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São José dos Campos 2019 RESUMO DO NOVO ESQUEMA DE CLASSIFICAÇÃO PARA DOENÇAS E CONDIÇÕES PERIODONTAIS E PERI-IMPLANTES WORLD WORKSHOP 2017

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São José dos Campos

2019

RESUMO DO NOVO ESQUEMA DE

CLASSIFICAÇÃO PARA DOENÇAS E CONDIÇÕES

PERIODONTAIS E PERI-IMPLANTES – WORLD

WORKSHOP 2017

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RESUMO DO NOVO ESQUEMA DE CLASSIFICAÇÃO

PARA DOENÇAS E CONDIÇÕES PERIODONTAIS E

PERI-IMPLANTES – WORLD WORKSHOP 2017

Autores

Letícia Cavassini Torquato

Amanda Rossato

Tatiane Caroline de Souza Ramos

Victória Clara da Silva Lima

Maria Aparecida Neves Jardini

Mauro Pedrine Santamaria

Andréa Carvalho De Marco

São José dos Campos

Novembro, 2019

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APRESENTAÇÃO

Esta apostila faz parte do material didático complementar da Disciplina de

Periodontia do Instituto de Ciência e Tecnologia de São José dos Campos –

ICT/UNESP, que tem corpo docente composto pela Profa. Assis. Dra.

Andréa Carvalho De Marco, Profa. Assoc. Dra. Maria Aparecida Neves

Jardini e pelo Prof. Assoc. Dr. Mauro Pedrine Santamaria. Importante

ressaltar que a disciplina recomenda a leitura dos artigos originais

provenientes do Workshop Mundial da Academia Americana de Periodontia

(AAP) em conjunto com a Federação Europeia de Periodontia (EFP) que

ocorreu em 2017, os artigos estão disponíveis em inglês para download no

link a seguir: https://onlinelibrary.wiley.com/toc/1600051x/2018/45/S20.

Esta apostila foi elaborada pelas alunas da Pós-graduação do programa de

Biopatologia Bucal na área de concentração de Periodontia com o intuito de

auxiliar o estudo do novo esquema de classificação das doenças e condições

periodontais e peri-implantares, não servindo como substituto da leitura

original.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 5

SAÚDE PERIODONTAL E SAÚDE GENGIVAL................................................................ 8

GENGIVITE INDUZIDA PELO BIOFILME DENTAL .................................................... 10

DOENÇAS GENGIVAIS NÃO INDUZIDAS PELO BIOFILME DENTAL ..................... 13

PERIODONTITE ................................................................................................................. 15

LESÕES PERIODONTAIS AGUDAS E ENDO-PERIO .................................................... 25

ABSCESSOS PERIODONTAIS ......................................................................................... 25

DOENÇAS PERIODONTAIS NECROSANTES ................................................................ 26

LESÕES ENDO-PERIODONTAIS..................................................................................... 28

PERIODONTITE COMO MANIFESTAÇÃO DE DOENÇAS SISTÊMICAS ................. 31

DISTÚRBIOS GENÉTICOS............................................................................................... 32

DOENÇAS QUE AFETAM A MUCOSA ORAL E O TECIDO GENGIVAL ..................... 33

DOENÇAS QUE AFETAM OS TECIDOS CONJUNTIVOS.............................................. 33

DESORDENS METABÓLICAS E ENDÓCRINAS ............................................................ 34

DOENÇAS DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA ...................................................... 35

DOENÇAS INFLAMATÓRIAS ......................................................................................... 36

OUTROS DISTÚRBIOS SISTÊMICOS QUE PODEM CONTRIBUIR PARA A PERDA

PERIODONTAL DE TECIDO, INFLUENCIANDO A PATOGENIA DAS DOENÇAS

PERIODONTAIS: .............................................................................................................. 36

DISTÚRBIOS SISTÊMICOS QUE PODEM RESULTAR EM PERDA DE TECIDO

PERIFÉRICO INDEPENDENTE DA PERIODONTITE: ................................................... 37

OUTROS DISTÚRBIOS QUE PODEM AFETAR O TECIDO PERIODONTAL ............... 38

DEFORMIDADES MUCOGENGIVAIS E CONDIÇÕES AO REDOR DOS DENTES ... 39

CONDIÇÃO MUCOGENGIVAL NORMAL ..................................................................... 40

RECESSÃO GENGIVAL ................................................................................................... 41

TRAUMA OCLUSAL E FORÇAS OCLUSAIS TRAUMÁTICAS ..................................... 45

FATORES RELACIONADOS AO DENTE E À PRÓTESE ............................................... 48

SAÚDE PERI-IMPLANTAR ............................................................................................... 53

MUCOSITE PERI-IMPLANTAR ....................................................................................... 57

PERI-IMPLANTITE ............................................................................................................ 61

A ETIOLOGIA DAS DEFICIÊNCIAS DE TECIDOS DUROS E MOLES EM IMPLANTES

DENTÁRIOS...................................................................................................................... 63

REFERÊNCIAS: .................................................................................................................. 70

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5

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de um sistema de classificação é importante para categorizar as

doenças e facilitar o estabelecimento do diagnóstico, tratamento e prognóstico pelos

clínicos, bem como permitir que os pesquisadores investiguem a etiologia, a patogênese,

a história natural e o tratamento (Caton et al. 2018).

Nas últimas duas décadas, clínicos, educadores, pesquisadores e epidemiologistas

estavam preocupados com a sua habilidade de diferenciar corretamente os casos de

periodontite agressiva e crônica e essas dificuldades foram as principais motivações para

a realização de um workshop para uma nova classificação.

O workshop mundial para a nova classificação das doenças e condições periodontais e

peri-implantares aconteceu em Chicago, de 9 a 11 de novembro de 2017 e foi organizado

pela Academia Americana de Periodontia (AAP) e pela Federação Europeia de

Periodontia (EFP), reunindo experts do mundo todo. Os pesquisadores foram

encarregados de atualizar a classificação de 1999 (Armitage, 1999) de acordo com as

maiores evidências científicas disponíveis, alinhando ao entendimento atual das doenças

e condições periodontais, e de desenvolverem uma classificação similar para as doenças

e condições peri-implantares.

No novo sistema de classificação desenvolvido, as doenças e condições periodontais

foram agrupadas em três grandes grupos: 1. Saúde Periodontal, Doenças e Condições

Gengivais; 2. Periodontite; 3. Outras condições que afetam o periodonto, as quais vão se

subdividindo. Em adição, foi criado um sistema de classificação para as doenças e

condições peri-implantares. Uma visão geral de ambas as classificações se encontra nos

quadros a seguir.

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6

Quadro 1 – Visão geral da classificação de 1999 (Armitage, 1999) e da nova

classificação (AAP e EFP, 2018)

AAP (Armitage,1999)

1. Doenças gengivais 2. Periodontite crônica 3. Periodontite agressiva 4. Periodontite como manifestação de doenças sistêmicas 5. Doenças periodontais necrosantes 6. Abscessos do periodonto 7. Periodontite associada a lesões endodônticas 8. Condições e deformidades de desenvolvimento e

adquiridas

World workshop 2017 (AAP e EFP)

Condições e doenças periodontais:

1. Saúde Periodontal, Doenças e Condições Gengivais 2. Periodontite 3. Outras condições que afetam o Periodonto

Condições e doenças peri-implantares:

1. Saúde Peri-implantar 2. Mucosite 3. Peri-implantite 4. Deficiências nos tecidos peri-implantares moles e duros

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Quadro 2 – Resumo esquemático da nova classificação (AAP & EFP, 2018)

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8

SAÚDE PERIODONTAL E SAÚDE GENGIVAL

As definições de Saúde Periodontal e Saúde Gengival são importantes para categorizar a

prevalência das doenças gengivais e periodontais nas populações; para avaliar o processo

de doença e estabelecer os end points ideais e aceitáveis para as terapias periodontais; e

para avaliar o risco futuro e individual de desenvolvimento da doença (Lang & Bartold,

2018). Por conseguinte, esses conceitos foram definidos para servir como ponto de

referência para avaliar tanto o processo de doença quanto para determinar os resultados

significativos do tratamento.

A Saúde Periodontal e a Saúde Gengival foram definidas de acordo com a presença ou

ausência de perda de inserção clínica como Saúde clínica em um periodonto íntegro e

Saúde clínica em um periodonto reduzido (Quadro 3).

No caso da Saúde clínica em um periodonto íntegro, ou seja, com ausência de perda de

inserção, é observado clinicamente profundidade de sondagem ≤ 3 mm, presença de

sangramento à sondagem em menos de 10% dos sítios e ausência de perda óssea

radiográfica (Quadro 4).

Com relação a Saúde gengival em um periodonto reduzido, ela é definida no nível de

pacientes com periodontite estável, ou seja, aqueles que possuem história de periodontite,

porém foram submetidos a terapia periodontal e obtiveram sucesso, isto é, a inflamação

foi eliminada ou substancialmente reduzida. Em adição, a Saúde clínica gengival em um

periodonto reduzido também é definida no nível de pacientes sem periodontite, ou seja,

aqueles que apresentam perda de inserção não decorrente da periodontite, como

indivíduos que apresentam recessão gengival ou que foram submetidos a procedimentos

de aumento de coroa clínica. Essa distinção entre pacientes com periodontite estável e

sem periodontite foi realizada porque eles possuem riscos de progressão diferentes, ou

seja, não há evidências científicas de que indivíduos sem periodontite apresentem risco

aumentado para o seu desenvolvimento, no entanto, indivíduos com periodontite estável

permanecem com risco aumentado para recorrência da doença e deve ser monitorado de

perto. Além disso, como parte da discussão se gengivite leve e localizada pode ser

considerada como doença ou uma variação da saúde, foi introduzido o termo “gengivite

incipiente”, que por definição, apenas poucos sítios são afetados por inflamação leve, a

qual é expressa como leve vermelhidão e sangramento à sondagem tardio ao invés de

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edema e sangramento à sondagem imediato. Essa condição pode ser considerada como

parte do espectro de saúde clínica, porém, caso não seja tratada, pode rapidamente se

tornar gengivite localizada. As características clínicas das condições supracitadas são

apresentadas no quadro 4.

Quadro 3 – Classificação da Saúde Gengival e Periodontal (Lang & Bartold, 2018)

Quadro 4 – Características clínicas da Saúde clínica em um periodonto íntegro e da Saúde

gengival em um periodonto reduzido.

A. Saúde clínica em um periodonto íntegro

B. Saúde clínica gengival em um periodonto reduzido • Paciente com periodontite estável • Paciente sem periodontite

A. Saúde clínica em um periodonto íntegro: Sem perda de inserção, profundidade de sondagem ≤ 3 mm, sangramento à

sondagem em menos de 10% dos sítios e sem perda óssea radiográfica.

B. Saúde clínica gengival em um periodonto reduzido:

• Paciente com periodontite estável Perda de inserção, profundidade de sondagem ≤4 mm, sem sítios com

profundidade de sondagem ≥ 4 mm com sangramento à sondagem,

sangramento à sondagem em menos de 10% dos sítios e com perda óssea

radiográfica.

• Paciente sem periodontite (Recessão Gengival e Aumento de coroa clínica)

Perda de inserção, profundidade de sondagem ≤ 3 mm, sangramento à

sondagem em menos de 10% dos sítios e possível perda óssea

radiográfica.

C. Gengivite incipiente:

Poucos sítios afetados por inflamação leve, a qual é expressa como leve

vermelhidão e sangramento à sondagem tardio. Pode ser considerada como

parte do espectro da “saúde clínica”.

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10

GENGIVITE INDUZIDA PELO BIOFILME DENTAL

Com relação à Gengivite induzida pelo biofilme dental (Quadro 5), a principal

modificação com relação a classificação de 1999, foi a definição da gengivite induzida

pelo biofilme dental associada somente ao biofilme dental nos níveis de um periodonto

íntegro e reduzido (Quadro 6). Além disso, a Gengivite induzida pelo biofilme pode ser

classificada de acordo com a sua extensão em localizada ou generalizada e de acordo com

a sua extensão em leve, moderada ou grave (Quadro 7). Como não há evidências

científicas suficientes para diferenciar as formas leve, moderada e grave, não há um

critério clínico objetivo para a definição da severidade, portanto, a sua atribuição no

diagnóstico não é mandatória. Porém, pode ser uma ferramenta útil para a comunicação

entre o profissional e o paciente.

A nova classificação também procurou focar somente nas condições observáveis

clinicamente. Desta forma, no caso da gengivite induzida pelo biofilme dental modificada

por fatores de risco sistêmicos, fatores como a deficiência do ácido ascórbico, ciclo

menstrual e uso de contraceptivos orais não são mais considerados na classificação

(Quadro 8).

Com relação ao Aumento gengival influenciado por medicamentos, a principal diferença

é a inclusão da definição da extensão e severidade do aumento tecidual (Quadro 9).

Quadro 5 – Gengivite induzida pelo biofilme dental (AAP & EFP, 2018

a. Associada somente ao biofilme dental: • Gengivite em um periodonto íntegro • Gengivite em um periodonto reduzido:

i. Paciente com periodontite estável

ii. Paciente sem periodontite (recessão gengival, aumento de coroa

clínica)

b. Mediada por fatores de risco sistêmicos ou locais:

• Fatores de risco sistêmicos (Fatores modificadores) • Fatores de risco locais (Fatores predisponentes)

c. Aumento gengival influenciado por drogas

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Quadro 6 – Gengivite induzida pelo biofilme (AAP & EFP, 2018)

Quadro 7 – Gengivite induzida pelo biofilme dental: extensão e severidade

a. Associada somente ao biofilme dental:

• Gengivite em um periodonto íntegro: Sítios com profundidade de sondagem ≤3 mm, 10% ou mais de sítios com

sangramento à sondagem, ausência de perda de inserção e de perda óssea

radiográfica.

• Gengivite em um periodonto reduzido: i. Paciente com periodontite estável:

História de tratamento de periodontite, perda de inserção, sítios com PS ≤3

mm, 10% ou mais dos sítios com sangramento à sondagem e perda óssea

radiográfica.

ii. Paciente sem periodontite (recessão gengival, aumento de

coroa clínica):

Profundidade de sondagem ≤3 mm, 10% ou mais dos sítios com

sangramento à sondagem, perda de inserção e possível perda óssea

radiográfica.

