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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Curso de Especialização sobre Gestão da Política de DST, Aids, Hepatites Virais e Tuberculose Frederico Alves Dias PROJETO DE INTERVENÇÃO PARA A REORGANIZAÇÃO DA LOGÍSTICA DE ANTIRRETROVIRAIS NO ESTADO DO PARANÁ Curitiba Paraná 2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Curso de Especialização sobre Gestão da Política de DST, Aids,

Hepatites Virais e Tuberculose

Frederico Alves Dias

PROJETO DE INTERVENÇÃO PARA A REORGANIZAÇÃO DA LOGÍSTICA DE

ANTIRRETROVIRAIS NO ESTADO DO PARANÁ

Curitiba – Paraná 2017

Page 2: PROJETO DE INTERVENÇÃO PARA A REORGANIZAÇÃO DA … · a) Elaborar um planejamento anual participativo. b) Redesenhar a rede de distribuição de antirretrovirais do estado do

Frederico Alves Dias

PROJETO DE INTERVENÇÃO PARA A REORGANIZAÇÃO DA LOGÍSTICA DE

ANTIRRETROVIRAIS NO ESTADO DO PARANÁ

Trabalho de conclusão de curso submetido ao Curso de Especialização sobre Gestão da Política de DST, AIDS, Hepatites Virais e Tuberculose – Educação a distância da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para a obtenção do Grau de Especialista. Orientadora: Márcia Cavalcante Vinhas Lucas

Curitiba – Paraná 2017

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RESUMO

O presente trabalho trata-se de um projeto de intervenção estruturado

através das ferramentas do Planejamento Estratégico Situacional (PES)

durante o Curso de Especialização sobre a Política de DST/Aids/Hepatites

Virais e Tuberculose - Educação a distância da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte. Esse projeto tem como objetivo principal reorganizar o

sistema logístico de antirretrovirais do Paraná a fim de melhorar o processo de

distribuição desses medicamentos no estado. Assim, foi desenvolvida uma

análise descritiva e explicativa do referido projeto, buscando refletir sobre todas

as etapas necessárias para sua execução na busca da imagem-objetivo

almejada. Além disso, foi feita uma reflexão sobre as potencialidades e

fragilidades desse projeto bem como sobre o processo de avaliação do mesmo.

Ao executarmos o referido projeto pretendemos, portanto, melhorar o acesso

aos antirretrovirais, a qualidade da assistência prestada às pessoas vivendo

com HIV/AIDS no estado do Paraná e consequentemente a qualidade de vida

das mesmas.

Palavras-chave: Projeto de intervenção. HIV. AIDS. Logística de

medicamentos. Antirretrovirais.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 5

2 OBJETIVOS .................................................................................................... 9

2.1 Objetivo geral ............................................................................................... 9

2.2 Objetivos específicos ................................................................................... 9

3 METODOLOGIA ............................................................................................. 9

3.1 Cenário do projeto de intervenção ............................................................... 9

3.2 Elementos do plano de intervenção ........................................................... 11

3.3 Fragilidades e oportunidades ..................................................................... 20

3.4 Processo de avaliação ............................................................................... 21

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 22

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 24

APÊNDICES .................................................................................................... 26

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1 INTRODUÇÃO

A AIDS é uma doença causada pelo vírus HIV e corresponde ao

estágio mais avançado da infecção que ataca o sistema imunológico (os

linfócitos T-CD4+), deixando o organismo da pessoa infectada suscetível a

outras infecções. O surgimento da AIDS, como epidemia, ocorreu

mundialmente no final da década de 70, tendo os primeiros casos detectados

nos Estados Unidos, Haiti e a África Central. No Brasil foi identificado em 1980,

no município de São Paulo – SP (SOUSA et al, 2012).

Atualmente, o Brasil apresenta uma das políticas de enfrentamento à

AIDS mais moderna do mundo, sendo referência para todos os países em

desenvolvimento. A mesma se destaca pela forte organização social para sua

formulação, acesso às drogas antirretrovirais (ARV), mobilização da

comunidade internacional e movimento de reforma sanitária (SOUSA et al,

2012).

Em relação ao tratamento dos pacientes infectados, o Brasil foi

pioneiro, conseguindo aprovar em 1996 a lei nº 9313 de 13 de novembro de

1996, definindo que “os portadoras do HIV (vírus da imunodeficiência humana)

e doentes de AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) receberão,

gratuitamente, do Sistema Único de Saúde, toda a medicação necessária a seu

tratamento.” (BRASIL, 1996).

Desde então várias recomendações para tratamento dos pacientes

com HIV e Aids foram publicadas. Em 01 de dezembro de 2013 foi publicado o

novo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas em HIV (PCDT). A principal

alteração que esse protocolo trouxe foi a recomendação de estimular o início

imediato da TARV para todas as pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA),

independentemente da contagem de linfócitos T-CD4+, na perspectiva de

redução da transmissibilidade do HIV, considerando a motivação da PVHA, o

que acarretou um aumento considerável no número de pacientes em TARV

(BRASIL, 2013a).

Além disso, o Brasil tem até 2020 para atingir a meta dos 90-90-90

assumida pelo país perante a Organização das Nações Unidas (ONU). A meta

prevê que, até 2020, 90% de todas as pessoas vivendo com HIV saibam que

têm o vírus; 90% das pessoas diagnosticadas com HIV recebam terapia

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antirretroviral; e 90% das pessoas recebendo tratamento possuam carga viral

indetectável e não mais possam transmitir o vírus (UNAIDS, 2015).

Para se alcançar os objetivos pretendidos, mantendo a viabilidade da

Política Nacional de DST/AIDS é necessário algumas ações ligadas à gestão

nos três entes federativos (federal, estaduais e municipais) envolvidos nesse

processo.

