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10 Et1ca Empresoriol pin, unl drogado ou urn bebedo, urn faminto ou urn manfaco - atenua- () julgamento moral sem evita-Io. Afora essas condi<;:oes muito peculia- n:s, 1150 ha como escapar do seguinte imperativo: as implica<;:oes ou as deitos dos atos praticados responsabilizam quem os patrocina. Figura 5 Moralidade, amoralidade, imoralidade moral Rela<;ao am oral Relu<;ao imoral Ora, quando muita gente comete a<;:oes que a moral oficial con dena, como administrar tal incongruencia? 0 que tern mais valor: a moral ofi- cia! OU as costumes e suas pautas implicitas? 0 discurso publico e formal ou as justifica<;:oes embutidas nas pra.ticas do cotidiano e, no mais das vczes, verbalizadas a socapa? Podetia uma coletividade abrigar uma du- pia moral? A resposta e, sem duvida, afirmativa. 1sso poe na ordem do lIia questoes delicadas que merecem ser abordadas. Observa<;:oes apontam para 0 fato de que, na dubia atmosfera dessas sil'ua<;:oes, 11luitos agentes sociais anseiam no fundo d'alma por respeito e pl'obiclade. Nao se po de esperar, contudo, que tal ambiente caia do ceu. constru<;:ao resulta cia a<;:ao permanente de uma cidadania ativa, mis- Illr;l de l11obiliza<;ao e de pedagogia. A convivencia social, feita de coope- 1',11;50 nccess'lria e de entendimento, fica incessantemente sujeita a falta c,\l.'rllpulos C <lOS conflitos de interesse, de maneira que a mutua vigi- LillL'iu indispcns/lvd para que inrercsscs ego(stas llaO se imponham ,\\iI, i\lII'IT%I',\ Para que etica? Para que a reflexao etica produza efeitos> nao bastam ar;6es pedagogicas. E preciso fazer "po[{tica pela etica". /\ 6lica e as marais Vamos repeti-Io: a que vem a ser as morais? Conjuntos de regras de l'(llllportamento, c6digos de conduta que coletividades adotam, quer se- pm lima na<;:ao, uma categoria social, uma comunidade religiosa ou uma organiza<;:ao qualquer. Como discursos normativos que sao, as marais dcfinem qual a forma correta de agir, orientam e justificam as a<;:oes dos ,.I)2,l'lltes sociais. Como existem m6ltiplas coletividades, h3. multiplas mo- rais _ nervuras sensfveis das culturas ou dos imaginarios sociais, pe<;:as de resistencia que armam as identidades organizacionais, codigos geneti- cos das condutas sociais requeridas pelas coletividades. Enquanto a etica diz respeito a disciplina te6rica, ao estudo sistemati- co, as morais correspondem as representa<;:oes imaginarias que dizem aos agentes sociais 0 que se espera deles, quais comportamentos sao bem- vindos e quais nao. As normas que compoem os codigos marais - vale dizer, que compoem morais determinadas - sao pautas de a<;:ao que en- sinam 0 "bern fazer" au 0 "fazer virtuoso", a melhor maneira de agir coletivamente; sao marcos que qualificam 0 bern e 0 mal, a permitido e a proibido, 0 certo e 0 errado, a virtude e 0 vfcio. A etica opera no plano da reflexao ou das indaga<;:6es; tern, portanto, um car,'lter abstrato-formal. As morais, ao reverso, tern urn carater histo- rico-real, sao empiricas e observaveis, constituem a materia-prima a SCI' A etica estuda os costumes das co1etividades e as morais que conferir consisrrnc;;1 ;l CSSC$ modos recorrentes de COlli 11Ulli f\rop(lsito? Liberl:H (I', .l!',I'IIII", HllCl:lis cia pris30 do cgnfsll\o (\I\l' Ili1l1

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Page 1: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

10 Et1ca Empresoriol

pin unl drogado ou urn bebedo urn faminto ou urn manfaco - atenuashy~c () julgamento moral sem evita-Io Afora essas condiltoes muito peculiashyns 1150 ha como escapar do seguinte imperativo as implicaltoes ou as deitos dos atos praticados responsabilizam quem os patrocina

Figura 5

Moralidade amoralidade imoralidade

l~eloQao moral Relaltao am oral Relultao imoral

Ora quando muita gente comete altoes que a moral oficial condena como administrar tal incongruencia 0 que tern mais valor a moral ofishycia OU as costumes e suas pautas implicitas 0 discurso publico e formal ou as justificaltoes embutidas nas praticas do cotidiano e no mais das vczes verbalizadas a socapa Podetia uma coletividade abrigar uma dushypia moral A resposta e sem duvida afirmativa 1sso poe na ordem do lIia questoes delicadas que merecem ser abordadas

Observaltoes apontam para 0 fato de que na dubia atmosfera dessas silualtoes 11luitos agentes sociais anseiam no fundo dalma por respeito e plobiclade Nao se pode esperar contudo que tal ambiente caia do ceu 1I~1 construltao resulta cia altao permanente de uma cidadania ativa misshyIllrl de l11obilizaltao e de pedagogia A convivencia social feita de coopeshy11150 nccesslria e de entendimento fica incessantemente sujeita a falta ~k clrllpulos C ltlOS conflitos de interesse de maneira que a mutua vigishyLillLiu 1t~IL)1 indispcnslvd para que inrercsscs ego(stas llaO se imponham iI ilIIITI ((lI(liv()~

Para que etica Para que a reflexao etica produza efeitosgt

nao bastam ar6es pedagogicas Epreciso fazer po[tica pela etica

6lica e as marais Vamos repeti-Io a que vem a ser as morais Conjuntos de regras de

l(llllportamento c6digos de conduta que coletividades adotam quer seshypm lima naltao uma categoria social uma comunidade religiosa ou uma organizaltao qualquer Como discursos normativos que sao as marais dcfinem qual a forma correta de agir orientam e justificam as altoes dos I)2llltes sociais Como existem m6ltiplas coletividades h3 multiplas moshyrais _ nervuras sensfveis das culturas ou dos imaginarios sociais peltas de resistencia que armam as identidades organizacionais codigos genetishy

cos das condutas sociais requeridas pelas coletividades Enquanto a etica diz respeito adisciplina te6rica ao estudo sistematishy

co as morais correspondem as representaltoes imaginarias que dizem aos agentes sociais 0 que se espera deles quais comportamentos sao bemshyvindos e quais nao As normas que compoem os codigos marais - vale dizer que compoem morais determinadas - sao pautas de altao que enshysinam 0 bern fazer au 0 fazer virtuoso a melhor maneira de agir coletivamente sao marcos que qualificam 0 bern e 0 mal a permitido e a

proibido 0 certo e 0 errado a virtude e 0 vfcio A etica opera no plano da reflexao ou das indagalt6es tern portanto

um carlter abstrato-formal As morais ao reverso tern urn carater histoshyrico-real sao empiricas e observaveis constituem a materia-prima a SCI

pro~lsada A etica estuda os costumes das co1etividades e as morais que

~HOCllnHn conferir consisrrnc1 l CSSC$ modos recorrentes de almiddot~ir COlli

11Ulli frop(lsito LiberlH (I lIIIII HllCllis cia pris30 do cgnfsllo (Il Ili1l1

~- bull II IJJiltl(11

Sl irllJl()II~1 COli) OS dcitos prodll7idos solwe Os Outros I-U pois urn presshySlJpOS(O fiJos6ico que infornla ambas as teorias cientfficas dlt1 etica tratashySl da fJremissa altruista Euma especie de tributo que a ciencia da moral paga ao senso comum quando assimila 0 ser etico ao ser altruista

El outras palavras a etica visa a sabedoria 011 ao conhecimento temshypCIno peJo jUizo eis 0 porque de seu ponto de partida altruista As 1Illt)rlis em conrrapartida correspondem a um feixe de normas que as Prll-jcas cotidianas deveriam observar e assumem no essencial quer urn lIIirel altruista quer um carater egoista

Figura 6

o que estuda a etica empresarial

~jeto de estlldo

Existem morais macrossociais que recobrem as sociedades como um todo e que servem de baIizas as cemenas de morais mesossociais ou microssociais As morais que nao sao macrossociais expressam os interesshyses e as vi~ges de mundo das muitas coletividades que constituem as soshyciedades fo-dIam as feicoes de morais paroquiais corporativas profissioshylI]is setoiiais classistas regionais etnicas 011 confessionalS Sao modulashy(leS daq~elas morais macrossociais formas particulares de interpretar Stus temas ou ainda variacoes singulares de suas pautas especies de plJoetas de um rnesmo sistema solar

Figura 7

Pianos do analise

mrmtilml

Nao ha vantagem em confundir etica com moral como induzem exshypressoes consagradas como etica protestante etica cat6lica etica liberal etica socialista 011 etica nazista Vale mais falar de moral protestante moral cat6lica moral liberal moral socialista 011 moral nashyzista amedida que a etica como teoria estuda as marais na plenitude de sua natureza hist6rica Somente quando especialistas se debrucam sobre as morais e produzem urn estudo delas pode-se falar de etica do pratesshytantismo 011 de etica do socialismo Assim a referencia aetica empresashyrial 011 aetica dos neg6cios significa estudar e tomar inteligivel a moral vigente nas empresas capitalistas contemporaneas e em particular a moshyral predominante em empresas de uma nacionalidade especifica

Com efeito 0 que e valido para a coletividade N nao 0 e necessarishyamente para a coletividade B Os padroes culturais sao extremamente diversificados relativos e mutaveis - e essa evidencia constitui urn velho truismo das Ciencias Sociais

Entre os mugulmanos africanos a mutilagao genital das adolescenshytes e das meninas (entre os quatro e oito anos de vida) corresponde a um mandamento divino ou a uma obrigagao natural Ha tres formas de mutilagao genital feminina a) a clitoridectomia em que se extirpa total au parcialmente 0 clitoris b) a excisao em que se extirpam 0 clitoris e

1

fit rIIisnro

O~ 1f1lgtios m01l0rnr ciu vagina total au parcialmente c) a infibulagao ern que se eXlirpam todos os genitais e se costura quase todo 0 oriHshycio genital deixando urna pequena abertura para a passagem da urishyna e do sangue da menstrualtao Em mulheres adultas colocam-se tambem argolas de metal ou colchetes ou ainda costura-se a genitalia com 0 pretexto de evitar 0 ate sexual

Cerca de 15 das mulheres submetidas a mutilaltao genital morshyrem durante 0 ato porque a circuncisao e feita sem anestesia com tesouras cacos de vidro tampas de lata navalhas laminas facasshyinstrumentos estes que quase nunca sao esterilizados Em algumas rGgioes da Africa Ocidental cinzas au fezes de animais sao colocadas 110 ferimento para estancar a sangria 0 que aumenta a incidencia de infecltoes graves hemorragias abscessos pedras na bexiga e na uretra obstruQao do fluxo menstrual e cicatrizes proeminentes

Apesar de proibida em parses como Gana Egito Somalia e Sudao a mutilaltao genital feminina continua praticada como tradiltao cultural nesses parses visto que constitui um rito de passagem da infancia para a adolescencia Ao todo a pratica encontra-se difundida em 28 paises da Africa e dois do Oriente Medio atingindo mais de dois mishyIhoes de mulheres a cada ano

Os fundamentalistas multulmanos argumentam que e indispensashyvel proteger as mulheres das consequencias do excessivo desejo sexual e atribuem a Maome a afirmaltao de que a circuncisao e uma necessidade no homem e um adorno na mulher Os demais homens e mulheres manifestam-se convictos de que remover os genitais femishyninos externos e questao de respeito e homa de garantia de um bom casamento e de fortalecimento da uniao da tribo pois um dos maiores insultos na Africa Islamica e chamar alguem de filho de uma mae nao circuncidada A pratica e antiqOfssima anterior ao cristianismo e ao

islamismo datando de pelo menos 2200 anos

Hoje em dia e alvo de organizaltoes como a Visao Mundial e 0 Funshy

do das Nagoes Unidas para a Populaltao em funltao de luta em prol

dos direitos humanos e horroriza as mulheres ocidentais conscientes

de sua especificidade e empenhadas em preservar a sexualidade do

genero

I LlSBOA Lutz Carlos Argolas metalicas para prevenir atos sexuais 0 Estado de SPaulo 21 de ill1ho de 1996 revisra Veja 10 de junho de 1998 FARAH Paulo Daniel Circlncisiio afeta 2 lIilh6es de molheres por anoFolha de SPaulo 10 de janeiro de 1999 IDOETA Carlos Alberto Mlllheres Mutiladas Follia de SPaulo 8 de mar~o de 1999

lorll~J rmiddotu

rill 980 Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a mutishy

Ii 11(110 uenitalleminina esta foi convertida em ritual simb6lico pelo qual I u ~pvens seram declaradas mulheres 0 presidente da Associa~ao 1111 Allciaos de Sabiny Gw Cheborian que promo

veu tal revisao

i i~8beu 0 Premio popua~ao das Na~oes Unidas de 19982

As mulheres ocidentais conquistaram direitos no seculo XX que lbes

1111 negados no seculo anterior como

bull 0 direita de votar bull 0 uso de contraceptivos bull 0 direito de serem contratadas no emprego matricular-se na faculshy

dade comprar e vender imovel e dar queixa na delegacia sem preshy

cisar de autorizaltao por escrito do marido bull nao mais ser deserdadas peio pai por ter perdido a virgindade bull nao mais ter que manter a virgindade ate a noite de nupcias

bull deixar de ser educadas apenas para casar e ter filhos bull decidir adotar ou nao 0 sobrenome do marido

bull exigir prazer nas relalt6es sexuais 3

bull poder fumar e beber sem sofrer desaprova~ao moral Mas ainda no ano 2000 um artigo do C6digo Penal da ]ordania isenshy

tou praticamente de puniltao OS chamados crimes de homa Cerca de 20 muiheres sao assassinadas todo ano por terem mantido rela~6es sexuais sem se casar ou por terem dado curso a relalt6es extraconjugais Os crimishynoSO maridos ou irmaos recebem penas leves ou sao inocentados

SMais uma iiustraltao da variedade de costumes e de normas morais remete-nos ao infantiddio Essa pnltica e considerada hoje uma especie de homiddio embora tenha sido iargamente empregada entre muitas comunidades primitivas geralmente em fun~ao da escassez de vlveres Entretanto na China e na india atuais 0 infantiddio das crian~as feminishynas ainda perdura5 0 meio de minimizar isso na China totalitaria foi incentivar oficialmente abortos e esterilizaltoes sob 0 guarda-chuva da

poHtica de controle da natalidade

2 0 Estado de SPaulo 17 cie julho de 1998 3 SCAVO[E Miriam As vitorlosas revista Vea 22 de dezembro de 1999

4 0 Estado de SPaulo 15 de fevereiro de 2000

S Revsta Veja 8 de il1lho de 1998

2

Ltll rl fllllr~(mQI

Outra curiosidade chinesa do ponto de vista ocidcnral diz rcspeito ~lOS hlbitos alimentares do pais que seguem uma maxima popular Comeshyse tudo que tem perna menos as mesas tudo que voa menos os avioes c [Udo que nada menos os barcos Assim comem-se ratos e ratazanas cachorros e ate escorpioes que chegam vivos acozinha e depois sao sershyvidos como se fossem Iagostas 6

Milhares de outros exemplos poderiam ser citados hauridos tanto clrls fontes antropo16gicas como dos jornais e revistas de nosso cotidiano

Em setembro de 1999 os telespectadores da Tanzania foram conshy

frontados com imagens de peles humanas ao tado de cadaveres

desmembrados dos quais as peles tinham sido retiradas 0 prego de

cada pele variava entre US$300 e US$500

Representantes das polfcias de Zambia Tanzania e Malaui se comshy

prometeram a atuar em conjunto para par fim ao que qualiticaram como

uma vergonha para a Africa oriental Na regiao sobretudo 110 Zaire

feiticeiros utilizam as peles para produzir pog6es magicas 6rgaos

genitais de criangas convertem-se em pogoes medicinais e a pele da

cabega de homens calvos e um dos insumos para dar sabedoria a

quem a consome

o relativismo cultural ap6ia-se em justificaltoes morais igualmente competentes porque igualmente legitimadas pelas sociedades que as culshytivam Assim as morais sao multiplas e nenhum sistema de normas moshyrais pode pretender obter 0 selo da eternidade ou da universalidade Isso por uma razao bem simples as representacoes mentais os bens simb6lishycos e tudo 0 que e imaginario fincam suas rafzes na hist6ria e portanto mergulham por inteiro nos eventos singulares e em fluxo Assumem pOl isso mesmo carater efemero transit6rio provis6rio passageiro e mutave

Acontece que nenhuma moral se sustenta pura e exclusivamente pelas virtudes de seu discurso Hlti sempre urn embate entre morais diversas que expressam ideologias variadas e representam interesses diferenciashy

6 Foha de SPaulo 6 de fevereiro de 2000 7 SMITH Alex Duvnl Africa combate venda de pele hurnann The Independent reproduzido

pela Folha de SPattlo 29 de outubro de 1999

PI V llJr 1111tQ(

ias111ft tlO rnais das vezcs contradit6rios A exemplo das ideolog a moral IJIIIill~nte em Llma coletividade qualquer efruto de uma reIaltao de forshy

I sc nao cairiamos em um vale-tudO relativista A questao-chave dos problemas da moralidade repousa no conflito de

1111 cresses Em uma primeira instancia os interesses pessoais contrapoemshyil ~ interess coletivos - familiares paroquiais corporativos empresashyes I his comunitarios de categorias sociais classistas nacionais ou suprashyILKionais Em uma segunda instancia algum tipo de interesse coletivo Jlode contrapor-se a outroS de igual ou maior abrangencia 0 pr6prio cgolsmo que expressa in extremis OS interesses privados e pessoais e formulado e endossado por alguma coletividade de modo que toda moshyrl esempre a moral de algum agente coletivo A eficacia de qualquer moral depende dos apoios politicos ou dos agentes que a suportam bern como do arsenal de sanltoes de que as coletividades dispoem para fazer vater seus ditames - sejam estes dogmas sejam estes prop6sitos

Abrindo parenteses 0 que vem a ser as normas sociais Pautas de aao que expressam valores balizas definidas por uma coletividade qualquer para guiar 0 comportamento exigencias que tornam obrigat6rias as conshydutas e operam como fatores de coesao social ou como regras de convivenshycia visando acoexistencia entre interesses contradit6rios Mas pOl que as Dormas sociais sao acatadas Por tres razoes que muitas vezes se conjugam

bull a convicltao de que a vida em sociedade requer 0 respeito a regras de interesse comum (e 0 caso das normas morais) essa convicltao

decone da socializacao ou da reflexao bull a submissao dos agentes diante da amealta representada pOl sanoes

que a coletividade pode exercer (e 0 caso das normas juridicas) bull a adesao motivada pela necessidade de identificar-se e pertencer a

dada coletividade (e 0 caso das normas de etiqueta)8 As normas jurfdicas (leis e regulamentos) dispoem de sanltoes sobre 0

corpo ou as vontades dos agentes sociais Correspondem a reclusoes (prishyvacao de liberdade) ou a outras formas de intimidaltao e sao respaldadas pelo poder poHtico ou pelo monop6tio da violencia que 0 Estado detem POl via de consequencia sua eficacia repousa nos efeitos da coafao extershyna As demais normas por sua vez como as de etiqueta as religiosas lS

esteticas e as morais tern carater simb6lico e implicam a aceitaltao volull

8 FONSECA Eduardo Giannetri dn Vicios PriJados Belle(fcios pliblicos A etica na iqll

llai(oes Sao Pn111o Companhia das Letras 1993 pp 88-91

3

I pl ()(IfI(11

(~Iria dos agcntes [sso n1o quer dizer que estejam dltst it [lfdas de san~6es ngtll(Tltl quem as desrespeitar apenas indica que as san~6es nuo tem carater fisico mas il11aginlthio cultural remetem sobretudo a censura que recai sobre os agentes que transgridem suas pautas A efiCltlcia das normas simb6shylieas reside em boa parte (embora nao exclusivamente) na co4fdo interna

bull oa disciplina da consciencia de seus temores e fantasmas nos pashydroes inculcados pelos agentes sociais ou

bull na dinamica da reflexao madura que convaIida a pertinencia dos mecanismos de regula~ao social e justifica a existencia das regras de convivencia social

Figura 8

Por que se acatam normas (raz6es conjugadas)

Inculca Temor

Fazendo agora uma analise mais afeita ao discurso social comum podemos responder aquestao Para que etica da seguinte maneira na visao mfstica 0 que e julgado no tribunal divino apos a mone Apenas e tao-somente a conduta moral sobressai dentre todos os feitos humanos Na visao secular ao fim e ao cabo 0 que distingue as pessoas Novamenshyte comparece a conduta moral Isso equivale a dizer duas coisas

1 identificam-se 0 bern com as luzes (seja Deus seja a retidao de carMer) e 0 mal Com as trevas (seja Sata seja a falta de escrupulo)

2 em consequencia 0 jufzo de merito implica uma bonifica~ao _ quer a entrada no reino dos ceus quer urn credito social de confian~a

Temos ai chaves preciosas para as reflexoes que seguirao

UflI rJlJ J9

quem Be cleve lcaldadc 1 6tica sempre foi uma disciplina filosofica mas a filosofia ja perdeu

1 ndusividade de seu exercfcio De fato mantido 0 mesmo objeto de ll1do (as morais as praticas que estas pautam ou os fen6menos morais) Ilscllvolveu-se recentemente nova disciplina de carater cientifico

A rJtica filosofica sempre tentou estabelecer princfpios constantes e lI11ivcrsalmente validos para a boa conduta da vida em quaisquer sociedashydes c epocas Definiu 0 bern moral como 0 ideal do melhor agir ou do IllclllOr ser e procurou as fontes da moral nas divindades na natureza ou 110 pensamento racional

Em contrapartida a etica cientffica constata 0 re1ativismo cultural e 0 aJota como pedra angular para tomar inteligiveis os fenomenos morais I)ito de outra forma qua1ifica 0 bern e 0 mal assim como a virtude e 0 vfcio a partir de seus fundamentos sociais e historicos aborda as normas que as coletividades consideram validas sem julga-las investiga e explica a razao de ser da pluralidade da dinamica e da coexistencia das morais hisshytoricas Trata-se de urn discurso demonstrativo com asser~6es verificaveis diferentemente da fi10sofia que consiste em pensar sem provar9

Em sintese a etica filos6fica - ou filosofia da moral - tende a ter urn cadter normativo e de prescri~ao ansiosa por estabelecer uma moral universal cujos prindpios eternos deveriam inspirar os homens malgrado as contingencias de lugar e de tempo

No polo oposto a etica cientffica - ou ciencia da moral - tende a ter urn carater descritivo e explicativo porque centra sua aten~ao no coshynhecimento das regularidades que os fenomenos morais apresentam malgrado sua diversidade cultural e apesar da variedade de seus pressushypostos normativos Na medida do possivel procura preyer a ocorrencia desses mesmos fen6menos

Mas 0 que vern a ser 0 bern ou melhor 0 supremo bem (summum bonum) Ao longo da historia das doutrinas eticas (filosofias morais) 0 que se entendeu pe10 bern em sua plenitude assumiu as mais diversas defini~oes felicidade prazer dever perfei~ao prudencia poder discishyplina mental conhecimento autocontrole ascetismo gra~a de Deus rashyzao prosperidade liberdade igualdade social realiza~ao pessoal sucesshyso Temos diante de nos portanto urn extraordinario leque de hipoteshyses ou de convic~oes que apenas refor~a 0 carater relativista dos valores

9 COMTE-SPONVILLE Andre PequellO Tratado das Grandegt Virtudes Sao Paulo Ma~tins Fonshytes 1995 p 173 4

cultUllt1is c como 6 Lkil ckduzir a Idlcx50 te61ica urio lsli illlUnc as condicionantes hist6ricas

Assim quando estao em jogo problemas morais em vez de procurar a essencia metaflsica do bern parece melhor fazer a seguinte pergunta a quem devemos lealdade

bull Aorganiza~ao em que trabalhamos ou ao chefe imediato bull Aos colegas de trabalho ou aos amigos de fora bull Ao nosso padrinho (quem nos indicou) ou ao c1iente bull Anossa famnia ou a nossa igreja bull Anossa classe social ou ao nosso pais bull Exclusivamente a n6s mesmos (egoismo) ou no extrema oposto a

hUl11anidade como urn todo bull Anossa categoria profissional representada pelo sindicato ou as

nossas conviclt6es ideo16gicas expressas por urn partido polftico bull A urn movimento social que defende causas nobres ou a empresa

que dirigimos Qual seja falar de moral e falar de conflito de interesses Toda relashy

ltao moral implica escolhas algumas tao diffceis que nos levam acatatonia AfinaI nao se pode ser leal a todos e a tudo 0 tempo todo Em sintese no terreno moral nao ha neutralidade possivel e precise posicionar-se Em termos praticos toda decisao beneficia alguns em detrimento de outros pais os afeta desigualmente Ora como compatibilizar as variadas lealdashydes que cultivamos Qual escolha fazer Quem sera beneficiado e quem sera prejudicado

Por exemplo urn advogado nao escolhe seu cliente porque ele fala a verdade ou aparenta ser inocente mas porque na qualidade de cidadao possui direitos que devem ser protegidos Nesses estritos Iimites sob a egide do respeito a lei 0 advogado deve lealdade ao reu unica e exclusivashymente para garantir-lhe urn julgamento justa Vale dizer s6 deve lealdade ao cidadao nao ao cliente em si Da mesma forma 0 promotor publico se preocupa em defender direitos que 0 acusado supostamente lesou 0 proshymotor deve entao lealdade a quem Novamente sob a egide da lei a vftima na sua qualidade de cidada E 0 juiz Deve lealdade a sociedade como urn todo sem discriminar vitimas ou acusados na cega imparcialidashyde da administra~ao da Justi~a presQ ao cumprimento da lei A rigor nem sempre esses preceitos sao observados dai 0 descredito que recai as vezes sobre os tribunais e sobre os membros do aparelho judiciario

