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Ministério do Meio Ambiente – MMA Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis - IBAMA
Mastofauna como indicadora para o manejo do
Parque Nacional de Chapada dos Guimarães
(Chapada dos Guimarães/MT )
Grupo Temático : Masto fauna
Cuiabá – MT 2005
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Mastofauna
Samuel Ribeiro Marques
Stuart Alan Klorfine
Ligia Nara Vendramin
Thiago Borges Fernandes Semedo
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RESUMO ESTATÍSTICO
Número total de espécies: 75 espécies de mamíferos: sete espécies de marsupiais (uma
família, uma ordem); quatro espécies de tatus e duas de tamanduás (duas famílias, duas
sub-ordens); 18 espécies de morcegos (três famílias, uma ordem); duas espécies de
primatas (duas famílias); 12 espécies de carnívoros (quatro famílias e cinco sub-
ordens); duas espécies de porcos, três espécies de veados e uma espécie de bovino (três
famílias e três sub-ordens); uma espécie de anta (uma família e uma ordem); 23
espécies de roedores (oito famílias, duas subordens).
Número de espécies novas: Não houve observações a respeito de novas espécies de
mamíferos no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães.
Número de novos registros para a área: Foram obtidos seis registros novos para o
Parque Nacional de Chapada dos Guimarães. Entre os novos registros destacam-se as
espécies de morcegos por se tratar do primeiro inventário no interior do Parque
Nacional da Chapada dos Guimarães. Entre as espécies de interesse pode-se destacar
Artibeus cinereus, Rhinophylla pumilio, Micronycteris minuta e Pteronotus parnellii
por se tratarem de espécies ou indicadoras de habitat ou rara. Entre os roedores pode-se
destacar uma espécie Oryzomys cf. marinhus.
Informações interessantes: O Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (PARNA)
encontra-se numa região que foi exposta a cinco eventos geológicos do Pré-Cambriano
ao Cenozóico. Apesar do longo período desde a sua formação, a paisagem está sob
contínua mudança. Isto pode ser observado pelo mosaico de cerrado sentido restrito,
veredas e florestas de galeria estabelecida no sopé das escarpas. Esta paisagem está
sobre solo arenoso provindo das escarpas e da alti-planície ostentando uma grande
riqueza de espécies frutíferas conjugado pela grande riqueza de espécies de morcegos e
mamíferos de médio e grande porte. Na região do planalto pode-se notar uma
heterogeneidade espacial em função do relevo ora ondulado com florestas estacionais
nos vales, ora com campos no topo dos morros e cerrado nos terrenos suavemente
ondulados e planos. Ai pode-se observar uma riqueza de marsupiais, morcegos e
roedores nas áreas florestadas e de cerrado. Na face Sul do PARNA a dissecação é
menos abrupta e está coberta por Floresta Estacional que possui conectividade direta
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com o Pantanal mato-grossense e permite o intercâmbio de espécies mais exigentes de
habitat íntegros como Tayassu pecari. A fauna encontra-se ameaçada pela expansão do
cultivo de grãos na face leste do PARNA Chapada dos Guimarães e pela pecuária
extensiva na face nordeste. Estas atividades destacam-se pela fragmentação do habitat
promovendo o isolamento das espécies de mamíferos arborícolas no interior da
unidade de conservação além de retirar da dela a função de repositório da fauna para o
entorno.
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M a s t o f a u n a ( V e r t e b r a t a , M a m m a l i a ) c o m o i n d i c a d o r a p a r a o m a n e j o d o P a r q u e N a c i o n a l d e C h a p a d a d o s G u i m a r ã e s ( C h a p a d a d o s G u i m a r ã e s / M T ) Samuel Ribeiro Marques1, Stuart Alan Klorfine, Ligia Nara Vendramin2, Thiago Borges Semedo Fernandes2
1: Núcleo de Estudos Ecológicos do Pantanal – NEPA & Centro de Pesquisa do Pantanal – CPP. Cuiabá/MT; 2:
Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Biociências.
RESUMO
A implantação das áreas protegidas é um dos meios que as instituições públicas e a
Sociedade Civil Organizada utilizam para conservação de espécies e a manutenção dos
processos ecológicos. O Plano de Manejo é um instrumento que permite delimitar estratégias e
ações para o subsidiar o gerenciamento da unidade de conservação em função de sua
capacidade de suporte. Para o estabelecimento do Plano de Manejo torna-se necessário a
descrição entre outras informações da riqueza de espécies. Este trabalho tem o objetivo de
elencar as espécies de mamíferos presentes no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e
suas interações com o meio físico. Para isto foram utilizadas 15810 h.m2 de redes de neblina
para o registro dos morcegos, 2373 armadilhas-de-captura-viva para a coleta de roedores e
marsupiais e percorridos 72 quilômetros de transectos para o registro de mamíferos de médio e
grande porte. O trabalho também foi complementado com exemplares identificados em 450
escatos de Chrysocyon brachyurus coletadas previamente a este inventário. Os trabalhos
foram realizados em duas campanhas com dez dias contínuos cada. Uma ocorreu na estação
seca – setembro/outubro e a outra na estação chuvosa – março/abril. Foram identificadas 75
espécies de mamíferos no PARNA Chapada dos Guimarães sendo uma endêmicas do Cerrado
e três listadas como Vulnerável a extinção pelo IBAMA. O sítio com mais espécies ameaçadas
foi o do São Jerônimo com três espécies. Os habitats com maior riqueza de espécie foram o
gramíneo/lenhoso com 31 espécies os habitats florestados com 29 espécies e o gramíneo com
1 Samuel R Marques. Rua Oriente Tenuta, 384, Consil.Cuiabá/MT- CEP 78040450. E-mail: [email protected]
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dez espécies. As espécies registradas têm ampla distribuição geográfica. 54% das espécies
registradas ocorrem em mais de quatro biomas e 15% ocorre em menos de dois Biomas.
Observou-se uma expansão das áreas antrópicas na face leste e nordeste do PARNA Chapada
dos Guimarães pela agropecuária. Os cerrados que representam 49% dos habitats até 30
quilômetros no entorno já perderam 32% de área. Já os habitats florestados que representam
6% dos habitats até 30 quilômetros perderam 16% de área. Nota-se com isto isolamento das
espécies do PARNA Chapada dos Guimarães além de ausências significativas de espécies de
mamíferos que foram registrados até dez quilômetros no entorno do Parque e não ocorrem no
seu interior. Isto exige atenção na manutenção de corredores íntegros entre a unidade de
conservação e suas interconexões com as Bacias do Teles Pires, Rio das Mortes e Cuiabá que
servem de repositório e intercâmbio da mastofauna.
Palavras chaves: Mamíferos, Cerrado, Levantamento Ecológico Rápido, unidade de
conservação, Plano de Manejo.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
1.1. MASTOFAUNA NO CERRADO DO OESTE BRASILEIRO
Analisando a relação riqueza e espécies endêmicas de vertebrados por Bioma
(Myers et al. 2000) uma das visões que se obtém é a baixa representatividade de
espécies endêmicas no Cerrado.
O Cerrado, porém, difere substancialmente dos outros Biomas brasileiros devido
a sua heterogeneidade estrutural (Eiten 1972; Furley 1999). Toda esta diversificação
estrutural gera nichos resultando em fatores limitantes para a agregação de guildas de
vertebrados, invertebrados e plantas (Furley 1999; Constantino 2000; Bonvicino,
Lindbergh & Maroja 2002). Desta forma, deve-se considerar que cada habitat no
Cerrado possui importância para conservação da biodiversidade, pois toda esta
heterogeneidade é inversamente proporcional à área dos fragmentos.
Entre os vertebrados que ocorrem no Cerrado os mamíferos se destacam pela
presença de elementos de ampla distribuição geográfica e a diminuta quantidade de
espécies endêmicas (Marinho-Filho et al. 2002).
O status do conhecimento das espécies de mamíferos evolui em escala inversa
ao peso corporal, ou seja, a definição taxonômica tornou-se mais estável nos mamíferos
de grande, médio e consequentemente menor para os de pequeno porte. Pode-se afirmar
aqui que somente no final da década de 80 os mamíferos de pequeno porte, com massa
corporal inferior a 1000 g, começaram a ser fruto de contínua investigação taxonômica e
ecológica no Brasil. Desde 1950, entre as novas espécies de mamíferos descritas 77%
eram de pequeno porte (Sabino & Prado 2000). O mesmo padrão se repete desde 1992
quando 70% de todas as novas espécies de mamíferos descritas eram de marsupiais,
quirópteros e roedores (Reeder, Helgen & Wilsons 2007). Pode-se afirmar que
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atualmente estamos num processo revisão taxonômica baseada não somente nos
parâmetros morfológicos, mas principalmente em técnicas moleculares, citogenética e
primordialmente do DNA mitocondrial e nuclear (Voss & Jansa 2003; Bonvicino, Lima
& Almeida 2003; Lima & Kasahara 2001; Simmons, Voss & Fleck 2002).
Posto isto, verifica-se que o conhecimento sobre a mastofauna no seu quesito
mais básico que é o taxonômico ainda está em processo evolutivo o que defronta com a
vertiginosa expansão das atividades antrópicas no Cerrado. Iniciativas da sociedade
civil organizada e governamental têm buscado a ampliação das áreas protegidas como
uma medida de ordenamento territorial para manutenção da vida silvestre e dos
ecossistemas.
Além de buscar este ordenamento territorial, o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC) tem como uma de suas diretrizes a implantação de medidas
efetivas para conservação dos recursos naturais nas áreas protegidas. Entre estas
medidas destaca-se o Plano de Manejo, que fornece os subsídios técnico e científico
para o gerenciamento e adequação da unidade de conservação ao Sistema Nacional de
Unidades de Conservação.
Desta maneira, torna-se sumário aqui determinar os parâmetros de riqueza e
populacional da mastofauna como indicadores do manejo do Parque Nacional da
Chapada dos Guimarães. Destaca-se que este trabalho por sua brevidade na coleta dos
dados trata-se de apenas de uma observação temporal da qual se buscou definir os
padrões da comunidade de mamíferos.
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1.2. ORDENAMENTO TERRITORIAL E AMEAÇAS PARA A CONSERVAÇÃO DA RIQUEZA DA MASTOFAUNA
Estima-se que apenas a terça parte do Cerrado ainda encontra-se indiretamente
alterada pela antropização (Conservation International, 1999).
A pressão é contínua pela expansão dos cultivos agrícolas anuais soja (Fearnside
2001) milho, algodão, cana-de-açúcar e arroz e pela pecuária extensiva (IBGE 2008).
No Estado do Mato Grosso considerado uma zona de contato do Cerrado com a
Amazônia Morton et al. (2006) estimou que nos anos de 2001 a 2004 no pico do preço
da soja no mercado international houve a conversão direta de 4 670 km2 para o cultivo
de soja o que representou 17% da área desflorestada neste período. A área de Cerrado
convertida diretamente para o cultivo de soja neste mesmo período em Mato Grosso de
5 770 km2.
O limitante de todo esse processo de expansão é a infra-estrutura que ainda é
precária no Cerrado. Para melhorar o acesso das regiões produtoras aos centros de
escoamento o Governo Federal implantou Plano de Aceleração do Crescimento -
Transportes, para amenizar este problema planeja-se investir R$ 3,5 bi de 2007 a 2010
no Centro Oeste em hidrovias, ferrovias e rodovias em áreas de uso já consolidadas.
Este investimento irá expandir a operacionalidade do sistema Multi-Modal de
Transporte na região Centro-Oeste. Destaca-se que este sistema permitiu a consolidação
do Complexo da Soja na década de 90 no Centro-Oeste devido ao acesso e
implementação das Hidrovias do Madeira, Paraguai e Araguaia-Tocantis e ampliação da
Ferronorte.
A pecuária até o Censo Agropecuário de 1996 havia convertido 38% de Cerrado
em pastagem (Alho & Martins 1995). A pecuária não interfere na paisagem somente
pela conversão direta. É comum observar que mesmo as áreas determinadas como
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naturais através de imagens de satélite quando observadas in loco encontram-se
parcialmente degradadas pela pecuária extensiva. Prance & Schaller (1983), observaram
que a pecuária extensiva promove a seleção de espécie pelo gado. Já o fogo recorrente,
instrumento para abertura de novas áreas e manutenção da pecuária, elimina as espécies
arbóreas e facilita a ampliação ou dominância de espécies gramíneas e herbáceas
(Hoffmann & Solbrig 2003). Além disso, o pastoreio do gado em campos naturais pode
promover a seletividade de espécies de pequenos mamíferos terrestres (Smit et al. 2001)
Outro fator impactante para o Cerrado é a instalação de PCHs e UHEs para a
geração de energia. O Parque Gerador de Energia Hidrelétrica do Sistema Sudeste e
Centro-Oeste que representam regiões que abrangem a maior parte do Cerrado
respondia pela Carga de Demanda de 38 700 MW h/h em 2006 e projeta-se num cenário
de baixa expansão uma carga de demanda de 62 275 MW h/h para 2016 (EPE 2007).
