldo Miccolis. Em dezembro de 2006 a entidade decidiu em Assemblia Geral alterar suadenominao para Confederao Brasileira de Desportos para Cegos CBDC. filiada internacionalmentea IBSA e nacionalmente ao CPB. No movimento paraolmpico responsvel pelas modalidades defutebol de cinco, goalball e jud. Sua sede est situada na cidade de So Paulo. Mais detalhes sopossveis pelo site: www.cbdc.org.br.

    ABDEM Associao Brasileira de Desporto de Deficientes Mentais. A Deliberao no 04/85editada pelo CND Conselho Nacional de Desportos em 06 de maro de 1985 e publicada no DirioOficial da Unio em 20 de maro do mesmo ano, autorizou a criao da ABDEM sob responsabilidade daFederao Nacional das APAES. Entretanto, somente em 1989 a entidade entrou em funcionamento,oferecendo esportes para as pessoas com deficincia mental. Filada internacionalmente a INAS-FID eno Brasil ao CPB tem como modalidades paraolmpicas atletismo, basquetebol, natao e tnis de mesa.Entretanto, as atividades no movimento paraolmpico internacional esto suspensas em razo de problemas

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    Introduo ao Movimento Paraolmpico

    com a definio de elegibilidade dos atletas e as discusses sobre o assunto somente sero retomadasem 2009 aps as Paraolimpadas de Pequim 2008. Site: www.abdem.com.br.

    ABDA Associao Brasileira de Desporto para Amputados. Fundada em 1990, com a finalidadede desenvolver o esporte de amputados, tem sua atuao basicamente voltada para o futebol, pois osoutros esportes que oferece j so desenvolvidos por outras entidades nacionais. Foi uma das entidadespresentes na criao do Comit Paraolmpico Brasileiro em 1995, mas deixou de ser filiada ao CPB porno ter vinculao internacional e ainda pelo fato de o futebol de amputados no ser um esportereconhecido oficialmente pelo IPC Comit Paraolmpico Internacional. Site: www.abda.org.br.

    AOEB Associao Olimpadas Especiais Brasil. Criada em Braslia, DF, em dezembro de 1990, efoi at o ano de 2002 a representante oficial do Brasil junto a SOI Special Olympics International,entidade internacional que desenvolve programas esportivos para pessoas com deficincia mental voltadospara o esporte de participao sem preocupao com o alto rendimento. A partir de 2003, foi substitudapor uma nova organizao criada pela SOI com o nome de Special Olympics Brazil que tem sede emSo Paulo, SP. Site: www.specialolympicsbrasil.org.br.

    CBBC Seguindo uma clara tendncia do movimento paraolmpico internacional que caminha parater sua representao por esportes e no mais por rea de deficincia, tivemos em dezembro de 1997a fundao da CBBC Confederao Brasileira de Basquetebol em Cadeira de Rodas. Com isso, obasquetebol em cadeira de rodas deixou de ser dirigido pela ABRADECAR. A CBBC uma das entidadesfiliadas ao CPB e internacionalmente seu vnculo com a IWBF Federao Internacional de Basquetebolem Cadeira de Rodas. Site: www.cbbc.org.br.

    CBTMA Em maio de 2000 e, mais uma vez, na linha mundial de entidades por esporte, tivemos afundao da Confederao Brasileira de Tnis de Mesa Adaptado com o objetivo de promover e incentivara modalidade do tnis de mesa adaptado, praticado pelos atletas com deficincia fsica motora. Porainda no haver uma entidade internacional que comande o esporte que continua sob a responsabilidadedo IPC, a CBTMA no filiada, sendo vinculada ao CPB com o qual mantm uma parceria deresponsabilidade para o desenvolvimento da modalidade. Site: www.tenisdemesaparaolimpico.br.gs.

    ABVP Associao Brasileira de Voleibol Paraolmpico. Seguindo a tendncia do movimentoparaolmpico internacional, que caminha para ter sua representao por esportes e no mais por reade deficincia, foi criada em 2003 a ABVP Associao Brasileira de Voleibol Paraolmpico. A ABVP estfiliada no Brasil ao CPB e internacionalmente a WOVD Organizao Mundial de Voleibol para Deficientes.Site: www.voleiparaolimpico.org.br.

    CPB Com a fundao do Comit Paraolmpico Internacional IPC, em 1989, surgiu uma tendnciamundial para a criao de comits paraolmpicos nacionais NPCs. Passaram os Jogos de Barcelona -1992 e a formao de NPCs j se tornava necessria, pois o IPC precisava ter como filiadas entidadesque tivessem representatividade em nvel nacional e agregassem modalidades para pessoas com todosos tipos de deficincia.

    Os representantes da ABDA, ABDC, ABRADECAR, ANDE e ABDEM, numa deciso conjunta, em 9 defevereiro de 1995, fundaram o Comit Paraolmpico Brasileiro CPB, com sede na cidade de Niteri,RJ. Joo Batista de Carvalho e Silva foi indicado para ser o primeiro presidente da entidade. Mesmocom o pouco tempo de existncia, o CPB comeou a colocar em prtica uma de suas principais funes:a organizao de eventos paraolmpicos nacionais para o desenvolvimento deste tipo de esporte nopas. Ainda em 1995, a entidade organizou o I Jogos Brasileiros Paradeportivos em Goinia. A segundaedio da competio foi realizada no Rio de Janeiro, no ano seguinte.

