impulso À proficiÊncia - ufmg€¦ · plinas inglês para fins acadêmicos (ifa) e português...

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Lara Marques/UFMG N o 2.020 - Ano 44 - 18 de junho de 2018 Recém-aprovada pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), a Política Línguística da UFMG consolida os esfor- ços feitos pela instituição para oferecer à comunidade acesso ao ensino de línguas e possibi- lidades de difusão internacional de sua produção acadêmica. Página 3 IMPULSO À PROFICIÊNCIA Professores analisam Passagens, de Walter Benjamin, obra relançada pela Editora UFMG Páginas 4 e 5

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No 2.020 - Ano 44 - 18 de junho de 2018

Recém-aprovada pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), a Política Línguística da UFMG consolida os esfor-ços feitos pela instituição para oferecer à comunidade acesso ao ensino de línguas e possibi-lidades de difusão internacional de sua produção acadêmica.

Página 3

IMPULSO À PROFICIÊNCIA

Professores analisam Passagens, de Walter Benjamin, obra relançada pela Editora UFMGPáginas 4 e 5

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18.6.2018 Boletim UFMG2

Opinião

Esta página é reservada a manifestações da comunidade universitária, por meio de artigos ou cartas. Para ser publicado, o texto deverá versar sobre assunto que envolva a Universidade e a comunidade, mas de enfoque não particularizado. Deverá ter de 5.000 a 5.500 caracteres (com espaços) e indicar o nome completo do autor, telefone ou correio eletrônico de contato. A publicação de réplicas ou tréplicas ficará a critério da redação. São de responsabilidade exclusiva de seus autores as opiniões expressas nos textos. Na falta destes, o BOLETIM encomenda textos ou reproduz artigos que possam estimular o debate sobre a universidade e a educação brasileira.

Uma breve INCURSÃO aos primórdios do ICB

Pedro Marcos Linardi*

*Professor emér i to . É v incu lado ao Departamento de Parasitologia do ICB

No início dos anos 1970, sete dos nove departamentos do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) funciona-

vam no prédio da Faculdade de Medicina, excetuando-se os de Biologia Geral, que ficava na antiga Fafi, e o de Botânica, juntamente com o Setor de Zoologia do então Departamento de Zoologia e Para-sitologia, instalados no Museu de História Natural e Jardim Botânico. Na Faculdade, pouco antes dos horários das aulas, longas filas formavam-se defronte às portas dos dois elevadores, especialmente quando faltava energia no prédio ou quando o ascensorista, Olivier, anunciava algum defei-to nos elevadores. Essa situação acabava por favorecer a comunicação entre as pessoas.

Cada departamento contava apenas com uma linha telefônica. Na Parasitologia, o aparelho ficava na Secretaria, e, apesar do controle e vigilância, quase sempre suas altas contas, incluindo excessivos interur-banos, consistiam no principal assunto das reuniões departamentais. Posteriormente, soube-se que, mesmo com o dial trancado, algumas pessoas conseguiam completar suas ligações, dedilhando no interruptor vários to-ques correspondentes ao número desejado.

Todos os professores recebiam, anual-mente, dois aventais brancos de manga com-prida, com a sigla ICB, bordada, em azul ou vermelho, sobre o bolso esquerdo superior. Nas salas de aulas, os quadros eram negros e não azuis ou verdes, ou lisos e brancos como os de hoje, com o giz substituído pelo pincel atômico. Naquele tempo, os projeto-res de slides eram manuais e retangulares e, posteriormente, providos de carrossel circular giratório e manejados por contro-le remoto, com os slides confeccionados pela dupla Marcos/Paulinho. Atualmente, estão eles sendo substituídos por aparelhos “multimídia”.

Os textos, exercícios e provas eram encaminhados à gráfica, onde o senhor Wilson comandava as impressões à tinta.

graduação, muitas vezes aplicadas à noite, motivavam boas confraternizações logo após o seu término: o pessoal concentrava-se num barzinho localizado em um posto de gasolina, defronte ao prédio da Facul-dade. As defesas de “teses” e seminários despertavam grande interesse. A pesquisa, fortemente impulsionada pelos cursos de pós-graduação, motivou a realização do 1º Encontro de Pesquisa do ICB, em 1971, com números expressivos de trabalhos inscritos e participantes. À época, vários docentes re-cebiam convites para também apresentarem os seus trabalhos em reuniões da Sociedade Mineira de Biologia, realizadas regularmente na Faculdade. Intercâmbio de artigos publi-cados fazia-se por meio de cartões especiais. O número de cartões recebidos indicava a abrangência e o impacto desses artigos.