Desta forma nota-se que o grau de pressão sobre o Cerrado continuará crescente,
tendo como contraponto somente a incorporação de tecnologias e práticas intensivas o
que poderá potencialmente diminuir a necessidade de expansão sobre áreas naturais.
Torna-se premente a manutenção da integridade dos ecossistemas no interior das
unidades de conservação tanto para manter o equilíbrio natural e os eventos estocásticos
como para facilitar a compreensão sobre a sua biota. Sabe-se que 70% do Cerrado
encontram-se sem nenhum estudo ou precariamente estudado (IBAMA 2002).
2. ÁREA DE ESTUDO E PROCEDIMENTOS
2.1. ÁREA DE ESTUDO Caracterização física
O PARNA está situado nos municípios de Cuiabá/MT e Chapada dos
Guimarães/MT tendo como coordenadas de referência 55º 51’ 24" W e 15º 21’ 10” S,
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Figura 1. Esta área esta dentro dos Domínios do Cerrado com predomínio de Cerrado
Sentido Restrito. A temperatura média anual na área de entorno oscila de 21 ºC em
junho a 26ºC em agosto e a mínima anual variando de 19 ºC e a máxima a 32 ºC.
O Parque Nacional de Chapada dos Guimarães está distribuído em dois grandes
Domínios Geomorlógicos. O primeiro é o Cinturão Orogênico Paraguai-Araguaia de
formação no Proterozóico com predomínio no PARNA da Depressão Cuiabana –Grupo
Cuiabá, Figura 2. Isto reflete numa altimetria de 200 a 450 metros e na formação de
solos litólicos. O segundo Domínio Geomorfológico é o da Bacia do Paraná do
Mesozóico através do Planalto dos Guimarães Figura 2. Este último sítio esta composto
por três Formações – Furnas, Ponta Grossa e Botucatu. Isto resulta numa altimetria de
600 a 800 metros. Além disso, no sul do PARNA há presença de formações detrito-
laterítica do início do Cenozóico. A Formação Furnas se apresenta na forma de solos
arenosos e concrecionários e visivelmente exposto nas escarpas. A Formação Ponta
Grossa aparece nos fundos de vales e interflúvios com predomínio de florestas de
galeria, a Formação Botucatu no sopé das encosta e nas alti-planície usualmente
aparecendo em solos arenosos. Toda essa variedade na formação geológica reflete na
grande diversidade de relevo e paisagens (Ross & Santos 1982; Borges et al. 1997).
Os solos são compostos por Areias Quartzosas associadas a Latossolos Vermelho-
Amarelo distróficos ou Areias Quartzosas associadas a solos litólicos nos relevos
ondulados ou Areias Quartzosas associadas a solo Podzólico Vermelho-Amarelo álico
nos solos suaves e levemente ondulados. A segunda classe predominante são os solos
Litólicos associados a Cambissolos nos relevos suaves a levemente ondulados ou
Litólico com afloramentos rochosos nas escarpas. Ocorre em menor proporção os solos
Concrecionários distróficos associados ao Litólico em terrenos ondulados no norte do
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PARNA e solo Concrecionários distróficos associados a Argissolos no sul do PARNA
(Santos et al. 1997).
2.2. INTER-RELAÇÃO DA MASTOFAUNA COM O MEIO BIOFÍSICO DO PARQUE NACIONAL DE CHAPADA DOS GUIMARÃES E ENTORNO
A mastofauna local tem ampla semelhança com a registrada para o Pantanal. As
espécies diferenciais ocorrem na alti-planície no Planalto dos Guimarães. Neste patamar
mais elevado ainda encontra-se fragmentos de Florestas Estacionais associados a
Florestas Aluviais ou em contato com Veredas e isolados na paisagem. Isto é resultado
da regressão das Zonas de Tensão Ecológica seja por fatores climáticos ou por
movimentos tectônicos. O Planalto dos Guimarães mantém contato com duas sub-bacias
amazônicas a do rio Teles Pires e Tocantins. A primeira através das nascentes do rio
Teles Pires em proximidade as nascentes do rio Manso na Bacia do Rio Cuiabá e o
segundo nas nascentes e afluentes do rio das Mortes sub-bacia do Tocantins em contato
com o rio da Casca e rio Roncador (Figura 1). Estes são os contatos atuais mais
próximos entre os Biomas Cerrado e Amazônico nas imediações do Parque Nacional de
Chapada dos Guimarães. Ao Sul os contatos com o Pantanal ocorrem por meio terrestre
através das nascentes do rio Aricá com áreas florestadas oriundas de deposições dos
Aluviões Fluviais no Quartenário. (Figura 2).
Os contatos Amazônicos são observados através das espécies registradas
anteriormente para a alti-planície como macaco-aranha Ateles chamek (E. Geoffroy,
1806, Potos Flavus (Schreber, 1774), rato-espinho Proechymis guyannensis (E.
Geoffroy, 1803) e rato Oecomys roberti (Thomas,1904).
Os mamíferos silvestres apesar de poucas evidências de exemplares coletados e
observados não possuem limitação biogeográfica imposta pela escarpa. Entre as poucas
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espécies limitadas por esta barreira que habitam o Planalto de Guimarães destacam-se
jupará - Potos flavus, macaco-aranha Ateles chamek e rato-espinho Clyomys laticeps
(Thomas, 1909). Ou seja, destacam-se aqui espécies de hábito arborícola ou terrestre
com deslocamento limitado pelo porte e espeficidade de habitat.
Outros fatores físicos de importância para regulação da presença e abundância
da mastofauna destacam-se as formações geomorfológicas. O Grupo Cuiabá possui
grande importância por sua impermeabilidade à água. Logo, toda a água acumulada
pelas chuvas e aqüíferos superficiais é extravasada nas bordas das escarpas formando os
corpos de água que permitem o desenvolvimento das veredas nas nascentes e das matas
de galeria ao longo do curso de água. Isto se observa tanto na Depressão, a exemplo do
Rio Claro, Fortes, Mutuca como no Planalto nas matas do São Jerônimo, Figura 2. A
Formação Botucatu em processo avançado de intemperização permite a formação das
camadas de areia avermelhadas. No Planalto este solo é mais superficial e sobre ele
desenvolve um Cerrado Ralo. Enquanto na Depressão, ocorre a formação de Veredas
sobre Areias Quartzosas Hidromórficas e Cerrado Sentido Restrito nas Areais
Quartzosas Álicas. Por formar camadas mais profundas desenvolve com predomínio o
Cerrado de Sentido Restrito, com presença das atas, tucum, murici, marmelos, coroa-de-
frade agregando ai às espécies de mamíferos de médio e grande porte com dieta
parcialmente frugívora. Pode-se citar como exemplo anta- Tapirus terrestris (Linnaeus,
1758), lobinho - Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766), cutia - Dasyprocta azarae
(Lichtenstein, 1823), veado-catingueiro - Mazama gouazoupira (G. Fischer, 1814),
lobo-guará - Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815). Esta associação da Formação
Botucatu e Cerrado Sentido Restrito predomina na base da escarpa e na alti-planície. Na
região do Vale da Benção e do Jamacá com a predominância nos fundos de vales
dissecados oriundas da exposição da Formação Ponta Grossa cobertas por solos
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concrecionários e argissolos permitem o desenvolvimento de uma vegetação florestada
com distribuição mais predominante e ampla. Este ambiente retém uma maior riqueza
de espécies de morcegos, espécies de mamíferos arbóreos, escansoriais e os primatas –
macaco-prego - Cebus apella (Linnaeus, 1758), bugio - Alouatta caraya (Humboldt,
1812), os carnívoros quati - Nasua nasua (Linnaeus, 1766), jupará - Potos flavus, os
roedores rato - Oecomys roberti, rato - Oecomys concolor (Wagner, 1845), porco-
espinho - Coendou prehensilis (Linnaeus, 1758) e rato-espinho P. guyanensis. Na região
do São Jerônimo está condicionada pela exposição da Formação Furnas nos morros
residuais sob os quais ocorre os Campos Limpo ou Campo Sujo e Cerrado Sentido
Restrito. Nas regiões de vale predomina as Florestas Estacionais e Aluviais e nas
planícies entre os vales e morros residuais ocorre o Cerrado Sentido Restrito sobre areia
quartzosa e Veredas. Nesta região há uma heterogeneidade espacial tanto pelo relevo
como pelos contatos mais freqüentes entre dos diversos gradientes fitofisionômicos. Aí
ocorre uma riqueza maior de espécie mais associadas aos ambientes de cerrado como
lobo-guará, tamanduá-bandeira - Myrmecophaga tridactyla (Linnaeus, 1758), rato
punaré - Thrichomys apereoides (Lund, 1839), lobinho - C. thous. Além de espécies
com preferência por ambientes mais florestados como rato - O. roberti, macaco-prego -
C apella, porco-espinho C. prehensilis. Esta heterogeneidade espacial observada nas
regiões mais elevadas do PARNA Chapada dos Guimarães explica a ausência de
espécies dominantes devido ao tamanho diminuto dos fragmentos da paisagem.
Diferentemente do Rio Claro e Riacho Porteira pela clara dominância de Cerrado
Sentido Restrito com dominância de cutia - D. azarae.
Em razão desta heterogeneidade foram escolhidos pontos amostrais para
detecção da mastofauna no PARNA de Chapada dos
Guimarães e entorno conforme Figura 2 e Tabela 1.
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Tabela 1. Lista dos sítios, pontos e habitats de amostragem pelo grupo de mastofauna no PARNA Chapada dos Guimarães e entorno em 2005/2006.
SÍTIO CÓDIGO DO HABITAT LOCAL SITUAÇÃO
TOPOGRÁFICA COORDENADAS SUBSTRATO ROCHA EXPOSTA
UMIDADE DO SOLO ESTRUTURA SUBBOSQUE
DRENAGEM MAIS PRÓXIMA
(METROS) 1 I RF-FIN RIBEIRÃO FORTES 250 612200 8306299 AR NÃO MÉDIO FLORESTAL SIM 5 2 II RF-CSB RIBEIRÃO FORTES 260 612282 8306323 AR NÃO SECO ARBUSTIVO SIM 50 3 II RC-VER RIO CLARO 300 623824 8306865 AR AG NÃO SATURADO CAMPESTRE NÃO 0
4 II RC-ROD RIO CLARO 275 617917 8304199 LI SIM SECO SAVÂNICO NÃO - 5 II RC-CSC RIO CLARO 330 620300 8304270 LI SIM SECO ARBUSTIVO SIM 1100 6 II RC-FG RIO CLARO 270 621148 8306065 AR NÃO MÉDIO FLORESTAL SIM 0 7 II RC-CUM RIO CLARO 275 621141 8305985 AR AG NÃO ÚMIDO CAMPESTRE NÃO 0 8 II RC-CSB RIO CLARO 290 621157 8305717 AR NÃO SECO ARBUSTIVO SIM 500 9 III FP-CRA FAZENDA POMBAL 620 621453 8310846 AR LI SIM SECO ARBUSTIVO SIM 1500 10 III FP-CRU FAZENDA POMBAL 670 624531 8307867 LI SIM SECO CAMPESTRE NÃO 3700 11 III FP-CSB FAZENDA POMBAL 700 627600 8307383 AR NÃO SECO SAVÂNICO NÃO 4100 12 III FP-CSU FAZENDA POMBAL 690 623513 8308665 AR NÃO SECO SAVÂNICO NÃO 3200 13 IV-A SG-FEE SÃO GERÔNIMO 640 624902 8293890 AR AG LI SIM ÚMIDO FLORESTAL SIM 0 14 IV-A SG-FES1 SÃO GERÔNIMO 650 625196 8293746 AR LI SIM SECO FLORESTAL SIM 0 15 IV-A SG-FES2 SÃO GERÔNIMO 690 623693 8292418 AR AG NÃO ÚMIDO FLORESTAL SIM 0 16 IV-A SG-CSA SÃO GERÔNIMO 650 625113 8293192 AR NÃO SECO FLORESTAL SIM 340 17 IV-B VN-CSS VÉU DE NOIVAS 630 624740 8297769 AR SIM SECO ARBUSTIVO SIM 300 18 IV-B VN-CUM VÉU DE NOIVAS 620 624645 8298870 AR AG SIM ÚMIDO CAMPESTRE NÃO 1 19 IV-B VN-ROD VÉU DE NOIVAS 580 624787 8298533 AR LI SIM SECO ARBUSTIVO SIM 50 20 V VB-FEE VALE DA BENÇÃO 690 628713 8289161 AR LI SIM SECO FLORESTAL SIM 830 21 V VB-FES VALE DA BENÇÃO 830 629993 8292988 AR AG NÃO SECO FLORESTAL SIM 690
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3. MÉTODOS DE AMOSTRAGEM Os trabalhos foram realizados em duas campanhas para coleta de dados pelo método
Avaliação Ecológica Rápida – REA (Sayre et al. 2002). A primeira campanha ocorreu em
doze dias contínuos entre 26 de setembro a 7 de outubro de 2005, abrangendo a estação da
seca. A segunda campanha foi realizada em dez dias contínuos entre 29 de março e 7 de abril
de 2006 em concomitância com a estação chuvas. Nas duas campanhas tentou-se amostrar os
mesmos sítios e pontos com o objetivo de registrar espécies com variação de abundância
sazonal.