Extensão:

• Localizada: ≥10% e ≤30% • Generalizada: > 30%

Severidade:

• Porcentagens: Leve: < 10% dos sítios

Moderada: 10%-30% dos sítios

Severa: > 30% dos sítios

• Gradação: Grau 1: 20% dos sítios

Grau 2: 40% dos sítios

Grau 3: 60 % dos sítios

Grau 4: 80% dos sítios

Grau 5: 100% dos sítios

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Quadro 8 – Gengivite induzida pelo biofilme dental mediada por fatores de risco

sistêmicos ou locais

Quadro 9 – Aumento gengival influenciado por medicamentos: medicamentos

associados, extensão e severidade.

b. Mediada por fatores de risco sistêmicos ou locais: Fatores de risco sistêmicos (fatores modificadores):

a. Tabagismo b. Hiperglicemia c. Fatores nutricionais: deficiência de ácido ascórbico d. Agentes farmacológicos e. Hormônios esteroides sexuais (puberdade, ciclo menstrual, gravidez e

contraceptivos orais) f. Condições hematológicas

Fatores de risco locais (fatores predisponentes):

a. Fatores de retenção de biofilme dental b. Secura bucal

c. Aumento gengival influenciado por medicamentos:

- antiepiléticos; - bloqueadores de canais de cálcio; - Imunossupressores; - altas doses de anticoncepcionais.

Extensão:

• Localizado: único dente ou grupo de dentes • Generalizado: em toda a boca

Severidade:

• Leve: papila • Moderado: papila e margem gengival • Severo: papila, margem gengival e gengiva inserida

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DOENÇAS GENGIVAIS NÃO INDUZIDAS PELO BIOFILME

DENTAL

A principal diferença com relação a classificação de 1999 foi a criação de uma

classificação mais abrangente, adicionando doenças e condições que não foram incluídas

na anterior (Quadro 10).

Quadro 10 – Doenças gengivais não induzidas pelo biofilme dental (Holmstrup et al., 2018)

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Continuação Quadro 10 – Doenças gengivais não induzidas pelo biofilme dental

(Holmstrup et al., 2018

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PERIODONTITE

De acordo com o mais recente sistema de classificação aceito internacionalmente

(Armitage, 1999), a periodontite é subdividida na seguinte forma (Papapanou et al. 2018):

• Periodontite crônica, representando as formas de doença periodontal destrutiva que são

geralmente caracterizadas por progressão lenta;

• Periodontite agressiva, um grupo diverso de formas altamente destrutivas de

periodontite que afetam principalmente indivíduos jovens, incluindo condições

anteriormente classificadas como “periodontite de início precoce” e “periodontite de

progressão rápida”;

• Periodontite como manifestação de doença sistêmica, um grupo de doenças

heterogêneas e condições patológicas sistêmicas que incluem periodontite como uma

manifestação;

• Doenças periodontais necrosantes, um grupo de condições que compartilham um

fenótipo característico onde a necrose dos tecidos gengivais ou periodontais é uma

característica proeminente;

• Abscessos periodontais, uma entidade clínica com características diagnósticas distintas

e requisitos de tratamento.

Por padrão, os casos de periodontite que não satisfizessem a definição de fenótipo

“agressiva” seriam classificados como “crônicos”, com a implicação de que os últimos

casos poderiam ser gerenciados mais facilmente. A justificativa para a diferenciação entre

periodontite crônica e agressiva incluía a capacidade de identificar e focar nos casos mais

problemáticos: apresentando maior gravidade no início da vida, maior risco de progressão

e/ou necessidade de abordagens de tratamento específicas (Tonetti et al. 2018).

Resumo e interpretação de evidências e posição dos periódicos do Workshop atual

(Tonetti et al. 2018)

Os artigos de posicionamento que abordaram a periodontite agressiva e crônica

alcançaram as seguintes conclusões abrangentes em relação à periodontite:

1. Não há evidência de fisiopatologia específica que permita a diferenciação de casos que

atualmente seriam classificados como periodontite agressiva e crônica ou que forneça

orientação para diferentes intervenções.

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16

2. Há poucas evidências consistentes de que a periodontite agressiva e crônica são

doenças diferentes, mas há evidências de múltiplos fatores e interações entre elas que

influenciam os resultados clinicamente observáveis da doença (fenótipos) no nível

individual.

3. Em uma base populacional, as taxas médias de progressão da periodontite são

consistentes em todas as populações observadas em todo o mundo.

4. Há evidências, no entanto, de que segmentos específicos da população exibem

diferentes níveis de progressão da doença, como indicado pela maior gravidade da perda

de inserção clínica em subgrupos de cada faixa etária em relação à maioria dos indivíduos

na faixa etária.

5. Um sistema de classificação baseado apenas na gravidade da doença não capta

dimensões importantes da doença de um indivíduo, incluindo a complexidade que

influencia a abordagem terapêutica, os fatores de risco que influenciam os desfechos

prováveis e o nível de conhecimento e treinamento necessário para o gerenciamento do

caso individual.

(Fine et al. 2018)

INTEGRAÇÃO DO CONHECIMENTO ATUAL PARA AVANÇAR A

CLASSIFICAÇÃO DA PERIODONTETE

Definição clínica de periodontite

A periodontite é caracterizada por inflamação mediada pelo hospedeiro que resulta em

perda de inserção periodontal. A doença é detectada como perda de inserção clínica (NIC)

pela avaliação com uma sonda periodontal padronizada com referência à junção cemento-

esmalte (JCE) ao redor do dente (Tonetti et al. 2018).

Definição de um paciente como um caso de periodontite (Tonetti et al. 2018)

À medida que a gravidade da doença aumenta, o NIC é estabelecido com mais firmeza, e

o caso de periodontite pode ser identificado com maior precisão. Deve-se notar que a

inflamação periodontal, geralmente medida como sangramento à sondagem (clinicamente

medido como Índice Gengival – IG), é um parâmetro clínico importante em relação à

Apesar da pesquisa substancial sobre periodontite agressiva desde o

workshop de 1999, atualmente não há evidências suficientes para

considerar a periodontite agressiva e crônica como duas doenças

fisiopatologicamente distintas

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17

avaliação dos resultados do tratamento da periodontite e do risco residual da doença pós-

tratamento.

Um paciente é diagnosticado com periodontite se:

1. O NIC interdental é detectável em ≥2 dentes não adjacentes, ou

2. NIC ≥3 mm com bolsa > 3mm é detectável em ≥2 dentes

Um paciente não é diagnosticado com periodontite se o NIC

observado ser atribuído a causas não periodontais como:

1. Recessão gengival de origem traumática;

2. Cárie dentária que se estende na área cervical do dente;

3. A presença de NIC na face distal de um segundo molar e associada à má posição ou

extração de um terceiro molar,

4. Uma lesão endodôntica que drena através do periodonto marginal; e

5. A ocorrência de uma fratura de raiz vertical.

Identificação da forma de periodontite (Tonetti et al. 2018)

Com base na fisiopatologia, três formas claramente diferentes de periodontite foram

identificadas:

1. Periodontite necrosante

2. Periodontite como manifestação direta de doenças sistêmicas

3. Periodontite

O diagnóstico diferencial é baseado na história e nos sinais e sintomas específicos da

periodontite necrosante e na presença ou ausência de uma doença sistêmica incomum que

altera definitivamente a resposta imune do hospedeiro (Papapanou et al. 2018; Tonetti et

al. 2018).

Elementos adicionais propostos para inclusão na classificação da periodontite

O diagnóstico clínico precisa ser mais abrangente na expressão dos efeitos da periodontite

e deve ser responsável não apenas pelos efeitos orais, mas também pelas potenciais

implicações sistêmicas da doença (Tonetti et al. 2018).

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Severidade

A justificativa da classificação de acordo com a gravidade abrange pelo menos duas

dimensões importantes: a complexidade do manejo e a extensão da doença. (Tonetti et al.

2018).

Complexidade da conduta

Fatores como profundidades de sondagem, tipo de perda óssea (vertical e/ou horizontal),

envolvimento de furca, mobilidade dentária, dentes perdidos, colapso da mordida e

tamanho do defeito na crista residual aumentam a complexidade do tratamento e precisam

ser considerados, devendo influenciar a classificação diagnóstica. (Tonetti et al. 2018).

Extensão

O número de dentes afetados (como porcentagem dos dentes presentes) tem sido usado

para definir casos de periodontite crônica na classificação de 1999 (Lindhe et al. 1999,

Armitage et al. 1999), enquanto a distribuição de lesões (padrão de colapso periodontal

incisivo molar versus generalizado) tem sido usada como um descritor primário para

periodontite (Lang et al.1999).

Taxa de progressão

Um dos aspectos mais importantes para um sistema de classificação é explicar

adequadamente a variabilidade na taxa de progressão da periodontite (Tonetti et al.2018).

Fatores de risco

Melhor conhecimento de como os fatores de risco afetam a periodontite (maior gravidade

e extensão em idade mais precoce) e resposta ao tratamento (menores graus de melhora

nos desfechos e maiores taxas de perda dentária durante a terapia periodontal de suporte)

indicam que os fatores de risco devem ser considerados na classificação de periodontite

(Tonetti et al. 2018).

Inter-relação com a saúde geral

Vários mecanismos que ligam a periodontite a múltiplas doenças sistêmicas têm sido

propostos. Bactérias orais específicas na bolsa periodontal podem ter acesso à corrente

sanguínea através do epitélio da bolsa ulcerado. Os mediadores inflamatórios do

periodonto podem entrar na corrente sanguínea e ativar proteínas de fase aguda do fígado,

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como a proteína C reativa (PCR), que amplifica ainda mais os níveis de inflamação

sistêmica. Estudos de caso controle e piloto de intervenção mostram que a periodontite

contribui para a carga inflamatória geral do indivíduo, que está fortemente implicada na

doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral e diabetes tipo II (EFP, 2013;

Tonetti et al. 2018).

QUADRO PARA O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA DE ESTÁGIOS E

GRAUS DA PERIODONTITE

Foi proposta uma estrutura para o desenvolvimento de um sistema de estágios e graus de

periodontite multidimensional, em que o estágio é amplamente dependente da gravidade

da doença na apresentação, bem como da complexidade do manejo da doença, enquanto

o grau fornece informações suplementares sobre características biológicas da doença,

incluindo uma análise baseada na história da taxa de progressão da periodontite; avaliação

do risco de progressão; análise de possíveis resultados ruins do tratamento; e avaliação

do risco de que a doença ou seu tratamento possa afetar negativamente a saúde geral do

paciente (Papapanou et al. 2018).

O diagnóstico em estágios, uma abordagem usada por muitos anos na oncologia oferece

uma oportunidade de ir além da abordagem unidimensional do uso da destruição do

passado e fornece uma plataforma na qual uma classificação diagnóstica

multidimensional pode ser construída (Tonetti et al. 2018).

Determinando estágio de periodontite em um paciente

• Objetivos

◦ Classificar severidade e extensão de um indivíduo com base na extensão atualmente

mensurável do tecido destruído e danificado atribuível à periodontite

◦ Avaliar a complexidade. Avaliar fatores específicos que podem determinar a

complexidade do controle da doença atual e o gerenciamento da função de longo prazo

e da estética da dentição do paciente

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Determinando grau de periodontite em um paciente

• Objetivos

◦ Estimativa do risco de futura progressão da periodontite e capacidade de resposta

aos princípios terapêuticos padrões, para orientar a intensidade da terapia e

monitoramento.

◦ Estimativa do potencial impacto da periodontite na doença sistêmica e o inverso,

para orientar o monitoramento sistêmico e a co-terapia com colegas médicos.

Cada um dos quatro estágios é definido pela apresentação única da doença em termos de

gravidade da doença e complexidade de manejo (Tonetti et al.2018).

Em cada estágio de gravidade, pode ser útil identificar indivíduos com diferentes taxas

de progressão da doença; a adição de grau pode ser alcançada refinando a definição de

estágio de cada indivíduo com um grau A, B ou C, em que graus crescentes se referirão

àqueles com evidência direta ou indireta de diferentes taxas de colapso periodontal e

presença e nível de controle de fatores de risco (Tonetti et al. 2018).

Tabela: Quadro para classificação da periodontite (Tonetti et al. 2018)

Severidade da doença e complexidade do tratamento

Estágio I: Periodontite

inicial

Estágio II: Periodontite moderada

Estágio III:

Periodontite severa com potencial

para perda dental

adicional

Estágio IV: Periodontite avançada

com extensa perda

dental e potencial

para perda da dentição

Evidência ou risco de

rápida progressão, resposta do tratamento antecipado, e efeitos na

saúde sistêmica

Grau A

Estágio individual e atribuição de grau

Grau B

Grau C

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Periodontite de estágio I

O estágio I da periodontite é a fronteira entre a gengivite e a periodontite e representa

os estágios iniciais da perda de inserção. Pacientes com periodontite estágio I

desenvolveram periodontite em resposta à persistência de inflamação gengival e disbiose

de biofilme. Representa mais do que apenas um diagnóstico precoce: se um grau de perda

de inserção clínica em uma idade relativamente precoce é apresentado, esses pacientes

podem ter maior suscetibilidade ao início da doença (Tonetti et al. 2018).

Periodontite de estágio II

O estágio II representa uma periodontite estabelecida na qual um exame clínico

periodontal identifica os danos característicos que a periodontite causou ao suporte

dentário. O manejo permanece relativamente simples em muitos casos, pois espera-se que

a aplicação de princípios de tratamento padrão envolvendo regular remoção bacteriana

pessoal e profissional e monitoramento parem com a progressão da doença (Tonetti et al.

2018).

Periodontite de estágio III

O estágio III é caracterizado pela presença de lesões periodontais profundas que se

estendem até a porção média da raiz e cujo manejo é complicado pela presença de

defeitos intraósseos profundos, envolvimento de furca, história de perda dental devido a

doença periodontal e presença de defeitos localizados na crista. Apesar da possibilidade

de perda dentária, a função mastigatória é preservada e o tratamento da periodontite não

requer reabilitação complexa da função (Tonetti et al. 2018).

Periodontite de estágio IV

Esta fase é caracterizada pela presença de lesões periodontais profundas que se

estendem à porção apical da raiz e/ou história de múltiplas perdas dentárias;

frequentemente é complicada pela hipermobilidade dentária devido ao trauma oclusal

secundário e às sequelas da perda dentária: colapso da mordida posterior, por exemplo.

Frequentemente, o gerenciamento de casos requer estabilização / restauração da função

mastigatória (Tonetti et al. 2018).