Uma preocupação que os gestores têm apresentado é com relação à

logística estadual/local dos antirretrovirais. Segundo a ata da 8ª Reunião

Ordinária da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), realizada em 28 de

Outubro de 1999, o Ministério da Saúde ficou responsável pela aquisição e

disponibilização dos medicamentos ARV (Antirretrovirais) e talidomida para os

estados. As logísticas estaduais (e dos municípios de São Paulo/SP e do Rio

de Janeiro/RJ) são responsáveis pela distribuição desses medicamentos dentro

de seus estados ou municípios (CIT, 1999).

No estado do Paraná, essa distribuição é realizada pela Divisão de

Assistência Farmacêutica Estratégica (DVFME) do Centro de Medicamentos do

Paraná (CEMEPAR) com base nos mapas e boletins mensais emitidos pelo

Sistema Informatizado de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM) para

cada Unidade Dispensadora de Medicamentos vinculada. O SICLOM foi criado

com o objetivo de gerenciamento logístico das informações sobre os

medicamentos antirretrovirais (ARV). Para tanto, construiu-se um cadastro

nacional de pacientes com HIV em atendimento no sistema público de saúde;

um histórico dos esquemas terapêuticos utilizados e suas eficácias; um

conjunto de estatísticas relacionadas aos tratamentos e aos pacientes e, por

fim, o controle de estoques locais de ARV com vistas a garantir o pronto e

correto atendimento (em conformidade com as Recomendações para Terapia

Antirretroviral) nas farmácias das Unidades Dispensadoras de Medicamentos

(UDM) de serviços públicos de saúde (SAKITA, 2012).

Mesmo sendo um órgão da Assistência Farmacêutica, as ações

realizadas pelo CEMEPAR tem impacto direto na Política de DST/Aids do

estado, pois é através destas que se torna possível o acesso das pessoas

vivendo com HIV/Aids aos medicamentos antirretrovirais bem como o seu uso

racional a fim de se obter o sucesso terapêutico.

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Para se entender o papel dos responsáveis pela logística dos

antirretrovirais nas diferentes esferas de governo é importante conhecer o ciclo

da Assistência Farmacêutica dos antirretrovirais, em que se sucedem

atividades que só se completam quando a atividade anterior for

adequadamente realizada. As principais atividades inseridas nesse ciclo são:

seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição e dispensação

(OLIVEIRA et al, 2007).

A seleção é um processo de escolha de medicamentos, baseada em

critérios epidemiológicos, técnicos e econômicos estabelecidos. No caso

específico do Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais, o processo de

gerenciamento dos produtos, incluindo a seleção dos antirretrovirais ficou a

cargo desse departamento (BRASIL, 2010).

Já a programação consiste em estimar quantidades de medicamentos

a serem adquiridas, assim como os recursos necessários, para atender a

determinada demanda de serviços, em um período definido de tempo. Possui

influência direta sobre o abastecimento e o acesso ao medicamento. A

programação para a aquisição dos ARV é efetuada pelo Ministério da Saúde

(BRASIL, 2010).

A aquisição consiste em um conjunto de procedimentos pelos quais se

efetiva a compra dos medicamentos estabelecidos na programação, com o

objetivo de disponibilizar os mesmos em quantidade, qualidade e menor custo,

visando manter a regularidade e o funcionamento. No caso dos antirretrovirais

essa etapa também é realizada pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2011).

O processo de distribuição pode ser entendido como “qualquer

atividade de posse, abastecimento, armazenamento e expedição de produtos

farmacêuticos, excluído o fornecimento ao público” (BRASIL, 2002).

No que diz respeito aos medicamentos antirretrovirais, depois de

firmados os contratos, os fornecedores entregam os medicamentos no SADM

(Serviço de Armazenamento e Distribuição de Medicamentos do Ministério da

Saúde) nos ou Almoxarifados Centrais dos Estados (se o medicamento for de

produção nacional) (BRASIL, 2010).

Na etapa seguinte, os medicamentos seguem do nível estadual ao

nível municipal, ou diretamente as Unidades Dispensadoras de Medicamentos

(UDM), conforme a necessidade de abastecimento em cada localidade. A

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requisição dos medicamentos é feita através do preenchimento de dois

documentos no sistema informatizado (SICLOM): boletim mensal para

avaliação e uso de medicamentos/AIDS (que reflete o consumo dos

medicamentos) e o mapa de movimento mensal de medicamentos/AIDS (que

reflete as movimentações de estoque). (BRASIL, 2010)

O responsável pela logística de antirretrovirais do estado (cargo que

ocupo nesse processo) compila essas requisições, faz as aprovações e as

distribuições (conforme estoque disponível) e gera as guias de remessa que

são repassadas para o almoxarifado do CEMEPAR para que o mesmo realize

a separação, conferência e o repasse dos quantitativos programados para as

UDMs.

Foi justamente nessa etapa onde identificamos um nó crítico relevante

para o desenvolvimento de todo o ciclo: uma quantidade significativa de

divergências entre os quantitativos programados para distribuição e os

efetivamente distribuídos (entregues) nas Unidades Dispensadoras de

Medicamentos (UDMs) decorrentes de uma logística fragmentada dentro do

estado.

A divulgação de vagas para o Curso de Especialização sobre Gestão

da Política de DST, AIDS, Hepatites Virais e Tuberculose (EAD) da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte foi vista como uma oportunidade

para aprofundar o conhecimento sobre esse assunto. O interesse em participar

desse curso surgiu devido ao fato de que trabalho especificamente com a

logística dos medicamentos de HIV/Aids há 5 anos. Porém, sentia falta de

compreender outras questões relacionadas à política de DST/AIDS/HV, ou

seja, de entender melhor o cenário onde esses agravos estão inseridos bem

como os aspectos que interferem (direta ou indiretamente) nessa logística.