    Com o passar dos anos, o Comit Paraolmpico Brasileiro passou a contribuir progressivamentepara o fomento do esporte de alto-rendimento para pessoas com deficincia. As iniciativas foramdesde a divulgao e a organizao de competies at o envio de atletas nacionais para eventos no

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    Manual de Orientao para Professores de Educao Fsica

    exterior, com o intuito de lhes proporcionar uma maior experincia esportiva. Estas aes vieram asurtir o efeito esperado durante a Paraolimpada de Sydney 2000, quando o Pas ficou em 24o lugar noquadro de medalhas, aps a conquista de seis ouros, dez pratas e seis bronzes. Na Austrlia, a delegaonacional era composta por 64 competidores.

    Em 2001, ocorreram as eleies do Comit, e Vital Severino Neto, graduado em Direito, ex-atletaparaolmpico e secretrio-executivo da primeira gesto do CPB, foi eleito presidente. Foi a primeira vezque uma pessoa com deficincia assumiu o comando da entidade, j que Vital cego desde a infncia.No dia 19 de junho de 2002, a sede do Comit Paraolmpico Brasileiro foi transferida de Niteri paraBraslia. Esta medida foi tomada com o intuito de colocar a entidade mxima do esporte paraolmpiconacional na cidade que o centro das decises polticas do Brasil. Outro motivo foi a maior visibilidadee acessibilidade que o Comit adquiriu por estar no centro geogrfico do pas.

    Atualmente a estrutura do CPB tem como filiadas as seguintes entidades que so oficialmentereconhecidas pelo movimento paraolmpico internacional: ANDE, ABRADECAR, ABVP, ABDEM, CBBC,CBDC, Federao Brasileira de Vela e Motor e a Confederao Brasileira de Tnis.

    IPC

    CPB

    No prximo captulo, o Professor Pedro Amrico de Souza Sobrinho, da Universidade Federal de MinasGerais, mostra-nos um pouco sobre cada uma das deficincias que so elegveis para o movimento paraolmpicoe a base legal que assegura a nossas crianas, jovens e adolescentes o direito prtica esportiva.

    ABDEM ABRADECAR ABVP ANDE CBBC CBDC CBT FBVM

    AssociaoBrasileira deDesporto deDeficientesMentais

    AssociaoBrasileira deDesporto emCadeira de

    Rodas

    AssociaoBrasileira de

    VoleibolParaolmpico

    AssociaoNacional deDesporto deDeficientes

    ConfederaoBrasileira deBasquetebolem Cadeirade Rodas

    ConfederaoBrasileira deDesportospara Cegos

    ConfederaoBrasileira de

    Tnis

    FederaoBrasileira deVela e Motor

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    Introduo ao Movimento Paraolmpico

    3. FONTES DE CONSULTA E PESQUISAS BIBLIOGRFICAS

    1 - Arquivo pessoal do autor com livros e documentos catalogados desde 1973;

    2 - Sites:

    www.deaflympics.com - CISS, The International Committee of Sports for the Deaf Inc. (ICSD)

    www.ibsa.es IBSA - International Blind Sports Federation

    www.inas-fid.org INAS-FID International Sports Federation for Persons with Intellectual Disability -deficientes mentais

    www.ande.org.br

    www.abradecar.org.br

    www.surdos.com.br/cbds

    www.cbdc.org.br

    www.abdem.com.br

    www.abda.org.br

    www.specialolympicsbrasil.org.br

    www.cbbc.org.br

    www.voleiparaolimpico.org.br

    www.tenisdemesaparaolimpico.br.gs

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    Manual de Orientao para Professores de Educao Fsica

    Captulo 2

    O ESPORTE ADAPTADO E PARAOLMPICO COMO DIREITO DA CRIANA E DO ADOLESCENTE

    1. ALGUMAS CONSIDERAES LEGAIS

    Este livro do projeto Paraolmpicos do Futuro, de iniciativa do Comit Paraolmpico Brasileiro, temcomo objetivo, na realidade, promover uma introduo temtica relativa s pessoas com deficincia,definindo e caracterizando as formas de deficincia fsica e visual. Com isso, pretende-se dar condiespara que os leitores dos demais livros, bem como os profissionais da educao fsica e do esporte, queparticiparem dos cursos de qualificao agora programados pelo CPB e demais cursos vindouros, tenhamuma formao, ainda que sem grandes aprofundamentos, suficiente para acompanhar os demais textose cursos relativos prtica do esporte paraolmpico por pessoas com deficincia fsica e visual,especialmente no mbito do esporte escolar paraolmpico, alvo do projeto Paraolmpicos do Futuro.