Por fim, é importante salientar que o ICB dos primeiros tempos caracterizou-se como uma instituição de grande integração e convívio entre professores, funcionários e estudantes, numa época em que as relações eram pessoais, diretas, e a vida, mais hu-mana, haja vista a participação ativa de seu pessoal em diversas festas, torneios, sessões cinematográficas, jogos de baralho, compe-tições esportivas (futebol, futebol de salão, tênis de mesa e até tiro ao alvo). Ainda não existiam TV em cores e a cabo, videocasse-tes, DVDs, antenas parabólicas, computa-dores individuais, telefone celular, internet, smart phones, pendrives e WhatsApps. O BOLETIM auxiliava a interação de pessoas graças às notícias veiculadas: portarias, homenagens, promoções, defesas de te-ses, afastamentos, aniversariantes e até casamentos. Todos eram jovens, vibrantes e idealistas. É uma pena que as atribulações do mundo moderno, o avanço dos recursos eletrônicos, a multiplicidade de atividades e a cobrança cada vez mais intensa de tarefas tenham arrefecido os entusiasmos de outrora!

As dissertações de mestrado, então chama-das de “teses”, inicialmente datilografadas em máquinas comum, passaram a ser di-gitadas nas elétricas, IBM ou Olivetti, hoje também esquecidas. Não se faziam ainda fotocópias no ICB, onde atualmente impres-soras de computadores realizam cópias de boa qualidade. As encadernações, tais como livros, não eram feitas com argolas e capas de plástico.

A admissão dos docentes realizava-se mediante indicação ou seleção de ex-estagiários ou monitores. Com o advento da pós-graduação, esses docentes foram os primeiros alunos admitidos nos cursos, diferentemente do procedimento atual, em que o doutorado é pré-requisito para pre-enchimento de vaga. Os primeiros quadros, essencialmente endógenos, incluíam, assim, poucos professores com o título de doutor.

A carreira docente compreendia as categorias de auxiliar de ensino, assisten-te, adjunto e titular, com os assistentes perfazendo 71% do total. A idade média dos professores era de 38,5 anos, porém, considerando-se apenas os assistentes, essa média caía para 27-28 anos. Quatro eram também os regimes de trabalho: 12h, 24h, 48h e DE, este último incluindo um maior número de professores, chegando até a ha-ver um órgão especial para administrá-lo, a Copertide (Comissão Permanente de Tempo Integral e Dedicação Exclusiva), da qual o professor Ênio Cardillo Vieira era presidente. Os contracheques continham duas folhas, uma relativa ao vencimento básico e outra referente à complementação salarial confor-me o regime trabalhado, impressas em papel verde ou amarelo, aplicando-se os seguintes valores para remuneração: 12h (x), 24h (2x), 40h (4x), DE (4x+20%).

As chefias de departamentos e as coorde-nações de cursos eram exercidas pelos mais graduados ou experientes. Ao contrário de hoje, a coordenação de graduação era uma função de prestígio. As provas dos cursos de

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3 Boletim UFMG 18.6.2018

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GOacesso democrático ao ensino de línguas e a di-fusão internacional das produções intelectual, científica, artística e cultural desenvolvidas na

Universidade estão entre os princípios da Política de Linguística da UFMG, recém-instituída pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). De caráter permanente, a política será coordenada por comitê designado pela Reitoria e vinculado à Diretoria de Relações Internacionais (DRI).

“A UFMG está à frente neste quesito e demonstra o compromisso institucional de oferecer oportunidades igualitárias de acesso ao conhecimento”, comenta a reitora Sandra Goulart Almeida, destacando a impor-tância da iniciativa, baseada em trajetória de quase cinco décadas de capacitação linguística de discentes, servidores docentes e técnico-administrativos realizada pela Universidade.