Graus da periodontite

Independentemente do estágio no momento do diagnóstico, a periodontite pode progredir

com diferentes taxas nos indivíduos, pode responder de forma menos previsível ao

tratamento em alguns pacientes e pode ou não influenciar a saúde geral ou a doença

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sistêmica. Fatores de risco reconhecidos, como tabagismo ou controle metabólico do

diabetes, afetam a taxa de progressão da periodontite e, consequentemente, podem

aumentar a conversão de um estágio para o próximo (Tonetti et al. 2018).

INCORPORAÇÃO DE ESTÁGIO E GRAU NO SISTEMA DE DEFINIÇÃO DE

CASO DE PERIODONTITE

Estágio da periodontite

O escore de gravidade baseia-se principalmente na perda de inserção clínica (NIC)

interdental. Apenas a perda de inserção atribuível à periodontite é usada para a pontuação.

O escore de complexidade baseia-se na complexidade do tratamento local, assumindo o

desejo/necessidade de eliminar fatores locais e leva em conta fatores como presença de

defeitos verticais, envolvimento de furca, hipermobilidade dentária, perda dentária e

perda da função mastigatória. Ao usar a tabela de estágios, que será apresentada

posteriormente, é importante usar NIC como o determinante inicial do estágio na

dimensão de severidade. Isso pode ser tudo o que é necessário para estabelecer o estágio.

No entanto, se outros fatores estiverem presentes na dimensão de complexidade que

influenciam a doença, a modificação da atribuição inicial do estágio pode ser necessária

(Papapanou et al. 2018; Tonetti et al. 2018).

Grau da periodontite

A Tabela de Grau, que também será apresentada posteriormente, ilustra a classificação

da periodontite com base nos critérios primários representados pela disponibilidade de

evidência direta ou indireta da progressão da periodontite. O objetivo da classificação é

usar qualquer informação disponível para determinar a probabilidade de o caso progredir

a uma taxa maior do que a típica para a maioria da população ou responder de maneira

menos previsível à terapia padrão (Tonetti et al. 2018).

Em resumo, um diagnóstico de periodontite para um paciente individual deve

abranger três dimensões (Tonetti et al. 2018):

1. Definição de um caso de periodontite baseado na perda detectável de NIC

em dois dentes não adjacentes

2. Identificação da forma de periodontite: periodontite necrosante,

periodontite como manifestação de doença sistêmica ou periodontite

3. Descrição da apresentação e agressividade da doença por estágio e grau

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Tabela: Estágios da periodontite (Tonetti et al. 2018, Papapanou et al. 2018)

Estágio da Periodontite Estágio I Estágio II Estágio III Estágio IV

Severidade

NIC interdental nos locais de maior perda

1 a 2mm 3 a 4mm ≥5mm ≥6mm

Perda óssea radiográfica

Terço coronal (<15%)

Terço coronal (15% a 30%)

Estendido até terço médio ou apical da raiz

Estendido até terço médio ou apical da raiz

Perda dental Sem perda dental devido à

periodontite

Perda de ≤4 dentes devido à periodontite

Perda de ≥5 dentes devido à periodontite

Complexidade

Local

Profundidade de sondagem máxima ≤4mm. Perda óssea principalmente horizontal

Profundidade de sondagem máxima ≤5mm. Perda óssea principalmente horizontal

Além da complexidade do estágio II: Profundidade de sondagem ≥6mm. Perda óssea vertical ≥3mm. Envolvimento de furca grau II e III. Defeito de crista moderado.

Além da complexidade do estágio III: Necessidade de reabilitação complexa devido: Disfunção mastigatória Trauma oclusal secundário (grau de mobilidade dental ≥2) Defeito de crista severo Colapso da mordida Menos do que 20 dentes remanescentes (10 pares opostos)

Extensão e distribuição

Adicionar ao estágio como

descritor

Para cada estágio, descreve a extensão como localizado (<30% de dentes envolvidos), generalizado, ou padrão incisivo/molar

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Tabela: Grau da Periodontite (Tonetti et al. 2018, Papapanou et al. 2018)

Grau da Periodontite Grau A: taxa

lenta de progressão

Grau B: taxa moderada de progressão

Grau C: taxa rápida de progressão

Critério primário

Evidência direta de progressão

Dados longitudinais (perda óssea radiográfica ou NIC)

Evidência de nenhuma perda em 5 anos

<2mm em mais de 5 anos

≥2mm em mais de 5 anos

Evidência indireta de progressão

% perda óssea/idade

<0,25 0,25 a 1.0 >1.0

Fenótipo do caso

Densos depósitos de biofilme com baixos níveis de destruição

Destruição proporcional aos depósitos de biofilme

A destruição excede a expectativa dada aos depósitos de biofilme; padrões clínicos específicos sugestivos de períodos de progressão rápida e/ou doença de início precoce (por exemplo. padrão molar / incisivo, falta de resposta esperada às terapias padrão de controle bacteriano)

Modificadores de grau

Fatores de risco

Fumo Não-fumante Fumante de <10 cigarros/dia

Fumante de ≥10 cigarros/dia

Diabetes

Normoglicêmico / sem diagnóstico de diabetes

HbA1c <7.0% em pacientes diabéticos

HbA1c ≥7.0% em pacientes diabéticos

Risco de impacto

sistêmico

Carga inflamatória

Alta sensibilidade CRP (hsCRP)

<1mg/L

1 a 3 mg/L

>3mg/L

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LESÕES PERIODONTAIS AGUDAS E ENDO-PERIO

Segundo a Academia Americana de Periodontia (AAP 2005), as doenças periodontais

agudas são condições clínicas de início rápido que envolvem o periodonto ou estruturas

associadas e podem ser caracterizadas por dor ou desconforto, destruição tecidual e

infecção. Entre essas condições, estão listadas as seguintes doenças: abscesso gengival,

abscesso periodontal, doença periodontal necrosante, gengivoestomatite herpética,

abscesso pericoronário e lesões periodontais ‐ endodônticas combinadas (Herrera et al.

2018).

Em contraste com a maioria das outras condições periodontais, a destruição rápida dos

tecidos periodontais pode ocorrer durante o curso dessas lesões, enfatizando a

importância do rápido diagnóstico e tratamento (Herrera et al. 2018).

ABSCESSOS PERIODONTAIS

Abscessos periodontais podem ser definidos como um acúmulo localizado de pus dentro

da parede gengival da bolsa periodontal, com o colapso periodontal ocorrendo durante

um período limitado de tempo e com sintomas clínicos facilmente detectáveis (Herrera

2000).

Diferentes fatores etiológicos podem explicar a ocorrência de abscessos nos tecidos

periodontais, como necrose pulpar (abscesso endodôntico, periapical ou dentoalveolar),

infecções periodontais (abscesso gengival ou periodontal), pericoronarite (abscesso

pericoronário), trauma, cirurgia ou impactação de corpo estranho (Herrera et al. 2018).

Os abscessos periodontais devem ser classificados com base em sua etiologia que

será descrita a seguir:

Etiologia e Fatores de risco:

Os abscessos podem se desenvolver na presença ou na aunsência de uma bolsa

periodontal pré-existente (Herrera et al. 2018).

Abscesso periodontal em pacientes com periodontite (Herrera et al. 2018):

Em pacientes com periodontite, um abscesso periodontal pode representar um período de

exacerbação da doença, favorecido pela existência de bolsas tortuosas, presença de

envolvimento de furca ou um defeito vertical, em que o fechamento marginal da bolsa

poderia levar a uma extensão da infecção para dentro dos tecidos periodontais.

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Abscesso periodontal em pacientes sem periodontite (Herrera et al. 2018):

Abscessos periodontais também podem ocorrer em locais anteriormente saudáveis,

devido a:

• Impacto de corpos estranhos: fio dental, elástico ortodôntico, palito, dique de borracha

ou casca de pipoca.

• Hábitos nocivos (arame cortante, roer unhas, apertamento) podem favorecer a formação

de abscesso devido à impactação subgengival de corpos estranhos ou ao fechamento

coronal da bolsa.

• Fatores ortodônticos, como forças ortodônticas inadequadas ou mordida cruzada.

• Aumento gengival.

• Alterações da superfície da raiz.

Os sintomas mais comuns de abscessos periodontais são: dor, sensibilidade da gengiva,

inchaço ou “elevação” do dente, supuração durante sondagem. Os abscessos periodontais

são geralmente associados a uma bolsa periodontal profunda (7,3 a 9,3 mm), sangramento

à sondagem e aumento da mobilidade dentária, a perda óssea normalmente é observada

no exame radiográfico (Herrera et al. 2018).

DOENÇAS PERIODONTAIS NECROSANTES

Na classificação de 1999, a gengivite ulcerativa necrosante (GUN) e a periodontite

ulcerativa necrosante (PUN) foram incluídas nas Doenças Periodontais Necrosantes.

Estudos sugeriram que elas podem representar estágios diferentes da mesma doença,

porque têm etiologia, características clínicas e tratamento semelhantes, e podem até

progredir para formas mais graves, como estomatite necrosante (EN) e noma. A

terminologia “ulcerativa” foi posteriormente eliminada, porque a ulceração foi

considerada secundária à necrose (Herrera et al. 2018).

Etiologia e fatores de risco:

Doenças periodontais necrosantes são condições infecciosas; no entanto, fatores

predisponentes, incluindo comprometimento da resposta imune do hospedeiro, são

críticos na patogênese (Herrera et al. 2018):

Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana e síndrome da imunodeficiência

adquirida (HIV / AIDS);

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Desnutrição (redução acentuada nos principais nutrientes antioxidantes e uma resposta

de fase aguda alterada contra a infecção ("desnutrição energético-protéica") foram

relatadas como fatores de risco);

Estresse psicológico e sono insuficiente (durante os períodos de estresse, a resposta

imune e o comportamento do sujeito podem ser alterados);

Higiene oral inadequada, gengivite pré-existente e história anterior de Doença

periodontal necrosante;

Tabaco e Consumo de Álcool;

O diagnóstico das doenças periodontais necrosantes deve basear-se principalmente nos

achados clínicos, que são:

Categoria Pacientes Condições pré-disponentes Condições Clínicas

Doenças periodontais

necrosantes em pacientes crônicos,

severamente comprometidos

Em adultos HIV+/AIDS com contagem de

CD4 <200 e carga viral

detectável

GN, PN, EN, Noma. Possível progressão Outras condições sistêmicas

severas (imunossupressão)

Em crianças Desnutrição severa

Condições de vida extrema

Infecções severas (virais)

Doenças periodontais

necrosantes em pacientes

comprometidos moderamente e/ou temporariamente

Em pacientes com gengivite

Fatores descontrolados:

estresse, nutrição, fumo, hábitos. GN generalizada. Possível progessão

para PN. DPN prévia: defeitos residuais

Em pacientes com

periodontite

Fatores locais: proximidade de raízes, má posição dental

GN localizada. Possível progressão

para NP.

Fatores predisponentes comuns para DPN

PN, GN. Rara progressão.

Gegivite Necrosante (GN):

necrose e úlcera na papila

interdentária,

sangramento gengival,

dor,

formação de pseudomembrana,

halitose.

Periodontite Necrosante (PN):

mesmos sinais e sintomas da GN,

destruição do ligamento periodontal

e osso.

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LESÕES ENDO-PERIODONTAIS

Apresentação clínica

As lesões endo-periodontais (LEP) são condições clínicas que envolvem tanto a polpa

quanto os tecidos periodontais e podem ocorrer em formas agudas ou crônicas. Quando

estão associados a um evento recente traumático ou iatrogênico (por exemplo, fratura ou

perfuração da raiz), a manifestação mais comum é um abscesso acompanhado de dor. No

entanto, a LEP, em indivíduos com periodontite, normalmente apresenta progressão lenta

e crônica, sem sintomas evidentes (Herrera et al. 2018).

Os sinais e sintomas mais comuns associados a um dente afetado por uma LEP são: bolsas

periodontais profundas que atingem ou se aproximam do ápice e resposta negativa ou

alterada aos testes de vitalidade da polpa. Outros sinais que podem se apresentar são:

reabsorção óssea na região apical ou de furca, dor espontânea ou dor à palpação e

percussão, exsudato purulento, mobilidade dentária e alterações gengivais (Herrera et al.

2018).

Etiologia e fatores de risco:

A etiologia primária dessas lesões pode estar associada a (1) infecções endodônticas e /

ou periodontais ou (2) trauma e / ou fatores iatrogênicos (Herrera et al. 2018):

Lesões endo-periodontais associadas a infecções endodônticas e periodontais

Elas podem ser desencadeadas: (1) por uma lesão cariosa que afeta a polpa e,

secundariamente, afeta o periodonto; (2) por destruição periodontal que afeta

secundariamente o canal radicular; (3) ou por ambos os eventos concomitantemente. Este

último tipo ocorre com menor frequência e é geralmente referido como uma lesão

“combinada”. Essas lesões podem se desenvolver em indivíduos com saúde ou doença

periodontal.

Lesões endo-periodontais associadas a trauma e fatores iatrogênicos

Essas condições geralmente têm um mau prognóstico, pois afetam a estrutura dentária.

As lesões mais comuns nesta categoria são: (1) perfuração da câmara de raiz / polpa /

furca (por exemplo, devido à instrumentação do canal radicular); (2) fratura ou trinca da

raiz; (3) reabsorção radicular externa (por exemplo, devido a traumatismo); ou (4) necrose

pulpar (por exemplo, devido a trauma) que drena através do periodonto.

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Avaliação e Diagnóstico

O sistema de classificação mais comumente utilizado para o diagnóstico de LEP foi

publicado em 1972 por Simon e colaboradores e incluiu as seguintes categorias: (1) lesões

endodônticas primárias; (2) lesões endodônticas primárias com envolvimento periodontal

secundário; (3) lesões periodontais primárias; (4) lesões periodontais primárias com

envolvimento endodôntico secundário; e (5) lesões combinadas “verdadeiras” (Simon et

al. 2013; Herrera et al. 2018).

1) 2) 3)

4) 5)

(Fonte: imagens adaptatadas de Simon et al. 2013)

A principal desvantagem dessa classificação era basear suas categorias na fonte primária

de infecção (canal radicular ou bolsa periodontal). O uso da “história da doença” como o

principal critério para o diagnóstico não é prático, porque na maioria dos casos a história

completa não está disponível para o clínico. O diagnóstico e a classificação da LEP

devem basear-se no estado atual da doença e no prognóstico do dente envolvido, o

que determinaria o primeiro passo do planejamento do tratamento que seria manter ou

extrair o dente (Herrera et al. 2018).