    A seguir so citadas algumas das mais importantes leis brasileiras que asseguram a prtica esportivapor crianas e jovens com deficincia. A legislao brasileira assegura s crianas e aos jovens o direito prtica esportiva. Sendo este um preceito legal, torna-se obrigatrio o seu cumprimento por todosns, sejamos juristas, membros do Conselho Nacional de Educao, membros do Ministrio Pblico,profissionais da educao ou do esporte, pais, cidados, administradores de escolas, sejam elas municipais,estaduais, federais ou particulares; administradores pblicos (Governo Federal em todas as suas esferas,Governo dos Estados, Prefeituras e suas Secretarias, etc.) ou da iniciativa privada; gestores de polticaspblicas, mesmo que no pertencentes aos rgos pblicos (ONGs, por exemplo), dirigentes de federaese clubes esportivos, etc.

    Para o efetivo cumprimento destas leis, torna-se necessrio, entre outras medidas, qualificar professoresde educao fsica para o atendimento de qualidade a estas pessoas, disponibilizar material didticosobre o tema em questo, promover a oportunidade de participao em competies do esporte adaptadoe paraolmpico, promover competies e campeonatos, prover os diversos ambientes esportivos (quadras,pistas de atletismo, piscinas, ginsios, estdios, dojs, etc.) das necessrias condies de acessibilidade;disponibilizar material esportivo de qualidade e adequado, sensibilizar a populao sobre os direitos daspessoas com deficincia prtica esportiva, bem como sobre os potenciais dessas pessoas, tanto nombito esportivo quanto estudantil, social e para o trabalho, etc.

    Considerando que a Constituio do Brasil:

    1. Em seu Artigo 217 dispe que dever do Estado fomentar prticas desportivas formais e noformais, como direito de cada um;

    2. Em seu Artigo 227, que dever da ... sociedade e do Estado assegurar criana e ao adolescente,com absoluta prioridade, o direito ... sade, ... educao, ao lazer ... convivncia familiar ecomunitria ...;

    Considerando a lei no 9.394, de 20/12/1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educao Nacional,que determina:

    3. Em seu Artigo 27, que os contedos curriculares da educao bsica observaro, ainda, asseguintes diretrizes:

    I - a difuso de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidados, derespeito ao bem comum e ordem democrtica;

    II - ...;

    III - ...;

    Pedro Amrico de Souza Sobrinho

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    Introduo ao Movimento Paraolmpico

    IV - promoo do desporto educacional e apoio s prticas desportivas no-formais;

    Considerando ainda que a lei no 10.793, de 1o de dezembro de 2003, que altera a redao do Artigo26, Pargrafo 3o, e do Artigo 92 da Lei 9.394, das Diretrizes e Bases da Educao Nacional de 20 dedezembro de 1996, estabelece:

    5) Em seu Artigo 26, Pargrafo 3o, que a educao fsica, integrada proposta pedaggica da escola componente curricular obrigatrio da educao bsica ...;

    Considerando, tambm, o Estatuto da Criana e do Adolescente, promulgado pela lei no 8.069, de 13 dejulho de 1990, que estabelece, em seu Artigo 2o, como criana, para os efeitos desta Lei, a pessoa atdoze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Esclarecendo,em seu Pargrafo nico que, nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatutotambm s pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade;

    Em seu Artigo 3o, o Estatuto da Criana e do Adolescente estabelece que a criana e o adolescentegozam de todos os direitos fundamentais inerentes pessoa humana, sem prejuzo da proteo integralde que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades efacilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento fsico, mental, moral, espiritual e social, em condiesde liberdade e de dignidade;

    J em seu Artigo 4o, o Estatuto da Criana e do Adolescente estabelece que dever da famlia, dacomunidade, da sociedade em geral e do poder pblico assegurar, com absoluta prioridade, a efetivaodos direitos referentes vida, sade, alimentao, educao, ao esporte, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria;

    No Pargrafo nico do Artigo 4o, o Estatuto da Criana e do Adolescente estabelece que a garantiade prioridade compreende:

    a) ...;

    b) ...;

    c) preferncia na formulao e na execuo das polticas sociais pblicas;

    Em seu Artigo 5o, o Estatuto da Criana e do Adolescente estabelece que nenhuma criana ouadolescente ser objeto de qualquer forma de negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldadee opresso, punido na forma da lei qualquer atentado, por ao ou omisso, aos seus direitosfundamentais;

    Considerando-se ainda que o Estatuto da Criana e do Adolescente, em seu Captulo I, relativo aoDireito Vida e Sade, no 1o do Artigo 11o, estabelece que a criana e o adolescente portadores dedeficincia recebero atendimento especializado;

    Devendo ser lembrado que, por fora de legislao federal, as crianas internadas em hospitais tmo direito sua escolarizao assegurados, mantendo-se, portanto, a necessidade de que os hospitaisofeream servios escolares, incluindo-se a a necessidade de existncia de professores de educaofsica devidamente qualificados para oferecerem a prtica do esporte adaptado.