Segundo a coordenadora de proficiência linguística da DRI, professora Climene Arruda, para a UFMG, o letramento acadêmico perpassa a educação de qua-lidade em seus diversos níveis e modalidades. “Nos últimos anos, o acesso ao estudo de português para fins acadêmicos e a línguas adicionais àquelas que o estudante já domina – entre elas a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e diversas outras utilizadas em pesquisas científicas e no comércio exterior – tem sido amplia-do por meio de ações promovidas pela Universidade e pela nossa participação em projetos nacionais”, diz ela, acrescentando que a instituição da Política Linguística consolida ações adotadas em dife-rentes iniciativas, como a oferta de cursos pelo Centro de Extensão (Cenex) da Faculdade de Letras (Fale), desde a década de 1970.

LetramentoClimene Arruda ressalta que a criação de disciplinas com

propósitos específicos tem posto a UFMG em destaque no país, com a oferta regular, na modalidade on-line ou presencialmente, a alunos de graduação e de pós-graduação, de disciplinas como Inglês instrumental, Oficina de língua portuguesa: leitura e produção de textos, Inglês para fins acadêmicos, Português como língua adicio-nal, Inglês técnico, Espanhol para turismo e Francês para turismo.

Essa oferta, afirma a professora, “tem sido propulsora do letra-mento acadêmico e do processo de internacionalização liderado pela DRI”. Segundo ela, as disciplinas on-line de inglês instrumental (níveis I e II), oferecidas pela Faculdade de Letras, atendem apro-ximadamente a três mil alunos por semestre. Com o intuito de incrementar as ações de internacionalização na UFMG, também são ofertadas, desde o primeiro período letivo de 2013, as disci-plinas Inglês para Fins Acadêmicos (IFA) e Português como Língua Adicional (PLA). A primeira tem média semestral de 300 alunos, e a segunda, 80.

A oferta da disciplina Oficina de língua portuguesa: leitura e produção de textos, que réune cerca de 650 alunos por semestre, tem o intuito de aperfeiçoar a formação acadêmico-científica de estudantes da UFMG, habilitando-os como leitores e produtores

Transpondo FRONTEIRASPolítica consolida esforços de capacitação linguística empreendidos historicamente pela UFMG

Ana Rita Araújo

dos principais gêneros acadêmicos. No âmbito nacional, a UFMG participa do Programa Idiomas sem Fronteiras, que oferece cursos on-line, presenciais e testes de proficiência.

Mobilidade internacionalAlém de propor e desenvolver programas e projetos direcionados

ao letramento acadêmico e à formação linguística da comunidade acadêmica, são objetivos da Política proporcionar formação conti-nuada de profissionais da educação básica, em especial aqueles que atuam na área de ensino de idiomas, e contribuir para a inserção da produção da comunidade acadêmica em veículos internacionais de relevância, inclusive por meio da tradução, para diferentes línguas, de trabalhos científicos e artísticos.

A nova política também deverá apoiar ações que favoreçam a mobilidade internacional de estudantes de graduação e de pós-graduação e de servidores docentes e técnico-administrativos da UFMG, bem como a recepção de membros da comunidade externa.

A resolução do Cepe determina, entre os princípios da Política, o acesso democrático ao ensino de línguas, o respeito à diversidade linguística, a convivência harmônica de comunidades plurilíngues e a cooperação equitativa entre instituições para o acesso ao co-nhecimento linguístico.

As normativas que vão indicar metas e regulamentar ações para o fortalecimento da nova política serão estabelecidas por comitê, formado por dez membros: o diretor da DRI e nove professores da Fale, sendo um representante de cada uma das seguintes áreas: alemão, espanhol, francês, inglês, italiano, Libras, português como língua adicional, português e literatura brasileira.

De acordo com a professora Climene Arruda, embora o esta-belecimento da Política atenda à sugestão do Programa Idiomas sem Fronteiras, do Ministério da Educação, a instituição do comitê é uma iniciativa da UFMG.