Para o registro e coleta das espécies da mastofauna foram aplicados procedimentos
amplamente utilizados no inventário de mamíferos (Voss & Emmons 1996). Na identificação
das espécies recorreu-se a descrições e chaves em literatura e a exemplares do Museu de
Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP), e visita a Coleção de Vertebrados da UnB.
Vide Anexo 1. Para a caracterização ecológica das espécies seguiu-se Fonseca et al. (1996) e
Marinho-Filho et al. (2002). Para o tratamento estatístico dos dados foram consideradas as
abordagens em Krebs (1999) e Ludwig & Reynolds (1988). As fitofisionomias foram
consideradas conforme Ribeiro & Walter (1998).
Para estimativa dos habitats prioritários para conservação foi feita a transformação dos
dados obtidos de riqueza. Para isto foi utilizado a razão entre o número de espécies por
habitats pelo total inventariada pelas técnicas armadilhas, redes transecto e este valor
transformado numa escala logarítmica com base 10 (Equação 1). Este valor foi utilizado
como referência da riqueza de espécies por habitat, pretendendo-se assim diminuir a
importância da riqueza em detrimento ao número de espécies raras e ameaçadas. Com os
valores de riqueza transformado, espécies raras e ameaçadas foi obtido uma média aritmética
(Equação 2). Então valor da média de cada habitat foi divido pela soma da média obtendo
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assim um valor admensional – índice, (Equação 3) demonstrando os habitats prioritários para
conservação entre os aqui amostrados.
Equação 1. Cr = Log (Shi /∑Shn)
Equação 2. Vb = (Cr + Sr + Sa /Hn )
Equação 3. Vc = (Vbi / ∑Vbn)
Onde: Cr = Contribuição da Riqueza; Shi = Total de Espécies do Habitat i; Shn = Soma das
espécies de todos os habitats. Sr = espécies raras; Sa = espécies ameaçadas; Hn = Contagem de
todos os habitats inventariados; Vbi = Valor Bruto de Importância do habitat i; Soma do Valor
Bruto de importância de todos os habitats. Vc = Valor e Importância para Conservação.
O material coletado foi depositado na Coleção de Vertebrados do Instituto de
Biociências, Departamento de Biologia e Zoologia, da Universidade Federal de Mato Grosso
(Cuiabá, MT).
3.1. CAPTURA DE ROEDORES E MARSUPIAIS
Armadilhas tipo caixa
As armadilhas empregadas para captura de roedores e marsupiais foram caixas de
captura-viva dos modelos Shermann e Tomahawk. As armadilhas foram dispostas linhas de
600 e 1200 metros. Cada estação consistia ora de uma armadilha Shermann ora uma
Tomahawk. A distância entre estações era de 12 m e a distância entre linhas de 100 m. As
armadilhas eram iscadas no final da tarde e revisadas pela manhã. Os atrativos utilizados
foram pasta de amendoim, frutas frescas, sardinha em conserva e ração de gatos em pasta.
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Nos habitats com estrutura arbórea e florestal as armadilhas foram intercaladas nos
estratos solo e sub-dossel (1-2 m de altura). Em cada ponto de amostragem, as armadilhas
permaneciam abertas por um período de três dias consecutivos. No total obteve-se um esforço
de 2 373 armadilhas durante a amostragem contínua (Tabela 2).
Tabela 2. Esforço com armadilhas de solo e subdossel empregadas na amostragem de pequenos mamíferos em distintos hábitats do PARNA Chapada dos Guimarães, organizado por campanha em 2005/2006.
CAMPANHA N º DE ARMADILHAS
CÓDIGO DO HABITAT HABITAT
SOLO SUB-DOSSEL ESPÉCIES
ACUMULADAS
I RCVER VEREDA 160 0 2 I RCFG FLORESTA DE GALERIA 80 80 4 I RCCGB CERRADO SENTIDO RESTRITO – GRUPO CUIABÁ 40 40 4 I FPCRA CERRADO RALO 160 0 5 I FPCSB CERRADO SENTIDO RESTRITO – BOTUCATU 160 0 6 I FPCRU CAMPO RUPESTRE 200 0 8 I RFFIN FLORESTA DE GALERIA INUNDÁVEL 120 120 8
I SJFES FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL DE ENCOSTA 80 80 8
I VNCSS CERRADO SENTIDO RESTRITO 160 0 8 I SJFES FLORESTA ESTACIONAL DE ENCOSTA 40 40 10 II RCVER VEREDA 153 0 10 II RCFG FLORESTA DE GALERIA 78 75 11 II FPCSB CERRADO SENTIDO RESTRITO BOTUCATU 153 0 11 II SJFES FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL 60 60 11 II VBFES FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL 184 50 11
Esforço total 1828 545 11
3.2. CAPTURA DE MORCEGOS
Redes
Para a amostragem de morcegos, utilizaram-se redes de neblina ou mist nets. As
dimensões das redes utilizadas eram de 2,5 m de altura por 12 m de comprimento. As redes
foram dispostas em configurações de T, Y e L, de acordo com a disponibilidade de corredores
naturais. Elas permaneceram abertas por um dia em cada habitat nas primeiras cinco horas
noturnas. O período de manutenção das redes abertas oscilou entre as 17:30 e 00:30 horas,
sendo mantida uma média diária de cinco horas de coleta. As redes foram colocadas a uma
altura entre zero e um metro de distância do solo. Alturas maiores foram amostradas em
ambientes com solo exposto ou pouco substrato herbáceo e/ou gramíneo.
15
Para estimar o esforço de captura foram observadas as recomendações de Sraube &
Bianconi (2002), que calcularam esforço amostral como o produto do número total de horas de
redes abertas pelo número de redes e área das redes. O esforço de captura em diferentes
hábitats e pontos amostrais e por campanha constam da Tabela 3.
Dos animais capturados foram avaliados e registrados parâmetros biométricos e
reprodutivos. Representantes de espécies das quais ainda não havia espécimes-testemunho
foram sacrificados, fixados em formol a 10% e, posteriormente, mantidos em solução de
álcool a 70%.
Tabela 3. Esforço de captura de morcegos mediante utilização de redes de neblina, durante amostragem continuada em distintos habitats no PARNA Chapada dos Guimarães com o número de espécies acumuladas em 2005/2006.
CAMPANHA CÓDIGO DO HABITAT HABITAT ESFORÇO DE
AMOSTRAGEM (h.m2)
Nº ACUMULADO DE ESPÉCIES
I RCFG FLORESTA DE GALERIA 1500 10 I RCCUM CAMPO ÚMIDO 1500 11 I FPCR CERRADO RALO 1500 11 I RFFIN FLORESTA DE GALERIA INUNDÁVEL 1500 13 I SJFES FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL 1500 13 II RCFG FLORESTA DE GALERIA 1500 13 II RCCUM CAMPO ÚMIDO 1500 13 II FPCRA CERRADO RALO 450 13 II SJFES FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL 1500 13 II FPCSB CERRADO RALO/ CAMPO SUJO 1500 14 II VBFES FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL 1500 18 II VNCUM CAMPO ÚMIDO 180 18 II SGCSA FLORESTA DE GALERIA 180 18
Esforço total (h.m2) 15810
3.3. REGISTRO DE MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE Para o registro dos mamíferos de médio e grande porte foi utilizada a contagem em
transectos já existentes como estradas e trilhas em quatro sítios. A contagem era feita entre as
07:00 h e 09:00 h da manhã registrando todas visualizações e pegadas – das últimas 24
horas,determinada em função das amostragem serem contínuas. Evitou-se efetuar a contagem
em dias de chuva. Foram percorridos transectos com 3 km de extensão totalizando 72 km
percorridos com o registro de 21 espécies, Tabela 4.
16
Tabela 4. Esforço no registro de mamíferos de médio e grande porte mediante transectos, durante amostragem em distintos habitas no PARNA Chapada dos Guimarães com o número de espécies acumuladas em 2005/2006.
CAMPANHA CÓDIGO DO HABITAT HABITAT ESFORÇO DE
AMOSTRAGEM (KM)
Nº ACUMULADO DE ESPÉCIES
I RCCSB CERRADO SENTIDO RESTRITO 9000 10 I RFCSB CERRADO SENTIDO RESTRITO 9000 12 I FPCRA CERRADO RALO 9000 16 I SJCSA CERRADO SENTIDO RESTRITO SOLO AREIA QUARTZOSA 9000 20 II RCCSB CERRADO SENTIDO RESTRITO 9000 20 II RFCSB CERRADO SENTIDO RESTRITO 9000 21 II FPCRA CERRADO RALO 9000 21 II SJCSA CERRADO SENTIDO RESTRITO AREIA QUARTZOSA 9000 21
Esforço total (h.m2) 72000 21
3.4. OBSERVAÇÕES OPORTUNÍSTICAS As observações oportunísticas ocorreram por meio de visualização, pegadas, escatos, odor,
pêlos e carcaças. Foram registradas 23 espécies, Tabela 5.
Tabela 5. Listagem dos habitas com registros ocasionais de mamíferos durante inventários no PARNA Chapada dos Guimarães em 2005/2006.
CÓDIGO DO HABITAT HÁBITAT ESPÉCIES ACUMULADAS
RF-FIN FLORESTA DE GALERIA INUNDÁVEL 3 RF-CSB CERRADO SENTIDO RESTRITO 4 RC-CSB CERRADO SENTIDO RESTRITO 5 RC-ROD ANTRÓPICO 12 FP-CRA CERRADO RALO 14 FP-CSB CERRADO SENTIDO RESTRITO 17 FP-CSU CAMPO SUJO 22
VN-ROD CERRADO SENTIDO RESTRITO 22 SG-FES FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL 23
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. ESPÉCIES REGISTRADAS Foram registradas 75 espécies de mamíferos no interior e entorno do Parque Nacional
de Chapada dos Guimarães (Tabela 6).
Analisando a razão entre esforço e o registro de espécies separadas por método de
captura, na qual se obteve 52 espécies, observa-se uma estabilização mais expressiva somente
para os mamíferos de médio e grande porte, Figura 3 - 5. Nesta análise foram desconsideradas
17
todas as observações oportunísticas e dados pretéritos de literatura e registrados na Coleção de
Vertebrados da Universidade Federal de Mato Grosso totalizando 75 espécies. Tabela 6.
O grupo com a maior riqueza foram os roedores com 23 espécies, seguido pelos
morcegos com 18 espécies. Os roedores tiveram sua riqueza ampliada em função da
identificação de crânios e dentes presentes nos escatos de lobo-guará - C. brachyurus
(Klorfine e Marques em preparação).
Entre as espécies presentes no entorno do PARNA e não registradas neste trabalho
pode-se citar tatu-canastra - Priodontes maximus, lontra - Lontra longicaudis, cachorro-do-
mato-vinagre - Speothos venaticus, gato-palheiro - Oncifelis colocolo, morcego - Uroderma
bilobatum, cuíca-d’água - Chironectes minimus, rato - Oryzomys megacephalus e caxinguelê -
Sciurus spadiceus.
18
Tabela 6. Lista das espécies de mamíferos inventariadas por tipos fitofisionômicos no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães em 2005/2006. Antrópico – A, Gramíneo: G, Savânico ou Gramíneo/Lenhoso – S, Florestado – F.