    Por outro lado, considerando ainda que o Estatuto da Criana e do Adolescente, estabelece, no IncisoIV, do Artigo 16 do Captulo II, relativo ao Direito Liberdade, ao Respeito e Dignidade, que o direito liberdade compreende o direito a brincar, praticar esportes e divertir-se;

    Considerando que o Estatuto da Criana e do Adolescente estabelece, ainda, em seu Artigo 70, que dever de todos prevenir a ocorrncia de ameaa ou violao dos direitos da criana e do adolescentee, no Artigo 71, em que dispe que a criana e o adolescente tm direito a informao, cultura, lazer,esportes, diverses, espetculos e produtos e servios que respeitem sua condio peculiar de pessoaem desenvolvimento, devendo ser considerado, tambm, que o Artigo 73 estabelece que a inobservnciadas normas de preveno importar em responsabilidade da pessoa fsica ou jurdica, nos termos desta Lei;

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    Manual de Orientao para Professores de Educao Fsica

    Devendo ser considerado, ainda, que o Estatuto da Criana e do Adolescente estabelece, no Artigo 208,Captulo VII, relativo Proteo Judicial dos Interesses Individuais, Difusos e Coletivos, que regem-sepelas disposies desta Lei as aes de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados criana eao adolescente, referentes ao no oferecimento ou oferta irregular. de atendimento educacionalespecializado aos portadores de deficincia; e

    Sendo a prtica do esporte um direito constitucional, mas tambm um direito assegurado peloEstatuto da Criana e do Adolescente, bem como pelas Leis de Diretrizes e Bases da Educao, deve-seentender tambm como obrigatria a qualificao dos futuros professores de educao fsica paraatuar no mbito escolar, respeitando o direito das crianas e dos adolescentes prtica do esporteadaptado e do esporte paraolmpico.

    Ante estes dispositivos jurdicos, deve ser entendida tambm como obrigatria a incluso, nos currculos(curricula) dos cursos de formao de professores de educao fsica, considerando-se todos os nveise graus do ensino, bem como nos currculos dos cursos de formao de bacharis, de graduados emeducao fsica, disciplinas ou contedos com volume de informaes, qualidade dos contedos eprtica didtico-pedaggica que assegure o efetivo e regular cumprimento dos dispositivos legais, quedispem que o esporte um direito das crianas e dos adolescentes.

    Levando-se em conta todas estas consideraes o CPB sente-se no dever de promover o esporteescolar paraolmpico, no sentido tanto de cumprir estes dispositivos legais quanto para melhor exercerseu papel social de fomento s prticas esportivas por pessoas com deficincia, assim como para assegurarcondies para a necessria renovao do quadro de atletas paraolmpicos do Brasil.

    Como o Livro no 1 do projeto Paraolmpicos do Futuro, de iniciativa do CPB tem como principalobjetivo promover uma introduo temtica relativa s pessoas com deficincia, definindo ecaracterizando cada uma das formas de deficincia que so elegveis para o programa fsica, mentale visual , so apresentados, a seguir, contedos relativos a estas formas de manifestao das deficincias.

    2. DEFICINCIA

    O Decreto no 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que regulamenta a lei no 7.853, de 24 de dezembrode 1989, e dispe sobre a Poltica Nacional para a Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia,consolida as normas de proteo e d outras providncias, define deficincia como sendo:

    Toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou funo psicolgica, fisiolgica ou anatmica,que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padro considerado normal parao ser humano.

    No entanto, a Assemblia Geral da Organizao das Naes Unidas ONU, da qual o Brasil membro, com base na Resoluo no 48 de 1996, definiu deficincia, como sendo:

    A perda ou limitao de oportunidades de participar da vida comunitria em condies de igualdadecom as demais pessoas.

    O esporte, considerando-se a definio de deficincia aprovada pela Resoluo no 48 de 1996 daOrganizao das Naes Unidas ONU, cumpre os nobres objetivos de detectar e desenvolver ospotenciais das pessoas com deficincia e proporcionar a elas oportunidades para que sejam reconhecidascomo capazes de participar da vida comunitria em condies de igualdade com as demais pessoas. Oesporte vem cumprindo eficazmente este papel nas suas mais diversas formas de manifestao, seja,inicialmente, exercendo uma funo teraputica, com base nas diversas formas de atuao daesporteterapia, ou seja promovendo a incluso social, tanto com base no esporte de reabilitao quantono esporte competitivo, nas suas mais diversas formas de manifestao, tanto do esporte adaptadoquanto do esporte paraolmpico ou mesmo do esporte olmpico. Um novo passo est sendo dado agora,

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    Introduo ao Movimento Paraolmpico

    com a implementao, em todo o Brasil, de programas de desenvolvimento do esporte escolar adaptadoe paraolmpico.

    3. DEFICINCIA VISUAL

    Ao abordar as questes relativas prtica esportiva por pessoas com deficincia visual, imprescindvelfazer uma diferenciao entre alunos ou atletas que possuem deficincia visual congnita ou adquiridaprecocemente daqueles que contraram a deficincia visual tardiamente, aps terem experinciasesportivas prprias ou mesmo como espectadores.

    Outra diferenciao importante deve ser feita entre as crianas, jovens e adultos com deficinciavisual que tiveram infncia e juventude daqueles que no tiveram infncia ou juventude, que viveramconfinadas ou pouco estimuladas sob o ponto de vista do lazer e do esporte, bem como sob o ponto devista social, escolar, familiar e laboral.

    Devem ser diferenciadas, ainda, crianas, jovens e adultos com viso subnormal das pessoas com cegueira.