Com a proposta de produção de um projeto de intervenção que

apresentasse impacto significativo dentro do nosso local de atuação, o

problema da logística fragmentada foi elencado como prioritário. Devido a ele,

as divergências nas distribuições de antirretrovirais pelo CEMEPAR são

frequentes, o que podem levar a dificuldades de acesso aos antirretrovirais e

interrupções de tratamento. Esses, por sua vez, acarretam na queda no

número de linfócitos TCD4+, desenvolvimento de infecções oportunistas,

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aumento do número de hospitalizações e em última instância a uma piora na

qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV/Aids.

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Reorganizar a rede de distribuição de antirretrovirais do estado do

Paraná.

2.2 Objetivos específicos

a) Elaborar um planejamento anual participativo.

b) Redesenhar a rede de distribuição de antirretrovirais do estado do

Paraná.

c) Aprimorar o conhecimento dos atores envolvidos com o processo

logístico dos medicamentos.

3 METODOLOGIA

3.1 Cenário do projeto de intervenção

O Centro de Medicamentos do Paraná – CEMEPAR é uma unidade da

Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA-PR) subordinada à

Superintendência de Gestão de Sistemas de Saúde (SGS), tendo como

propósito a garantia do acesso da população aos medicamentos dos

programas oferecidos pelo Ministério da Saúde (MS) e pela própria SESA/PR.

Juntamente com o Departamento de Assistência Farmacêutica do

estado do Paraná (DEAF-PR), o CEMEPAR é responsável pela implantação e

implementação da Política de Assistência Farmacêutica no estado, em

consonância com o Plano Estadual de Saúde e com as diretrizes estabelecidas

para este setor pelo Ministério da Saúde.

Dentre os programas de medicamentos gerenciados pelo CEMEPAR

temos: medicamentos básicos de controle estratégico (saúde da mulher e

insulinas NPH e regular); hospitais e unidades próprias da SESA-PR;

programas especiais da SESA-PR (Paraná sem dor, análogos de insulina,

tratamento das infecções oportunistas, etc.); medicamentos do componente

especializado (hepatites virais, artrite reumatoide, síndrome de Guillan-Barré,

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etc.); medicamentos sob determinação judicial; medicamentos do componente

estratégico (tuberculose, hanseníase, imunobiológicos e os antirretrovirais).

Dentre os diferentes setores que gerenciam esses programas encontra-se o

setor dos medicamentos de HIV/Aids, responsável pela logística dos

antirretrovirais e dos medicamentos para tratamento das infecções

oportunistas.

As atividades desse setor são comumente divididas em duas grandes

áreas de atuação:

- cadastro de pacientes: realização do cadastro de todos os pacientes

do estado do Paraná que iniciam a terapia antirretroviral (TARV) ou que fazem

a troca desse esquema, auxiliando os farmacêuticos das Unidades

Dispensadoras de Medicamentos na avaliação das prescrições de

antirretrovirais (ARV). Fazem parte dessa avaliação: concordância com os

protocolos do Ministério da Saúde, posologia, interações medicamentosas,

preenchimento correto dos documentos, entre outros;

- logística de medicamentos: esse setor é o responsável pela

distribuição de ARV no estado do Paraná, fazendo parte de suas atribuições:

fechamento de mapa e boletim estadual para o Ministério da Saúde, solicitação

de ARV para o Departamento Nacional, avaliação dos estoques de

medicamentos em toda a rede (incluindo a verificação dos prazos de validade),

programação da distribuição de ARV para as UDMs por meio de mapas de

reposição mensal. Todo esse processo é realizado através do Sistema

Informatizado de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM). Além disso,

esse setor também é responsável por gerir os estoques de medicamentos para

tratamento das infecções oportunistas e outras intercorrências: seleção,

programação, aquisição e distribuição desses medicamentos para as UDMs do

estado (através de mapas mensais de reposição);

O CEMEPAR utiliza a estrutura organizacional das Seções de Insumo

Estratégicos (SCINEs) das vinte e duas (22) Regionais de Saúde (RS), para

realizar a distribuição desses medicamentos. Dentro de cada SCINE existe

uma Central de Abastecimento Farmacêutico (CAF) responsável pelo

recebimento e armazenamento dos medicamentos distribuídos pelo

CEMEPAR. Essas RS constituem, portanto parte integrante na

operacionalização do ciclo da Assistência Farmacêutica, pois são elas as

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responsáveis por fazer a distribuição para as farmácias das Secretarias

Municipais de Saúde (SMS) e dos Consórcios Intermunicipais de Saúde (CIS).

FIGURA 1 – ESTABELECIMENTOS FARMACÊUTICOS POR REGIONAL DE

SAÚDE – SESA-PR.

Fonte: Banco de dados da SESA-PR, 2016.

3.2 Elementos do plano de intervenção

A partir da definição do problema com o qual seria feito esse projeto,

foram levantados alguns dados para demonstrar a relevância do mesmo.

Assim, a partir dos dados contidos no banco da SESA-PR, foi possível

identificar: uma média de três ocorrências/mês de divergências entre o

quantitativo distribuído pelo CEMEPAR e o recebido pela UDM no ano de 2016;

quinze ocorrências de faltas de medicamentos nas UDMs de itens com estoque

no CEMEPAR em 2016; ajuste de estoque em quatorze itens do elenco de

antirretrovirais no último inventário de 2016.

Essas divergências acabam acarretando (em algum momento) em faltas

de antirretrovirais (ARV) nas UDMs, que podem levar à falha terapêutica aos

esquemas utilizados pelos pacientes, o que por sua vez pode acarretar em

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piora do status imunológico (e portanto, de saúde geral dos pacientes) bem

como a troca de ARV de custo mais levado para o sistema de saúde.

Para a definição do objetivo geral foi feita uma análise da imagem-

objetivo, ou seja, em qual cenário se pretende chegar após a execução desse

projeto de intervenção. Já para a definição dos objetivos específicos, foram

analisadas as principais causas que dão origem ao problema em questão, bem

como as consequências que o mesmo gera para os profissionais e para os

pacientes que fazem uso dos antirretrovirais.