Por seu tumo uma agencia de publicidade deve lealdade a quem Ao contratante da campanha publicitaria cliente imediato desta Ao publico

Uluie I ngirln par suo nensagem e que pode vir a tornar-s cons shyII 0 procuto ou usu5rio do servilto A todos ao mesmo tempo Como I III pILI conciliar tantos e taO dlspares interesses Sem uma reflexao a

rnn 0 vabalho da ag~ncia perde a ruma e pode deriva para a mistishyill 1(10 al11edida que ao privilegiar 0 cliente imediato para nao perder 0

llllIW em detrimento dos usuarios finais satisfara apenas os interes-I ais diretamente envolvidos na operaltao Todavia havendo duvidas

IqIlimas a respeito da qualidade do produto ou do servilto a ser anun-I illdo nao caberia uma investiga~ao previa indo ao extremo da suspenshyIl do lanltamento da campanha caso as suspeitas tenham algum fundashyIlltllto Afinal haveria como evitar a co_responsabilidade da agencia e de sa (IS profissionais tendo em vista que uma publicidade engano implicaen vlntuais prejulzoS para os consumidores ou os usuarios finais A ag shy i~1 correria 0 risco de comprometer nao s6 a credibilidade do c1iente shylinda que este possa n~lO se preocupar com 0 fato - mas de manchar a propria reputaltao 0 que fazer entao Aderir as praticas interesseiras e de curto alcance ou cultivar uma cautela escrupulosa A quem a agencia cleve lealdade A uma coletividade restrita ou a uma coletividade mais Hupla ElU tese a resposta e 6bvia Na pratica nem empre a escolha altrulsta prevalece haja vista a ansia de auferir lucros no curto prazo

Vejamo agora a situaltao da administra~ao de recursoS de terceiros ums se forem geridos por corretora ou por banco nao poderi surgir alg conflito de interesse entre os estabelecimentos financeiros e seus clienshytes Eclaro que sim na medida em que aqueles como administradores de recurso poderia usar informa~6es confidenciais ern proveito pr6shymsprio 0 sigilo de opera6es da especie costuma ser garantido par meio das chamadas muralhas da China verdadeiros anteparos que visam a evitar a inside information ou prevenir 0 vazamento de informalt6es conshyfidenciais entre os dientes ou os funcionirios da propria empresa finanshyceira e que tambem consistem em isolar 0 que e informa~ao publica do se qoe e informaao privada As muralhas sao levantadas estabelecendoshydesde separalt6es Hsicas entre os varios departamentos ate condilt6es de trabalho implicam 0 cumprimento de poHticas de investimentoS a que os funcionirios poundicam obrigados sob pena de serem demitidos e levam a mia criaao de departamentoS de fiscalizaO (compliance) com autono em rela~ao a direltao para controlar eventuais deslizes Aqui no caso a lealdade e devida aoS clientes como coletividade de investidores e nao ern primeira mao ao estabelecimento financeiro que prove os serviltos

5

Ulmiddot LllljJH1StJnaf

loll IICT littn

sem 0 que os investidores fugiriam da empresa que nio viesse a Utesgarantir 0 sigilo1O

No primeiro semestre de 2002 a famosa Merryll Lynch fo acusada pelo procurador geraJ de Nova York Eliot Spitzer de ter acobertado

relagoes promscuas entre suas divisoes de analise e investimentos

o procurador acusou os anaJistas de crassificar favoravermente as agoes de empresas que utilizavam os servigos da corretora para coloshycar agoes no mercado Em outras palavras a MerryJl Lynch foi denunshy

ciada como tendo indUZido investidores ao erro com avaliagoes tenshy

denCiosas No mes seguinte ao anuncio da investigagao atingida em cheio em sua credibilidade a corretora perdeu US$11 bilhoes em vashylor de mercado na Boisa

Assim para par tim as acusagoes do procurador geral a empresa fechou um acordo que implicou pagar uma multa de US$1 00 milhoes

US$48 milhoes destinados ao Estado de Nova York e 0 restante a oushytros Estados A corretora tambem se comprometeu a criar um comite para revisar as mUdangas nas classificagoes de agoes e foi obrigada a

controlar a comunicagao entre as areas de analise e de investimento A MerryJJ Lynch nao ticou ao abrigo eclaro da impetragao de agoes

coletivas na Justiga ou do apelo a tribunais de arbitragem privados a

serem desencadeados por investidores que alegam ter perdido mishyIhoes de d6lares por causa de suas analises viciadas

11

Alias no final de 2002 em urn acordo hist6rico com a Procuradoria Ceral de Nova York e a SEC Yisando arquivar acusacoes de que iludiram c1ientes com anaJises tendenciosas quanto ao comportamento de acoes negociadas na Bolsa as maiores Corretoras de Wall Street _ Citigroup Credit Suisse First BOston Merrill Lynch Morgan Stanley Goldman Sachs Lehman Bros Deutsche Bank] P Morgan Bear Stears UBS Paine Webber - acertaram pagar US$l bilhao em multas aMm de US$450 milhoes

10 REBOUCAS lucia Chinese wall gatante 0 sigilo de opera~iio bancaria Cauta Mercantil19 de agosto de 1996

11 Bloomberg e Dow Jones Merryll Lynch paga multa por acusa~iio de induzir investido Cazeta Mercantil 22 de maio de 2002 r

I~r fin~tnciar a distribui~io de anMises indepcndentesc1e outras ernshy

~ll~S que Ilao tern banco de investimento 11

[lortanto a sobrevivencia do neg6cio depende dessa lealdade maio IOS investidores em geral Mais ainda a credibilidade do sistema finallshyl jro como urn todo estaria em jogo se a coletividade de investidores njo h sse respeitada Isso para nao enfrentar questao bern mais abrangente L

dclicada a indagacao a respeito do carater socialmente responsavel dos illvestimentos

Em abril de 1994 The New York Times anunciou um escandalo poshytencial envolvendo 0 maior banco americano 0 Citibank 0 presidenshyIe John Reed e Richard Handley ex-diretor do banco na America Lashy

tina entao presidente de uma subsidiaria do Citi na Argentina a Citicorp Equity Investiment (CEI) teriam feito neg6cios suspeitos na Argentina As operagoes deram muito dinheiro ao banco mas teriam tambelll enriquecido amigos de Handley com 0 conhecimento de Reed

Edesse desvio prejudicial aos demais acionistas do Citi que Handley e Reed sao acusados 0 banco garante que 0 neg6cio argentino fui muito correto

A operagao comegou em 1989 Naquele ano 0 Citibank tinha US$1 bllhao em papeis da dfvida argentina Essa fortuna tinha valor apenas nominal porque os papeis estavam muito desvalorizados 0 pais esshytava em um processo de hiperinflagao e os investidores pagavam apeshynas 11 centavos por um bonus de 1 d61ar do governo argentino Handley convenceu 0 governo a aceitar os bonus em troca de agoes de empreshysas estatais As agoes compradas pelo Citi foram colocadas na CEI criada especialmente para isso

Em 1992 depois que 0 Plano Cavallo trouxe alguma estabilidade a economia argentina 0 pais foi invadido pelos d61ares dos investidores estrangeiros a privatizagao deslanchou eo prego das agoes deu um saishyto enorme A CEI converteu-se na maior holding industrial da Argentina

Mas 0 Citi nao era mais 0 unico dono da CEI Vendeu 60 da emshypresa justamente quando 0 neg6cio estava se valorizando E os comshypradores foram na maioria amigos de Handley um amigo de infancia assumiu 33 das agoes pertencentes a holdjng e a compra cujo

12 GA5PARINO Charles Acordo de U5$14 bilhiio muda pnitica de neg6cios em Wall 511((1 The Wall Street Journal Americas reproduzido pOl 0 Estado de S Paulo 23 de dezembro de 2002 Danco pagara multa recorde nos EUA Gazeta Mercantil 23 a 25 de dezembro d~ 200i 6

I r It rI I IIIl((IIII

montante alcangou US$269 rnilh6es foi (jnanci~j(I I 11110 II i IprlO Citi dois advogados funcionarios da CEI e assessores elu I ItHl(lI y licashy

i

ram com outros 12 da holding (pagaram uma parte em dinheJro e 0 restante em trabalho)

As explicagoes dadas pareceram razoaveis como os acionistas nao recebiam dividendos desde 1991 e como havia pressao do governo norte-americana por causa dos prejuizos seguidos do banco fol preshyciso vender fatias da sUbsidjaria argentina para incorporar 0 lucro ao

seu balan90 e agradar os acionistas Ganhou 0 Citi US$450 milh6es livrando-se dos titulos da divida argentina Os acionistas argumentashy

ram no entanto que 0 CHi deixou de realizar outros US$575 milhoes com essa opera9ao 13

A quem deviam lealdade esses altos funcionarios do Citibank Uma resposta licita poderia ser aos acionistas E por que Porque se trata

de uma coletividade cUja abrangencia emaior do que a rede informal

de poder formada pelos funcionarios envolvidos na Operag30 e porshyque afinal os acionistas sao seus empregadores

Urn dos graves problemas que atormentou a sociedade brasileira no final do seculo XX disse respeito ao deficit da Previdencia Social Por sell vulto amea~ou a estabilidade economica do pals Havia um abissal desequiHbrio entre 0 que ganhava e 0 que Custava um trabalhador do setor privado e outro do setor publico No primeiro caso 0 beneficio obedecia ao teto de R$1200 No segundo caso nao havia limite Ora existiam em 1998 18 milh6es de trabalhadores privados recebendo beshyneffcios pelo INSS e 0 rombo do Instituto chegava a R$78 bilh6es Em contraposi~ao menos de 3 milh6es de trabalhadores do setor publico geravam um deficit de R$34 bilh6es Ou seja atraves dos impostos pashygos 0 conjunto dos brasileiros bancava a aposentadoria de uma pequena minoria No seio desta 905 mil servidores da Uniao Custavam asociedashyde US $18 biIh6es mais do que a saude de toda a populaltao J4 AContece que 0 rombo da Previdencia subiu de R$4224 biIh6es em 1998 para R$723 bilh6es em 2002 e as mesmas distorlt6es permaneceram entre os aposentados 11 eram servidores publicos recebiam 41 dos beneshyfkios e representavam por si s6s um deficit de R$S 62 bilh6es 15

13 Revista Veja 27 de abril de 1994

14 LAHOZ Andre Caiu a ficha revista Exame 18 de novembro de 1998 15 CORREA Crisriane Cad a ceforma reyjsta Exarne 15 de maio de 2002

101 I ((It u

i(Ii LltlC OS dirilOgt lllquirido~ de uns nio se COl1verteram em priviIeshyIII (l~ oblcS beneficiJlldo os bem aquinhoados em uma especie de illllyenicdade invertida A aposentadoria que favorece uma categoria soshy

i I_d 1middotIll detrimento da maioria da populaltao nao perdeu assim sua legishyillilllllde e portanto sua valida~ao moral Escreve JoeImir Beting

( ) saudoso conselheiro Acacio fil6sofo e semi610go costumava adshyIJcrtir 110S idos da Velha Republica (quando s6 3 dos brasileiros voshylavam para presidente) que nos tratos da coisa publica a soma das fwrtes nao pode ser maior do que 0 todo Essa revolta politica contra a Ilritmetica orfamentaria e que esta na raiz de todos os vicios e desvios do Estado contempordneo - no Brasil e 110 mundo A irresponsashyhilidade fiscal pode tel mil explicafoes mas nenhuma justificativa Lla estiola governos que nao se governam nao se deixam governar e fechando aroda da gastanfa publica nao conseguem govemar 0 proshyblema de fundo eque a boa gestdo das contas publicas sem vazios nem desvios sobre ser uma exigencia moral demanda compettncia tecnica e sabedoria potica ou seja duas moedas mais escassas histoshyricamente da administrafao publica H J6

Para superar as in6meras Iinhas divis6rias que demarcam 0 espalto -KiaI aparentemente a tinica safda consistiria em fazer escoIhas que inshyrcressassem ahumanidade como urn todo Esrarfamos assim praticando um aItrulsmo inquestionaveI pois terfamos sempre em mente os bens publicos globais ja que estes nao conhecem fronteiras Bens publicos gIoshybais a serem preservados combatendo-se entre outros 0 narcotrafico a Aids as radia~6es nucleares a polui~ao ambientaI 0 buraco de ozonio 0

efeito estnfa 0 lixo radioativo 0 mercado negro de material fossil a aItera~ao dos ritmos das esta~6es a erosao do solo 0 desemprego tecnoI6gico e 0 terrorismo internacionai Poderfamos tambem investir na defesa dos direitos humanos na redu~ao dos arsenais nucleares e na conshytensao de sna prolifera~ao

Mesmo assim quando essas quest6es vem a ser enfrentadas levanshytam-se as vozes daque1es cujos interesses sao feridos por exemplo nem todos ainda hoje ap6iam 0 respeito aos direitos humanos (pafses totalishytarios e polfcias autoritfuias) nem os traficantes e os viciados endossam 0

combate ao trafico de drogas nem todas as empresas acatam de born

16 BETIlG Joelmir Medo da ordem 0 Estado de SPaulu 11 de junho de 2002 7

111 rlpljf11111

grntlo no lkJsd proihj~1o do lISC) do gas CFC paLl pi C( 1 JI 0 ozonlO

cia atmosfera a partir do ana 2000 em respeito ao Protoco]o de Montreal de 1987 17 E isso embora se saiba que sem 0 escudo estratosferico reshypresentado pelo ozonio a humanidade como urn todo seja mais vulnerashyvel ao cancer de pele e a catarata e que 0 sistema imunol6gico das pessoshyas fique prejudicado 18

Ademais ha conceitos que ainda nao consolidaram seu status de bens piiblicos globais - exemplo da Internet - embora outros estejam a camishynho do consenso como a paz a seguranca a cultura e a justicaY Todavia ern sa consciencia sera que e sempre POSSIVel tomar decisoes tendo a humashyIichde por marco de referencia A complexidade das sociedades contemposhy1middot~11CS e suas fraturas sociais expostas deixam ampla margem aduvida

Em um lugarejo de nome Vladimir Volynskiy cerca de 500 quil6meshytros de Kiev na Ucrania a famma gentia Vavrisevich escondeu sete Judeus de novembro de 1942 a fevereiro de 1944 Alimentou-os e cuishydou-os em uma especie de porao escavado sob 0 assoalho de sua casa Procurou contrapor-se a solugao final nazista (eliminagao dos judeus em campos de exterminio) sem nenhuma salvaguarda contm o pelotao de fuzilamento caso ela fosse denunciada

Os membros dessa familia nao eram guerrilheiros em luta contra 0

invasor nem eram mais religiosos do que a media da populagao crista ortodoxa da aldeia Nao tinham tantas posses que pudessem sustenshytar sem problemas em tempo de guerra sete bocas alem das pr6shyprias mas nao eram anti-semitas ao contrario da esmagadora maioshyria de seus conterraneos Escoilleram apenas fazer a coisa justa quanshydo nao fazer nada ou fazer a coisa injusta era a coisa certa a fazer do ponto de vista de seus interesses 20

Fizeram 0 bem quando a banalidade do mal era a regra

Il HANDYSIDE Gillian CE vai combarer inimigos do ozonio Gazeta Mercantil 2 de jl1lho de 1998 CASTRO Gleise de SATOMI LililIl e CASPANI Eduardo Empresas fazem opltiio pelo verde Gazeta Menantil Latino-americana 2 a 8 de outubro de 2000

IX COCKROFT Claire Dezenove paises estndariio perda de ozonio 0 Estado de SPaulo reshyproduzindo artigo de The Guardia11 29 de janeiro de 2000

I) CALAIS Alexandre ONU ctitica efeiros da globalizaltao Gazeta Menantil 9 a 11 de julho de 1999

lO WEIS Luiz A lista de Vavriseyich 0 Estado de SPaulo 9 de dezembro de 1997

111 II 11111 Iii P lll

l-1l1hOL1 kalcLid~ st 1rLldlL~1 elll termoS de fidelidade a tais OLl quais Illividacks esta muitas vczes assume 0 carater abstrato de lealdade a I illLlpios Oll a ideais isto e 0 inv6lucro ret6rico e ideol6gico contribui Jlr mobilizar os semelhantes Age-se assim em nome da Tradiltao da Iropricdade de Deus da Familia da Religiao da Honta da Lei e da

h dem da Hierarquia e da Disciplina da Superioridade da Ralta da 1nshyk[tndencia Nacional da Revolultao Social do Futuro do Socialismo Ii i lZeino dos Ceus da Paz entre os Povos do Internacionalismo Proletashy110 da Terra Prometida da Fraternidade da Justilta Social da Igualdade

1middot1t De maneira que a pergunta sobre a quem dever lealdade acaba crushyllldo e modelando esta outra lealdade a que Aparece entaO uma lealshy

enta lhde as ideias que funcionam como far6is ou guias as repres lt6es il11aginarias que sao capazes de galvanizar as energias de coletividades hem precisas porque ideais ou prindpios sao preconizados par agentes coletivOs nao sao entidades dissociadas dos interesses materiais que se confrontam socialmente Em ultima instancia raros sao aqueles que deshyfendem algo que va ferir seu modo de vida e suas expectativas com relashy~ao aO futuro Ao contrario todos tendem a esposar pontos de vista e perspectivas que se coadunam com 0 que eles tem de mais precioso - a posiltao que ocupam no espalto social ou a posiltao que imaginam que

merecem oCl1parQuando se fala de Liberdade 0 grito de guerra arregimenta por exemshy

plo bnrgues e plebeus contra 0 Antigo Regime absolutista e seus es estamentos privilegiados (a nobreza e 0 alto clero) pondo em jogo coleshytividades que questionam ou defendem determinado estado de coisas

Quando se fala de religiao niio se trata de algo etereo e nao observavel

mas de uma religiao espedfica que detem certa influencia em dado perf0shy

do hist6rico _ religiao que uma coletividade professa Eposslvel identishyficar uma categoria social que a abralta (cat6lica evangelica judaica

islamica etc) e distinguir quais interesses estao em jogo Ate no caso do ate1smo geralmente os comunistas os anarquistas e os socialistas de forshymalt8o marxista aglutinam-se em um p610 e os fieis de todas as confissoes religiosas formam outro p610 0 confronto ocorre por conseguinte enshytre coletividades que professam esses au aqueies credos e nao entre absshy

res tralt6es formais E a oposilt3o se da entre agentes que sao portado de relaltoes sociais determinadas (ateus versuS categorias religiosas por exemshy

plo) e que personificam contradiltoes

8

-0middot I IJlt I tJ IIIJltIII

Assim OS idearios nao pairam no ar divorciados das coJetividades que os abra~am mas fincam suas raizes nos interesses materiais historicamente defishynidos e correspondem as tradu~6es imaginarias desses mesmos interesses

No final de novembro do ana 2000 no Rio de Janeiro cerca de 3 mil

motoristas auxiliares - trabalhadores que pagam uma diarla aos doshy

nos de taxi - bloquearam 0 transite nas principais vias da cidade

provocando um verdadeiro caos

A manifestag8o foi organizada pelo movimento Diaria Nunca Mais

em protesto contra a liminar concedida pela Justiga e que sustou os

efeitos de uma lei aprovada em lunho pela Camara dos Vereadores e

sancionada pelo prefeito Luiz Paulo Conde Essa lei permitia que a

Prefeitura fornecesse licengas de taxi aos 13 mil motoristas auxiliares

convertendo-os em aut6nomos

o pedido de liminar havia side solicitado pelo Sindicato dos Motoshy

ristas Aut6nomos do Rio de Janeiro js que considerou absurda a enshy

trada de mais concorrentes na praga

Em represalia os motoristas auxilfares abandonaram centenas de

carros nas principais vias de acesso da cidade trancaram-nos e levashy

ram as chaves 0 Batalnao de Choque da Polfcia Mifitar interveio queshy

brou 0 vidro de 40 taxis para soltar 0 freio de mao apreendeu 220

vefculos e prendeu 22 manifestantes 21

A tentativa dos motoristas auxiliares de sensibilizar a popula~ao carioca para que apoiasse 0 movimento saiu pela culatra As lideran~as nao pershyceberam que a tatica utilizada feria os interesses de centenas de milhares de pessoas que deixaram de poder circular livremente levando-os a se insurgir contra os baderneiros que transtornam a vida da cidade Emshybota a reivindicaltao - obten~ao de uma licen~a de taxi - pudesse ser considerada legftima os meios utilizados foram desastrosos e 0 resultado nao poderia ser outro a a~ao de bloquear os acessos ao Rio de Janeiro deu moralmente ganho de causa aos taxistas E por que isso Porque nao foi altrufsta nao levou em considera~ao os interesses daqueles que seshy

21 RODRIGUES Karine Com projeto auxiliar vira prupriet~rio Folha de SPaulo 2S de noshyvembru de 2000

HII 1

ill I Ijlldicados rch 11l1~1 Illtlllld assumiu un) c~Irlll1 lmiddotl lPjVIt1 I

I d gt11 lt(lido condenaJa peLt populaltao ainda que m)is l)rdl q~ IllU

1 11(li 1l1xiliares obtivessem 0 dire ito de pleitear licencsas provis6tins 1111

1 11lt1 Minai 0 que e au nao moral depende tambem da reb~Jo Iv

I-In~ em presell~aI~nl suma como resolver esta questao candente a quem devenws Iv lhk Lan~ando mao de um criterio objetivo que passa par olltr] WI

~~illl) _ a quem beneficia uma a~io determinada e a quem esta precll iii Toda e qualquer altao pode ser submetida a esse erivo Em tese flllll ill) I11dis ampla for uma coletividade beneficiada mais altrulsta scr~i 1

1110 au ao contrario quanto 111ais ampla for uma coletividade prejlldi

i ld) mais exclusivista ou egoista sera a alt5o 15so nos leva a procurar saber como identificar 0 tamanho das colc i

vidadesbull No nfvel macrossocial a maior coletividade possive1 no plan~I~ l sem duvida a humanidade enquanto que abaixo desta vern (ivili

za~6es imperios nalt6es e religi6es bull No nlvel mesossocial coletividades de tamanho intermedi5ril) ~l( 1

as etnias as regi6es au provincias as classes sociais as catcgul i

sociais e os publicos (usuarios au consumidores) bull No nfvel microssocia1 coletividades restritas sao organizalt6es sill

gulares e suas areas componentes ate desembocar nas familia e ILl

menor celula que e 0 individuo

Figura 9

JM II I

Escopo das morais devemos lealdade a quem

lNrERMEDrARlO REsTRtl0 (nivelmcso) (nivel m1CfO)

9

tm SltLJa~oes muiro pecujjare~ OU elll sirlllgt(s (x1 IC I) 11gt _ lteOlllO cnl

algumas escolhas de Sofia - e possivel ser illtrufsta atelldendo a cok 22

tividades menores Mas no caso estariamos diante do que e uiduel fazer nao do que seria 0 mais desejave1 fazer Exatamente con1O nas chashymadas roletas russas que ocorrem em hospitais publicos superlotados quando sobram pacientes criticos nos corredores e aparece uma unica vaga na UTI - 0 que faz 0 medico de plantao Escolhe um dos pacientes ou nada faz porque nao existem vagas para todos

Por que Mica nos neg6cios

As decisoes empresariais nao sao in6cuas an6dinas ou isentas de conseshyquencias carregam Um enorme poder de irradja~ao pe10s epoundeitos que proshyvocam Em termos praticos afetam os stakeholders os agentes que manshytem vinculos com dada organiza~ao isto e os participes ou as partesinteressadas

bull na frente interna temos os traba1hadores gestores e proprietarios(acionistas ou quotistas)

bull na hente externa temos os clientes fornecedores prestadores de servi~os autoridades governamentais bancos credores concorrenshytes mfdia comunidade local e entidades da sociedade civil _ sinshydicatos associa~6es profissionais movimentos sociais clubes de servl~Os e igrejas

Mas por que as decisoes empresariais afetam os ambientes interno e externo Simp1esmel1te porque os agentes sociais sao vulneraveis 0 caso do Tylenol nos Estados Unidos e um exemplo classico

A Johnson amp Johnson possufa 35 do mercado de analgesicos nos Estados Unidos com vendas anuais de US$400 mjlhOes No final de

setembro de 1982 sete pessoas morreram envenenadas apos ingerir Tylenol Contaminado com cianeto As vendas do remedio cairam entao de US$33 milhOes para US$4 milhOes por mes

A JampJ agiu com prontidao recolheu e destruiu 22 milhoes de frasshycos em todo 0 territ6rio norte-americano a um custo de US$100 mi

22 Ver capitulo sobre as teorias eticas

Ii 1111i II01I1I-[CIO ~mlluIJijJltOO( lui InUlllndn IlfllrlllI1l11111l tl~ til

I Ii II ~I lr InlOI ~~~Hd08 0 que rcsullou elll CfllCfJ de 12- I till

II IlrJllcias na mlclJa EtO redor clo lTlundo llulrtllV- dc chantagem reita por um norte-americano qUtl iuho

Ii III l1U(+SIW colocando cianureto em parle do lote distribufclo IW

fii lhicago foi denunciada pela JampJ e 0 culpado mais 1art Iii Ii IIJ preso S6 que antes de a investigagao estar completa e ~ot) () ir ( It tJs ropercussoes publicas a empresa teve que se posicionar

I jnrrmsse medidas corajosas para reverter 0 quadro de c1esconll II I (~riado arriscaria perder 0 pr6prio negocio e nao somenlt~