    Deve estar claro que crianas, jovens e adultos com viso subnormal ou cegueira, contando comestimulao e apoios de qualidade, so pessoas em perfeitas condies de praticar as mais diversasmodalidades esportivas, para cursar os diversos nveis e graus do ensino, assim como para assumirdiversas formas de emprego e assegurarem seu sustento. O esporte tem um papel importantssimo navida dessas pessoas, no sentido de dar provas inequvocas de seus potencias sociedade e s suas famlias.

    Antes de se abordarem os diversos termos relativos deficincia visual, primeiro deve-se falar umpouco sobre as funes dos olhos.

    A funo mais importante dos olhos focalizar a luz. O funcionamento dos olhos como o de umacmera fotogrfica: os raios de luz penetram pela crnea, que possui uma grande capacidade defocalizao. A luz passa, ento, pelo cristalino, que faz o ajuste fino na focalizao sobre a retina, queest localizada na parte posterior do olho. A retina transforma a luz em impulsos eltricos, que solevados pelo nervo ptico at o crebro, onde formada a imagem.

    Diversas patologias podem ocorrer se no houver uma refrao correta dos raios de luz sobre aretina. Quando o olho apresenta alguma deficincia em refratar os raios de luz, a pessoa pode apresentardificuldades visuais, tais como: miopia, hipermetropia e astigmatismo.

    MIOPIA

    A miopia ocorre quando o olho muito longo em relao curvatura da crnea. Com isto, os raiosde luz que penetram nos olhos focam em um plano anterior retina, fazendo com que a imagem fiqueembaada (borrada). As pessoas mopes podem enxergar muito bem objetos que estiverem perto deseus olhos, porm no conseguem enxergar bem os objetos ou pessoas que estejam distantes.

    ASTIGMATISMO

    No astigmatismo a imagem projetada sobre uma superfcie irregular, no caso sobre a crnea ou ocristalino, quando apresentam meridianos com curvaturas irregulares. Com isto ocorre distoro daimagem em funo da alterao desigual na inclinao dos raios de luz que incidem nos olhos. Sob estascondies, a viso fica embaada, desfocada, tanto para perto quanto para longe. Praticamente 50%das pessoas com miopia tm astigmatismo.

    HIPERMETROPIA

    Quando o olho muito curto em relao curvatura da crnea, ocorre um erro refracional em quea projeo da imagem ocorre atrs da retina. Normalmente a pessoa com hipermetropia enxerga

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    Manual de Orientao para Professores de Educao Fsica

    melhor de longe que de perto. Este fato, no entanto, at certo ponto comum em crianas, sendoconsiderada fisiolgica dentro de certos parmetros visuais e de idade. Isto implica programa de prevenoa doenas, com exame oftalmolgico antes de a criana ser escolarizada aos seis ou sete anos de idade.

    DEFICINCIA VISUAL, VISO SUBNORMAL E CEGUEIRA

    CEGUEIRA

    O termo cegueira no um conceito absoluto, reunindo situaes de vrios graus de viso residual,ainda que em nveis que dificultam seriamente a realizao de tarefas da vida diria (vide, por exemplo,Rocha e Ribeiro-Gonalves 1987, p.49).

    A cegueira pode ser subdividida em: cegueira total e cegueira parcial.

    Entende-se por cegueira total a completa perda da viso. Ela tambm denominada amaurose.Neste caso, considera-se que a viso nula, sendo tambm chamada de viso zero. Na cegueira total,no possvel distinguir nem mesmo a luz. Na cegueira total, a viso corrigida no melhor olho de 20/200 ou menos. Isto significa que, neste caso, a pessoa s capaz de ver a uma distncia de 6m (20 ps),o que uma pessoa com viso normal capaz de ver a 60m (200 ps).

    A cegueira parcial (tambm denominada de cegueira legal ou cegueira profissional) se refere situaoem que indivduos com acuidade visual corrigida nos dois olhos (com culos ou lentes de contato) igual ouinferior a 0.1, bem como aos portadores de campo visual tubular restrito a 20 graus ou menos. Pessoasque s percebem vultos, a curta distncia, se enquadrariam no que se conceitua como cegueira parcial.

    H um caso especial de cegueira, que denominada ambliopia. Ela definida como sendo uma baixade viso em olho organicamente perfeito, sem que se possa diagnosticar nada que justifique a cegueira.No se enquadram na ambliopia as baixas visuais que podem ser corrigidas pelo uso de culos, lentes decontato, cirurgia, etc. Entre cada 100 crianas, em torno de 04 podem ser tornar amblopes, se notiverem esta doena diagnosticada e tratada precocemente. O tratamento se refere ocluso do olhosadio, uso de culos ou cirurgia.

    Definio: de acordo com o Artigo 70 do Decreto no 5.296 de 02 de dezembro de 2004, define-sedeficincia visual e cegueira como sendo:

    Cegueira: acuidade visual igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correo ptica;

    Baixa viso: acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correo ptica;

    Os casos nos quais a somatria da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menorque 60 ou a ocorrncia simultnea de quaisquer das condies anteriores.

    Pode-se diferenciar a cegueira, tambm, em dois tipos: cegueira infantil e cegueira no adulto.