Então, para cada objetivo específico, foram elaboradas operações e

ações que possibilitassem a obtenção do cenário proposto. A operação

consiste em “o que fazer” para modificar o problema em direção ao objetivo

geral. Dessa forma, cada operação poderá originar várias ações, as quais

podem ser chamadas de etapas necessárias para o alcance da operação, ou

seja, para as transformações necessárias. Assim, as operações e ações

propostas para este projeto de intervenção seguem sintetizadas no quadro 1.

QUADRO 1 – DESCRIÇÃO DAS OPERAÇÕES E AÇÕES DO PROJETO DE

INTERVENÇÃO.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS OPERAÇÕES AÇÕES

Elaborar um planejamento

anual participativo.

Realizar a aproximação

dos diferentes setores

envolvidos na logística

de antirretrovirais

através de um

planejamento anual

Levantar as demandas que o

CEMEPAR possui referentes à

distribuição de antirretrovirais.

Marcar uma reunião, convidando a

Coordenação Estadual de DST/Aids

do Paraná, o Departamento Estadual

de Assistência Farmacêutica (DEAF), o

Departamento Nacional de DST/Aids

e a equipe do CEMEPAR para a

realização do planejamento anual.

Marcar reuniões periódicas com os

setores envolvidos a fim de realizar

avaliação e os ajustes de condutas

referentes ao que foi planejado.

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OBJETIVOS ESPECÍFICOS OPERAÇÕES AÇÕES

Redesenhar a rede de

distribuição de

antirretrovirais do estado

do Paraná.

Reorganizar a rede de

distribuição do estado

do Paraná

Definir as vinculações das unidades

(UDM, Regional de Saúde, CEMEPAR,

Departamento Nacional) através de

uma reunião técnica com a

Coordenação Estadual de DST/Aids e

representantes das demais unidades.

Definir quais atores serão

responsáveis por quais ações no

processo logístico, através da

construção de uma planilha.

Solicitar suporte para o

Departamento Nacional de DST/Aids.

Contratar recursos humanos para o

almoxarifado do CEMEPAR.

Realizar um diagnóstico situacional

das Seções de Insumos Estratégicos

(SCINES) e das Unidades

Dispensadoras de Medicamentos

(UDMs) do estado (por

macrorregião), levantando as

principais demandas de cada uma.

Estruturar as SCINES (materiais,

mobiliário, computadores, etc.) para

que as mesmas possam atender essa

nova demanda.

Operacionalizar a nova

rede de distribuição do

estado do Paraná

Cadastrar as Regionais de Saúde (RS)

e suas Seções de Insumos

Estratégicos (SCINES) no Sistema

Informatizado de Controle Logístico

de Medicamentos (SICLOM).

Solicitar apoio a Coordenação

Estadual de DST/Aids do Paraná para

a realização de treinamento com as

SCINES, verificando a disponibilidade

de recursos (hospedagem,

alimentação, local, etc.)

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OBJETIVOS ESPECÍFICOS OPERAÇÕES AÇÕES

Realizar o treinamento com as

SCINES em parceria com a equipe do

SICLOM do Departamento Nacional

de DST/Adis

Marcar uma data para a ativação das

Regionais de Saúde no SICLOM,

fazendo com que os pedidos de

ressuprimento passem a ser feitos

pelas SCINES.

Aprimorar o conhecimento

dos atores envolvidos com

o processo logístico dos

medicamentos.

Promover ciclos de

treinamentos sobre

tratamento

antirretroviral.

Convidar infectologistas para

participarem dos treinamentos.

Agendar treinamentos com a equipe

interna do CEMEPAR.

Agendar treinamentos com as

equipes das Regionais de Saúde e

UDMs.

Fonte: O autor, 2017.

Na sequencia, foi desenvolvida a análise de viabilidade e de

factibilidade de cada ação proposta. Essa etapa é um diferencial no processo

de planejamento, pois traz à reflexão as situações sobre o que deve ser, mas

que por algum motivo não estão em condições de serem executadas,

representadas como déficit. Construir mecanismos para viabilizar estas ações e

operações são essenciais para que o projeto torne-se exequível (através das

chamadas ações estratégicas). A síntese da análise realizada referente às

ações propostas são apresentadas no quadro 2.

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QUADRO 2 – ANÁLISE DE FACTIBILIDADE E DE VIABILIDADE

Operação 1 : Realizar a aproximação dos diferentes setores envolvidos na logística de antirretrovirais através de

um planejamento anual

Ações

Análise de viabilidade (poder) Análise de factibilidade

Déficit

Atividade estratégica

decidir executar manter recursos

existentes recursos

necessários

Levantar as

demandas

que o

CEMEPAR

possui

referentes à

distribuição de

antirretrovirais

Sim Sim Sim Recursos materiais

Recursos materiais

Não -

Marcar uma

reunião,

convidando a

Coordenação

Estadual de

DST/Aids do

Paraná, o

Departamento

Estadual de

Assistência

Farmacêutica

(DEAF), o

Departamento

Nacional de

DST/Aids e a

equipe do

CEMEPAR

para a

realização do

planejamento

anual.

Sim Sim Sim

Local adequado. Recursos materiais

para registro em ata.

Local adequado. Recursos materiais

para registro em ata.

Participação dos demais

atores envolvidos.

Participação dos demais

atores envolvidos.

Sensibilizar os demais

atores envolvidos quanto à

importância dessa

reunião.

Marcar

reuniões

periódicas

com os

setores

envolvidos a

fim de realizar

avaliação e os

ajustes de

condutas

referentes ao

que foi

planejado.

Sim Sim Sim

Local adequado, Materiais

para registro em ata.

Local adequado, Materiais

para registro em ata,

Participação dos demais

atores envolvidos.

Participação dos demais

atores envolvidos.

Sensibilizar os demais

atores envolvidos quanto à

importância dessa

reunião.