Os três principais grupos prognósticos para um dente com uma LEP são: (1) sem

esperança, (2) ruim e (3) favorável. O prognóstico sem esperança está normalmente

associado à LEP causada por trauma ou fatores iatrogênicos, enquanto o prognóstico de

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um dente com LEP associado a infecções endodônticas e periodontais pode variar de

favorável a sem esperança, dependendo da extensão da destruição periodontal ao redor

do dente afetado, e a presença e gravidade da doença periodontal que afeta a saúde bucal

do paciente (Herrera et al. 2018).

A LEP deve ser classificada de acordo com os sinais e sintomas possíveis de serem

avaliados no momento em que a lesão é detectada e tem impacto direto em seu tratamento,

como presença ou ausência de fraturas e perfurações, presença ou ausência de

periodontite e extensão da destruição periodontal ao redor dos dentes afetados (Herrera

et al. 2018), como mostra a tabela abaixo:

Lesões Endo-

Periodontais com

dano na raiz

Fratura ou trinca de raiz

Perfuração do canal na raiz ou câmara pulpar

Reabsorção radicular externa

Lesões Endo-

Periodontais sem

dano na raiz

LEP em pacientes

com periodontite

Grau 1- bolsas periodentais profundas e estreitas em 1 superfície do dente.

Grau 2- bolsa periodontal profunda e larga em 1 superfície do dente.

Grau 3 - bolsas periodontais profundas em mais de 1 superfície dentária.

LEP em pacientes

sem periodontite

Grau 1- bolsas periodentais profundas e estreitas em 1 superfície do dente.

Grau 2- bolsa periodontal profunda e larga em 1 superfície do dente.

Grau 3- bolsas periodontais profundas em mais de 1 superfície dentária.

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PERIODONTITE COMO MANIFESTAÇÃO DE DOENÇAS

SISTÊMICAS

As doenças periodontais e certos distúrbios sistêmicos compartilham semelhantes fatores

etiológicos genéticos e / ou ambientais e, portanto, os indivíduos afetados podem

apresentar manifestações de ambas as doenças. Assim, a perda de tecido periodontal é

uma manifestação comum de certos distúrbios sistêmicos, que podem ter importante valor

diagnóstico e implicações terapêuticas (Albandar et al. 2018).

TRANSTORNOS SISTÊMICOS QUE TÊM GRANDE IMPACTO NA PERDA DO

TECIDO PERIODONTAL, INFLUENCIANDO A INFLAMAÇÃO

PERIODONTAL:

Existem muitas doenças e condições que podem afetar os tecidos periodontais ou por 1)

influenciando no curso da periodontite ou 2) afetando os tecidos periodontais de suporte

independentemente da inflamação induzida por biofilme (Jepsen et al. 2018):

1a. Doenças raras que afetam o curso da periodontite (por exemplo, síndrome de Papillon

Lefevre, deficiência de adesão de leucócitos e hipofosfatasia). Muitos destes têm um

grande impacto, resultando na apresentação precoce de periodontite grave.

1b. Doenças e condições mais comuns que afetam o curso da periodontite (por exemplo,

diabetes mellitus). A magnitude do efeito dessas doenças e condições no curso da

periodontite varia, mas elas resultam em maior ocorrência e gravidade da periodontite.

2. Condições raras que afetam os tecidos de suporte periodontal, independentemente da

inflamação induzida pelo biofilme da placa dental (por exemplo, carcinoma de células

escamosas, histiocitose de células de Langerhans). Este é um grupo mais heterogêneo de

condições que resultam na quebra dos tecidos periodontais e alguns podem mimetizar a

apresentação clínica da periodontite.

Dentro desses distúrbios são incluídos distúrbios genéticos e não genéticos (Albandar et

al. 2018).

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DISTÚRBIOS GENÉTICOS

Síndrome de Down (SD)

Tem maior prevalência e gravidade da doença periodontal do que indivíduos sem SD e a

perda de inserção periodontal começa na adolescência. Anormalidades intrínsecas do

sistema imunológico podem predispor esses indivíduos a infecções (Albandar et al.

2018).

Síndromes de deficiência de adesão de leucócitos (LAD)

Os neutrófilos estão confinados aos vasos sanguíneos e estão ausentes do periodonto, a

perda tecidual periodontal pode ser causada pela falta de vigilância imunológica dos

neutrófilos e pelo rompimento de mecanismos homeostáticos associados a neutrófilos

(Albandar et al. 2018).

Síndrome de Papillon-Lefèvre (PLS)

Desenvolve grave inflamação gengival e formação de bolsas logo após a erupção dos

dentes. A perda de inserção periodontal e osso alveolar progride rapidamente e leva à

perda dos dentes primários e permanentes em uma idade jovem (Albandar et al. 2018).

Síndrome de Haim ‐ Munk (HMS)

As manifestações periodontais incluem inflamação gengival grave logo após a erupção

dos dentes, periodontite, alta taxa de perda de inserção e perda precoce dos dentes

(Albandar et al. 2018).

Síndrome de Chediak-Higashi (CHS)

Inflamação gengival severa de início precoce e profundidade de sondagem profunda

generalizada que afeta a maior parte da dentição. Há também uma perda óssea alveolar

grave que progride rapidamente e leva à perda prematura dos dentes (Albandar et al.

2018).

Neutropenia congênita

Ulcerações orais, inflamação periodontal e periodontite são manifestações clínicas orais

comuns (Albandar et al. 2018).

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Doença granulomatosa crônica (DGC)

Têm mutações genéticas que causam defeitos na morte intracelular de microrganismos

fagocitados em leucócitos (Albandar et al. 2018).

Síndromes de hiperimunoglobulina E (H ‐ IgE)

Alguns casos mostram sangramento gengival grave e periodontite severa generalizada,

há atraso na erupção dos dentes permanentes (Albandar et al. 2018).

Síndrome de Cohen

Pacientes portadores da síndrome apresentam maior prevalência e gravidade da perda

óssea do que nos pacientes controles (Albandar et al. 2018).

DOENÇAS QUE AFETAM A MUCOSA ORAL E O TECIDO

GENGIVAL

Síndrome de Kindler

É uma dos 4 tipos de epidermólise bolhosa (EB), defeitos moleculares na zona da

membrana basal em certos tipos de EB, particularmente na síndrome de Kindler, podem

resultar em resistência reduzida no epitélio juncional, o que predispõe esses indivíduos a

desenvolver periodontite mesmo na ausência de patógenos periodontais (Albandar et al.

2018).

Deficiência de plasminogênio

Indivíduos com deficiência de plasminogênio podem apresentar perda óssea alveolar,

periodontite grave e perda precoce dos dentes. O plasminogênio desempenha papéis

importantes na cicatrização de feridas, na migração celular, no remodelamento tecidual e

na angiogênese, e a deficiência nessas funções parece desempenhar um papel

significativo na patogênese de várias doenças (Albandar et al. 2018).

DOENÇAS QUE AFETAM OS TECIDOS CONJUNTIVOS

Síndrome de Ehlers-Danlos (EDS) tipo VIII

Pode causar recessão gengival e periodontite severa generalizada que muitas vezes leva

à perda de todos os dentes. A periodontite também pode ocorrer em EDS tipo IV e, em

menor escala, em EDS tipo I (Albandar et al. 2018).

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34

Angioedema (deficiência do inibidor de C1)

O angioedema pode ser hereditário ou adquirido e os 2 tipos são clinicamente

indistinguíveis. Alguns relatos de casos descreveram pacientes com angioedema que

também apresentavam perda de inserção periodontal ou periodontite agressiva localizada

(Albandar et al. 2018).

Lúpus eritematoso sistêmico (LES)

Os tecidos afetados apresentam aumento do acúmulo de células imunes, anticorpos

antineutrofílicos citoplasmáticos e metaloproteinases, e produção alterada de citocinas e

TNF no sangue. Essas alterações podem causar hiperativação de linfócitos B e T, aumento

da produção de IgG e produção e acúmulo de autoanticorpos que causam destruição

tecidual (Albandar et al. 2018).

DESORDENS METABÓLICAS E ENDÓCRINAS

Doença de armazenamento de glicogênio (GSD) tipo 1b

Sofrem de disfunções mielóides, neutropenia e disfunção de neutrófilos atribuída ao

estresse do retículo endoplasmático gerado pela ruptura da produção de glicose endógena.

Foi relatada a severa ruptura periodontal em pacientes com GSD tipo 1b (Albandar et al.

2018).

Doença de Gaucher (GD)

As manifestações orais incluem perda da arquitetura trabecular do osso alveolar,

alargamento dos espaços da medula óssea e presença de lesões radiolúcidas em forma de

favo de mel, principalmente nas regiões pré-molar e molar (Albandar et al. 2018).

Hipofosfatasia (HPP)

Tanto o cemento acelular quanto o celular podem estar ausentes, hipocalcificados ou

displásicos. Estes defeitos no cemento da raiz resultam em comprometimento da inserção

periodontal e redução na altura do osso alveolar (Albandar et al. 2018).

Raquitismo hipofosfatêmico (HR)

Há alteração da mineralização óssea e dos dentes que pode levar à formação de ossos e

dentes malformados e debilitados e à perda prematura dos dentes (Albandar et al. 2018).

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Síndrome de Hajdu-Cheney

Desenvolver osteoporose e comumente apresentam periodontite severa e perda prematura

dos dentes (Albandar et al. 2018).

Diabetes mellitus (DM) e hiperglicemia crônica

Tem sido reconhecido como um importante fator de risco para doenças periodontais e

associado a uma prevalência e severidade significativamente maiores de periodontite. Na

presença de hiperglicemia, há uma resposta hiperinflamatória ao desafio bacteriano, que

pode dar origem a uma série de alterações no hospedeiro, incluindo defeitos neutrofílicos,

monócitos responsivos hiperinflamatórios, aumento da liberação de citocinas pró-

inflamatórias, reações de estresse oxidativo e respostas de cura prejudicadas (Albandar et

al. 2018).

Não há características fenotípicas características exclusivas da periodontite em pacientes

com diabetes mellitus. Portanto, a periodontite associada ao diabetes não é uma doença

distinta. No entanto, o diabetes é um importante fator modificador da periodontite e deve

ser incluído no diagnóstico clínico de periodontite como descritor (Jepsen et al. 2018).

Obesidade

Alterações induzidas pela obesidade em macrófagos e adipócitos podem levar à

inflamação crônica e à resistência à insulina. O aumento da produção pelo tecido adiposo

de vários fatores humorais (adipocinas) e citocinas pró-inflamatórias pode contribuir para

a patogênese da periodontite. A obesidade também pode diminuir a resposta imune inata

no periodonto (Albandar et al. 2018).

DOENÇAS DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA

Neutropenia adquirida

Um estudo relatou periodontite grave em um paciente de 15 anos com neutropenia auto-

imune, na qual as lesões periodontais melhoraram significativamente após a

administração de imunoglobulinas intravenosas (Albandar et al. 2018).

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HIV

Pode estar associada à ocorrência de periodontite necrosante e ao aumento da perda de

inserção e recessão gengival que se correlacionam com o declínio das contagens de CD4

(Albandar et al. 2018).

DOENÇAS INFLAMATÓRIAS

Epidermólise bolhosa adquirida

É caracterizada pela presença de autoanticorpos contra o colágeno tipo VII. Clinicamente,

os pacientes podem apresentar inflamação generalizada e aumento gengival, recessão

gengival, perda óssea alveolar e dentes móveis (Albandar et al. 2018).

Doença inflamatória intestinal (DII)

A DII e a periodontite têm respostas imunopatogênicas semelhantes, caracterizadas por

uma resposta imune de hipersensibilidade às bactérias do intestino comensais e à placa

bacteriana, respectivamente, que podem interromper a homeostase local em indivíduos

suscetíveis (Albandar et al. 2018).

Artrite reumatóide

Risco aumentado de perda de inserção periodontal e osso alveolar (Albandar et al. 2018).

OUTROS DISTÚRBIOS SISTÊMICOS QUE PODEM CONTRIBUIR

PARA A PERDA PERIODONTAL DE TECIDO, INFLUENCIANDO

A PATOGENIA DAS DOENÇAS PERIODONTAIS:

Estresse emocional e depressão

Estudos clínicos mostram uma correlação positiva entre doença periodontal e estresse e

alguns outros fatores psicológicos, como depressão, que podem potencializar o colapso

periodontal (Albandar et al. 2018).

Fumo (dependência de nicotina)

O tabagismo é um importante fator modificador da periodontite e deve ser incluído no

diagnóstico clínico de periodontite como descritor. De acordo com a nova classificação

de periodontite, o nível atual de uso de tabaco influencia o diagnóstico da grau da

periodontite (Jepsen et al. 2018).

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37

Medicamentos

Certos medicamentos, particularmente quimioterápicos citotóxicos, podem levar a

neutropenia, transiente ou prolongada e, portanto, podem estar associados a um aumento

do risco de periodontite (Albandar et al. 2018).

DISTÚRBIOS SISTÊMICOS QUE PODEM RESULTAR EM PERDA

DE TECIDO PERIFÉRICO INDEPENDENTE DA PERIODONTITE:

Vários distúrbios podem afetar o tecido periodontal e causar perda de osso alveolar

independentemente da presença de periodontite induzida por placa (Albandar et al. 2018).

Neoplasias

Doenças neoplásicas podem ocorrer como lesões primárias do tecido periodontal ou como

neoplasias secundárias metastáticas (Albandar et al. 2018).

Carcinoma de células escamosas da cavidade oral (CCE)

As características clínicas do CCE podem muitas vezes assemelhar-se a periodontite

localizada ou infecção periodontal aguda, com vermelhidão gengival, inchaço, aumento

das profundidades de sondagem e perda óssea radiográfica (Albandar et al. 2018).

Tumores odontogênicos

A lesão inicial se apresenta como edema mandibular ou maxilar localizado e

deslocamento dentário, já na lesão tardia se assemelha à periodontite localizada (Albandar

et al. 2018).

Outras neoplasias primárias do tecido periodontal

Se apresenta como uma lesão expansiva osteolítica na mandíbula (Albandar et al. 2018).