Climene: criação de disciplinas específicas favorece letramento e internacionalização

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18.6.2018 Boletim UFMG4

Livro: Passagens (caixa com três volumes)

Autor: Walter Benjamin

Tradução do francês: Cleonice Paes Barreto Mourão

Tradução do alemão: Irene Aron

Editora UFMG

1.752 páginas / R$ 220

Em 2007, a Editora UFMG publicou uma tradução de Pas-sagens, obra-prima em que Walter Benjamin (1892-1940) busca perscrutar a nova ordem de sociabilidade imple-

mentada pela burguesia na modernidade. Esgotada há tempos, a tradução do livro – que talvez só tenha ficado para a posteridade em razão de o escritor francês Georges Bataille (1897-1962) tê-lo guardado na Biblioteca Nacional da França, preservando-o dos horrores da Segunda Guerra Mundial, aos quais o próprio Benjamin não escapou – finalmente ganhou nova edição neste ano, desta vez organizada em caixa com três volumes, mais adequados para com-portar o caráter monumental dos fragmentos do pensador alemão.

Para destacar a importância do livro, o BOLETIM convidou os professores Rodrigo Duarte, do Departamento de Filosofia, Heloísa Starling, do Departamento de História, e Georg Otte, da Faculdade de Letras, para escreverem breves depoimentos. Rodrigo Duarte apresenta panorama da penetração do pensamento de Benjamin em diferentes áreas do conhecimento, enquanto Georg Otte relembra o sentido do termo “passagens” e os conjuntos temáticos tratados

OBRA EM ‘OBRAS’Editora UFMG relança Passagens, livro que Walter Benjamin almejou ser uma arqueologia da modernidade cultural, baseada em suas origens na França do século 19

Ewerton Martins Ribeiro

nos volumes, como a moda, o flâneur, a prostituta, o jogador, a metrópole e o consumo.

Para Walter Benjamin, a relação entre o tempo e a história se dá por meio de correspondências, em uma espécie de constelação de estrelas soltas que, em algum momento (o presente), formam um desenho. Em seu depoimento, Heloísa Starling aborda a arte de escrever a história com imagens – desenvolvida pelo filósofo alemão –, o que torna Passagens uma das obras historiográficas mais significativas de todos os tempos.

Clássico foi relançado em caixa com três volumes, divisão mais adequada para comportar o caráter monumental dos fragmentos de Walter Benjamin

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5 Boletim UFMG 18.6.2018

Leitor de vestígiosGeorg Otte

Passagens, sem dúvida, é a principal obra de Walter Benjamin, apesar – ou por causa – de seu caráter inacabado. É uma obra “em obras”, como sugere também seu título do original alemão (Das Passagen-Werk), uma coleção gigantesca de fragmentos que tra-tam da cidade de Paris e de suas “passagens”, isto é, suas galerias comerciais. Nelas se moviam, ou melhor, passavam os moradores da capital francesa da primeira metade do século 19; no anonimato urbano, tudo era passageiro, assim como a “passante”, do poema de Charles Baudelaire (1821-1867) [leia no boxe abaixo]. Em Passagens, o leitor pode flanar pelos fragmentos. Em um deles, seu autor, que, na verdade, é um colecionador, não tem “nada a dizer. Somente a mostrar”. É como se cada um dos conjuntos temáticos dessa obra – sobre o próprio Baudelaire, sobre a moda, a iluminação das ruas etc. – fosse uma dessas galerias, e como se cada fragmento fosse uma vitrine convidando o leitor a dar uma olhada. Para Benjamin, ler e ver se confundem, e se ele compara o flâneur ao detetive, é por-que, por trás da sua aparente indolência, esconde-se um observador atento que se dedicou à leitura dos vestígios da metrópole moderna.

A uma passanteCharles Baudelaire

A ensurdecedora rua em torno uivava.Longa, esbelta, enlutada, uma dor majestosa,Passava uma mulher, que com a mão faustosa,O festão e a bainha erguia e balançava,

Ágil e nobre, com a perna escultural.

Eu sorvia, crispado como um beberrão,

Em seu olhar, céu lívido de furacão,

O dulçor que fascina e o prazer mortal.

Um raio... a noite cai! — Fugitiva beldadeCujo olhar me causou um renascer dos dias,Não te verei jamais, senão na eternidade?