    CEGUEIRA INFANTIL

    Causas da cegueira infantil: as anomalias congnitas, presentes no nascimento, devem-se a algumairregularidade nos processos de desenvolvimento intra-uterino. Entre suas causas podem ser citadosfatores genticos e ambientais, bem como suas interaes.

    Entre os agentes causais ambientais, podem ser citados: agentes fsicos, qumicos ou infecciosos,capazes de provocar alteraes no desenvolvimento durante a vida intra-uterina.

    Quanto idade gestacional em que se iniciam, as anomalias de desenvolvimento podem ser situadasem trs classes:

    Germinativas ou Gametognicas (nitidamente hereditrias);

    Organognicas (da 2a 6a semana);

    Fetais (do 3o ao 6o ms).

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    Introduo ao Movimento Paraolmpico

    As duas ltimas so causadas por influncias ambientais, tais como: rubola, sfilis, toxoplasmose,tuberculose, etc.). Por outro lado, quanto mais precoce incidir um desses agentes, mais srio poder sero comprometimento.

    CEGUEIRA NO ADULTO

    So trs as maiores causas da cegueira no adulto:

    Diabetes (a retinopatia diabtica a causa de 84% da cegueira em diabticos). Para evit-la, osdiabticos com nveis muito elevados de glicemia devero ter acompanhamento oftalmolgico a cadaquatro ou seis meses ou com periodicidade determinada pelo oftalmologista;

    Glaucoma (que caracterizada pelo aumento patolgico da presso intra-ocular);

    Degenerao macular senil (ocorre em 15% das cegueiras).

    Deve ser lembrado que uma srie de doenas podem se manifestar tardiamente (ex.: retinose pigmentare a coroideremia) ou que doenas adquiridas podem provocar cegueira no adulto (traumatismo,descolamento de retina, infeces, tumores, etc.).

    OUTRAS DOENAS MAIS COMUNS NA DEFICINCIA VISUAL

    Catarata: que se refere a uma opacificao do cristalino. A catarata tambm pode ocorrer emcrianas e jovens, podendo provocar a cegueira;

    Cegueira congnita: causada por uma m formao do aparelho visual na fase fetal;

    DDR (doenas degenerativas da retina): doenas genticas como a retinose pigmentar e adegenerao macular relacionada idade;

    Descolamento de retina: a retina se desprende da coride por deficincia da irrigao sangunea;

    Nistagmo: que se refere a tremores dos olhos, dificultando a visualizao das imagens (vide ataxiano item relativo Deficincia Fsica, mais especificamente em relao Paralisa Cerebral);

    Retinopatia diabtica: ocorre um aumento da glicose no sangue que danifica os vasos retinianos e/ouo nervo ptico;

    Toxoplasmose: infeco causada pelo Toxoplasma gondii;

    Traumatismos no olho: olhos que recebem algum traumatismo e apresentam hematomas podemdesenvolver, anos depois, a cegueira. Com isso, pessoas que sofrem traumatismo no olho devem ter umacompanhamento oftalmolgico.

    SINAIS QUE IDENTIFICAM UMA DEFICINCIA VISUAL

    Entre os sinais de distrbios visuais, podem ser citados:

    Freqentes dores de cabea;

    Cansao rpido durante a leitura;

    Desvio de converso dos olhos;

    Olhos freqentemente remelentos ou avermelhados;

    Impresso de que existem estrelinhas ou nuvenzinhas no ar;

    Franzir a testa e/ou apertar os olhos na tentativa de enxergar;

    Aproximar um objeto muito prximo ou muito distante do rosto, bem como em uma posiolateralizada, para facilitar sua visualizao;

    Viso embaada;

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    Manual de Orientao para Professores de Educao Fsica

    Andar com passos muito curtos;

    Andar com as mos frente do corpo;

    Andar com o tronco inclinado para trs;

    Se a pessoa freqentemente protege os olhos da luz;

    Se a pessoa freqentemente esbarra em mveis, deixa cair ou derruba objetos;

    Se a pessoa freqentemente reage tardiamente a estmulos visuais;

    Etc.

    Menescal (2001, p.140) lista uma detalhada srie de defasagens, que as pessoas com deficinciavisual tenderiam a apresentar. A seguir, so citadas algumas dessas defasagens:

    DefasagensPsicomotoras

    DefasagensCognitivas

    DefasagensSocioativas

    Imagem corporal A possvel defasagem cognitiva uma situao conjuntural e noestrutural no desenvolvimentoda pessoa cega.

    Autoconfiana

    Esquema corporal A possvel limitao na

    ou falta de

    captaode estmulos, assim como adificuldade relaoentre o objeto visualmentepercebido e a palavra, e a pobrezade experincias prticas, podemcausar uma defasagem no nvelcognitivo, expresso na formaoe na utilizao de conceitos.

    Sentimento de menos valia

    Esquema cinestsico Auto-estima

    Equilbrio dinmicoe esttico

    Insegurana em relao ssuas possibilidades

    Postura Apatia

    Mobilidade Dependncia

    Marcha Medo de situaes eambientes no-conhecidos

    Expresso corporal Dificuldade em estabelecerrelaes bsicas do seu Eucom as pessoas e com oambiente

    Coordenao motora Auto-iniciativa para aao motora

    Lateralidade Ansiedade estado

    Maneirismos peculiares

    Dificuldade derelaxamento

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    Introduo ao Movimento Paraolmpico

    Esta listagem de Menescal (2001, p.140), relativa s defasagens que as pessoas com deficincia visualtenderiam a apresentar, de grande valor na estruturao e na seleo dos objetivos, contedos,mtodos e processos de treinamento esportivo de pessoas com deficincia visual, visando a compens-los ou influir positivamente nestas tendncias.