Neoplasias secundárias metastáticas do tecido periodontal

Além de poder se apresentar como lesão (s) osteolítica (s) em expansão nos maxilares,

pode possuir presença de lesão primária em outras partes do corpo; e a localização da

neoplasia primária varia de acordo com o tipo de neoplasia (Albandar et al. 2018).

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OUTROS DISTÚRBIOS QUE PODEM AFETAR O TECIDO

PERIODONTAL:

Granulomatose com poliangiite e histiocitose de células de Langerhans

Ambas as lesões podem afetar o tecido periodontal e assemelhar-se à periodontite

(Albandar et al. 2018).

Granulomas de células gigantes

Se manifestam como inchaços gengivais em epífises em expansão e causam a expansão

de lesões osteolíticas no tecido periodontal profundo, o que pode, ocasionalmente, se

expandir em direção ao tecido periodontal marginal (Albandar et al. 2018).

Hiperparatireoidismo

Pode levar a lesões osteolíticas únicas ou múltiplas (tumores marrons) na mandíbula e

podem mimetizar a perda óssea devido à periodontite. Além disso, a perda da lâmina dura

e o alargamento do ligamento periodontal podem ser achados comuns (Albandar et al.

2018).

Esclerodermia sistêmica (esclerodermia)

Possui muitas apresentações sistêmicas diferentes; pode apresentar alargamento do

ligamento periodontal e maior prevalência de periodontite (Albandar et al. 2018).

Síndrome de Gorham – Stout (síndrome do osso fantasma)

Ocorre a destruição progressiva de um ou vários ossos, e perda progressiva do osso

alveolar mandibular e aumento da mobilidade dos dentes (Albandar et al. 2018).

“Condições raras que podem ter efeitos importantes no curso da periodontite. A

periodontite é uma manifestação dessas condições. Os casos são definidos como

periodontite na presença da condição.” (Jepsen et al. 2018)

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DEFORMIDADES MUCOGENGIVAIS E CONDIÇÕES AO REDOR

DOS DENTES

A nova classificação inclui informações adicionais, como fenótipo periodontal,

severidade de recessão, dimensão da gengiva, presença / ausência de cáries e lesões

cervicais não-cariosas, preocupação estética do paciente e presença de hipersensibilidade

dentinária (Cortellini e Bissada 2018):

1. Fenótipo Periodontal

a. festonado fino

b. festonado espesso

c. liso espesso

2. Recessão gengival/tecido mole

a. superfícies vestibulares ou linguais

b. interproximal (papilar)

c. severidade da recessão (Cairo RT1, 2, 3)

d. espessura gengival

e. largura gengival

f. presença de lesões não cariosas cervicais/cáries

g. preocupação do paciente com a estética

h. presença de hipersensibilidade

3. Falta de gengiva queratinizada

4. Diminuição da profundidade vestibular

5. Freio aberrante / posição do músculo

6. Excesso gengival

a. pseudo-bolsa

b. margem gengival inconsistente

c. exposição gengival excessiva

d. hipertrofia gengival

7. Coloração anormal

Entre as deformidades mucogengivais, a falta de tecido queratinizado e a recessão

gengival são as mais comuns. Uma quantidade mínima de tecido queratinizado não é

necessária para evitar a perda de inserção quando boas condições de higiene estão

presentes. Porém, a gengiva inserida é importante para manter a saúde gengival em

pacientes com controle sub-ótimo de placa. A falta de tecido queratinizado é

considerada um fator predisponente para o desenvolvimento de recessões e

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inflamações gengivais. A recessão gengival ocorre com frequência em adultos, tem

tendência a aumentar com a idade e ocorre em populações com altos e baixos padrões de

higiene bucal (Cortellini e Bissada 2018).

A presença de recessão é esteticamente inaceitável para muitos pacientes;

hipersensibilidade dentinária pode ocorrer; as superfícies das raízes desnudas são

expostas ao meio bucal e podem estar associadas a lesões cervicais cariosas e não cariosas

(LCNC), como escoriações ou erosões (Cortellini e Bissada 2018).

CONDIÇÃO MUCOGENGIVAL NORMAL

Dentro da variabilidade individual de anatomia e morfologia, “condição mucogengival

normal” pode ser definida como “ausência de patogênese (ou seja, recessão gengival,

gengivite, periodontite)” (Cortellini e Bissada 2018; Jepsen et al. 2018).

Fenótipo periodontal

A distinção entre fenótipos diferentes é baseada nas características anatômicas dos

componentes do complexo mastigatório, incluindo 1) biotipo gengival, que inclui em sua

definição a espessura gengival (EG) e a largura do tecido queratinizado (LTQ); 2)

morfotipo ósseo (MO); e 3) dimensão do dente.

Em sua revisão sistemática, Zweers e colaboradores (2014) classificaram os fenótipos em

três categorias (Zweers et al. 2014; Cortellini e Bissada 2018; Jepsen et al. 2018)

• Fenótipo festonado em que há maior associação com coroa triangular delgada,

convexidade cervical sutil, contatos interproximais próximos à borda incisal e uma zona

estreita de tecido queratinizado, gengiva delicada e fina e um osso alveolar relativamente

fino.

• Fenótipo liso espesso mostrando coroas dentárias mais em forma de quadrado,

pronunciada convexidade cervical, grande contato interproximal localizado mais

apicalmente, uma zona ampla de tecido queratinizado, gengiva fibrosa espessa e um osso

alveolar relativamente grosso.

• Fenótipo espesso festonado gengiva fibrótica espessa, dentes finos, zona estreita de

tecido queratinizado e pronunciado recorte gengival.

Posição do dente

A influência da posição dos dentes no processo alveolar é importante. A posição

vestibularizada dos dentes é frequentemente associada à gengiva fina e tábua óssea

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vestibular fina. Em geral, os biotipos finos tendem a desenvolver mais recessões

gengivais do que os espessos. Isso pode influenciar a integridade do periodonto durante

a vida do paciente e constituir um risco ao aplicar tratamentos ortodônticos, de implante,

e restauradores (Cortellini e Bissada 2018).

RECESSÃO GENGIVAL

Definida como o deslocamento apical da margem gengival em relação à junção

amelocementária (JCE); está associada à perda de inserção e à exposição da superfície

radicular ao ambiente bucal (Cortellini e Bissada 2018).

Fenótipo periodontal e gengiva inserida

São considerados fatores de risco para recessão gengival: um fenótipo periodontal fino,

ausência de gengiva inserida e espessura reduzida do osso alveolar devido à posição

dentária anormal no arco. O consenso atual, é que cerca de 2 mm de tecido queratinizado

e cerca de 1 mm de gengiva inserida são desejáveis em torno dos dentes para manter a

saúde periodontal, embora uma quantidade mínima de tecido queratinizado não seja

necessário para evitar a perda de inserção quando o controle ideal da placa está

presente (Cortellini e Bissada 2018).

O impacto da escovação dentária

O método “inadequado” de escovação foi proposto como o fator mecânico mais

importante que contribui para o desenvolvimento de recessões gengivais. Outros fatores

de risco em potencial: duração da escovação dos dentes, força de escovação, frequência

de troca da escova de dente, dureza da escova (cerdas) e técnica de escovação dos dentes

(Cortellini e Bissada 2018).

O impacto da ortodontia

A direção do movimento dentário e a espessura buco-lingual da gengiva podem

desempenhar papéis importantes na alteração dos tecidos moles durante o tratamento

ortodôntico. Existe uma maior probabilidade de recessão durante o movimento dentário

em áreas com <2 mm de gengiva (Cortellini e Bissada 2018).

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CONSIDERAÇÕES DIAGNÓSTICAS

Profundidade de recessão

Quanto mais profunda a recessão, menor a possibilidade de cobertura completa da raiz.

Como a profundidade da recessão é medida com uma sonda periodontal posicionada entre

a JCE e a margem gengival, fica claro que a detecção da JCE é chave para esta medição.

Além disso, a JCE é o marco para a cobertura da raiz. Em muitos casos, no entanto, a JCE

não é detectável por causa da cárie radicular e/ou lesões cervicais não cariosas (LCNC),

ou é obscurecida por uma restauração cervical (Cortellini e Bissada 2018).

Espessura gengival

Pode ser avaliado usando uma sonda periodontal para medir a espessura gengival (EG),

observando a sonda periodontal brilhando através do tecido gengival após ser inserida no

sulco (Jepsen et al. 2018):

1) Sonda visível: fina (≤1 mm).

2) Sonda não visível: grossa (> 1 mm).

A EG <1 mm está associado à probabilidade reduzida de cobertura completa da raiz ao

aplicar retalhos avançados (Cortellini e Bissada 2018).

Nível clínico de inserção interdental (NIC)

As recessões associadas à integridade da inserção interdental têm o potencial de cobertura

completa da raiz, enquanto a perda de inserção interdental reduz o potencial de cobertura

completa da raiz e a perda de NIC interdental muito severa prejudica essa possibilidade.

Uma classificação de recessão baseada na medição da NIC interdental foi proposta por

Cairo (Cairo et al. 2011):

Recessão Tipo 1 (RT1): recessão gengival sem perda de inserção interproximal. A

junção amelo-cementária (JCE) interproximal não é clinicamente detectável nos aspectos

mesial e distal do dente.

)

Representação RT1: o nível de

inserção clínica vestibular foi de 3 mm, a junção cemento-esmalte interproximal não é detectável. (Fonte: imagem adaptada de Cairo et al. 2011)

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• Recessão Tipo 2 (RT2): recessão gengival associada à perda de inserção interproximal.

A quantidade de perda de inserção interproximal (medida a partir da JCE interproximal

até a profundidade do sulco interproximal/bolsa) é menor ou igual à perda de inserção

vestibular (medida da JCE vestibular até a extremidade apical do sulco bucal/bolsa).

Representação RT2: o nível de inserção clínica vestibular foi de 4 mm, o nível de inserção clínica interproximal foi de 3 mm (Fonte: imagem adaptada de Cairo et al. 2011)

• Recessão Tipo 3 (RT3): recessão gengival associada à perda de inserção interproximal.

A quantidade de perda de inserção interproximal (medida a partir da JCE interproximal

até a extremidade apical do sulco/bolsa) é maior do que a perda de inserção vestibular

(medida a partir da JCE vestibular até a extremidade apical do sulco bucal/bolsa).

Representação RT3: o nível de inserção clínica vestibular foi de 6 mm, o nível de inserção clínica interproximal foi de 8 mm (Fonte: imagem adaptada de Cairo et al. 2011)

HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA

A hipersensibilidade dentinária (HD) é uma condição de dor oral comum, muitas vezes

transitória. A dor, curta e aguda, resultante imediatamente da estimulação da dentina

exposta e resolvendo a remoção do estímulo, pode afetar a qualidade de vida. A recessão

gengival é considerada um fator de risco. As modalidades de tratamento incluem o uso

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de diferentes agentes aplicados às superfícies radiculares ou a aplicação de procedimentos

de cobertura radicular (Cortellini e Bissada 2018).

CONDIÇÕES DENTÁRIAS

Diferentes condições do dente, incluindo cárie radicular e lesões cervicais não cariosas

(LCNC) podem estar associadas a uma recessão gengival. A presença dessas lesões

dentárias causa modificações da raiz/superfície dentária com um potencial

desaparecimento da JCE original e/ou a formação de concavidades (degraus) de

profundidade e extensão diferentes na superfície da raiz.

Pini-Prato et al. (2010) classificaram a presença/ausência de JCE como Classe A (JCE

detectável) ou Classe B (JCE não detectável) e a presença/ausência de concavidades

cervicais (degrau) na superfície radicular como Classe + (presença de um degrau

cervical> 0,5 mm) ou Classe - (ausência de degeneração cervical) (Pini-Prato et al. 2010).

Portanto, uma classificação inclui quatro cenários diferentes de condições

relacionadas ao dente associadas a recessões gengivais (Cortellini e Bissada 2018).

DIAGNÓSTICO DA RECESSÃO GENGIVAL E CONDIÇÕES DE

SUPERFÍCIES RADICULARES

Região gengival Região dental

Profundidade

da recessão

gengival

Espessura

gengival

Largura

tecido

queratinizado

JCE

(A/B)

Degrau

(+/-)

Sem

recessão

RT1

RT2

RT3

JCE = junção cemento-esmalte (Classe A = JCE detectável, Classe B = JCE não detectável)

Degrau = concavidade da superfície radicular (Classe + = presença de um degrau cervical >

0,5 mm. Classe - = ausência de um degrau cervical > 0,5 mm)

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TRAUMA OCLUSAL E FORÇAS OCLUSAIS TRAUMÁTICAS

Força oclusal traumática é definida como força oclusal que excede a capacidade

reparativa do aparato de inserção periodontal, o que resulta em trauma oclusal e / ou causa

desgaste excessivo do dente (Fan e Caton 2018).

O trauma oclusal é um termo usado para descrever a lesão que resulta em alterações no

aparato de inserção, incluindo o ligamento periodontal, osso alveolar de suporte e

cemento, como resultado da (s) força (s) oclusal (s). O trauma oclusal pode ocorrer em

um periodonto intacto ou em um periodonto reduzido causado por doença periodontal,

neste caso podendo ser classificado como trauma oclusal primário ou trauma oclusal

secundário (Fan e Caton 2018).

Trauma oclusal primário é a lesão que

resulta em alterações teciduais devido a

forças oclusais traumáticas aplicadas a

um dente ou dentes com suporte

periodontal normal. Ocorre na presença

de níveis clínicos de inserção e níveis

ósseos normais e força oclusal excessiva

(s) (Fan e Caton 2018).

Isso se manifesta clinicamente com

mobilidade adaptativa e não é

progressivo (Jepsen et al. 2018).

Trauma oclusal secundário é a lesão

resultando em alterações teciduais de

forças oclusais normais ou traumáticas

aplicadas a um dente ou dentes com

suporte periodontal reduzido. Ocorre na

presença de perda inserção clínica e

perda óssea (Fan e Caton 2018). Dentes

se apresentam com mobilidade

progressiva, e além da mobilidade,

também podem exibir migração e dor em

função (Jepsen et al. 2018).

Fonte: Hallmon et al., 2004 (T.G.WilsonJr. et al. 1992).

Fonte: Hallmon et al., 2004 (T.G.WilsonJr. et al. 1992).

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Um periodonto reduzido só é significativo quando a mobilidade é progressiva, indicando

que as forças que atuam sobre o dente excedem a capacidade de adaptação da pessoa ou

do local (Jepsen et al. 2018).