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Operação 2: Reorganizar a rede de distribuição do estado do Paraná

Ações

Análise de viabilidade (poder) Análise de factibilidade

Déficit

Atividade estratégica

decidir executar manter Recursos existentes

Recursos necessários

Definir as

vinculações

das

unidades

através de

uma reunião

técnica com

a Coorde

nação

Estadual de

DST/Aids e

representan

tes das

demais

unidades.

Sim Sim Sim

Recursos materiais. Acesso ao

Siclom estadual.

Recursos materiais. Acesso ao

Siclom estadual.

Não -

Definir quais

atores serão

responsá

veis por

quais ações

no processo

logístico,

através da

construção

de uma

planilha.

Não Não Não

Recursos materiais. Recursos humanos.

Recursos materiais. Recursos humanos. Apoio dos

demais setores para

definição.

Apoio dos demais

setores para definição.

Sensibilizar a direção geral do

CEMEPAR sobre a

importância dessa

definição. Negociar com os demais atores

envolvidos as

responsabilidades

Solicitar

suporte para

o

Departamen

to Nacional

de

DST/Adis.

Sim Sim Sim

Contato com o

departamen to nacional.

Contato com o

Departamen to Nacional. Apoio desse departamen

to

Apoio do Departamen to Nacional

de DST/Aids

Sensibilizar os atores do Departamen to Nacional

sobre a importância

dessa reestrutura

ção

Contratação

de recursos

humanos

para o

almoxarifad

o do

CEMEPAR.

Não Não Não

Concurso para

contratação de RH

vigente.

Concurso para

contratação de RH

vigente. Alocação de

recursos financeiros. Identificação

do CEMEPAR como setor prioritário.

Alocação de recursos

financeiros.

Identificação do

CEMEPAR como setor prioritário.

Sensibilizar a direção geral da

SESA-PR e do DEAF-PR

sobre a questão de déficit de recursos

humanos e sua

importância.

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Ações

Análise de viabilidade (poder) Análise de factibilidade

Déficit

Atividade estratégica

decidir executar manter Recursos existentes

Recursos necessários

Realizar um

diagnóstico

situacional

das Seções

de Insumos

Estratégicos

(SCINES) e

das

Unidades

Dispensado

ras de

Medicamen

tos (UDMs)

do estado

(por

macrorre

gião),

levantando

as principais

demandas

de cada

uma.

Sim Não Não

Recursos humanos.

Recursos materiais.

Questionário

para diagnóstico situacional.

Recursos financeiros para visitas

técnicas.

Recursos humanos.

Recursos materiais.

Questionário

para diagnóstico situacional.

Recursos financeiros para visitas

técnicas

Sensibilizar o

coordenador de DST/Aids

estadual sobre a

importância do

diagnóstico situacional

para a reestrutura ção da rede

logística.

Negociar o apoio para realização das visitas técnicas.

Estruturar

as SCINES

(materiais,

mobiliário,

computador

es, etc) para

que as

mesmas

possam

atender

essa nova

demanda.

Não Não Não - Recursos

financeiros Recursos

financeiros

Sensibilizar a direção geral da

SESA-PR e do DEAF-PR

sobre as melhorias

nas estruturas

das SCINES. Negociar com as

Regionais de Saúde a

realização das

melhorias

Operação 3: Operacionalizar a nova rede de distribuição do estado do Paraná

Cadastrar

as

Regionais

de Saúde

(RS) e suas

Seções de

Insumos

Estratégicos

(SCINES)

no SICLOM.

Sim Sim Sim Recursos materiais.

Recursos materiais

Não -

Page 18: PROJETO DE INTERVENÇÃO PARA A REORGANIZAÇÃO DA … · a) Elaborar um planejamento anual participativo. b) Redesenhar a rede de distribuição de antirretrovirais do estado do

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Ações

Análise de viabilidade (poder) Análise de factibilidade

Déficit

Atividade estratégica

decidir executar manter Recursos existentes

Recursos necessários

Solicitar

apoio a

Coordena

ção

Estadual de

DST/Aids do

Paraná para

a realização

de

treinamento

com as

SCINES,

verificando a

disponibilida

de de

recursos

(hospeda

gem,

alimentação,

local, etc.)

Sim Não Não -

Recursos financeiros. Recursos humanos.

Recursos financeiros. Recursos humanos

Sensibilizar o

coordenador de DST/Aids

estadual sobre a

importância desses

treinamentos

Negociar com o

mesmo o recurso

necessário para a

realização dos

treinamentos.

Realizar o

treinamento

com as

SCINES em

parceria

com a

equipe do

SICLOM do

Departamen

to Nacional

de DST/Adis

Sim Não Não Orientador

para o treinamento.

Recursos financeiros e

materiais. Recursos humanos. Espaço físico.

Orientador para o

treinamento. Apoio do

Departamen to Nacional

Recursos financeiros e

materiais. Recursos humanos. Espaço físico.

Apoio do Departamento Nacional

Negociar com a

coordenação estadual de DST/Aids a estrutura

necessária para a

realização do

treinamento. Negociar o apoio do

Departamen to Nacional.

Marcar uma

data para a

ativação das

Regionais

de Saúde no

SICLOM,

fazendo

com que os

pedidos de

ressuprimen

to passem a

ser feitos

pelas

SCINES.

Sim Sim Sim -

Etapas anteriores do planejamen

to concluídas

com sucesso.

Etapas anteriores do planejamen

to concluídas

com sucesso.

Acompanhar a execução

do planejamen

to.

Page 19: PROJETO DE INTERVENÇÃO PARA A REORGANIZAÇÃO DA … · a) Elaborar um planejamento anual participativo. b) Redesenhar a rede de distribuição de antirretrovirais do estado do

19

Operação 4: Promover ciclos de treinamentos sobre tratamento antirretroviral.

Ações

Análise de viabilidade (poder) Análise de factibilidade

Déficit

Atividade estratégica

decidir executar manter Recursos existentes

Recursos necessários

Convidar

infectologis

tas para

participarem

dos

treinamen

tos.