I reflelo do Tylenol IJuddiu entao tazer 0 recall e descontinuar a produltao do remedl

iI IdangEl-lo com nova embalagem inviolavel Fez campanhas flu GlllrBcimento e ofereceu recompensas pela prisao do assassino 1

lilillas telef6nicas adisposigao para ajudar quem necessitasse 8 ClI

IllOl1strou visivel preocupagao com a tragedia Fez um acordo GlIlf)

vlllor jamais velo a publico com as famllias das sete vitimas G I 11 )11

rJutras US$100 milhOes com a parte fiscal da devolugao dos medII I

rllentos Nao quis correr 0 risco de comprometer sua imagenl C I J III

fragar Afinal a JampJ nao se concebia como mera tabricante de Il~~rllt

dios seu neg6cio estrategico era vender saude segura Havia elabn rado um codigo de conduta que determinava a resposta aproprkJdH para situaltoes de grave emergencia Oualquer mancha sobre sua f

putagao ou sobre a lisura de seus procedimentos colocaria em X

que sua credibilidade Na ocasiao reafirmou seu modo de agir e consolidou sua imagem d~

empresa confiavel e responsavel Posteriormente gastou mais US$15 milhoes em campanhas publicitarias para recuperar 0 mercado perdishydo e obteve enorme sucesso dois anos depois do incidente23

Vamos mais a fundo Edificil acreditar que a empresa tenha a~Sll mido tal postma par mero born mocismo Emais crivel aceitar que (middotLt tenha conjugado seu credo organizacional - que considera a empreSl

23 NASH Laura L Etica nas Empresas boas intemoes J parte Sao PaJlo Makron Books 1) p 36-40 CALDINJ Alexandre Como gerenciar a crise revista Exame 26 de iall~ir I

2000 e revista Exame 8 de novembro de 1995 10

- 1IT11 I 1111 Iol1l iul

respons5vel pelos clientes empregados cOl1lunidade e acionislas - com uma analise estrategica da rela~ao de for~as no mercado re1a~ao esta que a mfdia tao bern ajudou a forjar com alertas regulares aopiniao publica e que se ttaduz na capacidade de os stakeholders boicotarem qualquer entidade que nao proceda de forma socialmente responsavel De maneira que nao e improvavel que 0 proprio credo organizacional tenha sido frushyto de urn contexto hist6rico bern preciso e de uma analise da dinamica social

Malgrado a influencia do codigo elaborado alguns perguntam por que sera que a JampJ fez apenas 0 recall do Tylenol distribufdo nos Estados Unidos e nao no resto do mundo sera que nao inHuiu aqui a percep~ao

de que 0 nive de mobiliza~ao da sociedade civil norte-americana e muito maior do que 0 das sociedades civis de outros paises igualmente consushymidores do produto Se assim nao fosse dizem aquelas vozes bastaria ter recolhido 0 Tylenol na area de Chicago em que daramente se evidenshyciaram os indfcios de viola~ao dos frascos e nao no territ6rio todo dos

II Estados Unidos Eis uma boa pista para penetrar no cerne da etica empresarial Entre

diferentes cursos de a~ao h5 sempre uma escolha a fazer nao seria esse urn motivo razoavel para que a reHexao etica se de nas empresas Por que adotar uma decisao e nao ontra Quais consequencias poderiam advir 0 que poderia prejudicar os neg6cios Quais medidas poderiam ferir os interesses ou os valores de quais stakeholders e quais contribui~6es asoshyciedade seriam bem acolhidas Como tudo isso repercutiria sobre 0 futushyro da empresa Em suma qual resposta estrategica dar nas mais diversas situa~6es de mercado

A bern da verdade em ambiente competitivo as empresas tern uma imagem a resguardar uma reputa~ao uma marca e em paises que desshyfrutam de Estados de Direito a sociedade civil reune condi~6es para mobilizar-se e retaliar as empresas socialmente irresponsaveis ou inid6neas Os c1ientes em particular ao exercitar seu direito de escolha e ao migrar simplesmente para os concorrentes disp6em de uma indiscutivel capacishydade de dissuasao uma especie de arsenal nuclear A cidadania organizashyda pode levar os dirigentes empresariais a agir de forma responsavel em detrimento ate de suas convic~6es intimas

Em outros termos a sociedade civil tern possibilidade de fazer polfshytica pela etica e viabilizar a ado~iio de posturas morais por parte das empresas por meio de uma interven~ao na realidade social Lan~ando

I II~middotmiddot bull - bull

IILill de quais canais ()l illiun1lIl~lltoS Recorrendo a mkil lll~tlii It

hllicote dos produtos vendidos ~IS agencias de defesa clos conslruid()(

)1 cia cidadania como 0 Procon (Funda~ao de Prote~ao e Defesa do (~nn -Iltnidor) a Promotoria de Justi~a e Prote~ao do Consumidor 0 lPCll1

(Institnto de PesOS e Medidas) 0 Centro de Vigilancia Sanitaria 0 Dillto (Departamento de Inspeao de Alimentos) 0 Inmetro (Institu Nad llat de Metrologia Normaliza~ao e Qualidade Industrial) eo Idee (ma i tuto Brasileiro de Defesa do Consumidor) uma organiza~ao nao gltlVLl

lamental

Figura 10

A politiCO pela etica pressoes cidadiis

bpi cote )ugencias cdefes~

Em paises autoritarios ou totalitarios esses recursos sao ponca efiea zes ou nao estao disponiveis e a sociedade civi~ vive arnorda~ada ou sil1lshyplesmente nao existe De forma simetrica em ambientes economicos k chados como nas economias de comando ou noS ambientes de carater semifechado em que prevalecem oligop61ios e carteis a poHtica peb

etica tambem sofre impedimentos Traduzindo a polftica pe1a etica relIne boas condi~6es para HoresClr

quando 0 chamado poder de mercado das empresas esta distribufdo quanshydo existe col11peti~ao efetiva e possibilidades reais de escolha por partl de clientes e usnarios finais Mesmo assim 0 respeito a soberania dos c1ientes ainda nao e moeda corrente em muitos paises e s6 acontece St

11

urI oj 111l1tU tlti

eles gritarem ou fizerem um escaudalo Atestado de dClllollstrJltJo de for~a dos consumidores encontra-se no nurnero de consultas e reclarnashylt6es feitas ao Procon da capital de Sao Paulo 0 nurnero de atendimentos realizados entre 1977 e 1994 foi de 1498517 entre 1995 e 2000 esse numero subiu para 1776492 Isso significa que em 6 anos houve 18500 mais atendimentos do que nos 18 anos anteriores Sem duvida urn cresshycimento vertiginoso 24

Para ilustrar esse poder de fogo vale a pena citar urn caso que chocou a opiniao publica e envolveu a Botica ao Veado DOuro farmacia de manipula~ao centenaria fundada em 1858

Por intermedio de um laboratorio de sua propriedade (Veafarm) foshy

ram produzidos em 1998 1 milhao de comprimidos lnocuos de um

remedio indicado para 0 tratamento de cancer de prostata (Androcur

da Schering do Brasil) Dez pacientes que faleceram na epoca podem ter tide a morte acelerada por terem ingerido 0 placebo Revelado 0

fato a denuncia da falsifica~ao foi repercutida pela midia e teve efeitos devastadores sobre a empresa Desde logo 19 pessoas foram indishy

ciadas pela Justi~a no processo de falsificacgao 25

Seis meses depois as lojas mantidas em importantes shoppings paulistanos (Ibirapuera Morumbi e 19uatemi) tiveram suas portas feshychadas metade dos andares da propria loja matriz no centro de Sao

Paulo foi desocupada 0 faturarnento caiu 80 dos 200 funcionarios que a empresa tinha antes do evento restaram pouco menos de 50 os

fornecedores deixaram de receber em dia26

A clientela nao perdoou 0 desrespeito e a fraude nem a irresponsashybilidade virtualmente homicida Puniu a empresa com urn eficaz boicote

Outta caso que desta vez envolveu diretamente a Schering do Brasil filial da Schering alema merece considera~ao ja que tambem retrata 0

inconformismo dos consurnidores

24 Ver FUllda~ao Procon SP wwwproconspgovbr 25 CONTE Carla ]uiz decrcra prisao de socio da Borica Folha de Sao Paulo 10 de novembro

de 1998 26 BERTON Particia Veado DOuro faz feestrurura~ao Gazeta Menanti 29 de abril de 1999

I ~ II i

I 1fI rY)eados de 199~1 u l~lllt)l Il()rio realizou um t8ste GUn) UInH nOVd

Ililquina embaladora ProduLiu embalagens com piluas anticoncepmiddot

donais Mcrovla sem 0 principio ativo Os placebos das 644 mil carte~as r uu dos 1200 quios de comprirnidos continham lactose com um reshy

vestimento de a~ucar e foram mandados para serem incinerados por

urna empresa especializada Ocorre que em maio a Schering io iniormada por meio de uma

carta anonima que um lote de placebo estarla sendo comercializado

Uma cartela do produto estava anexa Como a empresa ja tinha sido

vltma de remedios ialsos acreditou que a carta anonima era uma tenshy

tativa de chantag Resoveu entao investigar por conta proprla em emmais de uma centena de iarmacias Nada esclareceu

No inicio de iunho uma senhora gravida de um mes entrou em conshy

tato com 0 laboratorio e apresentou as pllulas falsas A Schering levou mais 15 dias apos a denuncia para notiticar a Vlgilancia Sanitaria

Curiosamente 0 fez no dia em que Jornal Nacional da TV Globo evava

ao ar a primeira reportagem a respeito Seu pecado residlu al embora

o aboratorio nada tivesse ialsificado foi displicente no contrale do descarte de placebos e nao alertou a opiniao publica sobre a possibishy

lidade de desvio de parte destes Sua omissao custou-Ihe caro Ate final de agosto 189 mulheres dis-

ramseram ter engravldado vltimas dos placebos que chega as farmashycias A midia moveu uma fortssima campanha contra a empresa afeshy

tando profundamente urna marca criada na Alemanha 127 anos atras

A Procurado Gera do Estado de Sao Paulo e 0 Procon entraram ria

com uma acgao civil publica contra 0 laboratorio pedindo ndeniza~ao por danos morais e materlas A Secretaria de Direito Economico do

Ministerio da Justl~a multou a empresa em quase R$3 mih6es A Vigishy

lancia Sanitaria interditou 0 laboratorio par duas vezes A suspensao

do anticoncepcional durou um mes e meo e for~ou a Schering a

relan~ar 0 produto que ia foi Hder do segmento (tinha 22 do mercashy

do) com nova cor de embalagem o inquerito polcial instaurado sobre 0 caso loi encerrado sem indlshy

car culpado 0 que dificultou tremendamente a recupera~ao da s ver

credibilidade do laboratOrio A Schering teve entao que promo uma milionaria campanha de comunica~aocom gastos avaliados em mais

12

5 Etica tmpresarial

de R$15 milhoes em uma tentativa de reCOnstruir sua imagem queficou muito desgastada e sob suspeita 27

No ano seguinte a matriz alema determinou as suas 50 sUbsidiarias que Suspendessem os testes de novos equipamentos e embalagens usando placebo a tim de evitar que casos como 0 do Microvlar se repetissem pelo mundo A empresa perdeu R$18 milh6es com 0 epishy

sodia samanda as meses em que a praduta esteve fara do mercado

queda nas vendas quando este votou as prateleiras e dois acordosfeitos com consumidoras 28

A Schering do Brasil Jevou tres anos para votar ao topo do mercado de anticoncepcionais em 2001 a participagao no mercado do Microvlar

cllegou a 177 (embora detivesse 22 em 1998) Tres fatores Contrishybuiram para essa recuperagao a) a fideJidade que as consumidoras

em gera mantE~m com a pilula que tomam ja que tem que acertar a dosagem de hormonios e livrar-se dos possiveis efeitos colaterais de seu usa b) 0 baixo prego do produto (3 reais e 50 centavos a cartela 8m 2001) e c) a confianga preservada junto aos medicos que receishytarn 0 anticoncepcionaJ 29

Para quem nao soube avaliar corretamente 0 nivel de exigencia dos dientes e para quem errou redondamente em termos de comunicaao ilti sem dnvida um serio transtorno simpfesmente porque nao ho adeqllado gerenciamento da crise 30 uve

Em um Caso semelhante porem Com reaao rapida e COmpetente bull jhoclia Farma foi aJerracia par um farmaclurico em 1993 de que um Ctela do neuroJitico AmpJictil fora achada dentro de uma caixa do llltialergico Fenergan No rua seguinte 0 laborat6rio soltou um comunicashy

lfTTENCOURT Silvia e CONTE Carla A~ao de Serra e eleitoraJ diz Schering alema Foha de Sll1O 3 de julho de 1998 SCHEINBERG Gabriela Schering foi vitima de crime afjnna uccurivo 0 Estado de sPa~rlo 4 de julho de 1998 PASTORE Karina 0 paraiso dos remeshys clius IJlsiJi(ado revista l1eja 8 de julho de 1998 PFEIFER Ismael Schering gasta milh6esI~III rcconstruir ill1ltlgem Gazeta Mercantil 27 de agosro de 1998

x C()RlJ~A Silvia c ESC()SSJA Fernanda cIa Scherillg cancela res res Com placebo Folha de SItw 26 de selelllbro de 1999

) VII imiddotIinAGA Vi(Lnl( Ivlicrrgtvlar VOa ao 10po do Illcnaltl til prld (middoti~ti1 Merci1ntil 3 ltI IJIIl dl Jon I

11 II~IIR( Fihiubull 11 d Loilllflrnilll((uItI tI 11111 I ~ 11 Jlllio I I))li

011 t lIP (tlco 571

do na televisao advertindo os consumidores Contatou a Vigilancia Sanitashyrin e determinou 0 recolhimento do lote Nao houve vitimas da troca3l

Na primeira pagina de um grande jornal do interior de Sao Paulo a foto de uma rnulher careca afirmando que ficou assim logo depois de usar um xampu da Gessy Lever (xampu Seda urna de suas principais marcas e Ifder do segmento) desencadeou uma rea~ao imediata da

empresa Os gestores da Gessy Lever fizeram consultas a seu laboratorio

mandaram recolher produtos para analise despacharam um medico independente e um advogado para a cidade interiorana Em algumas horas respiraram aliviados a mulher raspou a cabe~a

Mesmo assim a Gessy Lever teve que responder a um inquerito policial e definir uma estrategia de comunica~ao para dirimir quaisshy

quer duvidas32

As empresas detem marcas que representam preciosos ativos intangishyveis e que consomem tempo e dinheiro para serem construidas Em deshycorrencia muitas percebem que perder a credibilidade deixando de ser transparentes e de agir rapidamente eurn passo fatal para 0 neg6cio que operam

Caso de repercussao mundial foi 0 da contamina~ao de alimentos pela ra~ao fornecida aos animais nas granjas e fazendas da Belgica A origem da contamina~aofoi um oleo chamado ascarel e os donos da empresa acusada de ter adulterado a ra~ao foram presos

Em junho de 1999 depois de difundido 0 fato sumiram das prateshyleiras dos supermercados os frangos e os ovos a carne de boi e de porco 0 leite a manteiga os queijos e tudo 0 que e feito com esses ingredientes inclusive os chocolates 0 governo belga interditou a disshy

1 IIIU1 IIN(kR jlIql hl I Ilt 11111 I dlmiddotllmiddotrr ill~ndio rcvir Exarne 15 d( lulho de 10~)H

1 II M 1ldlS( l [JIlII 11 I II I I 1 gt fImiddot1 Ilt 11 I Ii fed Irfe de eviral e cllfrelll 1I1ll1 LT-middot (111( ~~flrJI 1l1IU I I I I lid I L lljltl

13

58 Etica Empresarial

tribuigao desses alimentos por suspeita de contaminagao par dioxinas substancias altamente t6xcas que podem causar doengas que vao do diabetes ao cancer

o que deflagrou grave escandalo na Uniao Eurcpeia entretanto foi que 0 governo belga demorou dois meses para revelar que os produshytos estavam impr6prios para 0 consumo A negligencia provocou a renuncia de dois ministros - 0 da Agricultura e 0 da Saude - e levou a suspensao das exportag6es causando um prejuizo avaliado em US$1 545 bilhao Mais ainda deixou aberta a possibilidade de a Belgishyca ser levada a julgamento em uma corte internacional por expor a riscos a populagao do continente europeu33

Em resumo no ultimo quartel do seculo XX a qnestao etica tornoushyse urn imperativo no universo das empresas privadas e par extensao das organizasoes publicas do Primeiro Mundo Converteu-se ate em disciplishyna obrigat6ria nos cursos de Administrasao As razoes residem no essenshycial no fato de que escandalos vieram atona em virtude do desenvolvishymento de uma mfdia plural e dedicada a investigalt53o Atos considerados imorais ou inidoneos peJa coJetividade deixaram de ser encobertos e toshylerados A sociedade civil passon a exercer pressoes eficazes sobre as empresas Isto e dada a sua vulnerabilidade cada vez mais os clientes procuram assegurar a qualidade dos produtos e dos servilt5os adquiridos POl sua vez concorrentes fornecedores investidores autoridades govershynamentais prestadores de servisos e empregados auscultam 0 modus operandi das empresas com as quais mantem relasoes visando policiar fraudes e repudiar alt50es irrespons8veis

Resultados Quando os escandalos eclodem estes geram altos cusshytos multas pesadas quebra de rotinas baixo moral dos empregados aumento da rotatividade dificuldades para recrutar funciowirios qualishyficados frau des internas e perda da confial1lt5a publica na reputalt5ao das empresas 34

Dificilmente os dirigentes empresariais podem manter-se alheios a esse movimento de mobilizalt5ao dosstakeholders Nem 0 posicionamento moral das empresas pode ficar amerce das flutualt50es e das inumeras

33 Revi5ta Veja 16 ue junho de 1999 0 Estado de SPaulo 2 de Jldho k 1l))J

34 NASH Laura L opcit p 4

OJ) I II ckJ

i 11ciencias morais individuais Pautas de orientalt5ao e pad-metros 111

Iillhlcao de conflitos de illteresse tornam-se indispensaveis RepontH lIl[lU

11111 conclusao a moral organizacional virou chave para a pr6pri~1 soh (

~lr~llcia das empresas I materia esra ganhando relevo no Brasil dado 0 porte de sua eeOll

1111 e em funlt5 da 0Plt5 estrategica que foi feita - integrar 0 pli~ (IIIao lll mercado que se globaliza e que exige relalt5oes profissionais e COil lIill1ais Em decorrencia 0 imaginario brasileiro est1 sofrendo lenta~ c rsistentes alteralt5Oes Ha crescente demanda por rransparencia e pruli dlk tanto no nato da coisa publica como nO fornecimento de proclllltJ~

crvilt5os ao mercado Caberia entao as empresas convencionar e prJ i

ao

l I 11gum c6digo de conduta que esteja em sintonia com essas expectt1 IIS Mas sobretudo valeria a pena conceber e implantar um conjunto tk

esccanismos de conrrole que pudesse prevenir as transgtesso as ori(1

IIt)es adotadas

14

As ieorias eticas Com 0 ohar perdido um sobrevivente

do campo de exterminio disse Se Auschwitz existiu Deus nao pode existir Jgt

As linhas de demarcasao

Vma mocinha de 15 anos procura 0 pai e pede-Ihe ajuda para fazer um aboIto Exige no entanto que a mae nao saiba Abalado 0 pai pershygunta quem a engravidou Em um rasgo de maturidade a mocinha Ihe diz que 0 menino tem 16 anos e ponanto e tao crianlta quanto ela Val1os consultar a mae sugere 0 pai Para que pergunta a garota se ja sabemos a resposta Segundo a mae uma catolica praticante 0 aborto constitui urn atentado contra a vida um crime imperdoavel e pOnto final

A moral catolica abriga-se sob as asas de uma etica do dever e sentenshycia falta 0 que esta prescrito Como 0 pai eagnostico a fiIha aposta no dialogo Ele nao CostUlDa repetir respondo par meus atos Quem sabe possa sensibilizar-se com a situaltao deIa QUilta venha a considerar as

impIicalt6es de uma gravidez prematura e a hipoteca que recaira sobre seu futuro de adolescente Nao empate minha vida pai me de uma chance suplica a filha

o pai en tao cai em si Uma vez que sua esposa ja tem posiltao tomashyda para que consulta-Ia Diante de conviclt6es religiosas que tacham 0

abono como um pecado abominavel nao resta margem de manobra A resposta sera sempre um nao sonoro Isso nao corresponde ao modo de

pensar e de agir do pal que nunca deixou de avaliar as conseqilencias do que faz Assim em face do desamparo da filha como nao se comover Algumas interrogalt6es comeltam a assaIta-Io faz sentido minhl men ina ter um bebe fruro da imprudencia Esensato criar lima ltrilIl(1 qlil niio foi dCS(jlCt () qUt rlII~lrJn Os pJrCllles IS llllil~~ 0- 111IIII I

ulras

rdllcidos do clube os professores as colegas da minha filha 0 qLl dill1o 1 pessoas com as quais me relaciono E aquelas com as quais trabalho Iso tudo nao vai comprometer 0 destino dela Ese ell concordar com () Ihorto e alguem souber 0 que vai acontecer

o pai reflete sobre as circunstancias e mede os efeitos possfveis d~

L ~Ja uma das oplt6es que se Ihe apresentam Sua avalialtao e decisi va 1 Itl1sao porem 0 deixa exausto em um processo de crescente ang6sri1 pOLS as conseqiiencias da decisao a ser tomada recaido sobre seus OITlshy

hros Em conrrapartida como ficaria a mulher dele se soubesse do peJi do da filha Certamente nao ficaria desnorteada graltas aresposta pr()n~

1 que tern Eprovavel que aceite com resignaltao a vinda daqueia crian(71

lO mundo e que nao se arormente com os desdobramenros do faro Pm que isso Porque as implicalt6es do cumprimento do dever nao sao de SUl

llcada - simplesmente pertencem a Deus Em resumo estamos diante de duas maneiras oposras de enfocar a qlll

[10 do aborto Melhor dizendo estamos diante de dois modos difnlmiddotllIci

d~ tomar decis6es cada qual derivando de uma matriz etica distinu Ora como a etica teoriza sobre as condutas morais vale iudag11 i~

cxiste uma 6nica teoria etica Absolutamente nao A despeito de () li-t logos fazerem da unicidade da etica um postulado ou apesar (Ii S( 11111

tlcsafio recorrente para muitos filosofos ha pelo menos duas teor lll em como ensina magistralmente Max Weber

1 A etica da convicqao entendida como deonrologia (trataJu dt )t

deveres) 2 A etica da responsabilidade conhecida como teleologia (estudo dlll

fins humanos)l

Escreve Weber

toda atividade orientada pela hica pode ser subordi11ar-se a dlIi 111aximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas Eta )()II orientar-se pela etica del- responsabilidade (verantwortungsethistJ) (11

pela etica da convicqao (gesinnungsethisch) 1sso nao quer dizer tUI

rJtica da convicqao seja identica aausencia de responsabilidade t a dii(

da responsabilidade d (UsciIa de convicqao Nao se trata e(Jidl1I

mente disso Todauia I IIIII (IU-70 abissal entre a atiludr rlt bull7flP II I

I II~I H [Il i I IIJIII II hIIW I i~li4l1 1111 illllili bullbull IDigt 101lt

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

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~- bull II IJJiltl(11

Sl irllJl()II~1 COli) OS dcitos prodll7idos solwe Os Outros I-U pois urn presshySlJpOS(O fiJos6ico que infornla ambas as teorias cientfficas dlt1 etica tratashySl da fJremissa altruista Euma especie de tributo que a ciencia da moral paga ao senso comum quando assimila 0 ser etico ao ser altruista

El outras palavras a etica visa a sabedoria 011 ao conhecimento temshypCIno peJo jUizo eis 0 porque de seu ponto de partida altruista As 1Illt)rlis em conrrapartida correspondem a um feixe de normas que as Prll-jcas cotidianas deveriam observar e assumem no essencial quer urn lIIirel altruista quer um carater egoista

Figura 6

o que estuda a etica empresarial

~jeto de estlldo

Existem morais macrossociais que recobrem as sociedades como um todo e que servem de baIizas as cemenas de morais mesossociais ou microssociais As morais que nao sao macrossociais expressam os interesshyses e as vi~ges de mundo das muitas coletividades que constituem as soshyciedades fo-dIam as feicoes de morais paroquiais corporativas profissioshylI]is setoiiais classistas regionais etnicas 011 confessionalS Sao modulashy(leS daq~elas morais macrossociais formas particulares de interpretar Stus temas ou ainda variacoes singulares de suas pautas especies de plJoetas de um rnesmo sistema solar

Figura 7

Pianos do analise

mrmtilml

Nao ha vantagem em confundir etica com moral como induzem exshypressoes consagradas como etica protestante etica cat6lica etica liberal etica socialista 011 etica nazista Vale mais falar de moral protestante moral cat6lica moral liberal moral socialista 011 moral nashyzista amedida que a etica como teoria estuda as marais na plenitude de sua natureza hist6rica Somente quando especialistas se debrucam sobre as morais e produzem urn estudo delas pode-se falar de etica do pratesshytantismo 011 de etica do socialismo Assim a referencia aetica empresashyrial 011 aetica dos neg6cios significa estudar e tomar inteligivel a moral vigente nas empresas capitalistas contemporaneas e em particular a moshyral predominante em empresas de uma nacionalidade especifica

Com efeito 0 que e valido para a coletividade N nao 0 e necessarishyamente para a coletividade B Os padroes culturais sao extremamente diversificados relativos e mutaveis - e essa evidencia constitui urn velho truismo das Ciencias Sociais

Entre os mugulmanos africanos a mutilagao genital das adolescenshytes e das meninas (entre os quatro e oito anos de vida) corresponde a um mandamento divino ou a uma obrigagao natural Ha tres formas de mutilagao genital feminina a) a clitoridectomia em que se extirpa total au parcialmente 0 clitoris b) a excisao em que se extirpam 0 clitoris e