Alhures, não aqui! Tarde! Talvez jamais!Pois não sabes de mim, eu não sei aonde vais,Ó tu que eu amaria, ó tu que o sabias!(Tradução de Mário Laranjeira)

História dos vencidosNo fim da vida, Walter Benjamin escreveu 18 teses fragmentárias sobre o conceito de história. Na época, o filósofo tentava fugir para a Es-

panha, uma vez que a França estava sendo invadida pelas tropas nazistas. Nas teses, Benjamin critica os modelos historiográficos vigentes e se opõe a um ideal positivista de progresso, fundamentado na concepção linear e contínua do tempo. Como alemão judeu, Benjamin se interessava por pensar a história do ponto de vista dos vencidos, ou seja, a história não como algo determinado, mas como campo aberto às possibilidades, às inflexões, ao novo, ao imprevisto: em seu horizonte, estava a possibilidade de os vencidos construírem, no presente e por meio da ação, um futuro diferente daquele que se apresentava como pré-determinado pelas conjunturas.

Retorno das possibilidades perdidasHeloísa Starling

“Não tenho nada a dizer. Somente a mostrar”. O fragmento, que já ocupou um lugar de destaque na estética barroca e foi consagra-do pelos primeiros românticos alemães como um gênero estilístico, constitui igualmente uma forma própria de escrita da história – e, como imaginou Walter Benjamin, no livro Passagens, essa é uma escrita de natureza visual e espacial. Mostrar possibilita intensificar o dado do passado que entra na narrativa, não para provocar uma expansão descritiva do enredo, mas com a pretensão de enunciar algo inteligível para a compreensão do acontecimento. Além disso, se é correto supor que do passado só nos restam fragmentos que nos vêm aos pedaços, mostrar cumpre mais uma função: a de pro-duzir a visualização de uma escrita da história de leitura transversal e múltipla: não sequencial, não linear, incapaz de hierarquizar os fatos ocorridos. E, é claro, mostrar – ele dizia – significa revelar algo que, em determinado momento, as diferentes forças políticas no interior de uma sociedade colaboraram ou conspiraram para esconder. Afinal, os fatos não necessariamente coincidem com aquilo que o poder está disposto a assumir em público, e existem histórias que não se quer divulgar – ou se deseja esquecer. Além disso, a arte de escrever a história com imagens, um procedimento característico da teoria benjaminiana da cultura, fornece acesso a uma forma específica de narrativa capaz de reter do passado algo de perturbador: a repeti-ção do que, propriamente falando, nunca aconteceu, o retorno das possibilidades perdidas. Essa repetição é virtualmente inseparável de um contexto político – toda imagem conta uma história e nos revela muito a respeito da maneira como os homens se veem na cena pública e organizam suas alternativas de convivência política.

Influência sobre AdornoRodrigo Duarte

Walter Benjamin é considerado, por muitos, um dos maiores críticos de literatura da história, e o seu trabalho como filósofo é am-plamente reconhecido em todo o mundo e recebido em áreas como a história, as ciências sociais e o direito. A partir do fim da década de 1920, Benjamin estreitou os laços de amizade com [o filósofo e soció-logo alemão] Theodor Adorno (1903-1969), com quem teve também acirrados debates sobre o tema da “reprodutibilidade técnica da obra de arte”. Não obstante esse dissenso teórico, o conhecimento póstumo das teses de Benjamin sobre a história e o impacto que esse escrito causou em Adorno e no [filósofo e sociólogo alemão] Max Horkheimer (1895-1973), podem ser entendidos como uma forte inspiração para a redação conjunta, pelos dois, da Dialética do esclarecimento, especialmente no tocante à dialética entre civilização e barbárie. Passagens, sua obra inacabada, pode ser considerada o campo de forças que ordenou a produção intelectual dos seus 13 últimos anos de vida e pretendia ser uma definitiva arqueologia da modernidade cultural baseada em suas origens na Paris do século 19. Mesmo inacabadas, as Passagens são um elemento decisivo na influência de Benjamin no cenário cultural contemporâneo. No Brasil, a recepção da obra de Benjamin – inicialmente na área de letras, posteriormente na de filosofia – é uma das mais tradicionais entre os autores ligados à chamada “Escola de Frankfurt”, tendo-se iniciado na década de 1970. Atualmente, a influência de Benjamin no ambiente acadêmico brasileiro (e também fora dele, entre escritores e jornalistas, por exemplo) é ampla.