    Alm do exposto, deve ser mencionado que estes comprometimentos visuais normalmente levam apessoa a adotar uma postura inadequada do tronco, pescoo e cabea, que por sua vez podem provocardores. Vide, ainda, sob o ttulo de Paralisia Cerebral, os distrbios visuais com incidncia nesta forma dedeficincia fsica.

    4. DEFICINCIA FSICA

    DEFINIO

    O Decreto no 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que regulamenta a lei no 7.853, de 24 de dezembrode 1989, e dispe sobre a Poltica Nacional para Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia, definedeficincia fsica, como sendo a caracterizada por:

    uma alterao completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando ocomprometimento da funo fsica, (...) membros com deformidade congnita ou adquirida, excetoas deformidades estticas e as que no produzam dificuldades para o desempenho de funes.

    EFEITOS PSICOLGICOS DA DEFICINCIA FSICA

    Os efeitos psicolgicos da deficincia fsica estariam condicionados, entre outros, aos seguintesfatores (SOUZA, 2004):

    prpria concepo sobre a deficincia;

    estrutura e estabilidade emocional da pessoa;

    ao grau e abrangncia do comprometimento;

    concepo e ao posicionamento da famlia e da sociedade (escola, vizinhana, amigos, etc.) emrelao deficincia;

    aparncia fsica ou visibilidade do comprometimento;

    ao grau de independncia ou de dependncia;

    capacidade de tomar decises;

    s conseqentes alteraes na vida da pessoa;

    ao prognstico de durao do comprometimento (temporrio ou permanente);

    ao carter progressivo ou de estabilidade do comprometimento;

    tendncia depresso;

    s implicaes sociais, afetivas, financeiras, etc., da deficincia.

    JANZOWSKI et STERWITZ (1977, p.137 e ss.) resumem da seguinte forma os resultados isoladosde pesquisas de diversos autores sobre a estrutura da personalidade de pessoas com deficincia fsica:durante a reabilitao mdica, ou seja, pouco tempo depois da pessoa se tornar portador de umadeficincia fsica, haveria indcios de uma marcante depresso, em forma de uma reao inicial.Poder-se-ia verificar uma elevao da agressividade tanto na fase inicial (GUTTMANN, 1956) quantono transcurso da reabilitao profissional (JANSEN, 1975). Possivelmente o desejo de um maiorreconhecimento social se manifestaria numa tendncia a apresentar-se extrovertido.

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    Manual de Orientao para Professores de Educao Fsica

    JANZOWSKI et STERWITZ comentam que seria problemtico tirar-se concluses sobre ocomportamento de pessoas com deficincia fsica com base nestas pesquisas. Segundo estes autores, osresultados destas pesquisas teriam sido obtidos com base na aplicao de questionrios estandardizados,padronizados, de auto-avaliao. Segundo eles, no existe obrigatoriamente nenhuma relao entredeficincia fsica e comprometimento psicolgico, apesar de que, pelo menos no incio do processo dereabilitao, a ocorrncia de uma deficincia poderia exercer o papel de desencadeador de uma depresso.

    JANSEN (1976, p.122) no encontrou diferenas entre pessoas com deficincia e sem deficincia em21 caractersticas marcantes da personalidade, tais como: nervosismo, depresso, agitao, sociabilidade,tendncia a dominar as outras pessoas, tranqilidade, inibio, neuroticismo, franqueza, extroverso,motivao para o rendimento, tendncia a mentir, rigidez, inibio da agressividade, temor de umaocorrncia negativa no futuro, segurana em relao ao futuro.

    Deve ser ressaltado que as pesquisas mencionadas acima no fazem referncias sobre a idade dospesquisados, nem sobre o nvel cultural ou de escolarizao, nem sobre a nacionalidade dos mesmos,tipo ou grau de comprometimento.

    Como forma de ilustrao sobre efeitos psicossociais da deficincia fsica deve ser lembrado que,apesar de portarem uma deficincia fsica, as pessoas abaixo continuam sendo admiradas:

    Antnio Francisco Lisboa: considerado um dos maiores artistas do Brasil, autor de maravilhosasobras de arquitetura sacra e de esculturas, portador de deficincia fsica e, por isto, denominado erespeitado como O Aleijadinho;

    Boris Casoy: jornalista, portador de seqelas de paralisia infantil (poliomielite);

    Christopher Reeve: ator, que nas telas representou, entre outros, o papel de Superman e, navida real, tornou-se tetraplgico (vide Paraplegia e Tetraplegia);

    Christy Brown: portador de paralisia cerebral e autor do bestseller Meu P Esquerdo, que setransformou tambm em filme de sucesso mundial;

    Frank Williams: paraplgico dono da equipe Williams de frmula 1;

    Georgette Vidor: tcnica de ginstica olmpica do Flamengo e da Seleo Brasileira, que tornou-se paraplgica aps um acidente automobilstico, mas continuou exercendo sua profisso de treinadora;

    Herbert Vianna: cantor, compositor, instrumentista e lder do conjunto Paralamas do Sucesso;

    Lars Grael: administrador e atleta, ganhador de medalha em olimpada, no iatismo, que teve umaperna amputada em um acidente;

    Marcelo Rubens Paiva: autor, entre outros, de Feliz Ano Velho, que tornou-se tetraplgico (eautor) aps um acidente;

    Stephen Hawking: fsico, considerado uma das maiores inteligncias da histria da humanidade,portador de uma doena progressiva e incapacitante fisicamente.