Táxon Nome Comum Habitats
Bos indicus Bovino A
Mazama americana, Erxleben, 1777 Veado-mateiro S
Mazama gouazoupira,G. Fischer 1814 Veado-catingueiro
S
Ozotoceros bezoarticus,Linnaeus, 1758 Veado-campeiro S
Pecari tajacu, Linnaeus, 1758 Caititu S Artio
dact
yla
Tayassu pecari, Link, 1795 Queixada F
Canis domesticus Cão doméstico A
Cerdocyon thous, Linnaeus, 1766 Lobinho S
Chrysocyon brachyurus, Illiger, 1815 Lobo-guará S
Eira barbara, Linnaeus 1758 Irara A, S
Gallictis cuja1 , Molina 1782 Furão A, S
Puma yaguarondi, Lacépède, 1809 Gato-mourisco S
Leopardus pardalis,Linnaeus, 1758 Jaguatirica S
Nasua nasua1 , Linnaeus, 1766 Quati F
Pseudalopex vetulus, Fischer, 1814 Raposinha S
Panthera onca1 ,Linnaeus, 1758 Onça-pintada S
Procyon cancrivorus, G. Cuvier, 1798 Mão-pelada G
Car
nivo
ra
Puma concolor,Linnaeus,1771 Onça-parda S
Artibeus cf. obscurus, Schinz, 1821 Morcego F
Artibeus cinereus, Gervais, 1856 Morcego F
Artibeus jamaicensis, Leach 1821 Morcego S, F
Artibeus lituratus Olfers, 1818 Morcego F
Artibeus spa Morcego F
Artibeus spb Morcego S, F
Carollia cf. brevicauda Morcego G
Carollia perspicillata,Linnaeus, 1758 Morcego A, G, S, F
Chiroderma villosum, Peters 1821 Morcego F
Chi
ropt
era
Glossophaga soricina, Pallas1766 Morcego A, G, F
Lophostoma saurophilla, d’Orbigny 1836 Morcego F
Micronycteris minuta, Gervais, 1856 Morcego F
Phyllostomus discolor, Wagner 1843 Morcego F
Phyllostomus hastatus, Pallas1767 Morcego F
Platyrrhinus lineatus, E. Geoffroy, 1810 Morcego G, S
Pteronotus parnellii, Gray, 1843 Morcego A, S, F
Rhynchonycteris naso Wied-Neuwied 1820 Morcego A
Rhinophylla pumilio, Peters 1865 Morcego F Sturnira lilium, E. Geoffroy, 1810 Morcego F
Caluromys philander2,Linnaeus, 1758 Cuíca
Didelphis albiventris, Lund 1840 Gambá-da-orelha-branca
G, S, F
Gracilinanus agilis, Burmeister, 1854 Cuíca S, F
Metachirus nudicaudatus2Desmarest 1817 Cuíca
Monodelphis domestica2, Wagner 1842 Rato-cachorro
Marmosa murina,Linnaeus, 1758 Cuíca F
Did
elph
imor
phia
Marmosops sp Cuíca F
Lago
mor
pha
Sylvilagus brasiliensis,Linnaeus, 1758 Tapiti A, S, F
Per
isso
dact
yla
Tapirus terrestris,Linnaeus, 1758 Anta A, S
Callithix melanura E. Geof in Humboldt 1812 Sauim A
Prim
ata
Cebus apella,Linnaeus, 1758 Macaco-prego F
Agouti paca,Linnaeus, 1766 Paca F
Akodon sp2 Rato
Rod
entia
Calomys sp2 Rato
Cavia aperea, Erxleben, 1777 Preá A
Clyomys laticeps, Thomas, 1909 Rato S
Coendou prehensilis,Linnaeus, 1758 Porco-espinho S
Dasyprocta azarae, Lichtenstein,1823 Cutia S
Galea spixii2, Wagler, 1831 Preá
Hydrochaeris hydrochaeris,Linnaeus, 1766 Capivara F
Necromys lasiurus2, Lund 1841 Rato
Nectomys rattus, Peter,1979 Rato d ‘água G
Oecomys roberti, Thomas, 1904 Rato F
Oligoryzomys sp2 Rato S
Oryzomys cf. marinhus, Bonvicino 2003 Rato G
Oryzomys cf. scotti2 Languth 2002 Rato G
Oxymycterus sp2 Rato
Proechimys guyannensis, E. Geoffroy 1803 Rato-espinho F
Pseudoroyzomys simplex2, Winge, 1887 Rato
Rattus rattus2 Rato
Thalpomys cerradensis2 Hershkovitz 1990 Rato
Thrichomys apereoides Lund 1839 Rato G, S
Cabassous unicinctus1, 2,Linnaeus, 1758 Tatu-rabo-de-sola
Dasypus novemcinctus,Linnaeus, 1758 Tatu-galinha A, S
Dasypus septemcinctus1, 2,Linnaeus, 1758 Tatu-mulita
Euphractus sexcintus,Linnaeus, 1758 Tatu-peba A, S
Myrmecophaga tridactyla,Linnaeus, 1758 Tamanduá-bandeira
A, G, S, F Xen
arth
ra
Tamandua tetradactyla,Linnaeus, 1758 Tamanduá-mirim A
Abreviações: 1 : Observações pessoais em estudos anteriores; 12: Coletas durante estudo da dieta de Chrysocyon brachyurus no PARNA.
19
Figura 3. Curva coletor usando estimativa Jacknife, para indicar a relação entre a riqueza de chirópteros registrados com auxílio de redes de neblina em função do número de amostragens.
Figura 4. Curva coletor usando estimativa Jacknife, para indicar a relação entre a riqueza de mamíferos de médio e grande porte registrados por transectos em função do número de amostragens.
Curva Coletor - Mamíferos Terrestres de Médio e Grande Porte
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
Amostras
-5
0
5
10
15
20
25
30
12
34
56
78
910
11
Amostra
-15
-10
-5
0
5
10
15
20
25
30
35
Riq
ueza
20
Figura 5. Curva coletor usando estimativa Jacknife, para indicar a relação entre a riqueza de pequenos mamíferos terrestres registrados por armadilhas-de-captura-viva em função do número de amostragens.
4.2. ESPÉCIES POR HABITAT E POR ESTRUTURA DA VEGETAÇÃO
Foram amostrados para a fauna de mamíferos 21 pontos distintos, incluindo aqueles
onde foram efetuadas coletas oportunísticas. Esses pontos incluem habitats antrópicos, áreas
florestadas e áreas gramíneo e/ou lenhosa, onde foram feitas observações à vista desarmada,
coletas no solo e sub-dossel. Foram empregados 15.810 h.m2 com redes, 2 373 armadilhas-de-
captura-viva (tipo caixa)/noite e percorridos 72 quilômetros em transectos.
O sucesso de captura de marsupiais e roedores com as caixas foi de 1,93
indiv./armadilha/ noite. A freqüência de capturas oscilou durante as estações de chuva e
seca, sendo mais freqüente durante o período seco. Para os morcegos, a relação entre esforço e
captura foi de 0,66 indiv./h.m2. Os habitats com mais registros foram o Cerrado Sentido
Restrito sobre a Formação Botucatu (30%) seguido pela Floresta Estacional Semidecidual
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Amostra
-4
-2
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22R
ique
za
21
(16%), Cerrado Ralo/Cerrado Sentido Restrito (14%), Floresta de Galeria (11%), Cerrado
Sentido Restrito sobre Areia Quartzosa (8%) e Cerrado Rupestre (6%).
A espécie mais generalista de habitat foi o morcego Carollia perspicillata ocorrendo
em habitats com estrutura gramínea, gramíneo/lenhosa e florestada. Esta espécie foi mais
freqüente (91%) em habitat florestado. Outras espécies variaram no máximo entre duas
estruturas. As variações ficaram entre habitats com a mesma estrutura variando nos aspectos
da disponiblidade de fonte de água, formação geológica, susceptibilidade a inundação e
deciduidade das folhas. Neste aspecto destacam-se anta - Tapirus terrestris, vedo-campeiro -
Ozotoceros bezoarticus, onça-parda- Puma concolor, o rato-punaré - Thrichomys apereoides e
lobinho - Cerdocyon thous todos variando entre três estruturas gramínea/lenhosa. Das espécies
que ocorreram preferencialmente num único habitat destaca-se pela freqüência cutia-
Dasyprocta azarae da qual se obteve 27 registros em Cerrado Sentido Restrito sobre a
Formação Botucatu.
Registrou-se 25 espécies que ocorreram de modo exclusivo em um único habitat, sendo
que 16 dessas espécies constituíram “singletons” (apenas um exemplar capturado). Dentre
essas espécies, aquelas às quais se pode dar mais atenção são os morcegos Rhinophylla
pumilio (Peters, 1865), Artibeus cinereus (Gervais, 1856) espécies típicas de habitats
florestados, os roedores Oecomys roberti – habitat florestado, por ter sua localidade tipo em
Chapada dos Guimarães e Clyomis laticeps (Thomas 1909) – habitat gramíneo, pela baixa
freqüência em inventários mastozoológicos. O habitat mais comum no interior do Parque
Nacional de Chapada dos Guimarães é o de estrutura gramíneo/lenhosa que representa 49%
dos habitats disponíveis, Tabela 7, Figura 6. Este também foi o habitat com a maior riqueza,
onde registrou 30 espécies. Dentro desta categoria gramíneo/lenhosa o Cerrado Sentido
Restrito sobre a Formação Botucatu apresentou a maior riqueza com 19 espécies. Das 10
22
espécies indicadoras registradas seis ocorrem no habitat gramíneo lenhoso, sendo que três
destas são consideradas como Vulnerável a Extinção pela lista do IBAMA (2003).
Conforme Tabela 7, nota-se que há uma expansão das áreas antrópicas com o aumento
da distância do PARNA. A estrutura gramínea e gramínea lenhosa representam 80% dos
habitats no interior do PARNA. Enquanto na zona tampão de dez quilômetros atinge 60% e na
faixa de até vinte quilômetros reduz para 41%. Os habitats gramíneo e gramíneo/lenhoso
conservam 30 das 52 espécies terrestres registradas de pequeno a grande porte. As áreas
antropizadas ampliam de 5% no interior para 40% no entorno na faixa de vinte quilômetros.
Contudo a perda de habitat é mais comum na alti-planície sobre os Cerrado de Sentido Restrito
sobre formação arenosa. Já na baixada com exceção da borda das escarpas predomina Campos
Limpos e Campo Sujo úmido ou seco e Cerrado Sentido Restrito sobre o Grupo Cuiabá. Este
Grupo geomorfológico tem um solo com feição mais litólico com restrição ao manejo
agrícola. Apesar de apresentar a composição florística primária encontra-se alterado pela
pecuária extensiva e sítios com finalidades recreativas. Logo, a fauna registrada para estes
habitats enfrentam contínua perda de habitat no entorno do PARNA. Os habitats florestados
apresentam a mesma taxa dentro e no entorno do PARNA. Há de se considerar que as florestas
estacionais já foram exploradas com a retirada seletiva de madeira e encontra-se em processo
regenerativo tanto no interior como no entorno do PARNA.
Tabela 7. Representatividade dos habitats, caracterizados pela estrutura, no interior e entorno do PARNA Chapada dos Guimarães até o ano de 2005.
Habitat Interior PARNA
(%)
Entorno
(até 10 Km) (%)
Entorno
(10 a 20km) (%) Espécies*
Aquático 0,05 0,2 0,5 0 Antrópico 5,0 29,0 40,0 7 Gramíneo 29,0 26,8 18,0 10
Gramíneo/Lenhoso 49,0 33,0 25,5 31 Florestado 16,0 11,0 17,0 29
Total 100 100 100 73 * Registros obtidos neste trabalho e dados secundários.
Num teste de chi-quadrado, verificou-se que a quantidade de espécies encontradas por
habitat é independente da área total disponível por habitat no do PARNA (GL=3; 32,55;
23
P>0,05). Ressalta-se, porém, que houve um viés metodológico já que tanto para os pequenos
mamíferos terrestres como para os morcegos o esforço amostral concentrou-se nos habitats
florestados .
Uma avaliação dos distintos habitats quanto aos itens riqueza de espécies, raridade das
espécies e número de espécies ameaçadas revela que os habitats compostos por Cerrado
Sentido Restrito devem receber prioridade para conservação com estrutura predominantemente
gramíneo/lenhosa (Tabela 8-9). Porém como observado na Figura 2 e Tabela 7, nota-se uma
baixa representatividade de habitats florestados no interior do PARNA e diminuição das
conectividades com os habitats florestados no entorno. Isto demanda especial atenção para
manutenção e incremento desta conectividade para manutenção das espécies de pequeno porte
e espécies arborícolas garantido fluxo gênico e os demais processos ecológicos. Para
corroborar esta afirmação pode-se notar que pela Figura 7 a comunidade de quirópteros é
dependente dos habitats florestados no PARNA Chapada dos Guimarães.
Tabela 8. Demonstrativo da prioridade de conservação dos habitats amostrados quanto à mastofauna durante os inventários no PARNA Chapada dos Guimarães em 2005/2006. em função da riqueza, raridade e espécies ameaçadas.