1

fit rIIisnro

O~ 1f1lgtios m01l0rnr ciu vagina total au parcialmente c) a infibulagao ern que se eXlirpam todos os genitais e se costura quase todo 0 oriHshycio genital deixando urna pequena abertura para a passagem da urishyna e do sangue da menstrualtao Em mulheres adultas colocam-se tambem argolas de metal ou colchetes ou ainda costura-se a genitalia com 0 pretexto de evitar 0 ate sexual

Cerca de 15 das mulheres submetidas a mutilaltao genital morshyrem durante 0 ato porque a circuncisao e feita sem anestesia com tesouras cacos de vidro tampas de lata navalhas laminas facasshyinstrumentos estes que quase nunca sao esterilizados Em algumas rGgioes da Africa Ocidental cinzas au fezes de animais sao colocadas 110 ferimento para estancar a sangria 0 que aumenta a incidencia de infecltoes graves hemorragias abscessos pedras na bexiga e na uretra obstruQao do fluxo menstrual e cicatrizes proeminentes

Apesar de proibida em parses como Gana Egito Somalia e Sudao a mutilaltao genital feminina continua praticada como tradiltao cultural nesses parses visto que constitui um rito de passagem da infancia para a adolescencia Ao todo a pratica encontra-se difundida em 28 paises da Africa e dois do Oriente Medio atingindo mais de dois mishyIhoes de mulheres a cada ano

Os fundamentalistas multulmanos argumentam que e indispensashyvel proteger as mulheres das consequencias do excessivo desejo sexual e atribuem a Maome a afirmaltao de que a circuncisao e uma necessidade no homem e um adorno na mulher Os demais homens e mulheres manifestam-se convictos de que remover os genitais femishyninos externos e questao de respeito e homa de garantia de um bom casamento e de fortalecimento da uniao da tribo pois um dos maiores insultos na Africa Islamica e chamar alguem de filho de uma mae nao circuncidada A pratica e antiqOfssima anterior ao cristianismo e ao

islamismo datando de pelo menos 2200 anos

Hoje em dia e alvo de organizaltoes como a Visao Mundial e 0 Funshy

do das Nagoes Unidas para a Populaltao em funltao de luta em prol

dos direitos humanos e horroriza as mulheres ocidentais conscientes

de sua especificidade e empenhadas em preservar a sexualidade do

genero

I LlSBOA Lutz Carlos Argolas metalicas para prevenir atos sexuais 0 Estado de SPaulo 21 de ill1ho de 1996 revisra Veja 10 de junho de 1998 FARAH Paulo Daniel Circlncisiio afeta 2 lIilh6es de molheres por anoFolha de SPaulo 10 de janeiro de 1999 IDOETA Carlos Alberto Mlllheres Mutiladas Follia de SPaulo 8 de mar~o de 1999

lorll~J rmiddotu

rill 980 Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a mutishy

Ii 11(110 uenitalleminina esta foi convertida em ritual simb6lico pelo qual I u ~pvens seram declaradas mulheres 0 presidente da Associa~ao 1111 Allciaos de Sabiny Gw Cheborian que promo

veu tal revisao

i i~8beu 0 Premio popua~ao das Na~oes Unidas de 19982

As mulheres ocidentais conquistaram direitos no seculo XX que lbes

1111 negados no seculo anterior como

bull 0 direita de votar bull 0 uso de contraceptivos bull 0 direito de serem contratadas no emprego matricular-se na faculshy

dade comprar e vender imovel e dar queixa na delegacia sem preshy

cisar de autorizaltao por escrito do marido bull nao mais ser deserdadas peio pai por ter perdido a virgindade bull nao mais ter que manter a virgindade ate a noite de nupcias

bull deixar de ser educadas apenas para casar e ter filhos bull decidir adotar ou nao 0 sobrenome do marido

bull exigir prazer nas relalt6es sexuais 3

bull poder fumar e beber sem sofrer desaprova~ao moral Mas ainda no ano 2000 um artigo do C6digo Penal da ]ordania isenshy

tou praticamente de puniltao OS chamados crimes de homa Cerca de 20 muiheres sao assassinadas todo ano por terem mantido rela~6es sexuais sem se casar ou por terem dado curso a relalt6es extraconjugais Os crimishynoSO maridos ou irmaos recebem penas leves ou sao inocentados

SMais uma iiustraltao da variedade de costumes e de normas morais remete-nos ao infantiddio Essa pnltica e considerada hoje uma especie de homiddio embora tenha sido iargamente empregada entre muitas comunidades primitivas geralmente em fun~ao da escassez de vlveres Entretanto na China e na india atuais 0 infantiddio das crian~as feminishynas ainda perdura5 0 meio de minimizar isso na China totalitaria foi incentivar oficialmente abortos e esterilizaltoes sob 0 guarda-chuva da

poHtica de controle da natalidade

2 0 Estado de SPaulo 17 cie julho de 1998 3 SCAVO[E Miriam As vitorlosas revista Vea 22 de dezembro de 1999

4 0 Estado de SPaulo 15 de fevereiro de 2000

S Revsta Veja 8 de il1lho de 1998

2

Ltll rl fllllr~(mQI

Outra curiosidade chinesa do ponto de vista ocidcnral diz rcspeito ~lOS hlbitos alimentares do pais que seguem uma maxima popular Comeshyse tudo que tem perna menos as mesas tudo que voa menos os avioes c [Udo que nada menos os barcos Assim comem-se ratos e ratazanas cachorros e ate escorpioes que chegam vivos acozinha e depois sao sershyvidos como se fossem Iagostas 6

Milhares de outros exemplos poderiam ser citados hauridos tanto clrls fontes antropo16gicas como dos jornais e revistas de nosso cotidiano

Em setembro de 1999 os telespectadores da Tanzania foram conshy

frontados com imagens de peles humanas ao tado de cadaveres

desmembrados dos quais as peles tinham sido retiradas 0 prego de

cada pele variava entre US$300 e US$500

Representantes das polfcias de Zambia Tanzania e Malaui se comshy

prometeram a atuar em conjunto para par fim ao que qualiticaram como

uma vergonha para a Africa oriental Na regiao sobretudo 110 Zaire

feiticeiros utilizam as peles para produzir pog6es magicas 6rgaos

genitais de criangas convertem-se em pogoes medicinais e a pele da

cabega de homens calvos e um dos insumos para dar sabedoria a

quem a consome

o relativismo cultural ap6ia-se em justificaltoes morais igualmente competentes porque igualmente legitimadas pelas sociedades que as culshytivam Assim as morais sao multiplas e nenhum sistema de normas moshyrais pode pretender obter 0 selo da eternidade ou da universalidade Isso por uma razao bem simples as representacoes mentais os bens simb6lishycos e tudo 0 que e imaginario fincam suas rafzes na hist6ria e portanto mergulham por inteiro nos eventos singulares e em fluxo Assumem pOl isso mesmo carater efemero transit6rio provis6rio passageiro e mutave

Acontece que nenhuma moral se sustenta pura e exclusivamente pelas virtudes de seu discurso Hlti sempre urn embate entre morais diversas que expressam ideologias variadas e representam interesses diferenciashy

6 Foha de SPaulo 6 de fevereiro de 2000 7 SMITH Alex Duvnl Africa combate venda de pele hurnann The Independent reproduzido

pela Folha de SPattlo 29 de outubro de 1999

PI V llJr 1111tQ(

ias111ft tlO rnais das vezcs contradit6rios A exemplo das ideolog a moral IJIIIill~nte em Llma coletividade qualquer efruto de uma reIaltao de forshy

I sc nao cairiamos em um vale-tudO relativista A questao-chave dos problemas da moralidade repousa no conflito de

1111 cresses Em uma primeira instancia os interesses pessoais contrapoemshyil ~ interess coletivos - familiares paroquiais corporativos empresashyes I his comunitarios de categorias sociais classistas nacionais ou suprashyILKionais Em uma segunda instancia algum tipo de interesse coletivo Jlode contrapor-se a outroS de igual ou maior abrangencia 0 pr6prio cgolsmo que expressa in extremis OS interesses privados e pessoais e formulado e endossado por alguma coletividade de modo que toda moshyrl esempre a moral de algum agente coletivo A eficacia de qualquer moral depende dos apoios politicos ou dos agentes que a suportam bern como do arsenal de sanltoes de que as coletividades dispoem para fazer vater seus ditames - sejam estes dogmas sejam estes prop6sitos

Abrindo parenteses 0 que vem a ser as normas sociais Pautas de aao que expressam valores balizas definidas por uma coletividade qualquer para guiar 0 comportamento exigencias que tornam obrigat6rias as conshydutas e operam como fatores de coesao social ou como regras de convivenshycia visando acoexistencia entre interesses contradit6rios Mas pOl que as Dormas sociais sao acatadas Por tres razoes que muitas vezes se conjugam

bull a convicltao de que a vida em sociedade requer 0 respeito a regras de interesse comum (e 0 caso das normas morais) essa convicltao

decone da socializacao ou da reflexao bull a submissao dos agentes diante da amealta representada pOl sanoes

que a coletividade pode exercer (e 0 caso das normas juridicas) bull a adesao motivada pela necessidade de identificar-se e pertencer a

dada coletividade (e 0 caso das normas de etiqueta)8 As normas jurfdicas (leis e regulamentos) dispoem de sanltoes sobre 0

corpo ou as vontades dos agentes sociais Correspondem a reclusoes (prishyvacao de liberdade) ou a outras formas de intimidaltao e sao respaldadas pelo poder poHtico ou pelo monop6tio da violencia que 0 Estado detem POl via de consequencia sua eficacia repousa nos efeitos da coafao extershyna As demais normas por sua vez como as de etiqueta as religiosas lS

esteticas e as morais tern carater simb6lico e implicam a aceitaltao volull

8 FONSECA Eduardo Giannetri dn Vicios PriJados Belle(fcios pliblicos A etica na iqll

llai(oes Sao Pn111o Companhia das Letras 1993 pp 88-91

3

I pl ()(IfI(11

(~Iria dos agcntes [sso n1o quer dizer que estejam dltst it [lfdas de san~6es ngtll(Tltl quem as desrespeitar apenas indica que as san~6es nuo tem carater fisico mas il11aginlthio cultural remetem sobretudo a censura que recai sobre os agentes que transgridem suas pautas A efiCltlcia das normas simb6shylieas reside em boa parte (embora nao exclusivamente) na co4fdo interna

bull oa disciplina da consciencia de seus temores e fantasmas nos pashydroes inculcados pelos agentes sociais ou

bull na dinamica da reflexao madura que convaIida a pertinencia dos mecanismos de regula~ao social e justifica a existencia das regras de convivencia social

Figura 8

Por que se acatam normas (raz6es conjugadas)

Inculca Temor

Fazendo agora uma analise mais afeita ao discurso social comum podemos responder aquestao Para que etica da seguinte maneira na visao mfstica 0 que e julgado no tribunal divino apos a mone Apenas e tao-somente a conduta moral sobressai dentre todos os feitos humanos Na visao secular ao fim e ao cabo 0 que distingue as pessoas Novamenshyte comparece a conduta moral Isso equivale a dizer duas coisas

1 identificam-se 0 bern com as luzes (seja Deus seja a retidao de carMer) e 0 mal Com as trevas (seja Sata seja a falta de escrupulo)

2 em consequencia 0 jufzo de merito implica uma bonifica~ao _ quer a entrada no reino dos ceus quer urn credito social de confian~a

Temos ai chaves preciosas para as reflexoes que seguirao

UflI rJlJ J9

quem Be cleve lcaldadc 1 6tica sempre foi uma disciplina filosofica mas a filosofia ja perdeu

1 ndusividade de seu exercfcio De fato mantido 0 mesmo objeto de ll1do (as morais as praticas que estas pautam ou os fen6menos morais) Ilscllvolveu-se recentemente nova disciplina de carater cientifico

A rJtica filosofica sempre tentou estabelecer princfpios constantes e lI11ivcrsalmente validos para a boa conduta da vida em quaisquer sociedashydes c epocas Definiu 0 bern moral como 0 ideal do melhor agir ou do IllclllOr ser e procurou as fontes da moral nas divindades na natureza ou 110 pensamento racional

Em contrapartida a etica cientffica constata 0 re1ativismo cultural e 0 aJota como pedra angular para tomar inteligiveis os fenomenos morais I)ito de outra forma qua1ifica 0 bern e 0 mal assim como a virtude e 0 vfcio a partir de seus fundamentos sociais e historicos aborda as normas que as coletividades consideram validas sem julga-las investiga e explica a razao de ser da pluralidade da dinamica e da coexistencia das morais hisshytoricas Trata-se de urn discurso demonstrativo com asser~6es verificaveis diferentemente da fi10sofia que consiste em pensar sem provar9

Em sintese a etica filos6fica - ou filosofia da moral - tende a ter urn cadter normativo e de prescri~ao ansiosa por estabelecer uma moral universal cujos prindpios eternos deveriam inspirar os homens malgrado as contingencias de lugar e de tempo

No polo oposto a etica cientffica - ou ciencia da moral - tende a ter urn carater descritivo e explicativo porque centra sua aten~ao no coshynhecimento das regularidades que os fenomenos morais apresentam malgrado sua diversidade cultural e apesar da variedade de seus pressushypostos normativos Na medida do possivel procura preyer a ocorrencia desses mesmos fen6menos

Mas 0 que vern a ser 0 bern ou melhor 0 supremo bem (summum bonum) Ao longo da historia das doutrinas eticas (filosofias morais) 0 que se entendeu pe10 bern em sua plenitude assumiu as mais diversas defini~oes felicidade prazer dever perfei~ao prudencia poder discishyplina mental conhecimento autocontrole ascetismo gra~a de Deus rashyzao prosperidade liberdade igualdade social realiza~ao pessoal sucesshyso Temos diante de nos portanto urn extraordinario leque de hipoteshyses ou de convic~oes que apenas refor~a 0 carater relativista dos valores

9 COMTE-SPONVILLE Andre PequellO Tratado das Grandegt Virtudes Sao Paulo Ma~tins Fonshytes 1995 p 173 4

cultUllt1is c como 6 Lkil ckduzir a Idlcx50 te61ica urio lsli illlUnc as condicionantes hist6ricas

Assim quando estao em jogo problemas morais em vez de procurar a essencia metaflsica do bern parece melhor fazer a seguinte pergunta a quem devemos lealdade

bull Aorganiza~ao em que trabalhamos ou ao chefe imediato bull Aos colegas de trabalho ou aos amigos de fora bull Ao nosso padrinho (quem nos indicou) ou ao c1iente bull Anossa famnia ou a nossa igreja bull Anossa classe social ou ao nosso pais bull Exclusivamente a n6s mesmos (egoismo) ou no extrema oposto a

hUl11anidade como urn todo bull Anossa categoria profissional representada pelo sindicato ou as

nossas conviclt6es ideo16gicas expressas por urn partido polftico bull A urn movimento social que defende causas nobres ou a empresa

que dirigimos Qual seja falar de moral e falar de conflito de interesses Toda relashy

ltao moral implica escolhas algumas tao diffceis que nos levam acatatonia AfinaI nao se pode ser leal a todos e a tudo 0 tempo todo Em sintese no terreno moral nao ha neutralidade possivel e precise posicionar-se Em termos praticos toda decisao beneficia alguns em detrimento de outros pais os afeta desigualmente Ora como compatibilizar as variadas lealdashydes que cultivamos Qual escolha fazer Quem sera beneficiado e quem sera prejudicado

Por exemplo urn advogado nao escolhe seu cliente porque ele fala a verdade ou aparenta ser inocente mas porque na qualidade de cidadao possui direitos que devem ser protegidos Nesses estritos Iimites sob a egide do respeito a lei 0 advogado deve lealdade ao reu unica e exclusivashymente para garantir-lhe urn julgamento justa Vale dizer s6 deve lealdade ao cidadao nao ao cliente em si Da mesma forma 0 promotor publico se preocupa em defender direitos que 0 acusado supostamente lesou 0 proshymotor deve entao lealdade a quem Novamente sob a egide da lei a vftima na sua qualidade de cidada E 0 juiz Deve lealdade a sociedade como urn todo sem discriminar vitimas ou acusados na cega imparcialidashyde da administra~ao da Justi~a presQ ao cumprimento da lei A rigor nem sempre esses preceitos sao observados dai 0 descredito que recai as vezes sobre os tribunais e sobre os membros do aparelho judiciario

Por seu tumo uma agencia de publicidade deve lealdade a quem Ao contratante da campanha publicitaria cliente imediato desta Ao publico

Uluie I ngirln par suo nensagem e que pode vir a tornar-s cons shyII 0 procuto ou usu5rio do servilto A todos ao mesmo tempo Como I III pILI conciliar tantos e taO dlspares interesses Sem uma reflexao a

rnn 0 vabalho da ag~ncia perde a ruma e pode deriva para a mistishyill 1(10 al11edida que ao privilegiar 0 cliente imediato para nao perder 0

llllIW em detrimento dos usuarios finais satisfara apenas os interes-I ais diretamente envolvidos na operaltao Todavia havendo duvidas

IqIlimas a respeito da qualidade do produto ou do servilto a ser anun-I illdo nao caberia uma investiga~ao previa indo ao extremo da suspenshyIl do lanltamento da campanha caso as suspeitas tenham algum fundashyIlltllto Afinal haveria como evitar a co_responsabilidade da agencia e de sa (IS profissionais tendo em vista que uma publicidade engano implicaen vlntuais prejulzoS para os consumidores ou os usuarios finais A ag shy i~1 correria 0 risco de comprometer nao s6 a credibilidade do c1iente shylinda que este possa n~lO se preocupar com 0 fato - mas de manchar a propria reputaltao 0 que fazer entao Aderir as praticas interesseiras e de curto alcance ou cultivar uma cautela escrupulosa A quem a agencia cleve lealdade A uma coletividade restrita ou a uma coletividade mais Hupla ElU tese a resposta e 6bvia Na pratica nem empre a escolha altrulsta prevalece haja vista a ansia de auferir lucros no curto prazo

Vejamo agora a situaltao da administra~ao de recursoS de terceiros ums se forem geridos por corretora ou por banco nao poderi surgir alg conflito de interesse entre os estabelecimentos financeiros e seus clienshytes Eclaro que sim na medida em que aqueles como administradores de recurso poderia usar informa~6es confidenciais ern proveito pr6shymsprio 0 sigilo de opera6es da especie costuma ser garantido par meio das chamadas muralhas da China verdadeiros anteparos que visam a evitar a inside information ou prevenir 0 vazamento de informalt6es conshyfidenciais entre os dientes ou os funcionirios da propria empresa finanshyceira e que tambem consistem em isolar 0 que e informa~ao publica do se qoe e informaao privada As muralhas sao levantadas estabelecendoshydesde separalt6es Hsicas entre os varios departamentos ate condilt6es de trabalho implicam 0 cumprimento de poHticas de investimentoS a que os funcionirios poundicam obrigados sob pena de serem demitidos e levam a mia criaao de departamentoS de fiscalizaO (compliance) com autono em rela~ao a direltao para controlar eventuais deslizes Aqui no caso a lealdade e devida aoS clientes como coletividade de investidores e nao ern primeira mao ao estabelecimento financeiro que prove os serviltos

5

Ulmiddot LllljJH1StJnaf

loll IICT littn

sem 0 que os investidores fugiriam da empresa que nio viesse a Utesgarantir 0 sigilo1O

No primeiro semestre de 2002 a famosa Merryll Lynch fo acusada pelo procurador geraJ de Nova York Eliot Spitzer de ter acobertado

relagoes promscuas entre suas divisoes de analise e investimentos

o procurador acusou os anaJistas de crassificar favoravermente as agoes de empresas que utilizavam os servigos da corretora para coloshycar agoes no mercado Em outras palavras a MerryJl Lynch foi denunshy

ciada como tendo indUZido investidores ao erro com avaliagoes tenshy

denCiosas No mes seguinte ao anuncio da investigagao atingida em cheio em sua credibilidade a corretora perdeu US$11 bilhoes em vashylor de mercado na Boisa

Assim para par tim as acusagoes do procurador geral a empresa fechou um acordo que implicou pagar uma multa de US$1 00 milhoes

US$48 milhoes destinados ao Estado de Nova York e 0 restante a oushytros Estados A corretora tambem se comprometeu a criar um comite para revisar as mUdangas nas classificagoes de agoes e foi obrigada a

controlar a comunicagao entre as areas de analise e de investimento A MerryJJ Lynch nao ticou ao abrigo eclaro da impetragao de agoes

coletivas na Justiga ou do apelo a tribunais de arbitragem privados a

serem desencadeados por investidores que alegam ter perdido mishyIhoes de d6lares por causa de suas analises viciadas

11

Alias no final de 2002 em urn acordo hist6rico com a Procuradoria Ceral de Nova York e a SEC Yisando arquivar acusacoes de que iludiram c1ientes com anaJises tendenciosas quanto ao comportamento de acoes negociadas na Bolsa as maiores Corretoras de Wall Street _ Citigroup Credit Suisse First BOston Merrill Lynch Morgan Stanley Goldman Sachs Lehman Bros Deutsche Bank] P Morgan Bear Stears UBS Paine Webber - acertaram pagar US$l bilhao em multas aMm de US$450 milhoes

10 REBOUCAS lucia Chinese wall gatante 0 sigilo de opera~iio bancaria Cauta Mercantil19 de agosto de 1996

11 Bloomberg e Dow Jones Merryll Lynch paga multa por acusa~iio de induzir investido Cazeta Mercantil 22 de maio de 2002 r

I~r fin~tnciar a distribui~io de anMises indepcndentesc1e outras ernshy

~ll~S que Ilao tern banco de investimento 11

[lortanto a sobrevivencia do neg6cio depende dessa lealdade maio IOS investidores em geral Mais ainda a credibilidade do sistema finallshyl jro como urn todo estaria em jogo se a coletividade de investidores njo h sse respeitada Isso para nao enfrentar questao bern mais abrangente L

dclicada a indagacao a respeito do carater socialmente responsavel dos illvestimentos

Em abril de 1994 The New York Times anunciou um escandalo poshytencial envolvendo 0 maior banco americano 0 Citibank 0 presidenshyIe John Reed e Richard Handley ex-diretor do banco na America Lashy

tina entao presidente de uma subsidiaria do Citi na Argentina a Citicorp Equity Investiment (CEI) teriam feito neg6cios suspeitos na Argentina As operagoes deram muito dinheiro ao banco mas teriam tambelll enriquecido amigos de Handley com 0 conhecimento de Reed

Edesse desvio prejudicial aos demais acionistas do Citi que Handley e Reed sao acusados 0 banco garante que 0 neg6cio argentino fui muito correto

A operagao comegou em 1989 Naquele ano 0 Citibank tinha US$1 bllhao em papeis da dfvida argentina Essa fortuna tinha valor apenas nominal porque os papeis estavam muito desvalorizados 0 pais esshytava em um processo de hiperinflagao e os investidores pagavam apeshynas 11 centavos por um bonus de 1 d61ar do governo argentino Handley convenceu 0 governo a aceitar os bonus em troca de agoes de empreshysas estatais As agoes compradas pelo Citi foram colocadas na CEI criada especialmente para isso

Em 1992 depois que 0 Plano Cavallo trouxe alguma estabilidade a economia argentina 0 pais foi invadido pelos d61ares dos investidores estrangeiros a privatizagao deslanchou eo prego das agoes deu um saishyto enorme A CEI converteu-se na maior holding industrial da Argentina

Mas 0 Citi nao era mais 0 unico dono da CEI Vendeu 60 da emshypresa justamente quando 0 neg6cio estava se valorizando E os comshypradores foram na maioria amigos de Handley um amigo de infancia assumiu 33 das agoes pertencentes a holdjng e a compra cujo

12 GA5PARINO Charles Acordo de U5$14 bilhiio muda pnitica de neg6cios em Wall 511((1 The Wall Street Journal Americas reproduzido pOl 0 Estado de S Paulo 23 de dezembro de 2002 Danco pagara multa recorde nos EUA Gazeta Mercantil 23 a 25 de dezembro d~ 200i 6

I r It rI I IIIl((IIII

montante alcangou US$269 rnilh6es foi (jnanci~j(I I 11110 II i IprlO Citi dois advogados funcionarios da CEI e assessores elu I ItHl(lI y licashy

i

ram com outros 12 da holding (pagaram uma parte em dinheJro e 0 restante em trabalho)

As explicagoes dadas pareceram razoaveis como os acionistas nao recebiam dividendos desde 1991 e como havia pressao do governo norte-americana por causa dos prejuizos seguidos do banco fol preshyciso vender fatias da sUbsidjaria argentina para incorporar 0 lucro ao

seu balan90 e agradar os acionistas Ganhou 0 Citi US$450 milh6es livrando-se dos titulos da divida argentina Os acionistas argumentashy

ram no entanto que 0 CHi deixou de realizar outros US$575 milhoes com essa opera9ao 13

A quem deviam lealdade esses altos funcionarios do Citibank Uma resposta licita poderia ser aos acionistas E por que Porque se trata

de uma coletividade cUja abrangencia emaior do que a rede informal

de poder formada pelos funcionarios envolvidos na Operag30 e porshyque afinal os acionistas sao seus empregadores

Urn dos graves problemas que atormentou a sociedade brasileira no final do seculo XX disse respeito ao deficit da Previdencia Social Por sell vulto amea~ou a estabilidade economica do pals Havia um abissal desequiHbrio entre 0 que ganhava e 0 que Custava um trabalhador do setor privado e outro do setor publico No primeiro caso 0 beneficio obedecia ao teto de R$1200 No segundo caso nao havia limite Ora existiam em 1998 18 milh6es de trabalhadores privados recebendo beshyneffcios pelo INSS e 0 rombo do Instituto chegava a R$78 bilh6es Em contraposi~ao menos de 3 milh6es de trabalhadores do setor publico geravam um deficit de R$34 bilh6es Ou seja atraves dos impostos pashygos 0 conjunto dos brasileiros bancava a aposentadoria de uma pequena minoria No seio desta 905 mil servidores da Uniao Custavam asociedashyde US $18 biIh6es mais do que a saude de toda a populaltao J4 AContece que 0 rombo da Previdencia subiu de R$4224 biIh6es em 1998 para R$723 bilh6es em 2002 e as mesmas distorlt6es permaneceram entre os aposentados 11 eram servidores publicos recebiam 41 dos beneshyfkios e representavam por si s6s um deficit de R$S 62 bilh6es 15