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18.6.2018 Boletim UFMG6

Resoluções

RESOLUÇÃO NO 09/2018, DE 5 DE JUNHO DE 2018Aprova a criação do Curso de Pós-Graduação em Inovação Tecnológica e Biofarmacêutica, em nível de Mestrado, constituindo o Programa de Pós-Graduação em Inovação Tecnológica e Biofarmacêutica, com sede no Instituto de Ciências Exatas, de interesse do Instituto de Ciências Exatas, da Escola de Engenharia e do Instituto de Ciências Biológicas.

O CONSELHO UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, no uso de suas atribuições estatutárias e regimentais, considerando decisão tomada em 22 de maio de 2018 pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão e o Parecer no 14/2018 da Comissão de Legislação, resolve:

Art. 1o Aprovar a criação do Curso de Pós-Graduação em Inovação Tecnológica e Biofarmacêutica, em nível de Mestrado, constituindo o Programa de Pós-Graduação em Inovação Tecnológica e Biofarmacêutica, com sede no Instituto de Ciências Exatas, de interesse do Ins-tituto de Ciências Exatas, da Escola de Engenharia e do Instituto de Ciências Biológicas, conforme o Processo no 23072.046993/2017-74.

Art. 2o Mudar a sede do Curso de Doutorado em Inovação Tecnológica e Biofarmacêutica, criado pela Resolução no 07/2015, de 7 de julho de 2015, para o Instituto de Ciências Exatas da UFMG.

Art. 3o Revogam-se as disposições em contrário.

Art. 4o A presente Resolução entra em vigor nesta data.

Professora Sandra Regina Goulart Almeida Presidente do Conselho Universitário

RESOLUÇÃO NO 08/2018, DE 5 DE JUNHO DE 2018Aprova a criação do Curso de Pós-Graduação em Alimentos e Saúde, em nível de Mestrado, de interesse do Instituto de Ciências Agrárias.

O CONSELHO UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, no uso de suas atribuições estatutárias e regimentais, considerando decisão tomada em 22 de maio de 2018 pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão e o Parecer no 13/2018 da Comissão de Legislação, resolve:

Art._1o Aprovar a criação do Curso de Pós-Graduação em Alimentos e Saúde, em nível de Mestrado, de interesse do Instituto de Ciências Agrárias, conforme o Processo no 23072.041902/2016-23.

Art._2o A presente Resolução entra em vigor nesta data.

Professora Sandra Regina Goulart Almeida Presidente do Conselho Universitário

RESOLUÇÃO NO 07/2018, DE 5 DE JUNHO DE 2018Aprova a criação do Curso de Pós-Graduação em Tecnologias da Informação Aplicadas à Saúde e Telessaúde, em nível de Mestrado, de interesse da Faculdade de Medicina da UFMG.

O CONSELHO UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, no uso de suas atribuições estatutárias e regimentais, considerando decisão tomada em 22 de maio de 2018 pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão e o Parecer no 12/2018 da Comissão de Legislação, resolve:

Art._1o Aprovar a criação do Curso de Pós-Graduação em Tecnologias da Informação Aplicadas à Saúde e Telessaúde, em nível de Mestrado, de interesse da Faculdade de Medicina da UFMG, conforme o Processo no 23072.058702/2016-18.

Art._2o A presente Resolução entra em vigor nesta data.

Professora Sandra Regina Goulart Almeida Presidente do Conselho Universitário

Em reunião realizada no último dia 5, o Conselho Universitário aprovou a criação de quatro cursos de pós-graduação nas áreas de Tecnologias da Informação Aplicadas à Saúde e Telessaúde, Alimentos e Saúde, Inovação Tecnológica e Biofarmacêutica e Estudos da Ocupação.

Da TELESSAÚDE aos Estudos de OCUPAÇÃO

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7 Boletim UFMG 18.6.2018

Acontece

Resoluções

RESOLUÇÃO NO 10/2018, DE 5 DE JUNHO DE 2018

Aprova a criação do Curso de Pós-Graduação em Estudos da Ocupação, de interesse da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

O CONSELHO UNIVERSITÁRIO DA UNIVER-SIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, no uso de suas atribuições estatutárias e regimentais, considerando decisão tomada em 22 de maio de 2018 pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão e o Parecer no 15/2018 da Comissão de Legislação, resolve:

Art.1o Aprovar a criação do Curso de Pós-Graduação em Estudos da Ocupação, de inte-resse da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, conforme Processo no 23072.013984/2018-88.