Habitat Código do Habitat Riqueza Contribuição
Riqueza Raras Risco Valor
Importância Bruto
Valor de Importância Conservação
Cerrado Ralo/ Cerrado Sentido Restrito FP-CRA 13 1.40 6 2 3.13 0.11 Campo Rupestre FP-CRU 2 0.59 1 0.79 0.03 Cerrado Sentido Restrito FP-CSB 3 0.76 2 1.38 0.05 Campo Sujo/ Antrópico FP-CSU 5 0.98 1 0.76 0.03 Cerrado Sentido Restrito RC-CSB 13 1.40 6 3 3.47 0.12 Campo Úmido RC-CUM 4 0.89 1 0.94 0.03 Floresta de Galeria RC-FG 14 1.43 2 1.72 0.06 Antrópico RC-ROD 7 1.13 2 1.56 0.06 Vereda RC-VER 3 0.76 1 0.88 0.03 Cerrado Sentido Restrito RF-CSB 11 1.33 5 2 2.78 0.10 Floresta de Galeria Inundável RF-FIN 5 0.98 1 0.99 0.04 Cerrado Sentido Restrito SG-CSA 11 1.33 7 4 4.11 0.15 Floresta Estacional Semidecidual SG-FEE 3 0.76 1 0.88 0.03 Floreta Estacional Semidedicual SG-FES 5 0.98 2 1.49 0.05 Floresta Estacional Semidecidual VB-FEE 1 0.28 0.28 0.01 Floresta Estacional Semidecidual VB-FES 11 1.33 1 1.16 0.04 Cerrado Sentido Restrito VN-CSS 1 0.28 0.28 0.01 Campo Úmido VN-CUM 1 0.28 0.28 0.01 Cerrado Sentido Restrito VN-ROD 7 1.13 2 1 1.38 0.05
24
Tabela 9. Demonstrativo da prioridade de conservação dos habitats agrupados por estrutura amostrados em função da riqueza, raridade e espécies ameaçadas.
Riqueza Contribuição Riqueza Raras Risco
Valor Importância Bruto
Valor Importância Conservação
Antrópico 9 1.24 3 1 1.75 0.12 Gramíneo 9 1.24 3 2.12 0.14
Gramíneo/Lenhoso 31 1.78 14 6 7.26 0.48 Florestado 27 1.72 6 3.86 0.26
Figura I. Classificação dos habitats do PARNA Chapada dos Guimarães pela estrutura da vegetação e delimitando em função das classes de distância no ano de 2006.
25
Artibeus cinereus
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Artibeus jamaicensis
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Artibeus lituratus
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Artibeus sp
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Artibeus spa
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Artibeus spb
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Chiroderma villosum
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav FloMicronycteris minuta
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Phyllostomus discolor
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Phyllostomus hastatus
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Pteronotus parnelli
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav FloRhinophylla pumilio
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Rhynchonycteris naso
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Sturnira lilium
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Tonatia saurophila
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Glossophaga soricina
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Carollia perspicillata
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Carollia cf. brevicauda
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Platytthinus lineatus
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Artibeus cf. obscurus
0
10
20
30
40
50
Ant Gra Sav Flo
Figura 7. Distribuição da comunidade de quirópteros em função da estrutura dos habitats amostrados no interior e entorno do PARNA Chapada dos Guimarães em 2005/2006.
26
A variação altimétrica não influenciou na distribuição e riqueza de espécies de
mamíferos sendo que as áreas de Alti-planície acima de 450 metros e a Baixada ficaram com
50% e 49% dos registros em cada uma das classes respectivamente. Entre os destaques
específicos sobressai-se o rato-punaré - Thrichomys apereoides e raposinha - Pseudalopex
vetulus (Linnaeus, 1766). T. apereoides foi capturado exclusivamente nas áreas altas,
considerado aqui mais como um artifício das técnicas de registro empregada, pois já foi
observado ocasionalmente na Depressão Cuiabana no entorno do PARNA em Cerrado Sentido
Restrito sobre o Grupo Cuiabá. Esta espécie foi mais comum em terrenos movimentados e
sobre solo litólico. P. vetulus também está limitada a região de Alti-planície, não havendo
registro desta espécie para a Baixada.
Entre as observações ocasionais pode-se destacar a predominância de colônias do
morcego - Pteronotus parnellii (Gray, 1843) sob as pontes do rio Mutuca e Rio Claro. A
ocorrência de Tayassu pecari (Link, 1795) esta restrita a face sul do PARNA na região do São
Jerônimo entre afluentes do córrego Independência, blocos de cerrado e floresta
interconectados as nascentes do Aricazinho. Sendo que em algumas localidades da chapada
esta espécie está praticamente extinta como nas imediações do rio Casca e Manso. Veado-
campeiro - Ozotoceros bezoarticus foi observado visualmente com mais freqüência nas áreas
altas no sítio III - Fazenda Pombal e no sítio IV – São Jerônimo, na região da comunidade de
São Jerônimo. Onça-parda - Puma concolor distribuí-se amplamente no PARNA Chapada dos
Guimarães, contudo é mais fácil seu registro nas imediações do rio Claro e riacho Porteira, no
pico reprodutivo já foi registrado até três indivíduos concomitantemente na mesma área.
Os habitats amostrados com redes, transecto e/ou armadilhas com menor riqueza de espécie
foram Vereda (3), Cerrado Rupestre (3), Campo Úmido (4) e Cerrado Sentido Restrito sobre o
Grupo Cuiabá (4). Entre os habitats com mais espécies destaca-se Cerrado Sentido Restrito
sobre Formação Botucatu com 19 espécies, Campo Sujo e Cerrado Ralo com 16 espécies,
27
Floresta de Galeria com 14 espécies, Floresta Estacional Semidecidual com 12 espécies.
Enquanto os habitats de Cerrado com 31 espécies destacaram-se pela presença dos mamíferos
de médio e grande porte e pelos pequenos mamíferos terrestres. Já os habitats florestados com
27 espécies tiveram mais representatividade dos de morcegos. O habitat gramíneo teve uma
menor representatividade somente com oito espécies.
A riqueza de espécies entre os sítios apesar de possuir o viés metodológico, já que o
esforço não foi uniforme entre os sítios, no Rio Claro obteve-se 31 espécies (30% registros),
no São Jerônimo/Véu de Noivas 23 espécies (20% registros), Fazenda Pombal 20 espécies
(23% registros), Riacho Forte 18 espécies (19,5% registros) e Vale da Benção 10 espécies (7%
registros). Esta variação se deve muito provavelmente a diversidade de habitats amostrados
entre os sítios enquanto no rio Claro e São Jerônimo/Véu de Noivas foram amostradas as
estruturas gramíneo, gramíneo/lenhosa e florestal em seis habitats distintos. Já na Fazenda
Pombal foi amostrado no máximo duas estruturas e quatro habitats, Riacho Forte duas
estruturas e dois habitats e o Vale da Benção uma estrutura e dois habitats (Tabela 1). Além
disso, o rio Claro e São Jerônimo possuem uma maior heterogeneidade fitofisionômica em
blocos. Sendo que estes blocos fitofisionômicos são menores no São Jerônimo.
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
28
4.3. DISTRIBUIÇÃO DAS ESPÉCIES ENCONTRADAS Das espécies listadas para o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães 53% delas
ocorrem em mais de quatro biomas brasileiros. A raposinha - Pseudalopex vetulus foi a única
espécie endêmica do Cerrado registrada para o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães.
Outras 14% espécie não tiveram estimado a sua distribuição devido a indefinição taxonômica
ou por serem exóticas com ampla distribuição como Bos indicus e Canis domesticus.
Na distribuição local deve-se destacar a presença de Tayassu pecari a ausência do
bugio - Alouatta caraya, da onça-pintada - Panthera onca, jupará - Potos flavus, os marsupiais
Caluromys philander, Monodelphis domestica, Micoureus constatiae (Thomas, 1904) – esta
tem a localidade tipo em Chapada dos Guimarães - os roedores Talphomnys cerradensis,
Necromys lasiurus, Calomys sp, Pseudoryzomys simplex. A queixada - Tayassu pecari está
praticamente extinto na alti-planície no entorno do Parque Nacional de Chapada dos
Guimarães. Sua presença ocorre nas regiões de contato com a Depressão Cuiabana através das
nascentes nas escarpas, Figura 2. Os bandos são usualmente entre 20 e 30 indivíduos e
deslocam-se nas imediações entre o córrego Independência e o morro de São Jerônimo.
Atenção especial deve ser dada a manutenção desta espécie no interior do Parque devido a sua
alta susceptibilidade a caça e alteração da paisagem.
Entre as espécies ausentes os roedores já foram anteriormente registrados em escatos
de lobo-guará coletados entre 1996 e 1999 (Klorfine & Marques, em preparação). O roedor -
Necromys lasiurus espécie comum em inventários biológicos (Macedo & Mares 1987) não foi
registrado aqui. O pico na abundância desta espécie ocorre entre julho e setembro na estação
da seca (Vieira 1996) apresentando a mesma abundância no Parque no período das coletas dos
escatos de lobo-guará (Klorfine & Marques, em preparação). Outra espécie comum na área de
estudo, mas não registrada foi o rato-cachorro - Monodelphis domestica. Já a ausência de
bugio - Alouatta caraya, juapará - Potos flavus, da cuíca - Caluromys philander deve-se muito
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
29
provavelmente a extinção destas espécies dentro do Parque. Todas por serem se hábito
arborícola que já não possuem conectividade com as áreas florestadas na alti-planície. Estas
espécies são observadas nas áreas florestadas no entorno da cidade de Chapada dos
Guimarães. Como exemplo cita-se espécimes coletados no Vale do Jamacá e depositados na
Coleção de Vertebrados da UFMT coletados por Mário Friedlander, Julio Dalponte e
colaboradores na década de 80. Uma das barreiras geográfica que impede a comunicação entre
as área florestadas dos afluentes da Bacia do Coxipó (interior do Parque) com a Bacia do
Casca (entorno do Parque) é a cidade de Chapada dos Guimarães e a expansão dos cultivos
agrícolas. Conforme a Figura 2 – 6 - 8 observa-se que a cidade é responsável pela perda de
comunicação das áreas florestadas, as áreas em vermelho indicam as alterações ou ampliações
que ocorreram entre 1988 e 2006, logo nota-se que a tendência é da perda contínua de
comunicação entre as Bacias do Casca, Coxipó e Aricazinho. Como já dito anteriormente esta
perda será mais expressiva para a fauna arborícola e espécies terrestres de pequeno porte de
habitat florestado especialmente para os marsupiais, roedores, primatas e carnívoros de hábito
escansorial.
Este trabalho apesar de ser de curta duração registrou um amplo conjunto de espécies
comparando com estudos realizados no entorno do PARNA Chapada dos Guimarães. Verifica-
se que o enfoque com os trabalhos no entorno ocorreu com resultados mais expressivos para
os roedores, quirópteros e carnívoros (Rossi et al. 2001; Schneider 2000; Pine, Bishop &
Jackson 1970; Marques & Santos Júnior 2003; Klorfine & Marques, em preparação) (Figura
9).
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
30
Ente as espécies mais comuns nestes trabalhos pode-se destacar os marsupiais -
Caluromys philander e Didelphis albiventris, o tatu-galinha - Dasypus novemcinctus, tatu-
peba - Euphractus sexcinctus, tamanduá-mirim - Tamandua tetradactyla, os morcegos -
Glossophaga soricina e Platyrhinus lineatus, o macaco-prego - Cebus apella, o sauim -
Callithrix melanura, o bugio - Alouatta caraya, o lobinho - Cerdocyon thous, lobo-guará -
Chrysocyon brachyurus, raposinha - Pseudalopex vetulus, irara - Eira barbara, quati - Nasua
nasua, mão-pelada - Procyon cancrivouros, anta - Tapirus terrestris, caxinguelê - Sciurus
Figura 8 Alteração da paisagem entre os anos de 1988 e 2006 no PARNA e entorno em relação aos cursos de água e sub-bacias hidrográficas,
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
31
spadiceus (Olfers 1818), cutia - Dasyprocta azarae, porco-espinho - Coendou prehensilis, os
roedores - Necromys lasiurus e Thrichomys apereoides. Dentre estas espécies somente Sciurus
spadiceus ainda não foi registrado para o PARNA Chapada dos Guimarães. Aotus azarai
(Humboldt, 1811) apesar de não ter sido registrado para o PARNA pode ser uma espécie
comum no riacho Coxipozinho e seus afluentes (Riacho Fortes, Rio Claro, Rio Mutuca e Água
Fria) além das nascentes do Aricazinho nas proximidades do morro do São Jerônimo. Outras
espécies de interesse para conservação que potencialmente podem vir a ser registradas no
PARNA Chapada dos Guimarães são a cuíca - Monodelphis kunsi (Pine, 1871) ,os morcegos
Vampyrum spectrum (Linnaeus, 1758), Chrotopeterus auritus (Peters, 1856) e Uroderma
magnirostrum ((Davis,1968), cachorro-do-mato-vinagre Speothos venaticus (Lund, 1842) e
Panthera onca. Destas espécies Vampyrum spectrum é uma espécie comum no Pantanal de
Poconé e Barão de Melgaço pelos registros obtidos por (Marques & Carvalho, 2003; Marques
& Pereira, em preparação; Vieira 1945). Speothos venaticus foi registrado na APM-Manso por
Schneider (2000) e visualizados por (Samuel, comentário pessoal) nos afluentes do Rio da
Casca – rios Cachoeirinha e Roncador. A cuíca -Monodelphis kunsi é uma espécie rara
registrada no eixo Chaco – Caatinga (Vargas, Tarifa & Cortez 2003; Anderson 1982), com
coletas no Pantanal, Distrito Federal e pelo predomínio do habitat utilizado por esta espécie
que é o Cerrado de Sentido Restrito prevê-se estudos que venham a utilizar pit falls podem
obter sucesso na sua captura. Os últimos registros de Panthera onca no PARNA obtidas pelo
autor foram no ano de 1997 para a região do rio Claro e o riacho Porteira. Mas por se tratar de
espécie com extenso home range o PARNA ainda pode compor área de vida de indivíduos já
registrados para a Bacia do Aricá e Rio da Casca.