    Deficincia fsica, por outro lado, deve ser vista como um desafio, que pode e deve ser vencidoemocionalmente, pedagogicamente, e no uma catstrofe. Para isto precisamos nos preparar paramelhor lidar com este tipo de aluno em sala de aula e sermos capazes de estimular a famlia a valoriz-los como pessoa humana, a investir na escolarizao destas crianas, jovens e futuros adultos, j que sa educao poder assegurar melhores condies de convvio social, renda, maior independncia, amigos,reconhecimento pelo desenvolvimento de seus potenciais e compensao de suas limitaes.

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    Introduo ao Movimento Paraolmpico

    5. PARALISIA CEREBRAL

    INTRODUO

    Inicialmente, deve-se levar em conta que nosso crebro regula todas as nossas funes: cognio,comportamento, movimentos, viso, audio, fala, ateno e concentrao, etc. Havendo uma disfunocerebral, uma ou mais funes sobre sua esfera de atuao podem ficar comprometidas. Estas disfunesdo funcionamento cerebral podem ser causadas tanto por um distrbio na estruturao do crebrocomo por leses provocadas nele. Com isso, podem ocorrer inibio funcional, desregulao de funesou perdas de uma ou mais funes.

    A paralisia cerebral no deve ser vista como uma catstrofe, mas simcomo um desafio que a vida nos apresentou e que pode e deve ser superadoemocionalmente.

    Pedro Amrico de Souza

    Definio

    A paralisia cerebral definida como sendo o resultado de um distrbio do desenvolvimento cerebralou de uma seqela que acomete o crebro durante as fases pr-natal, perinatal e ps-natal, sendolimitada sua ocorrncia, por questes de definio terica, at os primeiros anos de vida.

    A paralisia cerebral designa um grupo especfico de desordens motoras, que no so progressivas,no implicando, portanto, risco de piora do quadro clnico, desde que no haja abandono dos cuidadose tratamentos prescritos.

    Esta definio de paralisia cerebral, limitada ao tempo de sua ocorrncia, tem por finalidade diferenciara paralisia cerebral de outros comprometimentos do crebro, manifestos na juventude, idade adulta ou senil.

    Apesar de que o comprometimento do desenvolvimento cerebral ou de seu funcionamento possaafetar todas as funes reguladas pelo crebro, tais como comportamento, inteligncia, padro dosmovimentos, viso, audio, etc., refere-se paralisia cerebral como sendo o resultado de umcomprometimento exclusivamente motor. Deve ser lembrado, no entanto, que:

    a paralisia cerebral pode estar associada ao comprometimento de outras funes do crebro(viso, audio, fala, cognio, comportamento, etc.);

    a paralisia cerebral no implica necessria e obrigatoriamente comprometimentos da intelignciaou distrbios do comportamento.

    A denominao paralisia cerebral, popularmente chamada de PC, poderia ser considerada comoinadequada, j que o crebro no se encontra paralisado. Na realidade, o crebro da pessoa com paralisiacerebral apresenta apenas algumas disfunes, algumas perdas ou desordens funcionais, mas continuaativo e funcional para grande parte das suas capacidades.

    O termo paralisia refere-se tanto ao comprometimento mais srio de determinadas funes quantoa perdas ou praticamente ausncia de determinadas funes, enquanto o termo paresia se refere acomprometimentos menos marcantes.

    CAUSAS DA PARALISIA CEREBRAL

    Antes de serem mencionados os fatores capazes de provocar uma paralisia cerebral, deve ser ressaltadoque a incidncia de tais fatores no implica obrigatoriamente a ocorrncia de uma paralisia cerebral.

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    Manual de Orientao para Professores de Educao Fsica

    Isto se deve resistncia, maior ou menor, que o crebro das diferentes pessoas pode apresentar a estes fatores.

    As causas da paralisia cerebral so divididas pela sua poca de ocorrncia em pr-natais, perinatais e ps-natais.

    a) Causas Pr-Natais:

    Distrbios circulatrios. Durante a fase da gestao, distrbios circulatrios podem provocardeficincias acentuadas de oxigenao no crebro da criana, sendo manifestos, entre outros, por:deformidades ou distrbios funcionais do corao da criana ainda em formao, distrbios nas trocassangneas entre a me e a criana, incompatibilidade sangnea entre a me e a criana, enforcamentopelo cordo umbilical, hemorragias srias da me durante a gravidez, etc.;

    Exposio ao raio X;

    Reduo do nmero de he