O frêmito é um movimento palpável ou visível de um dente quando submetido a forças

oclusais (Fan e Caton 2018).

O bruxismo é um hábito de triturar, cerrar ou prender os dentes. A força gerada pode

danificar o dente e o aparato de inserção (Fan e Caton 2018).

O diagnóstico clínico de trauma oclusal pode incluir:

Mobilidade progressiva do dente,

Frêmito,

Discrepâncias oclusais / desarmonias,

Facetas de desgaste (causadas pela trituração dentária),

Migração do dente,

Fratura dentária,

Sensibilidade térmica,

Reabsorção radicular,

Ruptura cementária,

Espessamento do espaço do ligamento periodontal ao exame radiográfico.

(Fan e Caton 2018).

Lesões cervicais não-cariosas (LCNCs) envolvem perda de tecido duro no terço cervical

da coroa e superfície da raiz subjacente, através de processos não relacionados à cárie. A

abfração, uma lesão hipotética da superfície do dente causada por forças oclusais, é uma

das etiologias propostas para as LCNCs (Fan e Caton 2018).

Efeitos do trauma oclusal no início e progressão da periodontite

Histologicamente, um dente afetado por trauma oclusal demonstra distintas zonas de

tensão e pressão dentro do periodonto adjacente. A localização e a gravidade das lesões

variam com base na magnitude e direção das forças aplicadas. No lado da pressão, essas

alterações podem incluir aumento da vascularização e da permeabilidade,

hialinização/necrose do ligamento periodontal, hemorragia, trombose, reabsorção óssea e

alguns casos, reabsorção radicular e rupturas cementárias. Do lado da tensão, essas

alterações podem incluir o alongamento das fibras do ligamento periodontal e a aposição

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de osso alveolar e cemento. As alterações histológicas refletem uma resposta

adaptativa dentro do periodonto ao trauma oclusal (Fan e Caton 2018).

A). Dente exposto a força excessiva

horizontal (seta cinza), surgimento das

Zonas P: zonas de pressão e Zonas T:

zonas de tensão. Nas zonas de pressão

e tensão ocorrem alterações teciduais

que eventualmente permitem que o

dente se incline na direção da força. B).

Quando o dente não está mais sujeito

ao trauma, ocorre a regeneração

completa dos tecidos periodontais. (Figura e legenda adaptadas de Lindhe 5ª ed).

Como resultado do trauma oclusal constante, a densidade do osso alveolar diminui

enquanto a largura do espaço do ligamento periodontal aumenta, o que leva a um aumento

da mobilidade dentária e, muitas vezes, ao espessamento radiográfico do espaço do

ligamento periodontal. Além disso, o frêmito, ou mobilidade funcional palpável de um

dente, é outro sinal clínico significativo de trauma oclusal (Fan e Caton 2018).

Sem a inflamação induzida por placa, o trauma oclusal não causa perda óssea irreversível

ou perda de inserção do tecido conjuntivo. Portanto, o trauma oclusal não é um agente

causador da periodontite, mas pode ser um cofator que pode acelerar a degradação

periodontal na presença de periodontite (Fan e Caton 2018).

A mobilidade progressiva pode ser sugestiva de trauma oclusal contínuo, mas avaliações

em diferentes momentos são necessárias para fazer essa determinação. A mobilidade

dentária afeta os resultados após a terapia periodontal, os dentes com mobilidade não

ganham tanta inserção clínica quanto aqueles sem mobilidade após o tratamento

periodontal. Além disso, os dentes com mobilidade aumentada costumam demonstrar

maior perda de nível clínico de inserção durante o período de manutenção (Fan e Caton

2018).

Pode ser benéfico realizar a terapia oclusal em conjunto com o tratamento periodontal, na

presença de indicadores clínicos de trauma oclusal, especialmente relacionados ao

conforto do paciente e à função mastigatória. A oclusão do paciente deve ser

cuidadosamente examinada e registrada antes e após o tratamento. A oclusão de dentes

periodontalmente comprometidos deve ser projetada para reduzir as forças dentro das

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capacidades adaptativas da inserção periodontal reduzida. Em geral, na presença de

trauma oclusal, a terapia oclusal pode retardar a progressão da periodontite e melhorar o

prognóstico (Fan e Caton 2018). Dentes com mobilidade progressiva podem exigir

imobilização para o conforto do paciente (Jepsen et al. 2018).

Efeitos das forças ortodônticas no periodonto

Com um bom controle da placa, dentes com um periodonto reduzido, mas saudável,

podem passar por movimentos dentários sem comprometer o suporte periodontal.

Entretanto, uma força ortodôntica não controlada pode afetar negativamente o periodonto

e resultar em reabsorção radicular, distúrbios pulpares e reabsorção óssea alveolar (Fan e

Caton 2018).

Classificação

Classificação de forças oclusais traumáticas no periodonto (Jepsen et al. 2018):

1. Trauma oclusal

A. Trauma oclusal primário

B. Trauma oclusal secundário

C. Forças ortodônticas

FATORES RELACIONADOS AO DENTE E À PRÓTESE

Espaço biológico

Espaço biológico é um termo clínico comumente

usado para descrever as dimensões variáveis apico-

coronais dos tecidos supracrestais. Os tecidos

supracrestais inseridos são histologicamente

compostos do epitélio juncional e inserção do tecido

conjuntivo supracrestal. O termo espaço biológico

deve ser substituído por inserção de tecido

supracrestal (Jepsen et al. 2018).

Não é possível determinar se os efeitos negativos no

periodonto associados às margens de restauração

Fonte: Imagem adaptada de Lindhe, 5º edição.

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localizadas na inserção do tecido supracrestal são causados por placa bacteriana, trauma

ou uma combinação desses fatores (Ercoli e Caton 2018).

Restaurações dentárias fixas e próteses

Procedimentos protéticos aplicados para a fabricação de próteses fixas podem afetar

negativamente o periodonto. Procedimentos como preparo da coroa, deslocamento

gengival durante a moldagem, moldagens, próteses provisórias, e agentes cimentantes

podem ser fatores contribuintes para o desenvolvimento de gengivite, recessão gengival

e periodontite (Ercoli e Caton 2018).

A literatura disponível apoia a conclusão de que uma restauração direta com margens

subgengivais pode estar associada à gengivite localizada e ao aumento da profundidade

de sondagem. Uma restauração direta ou indireta com excesso nas margens pode estar

associada à gengivite localizada, aumento da profundidade de sondagem e perda óssea

interproximal. Estas alterações são provavelmente causadas pelo excesso de material

atuando como um fator de retenção de placa e causando da microflora subgengival

tornando-a mais característica da periodontite (Ercoli e Caton 2018).

Materiais dentários

Diferentes materiais dentários, suas características superficiais e localização em relação

à gengiva têm sido associados a respostas periodontais variáveis. Os materiais dentários

agem de forma semelhante ao esmalte como fatores de retenção de placa para iniciar a

gengivite (Ercoli e Caton 2018).

Íons e partículas metálicas, especialmente Ni e Pd, podem estar associados a reações de

hipersensibilidade que podem clinicamente aparecer como gengivite, localizadas na área

de contato gengival com o material dentário que não responde a medidas adequadas de

controle de placa (Ercoli e Caton 2018).

Próteses dentárias removíveis

Próteses parciais removíveis têm sido associadas com o aumento da prevalência de cárie,

gengivite e periodontite. Porém um prognóstico periodontal favorável pode ser esperado

desde que as seguintes condições sejam satisfeitas: 1) a doença periodontal, se presente,

é tratada e um regime de controle de placa pré-protético adequado estabelecido; 2) a saúde

periodontal e a higiene bucal são mantidas por meio de medidas de controle de placa e

consultas de manutenção periódicas, e 3) a motivação do paciente é reforçada para

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melhorar a adesão ao controle de placa e manutenção periodontal. Portanto, se o controle

da placa é estabelecido, as próteses corretamente projetadas e verificadas regularmente, e

os procedimentos de manutenção são realizados, as próteses parciais removíveis não

causam maior acúmulo de placa, perda de inserção periodontal ou mobilidade. Por outro

lado, se os pacientes não realizarem adequadamente o controle de placa e comparecerem

a consultas de manutenção periódicas, próteses removíveis poderiam atuar como fatores

de retenção de placa e indiretamente causar gengivite e periodontite (Ercoli e Caton

2018).

Anatomia e posição do dente

Projeções de esmalte cervical e pérolas de esmalte

Fatores anatômicos do dente, como projeções de esmalte cervical e pérolas de esmalte,

têm sido associados ao envolvimento de furca, aumento da profundidade de sondagem e

perda de inserção clínica (Ercoli e Caton 2018).

A extensão da projeção de esmalte em direção à área de furca pode ser classificada em

três classes, com o grau I descrito como “mudança distinta na junção cemento-esmalte

com a projeção do esmalte em direção à furca;” grau II, “projeção de esmalte se

aproximando da furca, mas não fazendo contato com a região” e grau II “projeção

cervical do esmalte se estendendo até a furca propriamente dita” (Blanchard et al. 2011;

Ercoli e Caton 2018).

As pérolas do esmalte são geralmente de forma esferoidal, variam em sua dimensão de

0,3 a 2 mm e ocorrem mais frequentemente isoladas em um dente, potencialmente

localizadas na área de furca de molares. Pérolas do esmalte podem atuar como um fator

de retenção de placa quando a periodontite progride ao ponto de se tornarem parte do

ecossistema microbiano subgengival (Ercoli e Caton 2018).

Sulcos de desenvolvimento

O sulco de desenvolvimento mais frequente parece ser o sulco palatino, mais

frequentemente localizado no incisivo lateral superior. O mecanismo sugerido para os

sulcos de desenvolvimento iniciarem a doença periodontal está relacionada à retenção de

placa que causa gengivite localizada e periodontite. Os sulcos também estão presentes em

outros dentes e principalmente nas áreas interproximais (Ercoli e Caton 2018).

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51

Fraturas dentárias e radiculares

Fraturas dentárias

Se as fraturas dentárias ocorrem coronalmente à margem gengival e não se estendem a

partes do dente circundadas por tecidos periodontais, elas não iniciam a gengivite ou a

periodontite, a menos que as características da superfície da área da fratura predisponham

a uma maior retenção de placa (Ercoli e Caton 2018).

Fraturas radiculares

As fraturas radiculares podem ser classificadas com base na trajetória da fratura (vertical,

transversal ou oblíqua), sua extensão (completa ou incompleta), localização (regiões

apical, ou cervical) e no modo de reparo/cicatrização (Andreasen et al. 2012; Ercoli e

Caton 2018).

Uma bolsa localizada, com perda de inserção e osso, é geralmente associada ao dente

fraturado e se estende para comprimentos variáveis ao longo da linha de fratura. Defeitos

ósseos estreitos, profundos, em forma de U são geralmente vistos durante a exposição

cirúrgica da área fraturada com reabsorção óssea e inflamação relacionada à infecção

bacteriana da margem gengival e do sistema de canais radiculares (Ercoli e Caton 2018).

Reabsorção radicular

A reabsorção radicular pode ser classificada em reabsorção superficial, inflamatória e de

substituição, e dependendo de sua localização, interna ou externa, cervical ou apical

(Carrotte 2004; Bartok et al. 2012). Quando a reabsorção radicular localiza-se no terço

cervical da raiz, ela pode se comunicar facilmente com o ecossistema microbiano

subgengival, a retenção de placa nesses locais pode causar gengivite e periodontite (Ercoli

e Caton 2018).

Posição dentária

Mordida cruzada, desalinhamento/rotação de um dente, e apinhamento estão associados

com aumento da retenção de placa e gengivite, maior profundidade de sondagem e perda

óssea e de inserção clínica (Ercoli e Caton 2018).

Proximidade radicular (PR)

A distância da raiz interproximal > 0,8 mm tem sido associada com uma posição mais

apical do osso interproximal. Para padronizar a localização e magnitude do PR, foi

proposta uma classificação que define a localização do local medido da proximidade

radicular (terço cervical, médio ou apical da raiz) e divide a severidade da proximidade

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radicular em tipo 1:> 0,5 a ≤ 0,8 mm; tipo 2:> 0,3 a <0,5 mm; tipo 3: ≤0,3 mm (Vermylen

et al. 2005; Ercoli e Caton 2018).

Erupção passiva alterada

É caracterizada pela margem gengival (e às vezes pelo osso) localizada em um nível mais

coronal. Esta condição pode estar clinicamente associada à formação de pseudobolsas

e/ou preocupações estéticas (Jepsen et al. 2018).

Ausência de pontos de contato

A presença de contatos proximais adequados é considerada importante para evitar a

compactação de alimentos entre dentes. Do ponto de vista periodontal, a ocorrência maior

de impactação de alimentos em locais sem ponto de contato proximal foi associado com

o aumento da profundidade de sondagem dessas áreas (Ercoli e Caton 2018).

CLASSIFICAÇÃO DE FATORES RELACIONADOS AO DENTE E À PRÓTESE

A. Fatores localizados relacionados ao dente que modificam

ou predispõem a doenças gengivais induzidas por placa /

periodontite

1. Fatores anatômicos do dente

2. Fraturas radiculares

3. Reabsorção da raiz cervical, lesões cementárias

4. Proximidade da raiz

5. Erupção passiva alterada

B. Fatores relacionados à prótese dentária localizada

1. Margens de restauração colocadas dentro dos tecidos

supracrestais

2. Procedimentos clínicos relacionados à fabricação de

restaurações indiretas

3. Reações de hipersensibilidade / toxicidade a materiais dentários

(Jepsen et al. 2018)

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SAÚDE PERI-IMPLANTAR

Os tecidos peri-implantares são aqueles que ocorrem em torno dos implantes dentários

osseointegrados. São divididos em componentes de tecido mole e duro. O componente

dos tecidos moles é denominado “mucosa peri-implantar” e é formado durante o processo

de cicatrização que segue a colocação do implante/pilar. O componente do tecido duro

forma uma relação de contato com a superfície do implante para garantir sua estabilidade.

Os tecidos peri-implantares desempenham duas funções básicas: a mucosa protege o osso

subjacente, enquanto o osso suporta o implante. De fato, a destruição dos tecidos peri-

implantares pode comprometer o sucesso e a sobrevivência do implante (Araujo e Lindhe

2018).