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
32
4.4. STATUS DE CONSERVAÇÃO DAS ESPÉCIES
As espécies registradas neste trabalho são consideradas na Red List da União para
Conservação da Natureza – IUCN (2004) como no máximo de baixo risco. Já na lista do
IBAMA (2003) apresenta três espécies registradas no PARNA como Vulnerável. Cita-se
tamanduá-bandeira - Myrmecophaga tridactyla, tamanduá-mirim - Chrysocyon brachyurus e a
jaguatirica - Leopardus pardalis. Tabela 10.
Tabela 10. Indicação das espécies ameaçadas e os pontos de observação no PARNA Chapada dos Guimarães 2005/2006.
Sítio Táxon IBAMA, 2003 Ponto Fazenda Pombal Chrysocyon brachyurus Vulnerável FP-CRA Myrmecophaga tridactyla Vulnerável FP-CRA Riacho do Forte Myrmecophaga tridactyla Vulnerável RF-CSB Rio Claro Leopardus pardalis Vulnerável RC-CSB Myrmecophaga tridactyla Vulnerável RC-CSB São Jerônimo Leopardus pardalis Vulnerável SG-CSA Myrmecophaga tridactyla Vulnerável SG-CSA
Analisando a Tabela 11, verifa-se que os habitats que encontram-se em situação de
risco devido a presença de espécies ameaçadas, raras e indicadoras é muito próxima aquela
determinado pelo Valor de Importância de Conservação (Tabela 8-9) – Seção Espécies por
habitat e estrutura da vegetação. Os habitats prioritários seriam FP-CRA, SG-CSA, RF-CSB, e
RC-CSB. Tabela 11..
Entre os principais fatores que estariam contribuindo para incremento do risco sobre
estas espécies seriam os incêndios florestais, desflorestamento, turismo desordenado,
poluição/contaminação e caça (Tabela 12). Pode-se acrescentar ainda nos pontos VN-ROD e
RC-ROD os atropelamentos e os incêndios florestais.
Contudo, considerando os principais graus de ameaça a conservação das espécies entre
eles a indefinição taxonômica, dieta, reprodução, habitats, comportamento, distribuição
geográfica, densidade populacional nota-se que outras espécies observadas para o PARNA e
entorno encontram-se sob ameaça.
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
33
No aspecto da taxonomia observa-se um risco mais evidente para os grupos dos
roedores e marsupiais, pois com as atuais revisões taxonômicas e a definição de novas
espécies torna-se indefinido os parâmetros populacionais e a estrutura da comunidade. Isto
coloca desde o princípio estas novas espécies na categoria de Dados Insuficientes entre elas
destacam-se Oryzomys marinhus, O. scotti, Marmosops sp.
No aspecto da dieta observa-se no PARNA um predomínio de espécies de hábito
frugívoro/onívoro, seguido por frugívoro/herbívoro frugívoro/granívoro e insetívoro/ onívoro
(Figura 10). Isto pode ser explicado pela freqüência de espécies frutíferas, a média anual é de
15 espécies frutificando por mês chegando numa média de 14 espécies na seca e 16 espécies
na estação da chuva com o pico de 21 espécies no final da estação chuvosa (Dalponte & Lima
1999). Também corroborado pela freqüência destas espécies frutíferas nos habitats
herbáceo/arbustivo nas proximidades da área de estudo (Conceição 2000) que pelo porte
facilita o acesso ao fruto pelas espécies terrestres. Assim, determinando a maior freqüência de
espécies de hábito alimentar frugívoro que consomem oportunamente outros itens alimentares
– invertebrados, pequenos vertebrados e sementes. Das espécies observadas para o PARNA
esta guilda não possui nenhuma espécie listado em situação de risco.
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
34
Figura 9. Distribuição taxonômica das Ordens – freqüência de registros e Gêneros – riqueza, coletados em estudos no entorno do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães desde o século XX.
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35
Tabela 11. Lista de espécie e pontos amostral em relação a abundância, ameaça e caráter de espécie indicadora para o PARNA Chapada dos Guimarães 2005/2006. Fazenda Pombal Rio Claro São Jerônimo Véu de Riacho do Forte
Táxon Abundância IBAMA 2003Indicadora FP-CRU FP-CSB FP-CRA RC-CSB RC- RC- RC-VER RC-FG SG-CSA SG-FES VN- RF-CSB RF-FIN Total Geral
Artibeus cinereus a Indicadora 3 3 Carollia cf. brevicauda r 1 1 2 Chiroderma villosum r 1 1 Clyomys laticeps r 1 1 Coendou prehensilis r 1 1 Dasypus novemcinctus r 5 1 3 3 12 Eira barbara r 2 1 3 Leopardus yaguaroundi r 1 1 2 Leopardus pardalis r Vulnerável Indicadora 1 1 2 Mazama americana r 1 1 Micronycteris minuta r Indicadora 1 1 Myrmecophaga tridactyla r Vulnerável Indicadora 1 2 2 2 7 Oecomys roberti r 1 1 Oryzomys cf. marinhus r 1 1 Pecari tajacu r 1 2 3 Pseudalopex vetulus r 4 4 Puma concolor r 1 1 1 3 Rhinophylla pumilio a Indicadora 1 1 Chrysocyon brachyurus r Vulnerável 1 1 Ozotoceros bezoarticus r 6 6 1 3 16 Oligoryzomys sp r 1 1
Total geral 1 1 14 16 1 1 1 5 11 1 2 11 2 67
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36
Tabela 12. Espécies indicadoras da mastofauna e ameaças para o PARNA Chapada dos Guimarães e entorno 2005/2006. Sítio Ponto Táxon Abundância Ameaças
Chrysocyon brachyurus r Incêndios e Coleta de Frutos. Fazenda Pombal Myrmecophaga tridactyla r Incêndios, Agropecuária, Poluição/Contaminação e Abertura de Pseudalopex vetulus r Incêndios e Abertura de Estradas
FP-CRA
Puma concolor* r Agropecuária e Caça. FP-CSB Clyomys laticeps r Incêndios e Caça±.
Myrmecophaga tridactyla r Incêndios, Agropecuária e Poluição/Contaminação. RF-CSB Puma concolor* r Caça, Incêndios e Desmatamento. Rhinophylla pumilio a Desmatamento. Riacho do Forte
RF-FIN Puma concolor* r Caça e Desmatamento. Leopardus pardalis r Caça, Espécie Invasora¤ e Poluição/ Contaminação. RC-CSB Myrmecophaga tridactyla r Incêndios, Poluição/Contaminação, Abertura de Estradas. Artibeus cinereus a Desmatamento, Turismo. RC-FG Micronycteris minuta r Desmatamento, Turismo.
Rio Claro
Puma concolor* r Incêndios e Caça. Leopardus pardalis r Espécie Invasora¤, Poluição/ Contaminação, Abertura de Estradas. Myrmecophaga tridactyla r Incêndios, Agropecuária, Poluição/Contaminação e Abertura de Tayassu pecari* r Incêndios, Desmatamento, Atividades Esportivas, Mineração e São Jerônimo SJ-CSA
Chrysocyon brachyurus* r Incêndios. * Espécies registradas em observações oportunísticas; ± Caça: considerado o abate por cães domésticos; ¤ Espécie Invasora: considerado os cães domésticos.
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
37
Os Insetívoros onívoros também ocorrem numa freqüência intermediária (Figura 10)
isto pode ser explicado pela abundância alternada (Pinheiro et al. 2002) das principais ordens
de insetos consumidos pelos mamíferos no cerrado que são Coleóptera - besouros, Isoptera –
cupins e Orthoptera - gafanhotos. Entre este grupo destacam-se os mirmecofagídeos –
tamanduás, que estão listados em situação de risco e tornam-se mais susceptíveis no PARNA
não pela dieta, mas sim pelo aspecto reprodutivo e alta susceptibilidade a atropelamentos na
MT-251 que atravessa o PARNA.
No aspecto reprodutivo as espécie de grande porte podem ser consideradas em maior
situação de risco pelo longo período gestacional, ou seja
pela reposição populacional. A anta, os porcos-do-mato e
o tamanduá-bandeira são as espécies mais susceptíveis a
este aspecto no PARNA.
Como já discutido anteriormente temos duas situações de risco aos habitats . O Cerrado
de Sentido restrito se caracteriza pela dominância - 49%, (Tabela 7) contudo é o habitats com
maior perda nos últimos cinco anos.- seção Situação de risco para o manejo da mastofauna.
Este habitat também é o com a maior riqueza de espécies (Tabela 8-9). Assim, a perda
contínua deste habitat pode colocar em risco espécies dele dependentes que estão em situação
Vulnerável como lobo-guará - Chrysocyon brachyurus ou são raras como tatu-galinha -
Dasypus novemcinctus.
Já os habitats florestados com pouca representatividade no interior do PARNA apesar
de ter uma freqüência maior de quirópteros que não seriam limitadas pelo deslocamento
(Bernard & Fenton 2003; Neuweiler 1998) pode colocar em risco outras espécies dependentes
de habitats florestados. Ente estas espécies destacam-se pela limitação do deslocamento os
roedores P. guyannensis, O. roberti e os marsupiais Caluromys philander e Marmosops sp.
Figura 10. Número de espécies registradas no PARNA Chapada dos Guimarães e entorno em 2005 e 2006 e seu hábito alimentar. Carnívora – CA; Frugívora/ Granívora: FG; Frugívora/ Herbívora – FH; Frugívora/ Onívora – FO. Herbívora/ Granívora – HG; Insetívora/Aérea – IA; Insetívora/ Onívora – IO; Mirmecofagídea – MY; Nectarívora – NE.
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
38
Pela redução no tamanho dos fragmentos de habitas florestados poderia colocar em risco a
queixada - T. pecari .
No aspecto da densidade populacional entre as espécies que compartilham os
gradientes de Cerrado pode-se estar em situação de risco o roedor - Clyomis laticeps pela
baixa freqüência nas capturas, apesar de localmente abundante é limitado pela disponibilidade
de habitat. O Veado-campeiro - Ozoteceros bezoarticus é conspícuo na região e está se
tornando rara no eixo norte do PARNA (Observação pessoal) onde a pressão de caça é mais
intensiva. Apesar de ser tolerante e adaptar-se a alterações do habitat (Leeuwenberg et al.
1997) a contínua supressão de habitas e redução populacional pode levar redução do fluxo
gênico (Gónzalez et al. 1998). Outra espécie que poderá experimentar este mesmo quadro é a
raposa Pseudalopex vetulus e Tamandua tetradactyla que apesar de serem abundantes e terem
oferta alimentar sofrem uma pressão expressiva da diminuição populacional pelos
atropelamentos. Deve-se avaliar o efeito que isto pode causar no fluxo gênico já que esta
pressão é maior sobre os indivíduos jovens e emigrantes. Ainda na abundância populacional
outras espécies com baixa densidade na área de estudo são o veado-mateiro - Mazama
americana (Marques & Santos 2003), a cuíca - Marmosa murina, o tatu-mulita - Dasypus
septemcinctus, tatu-canastra - Priodontes maximus, o morcego - Micronycteris minuta, a
queixada - T.pecari, o roedor - Oecomys roberti. Nas constatações por registros ocasionais no
entorno pode-se destacar gato-palheiro - Leopardus colocolo já coletado nas proximidades do
PARNA e Barão de Melgaço (Observação pessoal), cachorro-do-mato-vinagre - Speothos
venaticus registrado no APM Manso (Schneider 2000) e o morcego - Thyroptera discifera
(Spix, 1823) (Bezerra, Escarlate-Tavares & Marinho-Filho 2005)
Na distribuição geográfica atenção especial deve ser dada ao jupará - Potos flavus e o
macaco-aranha - Ateles chamek que apesar de não ocorrerem no PARNA são espécies que
estão presentes no entorno desta unidade tendo ai o limite de distribuição sul.