13 Revista Veja 27 de abril de 1994

14 LAHOZ Andre Caiu a ficha revista Exame 18 de novembro de 1998 15 CORREA Crisriane Cad a ceforma reyjsta Exarne 15 de maio de 2002

101 I ((It u

i(Ii LltlC OS dirilOgt lllquirido~ de uns nio se COl1verteram em priviIeshyIII (l~ oblcS beneficiJlldo os bem aquinhoados em uma especie de illllyenicdade invertida A aposentadoria que favorece uma categoria soshy

i I_d 1middotIll detrimento da maioria da populaltao nao perdeu assim sua legishyillilllllde e portanto sua valida~ao moral Escreve JoeImir Beting

( ) saudoso conselheiro Acacio fil6sofo e semi610go costumava adshyIJcrtir 110S idos da Velha Republica (quando s6 3 dos brasileiros voshylavam para presidente) que nos tratos da coisa publica a soma das fwrtes nao pode ser maior do que 0 todo Essa revolta politica contra a Ilritmetica orfamentaria e que esta na raiz de todos os vicios e desvios do Estado contempordneo - no Brasil e 110 mundo A irresponsashyhilidade fiscal pode tel mil explicafoes mas nenhuma justificativa Lla estiola governos que nao se governam nao se deixam governar e fechando aroda da gastanfa publica nao conseguem govemar 0 proshyblema de fundo eque a boa gestdo das contas publicas sem vazios nem desvios sobre ser uma exigencia moral demanda compettncia tecnica e sabedoria potica ou seja duas moedas mais escassas histoshyricamente da administrafao publica H J6

Para superar as in6meras Iinhas divis6rias que demarcam 0 espalto -KiaI aparentemente a tinica safda consistiria em fazer escoIhas que inshyrcressassem ahumanidade como urn todo Esrarfamos assim praticando um aItrulsmo inquestionaveI pois terfamos sempre em mente os bens publicos globais ja que estes nao conhecem fronteiras Bens publicos gIoshybais a serem preservados combatendo-se entre outros 0 narcotrafico a Aids as radia~6es nucleares a polui~ao ambientaI 0 buraco de ozonio 0

efeito estnfa 0 lixo radioativo 0 mercado negro de material fossil a aItera~ao dos ritmos das esta~6es a erosao do solo 0 desemprego tecnoI6gico e 0 terrorismo internacionai Poderfamos tambem investir na defesa dos direitos humanos na redu~ao dos arsenais nucleares e na conshytensao de sna prolifera~ao

Mesmo assim quando essas quest6es vem a ser enfrentadas levanshytam-se as vozes daque1es cujos interesses sao feridos por exemplo nem todos ainda hoje ap6iam 0 respeito aos direitos humanos (pafses totalishytarios e polfcias autoritfuias) nem os traficantes e os viciados endossam 0

combate ao trafico de drogas nem todas as empresas acatam de born

16 BETIlG Joelmir Medo da ordem 0 Estado de SPaulu 11 de junho de 2002 7

111 rlpljf11111

grntlo no lkJsd proihj~1o do lISC) do gas CFC paLl pi C( 1 JI 0 ozonlO

cia atmosfera a partir do ana 2000 em respeito ao Protoco]o de Montreal de 1987 17 E isso embora se saiba que sem 0 escudo estratosferico reshypresentado pelo ozonio a humanidade como urn todo seja mais vulnerashyvel ao cancer de pele e a catarata e que 0 sistema imunol6gico das pessoshyas fique prejudicado 18

Ademais ha conceitos que ainda nao consolidaram seu status de bens piiblicos globais - exemplo da Internet - embora outros estejam a camishynho do consenso como a paz a seguranca a cultura e a justicaY Todavia ern sa consciencia sera que e sempre POSSIVel tomar decisoes tendo a humashyIichde por marco de referencia A complexidade das sociedades contemposhy1middot~11CS e suas fraturas sociais expostas deixam ampla margem aduvida

Em um lugarejo de nome Vladimir Volynskiy cerca de 500 quil6meshytros de Kiev na Ucrania a famma gentia Vavrisevich escondeu sete Judeus de novembro de 1942 a fevereiro de 1944 Alimentou-os e cuishydou-os em uma especie de porao escavado sob 0 assoalho de sua casa Procurou contrapor-se a solugao final nazista (eliminagao dos judeus em campos de exterminio) sem nenhuma salvaguarda contm o pelotao de fuzilamento caso ela fosse denunciada

Os membros dessa familia nao eram guerrilheiros em luta contra 0

invasor nem eram mais religiosos do que a media da populagao crista ortodoxa da aldeia Nao tinham tantas posses que pudessem sustenshytar sem problemas em tempo de guerra sete bocas alem das pr6shyprias mas nao eram anti-semitas ao contrario da esmagadora maioshyria de seus conterraneos Escoilleram apenas fazer a coisa justa quanshydo nao fazer nada ou fazer a coisa injusta era a coisa certa a fazer do ponto de vista de seus interesses 20

Fizeram 0 bem quando a banalidade do mal era a regra

Il HANDYSIDE Gillian CE vai combarer inimigos do ozonio Gazeta Mercantil 2 de jl1lho de 1998 CASTRO Gleise de SATOMI LililIl e CASPANI Eduardo Empresas fazem opltiio pelo verde Gazeta Menantil Latino-americana 2 a 8 de outubro de 2000

IX COCKROFT Claire Dezenove paises estndariio perda de ozonio 0 Estado de SPaulo reshyproduzindo artigo de The Guardia11 29 de janeiro de 2000

I) CALAIS Alexandre ONU ctitica efeiros da globalizaltao Gazeta Menantil 9 a 11 de julho de 1999

lO WEIS Luiz A lista de Vavriseyich 0 Estado de SPaulo 9 de dezembro de 1997

111 II 11111 Iii P lll

l-1l1hOL1 kalcLid~ st 1rLldlL~1 elll termoS de fidelidade a tais OLl quais Illividacks esta muitas vczes assume 0 carater abstrato de lealdade a I illLlpios Oll a ideais isto e 0 inv6lucro ret6rico e ideol6gico contribui Jlr mobilizar os semelhantes Age-se assim em nome da Tradiltao da Iropricdade de Deus da Familia da Religiao da Honta da Lei e da

h dem da Hierarquia e da Disciplina da Superioridade da Ralta da 1nshyk[tndencia Nacional da Revolultao Social do Futuro do Socialismo Ii i lZeino dos Ceus da Paz entre os Povos do Internacionalismo Proletashy110 da Terra Prometida da Fraternidade da Justilta Social da Igualdade

1middot1t De maneira que a pergunta sobre a quem dever lealdade acaba crushyllldo e modelando esta outra lealdade a que Aparece entaO uma lealshy

enta lhde as ideias que funcionam como far6is ou guias as repres lt6es il11aginarias que sao capazes de galvanizar as energias de coletividades hem precisas porque ideais ou prindpios sao preconizados par agentes coletivOs nao sao entidades dissociadas dos interesses materiais que se confrontam socialmente Em ultima instancia raros sao aqueles que deshyfendem algo que va ferir seu modo de vida e suas expectativas com relashy~ao aO futuro Ao contrario todos tendem a esposar pontos de vista e perspectivas que se coadunam com 0 que eles tem de mais precioso - a posiltao que ocupam no espalto social ou a posiltao que imaginam que

merecem oCl1parQuando se fala de Liberdade 0 grito de guerra arregimenta por exemshy

plo bnrgues e plebeus contra 0 Antigo Regime absolutista e seus es estamentos privilegiados (a nobreza e 0 alto clero) pondo em jogo coleshytividades que questionam ou defendem determinado estado de coisas

Quando se fala de religiao niio se trata de algo etereo e nao observavel

mas de uma religiao espedfica que detem certa influencia em dado perf0shy

do hist6rico _ religiao que uma coletividade professa Eposslvel identishyficar uma categoria social que a abralta (cat6lica evangelica judaica

islamica etc) e distinguir quais interesses estao em jogo Ate no caso do ate1smo geralmente os comunistas os anarquistas e os socialistas de forshymalt8o marxista aglutinam-se em um p610 e os fieis de todas as confissoes religiosas formam outro p610 0 confronto ocorre por conseguinte enshytre coletividades que professam esses au aqueies credos e nao entre absshy

res tralt6es formais E a oposilt3o se da entre agentes que sao portado de relaltoes sociais determinadas (ateus versuS categorias religiosas por exemshy

plo) e que personificam contradiltoes

8

-0middot I IJlt I tJ IIIJltIII

Assim OS idearios nao pairam no ar divorciados das coJetividades que os abra~am mas fincam suas raizes nos interesses materiais historicamente defishynidos e correspondem as tradu~6es imaginarias desses mesmos interesses

No final de novembro do ana 2000 no Rio de Janeiro cerca de 3 mil

motoristas auxiliares - trabalhadores que pagam uma diarla aos doshy

nos de taxi - bloquearam 0 transite nas principais vias da cidade

provocando um verdadeiro caos

A manifestag8o foi organizada pelo movimento Diaria Nunca Mais

em protesto contra a liminar concedida pela Justiga e que sustou os

efeitos de uma lei aprovada em lunho pela Camara dos Vereadores e

sancionada pelo prefeito Luiz Paulo Conde Essa lei permitia que a

Prefeitura fornecesse licengas de taxi aos 13 mil motoristas auxiliares

convertendo-os em aut6nomos

o pedido de liminar havia side solicitado pelo Sindicato dos Motoshy

ristas Aut6nomos do Rio de Janeiro js que considerou absurda a enshy

trada de mais concorrentes na praga

Em represalia os motoristas auxilfares abandonaram centenas de

carros nas principais vias de acesso da cidade trancaram-nos e levashy

ram as chaves 0 Batalnao de Choque da Polfcia Mifitar interveio queshy

brou 0 vidro de 40 taxis para soltar 0 freio de mao apreendeu 220

vefculos e prendeu 22 manifestantes 21

A tentativa dos motoristas auxiliares de sensibilizar a popula~ao carioca para que apoiasse 0 movimento saiu pela culatra As lideran~as nao pershyceberam que a tatica utilizada feria os interesses de centenas de milhares de pessoas que deixaram de poder circular livremente levando-os a se insurgir contra os baderneiros que transtornam a vida da cidade Emshybota a reivindicaltao - obten~ao de uma licen~a de taxi - pudesse ser considerada legftima os meios utilizados foram desastrosos e 0 resultado nao poderia ser outro a a~ao de bloquear os acessos ao Rio de Janeiro deu moralmente ganho de causa aos taxistas E por que isso Porque nao foi altrufsta nao levou em considera~ao os interesses daqueles que seshy

21 RODRIGUES Karine Com projeto auxiliar vira prupriet~rio Folha de SPaulo 2S de noshyvembru de 2000

HII 1

ill I Ijlldicados rch 11l1~1 Illtlllld assumiu un) c~Irlll1 lmiddotl lPjVIt1 I

I d gt11 lt(lido condenaJa peLt populaltao ainda que m)is l)rdl q~ IllU

1 11(li 1l1xiliares obtivessem 0 dire ito de pleitear licencsas provis6tins 1111

1 11lt1 Minai 0 que e au nao moral depende tambem da reb~Jo Iv

I-In~ em presell~aI~nl suma como resolver esta questao candente a quem devenws Iv lhk Lan~ando mao de um criterio objetivo que passa par olltr] WI

~~illl) _ a quem beneficia uma a~io determinada e a quem esta precll iii Toda e qualquer altao pode ser submetida a esse erivo Em tese flllll ill) I11dis ampla for uma coletividade beneficiada mais altrulsta scr~i 1

1110 au ao contrario quanto 111ais ampla for uma coletividade prejlldi

i ld) mais exclusivista ou egoista sera a alt5o 15so nos leva a procurar saber como identificar 0 tamanho das colc i

vidadesbull No nfvel macrossocial a maior coletividade possive1 no plan~I~ l sem duvida a humanidade enquanto que abaixo desta vern (ivili

za~6es imperios nalt6es e religi6es bull No nlvel mesossocial coletividades de tamanho intermedi5ril) ~l( 1

as etnias as regi6es au provincias as classes sociais as catcgul i

sociais e os publicos (usuarios au consumidores) bull No nfvel microssocia1 coletividades restritas sao organizalt6es sill

gulares e suas areas componentes ate desembocar nas familia e ILl

menor celula que e 0 individuo

Figura 9

JM II I

Escopo das morais devemos lealdade a quem

lNrERMEDrARlO REsTRtl0 (nivelmcso) (nivel m1CfO)

9

tm SltLJa~oes muiro pecujjare~ OU elll sirlllgt(s (x1 IC I) 11gt _ lteOlllO cnl

algumas escolhas de Sofia - e possivel ser illtrufsta atelldendo a cok 22

tividades menores Mas no caso estariamos diante do que e uiduel fazer nao do que seria 0 mais desejave1 fazer Exatamente con1O nas chashymadas roletas russas que ocorrem em hospitais publicos superlotados quando sobram pacientes criticos nos corredores e aparece uma unica vaga na UTI - 0 que faz 0 medico de plantao Escolhe um dos pacientes ou nada faz porque nao existem vagas para todos

Por que Mica nos neg6cios

As decisoes empresariais nao sao in6cuas an6dinas ou isentas de conseshyquencias carregam Um enorme poder de irradja~ao pe10s epoundeitos que proshyvocam Em termos praticos afetam os stakeholders os agentes que manshytem vinculos com dada organiza~ao isto e os participes ou as partesinteressadas

bull na frente interna temos os traba1hadores gestores e proprietarios(acionistas ou quotistas)

bull na hente externa temos os clientes fornecedores prestadores de servi~os autoridades governamentais bancos credores concorrenshytes mfdia comunidade local e entidades da sociedade civil _ sinshydicatos associa~6es profissionais movimentos sociais clubes de servl~Os e igrejas

Mas por que as decisoes empresariais afetam os ambientes interno e externo Simp1esmel1te porque os agentes sociais sao vulneraveis 0 caso do Tylenol nos Estados Unidos e um exemplo classico

A Johnson amp Johnson possufa 35 do mercado de analgesicos nos Estados Unidos com vendas anuais de US$400 mjlhOes No final de

setembro de 1982 sete pessoas morreram envenenadas apos ingerir Tylenol Contaminado com cianeto As vendas do remedio cairam entao de US$33 milhOes para US$4 milhOes por mes

A JampJ agiu com prontidao recolheu e destruiu 22 milhoes de frasshycos em todo 0 territ6rio norte-americano a um custo de US$100 mi

22 Ver capitulo sobre as teorias eticas

Ii 1111i II01I1I-[CIO ~mlluIJijJltOO( lui InUlllndn IlfllrlllI1l11111l tl~ til

I Ii II ~I lr InlOI ~~~Hd08 0 que rcsullou elll CfllCfJ de 12- I till

II IlrJllcias na mlclJa EtO redor clo lTlundo llulrtllV- dc chantagem reita por um norte-americano qUtl iuho

Ii III l1U(+SIW colocando cianureto em parle do lote distribufclo IW

fii lhicago foi denunciada pela JampJ e 0 culpado mais 1art Iii Ii IIJ preso S6 que antes de a investigagao estar completa e ~ot) () ir ( It tJs ropercussoes publicas a empresa teve que se posicionar

I jnrrmsse medidas corajosas para reverter 0 quadro de c1esconll II I (~riado arriscaria perder 0 pr6prio negocio e nao somenlt~

I reflelo do Tylenol IJuddiu entao tazer 0 recall e descontinuar a produltao do remedl

iI IdangEl-lo com nova embalagem inviolavel Fez campanhas flu GlllrBcimento e ofereceu recompensas pela prisao do assassino 1

lilillas telef6nicas adisposigao para ajudar quem necessitasse 8 ClI

IllOl1strou visivel preocupagao com a tragedia Fez um acordo GlIlf)

vlllor jamais velo a publico com as famllias das sete vitimas G I 11 )11

rJutras US$100 milhOes com a parte fiscal da devolugao dos medII I

rllentos Nao quis correr 0 risco de comprometer sua imagenl C I J III

fragar Afinal a JampJ nao se concebia como mera tabricante de Il~~rllt

dios seu neg6cio estrategico era vender saude segura Havia elabn rado um codigo de conduta que determinava a resposta aproprkJdH para situaltoes de grave emergencia Oualquer mancha sobre sua f

putagao ou sobre a lisura de seus procedimentos colocaria em X

que sua credibilidade Na ocasiao reafirmou seu modo de agir e consolidou sua imagem d~

empresa confiavel e responsavel Posteriormente gastou mais US$15 milhoes em campanhas publicitarias para recuperar 0 mercado perdishydo e obteve enorme sucesso dois anos depois do incidente23

Vamos mais a fundo Edificil acreditar que a empresa tenha a~Sll mido tal postma par mero born mocismo Emais crivel aceitar que (middotLt tenha conjugado seu credo organizacional - que considera a empreSl

23 NASH Laura L Etica nas Empresas boas intemoes J parte Sao PaJlo Makron Books 1) p 36-40 CALDINJ Alexandre Como gerenciar a crise revista Exame 26 de iall~ir I

2000 e revista Exame 8 de novembro de 1995 10

- 1IT11 I 1111 Iol1l iul

respons5vel pelos clientes empregados cOl1lunidade e acionislas - com uma analise estrategica da rela~ao de for~as no mercado re1a~ao esta que a mfdia tao bern ajudou a forjar com alertas regulares aopiniao publica e que se ttaduz na capacidade de os stakeholders boicotarem qualquer entidade que nao proceda de forma socialmente responsavel De maneira que nao e improvavel que 0 proprio credo organizacional tenha sido frushyto de urn contexto hist6rico bern preciso e de uma analise da dinamica social

Malgrado a influencia do codigo elaborado alguns perguntam por que sera que a JampJ fez apenas 0 recall do Tylenol distribufdo nos Estados Unidos e nao no resto do mundo sera que nao inHuiu aqui a percep~ao

de que 0 nive de mobiliza~ao da sociedade civil norte-americana e muito maior do que 0 das sociedades civis de outros paises igualmente consushymidores do produto Se assim nao fosse dizem aquelas vozes bastaria ter recolhido 0 Tylenol na area de Chicago em que daramente se evidenshyciaram os indfcios de viola~ao dos frascos e nao no territ6rio todo dos

II Estados Unidos Eis uma boa pista para penetrar no cerne da etica empresarial Entre

diferentes cursos de a~ao h5 sempre uma escolha a fazer nao seria esse urn motivo razoavel para que a reHexao etica se de nas empresas Por que adotar uma decisao e nao ontra Quais consequencias poderiam advir 0 que poderia prejudicar os neg6cios Quais medidas poderiam ferir os interesses ou os valores de quais stakeholders e quais contribui~6es asoshyciedade seriam bem acolhidas Como tudo isso repercutiria sobre 0 futushyro da empresa Em suma qual resposta estrategica dar nas mais diversas situa~6es de mercado

A bern da verdade em ambiente competitivo as empresas tern uma imagem a resguardar uma reputa~ao uma marca e em paises que desshyfrutam de Estados de Direito a sociedade civil reune condi~6es para mobilizar-se e retaliar as empresas socialmente irresponsaveis ou inid6neas Os c1ientes em particular ao exercitar seu direito de escolha e ao migrar simplesmente para os concorrentes disp6em de uma indiscutivel capacishydade de dissuasao uma especie de arsenal nuclear A cidadania organizashyda pode levar os dirigentes empresariais a agir de forma responsavel em detrimento ate de suas convic~6es intimas

Em outros termos a sociedade civil tern possibilidade de fazer polfshytica pela etica e viabilizar a ado~iio de posturas morais por parte das empresas por meio de uma interven~ao na realidade social Lan~ando

I II~middotmiddot bull - bull

IILill de quais canais ()l illiun1lIl~lltoS Recorrendo a mkil lll~tlii It

hllicote dos produtos vendidos ~IS agencias de defesa clos conslruid()(

)1 cia cidadania como 0 Procon (Funda~ao de Prote~ao e Defesa do (~nn -Iltnidor) a Promotoria de Justi~a e Prote~ao do Consumidor 0 lPCll1

(Institnto de PesOS e Medidas) 0 Centro de Vigilancia Sanitaria 0 Dillto (Departamento de Inspeao de Alimentos) 0 Inmetro (Institu Nad llat de Metrologia Normaliza~ao e Qualidade Industrial) eo Idee (ma i tuto Brasileiro de Defesa do Consumidor) uma organiza~ao nao gltlVLl

lamental

Figura 10

A politiCO pela etica pressoes cidadiis

bpi cote )ugencias cdefes~

Em paises autoritarios ou totalitarios esses recursos sao ponca efiea zes ou nao estao disponiveis e a sociedade civi~ vive arnorda~ada ou sil1lshyplesmente nao existe De forma simetrica em ambientes economicos k chados como nas economias de comando ou noS ambientes de carater semifechado em que prevalecem oligop61ios e carteis a poHtica peb

etica tambem sofre impedimentos Traduzindo a polftica pe1a etica relIne boas condi~6es para HoresClr

quando 0 chamado poder de mercado das empresas esta distribufdo quanshydo existe col11peti~ao efetiva e possibilidades reais de escolha por partl de clientes e usnarios finais Mesmo assim 0 respeito a soberania dos c1ientes ainda nao e moeda corrente em muitos paises e s6 acontece St

11

urI oj 111l1tU tlti

eles gritarem ou fizerem um escaudalo Atestado de dClllollstrJltJo de for~a dos consumidores encontra-se no nurnero de consultas e reclarnashylt6es feitas ao Procon da capital de Sao Paulo 0 nurnero de atendimentos realizados entre 1977 e 1994 foi de 1498517 entre 1995 e 2000 esse numero subiu para 1776492 Isso significa que em 6 anos houve 18500 mais atendimentos do que nos 18 anos anteriores Sem duvida urn cresshycimento vertiginoso 24

Para ilustrar esse poder de fogo vale a pena citar urn caso que chocou a opiniao publica e envolveu a Botica ao Veado DOuro farmacia de manipula~ao centenaria fundada em 1858

Por intermedio de um laboratorio de sua propriedade (Veafarm) foshy

ram produzidos em 1998 1 milhao de comprimidos lnocuos de um

remedio indicado para 0 tratamento de cancer de prostata (Androcur

da Schering do Brasil) Dez pacientes que faleceram na epoca podem ter tide a morte acelerada por terem ingerido 0 placebo Revelado 0

fato a denuncia da falsifica~ao foi repercutida pela midia e teve efeitos devastadores sobre a empresa Desde logo 19 pessoas foram indishy

ciadas pela Justi~a no processo de falsificacgao 25

Seis meses depois as lojas mantidas em importantes shoppings paulistanos (Ibirapuera Morumbi e 19uatemi) tiveram suas portas feshychadas metade dos andares da propria loja matriz no centro de Sao

Paulo foi desocupada 0 faturarnento caiu 80 dos 200 funcionarios que a empresa tinha antes do evento restaram pouco menos de 50 os

fornecedores deixaram de receber em dia26

A clientela nao perdoou 0 desrespeito e a fraude nem a irresponsashybilidade virtualmente homicida Puniu a empresa com urn eficaz boicote

Outta caso que desta vez envolveu diretamente a Schering do Brasil filial da Schering alema merece considera~ao ja que tambem retrata 0

inconformismo dos consurnidores

24 Ver FUllda~ao Procon SP wwwproconspgovbr 25 CONTE Carla ]uiz decrcra prisao de socio da Borica Folha de Sao Paulo 10 de novembro

de 1998 26 BERTON Particia Veado DOuro faz feestrurura~ao Gazeta Menanti 29 de abril de 1999

I ~ II i

I 1fI rY)eados de 199~1 u l~lllt)l Il()rio realizou um t8ste GUn) UInH nOVd

Ililquina embaladora ProduLiu embalagens com piluas anticoncepmiddot

donais Mcrovla sem 0 principio ativo Os placebos das 644 mil carte~as r uu dos 1200 quios de comprirnidos continham lactose com um reshy

vestimento de a~ucar e foram mandados para serem incinerados por

urna empresa especializada Ocorre que em maio a Schering io iniormada por meio de uma

carta anonima que um lote de placebo estarla sendo comercializado

Uma cartela do produto estava anexa Como a empresa ja tinha sido

vltma de remedios ialsos acreditou que a carta anonima era uma tenshy

tativa de chantag Resoveu entao investigar por conta proprla em emmais de uma centena de iarmacias Nada esclareceu

No inicio de iunho uma senhora gravida de um mes entrou em conshy

tato com 0 laboratorio e apresentou as pllulas falsas A Schering levou mais 15 dias apos a denuncia para notiticar a Vlgilancia Sanitaria

Curiosamente 0 fez no dia em que Jornal Nacional da TV Globo evava

ao ar a primeira reportagem a respeito Seu pecado residlu al embora

o aboratorio nada tivesse ialsificado foi displicente no contrale do descarte de placebos e nao alertou a opiniao publica sobre a possibishy

lidade de desvio de parte destes Sua omissao custou-Ihe caro Ate final de agosto 189 mulheres dis-

ramseram ter engravldado vltimas dos placebos que chega as farmashycias A midia moveu uma fortssima campanha contra a empresa afeshy

tando profundamente urna marca criada na Alemanha 127 anos atras

A Procurado Gera do Estado de Sao Paulo e 0 Procon entraram ria

com uma acgao civil publica contra 0 laboratorio pedindo ndeniza~ao por danos morais e materlas A Secretaria de Direito Economico do