Sim Sim Sim

Contatos de infectologista

s experientes.

Contatos de infectologista

s experientes.

Não

-

Agendar

treinamen

tos com a

equipe

interna do

CEMEPAR.

Sim Não Não

Recursos materiais. Espaço físico.

Recursos financeiros. Recursos materiais. Espaço físico.

Orientador para o

treinamento.

Recursos financeiros.

Orientador

para o treinamento.

Negociar com a

coordenação estadual de DST/Aids a alocação de

recursos para a

realização de

treinamentos

Negociar com os

infectologis tas a

orientação nos

treinamentos

Agendar

treinamen

tos com as

equipes das

Regionais

de Saúde e

UDMs.

Sim Não Não Recursos materiais.

Recursos financeiros. Recursos materiais. Espaço físico.

Orientador para o

treinamento.

Recursos financeiros.

Espaço físico.

Orientador para o

treinamento.

Negociar com a

coordenação estadual de DST/Aids a alocação de

recursos para a

realização de

treinamentos

Negociar com os

infectologis tas a

orientação nos

treinamentos

Fonte: O autor, 2017.

Após a definição das ações, é necessário definir os prazos e os

recursos financeiros para a execução das mesmas. Essas informações serão

apresentadas nos apêndices deste projeto.

Page 20: PROJETO DE INTERVENÇÃO PARA A REORGANIZAÇÃO DA … · a) Elaborar um planejamento anual participativo. b) Redesenhar a rede de distribuição de antirretrovirais do estado do

20

3.3 Fragilidades e oportunidades

Sobre as ações que não possuem déficit, ficou claro que são as ações

de organização/planejamento as quais não demandam muitos recursos. Já as

demais ações, principalmente as que demandam recursos financeiros e

recursos humanos acabam fugindo da governabilidade dos atores envolvidos.

Nesse caso, a estratégia adotada é sensibilizar os gestores das diferentes

áreas de atuação sobre a importância das ações que serão desenvolvidas. Por

exemplo, ao sensibilizar o coordenador estadual sobre a importância da

realização de capacitações, seria possível utilizar parte dos recursos dessa

esfera de gestão para financiar alguns treinamentos.

A parceria entre a Assistência Farmacêutica e a Coordenação Estadual

de DST/Aids é um ponto crucial para a execução desse projeto. De fato já

existe uma parceira no nível técnico com troca de informações entre esses

setores. A assistência farmacêutica repassa informações sobre os tratamentos

dos pacientes com HIV e Aids enquanto recebe atualizações dos dados

epidemiológicos, o cenário atual da epidemia e os objetivos que se pretende

atingir.

Porém, do ponto de vista político, essa relação ainda é muito distante.

Com a aproximação proposta por essa intervenção será possível alinhar as

condutas dos dois setores (em prol de objetivos comuns) bem como fomentar a

execução desse projeto e de outros que poderão surgir, fortalecendo as ações

relacionadas às DSTs, Aids e hepatites virais.

A contratação de recursos humanos é outro ponto que vai demandar

muita negociação, pois será necessário sensibilizar vários gestores de

diferentes níveis hierárquicos quanto à relevância dessa ação, fazendo-se

necessário a utilização de várias ferramentas de gestão para contornar os

conflitos.

Para a construção desse projeto de intervenção, foi utilizada a

metodologia do Planejamento Estratégico Situacional (PES). O PES é uma

ferramenta que propõe identificar e intervir sobre problemas de saúde da

população, cuja delimitação resulta de negociação e consenso entre distintos

modos de entender a saúde. O planejamento focaliza problemas de uma

realidade, sobre a qual se pretende agir. A resolução dos problemas depende

da disponibilidade e do acesso a recursos, mas também da viabilidade política.

Page 21: PROJETO DE INTERVENÇÃO PARA A REORGANIZAÇÃO DA … · a) Elaborar um planejamento anual participativo. b) Redesenhar a rede de distribuição de antirretrovirais do estado do

21

O PES, nesse sentido, considera a realidade social complexa e imprevisível, o

que requer leituras e intervenções de natureza intersetorial. Ao mesmo tempo,

reconhece especificidades inerentes à localização no tempo e no espaço de

cada problema, que lhe confere dinâmicas e significados particulares, exigindo

formas próprias de abordagem (KLEBA et al, 2011).

Utilizar esse método para realizar o planejamento também é um fator

positivo, pois devido as suas características dinâmicas, flexíveis e adaptáveis

às mudanças da realidade, o PES permite que a qualquer momento esse

projeto seja reavaliado e readequado a um novo cenário que por ventura possa

surgir durante a sua execução.

3.4 Processo de avaliação

Para acompanhar a execução desse projeto, tornando-o atual à medida

que a realidade acontece, é necessário realizar o monitoramento das ações e a

avaliação do impacto na organização do serviço de forma simultânea e

permanente à execução do mesmo, possibilitando o seu redesenho sempre

que for necessário, no sentido de que a intervenção proposta na realidade seja

a mais adequada possível.

Foi necessário, portanto, o estabelecimento de indicadores de

monitoramento e avaliação para o acompanhamento de sua execução. A

construção do protocolo de indicadores foi uma etapa relativamente complexa,

pois a definição do melhor indicador para determinada operação/ação e sua

respectiva periodicidade é algo muitas vezes subjetivo, principalmente no que

diz respeito à validade e factibilidade dos critérios propostos. Após toda essa

análise, o protocolo de indicadores das operações foi definido, como

apresentado no quadro 3.

Page 22: PROJETO DE INTERVENÇÃO PARA A REORGANIZAÇÃO DA … · a) Elaborar um planejamento anual participativo. b) Redesenhar a rede de distribuição de antirretrovirais do estado do

22

QUADRO 3 – PROTOCOLO DE INDICADORES DE AVALIAÇÃO DO PROJETO DE

INTERVENÇÃO

Operação Indicador Cálculo Periodicidade

de coleta

Fonte de

verificação

Realizar a aproximação dos diferentes setores envolvidos

na logística de antirretrovirais através de um

planejamento anual

Realização de

planejamento anual

Não Anual Ata interna da

reunião de

planejamento.