MUCOSA PERI-IMPLANTAR

A superfície externa (oral) do tecido conjuntivo é coberta por um epitélio frequentemente

ortoqueratinizado. A porção da mucosa peri-implantar que está voltada para o implante

(pilar) contém duas partes distintas, uma porção “coronal” que é revestida por um epitélio

de barreira fina (semelhante ao epitélio juncional da gengiva) e epitélio sulcular, e um

segmento mais “apical”, no qual o tecido conectivo parece estar em contato direto com a

superfície do implante. Esta porção apical da mucosa peri-implantar é designada zona de

adesão do tecido conjuntivo (Araujo e Lindhe 2018).

No tecido conjuntivo imediatamente lateral à barreira e ao epitélio sulcular, um delicado

plexo de estruturas vasculares, semelhante ao plexo vascular dentogengival, está

consistentemente presente. Nos implantes colocados na mucosa mastigatória, os

principais feixes de fibras de colágeno são ancorados na crista óssea e se estendem em

uma direção marginal paralela à superfície do dispositivo metálico (Araujo e Lindhe

2018).

Na saúde clínica, a mucosa peri-implantar forma uma vedação ao redor do componente

transmucoso do próprio implante, o abutment ou a restauração. A altura do tecido mole

ao redor do implante após a colocação influencia a profundidade inicial de sondagem. Em

geral, no entanto, a profundidade de sondagem associada à saúde peri-implantar deve ser

≤5,0 mm (Renvert et al. 2018).

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TECIDO ÓSSEO AO REDOR DOS IMPLANTES

Osseointegração

Albrektsson e Sennerby (1991) definiram a

osseointegração como “uma conexão direta

funcional e estrutural entre o osso vivo e a

superfície de um implante com carga”.

A osseointegração tem seu início com a formação

de um coágulo que é gradativamente substituído

por tecido de granulação que contém células

inflamatórias e também numerosas células

mesenquimais e vasos recém-formados.

Projeções de tecido ósseo ocorrem em torno de

estruturas vasculares e também em contato direto com pequenas áreas do implante. Até o

espaço ser preenchido com osso imaturo que se estende do osso antigo para alcançar a

superfície do implante. O osso imaturo, posteriormente, é substituído por osso lamelar e

o contato medular e osso-implante é estabelecido (Araujo e Lindhe 2018).

O Bone Interface Group (Institute of Biomaterials and Biomedical Engineering)

disponibiliza em seu site algumas animações esquematizadas para o estudo da

osseointegração dos implantes, apesar dos vídeos estarem em inglês, são de fácil

compreensão e estão disponíveis no link: http://www.ecf.utoronto.ca/~bonehead/.

Mudança no nível da crista óssea

Após a instalação e carga oclusal do implante, ocorre a modelagem do osso e, durante

esse processo, parte da altura da crista óssea é perdida. Após o período inicial, cerca de

75% dos implantes não apresentam perda óssea adicional, mas ocorre a osseointegração.

A maioria dos locais de implante que apresentam perda da crista óssea > 1 mm parece

estar associada à inflamação dos tecidos moles (Araujo e Lindhe 2018).

Fonte: Imagem adaptada do vídeo "Osteoconduction Animation". http://www.ecf.utoronto.ca/~bonehead/

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PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE OS

TECIDOS SAUDÁVEIS PERI-

IMPLANTARES E PERIODONTAIS

O implante carece de estruturas características do

dente, como o cemento radicular, o ligamento

periodontal e o osso alveolar propriamente dito. Os

feixes dento-alveolares e dento-gengivais conectam

os tecidos moles ao dente (cemento radicular),

enquanto tais feixes de fibras não são aparentes nos

tecidos peri-implantares. Nos locais

periodontalmente saudáveis, a margem da gengiva

segue o contorno da junção cemento-esmalte,

enquanto no local do implante correspondente a

margem da mucosa segue o contorno da crista óssea

(múltiplos implantes) ou se relaciona com a adesão do tecido conjuntivo nos dentes

adjacentes (implantes únicos). O dente é móvel dentro de sua cavidade, enquanto o

implante é ancorado rigidamente (anquilosado) ao osso hospedeiro circundante (Araujo

e Lindhe 2018).

A mucosa peri-implantar saudável é constituída por um núcleo de tecido conjuntivo

coberto por um epitélio queratinizado ou não queratinizado. A maior parte intra-óssea do

implante está em contato com o osso mineralizado, enquanto a porção restante se encontra

com a medula óssea, estruturas vasculares ou tecido fibroso. De acordo com as definições

disponíveis de mucosite peri-implantar e peri-implantite, a ausência de sinais de

inflamação clínica é necessária para concluir que um local tem saúde peri-implantar

(Araujo e Lindhe 2018).

O diagnóstico da saúde peri-implantar requer (Renvert et al. 2018):

• Ausência de sinais clínicos de inflamação.

• Ausência de sangramento e/ou supuração em sondagem suave.

• Nenhum aumento na profundidade de sondagem em comparação com os exames

anteriores.

• Ausência de perda óssea além das alterações no nível da crista óssea resultantes da

remodelação óssea inicial. Deve-se notar que as profundidades de sondagem dependem

Fonte: imagem adaptada de Renvert &Polyzois, 2017.

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da altura do tecido mole no local do implante. Além disso, a saúde do tecido peri-

implantar pode existir em torno de implantes com níveis variáveis de suporte ósseo.

Tem sido proposto que o tecido mole ao redor de implantes apresente menor resistência

à sondagem do que a gengiva em locais de dentes adjacentes. Essa propriedade da

selagem da mucosa do implante pode levar a sangramento induzido mecanicamente ao

sondar implantes dentários clinicamente saudáveis. A presença de um ponto de

sangramento local pode, portanto, representar um episódio traumático em vez de

um sinal de inflamação induzida por biofilme (Renvert et al. 2018).

Complicações biológicas que afetam os implantes osseointegrados referem-se

principalmente a condições inflamatórias associadas a um desafio bacteriano. Duas

variedades clínicas podem ser distinguidas: mucosite peri-implantar e peri-implantite.

Embora a presença de uma lesão inflamatória seja uma característica que ambas as

condições têm em comum, apenas a última apresenta uma perda do osso de suporte.

Prevê-se que a mucosite preceda a peri-implantite (Schwarz et al. 2018).

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MUCOSITE PERI-IMPLANTAR

A mucosite peri-implantar é considerada precursora da peri-implantite.

DEFINIÇÃO DE MUCOSITE PERI-IMPLANTAR

A mucosite peri-implantar tem sido definida como uma lesão inflamatória da mucosa

ao redor de um implante intraósseo sem perda do osso peri-implantar de suporte.

Os critérios importantes para a definição da mucosite peri-implantar são inflamação na

mucosa peri-implantar e ausência de perda óssea marginal contínua na região peri-

implantar (Heitz-Mayfield e Salvi 2018).

Histologicamente, a mucosite peri-implantar é caracterizada por uma lesão inflamatória

bem definida com infiltrado rico em estruturas vasculares, plasmócitos e linfócitos. O

infiltrado inflamatório não se estende apicalmente ao epitélio juncional para a zona do

tecido conjuntivo supracrestal (Renvert et al. 2018).

A mucosite peri-implantar se desenvolve a partir de mucosa peri-implantar saudável após

o acúmulo de biofilmes bacterianos em torno de implantes dentários osseointegrados, a

resolução do quadro de mucosite peri-implantar pode levar mais de 3 semanas (Heitz-

Mayfield e Salvi 2018).

O diagnóstico da mucosite peri-implantar requer (Renvert et al. 2018):

• Presença de sangramento e/ou supuração em sondagem suave com ou sem aumento da

profundidade de sondagem em comparação com exames.

• Ausência de perda óssea além das alterações no nível da crista óssea resultantes da

remodelação óssea inicial. Deve-se notar que os sinais visuais da inflamação podem variar

e que a mucosite peri-implantar pode existir em torno de implantes com níveis variáveis

de suporte ósseo.

Locais com mucosite peri-implantar devem ser considerados com risco aumentado para

o desenvolvimento de peri-implantite (Heitz-Mayfield e Salvi 2018).

INDICADORES/FATORES GERAIS DE RISCO

Tabagismo;

Radioterapia;

Diabetes mellitus: níveis de HbA1c> 10,1 pode estar associado a aumento do

sangramento ao sondar os implantes.

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PRINCIPAIS INDICADORES/FATORES DE RISCO LOCAIS

Higiene Oral

O acúmulo de biofilme está associado à presença de mucosite peri-implantar em torno de

implantes dentários osseointegrados. O controle mecânico do biofilme deve ser

considerado o padrão de tratamento para o manejo da mucosite peri-implantar

administrado pelo paciente ou pelo profissional de saúde bucal (Heitz-Mayfield e Salvi

2018).

Adesão/não adesão à terapia de suporte do implante

A mucosite peri-implantar é relatada como um achado comum entre os pacientes que não

aderem à terapia de suporte do implante, com uma prevalência de 48% durante um

período de observação de 9 a 14 anos. A terapia da mucosite peri-implantar deve ser

considerada um pré-requisito para a prevenção da peri–implantite (Heitz-Mayfield e Salvi

2018).

Características dos materiais e superfície dos componentes dos

implantes

A evidência da influência da rugosidade da superfície do implante na incidência da

mucosite peri-implantar em humanos é limitada. Aparentemente, uma redução adicional

na rugosidade da superfície não tem impacto nos escores de sondagem. Não é observada

associação entre a resposta inflamatória e a aspereza da superfície do pilar (Heitz-

Mayfield e Salvi 2018)

Design das próteses implanto-suportadas

A acessibilidade para remoção de biofilme em torno de próteses implanto-suportadas

desempenha um papel importante na prevenção e no manejo de doenças peri-implantares.

Implantes com margens de restauração supra mucosas produzem reduções

significativamente maiores nas profundidades de sondagem após o tratamento da

mucosite peri-implantar em comparação àquelas com margens de restauração

submucosas. Sempre que possível, as margens das próteses implanto-suportadas devem

ser colocadas na margem da mucosa peri-implantar ou acima dela, para facilitar o acesso

ao controle do biofilme (Heitz-Mayfield e Salvi 2018).

Dimensão da mucosa queratinizada peri -implantar

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Evidências para a presença ou a largura mínima da mucosa queratinizada ao redor dos

implantes para manter a saúde e a estabilidade dos tecidos moles permanece controversa.

Enquanto alguns estudos relataram taxas mais altas de mucosite peri-implantar em

implantes sem ou cercados por uma largura inadequada (<2 mm) de mucosa

queratinizada, outros estudos não encontraram associação. Em situações clínicas de

autocontrole adequado de biofilme em torno de implantes, a presença ou enxerto de

mucosa queratinizada para manter a saúde peri-implantar não parece ser essencial (Heitz-

Mayfield e Salvi 2018).

Excesso de cimento

O excesso de cimento tem sido associado a sinais clínicos de mucosite peri-implantar. A

mucosite peri-implantar foi mais prevalente em pacientes com próteses cimentadas

comparados com aqueles com próteses parafusadas. Portanto, para evitar excesso de

cimento, as margens de restauração devem estar localizadas na margem da mucosa peri-

implantar ou acima dela ou restaurações devem ser realizadas.

CONDIÇÕES DE MUCOSITE NÃO INDUZIDA POR PLACA

As doenças da mucosa, como o líquen plano oral (LPO), tem sido sugerida para afetar

negativamente a capacidade do epitélio para anexar a superfícies de titânio. Portanto,

pode-se postular que a mucosa peri-implantar afetada por tais condições também

responderia de maneira diferente de uma mucosa peri-implantar saudável a um desafio

bacteriano, resultando em uma quebra mais rápida da vedação de tecido mole peri-

implantar. Tem sido sugerido que pacientes suscetíveis podem sofrer reações

alérgicas/adversas a materiais como titânio e ligas de titânio; entretanto, as evidências

permanecem muito limitadas (Heitz-Mayfield e Salvi 2018).

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CONCLUSÕES

A mucosite peri-implantar é uma lesão inflamatória da mucosa peri-implantar na ausência

de perda óssea marginal contínua. A mucosite peri-implantar é causada principalmente

pela ruptura da homeostase do hospedeiro-microbiota na interface implante-mucosa e é

uma condição reversível no nível do biomarcador hospedeiro. O controle ideal do

biofilme em estudos experimentais de mucosite peri-implantar pode levar mais de 3

semanas para uma resolução completa no nível clínico. Fatores associados à mucosite

peri-implantar incluem acúmulo de biofilme, tabagismo e radioterapia. A terapia regular

de implante peri-implante com remoção de biofilme é uma importante estratégia

preventiva contra a conversão de saúde para a mucosite peri-implantar e também contra

a progressão da mucosite peri-implantar para peri-implantite (Heitz-Mayfield e Salvi

2018).

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PERI-IMPLANTITE

DEFINIÇÃO ATUAL DE PERI-IMPLANTITE

Peri-implantite é uma condição patológica que ocorre em tecidos ao redor de implantes

dentários, caracterizada por inflamação na mucosa peri-implantar e perda progressiva do

osso de suporte (Schwarz et al. 2018).

No cenário clínico, a inflamação dos tecidos moles é detectada por sondagem

(sangramento à sondagem, IG), enquanto a perda óssea progressiva é identificada nas

radiografias. Espelhando a progressão da gengivite para a periodontite, supõe-se que a

mucosite peri-implantar preceda a peri-implantite (Schwarz et al. 2018).

Características Histopatológicas da ocorrência da Peri-implantite

Semelhante à periodontite, as lesões nos locais de peri-implantite também foram

dominadas por plasmócitos e linfócitos, mas caracterizados por maiores proporções de

leucócitos polimorfonucleares e macrófagos. O tamanho das lesões de peri-implantite

pode ser mais de duas vezes maior que a observada em locais de periodontite (3,5 mm2

vs. 1,5 mm2). Além disso, as lesões de peri-implantite foram caracterizadas por maiores

proporções de área, números e densidades de plasmócitos, macrófagos e neutrófilos,

assim como densidade de estruturas vasculares externas e laterais ao infiltrado celular

(Schwarz et al. 2018).

Características clínicas da ocorrência da Peri-implantite

Sinais clínicos de inflamação, incluindo vermelhidão, edema, aumento da mucosa,

sangramento à sondagem positivo com ou sem supuração, juntamente com aumentos na

profundidade de sondagem e perda óssea radiográfica são comumente usados nas

definições de casos para peri-implantite. Locais de implante diagnosticados com peri-

implantite comumente apresentam a profundidade de sondagem aumentada (Schwarz et

al. 2018).