Ministerio da Justl~a multou a empresa em quase R$3 mih6es A Vigishy

lancia Sanitaria interditou 0 laboratorio par duas vezes A suspensao

do anticoncepcional durou um mes e meo e for~ou a Schering a

relan~ar 0 produto que ia foi Hder do segmento (tinha 22 do mercashy

do) com nova cor de embalagem o inquerito polcial instaurado sobre 0 caso loi encerrado sem indlshy

car culpado 0 que dificultou tremendamente a recupera~ao da s ver

credibilidade do laboratOrio A Schering teve entao que promo uma milionaria campanha de comunica~aocom gastos avaliados em mais

12

5 Etica tmpresarial

de R$15 milhoes em uma tentativa de reCOnstruir sua imagem queficou muito desgastada e sob suspeita 27

No ano seguinte a matriz alema determinou as suas 50 sUbsidiarias que Suspendessem os testes de novos equipamentos e embalagens usando placebo a tim de evitar que casos como 0 do Microvlar se repetissem pelo mundo A empresa perdeu R$18 milh6es com 0 epishy

sodia samanda as meses em que a praduta esteve fara do mercado

queda nas vendas quando este votou as prateleiras e dois acordosfeitos com consumidoras 28

A Schering do Brasil Jevou tres anos para votar ao topo do mercado de anticoncepcionais em 2001 a participagao no mercado do Microvlar

cllegou a 177 (embora detivesse 22 em 1998) Tres fatores Contrishybuiram para essa recuperagao a) a fideJidade que as consumidoras

em gera mantE~m com a pilula que tomam ja que tem que acertar a dosagem de hormonios e livrar-se dos possiveis efeitos colaterais de seu usa b) 0 baixo prego do produto (3 reais e 50 centavos a cartela 8m 2001) e c) a confianga preservada junto aos medicos que receishytarn 0 anticoncepcionaJ 29

Para quem nao soube avaliar corretamente 0 nivel de exigencia dos dientes e para quem errou redondamente em termos de comunicaao ilti sem dnvida um serio transtorno simpfesmente porque nao ho adeqllado gerenciamento da crise 30 uve

Em um Caso semelhante porem Com reaao rapida e COmpetente bull jhoclia Farma foi aJerracia par um farmaclurico em 1993 de que um Ctela do neuroJitico AmpJictil fora achada dentro de uma caixa do llltialergico Fenergan No rua seguinte 0 laborat6rio soltou um comunicashy

lfTTENCOURT Silvia e CONTE Carla A~ao de Serra e eleitoraJ diz Schering alema Foha de Sll1O 3 de julho de 1998 SCHEINBERG Gabriela Schering foi vitima de crime afjnna uccurivo 0 Estado de sPa~rlo 4 de julho de 1998 PASTORE Karina 0 paraiso dos remeshys clius IJlsiJi(ado revista l1eja 8 de julho de 1998 PFEIFER Ismael Schering gasta milh6esI~III rcconstruir ill1ltlgem Gazeta Mercantil 27 de agosro de 1998

x C()RlJ~A Silvia c ESC()SSJA Fernanda cIa Scherillg cancela res res Com placebo Folha de SItw 26 de selelllbro de 1999

) VII imiddotIinAGA Vi(Lnl( Ivlicrrgtvlar VOa ao 10po do Illcnaltl til prld (middoti~ti1 Merci1ntil 3 ltI IJIIl dl Jon I

11 II~IIR( Fihiubull 11 d Loilllflrnilll((uItI tI 11111 I ~ 11 Jlllio I I))li

011 t lIP (tlco 571

do na televisao advertindo os consumidores Contatou a Vigilancia Sanitashyrin e determinou 0 recolhimento do lote Nao houve vitimas da troca3l

Na primeira pagina de um grande jornal do interior de Sao Paulo a foto de uma rnulher careca afirmando que ficou assim logo depois de usar um xampu da Gessy Lever (xampu Seda urna de suas principais marcas e Ifder do segmento) desencadeou uma rea~ao imediata da

empresa Os gestores da Gessy Lever fizeram consultas a seu laboratorio

mandaram recolher produtos para analise despacharam um medico independente e um advogado para a cidade interiorana Em algumas horas respiraram aliviados a mulher raspou a cabe~a

Mesmo assim a Gessy Lever teve que responder a um inquerito policial e definir uma estrategia de comunica~ao para dirimir quaisshy

quer duvidas32

As empresas detem marcas que representam preciosos ativos intangishyveis e que consomem tempo e dinheiro para serem construidas Em deshycorrencia muitas percebem que perder a credibilidade deixando de ser transparentes e de agir rapidamente eurn passo fatal para 0 neg6cio que operam

Caso de repercussao mundial foi 0 da contamina~ao de alimentos pela ra~ao fornecida aos animais nas granjas e fazendas da Belgica A origem da contamina~aofoi um oleo chamado ascarel e os donos da empresa acusada de ter adulterado a ra~ao foram presos

Em junho de 1999 depois de difundido 0 fato sumiram das prateshyleiras dos supermercados os frangos e os ovos a carne de boi e de porco 0 leite a manteiga os queijos e tudo 0 que e feito com esses ingredientes inclusive os chocolates 0 governo belga interditou a disshy

1 IIIU1 IIN(kR jlIql hl I Ilt 11111 I dlmiddotllmiddotrr ill~ndio rcvir Exarne 15 d( lulho de 10~)H

1 II M 1ldlS( l [JIlII 11 I II I I 1 gt fImiddot1 Ilt 11 I Ii fed Irfe de eviral e cllfrelll 1I1ll1 LT-middot (111( ~~flrJI 1l1IU I I I I lid I L lljltl

13

58 Etica Empresarial

tribuigao desses alimentos por suspeita de contaminagao par dioxinas substancias altamente t6xcas que podem causar doengas que vao do diabetes ao cancer

o que deflagrou grave escandalo na Uniao Eurcpeia entretanto foi que 0 governo belga demorou dois meses para revelar que os produshytos estavam impr6prios para 0 consumo A negligencia provocou a renuncia de dois ministros - 0 da Agricultura e 0 da Saude - e levou a suspensao das exportag6es causando um prejuizo avaliado em US$1 545 bilhao Mais ainda deixou aberta a possibilidade de a Belgishyca ser levada a julgamento em uma corte internacional por expor a riscos a populagao do continente europeu33

Em resumo no ultimo quartel do seculo XX a qnestao etica tornoushyse urn imperativo no universo das empresas privadas e par extensao das organizasoes publicas do Primeiro Mundo Converteu-se ate em disciplishyna obrigat6ria nos cursos de Administrasao As razoes residem no essenshycial no fato de que escandalos vieram atona em virtude do desenvolvishymento de uma mfdia plural e dedicada a investigalt53o Atos considerados imorais ou inidoneos peJa coJetividade deixaram de ser encobertos e toshylerados A sociedade civil passon a exercer pressoes eficazes sobre as empresas Isto e dada a sua vulnerabilidade cada vez mais os clientes procuram assegurar a qualidade dos produtos e dos servilt5os adquiridos POl sua vez concorrentes fornecedores investidores autoridades govershynamentais prestadores de servisos e empregados auscultam 0 modus operandi das empresas com as quais mantem relasoes visando policiar fraudes e repudiar alt50es irrespons8veis

Resultados Quando os escandalos eclodem estes geram altos cusshytos multas pesadas quebra de rotinas baixo moral dos empregados aumento da rotatividade dificuldades para recrutar funciowirios qualishyficados frau des internas e perda da confial1lt5a publica na reputalt5ao das empresas 34

Dificilmente os dirigentes empresariais podem manter-se alheios a esse movimento de mobilizalt5ao dosstakeholders Nem 0 posicionamento moral das empresas pode ficar amerce das flutualt50es e das inumeras

33 Revi5ta Veja 16 ue junho de 1999 0 Estado de SPaulo 2 de Jldho k 1l))J

34 NASH Laura L opcit p 4

OJ) I II ckJ

i 11ciencias morais individuais Pautas de orientalt5ao e pad-metros 111

Iillhlcao de conflitos de illteresse tornam-se indispensaveis RepontH lIl[lU

11111 conclusao a moral organizacional virou chave para a pr6pri~1 soh (

~lr~llcia das empresas I materia esra ganhando relevo no Brasil dado 0 porte de sua eeOll

1111 e em funlt5 da 0Plt5 estrategica que foi feita - integrar 0 pli~ (IIIao lll mercado que se globaliza e que exige relalt5oes profissionais e COil lIill1ais Em decorrencia 0 imaginario brasileiro est1 sofrendo lenta~ c rsistentes alteralt5Oes Ha crescente demanda por rransparencia e pruli dlk tanto no nato da coisa publica como nO fornecimento de proclllltJ~

crvilt5os ao mercado Caberia entao as empresas convencionar e prJ i

ao

l I 11gum c6digo de conduta que esteja em sintonia com essas expectt1 IIS Mas sobretudo valeria a pena conceber e implantar um conjunto tk

esccanismos de conrrole que pudesse prevenir as transgtesso as ori(1

IIt)es adotadas

14

As ieorias eticas Com 0 ohar perdido um sobrevivente

do campo de exterminio disse Se Auschwitz existiu Deus nao pode existir Jgt

As linhas de demarcasao

Vma mocinha de 15 anos procura 0 pai e pede-Ihe ajuda para fazer um aboIto Exige no entanto que a mae nao saiba Abalado 0 pai pershygunta quem a engravidou Em um rasgo de maturidade a mocinha Ihe diz que 0 menino tem 16 anos e ponanto e tao crianlta quanto ela Val1os consultar a mae sugere 0 pai Para que pergunta a garota se ja sabemos a resposta Segundo a mae uma catolica praticante 0 aborto constitui urn atentado contra a vida um crime imperdoavel e pOnto final

A moral catolica abriga-se sob as asas de uma etica do dever e sentenshycia falta 0 que esta prescrito Como 0 pai eagnostico a fiIha aposta no dialogo Ele nao CostUlDa repetir respondo par meus atos Quem sabe possa sensibilizar-se com a situaltao deIa QUilta venha a considerar as

impIicalt6es de uma gravidez prematura e a hipoteca que recaira sobre seu futuro de adolescente Nao empate minha vida pai me de uma chance suplica a filha

o pai en tao cai em si Uma vez que sua esposa ja tem posiltao tomashyda para que consulta-Ia Diante de conviclt6es religiosas que tacham 0

abono como um pecado abominavel nao resta margem de manobra A resposta sera sempre um nao sonoro Isso nao corresponde ao modo de

pensar e de agir do pal que nunca deixou de avaliar as conseqilencias do que faz Assim em face do desamparo da filha como nao se comover Algumas interrogalt6es comeltam a assaIta-Io faz sentido minhl men ina ter um bebe fruro da imprudencia Esensato criar lima ltrilIl(1 qlil niio foi dCS(jlCt () qUt rlII~lrJn Os pJrCllles IS llllil~~ 0- 111IIII I

ulras

rdllcidos do clube os professores as colegas da minha filha 0 qLl dill1o 1 pessoas com as quais me relaciono E aquelas com as quais trabalho Iso tudo nao vai comprometer 0 destino dela Ese ell concordar com () Ihorto e alguem souber 0 que vai acontecer

o pai reflete sobre as circunstancias e mede os efeitos possfveis d~

L ~Ja uma das oplt6es que se Ihe apresentam Sua avalialtao e decisi va 1 Itl1sao porem 0 deixa exausto em um processo de crescente ang6sri1 pOLS as conseqiiencias da decisao a ser tomada recaido sobre seus OITlshy

hros Em conrrapartida como ficaria a mulher dele se soubesse do peJi do da filha Certamente nao ficaria desnorteada graltas aresposta pr()n~

1 que tern Eprovavel que aceite com resignaltao a vinda daqueia crian(71

lO mundo e que nao se arormente com os desdobramenros do faro Pm que isso Porque as implicalt6es do cumprimento do dever nao sao de SUl

llcada - simplesmente pertencem a Deus Em resumo estamos diante de duas maneiras oposras de enfocar a qlll

[10 do aborto Melhor dizendo estamos diante de dois modos difnlmiddotllIci

d~ tomar decis6es cada qual derivando de uma matriz etica distinu Ora como a etica teoriza sobre as condutas morais vale iudag11 i~

cxiste uma 6nica teoria etica Absolutamente nao A despeito de () li-t logos fazerem da unicidade da etica um postulado ou apesar (Ii S( 11111

tlcsafio recorrente para muitos filosofos ha pelo menos duas teor lll em como ensina magistralmente Max Weber

1 A etica da convicqao entendida como deonrologia (trataJu dt )t

deveres) 2 A etica da responsabilidade conhecida como teleologia (estudo dlll

fins humanos)l

Escreve Weber

toda atividade orientada pela hica pode ser subordi11ar-se a dlIi 111aximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas Eta )()II orientar-se pela etica del- responsabilidade (verantwortungsethistJ) (11

pela etica da convicqao (gesinnungsethisch) 1sso nao quer dizer tUI

rJtica da convicqao seja identica aausencia de responsabilidade t a dii(

da responsabilidade d (UsciIa de convicqao Nao se trata e(Jidl1I

mente disso Todauia I IIIII (IU-70 abissal entre a atiludr rlt bull7flP II I

I II~I H [Il i I IIJIII II hIIW I i~li4l1 1111 illllili bullbull IDigt 101lt

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 3: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

fit rIIisnro

O~ 1f1lgtios m01l0rnr ciu vagina total au parcialmente c) a infibulagao ern que se eXlirpam todos os genitais e se costura quase todo 0 oriHshycio genital deixando urna pequena abertura para a passagem da urishyna e do sangue da menstrualtao Em mulheres adultas colocam-se tambem argolas de metal ou colchetes ou ainda costura-se a genitalia com 0 pretexto de evitar 0 ate sexual

Cerca de 15 das mulheres submetidas a mutilaltao genital morshyrem durante 0 ato porque a circuncisao e feita sem anestesia com tesouras cacos de vidro tampas de lata navalhas laminas facasshyinstrumentos estes que quase nunca sao esterilizados Em algumas rGgioes da Africa Ocidental cinzas au fezes de animais sao colocadas 110 ferimento para estancar a sangria 0 que aumenta a incidencia de infecltoes graves hemorragias abscessos pedras na bexiga e na uretra obstruQao do fluxo menstrual e cicatrizes proeminentes

Apesar de proibida em parses como Gana Egito Somalia e Sudao a mutilaltao genital feminina continua praticada como tradiltao cultural nesses parses visto que constitui um rito de passagem da infancia para a adolescencia Ao todo a pratica encontra-se difundida em 28 paises da Africa e dois do Oriente Medio atingindo mais de dois mishyIhoes de mulheres a cada ano

Os fundamentalistas multulmanos argumentam que e indispensashyvel proteger as mulheres das consequencias do excessivo desejo sexual e atribuem a Maome a afirmaltao de que a circuncisao e uma necessidade no homem e um adorno na mulher Os demais homens e mulheres manifestam-se convictos de que remover os genitais femishyninos externos e questao de respeito e homa de garantia de um bom casamento e de fortalecimento da uniao da tribo pois um dos maiores insultos na Africa Islamica e chamar alguem de filho de uma mae nao circuncidada A pratica e antiqOfssima anterior ao cristianismo e ao

islamismo datando de pelo menos 2200 anos

Hoje em dia e alvo de organizaltoes como a Visao Mundial e 0 Funshy

do das Nagoes Unidas para a Populaltao em funltao de luta em prol

dos direitos humanos e horroriza as mulheres ocidentais conscientes

de sua especificidade e empenhadas em preservar a sexualidade do

genero

I LlSBOA Lutz Carlos Argolas metalicas para prevenir atos sexuais 0 Estado de SPaulo 21 de ill1ho de 1996 revisra Veja 10 de junho de 1998 FARAH Paulo Daniel Circlncisiio afeta 2 lIilh6es de molheres por anoFolha de SPaulo 10 de janeiro de 1999 IDOETA Carlos Alberto Mlllheres Mutiladas Follia de SPaulo 8 de mar~o de 1999

lorll~J rmiddotu

rill 980 Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a mutishy

Ii 11(110 uenitalleminina esta foi convertida em ritual simb6lico pelo qual I u ~pvens seram declaradas mulheres 0 presidente da Associa~ao 1111 Allciaos de Sabiny Gw Cheborian que promo

veu tal revisao

i i~8beu 0 Premio popua~ao das Na~oes Unidas de 19982

As mulheres ocidentais conquistaram direitos no seculo XX que lbes

1111 negados no seculo anterior como

bull 0 direita de votar bull 0 uso de contraceptivos bull 0 direito de serem contratadas no emprego matricular-se na faculshy

dade comprar e vender imovel e dar queixa na delegacia sem preshy

cisar de autorizaltao por escrito do marido bull nao mais ser deserdadas peio pai por ter perdido a virgindade bull nao mais ter que manter a virgindade ate a noite de nupcias

bull deixar de ser educadas apenas para casar e ter filhos bull decidir adotar ou nao 0 sobrenome do marido

bull exigir prazer nas relalt6es sexuais 3

bull poder fumar e beber sem sofrer desaprova~ao moral Mas ainda no ano 2000 um artigo do C6digo Penal da ]ordania isenshy

tou praticamente de puniltao OS chamados crimes de homa Cerca de 20 muiheres sao assassinadas todo ano por terem mantido rela~6es sexuais sem se casar ou por terem dado curso a relalt6es extraconjugais Os crimishynoSO maridos ou irmaos recebem penas leves ou sao inocentados

SMais uma iiustraltao da variedade de costumes e de normas morais remete-nos ao infantiddio Essa pnltica e considerada hoje uma especie de homiddio embora tenha sido iargamente empregada entre muitas comunidades primitivas geralmente em fun~ao da escassez de vlveres Entretanto na China e na india atuais 0 infantiddio das crian~as feminishynas ainda perdura5 0 meio de minimizar isso na China totalitaria foi incentivar oficialmente abortos e esterilizaltoes sob 0 guarda-chuva da

poHtica de controle da natalidade

2 0 Estado de SPaulo 17 cie julho de 1998 3 SCAVO[E Miriam As vitorlosas revista Vea 22 de dezembro de 1999

4 0 Estado de SPaulo 15 de fevereiro de 2000

S Revsta Veja 8 de il1lho de 1998

2

Ltll rl fllllr~(mQI

Outra curiosidade chinesa do ponto de vista ocidcnral diz rcspeito ~lOS hlbitos alimentares do pais que seguem uma maxima popular Comeshyse tudo que tem perna menos as mesas tudo que voa menos os avioes c [Udo que nada menos os barcos Assim comem-se ratos e ratazanas cachorros e ate escorpioes que chegam vivos acozinha e depois sao sershyvidos como se fossem Iagostas 6

Milhares de outros exemplos poderiam ser citados hauridos tanto clrls fontes antropo16gicas como dos jornais e revistas de nosso cotidiano

Em setembro de 1999 os telespectadores da Tanzania foram conshy

frontados com imagens de peles humanas ao tado de cadaveres

desmembrados dos quais as peles tinham sido retiradas 0 prego de

cada pele variava entre US$300 e US$500

Representantes das polfcias de Zambia Tanzania e Malaui se comshy

prometeram a atuar em conjunto para par fim ao que qualiticaram como

uma vergonha para a Africa oriental Na regiao sobretudo 110 Zaire

feiticeiros utilizam as peles para produzir pog6es magicas 6rgaos

genitais de criangas convertem-se em pogoes medicinais e a pele da

cabega de homens calvos e um dos insumos para dar sabedoria a

quem a consome

o relativismo cultural ap6ia-se em justificaltoes morais igualmente competentes porque igualmente legitimadas pelas sociedades que as culshytivam Assim as morais sao multiplas e nenhum sistema de normas moshyrais pode pretender obter 0 selo da eternidade ou da universalidade Isso por uma razao bem simples as representacoes mentais os bens simb6lishycos e tudo 0 que e imaginario fincam suas rafzes na hist6ria e portanto mergulham por inteiro nos eventos singulares e em fluxo Assumem pOl isso mesmo carater efemero transit6rio provis6rio passageiro e mutave

Acontece que nenhuma moral se sustenta pura e exclusivamente pelas virtudes de seu discurso Hlti sempre urn embate entre morais diversas que expressam ideologias variadas e representam interesses diferenciashy

6 Foha de SPaulo 6 de fevereiro de 2000 7 SMITH Alex Duvnl Africa combate venda de pele hurnann The Independent reproduzido

pela Folha de SPattlo 29 de outubro de 1999

PI V llJr 1111tQ(

ias111ft tlO rnais das vezcs contradit6rios A exemplo das ideolog a moral IJIIIill~nte em Llma coletividade qualquer efruto de uma reIaltao de forshy

I sc nao cairiamos em um vale-tudO relativista A questao-chave dos problemas da moralidade repousa no conflito de

1111 cresses Em uma primeira instancia os interesses pessoais contrapoemshyil ~ interess coletivos - familiares paroquiais corporativos empresashyes I his comunitarios de categorias sociais classistas nacionais ou suprashyILKionais Em uma segunda instancia algum tipo de interesse coletivo Jlode contrapor-se a outroS de igual ou maior abrangencia 0 pr6prio cgolsmo que expressa in extremis OS interesses privados e pessoais e formulado e endossado por alguma coletividade de modo que toda moshyrl esempre a moral de algum agente coletivo A eficacia de qualquer moral depende dos apoios politicos ou dos agentes que a suportam bern como do arsenal de sanltoes de que as coletividades dispoem para fazer vater seus ditames - sejam estes dogmas sejam estes prop6sitos

Abrindo parenteses 0 que vem a ser as normas sociais Pautas de aao que expressam valores balizas definidas por uma coletividade qualquer para guiar 0 comportamento exigencias que tornam obrigat6rias as conshydutas e operam como fatores de coesao social ou como regras de convivenshycia visando acoexistencia entre interesses contradit6rios Mas pOl que as Dormas sociais sao acatadas Por tres razoes que muitas vezes se conjugam

bull a convicltao de que a vida em sociedade requer 0 respeito a regras de interesse comum (e 0 caso das normas morais) essa convicltao

decone da socializacao ou da reflexao bull a submissao dos agentes diante da amealta representada pOl sanoes

que a coletividade pode exercer (e 0 caso das normas juridicas) bull a adesao motivada pela necessidade de identificar-se e pertencer a

dada coletividade (e 0 caso das normas de etiqueta)8 As normas jurfdicas (leis e regulamentos) dispoem de sanltoes sobre 0

corpo ou as vontades dos agentes sociais Correspondem a reclusoes (prishyvacao de liberdade) ou a outras formas de intimidaltao e sao respaldadas pelo poder poHtico ou pelo monop6tio da violencia que 0 Estado detem POl via de consequencia sua eficacia repousa nos efeitos da coafao extershyna As demais normas por sua vez como as de etiqueta as religiosas lS

esteticas e as morais tern carater simb6lico e implicam a aceitaltao volull

8 FONSECA Eduardo Giannetri dn Vicios PriJados Belle(fcios pliblicos A etica na iqll

llai(oes Sao Pn111o Companhia das Letras 1993 pp 88-91

3

I pl ()(IfI(11

(~Iria dos agcntes [sso n1o quer dizer que estejam dltst it [lfdas de san~6es ngtll(Tltl quem as desrespeitar apenas indica que as san~6es nuo tem carater fisico mas il11aginlthio cultural remetem sobretudo a censura que recai sobre os agentes que transgridem suas pautas A efiCltlcia das normas simb6shylieas reside em boa parte (embora nao exclusivamente) na co4fdo interna

bull oa disciplina da consciencia de seus temores e fantasmas nos pashydroes inculcados pelos agentes sociais ou

bull na dinamica da reflexao madura que convaIida a pertinencia dos mecanismos de regula~ao social e justifica a existencia das regras de convivencia social

Figura 8

Por que se acatam normas (raz6es conjugadas)

Inculca Temor

Fazendo agora uma analise mais afeita ao discurso social comum podemos responder aquestao Para que etica da seguinte maneira na visao mfstica 0 que e julgado no tribunal divino apos a mone Apenas e tao-somente a conduta moral sobressai dentre todos os feitos humanos Na visao secular ao fim e ao cabo 0 que distingue as pessoas Novamenshyte comparece a conduta moral Isso equivale a dizer duas coisas

1 identificam-se 0 bern com as luzes (seja Deus seja a retidao de carMer) e 0 mal Com as trevas (seja Sata seja a falta de escrupulo)

2 em consequencia 0 jufzo de merito implica uma bonifica~ao _ quer a entrada no reino dos ceus quer urn credito social de confian~a

Temos ai chaves preciosas para as reflexoes que seguirao

UflI rJlJ J9

quem Be cleve lcaldadc 1 6tica sempre foi uma disciplina filosofica mas a filosofia ja perdeu

1 ndusividade de seu exercfcio De fato mantido 0 mesmo objeto de ll1do (as morais as praticas que estas pautam ou os fen6menos morais) Ilscllvolveu-se recentemente nova disciplina de carater cientifico

A rJtica filosofica sempre tentou estabelecer princfpios constantes e lI11ivcrsalmente validos para a boa conduta da vida em quaisquer sociedashydes c epocas Definiu 0 bern moral como 0 ideal do melhor agir ou do IllclllOr ser e procurou as fontes da moral nas divindades na natureza ou 110 pensamento racional

Em contrapartida a etica cientffica constata 0 re1ativismo cultural e 0 aJota como pedra angular para tomar inteligiveis os fenomenos morais I)ito de outra forma qua1ifica 0 bern e 0 mal assim como a virtude e 0 vfcio a partir de seus fundamentos sociais e historicos aborda as normas que as coletividades consideram validas sem julga-las investiga e explica a razao de ser da pluralidade da dinamica e da coexistencia das morais hisshytoricas Trata-se de urn discurso demonstrativo com asser~6es verificaveis diferentemente da fi10sofia que consiste em pensar sem provar9