Art.2o A presente Resolução entra em vigor nesta data.

Professora Sandra Regina Goulart Almeida

Presidente do Conselho Universitário

Erramos

RUpEStRES E iziDORaNa versão impressa da edição 2019 do BOLETIM, a última linha da matéria publicada

na página 5 sobre as ameaças aos campos rupestres foi suprimida. A frase completa é: “Foi iniciado movimento com mineradoras e a sociedade visando à sustentabilidade dos campos rupestres”.

Na mesma edição, página 4, há duas incorreções: a dissertação Epitáfio: a flo-resta se despede da cidade? foi defendida no IGC e não no ICB. A extensão da Mata da Izidora é de 10 quilômetros quadrados, e não de dez mil, como está na matéria.

As informações já foram corrigidas na versão digital do BOLETIM.

pERfiL DOS gRaDUaNDOSFoi estendido, até 30 de junho, o

prazo para que estudantes das uni-versidades federais de todo o Brasil respondam à 5ª Pesquisa Nacional de Perfil dos Graduandos das Ifes. Rea-lizado pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e pelo Fórum Nacional de Pró-reitores de Assistência Estudantil (Fonaprace), o levantamento visa delinear um panorama do corpo discente das ins-tituições a fim de gerar subsídios para a elaboração de políticas destinadas a atender demandas em áreas como a assistência estudantil.

Na UFMG, o trabalho é coorde-nado pela Pró-reitoria de Assuntos Estudantis. O pró-reitor Tarcísio Mau-ro Vago conta que a última edição da pesquisa, realizada em 2013, foi essencial para perceber a reconfigu-ração do corpo discente, motivada pelas novas políticas de acesso às universidades públicas. “Precisamos conhecer com profundidade o im-pacto dessas políticas e quem são os estudantes da UFMG, para elaborarmos ações mais pertinentes para a sua permanência nos cursos até a sua conclusão”, destaca.

O questionário está disponível no site da Prae: https://www.perfil.ufu.br/2018/questionario/

apOiO a EvENtOS Está aberto, até 10 de agosto, o período para submissão de propostas de eventos

acadêmicos nas diferentes áreas do conhecimento que serão realizados de setembro a dezembro deste ano. As inscrições ao edital do Programa de Apoio Integrado a Eventos (Paie) devem ser realizadas exclusivamente por meio do Sistema de Fomento da Extensão.

Cada proponente pode pleitear até R$ 4 mil. Entre os itens financiáveis estão ma-terial de divulgação e de consumo, diárias e passagens para convidado externo. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (31) 3409-3215 e no edital (https://bit.ly/2LpikPm).

Mantido pelas pró-reitorias acadêmicas, o Paie apoia eventos que considerem o caráter de indissociabilidade entre ensino, extensão e pesquisa. Os eventos deverão ser realizados no âmbito da UFMG ou no estado de Minas Gerais, com equipe executora composta de, no mínimo, dois terços de pessoas vinculadas à Universidade, sejam docentes, servidores técnico-administrativos em educação ou estudantes regularmente matriculados nos cursos de graduação ou pós-graduação da instituição.

ENaDEEstudantes com previsão de colar grau no

período de 31 de agosto deste ano a julho de 2019 devem procurar os colegiados de seus cursos, até o próximo dia 29, para conferir sua inscrição no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) 2018. Devem participar do Exame graduandos das áreas de Administra-ção, Administração Pública, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Design, Direito, Jornalismo, Psicologia, Publicidade e Propaganda, Relações Internacionais e Turismo.

A realização do Enade é procedimento obrigatório para os cursos de graduação e in-dispensável para a colação de grau. A realização da prova e o preenchimento do Questionário do Estudante são imprescindíveis para a conclusão do curso. Os resultados do Enade, aliados às res-postas do questionário, compõem o resultado da avaliação de desempenho do estudante e serve para o cálculo dos indicadores de qualidade da educação superior: Conceito Enade, Conceito Preliminar de Curso (CPC) e Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC).