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
39
5. SITUAÇÕES DE RISCO PARA CONSERVAÇÃO DA MASTOFAUNA E SEU ENTORNO
5.1. CENÁRIOS PARA MANEJO
Dentre os fatores mais impactantes para o PARNA Chapada dos Guimarães e entorno
pode-se citar os incêndios, supressão de habitats naturais ou desflorestamento, turismo
desordenado, poluição, caça, espécies exóticas, abertura de estradas no interior do PARNA e
ampliação das culturas temporárias no entorno. (Tabela 13-15).
A caça ocorre pela pressão humana na Comunidade do São Jerônimo, vale do Córrego
Quilombinho e nos demais pontos a caça ocorre pelo abate por cães domésticos sobre fauna
silvestre. O turismo causa pressão no Rio Claro pelas estradas vicinais precárias que resulta no
incremento do processo erosivo e abertura de novas estradas. As atividades ai realizadas
envolvem as chácaras com direito de posse e acesso ao rio Claro para recreação. Nestas
atividades são constatado regularmente o uso de fogo para churrasco, aparelhos sonoros. Na
Fazenda Pombal o acesso precário também resulta na abertura de novas estradas paralelas,
falta de instrumentos para o controle de velocidade. No São Jerônimo o acesso agora limitado
contribuiu para redução da abertura de trilhas e estradas. Contudo, as estradas vicinais pré-
existentes encontram-se em estado precário de conservação dando início a processos erosivos.
É importante lembrar que todas estas estradas encontram-se sobre sítios arqueológicos do
Devoniano.
As espécies exóticas no interior do PARNA que necessitam de manejo são as pastagens
no São Jerônimo e Fazenda Pombal. O rebanho bovino na Fazenda Pombal e São Jerônimo
que usualmente saem das propriedades privadas no período dos incêndios pela queima das
cercas. Mas importante ainda é a presença dos cães no Rio Claro, Fazenda Pombal, Rio
Mutuca e São Jerônimo que abatem a fauna silvestre.
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
40
Nota-se que o habitat antrópico composto basicamente pelo entorno das rodovias é o
mais susceptível as ações de degradação e risco a mastofauna. Outro habitat é o Cerrado sobre
Areia Quartzosa no São Jerônimo onde já se registrou atropelamentos, presença de
contaminantes – resíduos sólidos e principalmente pela atividade turística. O Cerrado Rupestre
deve receber atenção pelo risco de fogo e atividade turística intensiva. Outros habitats que
merecem destaque são a Floresta de Galeria e o Campo Úmido no rio Claro devido ao risco de
fogo, uso intensivo e desordenado determinado pelo turismo. No aspecto do atropelamento a
Floresta Estacional Semidecidual no Vale da Benção também merece atenção a intensidade
dos registros de atropelamentos que ocorrem entre esta localidade e o vale do Colégio Buriti
pela MT-251. (Tabela 6)
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
41
Tabela 13. Presença e ausência de ameaças por sítio e ponto de coleta para a mastofauna no PARNA Chapada dos Guimarães 2005/2006. Sítio Ponto1 Incêndio Caça Desflorestamento Agropecuária Exóticas Poluição Turismo Estradas Trilhas Coleta Frutos Cultos Esportes Atropelamento
RC-FIN 1 1 1 (I)
RC-CSB 1 1 1 RC-ROD 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 RC-FG 1 1 1 1 1 1 1 1
RC-VER 1 1 RC-CSB 1 1 1 1 1 RC-CSC 1 1 1 1 1 1 1
(II)
RC-CUM 1 1 1 1 1 FP-CRA 1 1 1 1 1 1 FP-CRU 1 1 1 1 1 1 FP-CSB 1 1 1 1 1
(III)
FP-CSU 1 1 1 1 1 1 1 SJ-FEE 1 1 1 SJ-FES (IV-A) SJ-CSA 1 1 1 1 1 1 1 1 VN-CSS 1 1 VN-CUM 1 1 1 1 1 1 (IV-B) VN-ROD 1 1 1 1 1 1 1 1 VB-FEE 1 1 1 1 (V) VB-FES 1 1 1 1 1
Tabela 14. Matriz de ameaças para a mastofauna para 2005/2006. Baixo Risco-B; Médio Risco-M, Alto Risco-A, Extremo Risco-E. Vc=Valor Importância Conservação.
Habitats Vc Exóticas Caça Desflorestamento Contaminante Atropelamento Fogo Turismo Antrópico 0.06 E E B E E E B Campo Sujo e Cerrado Ralo 0.03 A B B B B M B Campo Úmido 0.03 M B B M B M A Cerrado Ralo/ Cerrado Sentido Restrito
0.11 M B B B B M B Cerrado Rupestre 0.03 B B B M B A A Cerrado Sentido Restrito 0.06 B B B B B A M Cerrado Sentido Restrito em Areia Quartzosa 0.15 B B B M M E A Cerrado Sentido Restrito, Formação Botucatu 0.27 B B B B M A M Floresta de Galeria 0.06 B B B M B M A Floresta de Galeria Inundável 0.04 B B B B B B B Floresta Estacional de Encosta 0.03 B B M B B B B Floresta Estacional Semidecidual 0.09 M B B B A B B Floresta Estacional Semidecidual de Encosta 0.01 B M M B B B B Vereda 0.03 M B B B B M M
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
42
Tabela 15. Características dos impactos no Parque sobre a mastofauna para o PARNA Chapada dos Guimarães e entorno 2005/2006.
AMEAÇAS Persistência da Ameaça Reversibilidade Grau do impacto Ocorrência no Parque
Mitigação
Incêndios Ocasional e rápido Média Médio Ampla Prevenção Caça Longa Alta Baixo Ampla Fiscalização áreas
florestais e controle dos cães no PARNA.
Desmatamento Longa Média Alto Restrito Fiscalização Agropecuária Longa Média Médio Restrito Controle/ Contenção/
Desapropriação Espécie Invasora Longa Média Médio Restrito Controle/ Contenção/
Desapropriação Poluição/Contaminação Longa Média Baixo Amplo Gestão Integrada dos
Recursos Hídricos e Coleta de lixo
Turismo Longa Alta Médio Amplo Controle Ampliação malha viária no interior do PARNA
Longa Média Alto Restrito Manutenção das vias existentes. Desapropriação
Abertura e reativação de trilhas
Média Alta Baixo Restrito Fiscalização
Coleta de Fruto Média Alta Alto Restrito Fiscalização Atividades religiosas Longa Alta Baixo Restrito Fiscalização/ Controle Atividades esportivas Longa Alta Médio Restrito Fiscalização Mineração Longa Média Baixo Restrito Fiscalização
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
43
5.2. ATIVIDADES ANTRÓPICAS E OCUPAÇÃO
Dentre os cenários de desflorestamento na área do PARNA e entorno observa-se uma
tendência de incremento linear (Figura 11). Considerando a área total até 30 km no entorno
do PARNA a área de
uso consolidado é
40% até 2005. A área
remanescente ainda é
predominantemente
de Cerrado Sentido
Restrito que é de
41%, seguido pelos
habitas florestados
com 5%. Contudo se
agruparmos por categoria de estrutura observa-se que os habitats gramíneo/lenhoso com
representatividade de 50% já perderam 32% de sua área no período de 2001 a 2005 enquanto
os habitats florestados perderam 16% de sua área. Estes desfloretamentos usualmente são de
pequenas áreas numa média de 23 ha no período de 2001 a 2005 e atingindo a área máxima de
950 ha.
Analisando o segundo fator de risco para a mastofauna os focos de calor são mais
comuns para os meses de julho a outubro no interior e entorno do PARNA principalmente na
região da Depressão Cuiabana. Nesta área, predomina o manejo do solo que é limitado ou pela
declividade ou por ser mais litólico. Isto resulta no uso por chácaras para atividade recreativa e
a pecuária extensiva determinando baixo grau de investimento para manutenção das
propriedades contra o controle de queimadas e aceiros. Apesar de não estar explícito na
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
Área (ha)
2001 2002 2003 2004 2005Ano
10 km20 km30 km
Fonte: dados extraídos e modificados da SEMA/MT Figura 11. Desflorestamento no entorno do PARNA Chapada dos Guimarães entre as classes de distância de 10 a 30 km nos anos de 2001a 2005.
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
44
Figura 12, nota-se que a uma associação direta entre a densidade dos focos de calor e a
presença de estradas. Dentro do PARNA isto é visível pela densidade dos focos de calor
exatamente na região onde a MT-251 percorre entre a Salgadeira e as proximidades do Véu de
Noivas. Esta região abrange dos sítios VN-ROD, VN-CSS e VN-CUM.
A pressão de caça apesar de ter diminuído desde o estudo de Becker (1981) ainda é
comum no entorno do PARNA próximo aos sítios da Fazenda Pombal e São Jerônimo. Entre
as espéces abatidas cita-se, cutia - Dasyprocta azarae, paca - Agouti paca, veado-catingueiro -
Mazama gouazoupira e tatu-galinha - Dasypus novemcintus com a finalidade alimentar e para
o controle de predadores no entorno já foi constatado o abate de onça-parda - Puma concolor,
jaguatirica - Leopardus pardalis e onça-pintada - Panthera onca.
Os atropelamentos são mais freqüentes em
três sítios na MT-251 sendo eles Rio Mutuca até o
Rio Claro, proximidades do Véu de Noivas,
Colégio Buriti até o acesso ao Vale da Benção
pela MT-251. Entre as espécies registradas por atropelamento pode-se destacar pela freqüência
em observações oportunísticas no PARNA e entorno desde 1999: o lobinho - Cerdocyon
thous, tatu-peba - Euphractus sexcinctus, tamanduá-mirim - Tamandua tetradactyla, a raposa -
Pseudalopex vetulus, o tatu-galinha - Dasypus novemcinctus, o gambá -Didelphis albiventris,
mão-pelada - Procyon cancrivoros, lobo-guará - Chrysocyon brachyurus, tamanduá-bandeira -
Myrmecophaga tridactyla,capivara - Hydrochaeris hydrochaeris, veado-catingueiro - Mazama
gouazoupira e a anta - Tapirus terrestris.
O turismo efetua sua maior pressão sobre os sítios do Rio Claro, São Jerônimo e
Fazenda Pombal. No primeiro ele ocorre de forma desordenada com uso dos cursos de água.
Na Fazenda Pombal ele ocorre principalmente sobre o Cerrado Rupestre e Cerrado Sentido
Fonte: estimado a partir de dados INPE (2006) Figura 12. Densidade dos focos de calor registrados pelo Satélite NOAA 12 no interior e entorno do PARNA Chapada dos Guimarães para os anos de 2000 a 2005.
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
45
Restrito sobre a Formação Botucatu. No São Jerônimo a pressão é maior no Cerrado sobre
Areia Quartzosa e Floresta de Galeria. Nesta região é comum o registro de Puma concolor e
Tayassu pecari sendo que estes fatores podem ocasionalmente resultar em acidente.
6. CONCLUSÃO
O PARNA Chapada dos Guimarães e seu entorno se caracteriza pela expressiva
riqueza de mamíferos de pequeno, médio e grande porte.
Os dados apesar de preliminares indicam uma fauna com baixa abundância e maior
riqueza. Entre as espécies mais comuns, pode-se destacar Carolia perspicillatta, Thrichomys
apereoides, Dasyprocta azarae, Cerdocyon thous, Artibeus jamaicensis, Euphractus
sexcinctus, Tapirus terrestris e Ozotoceros bezoarticus. Entre as espécies raras destacam-se
Myrmecophaga tridactyla, Oecomys roberti, Clyomis laticeps, Mazama americana e Tayassu
pecari. Deve-se buscar a implantação de medidas de controle de predação na Região do
Ribeirão do Fortes, Rio Mutuca, Comunidade São Jerônimo e riacho Quilombinho para
potencializar a conservação dos carnívoros, frugívoros-herbívoros e hematófagos susceptíveis
ao abate por proprietários rurais. As atividades sócio-educativas devem priorizar o uso dos
quirópteros como espécies guarda-chuva devido a sua importância para regeneração de
habitats degradados e controle de invertebrados alados. Isto potencializará a conservação dos
habitats florestados e gramíneo/lenhosos.