Em sintese a etica filos6fica - ou filosofia da moral - tende a ter urn cadter normativo e de prescri~ao ansiosa por estabelecer uma moral universal cujos prindpios eternos deveriam inspirar os homens malgrado as contingencias de lugar e de tempo

No polo oposto a etica cientffica - ou ciencia da moral - tende a ter urn carater descritivo e explicativo porque centra sua aten~ao no coshynhecimento das regularidades que os fenomenos morais apresentam malgrado sua diversidade cultural e apesar da variedade de seus pressushypostos normativos Na medida do possivel procura preyer a ocorrencia desses mesmos fen6menos

Mas 0 que vern a ser 0 bern ou melhor 0 supremo bem (summum bonum) Ao longo da historia das doutrinas eticas (filosofias morais) 0 que se entendeu pe10 bern em sua plenitude assumiu as mais diversas defini~oes felicidade prazer dever perfei~ao prudencia poder discishyplina mental conhecimento autocontrole ascetismo gra~a de Deus rashyzao prosperidade liberdade igualdade social realiza~ao pessoal sucesshyso Temos diante de nos portanto urn extraordinario leque de hipoteshyses ou de convic~oes que apenas refor~a 0 carater relativista dos valores

9 COMTE-SPONVILLE Andre PequellO Tratado das Grandegt Virtudes Sao Paulo Ma~tins Fonshytes 1995 p 173 4

cultUllt1is c como 6 Lkil ckduzir a Idlcx50 te61ica urio lsli illlUnc as condicionantes hist6ricas

Assim quando estao em jogo problemas morais em vez de procurar a essencia metaflsica do bern parece melhor fazer a seguinte pergunta a quem devemos lealdade

bull Aorganiza~ao em que trabalhamos ou ao chefe imediato bull Aos colegas de trabalho ou aos amigos de fora bull Ao nosso padrinho (quem nos indicou) ou ao c1iente bull Anossa famnia ou a nossa igreja bull Anossa classe social ou ao nosso pais bull Exclusivamente a n6s mesmos (egoismo) ou no extrema oposto a

hUl11anidade como urn todo bull Anossa categoria profissional representada pelo sindicato ou as

nossas conviclt6es ideo16gicas expressas por urn partido polftico bull A urn movimento social que defende causas nobres ou a empresa

que dirigimos Qual seja falar de moral e falar de conflito de interesses Toda relashy

ltao moral implica escolhas algumas tao diffceis que nos levam acatatonia AfinaI nao se pode ser leal a todos e a tudo 0 tempo todo Em sintese no terreno moral nao ha neutralidade possivel e precise posicionar-se Em termos praticos toda decisao beneficia alguns em detrimento de outros pais os afeta desigualmente Ora como compatibilizar as variadas lealdashydes que cultivamos Qual escolha fazer Quem sera beneficiado e quem sera prejudicado

Por exemplo urn advogado nao escolhe seu cliente porque ele fala a verdade ou aparenta ser inocente mas porque na qualidade de cidadao possui direitos que devem ser protegidos Nesses estritos Iimites sob a egide do respeito a lei 0 advogado deve lealdade ao reu unica e exclusivashymente para garantir-lhe urn julgamento justa Vale dizer s6 deve lealdade ao cidadao nao ao cliente em si Da mesma forma 0 promotor publico se preocupa em defender direitos que 0 acusado supostamente lesou 0 proshymotor deve entao lealdade a quem Novamente sob a egide da lei a vftima na sua qualidade de cidada E 0 juiz Deve lealdade a sociedade como urn todo sem discriminar vitimas ou acusados na cega imparcialidashyde da administra~ao da Justi~a presQ ao cumprimento da lei A rigor nem sempre esses preceitos sao observados dai 0 descredito que recai as vezes sobre os tribunais e sobre os membros do aparelho judiciario

Por seu tumo uma agencia de publicidade deve lealdade a quem Ao contratante da campanha publicitaria cliente imediato desta Ao publico

Uluie I ngirln par suo nensagem e que pode vir a tornar-s cons shyII 0 procuto ou usu5rio do servilto A todos ao mesmo tempo Como I III pILI conciliar tantos e taO dlspares interesses Sem uma reflexao a

rnn 0 vabalho da ag~ncia perde a ruma e pode deriva para a mistishyill 1(10 al11edida que ao privilegiar 0 cliente imediato para nao perder 0

llllIW em detrimento dos usuarios finais satisfara apenas os interes-I ais diretamente envolvidos na operaltao Todavia havendo duvidas

IqIlimas a respeito da qualidade do produto ou do servilto a ser anun-I illdo nao caberia uma investiga~ao previa indo ao extremo da suspenshyIl do lanltamento da campanha caso as suspeitas tenham algum fundashyIlltllto Afinal haveria como evitar a co_responsabilidade da agencia e de sa (IS profissionais tendo em vista que uma publicidade engano implicaen vlntuais prejulzoS para os consumidores ou os usuarios finais A ag shy i~1 correria 0 risco de comprometer nao s6 a credibilidade do c1iente shylinda que este possa n~lO se preocupar com 0 fato - mas de manchar a propria reputaltao 0 que fazer entao Aderir as praticas interesseiras e de curto alcance ou cultivar uma cautela escrupulosa A quem a agencia cleve lealdade A uma coletividade restrita ou a uma coletividade mais Hupla ElU tese a resposta e 6bvia Na pratica nem empre a escolha altrulsta prevalece haja vista a ansia de auferir lucros no curto prazo

Vejamo agora a situaltao da administra~ao de recursoS de terceiros ums se forem geridos por corretora ou por banco nao poderi surgir alg conflito de interesse entre os estabelecimentos financeiros e seus clienshytes Eclaro que sim na medida em que aqueles como administradores de recurso poderia usar informa~6es confidenciais ern proveito pr6shymsprio 0 sigilo de opera6es da especie costuma ser garantido par meio das chamadas muralhas da China verdadeiros anteparos que visam a evitar a inside information ou prevenir 0 vazamento de informalt6es conshyfidenciais entre os dientes ou os funcionirios da propria empresa finanshyceira e que tambem consistem em isolar 0 que e informa~ao publica do se qoe e informaao privada As muralhas sao levantadas estabelecendoshydesde separalt6es Hsicas entre os varios departamentos ate condilt6es de trabalho implicam 0 cumprimento de poHticas de investimentoS a que os funcionirios poundicam obrigados sob pena de serem demitidos e levam a mia criaao de departamentoS de fiscalizaO (compliance) com autono em rela~ao a direltao para controlar eventuais deslizes Aqui no caso a lealdade e devida aoS clientes como coletividade de investidores e nao ern primeira mao ao estabelecimento financeiro que prove os serviltos

5

Ulmiddot LllljJH1StJnaf

loll IICT littn

sem 0 que os investidores fugiriam da empresa que nio viesse a Utesgarantir 0 sigilo1O

No primeiro semestre de 2002 a famosa Merryll Lynch fo acusada pelo procurador geraJ de Nova York Eliot Spitzer de ter acobertado

relagoes promscuas entre suas divisoes de analise e investimentos

o procurador acusou os anaJistas de crassificar favoravermente as agoes de empresas que utilizavam os servigos da corretora para coloshycar agoes no mercado Em outras palavras a MerryJl Lynch foi denunshy

ciada como tendo indUZido investidores ao erro com avaliagoes tenshy

denCiosas No mes seguinte ao anuncio da investigagao atingida em cheio em sua credibilidade a corretora perdeu US$11 bilhoes em vashylor de mercado na Boisa

Assim para par tim as acusagoes do procurador geral a empresa fechou um acordo que implicou pagar uma multa de US$1 00 milhoes

US$48 milhoes destinados ao Estado de Nova York e 0 restante a oushytros Estados A corretora tambem se comprometeu a criar um comite para revisar as mUdangas nas classificagoes de agoes e foi obrigada a

controlar a comunicagao entre as areas de analise e de investimento A MerryJJ Lynch nao ticou ao abrigo eclaro da impetragao de agoes

coletivas na Justiga ou do apelo a tribunais de arbitragem privados a

serem desencadeados por investidores que alegam ter perdido mishyIhoes de d6lares por causa de suas analises viciadas

11

Alias no final de 2002 em urn acordo hist6rico com a Procuradoria Ceral de Nova York e a SEC Yisando arquivar acusacoes de que iludiram c1ientes com anaJises tendenciosas quanto ao comportamento de acoes negociadas na Bolsa as maiores Corretoras de Wall Street _ Citigroup Credit Suisse First BOston Merrill Lynch Morgan Stanley Goldman Sachs Lehman Bros Deutsche Bank] P Morgan Bear Stears UBS Paine Webber - acertaram pagar US$l bilhao em multas aMm de US$450 milhoes

10 REBOUCAS lucia Chinese wall gatante 0 sigilo de opera~iio bancaria Cauta Mercantil19 de agosto de 1996

11 Bloomberg e Dow Jones Merryll Lynch paga multa por acusa~iio de induzir investido Cazeta Mercantil 22 de maio de 2002 r

I~r fin~tnciar a distribui~io de anMises indepcndentesc1e outras ernshy

~ll~S que Ilao tern banco de investimento 11

[lortanto a sobrevivencia do neg6cio depende dessa lealdade maio IOS investidores em geral Mais ainda a credibilidade do sistema finallshyl jro como urn todo estaria em jogo se a coletividade de investidores njo h sse respeitada Isso para nao enfrentar questao bern mais abrangente L

dclicada a indagacao a respeito do carater socialmente responsavel dos illvestimentos

Em abril de 1994 The New York Times anunciou um escandalo poshytencial envolvendo 0 maior banco americano 0 Citibank 0 presidenshyIe John Reed e Richard Handley ex-diretor do banco na America Lashy

tina entao presidente de uma subsidiaria do Citi na Argentina a Citicorp Equity Investiment (CEI) teriam feito neg6cios suspeitos na Argentina As operagoes deram muito dinheiro ao banco mas teriam tambelll enriquecido amigos de Handley com 0 conhecimento de Reed

Edesse desvio prejudicial aos demais acionistas do Citi que Handley e Reed sao acusados 0 banco garante que 0 neg6cio argentino fui muito correto

A operagao comegou em 1989 Naquele ano 0 Citibank tinha US$1 bllhao em papeis da dfvida argentina Essa fortuna tinha valor apenas nominal porque os papeis estavam muito desvalorizados 0 pais esshytava em um processo de hiperinflagao e os investidores pagavam apeshynas 11 centavos por um bonus de 1 d61ar do governo argentino Handley convenceu 0 governo a aceitar os bonus em troca de agoes de empreshysas estatais As agoes compradas pelo Citi foram colocadas na CEI criada especialmente para isso

Em 1992 depois que 0 Plano Cavallo trouxe alguma estabilidade a economia argentina 0 pais foi invadido pelos d61ares dos investidores estrangeiros a privatizagao deslanchou eo prego das agoes deu um saishyto enorme A CEI converteu-se na maior holding industrial da Argentina

Mas 0 Citi nao era mais 0 unico dono da CEI Vendeu 60 da emshypresa justamente quando 0 neg6cio estava se valorizando E os comshypradores foram na maioria amigos de Handley um amigo de infancia assumiu 33 das agoes pertencentes a holdjng e a compra cujo

12 GA5PARINO Charles Acordo de U5$14 bilhiio muda pnitica de neg6cios em Wall 511((1 The Wall Street Journal Americas reproduzido pOl 0 Estado de S Paulo 23 de dezembro de 2002 Danco pagara multa recorde nos EUA Gazeta Mercantil 23 a 25 de dezembro d~ 200i 6

I r It rI I IIIl((IIII

montante alcangou US$269 rnilh6es foi (jnanci~j(I I 11110 II i IprlO Citi dois advogados funcionarios da CEI e assessores elu I ItHl(lI y licashy

i

ram com outros 12 da holding (pagaram uma parte em dinheJro e 0 restante em trabalho)

As explicagoes dadas pareceram razoaveis como os acionistas nao recebiam dividendos desde 1991 e como havia pressao do governo norte-americana por causa dos prejuizos seguidos do banco fol preshyciso vender fatias da sUbsidjaria argentina para incorporar 0 lucro ao

seu balan90 e agradar os acionistas Ganhou 0 Citi US$450 milh6es livrando-se dos titulos da divida argentina Os acionistas argumentashy

ram no entanto que 0 CHi deixou de realizar outros US$575 milhoes com essa opera9ao 13

A quem deviam lealdade esses altos funcionarios do Citibank Uma resposta licita poderia ser aos acionistas E por que Porque se trata

de uma coletividade cUja abrangencia emaior do que a rede informal

de poder formada pelos funcionarios envolvidos na Operag30 e porshyque afinal os acionistas sao seus empregadores

Urn dos graves problemas que atormentou a sociedade brasileira no final do seculo XX disse respeito ao deficit da Previdencia Social Por sell vulto amea~ou a estabilidade economica do pals Havia um abissal desequiHbrio entre 0 que ganhava e 0 que Custava um trabalhador do setor privado e outro do setor publico No primeiro caso 0 beneficio obedecia ao teto de R$1200 No segundo caso nao havia limite Ora existiam em 1998 18 milh6es de trabalhadores privados recebendo beshyneffcios pelo INSS e 0 rombo do Instituto chegava a R$78 bilh6es Em contraposi~ao menos de 3 milh6es de trabalhadores do setor publico geravam um deficit de R$34 bilh6es Ou seja atraves dos impostos pashygos 0 conjunto dos brasileiros bancava a aposentadoria de uma pequena minoria No seio desta 905 mil servidores da Uniao Custavam asociedashyde US $18 biIh6es mais do que a saude de toda a populaltao J4 AContece que 0 rombo da Previdencia subiu de R$4224 biIh6es em 1998 para R$723 bilh6es em 2002 e as mesmas distorlt6es permaneceram entre os aposentados 11 eram servidores publicos recebiam 41 dos beneshyfkios e representavam por si s6s um deficit de R$S 62 bilh6es 15

13 Revista Veja 27 de abril de 1994

14 LAHOZ Andre Caiu a ficha revista Exame 18 de novembro de 1998 15 CORREA Crisriane Cad a ceforma reyjsta Exarne 15 de maio de 2002

101 I ((It u

i(Ii LltlC OS dirilOgt lllquirido~ de uns nio se COl1verteram em priviIeshyIII (l~ oblcS beneficiJlldo os bem aquinhoados em uma especie de illllyenicdade invertida A aposentadoria que favorece uma categoria soshy

i I_d 1middotIll detrimento da maioria da populaltao nao perdeu assim sua legishyillilllllde e portanto sua valida~ao moral Escreve JoeImir Beting

( ) saudoso conselheiro Acacio fil6sofo e semi610go costumava adshyIJcrtir 110S idos da Velha Republica (quando s6 3 dos brasileiros voshylavam para presidente) que nos tratos da coisa publica a soma das fwrtes nao pode ser maior do que 0 todo Essa revolta politica contra a Ilritmetica orfamentaria e que esta na raiz de todos os vicios e desvios do Estado contempordneo - no Brasil e 110 mundo A irresponsashyhilidade fiscal pode tel mil explicafoes mas nenhuma justificativa Lla estiola governos que nao se governam nao se deixam governar e fechando aroda da gastanfa publica nao conseguem govemar 0 proshyblema de fundo eque a boa gestdo das contas publicas sem vazios nem desvios sobre ser uma exigencia moral demanda compettncia tecnica e sabedoria potica ou seja duas moedas mais escassas histoshyricamente da administrafao publica H J6

Para superar as in6meras Iinhas divis6rias que demarcam 0 espalto -KiaI aparentemente a tinica safda consistiria em fazer escoIhas que inshyrcressassem ahumanidade como urn todo Esrarfamos assim praticando um aItrulsmo inquestionaveI pois terfamos sempre em mente os bens publicos globais ja que estes nao conhecem fronteiras Bens publicos gIoshybais a serem preservados combatendo-se entre outros 0 narcotrafico a Aids as radia~6es nucleares a polui~ao ambientaI 0 buraco de ozonio 0

efeito estnfa 0 lixo radioativo 0 mercado negro de material fossil a aItera~ao dos ritmos das esta~6es a erosao do solo 0 desemprego tecnoI6gico e 0 terrorismo internacionai Poderfamos tambem investir na defesa dos direitos humanos na redu~ao dos arsenais nucleares e na conshytensao de sna prolifera~ao

Mesmo assim quando essas quest6es vem a ser enfrentadas levanshytam-se as vozes daque1es cujos interesses sao feridos por exemplo nem todos ainda hoje ap6iam 0 respeito aos direitos humanos (pafses totalishytarios e polfcias autoritfuias) nem os traficantes e os viciados endossam 0

combate ao trafico de drogas nem todas as empresas acatam de born

16 BETIlG Joelmir Medo da ordem 0 Estado de SPaulu 11 de junho de 2002 7

111 rlpljf11111

grntlo no lkJsd proihj~1o do lISC) do gas CFC paLl pi C( 1 JI 0 ozonlO

cia atmosfera a partir do ana 2000 em respeito ao Protoco]o de Montreal de 1987 17 E isso embora se saiba que sem 0 escudo estratosferico reshypresentado pelo ozonio a humanidade como urn todo seja mais vulnerashyvel ao cancer de pele e a catarata e que 0 sistema imunol6gico das pessoshyas fique prejudicado 18

Ademais ha conceitos que ainda nao consolidaram seu status de bens piiblicos globais - exemplo da Internet - embora outros estejam a camishynho do consenso como a paz a seguranca a cultura e a justicaY Todavia ern sa consciencia sera que e sempre POSSIVel tomar decisoes tendo a humashyIichde por marco de referencia A complexidade das sociedades contemposhy1middot~11CS e suas fraturas sociais expostas deixam ampla margem aduvida

Em um lugarejo de nome Vladimir Volynskiy cerca de 500 quil6meshytros de Kiev na Ucrania a famma gentia Vavrisevich escondeu sete Judeus de novembro de 1942 a fevereiro de 1944 Alimentou-os e cuishydou-os em uma especie de porao escavado sob 0 assoalho de sua casa Procurou contrapor-se a solugao final nazista (eliminagao dos judeus em campos de exterminio) sem nenhuma salvaguarda contm o pelotao de fuzilamento caso ela fosse denunciada

Os membros dessa familia nao eram guerrilheiros em luta contra 0

invasor nem eram mais religiosos do que a media da populagao crista ortodoxa da aldeia Nao tinham tantas posses que pudessem sustenshytar sem problemas em tempo de guerra sete bocas alem das pr6shyprias mas nao eram anti-semitas ao contrario da esmagadora maioshyria de seus conterraneos Escoilleram apenas fazer a coisa justa quanshydo nao fazer nada ou fazer a coisa injusta era a coisa certa a fazer do ponto de vista de seus interesses 20

Fizeram 0 bem quando a banalidade do mal era a regra

Il HANDYSIDE Gillian CE vai combarer inimigos do ozonio Gazeta Mercantil 2 de jl1lho de 1998 CASTRO Gleise de SATOMI LililIl e CASPANI Eduardo Empresas fazem opltiio pelo verde Gazeta Menantil Latino-americana 2 a 8 de outubro de 2000

IX COCKROFT Claire Dezenove paises estndariio perda de ozonio 0 Estado de SPaulo reshyproduzindo artigo de The Guardia11 29 de janeiro de 2000

I) CALAIS Alexandre ONU ctitica efeiros da globalizaltao Gazeta Menantil 9 a 11 de julho de 1999

lO WEIS Luiz A lista de Vavriseyich 0 Estado de SPaulo 9 de dezembro de 1997

111 II 11111 Iii P lll

l-1l1hOL1 kalcLid~ st 1rLldlL~1 elll termoS de fidelidade a tais OLl quais Illividacks esta muitas vczes assume 0 carater abstrato de lealdade a I illLlpios Oll a ideais isto e 0 inv6lucro ret6rico e ideol6gico contribui Jlr mobilizar os semelhantes Age-se assim em nome da Tradiltao da Iropricdade de Deus da Familia da Religiao da Honta da Lei e da

h dem da Hierarquia e da Disciplina da Superioridade da Ralta da 1nshyk[tndencia Nacional da Revolultao Social do Futuro do Socialismo Ii i lZeino dos Ceus da Paz entre os Povos do Internacionalismo Proletashy110 da Terra Prometida da Fraternidade da Justilta Social da Igualdade

1middot1t De maneira que a pergunta sobre a quem dever lealdade acaba crushyllldo e modelando esta outra lealdade a que Aparece entaO uma lealshy

enta lhde as ideias que funcionam como far6is ou guias as repres lt6es il11aginarias que sao capazes de galvanizar as energias de coletividades hem precisas porque ideais ou prindpios sao preconizados par agentes coletivOs nao sao entidades dissociadas dos interesses materiais que se confrontam socialmente Em ultima instancia raros sao aqueles que deshyfendem algo que va ferir seu modo de vida e suas expectativas com relashy~ao aO futuro Ao contrario todos tendem a esposar pontos de vista e perspectivas que se coadunam com 0 que eles tem de mais precioso - a posiltao que ocupam no espalto social ou a posiltao que imaginam que

merecem oCl1parQuando se fala de Liberdade 0 grito de guerra arregimenta por exemshy

plo bnrgues e plebeus contra 0 Antigo Regime absolutista e seus es estamentos privilegiados (a nobreza e 0 alto clero) pondo em jogo coleshytividades que questionam ou defendem determinado estado de coisas

Quando se fala de religiao niio se trata de algo etereo e nao observavel

mas de uma religiao espedfica que detem certa influencia em dado perf0shy

do hist6rico _ religiao que uma coletividade professa Eposslvel identishyficar uma categoria social que a abralta (cat6lica evangelica judaica

islamica etc) e distinguir quais interesses estao em jogo Ate no caso do ate1smo geralmente os comunistas os anarquistas e os socialistas de forshymalt8o marxista aglutinam-se em um p610 e os fieis de todas as confissoes religiosas formam outro p610 0 confronto ocorre por conseguinte enshytre coletividades que professam esses au aqueies credos e nao entre absshy

res tralt6es formais E a oposilt3o se da entre agentes que sao portado de relaltoes sociais determinadas (ateus versuS categorias religiosas por exemshy

plo) e que personificam contradiltoes

8

-0middot I IJlt I tJ IIIJltIII

Assim OS idearios nao pairam no ar divorciados das coJetividades que os abra~am mas fincam suas raizes nos interesses materiais historicamente defishynidos e correspondem as tradu~6es imaginarias desses mesmos interesses

No final de novembro do ana 2000 no Rio de Janeiro cerca de 3 mil

motoristas auxiliares - trabalhadores que pagam uma diarla aos doshy

nos de taxi - bloquearam 0 transite nas principais vias da cidade

provocando um verdadeiro caos

A manifestag8o foi organizada pelo movimento Diaria Nunca Mais

em protesto contra a liminar concedida pela Justiga e que sustou os

efeitos de uma lei aprovada em lunho pela Camara dos Vereadores e

sancionada pelo prefeito Luiz Paulo Conde Essa lei permitia que a

Prefeitura fornecesse licengas de taxi aos 13 mil motoristas auxiliares

convertendo-os em aut6nomos

o pedido de liminar havia side solicitado pelo Sindicato dos Motoshy

ristas Aut6nomos do Rio de Janeiro js que considerou absurda a enshy

trada de mais concorrentes na praga

Em represalia os motoristas auxilfares abandonaram centenas de

carros nas principais vias de acesso da cidade trancaram-nos e levashy

ram as chaves 0 Batalnao de Choque da Polfcia Mifitar interveio queshy

brou 0 vidro de 40 taxis para soltar 0 freio de mao apreendeu 220

vefculos e prendeu 22 manifestantes 21

A tentativa dos motoristas auxiliares de sensibilizar a popula~ao carioca para que apoiasse 0 movimento saiu pela culatra As lideran~as nao pershyceberam que a tatica utilizada feria os interesses de centenas de milhares de pessoas que deixaram de poder circular livremente levando-os a se insurgir contra os baderneiros que transtornam a vida da cidade Emshybota a reivindicaltao - obten~ao de uma licen~a de taxi - pudesse ser considerada legftima os meios utilizados foram desastrosos e 0 resultado nao poderia ser outro a a~ao de bloquear os acessos ao Rio de Janeiro deu moralmente ganho de causa aos taxistas E por que isso Porque nao foi altrufsta nao levou em considera~ao os interesses daqueles que seshy

21 RODRIGUES Karine Com projeto auxiliar vira prupriet~rio Folha de SPaulo 2S de noshyvembru de 2000

HII 1

ill I Ijlldicados rch 11l1~1 Illtlllld assumiu un) c~Irlll1 lmiddotl lPjVIt1 I

I d gt11 lt(lido condenaJa peLt populaltao ainda que m)is l)rdl q~ IllU

1 11(li 1l1xiliares obtivessem 0 dire ito de pleitear licencsas provis6tins 1111

1 11lt1 Minai 0 que e au nao moral depende tambem da reb~Jo Iv

I-In~ em presell~aI~nl suma como resolver esta questao candente a quem devenws Iv lhk Lan~ando mao de um criterio objetivo que passa par olltr] WI

~~illl) _ a quem beneficia uma a~io determinada e a quem esta precll iii Toda e qualquer altao pode ser submetida a esse erivo Em tese flllll ill) I11dis ampla for uma coletividade beneficiada mais altrulsta scr~i 1