Pesquisa delineará panorama do corpo discente

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Polvos, em Kunstformen der Natur (1889-1904), de Ernst Haeckel

Tese: Das criaturas-imagem emblemáticas e inquietantes: a Bibliotheca, o teatro e as histórias preternaturais

Autora: Adriana de Castro Dias Bicalho

Orientadora: Maria do Céu Diel

Defesa em abril de 2018, no Programa de Pós-graduação em Artes

Em meados do século 16, o estudio-so suíço Conrad Gessner publicou Historiæ animalium, considerado o

cânone entre as publicações que contêm as chamadas histórias naturais. O bibliófilo fez uma compilação magistral do conheci-mento disponível, originado nos mundos grego e latino e até nos bestiários da Idade Média. O empreendimento oferecia, como novidade, uma profusão de imagens, tirando partido da então recentíssima possibilidade de reprodução.

As criaturas que habitavam obras como a de Gessner não eram todas reais – não importava tanto a existência dos bichos, se era possível imaginá-los. Com o passar dos séculos, entretanto, essas imagens foram deixando de caber nos tratados que se pre-tendiam científicos. E as criaturas migraram para o campo da arte. Esse movimento foi objeto de estudo da professora Adriana Bicalho, da Escola de Belas Artes, em tese defendida em abril deste ano.

“Muitas imagens dessas histórias naturais são baseadas na realidade, mas elas não são registros fiéis. Trata-se de criaturas emble-máticas, que recebem camadas de sentido, denotando aspectos de caráter e a influência de mitos”, explica Adriana Bicalho. “Embora houvesse a preocupação de citar autoridades para a abordagem da natureza, não existia a diferença entre documento e fábula como entendemos hoje.”

Sem subjetividadeDe acordo com Adriana, o Iluminismo

começou a mudar essa maneira de tratar o conhecimento sobre a natureza, com o advento das técnicas de classificação e dife-renciação. “Os elementos emblemáticos das imagens permanecem, mas manifestam-se

CRIATURAS da CIÊNCIA e da ARTEPesquisa de professora da Belas Artes mostra como as imagens de antigos tratados de história natural migraram para obras artísticas

Itamar Rigueira Jr.

o que ela chama de assinaturas, elementos que sobrevivem desde as histórias naturais dos anos 1500 até as obras de arte que incorporaram os códigos das criaturas ma-ravilhosas. Instigada pelo Atlas mnemosyne, do historiador Aby Warburg, ela criou um percurso imagético dessas criaturas, desde os antigos tratados até a arte contemporânea, que chamou de Histórias preternaturais.

Na pesquisa sobre o tema no exterior, se-gundo a professora, predomina o objetivo de atender a indagações da história e da história da ciência. “Essas imagens, que estão nos fundamentos de nossa compreensão sobre as criaturas do mundo, ainda não são de-vidamente abordadas pelas artes”, conclui.

como alegóricos e decorativos”, diz a professora do curso de Design de Moda.

No século 19, é a vez da imagem isenta de subjetividade, e as publicações ganham a forma dos atlas de ciências médicas. Na passagem para o século 20, o médico e artista alemão Ernst Haeckel faz conviver desenhos esquemáticos e formas artísticas inspiradas na natureza. “Não havia mais espaço na ciência para o maravilhoso, e as artes tomaram para si a ideia das histórias naturais, explorando as camadas de sentido sobrepostas à base real”, comenta Adriana Bicalho.

O filão foi seguido, enumera Adriana, por artistas como o documentarista Jean Painlevé, que produziu filmes curtos transi-tando entre ciência e arte, o surrealista Jan Svankmejer e o cineasta Peter Greenaway, que na obra Zoo trabalhou com coincidên-cias e relações entre coisas e criaturas. O filósofo tcheco Vilém Flusser, por sua vez, criou uma lula das profundezas, que era o oposto do humano, e, com o artista Louis Bec, imaginou versões da criatura, inspirado nessa oposição radical.

A pesquisadora viu obras originais em instituições italianas e na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, e consultou também acer-vos digitalizados. Para apreender a migração das imagens ao longo das descontinuidades históricas, ela rearranjou o conjunto inicial de mais de cinco mil imagens primeiramente em uma biblioteca, composta por oito livros.

Para o trabalho de aproximação e com-binação de imagens, ela criou também 32 pequenos volumes, em procedimento emprestado dos escritos mnemônicos do filósofo italiano Giordano Bruno. A partir daí, Adriana Bicalho pôde perceber nas imagens

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