Os habitats com maior riqueza são o Cerrado de Sentido Restrito seguido pela Floresta
Estacional Semidecidual. Em termos de importância para conservação deve-se dar prioridade
ao Cerrado Sentido Restrito pela riqueza de espécies e registro mais expressivo de espécies
ameaçadas e raras. Os habitats florestados encontram-se com baixa representatividade no
interior do PARNA Chapada dos Guimarães. Desta forma deve-se dar prioridade ao manejo
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
46
deste habitat priorizando a manutenção da conectividade com o entorno. Assim áreas que
abrangem os habitats com Cerrado Sentido Restrito sobre Areia Quartzosa ou a Formação
Botucatu e as áreas Florestadas devem ser priorizadas como Zonas de Conservação
especialmente as do São Jerônimo, Fazenda Pombal e Rio Claro.
Os fatores de risco mais preponderantes a mastofauna são a supressão de habitats no
entorno, a intensidade dos focos de calor associados às vias interurbanas e aos atropelamentos.
Desta forma deve-se buscar um controle mais intensivo dos visitantes na Região do Rio Claro,
Córrego Água Fria, Véu de Noivas e São Jerônimo. Ações de controle mais intensiva devem
ser priorizadas no controle do desflorestamento nas Florestas de Galeria no entorno da cidade
de Chapada dos Guimarães e alongo da MT-251 que são as últimas conexões entre o PARNA
e a bacia do Araguaia-Tocantins e Teles Pires. Para o controle dos incêndios florestais deve-se
atentar a MT-251 entre Salgadeira e córrego Congonhas/Água Fria, a Comunidade do São
Jerônimo e o rio Mutuca como área prioritárias para manejo e controle dos incêndios
florestais.
Ao se avaliar proposta de regularização fundiária e ampliação da unidade deve-se dar
prioridade a incorporação de áreas florestadas na região do Pombal através do córrego
Quilombinho e prioritariamente na região do São Jerônimo no eixo leste incorporando as
Florestas e Galeria e a Floresta Estacional Semidecidual.
Estudos mais conclusivos devem ser realizados com os marsupiais e quirópteros para
determinação das espécies presentes determinando os padrões biogeográficos e estudos com
abundância da comunidade de pequenos roedores para avaliar a susceptibilidade as ações
antrópicas do entorno que podem isolar os pequenos mamíferos.
7. RECOMENDAÇÕES
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
47
Diante dos dados analisados sobre a mastofauna de pequenos mamíferos terrestres e os
morcegos as informações foram agrupadas em três classes, a saber, espécies prioritárias,
habitats frágeis e os fatores de riscos, tendo assim como resultado as seguintes recomendações
para conservação dessas classes de manejo:
A. Com as espécies raras e ameaçadas, estudos de auto-ecologia, devem ser direcionados
Leopardus pardalis e Chrysocyon brachyurus com o intuito de controlar a predação de
animais doméstico que afeta diretamente a conservação destas espécies pelo abate.
B. No aspecto taxonômico deve-se dar importância para os gêneros do roedor Oecomys
roberti, dos roedores caviomorfos – Galea e Cavia e aos morcegos do gênero Artibeus.
C. Entre outras espécies importantes para estudo no PARNA Chapada dos Guimarães:
a. . Potos flavus
b. Speothos venaticus
c. A dinâmica dos pequenos mamíferos terrestres e sua relação com os incêndios
florestais
d. Estudos com a quireptofauna devem ser direcionados para o entorno nas
nascentes dos afluentes do rio Casca e fragmentos de Florestas e Buritizais
isolados na alti-planície.
D. A quireptofauna apresenta uma grande riqueza local e esforços de manejo de controle
nas residências devem ser direcionados para atenuação dos conflitos com a
comunidade rural e urbana mitigando assim os riscos de transmissão de zoonoses o que
poderia inibir a conservação desse grupo. Os morcegos hematófagos não foram
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
48
constatados no interior do PARNA, mas já foram observados no entorno. Deve ser
dada prioridade na Comunidade do São Jerônimo e imediações do Córrego
Quilombinho como zonas de manejo para esta guilda.
E. Os habitats que apresentaram maior riqueza e diversidade foram o Cerrado Sentido
Restrito e as Florestas Semidecíduas e devem ser priorizadas para a sua manutenção
como Zonas Para Conservação
F. Deve ser dada prioridade ao manejo das áreas no entorno da rodovia MT-251 e Pontos
Turísticos – São Jerônimo, Véu de Noivas e Córrego Congonhas/Água Fria como áreas
prioritárias para o manejo e controle dos incêndios florestais.
G. Atenção deve ser dada a contaminação dos mananciais na nascente do Córrego
Independência, Córrego Coxipózinho – nas proximidades da Cachoeirinha e Véu de
Noivas, Ribeirão do Fortes e Rio Mutuca. Na Gestão dos Recursos hidrícos ainda
deve-se dar prioridade ao manejo do processo erosivo nas nascentes do Riacho
Porteira. Todas estas atividades irão contribuir para manutenção da ictiofauna e
concomitantemente da fauna piscívora como Chironectes minimus e Lontra
longicaudis presentes no entorno do PARNA.
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
58
ANEXO
Anexo .1
Aspectos taxonômicos
Inventários da Mastofauna do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
59
Abreviações: a: Anderson (1997); b: Cloutier & Thomas (1992); d: Ortega & Castro-Arellano (2001) e: Patton (1987); f: Patton, Silva & Malcom (2000); g: Vizzoto & Taddei (1973);
Durante o trabalho de revisão do material colecionado no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães foi realizada a vista a coleção de Mastozoologia da UnB e a coleção Mastozoológica do Museu de Zoologia da USP – MZUSP. Os pequenos roedores coletados nos escatos de Lobo-guará já haviam sido identificados em 2000 e 2001 no MZUSP com a colaboração de Alexandre Percequillo.
Para a determinação das espécies foram feitas comparações biométricas com o material obtido por Marinho-Filho et al. 1988, exemplares coletados por Júlio Dalponte no entorno do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães e exemplares depositados no MZUSP em comparação com a descrição na literatura.
Ainda há dúvidas sobre a identidade de três exemplares de Artibeus sp, e uma espécie de roedor. Oryzomys cf. marinhus (Bonvicino 2003) apesar de ter algumas semelhanças morfométricas do crânio com Oryzomys scotti o exemplar capturado possui o tamanho do comprimento total do crânio maior do que os obtidos por Langguth & Bonvicino (2002). Para os roedores foram ainda desconsideradas as revisões proposta por Weskler (2003) para o gênero Oryzomys e Weskler et al. (2001) para Proechimys roberti.
Tabela 15.Lista das espécies de pequenos mamíferos registradas na RPPN Acurizal e entorno, com as fontes utilizadas para sua identificação.
Ordem Táxon Nome Comum Identificação Caluromys philander2,Linnaeus, 1758 Cuíca MZUSP Didelphis albiventris, Lund 1840 Gambá-da-orelha-branca a Gracilinanus agilis, Burmeister, 1854 Cuíca a Metachirus nudicaudatus2Desmarest 1817 Cuíca a Monodelphis domestica2, Wagner 1842 Rato-cachorro MZUSP Marmosa murina,Linnaeus, 1758 Cuíca MZUSP D
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orph
ia
Marmosops sp Cuíca MZUSP Artibeus cf. obscurus, Schinz, 1821 Morcego a Artibeus cinereus, Gervais, 1856 Morcego a Artibeus jamaicensis, Leach 1821 Morcego a, d Artibeus lituratus Olfers, 1818 Morcego a, g Artibeus spa Morcego a Artibeus spb Morcego a Carollia cf. brevicauda Morcego a, b Carollia perspicillata,Linnaeus, 1758 Morcego a, b Chiroderma villosum, Peters 1821 Morcego a Glossophaga soricina, Pallas1766 Morcego a Lophostoma saurophilla, d’Orbigny 1836 Morcego a Micronycteris minuta, Gervais, 1856 Morcego a Phyllostomus discolor, Wagner 1843 Morcego a Phyllostomus hastatus, Pallas1767 Morcego a Platyrrhinus lineatus, E. Geoffroy, 1810 Morcego a Pteronotus parnellii, Gray, 1843 Morcego a Rhynchonycteris naso Wied-Neuwied 1820 Morcego a Rhinophylla pumilio, Peters 1865 Morcego a Sturnira lilium, E. Geoffroy, 1810 Morcego a Akodon sp2 Rato MZUSP Calomys sp2 Rato MZUSP Cavia aperea, Erxleben, 1777 Preá a Clyomys laticeps, Thomas, 1909 Rato a Galea spixii2, Wagler, 1831 Preá MZUSP Necromys lasiurus2, Lund 1841 Rato MZUSP Nectomys rattus, Peter,1979 Rato d ‘água a Oecomys roberti, Thomas, 1904 Rato f Oligoryzomys sp2 Rato a Oryzomys cf. marinhus, Bonvicino 2003 Rato UnB Oryzomys cf. scotti2 Languth 2002 Rato UnB, MZUSP Oxymycterus sp2 Rato MZUSP Proechimys guyannensis, E. Geoffroy 1803 Rato-espinho e Pseudoroyzomys simplex2, Winge, 1887 Rato MZUSP Rattus rattus2 Rato MZUSP Thalpomys cerradensis2 Hershkovitz 1990 Rato MZUSP
Chi
ropt
era
Thrichomys apereoides Lund 1839 Rato a
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Tabela 16. Período de coleta por sítio e pontos nas campanhas das chuvas e seca para a mastofauna no PARNA Chapada dos Guimarães em 2005/2006.
Sítio Ponto Coordenada UTM Fisionomia Período Mastofauna RC-FIN 612200 8306299 Floresta de Galeria Inundável 02/10 à 04/10/2006 (Pequenos terrestres/ voadores) Riacho do
Forte (I) RF-CSB 612282 8306323 Cerrado SS, Formação Botucatu 02/10 à 04/10/2006
30 e 31/03 e 06/04/2006 (Médio e Grande Porte) (Médio e Grande Porte)
RC-ROD 617917 8304199 Área Antrópica (Rodovia) 26/09 à 07/10/2005 29/03 à 06/04/2006 Todos os grupos
RC-FG 621148 8306065 Floresta de Galeria 27/09 à 29/09/2005 30/03 à 01/04/2006
(Pequenos terrestres/ voadores) (Pequenos terrestres/ voadores)
RC-VER 623824 8306865 Vereda 26/09 à 28/09/2005 30/03 à 01/04/2006
(Pequenos terrestres) (Pequenos Terrestres)
RC-CSB 621157 8305717 Cerrado Sentido Restrito, Formação Botucatu.
26/09 à 28/09/2005 29/03 à 31/03/2006
(Médio e Grande Porte) (Médio e Grande Porte)
RC-CSC 620300 8304270 Cerrado Sentido Restrito, Grupo Cuiabá. 29/09 à 30/09/2005 (Pequenos terrestres)
Rio Claro (II)
RC-CUM 621141 8305985 Campo Úmido 29/09 à 30/09/2005 31/03/2006
(Voadores) (Voadores)
FP-CRA 621453 8310846 Cerrado Sentido Restrito e Cerrado Ralo 29/09 à 02/10/2005 02/04/2006
(Pequenos Terrestres e Voadores) (Voadores)
FP-CRU 624531 8307867 Cerrado Rupestre 30/09 à 02/10/2005 (Pequenos Terrestres)
FP-CSB 627600 8307383 Cerrado Sentido Restrito, Formação Botucatu.
29/09 à 01/10/2005 02/04 à 04/04/2006
(Pequenos Terrestres) (Pequenos Terrestres)
Fazenda Pombal
(III)
FP-CSU 623513 8308665 Campo Sujo e Cerrado Anão 01/04/2006 30/09 à 02/10/2005 02/04 à 04/04/2006
(Voadores) (Médio e Grande Porte) (Médio e Grande Porte)
SJ-FEE 624902 8293890 Floresta Estacional Semidecidual Encosta 05/10 à 07/10/2005 07/04/2006
(Pequenos Terrestres) (Voadores)
SJ-FES 625196 8293746 Floresta Estacional Semidecidual 06/10 à 07/10/2005 02/04 à 04/04/2006
(Pequenos Terrestres e Voadores) (Pequenos Terrestres e Voadores)
São Jerônimo (IV-A)
SJ-CSA 625113 8293192 Cerrado Sentido Restrito sobre Areia Quartzosa
05/10 à 07/10/2005 02/04 à 04/04/2006
(Médio e Grande Porte) (Médio e Grande Porte)
VN-CSS 624740 8297769 Cerrado Sentido Restrito 06/10 à 07/10/2005 (Pequenos Terrestres) VN-CUM 624645 8298870 Campo Úmido 06/04/2006 (Voadores)
Véu de Noivas (IV-B) VN-ROD 624787 8298533 Área Antrópica (Rodovia) 29/03 à 07/04/2006 Todos os grupos
VB-FEE 628713 8289161 Floresta Estacional Semidecidual de Encosta 06/04 à 07/04/2006 (Pequenos Terrestres) Vale da Benção
(V) VB-FES 629993 8292988 Floresta Estacional Semidecidual 05/04/2006 (Voadores)
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