Reorganizar a rede de distribuição do estado do

Paraná

% de regionais de

saúde (RS)

preparadas para

operarem no novo

sistema de

distribuição de

antirretrovirais.

Nº de RS

preparadas para

operarem no

novo sistema ÷

Nº total de RS

do estado x 100

Mensal Emails

confirmatórios

dos

farmacêuticos

responsáveis

técnicos de

cada regional.

Operacionalizar a nova rede de distribuição do estado do

Paraná

% de regionais de

saúde (RS)

operando no novo

sistema de

distribuição de

antirretrovirais.

Nº de RS

operando no

novo sistema ÷

Nº total de RS

do estado x 100

Mensal Rede de

distribuição do

sistema

informatizado

SICLOM.

Promover ciclos de treinamentos sobre

tratamento antirretroviral.

% de servidores

treinados

Nº de servidores

que

participaram dos

treinamentos no

período de 6

meses ÷

Nº total de

servidores alvo

x 100

Semestral Lista de

frequência dos

treinamentos

no período de

6 meses.

Fonte: O autor, 2017.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do presente trabalho foi possível construir um projeto de

intervenção para melhoria de um cenário negativo dentro da assistência

farmacêutica das pessoas vivendo com HIV/Aids (desestruturação do sistema

logístico de antirretrovirais) através da utilização das ferramentas

metodológicas do Planejamento Estratégico Situacional (PES).

Durante o desenvolvimento deste projeto, foi possível verificar que

essas ferramentas podem auxiliar muito todos os profissionais de saúde no

planejamento de suas ações no dia a dia de trabalho. Como o PES é dinâmico,

aceita a opinião de todos os envolvidos, traça um foco e define o que será feito

pra reverter a situação de dificuldade, ele pode ser muito útil na resolução de

alguns dos problemas relacionados à Política de DST/Aids e Hepatites Virais,

que de uma forma geral, são complexos e que o planejamento tradicional

Page 23: PROJETO DE INTERVENÇÃO PARA A REORGANIZAÇÃO DA … · a) Elaborar um planejamento anual participativo. b) Redesenhar a rede de distribuição de antirretrovirais do estado do

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(normativo) muitas vezes não dá conta de solucionar. A chance de sucesso de

um projeto de intervenção baseado nesse tipo de planejamento é maior, pois é

possível conseguir um maior comprometimento dos atores envolvidos em favor

da imagem-objetivo desejada.

A parte de avaliação é um ponto fundamental desse projeto, pois

permite verificar se tudo o que foi planejado está ocorrendo conforme o

esperado e o que se pode fazer para corrigir os problemas, caso os resultados

obtidos não estejam sendo aqueles pré-determinados.

No entanto, a principal fragilidade desse projeto é conseguir sensibilizar

diferentes atores de diferentes setores (e de diferentes esferas de gestão)

quanto à importância das ações propostas, pois como muitas delas estão fora

da área de governabilidade do setor de logística de medicamentos de HIV/Aids

do CEMEPAR, as mesmas só serão executadas se forem obtidos sucessos

durante esse trabalho de sensibilização. Será fundamental, portanto para o

sucesso desse projeto o uso das ferramentas de negociação e da gestão de

conflitos.

A partir desse projeto, pretende-se, portanto reorganizar a rede de

distribuição de antirretrovirais do estado do Paraná, seguindo o cronograma

pré-estabelecido e monitorando sua execução através dos indicadores

definidos. Assim será possível melhorar o acesso aos antirretrovirais, a

qualidade da assistência prestada às pessoas vivendo com HIV/AIDS no

estado do Paraná e consequentemente a uma melhor qualidade de vida para

as mesmas.

Page 24: PROJETO DE INTERVENÇÃO PARA A REORGANIZAÇÃO DA … · a) Elaborar um planejamento anual participativo. b) Redesenhar a rede de distribuição de antirretrovirais do estado do

24

REFERÊNCIAS

BRASIL, 1996. Lei n. 9.313, de 13 de novembro de 1996. Dispõe sobre a distribuição gratuita de medicamentos aos portadores do HIV e doentes de AIDS. Brasília, 13 de novembro de 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9313.htm>. BRASIL, 1999. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Coordenação Nacional de DST e AIDS. Política Nacional de DST/AIDS: princípios e diretrizes. 1. ed. Brasília, 1999. BRASIL, 2002. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria n. 1.131, de 18 de junho de 2002. Regulamento Técnico Mercosul Sobre Boas Práticas de Distribuição de Produtos Farmacêuticos. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, 2002. BRASIL, 2004. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n. 338, de 6 de maio de 2004. Aprova a política nacional de Assistência Farmacêutica, estabelecida com base nos princípios constantes no anexo desta portaria. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, 2004. BRASIL, 2010. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais. Protocolo de assistência farmacêutica em DST/HIV/AIDS: recomendações do Grupo de Trabalho de Assistência Farmacêutica Ministério da Saúde. Brasília, 2010. BRASIL, 2012. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais. Relatório de Progresso da Resposta Brasileira ao HIV/AIDS (2010-2011). Brasília, 2012. BRASIL, 2013a. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção pelo HIV em adultos. Brasília, 2013. BRASIL, 2013b. Portaria conjunta n. 1 de 16 de janeiro de 2013. Altera na Tabela de Serviço Especializado no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (SCNES), o Serviço 106 - Serviço de Atenção a DST/HIV/AIDS, e institui o Regulamento de Serviços de Atenção às DST/HIV/AIDS, que define suas modalidades, classificação, organização das estruturas e o funcionamento. Brasília, 2013. Disponível em: <http://www.AIDS.gov.br/sites/default/files/anexos/legislacao/2013/52759/portaria_conjunta_n_1_pdf_11435.pdf>. Acesso em 10 fev.2015. CIT, 1999. Comissão Intergestora Tripartite. Ata da reunião realizada no dia 28 out. 1999. Brasília, 1999.