O diagnóstico de peri-implantite requer (Renvert et al. 2018) :

• Presença de sangramento e/ou supuração em sondagem suave.

• Maior profundidade de sondagem em comparação com exames anteriores.

• Presença de perda óssea além das alterações do nível da crista óssea resultantes da

remodelação óssea inicial.

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Na ausência de exame prévio, o diagnóstico dos dados de peri-implantite pode basear-se

na combinação de:

• Presença de sangramento e/ou supuração em sondagem suave.

• Profundidades de sondagem de ≥6 mm.

• Níveis ósseos ≥3 mm apical da porção mais coronária da parte intra-óssea do implante.

Deve-se notar que os sinais visuais de inflamação podem variar e que a recessão da

margem da mucosa deve ser considerada na avaliação da profundidade de sondagem.

Peri-implantite Periapical

A ocorrência de lesões periapicais em casos de peri-implantite foram comumente

caracterizados por radiolucência radiográfica periapical com ou sem sinais clínicos

concomitantes de inflamação, como vermelhidão, edema, fístula e/ou formação de

abscesso (Schwarz et al. 2018).

Lesões orais e mucosas que mimetizam peri -implantite

Tais lesões incluem tumores malignos primários (ou seja, carcinoma epidermóide oral)

ou metástases, bem como granuloma de células gigantes e granulomas piogênicos.

Embora essas condições patológicas compartilhem várias características clínicas com

doenças peri-implantares, elas revelam diferenças distintas para um quadro inespecífico

de inflamação ao nível histopatológico (Schwarz et al. 2018).

FATORES/INDICADORES DE RISCO PARA A PERI-IMPLANTITE

1) Histórico de Periodontite

Há fortes evidências de estudos longitudinais e transversais de que uma história de

periodontite constitui um fator de risco/indicador para peri-implantite (Schwarz et al.

2018).

2) Tabagismo

O tabagismo tem sido fortemente associado a periodontite crônica, bem como à perda e

perda dentária. Porém, atualmente, não há evidências conclusivas de que fumar constitui

um fator/indicador de risco para peri-implantite (Schwarz et al. 2018).

3) Diabetes

Em dois dos três relatos, foi encontrada uma associação entre os níveis de diabetes ou

HbA1c (hemoglobina glicada) e peri-implantite. No entanto, a evidência disponível é

inconclusiva sobre se o diabetes é um fator de risco/indicador para peri-implantite

(Schwarz et al. 2018).

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63

4) Controle inadequado da placa/falta de terapia de manutenção

regular

Há evidências de que o mau controle da placa e a falta de terapia de manutenção regular

constituem fatores/indicadores de risco para peri-implantite (Schwarz et al. 2018).

A ETIOLOGIA DAS DEFICIÊNCIAS DE TECIDOS DUROS E

MOLES EM IMPLANTES DENTÁRIOS

A posição protética ideal é determinada por vários fatores: 1) o plano de tratamento, que

leva em consideração o objetivo da terapia protética; 2) o volume e a morfologia óssea na

área; 3) a morbidade associada ao tratamento global; 4) os custos do tratamento; e 5) os

desejos do paciente. Assim, apesar de evitáveis, os defeitos ósseos frequentemente são

consequência da colocação do implante na posição protética em rebordos ósseos e tecido

moles suficientes (Hämmerle e Tarnow 2018).

As deficiências de tecido duro antes da colocação do implante abrangem situações em

que a quantidade de osso disponível não permite a colocação de um implante padrão

totalmente embutido no osso hospedeiro local (Hämmerle e Tarnow 2018):

Deficiências no tecido duro antes da colocação do implante

Perda dental

Trauma na extração dental

Periodontite

Infecções endodônticas

Fraturas radiculares longitudinais

Trauma geral

Altura óssea na região posterior de maxila (área do seio maxilar)

Doenças sistêmicas

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64

Deficiências no tecido duro depois da colocação do implante

Defeitos em situações de saúde

Mal posicionamento do implante

Peri-implantite

Sobrecarga mecânica

Espessura do tecido mole

Doenças sistêmicas

Deficiências no tecido mole antes da colocação do implante

Perda dental

Doença periodontal

Doenças sistêmicas

Deficiências no tecido mole depois da colocação do implante

Falta de osso vestibular

Altura das papilas

Tecido queratinizado

Migração dental e mudanças esqueléticas ao longo do tempo

DEFICIÊNCIAS NO TECIDO DURO ANTES DA COLOCAÇÃO DO

IMPLANTE

Perda dental

As cristas edêntulas reabsorvidas podem apresentar várias formas. De um modo geral, o

padrão de reabsorção da mandíbula é centrífugo e o da maxila é centrípeto. Este processo

de reabsorção pode atingir um grau, onde a circunferência da mandíbula é mais vestibular

do que a da maxila, a colocação de implantes em tais situações não é possível sem o

aumento ósseo para corrigir as deficiências ósseas (Hämmerle e Tarnow 2018).

Trauma na extração dental

Trauma durante a extração dentária pode afetar a cicatrização óssea no local da extração.

O levantamento de retalhos pode levar a maiores taxas de reabsorção e, portanto, a

menores dimensões do processo alveolar comparado à extração sem retalho. A formação

de tecido conjuntivo é reduzida nos locais que tem a cicatrização da ferida alterada

(Hämmerle e Tarnow 2018).

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65

Periodontite

À medida que a periodontite avança, o osso de suporte do processo alveolar é

continuamente reabsorvido adjacente aos dentes. Em um estudo, um grupo de 20

pacientes que perderam os dentes devido à doença periodontal, a colocação do implante

não foi possível devido à falta de volume ósseo (Hämmerle e Tarnow 2018).

Infecção periapical

As infecções endodônticas são um achado clínico comum que leva à reabsorção do osso

periapical. A reabsorção óssea ao redor do ápice do dente pode atingir um grau que afeta

clinicamente a viabilidade da colocação do implante usando procedimentos padrão.

Dependendo do grau de reabsorção óssea, a colocação do implante pode não ser possível

(Hämmerle e Tarnow 2018).

Fraturas radiculares longitudinais

As fraturas radiculares longitudinais podem levar à reabsorção óssea e, assim, causar

deficiências de tecidos duros nos implantes. Os padrões e a quantidade de reabsorção

óssea dependem de fatores como o tipo de fratura, a extensão e a duração até uma

intervenção terapêutica (Hämmerle e Tarnow 2018).

Trauma

O trauma pode afetar somente os dentes ou afetar os dentes, a mucosa, os ossos e os

tecidos intraorais e periorais. Quando o processo alveolar e/ou o corpo da mandíbula e a

maxila estão envolvidos, há um volume reduzido de osso disponível para ancoragem do

implante (Hämmerle e Tarnow 2018).

Altura de osso em área posterior de maxila (região do seio maxilar)

A altura do osso na maxila posterior é limitada pelo assoalho do seio e pela crista do osso

alveolar. Com a progressão da idade dos pacientes, o assoalho do seio maxilar se expande

em direção coronal, diminuindo assim a altura de osso. Esse processo é mais pronunciado

quando os dentes são extraídos em comparação aos sítios dentados. Como consequência,

intervenções cirúrgicas orais, como o levantamento do seio maxilar, se tornarão

necessárias, permitindo a colocação do implante (Hämmerle e Tarnow 2018).

Doenças sistêmicas

Algumas doenças sistêmicas estão associadas à formação anormal e incompleta de dentes

e ossos durante o crescimento e desenvolvimento, como a displasia ectodérmica. Quando

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66

o desenvolvimento dentário não ocorre, o processo alveolar não é formado ao todo ou é

reduzido em seu volume. Os déficits ósseos resultantes podem atingir diferentes graus de

magnitude. Com quantidades crescentes de ossos ausentes, o tratamento com implantes

torna-se cada vez mais difícil e a coleta de enxertos ósseos do paciente, com morbidade

associada, se torna necessária (Hämmerle e Tarnow 2018).

DEFICIÊNCIAS NO TECIDO DURO APÓS COLOCAÇÃO DE IMPLANTE:

Deficiências de tecido duro após a colocação do implante podem geralmente ser

colocadas em duas categorias: deficiências ósseas associadas a situações saudáveis e

aquelas associadas a doenças e disfunções (Hämmerle e Tarnow 2018).

Defeitos em situações saudáveis

Defeitos existentes em situações anatômicas saudáveis englobam defeitos de deiscência,

defeitos de fenestração e defeitos infraósseos. Além disso, em rebordos intactos, as

posições de implantes proteticamente corretas podem não estar dentro do envelope ósseo.

Mau posicionamento do implante

Um fator que recebeu atenção aumentada recentemente é o mau posicionamento dos

implantes. Observou-se que a recessão da mucosa vestibular está significativamente

associada a um posicionamento do implante mais vestibularizado. Poucos estudos de

coorte prospectivos relatam de forma estruturada o efeito do posicionamento do implante

nos tecidos duros e moles no local do implante. Além disso, vários relatos de casos

unitários ou múltiplos lidam com dificuldades reconstrutivas ao lidar com implantes mal

posicionados (Hämmerle e Tarnow 2018).

Peri-implantite

A peri-implantite inclui os seguintes componentes: “alterações no nível de crista óssea,

presença de sangramento e/ou supuração ao sondar; com ou sem o concomitante

aprofundamento das bolsas peri-implantes”. A peri-implantite leva à perda do tecido duro

e mole nos locais dos implantes (Hämmerle e Tarnow 2018).

Sobrecarga mecânica

A sobrecarga mecânica pode ser categorizada em duas entidades diferentes: forças de

carga oclusal impedindo que o implante se osseointegre durante a fase de cicatrização e

forças de carga oclusal destruindo uma osseointegração previamente estabelecida. A

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67

ausência de micro movimentação não é um pré-requisito para a osseointegração bem

sucedida (Hämmerle e Tarnow 2018).

Espessura do tecido mole

Possivelmente, os tecidos moles finos podem levar ao aumento da perda óssea marginal

em comparação com os tecidos moles espessos nos implantes (Hämmerle e Tarnow

2018).

Doenças sistêmicas

Deficiências dos tecidos duros após a colocação do implante também podem resultar de

doenças sistêmicas, doenças ósseas, ingestão de medicamentos e certas formas de

terapias. Mais notavelmente, a medicação prolongada de altas doses de bisfosfonatos

aumenta o risco de necrose óssea das mandíbulas em conjunto com a terapia com

implantes. Além disso, altas doses de radioterapia nas regiões dos maxilares podem levar

a uma redução óssea comprometida e, portanto, à perda óssea em implantes (Hämmerle

e Tarnow 2018).

DEFICIÊNCIAS DE TECIDO MOLE ANTES DA COLOCAÇÃO DO

IMPLANTE

Nas deficiências de tecido mole antes da colocação do implante, a quantidade disponível

de tecido mole não:

1) permitir facilmente uma cobertura de tecido mole dos aumentos do volume ósseo;

2) permitir cobertura primária sem tensão do local de colocação do implante; ou

3) permitir a adaptação isenta de tensão do retalho de tecido mole queratinizado ao redor

do colo do implante colocado (Hämmerle e Tarnow 2018).

Perda dental

Ao mesmo tempo em que o perfil ósseo da crista alveolar é reduzido em tamanho após a

perda do dente, o tecido mole também é reduzido. Quando os implantes são colocados

após a reparação óssea e dos tecidos moles, uma quantidade diminuída de tecido mole

para cobrir o local do implante e a regeneração óssea concomitante pode ser um problema

clínico importante (Hämmerle e Tarnow 2018).

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68

DEFICIÊNCIAS DE TECIDO APÓS A COLOCAÇÃO DO IMPLANTE

Falta de osso vestibular

A falta de osso vestibular em implantes tem sido relatada como associada à diminuição

da altura dos tecidos moles vestibulares. Há resultados conflitantes de estudos clínicos

prospectivos controlados e de estudos de coorte relatando se a tábua óssea vestibular

permanecerá estável ao longo do tempo e suportará o tecido mole vestibular ao implante

(Hämmerle e Tarnow 2018).

Altura da papila

Outra grande deficiência de tecido mole é a altura reduzida da papila entre dois implantes

adjacentes. Essa situação pode causar problemas estéticos significativos na área visível.

A altura da papila entre implantes e dentes é afetada pelo nível dos tecidos periodontais

nos dentes adjacentes. A altura da papila entre os implantes é determinada pela crista

óssea entre os implantes. Esses processos, no entanto, não são bem compreendidos devido

à falta de estudos bem controlados (Hämmerle e Tarnow 2018).

Tecido queratinizado

A necessidade de uma faixa adequada de tecido queratinizado nos locais dos implantes

foi discutida de forma controversa no passado. Existem numerosos ensaios clínicos

prospectivos e controlados avaliando as associações entre os parâmetros clínicos e

radiográficos e a presença ou ausência de uma faixa de mucosa queratinizada nos locais

dos implantes. Até o momento, os resultados são inconclusivos quanto ao efeito sobre a

saúde a longo prazo e a manutenção de implantes dentários que exibem essas condições

clínicas (Hämmerle e Tarnow 2018).

Migração de dentes e mudanças esqueléticas ao longo da vida

Discrepâncias entre implantes e dentes podem se desenvolver devido a desgaste dentário

e mudanças na anatomia da face e dos maxilares em adultos muito tempo depois que o

paciente tiver terminado o crescimento e desenvolvimento. Isso causará discrepâncias nas

alturas dos tecidos faciais entre as coroas dos implantes e os dentes naturais. Semelhante

ao desgaste dentário, essas mudanças ocorrem lentamente e levam tempo para se

manifestarem clinicamente. Com o aumento do uso de implantes osseointegrados durante

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longos períodos de tempo, espera-se que esses problemas aumentem. Mudanças nos arcos

maxilar e mandibular ocorrem continuamente (Hämmerle e Tarnow 2018).

Conclusões

Deficiências de tecidos duros e moles nos locais dos implantes podem resultar de

inúmeros fatores. Abrangem processos naturais de reabsorção após extração dentária,

trauma, doenças infecciosas, expansão do assoalho do seio, pré-condições anatômicas,

sobrecarga mecânica, tecidos moles finos, falta de mucosa queratinizada, mau

posicionamento de implantes, migração de dentes, crescimento ao longo da vida e

doenças sistêmicas (Hämmerle e Tarnow 2018).

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