Page 25: PROJETO DE INTERVENÇÃO PARA A REORGANIZAÇÃO DA … · a) Elaborar um planejamento anual participativo. b) Redesenhar a rede de distribuição de antirretrovirais do estado do

25

DDAHV. História da AIDS. Departamento Nacional de DST/AIDS/Hepatites Virais. Disponível em: http://www.AIDS.gov.br/pagina/historia-da-AIDS. Acesso em 25 mar. 2015. KLEBA, M. E.; KRAUSER, I. M.; VENDRUSCOLO, C. O planejamento estratégico situacional no ensino da gestão em saúde da família. Contexto Enfermagem, Florianópolis, v.20, n.1, p. 184-193, jan./mar. 2011. MEINERS, C. M. M. de A. Patentes farmacêuticas e saúde pública: desafios à política brasileira de acesso ao tratamento antirretroviral. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24(7), p.1467-1478, jul, 2008. OLIVEIRA, M. A.; BERMUDEZ, J. A. Z.; OSÓRIO-DE-CASTRO, C. G. S. Assistência Farmacêutica e acesso a medicamentos. Rio de Janeiro: editora Fiocruz, 2007. SAKITA, K. M. Avaliação da implantação do Sistema de Controle Logístico de Medicamentos/AIDS: O caso do Distrito Federal. Rio de Janeiro, 2012. 87f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca. SOUSA, A. M.; LYRA, A.; ARAÚJO, C. C. F.; PONTES, J. L.; FREIRE, R. C.; PONTES, T. L. A política de AIDS no Brasil: uma revisão de literatura. Journal of Management and Primary Health Care. v. 3, n.1, p. 62-66, 2012. UNAIDS. Brasil avança no cumprimento da meta 90-90-90. Disponível em: http://zerodiscriminacao.org.br/noticias/brasil-avanca-no-cumprimento-da-meta-90-90-90/. Acesso em 24 mar. 2015.

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APÊNDICES

a) Cronograma

Cronograma 2017

Ações JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Levantar as demandas que o

CEMEPAR possui referentes à

distribuição de antirretrovirais. X X

Marcar uma reunião, convidando

a Coordenação Estadual de

DST/Aids do Paraná, o

Departamento Estadual de

Assistência Farmacêutica

(DEAF), o Departamento

Nacional de DST/Aids e a equipe

do CEMEPAR para a realização

do planejamento anual.

X

Marcar reuniões periódicas com

os setores envolvidos a fim de

realizar avaliação e os ajustes de

condutas referentes ao que foi

planejado

X

X

Definir as vinculações das

unidades (UDM, Regional de

Saúde, CEMEPAR,

Departamento Nacional) através

de uma reunião técnica com a

Coordenação Estadual de

DST/Aids e representantes das

demais unidades.

X X

Definir quais atores serão

responsáveis por quais ações no

processo logístico, através da

construção de uma planilha.

X X

Solicitar suporte para o

Departamento Nacional de

DST/Adis. X X

Contratar recursos humanos para

o almoxarifado do CEMEPAR. X

Realizar um diagnóstico

situacional das Seções de

Insumos Estratégicos (SCINES)

e das Unidades Dispensadoras de

Medicamentos (UDMs) do

estado (por macrorregião),

levantando as principais

demandas de cada uma.

X X X

Estruturar as SCINES (materiais,

mobiliário, computadores, etc.)

para que as mesmas possam

atender essa nova demanda.

X X X

Page 27: PROJETO DE INTERVENÇÃO PARA A REORGANIZAÇÃO DA … · a) Elaborar um planejamento anual participativo. b) Redesenhar a rede de distribuição de antirretrovirais do estado do

27

Cadastrar as Regionais de Saúde

(RS) e suas Seções de Insumos

Estratégicos (SCINES) no

Sistema Informatizado de

Controle Logístico de

Medicamentos (SICLOM).

X X

Solicitar apoio a Coordenação

Estadual de DST/Aids do Paraná

para a realização de treinamento

com as SCINES, verificando a

disponibilidade de recursos

(hospedagem, alimentação, local,

etc.)

X X

Realizar o treinamento com as

SCINES em parceria com a

equipe do SICLOM do

Departamento Nacional de

DST/Aids

X X

Marcar uma data para a ativação

das Regionais de Saúde no

SICLOM, fazendo com que os

pedidos de ressuprimento passem

a ser feitos pelas SCINES.

X X

Convidar infectologistas para

participarem dos treinamentos. X

Agendar treinamentos com a

equipe interna do CEMEPAR. X X

Agendar treinamentos com as

equipes das Regionais de Saúde

e UDMs. X X

b) Orçamento

Ação Custo (R$) Fonte

Realizar um diagnóstico situacional das Seções de Insumos Estratégicos (SCINES) e das Unidades Dispensadoras de Medicamentos (UDMs) do estado (por macrorregião), levantando as principais demandas de cada uma.

5.000 Recursos da Coordenação Estadual de DST/Aids

Estruturar as SCINES (materiais, mobiliário, computadores, etc.) para que as mesmas possam atender essa nova demanda.

50.000 Recursos da Assistência Farmacêutica Estadual

Realizar o treinamento com as SCINES em parceria com a equipe do SICLOM do Departamento Nacional de DST/Adis

20.000 Recursos da Coordenação Estadual de DST/Aids

Agendar treinamentos com a equipe interna do CEMEPAR. 5.000 Recursos da Assistência Farmacêutica Estadual

Agendar treinamentos com as equipes das Regionais de Saúde e UDMs.

20.000 Recursos da Coordenação Estadual de DST/Aids

Total 100.000