1110 au ao contrario quanto 111ais ampla for uma coletividade prejlldi

i ld) mais exclusivista ou egoista sera a alt5o 15so nos leva a procurar saber como identificar 0 tamanho das colc i

vidadesbull No nfvel macrossocial a maior coletividade possive1 no plan~I~ l sem duvida a humanidade enquanto que abaixo desta vern (ivili

za~6es imperios nalt6es e religi6es bull No nlvel mesossocial coletividades de tamanho intermedi5ril) ~l( 1

as etnias as regi6es au provincias as classes sociais as catcgul i

sociais e os publicos (usuarios au consumidores) bull No nfvel microssocia1 coletividades restritas sao organizalt6es sill

gulares e suas areas componentes ate desembocar nas familia e ILl

menor celula que e 0 individuo

Figura 9

JM II I

Escopo das morais devemos lealdade a quem

lNrERMEDrARlO REsTRtl0 (nivelmcso) (nivel m1CfO)

9

tm SltLJa~oes muiro pecujjare~ OU elll sirlllgt(s (x1 IC I) 11gt _ lteOlllO cnl

algumas escolhas de Sofia - e possivel ser illtrufsta atelldendo a cok 22

tividades menores Mas no caso estariamos diante do que e uiduel fazer nao do que seria 0 mais desejave1 fazer Exatamente con1O nas chashymadas roletas russas que ocorrem em hospitais publicos superlotados quando sobram pacientes criticos nos corredores e aparece uma unica vaga na UTI - 0 que faz 0 medico de plantao Escolhe um dos pacientes ou nada faz porque nao existem vagas para todos

Por que Mica nos neg6cios

As decisoes empresariais nao sao in6cuas an6dinas ou isentas de conseshyquencias carregam Um enorme poder de irradja~ao pe10s epoundeitos que proshyvocam Em termos praticos afetam os stakeholders os agentes que manshytem vinculos com dada organiza~ao isto e os participes ou as partesinteressadas

bull na frente interna temos os traba1hadores gestores e proprietarios(acionistas ou quotistas)

bull na hente externa temos os clientes fornecedores prestadores de servi~os autoridades governamentais bancos credores concorrenshytes mfdia comunidade local e entidades da sociedade civil _ sinshydicatos associa~6es profissionais movimentos sociais clubes de servl~Os e igrejas

Mas por que as decisoes empresariais afetam os ambientes interno e externo Simp1esmel1te porque os agentes sociais sao vulneraveis 0 caso do Tylenol nos Estados Unidos e um exemplo classico

A Johnson amp Johnson possufa 35 do mercado de analgesicos nos Estados Unidos com vendas anuais de US$400 mjlhOes No final de

setembro de 1982 sete pessoas morreram envenenadas apos ingerir Tylenol Contaminado com cianeto As vendas do remedio cairam entao de US$33 milhOes para US$4 milhOes por mes

A JampJ agiu com prontidao recolheu e destruiu 22 milhoes de frasshycos em todo 0 territ6rio norte-americano a um custo de US$100 mi

22 Ver capitulo sobre as teorias eticas

Ii 1111i II01I1I-[CIO ~mlluIJijJltOO( lui InUlllndn IlfllrlllI1l11111l tl~ til

I Ii II ~I lr InlOI ~~~Hd08 0 que rcsullou elll CfllCfJ de 12- I till

II IlrJllcias na mlclJa EtO redor clo lTlundo llulrtllV- dc chantagem reita por um norte-americano qUtl iuho

Ii III l1U(+SIW colocando cianureto em parle do lote distribufclo IW

fii lhicago foi denunciada pela JampJ e 0 culpado mais 1art Iii Ii IIJ preso S6 que antes de a investigagao estar completa e ~ot) () ir ( It tJs ropercussoes publicas a empresa teve que se posicionar

I jnrrmsse medidas corajosas para reverter 0 quadro de c1esconll II I (~riado arriscaria perder 0 pr6prio negocio e nao somenlt~

I reflelo do Tylenol IJuddiu entao tazer 0 recall e descontinuar a produltao do remedl

iI IdangEl-lo com nova embalagem inviolavel Fez campanhas flu GlllrBcimento e ofereceu recompensas pela prisao do assassino 1

lilillas telef6nicas adisposigao para ajudar quem necessitasse 8 ClI

IllOl1strou visivel preocupagao com a tragedia Fez um acordo GlIlf)

vlllor jamais velo a publico com as famllias das sete vitimas G I 11 )11

rJutras US$100 milhOes com a parte fiscal da devolugao dos medII I

rllentos Nao quis correr 0 risco de comprometer sua imagenl C I J III

fragar Afinal a JampJ nao se concebia como mera tabricante de Il~~rllt

dios seu neg6cio estrategico era vender saude segura Havia elabn rado um codigo de conduta que determinava a resposta aproprkJdH para situaltoes de grave emergencia Oualquer mancha sobre sua f

putagao ou sobre a lisura de seus procedimentos colocaria em X

que sua credibilidade Na ocasiao reafirmou seu modo de agir e consolidou sua imagem d~

empresa confiavel e responsavel Posteriormente gastou mais US$15 milhoes em campanhas publicitarias para recuperar 0 mercado perdishydo e obteve enorme sucesso dois anos depois do incidente23

Vamos mais a fundo Edificil acreditar que a empresa tenha a~Sll mido tal postma par mero born mocismo Emais crivel aceitar que (middotLt tenha conjugado seu credo organizacional - que considera a empreSl

23 NASH Laura L Etica nas Empresas boas intemoes J parte Sao PaJlo Makron Books 1) p 36-40 CALDINJ Alexandre Como gerenciar a crise revista Exame 26 de iall~ir I

2000 e revista Exame 8 de novembro de 1995 10

- 1IT11 I 1111 Iol1l iul

respons5vel pelos clientes empregados cOl1lunidade e acionislas - com uma analise estrategica da rela~ao de for~as no mercado re1a~ao esta que a mfdia tao bern ajudou a forjar com alertas regulares aopiniao publica e que se ttaduz na capacidade de os stakeholders boicotarem qualquer entidade que nao proceda de forma socialmente responsavel De maneira que nao e improvavel que 0 proprio credo organizacional tenha sido frushyto de urn contexto hist6rico bern preciso e de uma analise da dinamica social

Malgrado a influencia do codigo elaborado alguns perguntam por que sera que a JampJ fez apenas 0 recall do Tylenol distribufdo nos Estados Unidos e nao no resto do mundo sera que nao inHuiu aqui a percep~ao

de que 0 nive de mobiliza~ao da sociedade civil norte-americana e muito maior do que 0 das sociedades civis de outros paises igualmente consushymidores do produto Se assim nao fosse dizem aquelas vozes bastaria ter recolhido 0 Tylenol na area de Chicago em que daramente se evidenshyciaram os indfcios de viola~ao dos frascos e nao no territ6rio todo dos

II Estados Unidos Eis uma boa pista para penetrar no cerne da etica empresarial Entre

diferentes cursos de a~ao h5 sempre uma escolha a fazer nao seria esse urn motivo razoavel para que a reHexao etica se de nas empresas Por que adotar uma decisao e nao ontra Quais consequencias poderiam advir 0 que poderia prejudicar os neg6cios Quais medidas poderiam ferir os interesses ou os valores de quais stakeholders e quais contribui~6es asoshyciedade seriam bem acolhidas Como tudo isso repercutiria sobre 0 futushyro da empresa Em suma qual resposta estrategica dar nas mais diversas situa~6es de mercado

A bern da verdade em ambiente competitivo as empresas tern uma imagem a resguardar uma reputa~ao uma marca e em paises que desshyfrutam de Estados de Direito a sociedade civil reune condi~6es para mobilizar-se e retaliar as empresas socialmente irresponsaveis ou inid6neas Os c1ientes em particular ao exercitar seu direito de escolha e ao migrar simplesmente para os concorrentes disp6em de uma indiscutivel capacishydade de dissuasao uma especie de arsenal nuclear A cidadania organizashyda pode levar os dirigentes empresariais a agir de forma responsavel em detrimento ate de suas convic~6es intimas

Em outros termos a sociedade civil tern possibilidade de fazer polfshytica pela etica e viabilizar a ado~iio de posturas morais por parte das empresas por meio de uma interven~ao na realidade social Lan~ando

I II~middotmiddot bull - bull

IILill de quais canais ()l illiun1lIl~lltoS Recorrendo a mkil lll~tlii It

hllicote dos produtos vendidos ~IS agencias de defesa clos conslruid()(

)1 cia cidadania como 0 Procon (Funda~ao de Prote~ao e Defesa do (~nn -Iltnidor) a Promotoria de Justi~a e Prote~ao do Consumidor 0 lPCll1

(Institnto de PesOS e Medidas) 0 Centro de Vigilancia Sanitaria 0 Dillto (Departamento de Inspeao de Alimentos) 0 Inmetro (Institu Nad llat de Metrologia Normaliza~ao e Qualidade Industrial) eo Idee (ma i tuto Brasileiro de Defesa do Consumidor) uma organiza~ao nao gltlVLl

lamental

Figura 10

A politiCO pela etica pressoes cidadiis

bpi cote )ugencias cdefes~

Em paises autoritarios ou totalitarios esses recursos sao ponca efiea zes ou nao estao disponiveis e a sociedade civi~ vive arnorda~ada ou sil1lshyplesmente nao existe De forma simetrica em ambientes economicos k chados como nas economias de comando ou noS ambientes de carater semifechado em que prevalecem oligop61ios e carteis a poHtica peb

etica tambem sofre impedimentos Traduzindo a polftica pe1a etica relIne boas condi~6es para HoresClr

quando 0 chamado poder de mercado das empresas esta distribufdo quanshydo existe col11peti~ao efetiva e possibilidades reais de escolha por partl de clientes e usnarios finais Mesmo assim 0 respeito a soberania dos c1ientes ainda nao e moeda corrente em muitos paises e s6 acontece St

11

urI oj 111l1tU tlti

eles gritarem ou fizerem um escaudalo Atestado de dClllollstrJltJo de for~a dos consumidores encontra-se no nurnero de consultas e reclarnashylt6es feitas ao Procon da capital de Sao Paulo 0 nurnero de atendimentos realizados entre 1977 e 1994 foi de 1498517 entre 1995 e 2000 esse numero subiu para 1776492 Isso significa que em 6 anos houve 18500 mais atendimentos do que nos 18 anos anteriores Sem duvida urn cresshycimento vertiginoso 24

Para ilustrar esse poder de fogo vale a pena citar urn caso que chocou a opiniao publica e envolveu a Botica ao Veado DOuro farmacia de manipula~ao centenaria fundada em 1858

Por intermedio de um laboratorio de sua propriedade (Veafarm) foshy

ram produzidos em 1998 1 milhao de comprimidos lnocuos de um

remedio indicado para 0 tratamento de cancer de prostata (Androcur

da Schering do Brasil) Dez pacientes que faleceram na epoca podem ter tide a morte acelerada por terem ingerido 0 placebo Revelado 0

fato a denuncia da falsifica~ao foi repercutida pela midia e teve efeitos devastadores sobre a empresa Desde logo 19 pessoas foram indishy

ciadas pela Justi~a no processo de falsificacgao 25

Seis meses depois as lojas mantidas em importantes shoppings paulistanos (Ibirapuera Morumbi e 19uatemi) tiveram suas portas feshychadas metade dos andares da propria loja matriz no centro de Sao

Paulo foi desocupada 0 faturarnento caiu 80 dos 200 funcionarios que a empresa tinha antes do evento restaram pouco menos de 50 os

fornecedores deixaram de receber em dia26

A clientela nao perdoou 0 desrespeito e a fraude nem a irresponsashybilidade virtualmente homicida Puniu a empresa com urn eficaz boicote

Outta caso que desta vez envolveu diretamente a Schering do Brasil filial da Schering alema merece considera~ao ja que tambem retrata 0

inconformismo dos consurnidores

24 Ver FUllda~ao Procon SP wwwproconspgovbr 25 CONTE Carla ]uiz decrcra prisao de socio da Borica Folha de Sao Paulo 10 de novembro

de 1998 26 BERTON Particia Veado DOuro faz feestrurura~ao Gazeta Menanti 29 de abril de 1999

I ~ II i

I 1fI rY)eados de 199~1 u l~lllt)l Il()rio realizou um t8ste GUn) UInH nOVd

Ililquina embaladora ProduLiu embalagens com piluas anticoncepmiddot

donais Mcrovla sem 0 principio ativo Os placebos das 644 mil carte~as r uu dos 1200 quios de comprirnidos continham lactose com um reshy

vestimento de a~ucar e foram mandados para serem incinerados por

urna empresa especializada Ocorre que em maio a Schering io iniormada por meio de uma

carta anonima que um lote de placebo estarla sendo comercializado

Uma cartela do produto estava anexa Como a empresa ja tinha sido

vltma de remedios ialsos acreditou que a carta anonima era uma tenshy

tativa de chantag Resoveu entao investigar por conta proprla em emmais de uma centena de iarmacias Nada esclareceu

No inicio de iunho uma senhora gravida de um mes entrou em conshy

tato com 0 laboratorio e apresentou as pllulas falsas A Schering levou mais 15 dias apos a denuncia para notiticar a Vlgilancia Sanitaria

Curiosamente 0 fez no dia em que Jornal Nacional da TV Globo evava

ao ar a primeira reportagem a respeito Seu pecado residlu al embora

o aboratorio nada tivesse ialsificado foi displicente no contrale do descarte de placebos e nao alertou a opiniao publica sobre a possibishy

lidade de desvio de parte destes Sua omissao custou-Ihe caro Ate final de agosto 189 mulheres dis-

ramseram ter engravldado vltimas dos placebos que chega as farmashycias A midia moveu uma fortssima campanha contra a empresa afeshy

tando profundamente urna marca criada na Alemanha 127 anos atras

A Procurado Gera do Estado de Sao Paulo e 0 Procon entraram ria

com uma acgao civil publica contra 0 laboratorio pedindo ndeniza~ao por danos morais e materlas A Secretaria de Direito Economico do

Ministerio da Justl~a multou a empresa em quase R$3 mih6es A Vigishy

lancia Sanitaria interditou 0 laboratorio par duas vezes A suspensao

do anticoncepcional durou um mes e meo e for~ou a Schering a

relan~ar 0 produto que ia foi Hder do segmento (tinha 22 do mercashy

do) com nova cor de embalagem o inquerito polcial instaurado sobre 0 caso loi encerrado sem indlshy

car culpado 0 que dificultou tremendamente a recupera~ao da s ver

credibilidade do laboratOrio A Schering teve entao que promo uma milionaria campanha de comunica~aocom gastos avaliados em mais

12

5 Etica tmpresarial

de R$15 milhoes em uma tentativa de reCOnstruir sua imagem queficou muito desgastada e sob suspeita 27

No ano seguinte a matriz alema determinou as suas 50 sUbsidiarias que Suspendessem os testes de novos equipamentos e embalagens usando placebo a tim de evitar que casos como 0 do Microvlar se repetissem pelo mundo A empresa perdeu R$18 milh6es com 0 epishy

sodia samanda as meses em que a praduta esteve fara do mercado

queda nas vendas quando este votou as prateleiras e dois acordosfeitos com consumidoras 28

A Schering do Brasil Jevou tres anos para votar ao topo do mercado de anticoncepcionais em 2001 a participagao no mercado do Microvlar

cllegou a 177 (embora detivesse 22 em 1998) Tres fatores Contrishybuiram para essa recuperagao a) a fideJidade que as consumidoras

em gera mantE~m com a pilula que tomam ja que tem que acertar a dosagem de hormonios e livrar-se dos possiveis efeitos colaterais de seu usa b) 0 baixo prego do produto (3 reais e 50 centavos a cartela 8m 2001) e c) a confianga preservada junto aos medicos que receishytarn 0 anticoncepcionaJ 29

Para quem nao soube avaliar corretamente 0 nivel de exigencia dos dientes e para quem errou redondamente em termos de comunicaao ilti sem dnvida um serio transtorno simpfesmente porque nao ho adeqllado gerenciamento da crise 30 uve

Em um Caso semelhante porem Com reaao rapida e COmpetente bull jhoclia Farma foi aJerracia par um farmaclurico em 1993 de que um Ctela do neuroJitico AmpJictil fora achada dentro de uma caixa do llltialergico Fenergan No rua seguinte 0 laborat6rio soltou um comunicashy

lfTTENCOURT Silvia e CONTE Carla A~ao de Serra e eleitoraJ diz Schering alema Foha de Sll1O 3 de julho de 1998 SCHEINBERG Gabriela Schering foi vitima de crime afjnna uccurivo 0 Estado de sPa~rlo 4 de julho de 1998 PASTORE Karina 0 paraiso dos remeshys clius IJlsiJi(ado revista l1eja 8 de julho de 1998 PFEIFER Ismael Schering gasta milh6esI~III rcconstruir ill1ltlgem Gazeta Mercantil 27 de agosro de 1998

x C()RlJ~A Silvia c ESC()SSJA Fernanda cIa Scherillg cancela res res Com placebo Folha de SItw 26 de selelllbro de 1999

) VII imiddotIinAGA Vi(Lnl( Ivlicrrgtvlar VOa ao 10po do Illcnaltl til prld (middoti~ti1 Merci1ntil 3 ltI IJIIl dl Jon I

11 II~IIR( Fihiubull 11 d Loilllflrnilll((uItI tI 11111 I ~ 11 Jlllio I I))li

011 t lIP (tlco 571

do na televisao advertindo os consumidores Contatou a Vigilancia Sanitashyrin e determinou 0 recolhimento do lote Nao houve vitimas da troca3l

Na primeira pagina de um grande jornal do interior de Sao Paulo a foto de uma rnulher careca afirmando que ficou assim logo depois de usar um xampu da Gessy Lever (xampu Seda urna de suas principais marcas e Ifder do segmento) desencadeou uma rea~ao imediata da

empresa Os gestores da Gessy Lever fizeram consultas a seu laboratorio

mandaram recolher produtos para analise despacharam um medico independente e um advogado para a cidade interiorana Em algumas horas respiraram aliviados a mulher raspou a cabe~a

Mesmo assim a Gessy Lever teve que responder a um inquerito policial e definir uma estrategia de comunica~ao para dirimir quaisshy

quer duvidas32

As empresas detem marcas que representam preciosos ativos intangishyveis e que consomem tempo e dinheiro para serem construidas Em deshycorrencia muitas percebem que perder a credibilidade deixando de ser transparentes e de agir rapidamente eurn passo fatal para 0 neg6cio que operam

Caso de repercussao mundial foi 0 da contamina~ao de alimentos pela ra~ao fornecida aos animais nas granjas e fazendas da Belgica A origem da contamina~aofoi um oleo chamado ascarel e os donos da empresa acusada de ter adulterado a ra~ao foram presos

Em junho de 1999 depois de difundido 0 fato sumiram das prateshyleiras dos supermercados os frangos e os ovos a carne de boi e de porco 0 leite a manteiga os queijos e tudo 0 que e feito com esses ingredientes inclusive os chocolates 0 governo belga interditou a disshy

1 IIIU1 IIN(kR jlIql hl I Ilt 11111 I dlmiddotllmiddotrr ill~ndio rcvir Exarne 15 d( lulho de 10~)H

1 II M 1ldlS( l [JIlII 11 I II I I 1 gt fImiddot1 Ilt 11 I Ii fed Irfe de eviral e cllfrelll 1I1ll1 LT-middot (111( ~~flrJI 1l1IU I I I I lid I L lljltl

13

58 Etica Empresarial

tribuigao desses alimentos por suspeita de contaminagao par dioxinas substancias altamente t6xcas que podem causar doengas que vao do diabetes ao cancer

o que deflagrou grave escandalo na Uniao Eurcpeia entretanto foi que 0 governo belga demorou dois meses para revelar que os produshytos estavam impr6prios para 0 consumo A negligencia provocou a renuncia de dois ministros - 0 da Agricultura e 0 da Saude - e levou a suspensao das exportag6es causando um prejuizo avaliado em US$1 545 bilhao Mais ainda deixou aberta a possibilidade de a Belgishyca ser levada a julgamento em uma corte internacional por expor a riscos a populagao do continente europeu33

Em resumo no ultimo quartel do seculo XX a qnestao etica tornoushyse urn imperativo no universo das empresas privadas e par extensao das organizasoes publicas do Primeiro Mundo Converteu-se ate em disciplishyna obrigat6ria nos cursos de Administrasao As razoes residem no essenshycial no fato de que escandalos vieram atona em virtude do desenvolvishymento de uma mfdia plural e dedicada a investigalt53o Atos considerados imorais ou inidoneos peJa coJetividade deixaram de ser encobertos e toshylerados A sociedade civil passon a exercer pressoes eficazes sobre as empresas Isto e dada a sua vulnerabilidade cada vez mais os clientes procuram assegurar a qualidade dos produtos e dos servilt5os adquiridos POl sua vez concorrentes fornecedores investidores autoridades govershynamentais prestadores de servisos e empregados auscultam 0 modus operandi das empresas com as quais mantem relasoes visando policiar fraudes e repudiar alt50es irrespons8veis

Resultados Quando os escandalos eclodem estes geram altos cusshytos multas pesadas quebra de rotinas baixo moral dos empregados aumento da rotatividade dificuldades para recrutar funciowirios qualishyficados frau des internas e perda da confial1lt5a publica na reputalt5ao das empresas 34

Dificilmente os dirigentes empresariais podem manter-se alheios a esse movimento de mobilizalt5ao dosstakeholders Nem 0 posicionamento moral das empresas pode ficar amerce das flutualt50es e das inumeras

33 Revi5ta Veja 16 ue junho de 1999 0 Estado de SPaulo 2 de Jldho k 1l))J

34 NASH Laura L opcit p 4

OJ) I II ckJ

i 11ciencias morais individuais Pautas de orientalt5ao e pad-metros 111

Iillhlcao de conflitos de illteresse tornam-se indispensaveis RepontH lIl[lU

11111 conclusao a moral organizacional virou chave para a pr6pri~1 soh (

~lr~llcia das empresas I materia esra ganhando relevo no Brasil dado 0 porte de sua eeOll

1111 e em funlt5 da 0Plt5 estrategica que foi feita - integrar 0 pli~ (IIIao lll mercado que se globaliza e que exige relalt5oes profissionais e COil lIill1ais Em decorrencia 0 imaginario brasileiro est1 sofrendo lenta~ c rsistentes alteralt5Oes Ha crescente demanda por rransparencia e pruli dlk tanto no nato da coisa publica como nO fornecimento de proclllltJ~

crvilt5os ao mercado Caberia entao as empresas convencionar e prJ i

ao

l I 11gum c6digo de conduta que esteja em sintonia com essas expectt1 IIS Mas sobretudo valeria a pena conceber e implantar um conjunto tk

esccanismos de conrrole que pudesse prevenir as transgtesso as ori(1

IIt)es adotadas

14

As ieorias eticas Com 0 ohar perdido um sobrevivente

do campo de exterminio disse Se Auschwitz existiu Deus nao pode existir Jgt

As linhas de demarcasao

Vma mocinha de 15 anos procura 0 pai e pede-Ihe ajuda para fazer um aboIto Exige no entanto que a mae nao saiba Abalado 0 pai pershygunta quem a engravidou Em um rasgo de maturidade a mocinha Ihe diz que 0 menino tem 16 anos e ponanto e tao crianlta quanto ela Val1os consultar a mae sugere 0 pai Para que pergunta a garota se ja sabemos a resposta Segundo a mae uma catolica praticante 0 aborto constitui urn atentado contra a vida um crime imperdoavel e pOnto final

A moral catolica abriga-se sob as asas de uma etica do dever e sentenshycia falta 0 que esta prescrito Como 0 pai eagnostico a fiIha aposta no dialogo Ele nao CostUlDa repetir respondo par meus atos Quem sabe possa sensibilizar-se com a situaltao deIa QUilta venha a considerar as

impIicalt6es de uma gravidez prematura e a hipoteca que recaira sobre seu futuro de adolescente Nao empate minha vida pai me de uma chance suplica a filha

o pai en tao cai em si Uma vez que sua esposa ja tem posiltao tomashyda para que consulta-Ia Diante de conviclt6es religiosas que tacham 0

abono como um pecado abominavel nao resta margem de manobra A resposta sera sempre um nao sonoro Isso nao corresponde ao modo de

pensar e de agir do pal que nunca deixou de avaliar as conseqilencias do que faz Assim em face do desamparo da filha como nao se comover Algumas interrogalt6es comeltam a assaIta-Io faz sentido minhl men ina ter um bebe fruro da imprudencia Esensato criar lima ltrilIl(1 qlil niio foi dCS(jlCt () qUt rlII~lrJn Os pJrCllles IS llllil~~ 0- 111IIII I

ulras

rdllcidos do clube os professores as colegas da minha filha 0 qLl dill1o 1 pessoas com as quais me relaciono E aquelas com as quais trabalho Iso tudo nao vai comprometer 0 destino dela Ese ell concordar com () Ihorto e alguem souber 0 que vai acontecer

o pai reflete sobre as circunstancias e mede os efeitos possfveis d~

L ~Ja uma das oplt6es que se Ihe apresentam Sua avalialtao e decisi va 1 Itl1sao porem 0 deixa exausto em um processo de crescente ang6sri1 pOLS as conseqiiencias da decisao a ser tomada recaido sobre seus OITlshy

hros Em conrrapartida como ficaria a mulher dele se soubesse do peJi do da filha Certamente nao ficaria desnorteada graltas aresposta pr()n~

1 que tern Eprovavel que aceite com resignaltao a vinda daqueia crian(71

lO mundo e que nao se arormente com os desdobramenros do faro Pm que isso Porque as implicalt6es do cumprimento do dever nao sao de SUl

llcada - simplesmente pertencem a Deus Em resumo estamos diante de duas maneiras oposras de enfocar a qlll

[10 do aborto Melhor dizendo estamos diante de dois modos difnlmiddotllIci

d~ tomar decis6es cada qual derivando de uma matriz etica distinu Ora como a etica teoriza sobre as condutas morais vale iudag11 i~

cxiste uma 6nica teoria etica Absolutamente nao A despeito de () li-t logos fazerem da unicidade da etica um postulado ou apesar (Ii S( 11111

tlcsafio recorrente para muitos filosofos ha pelo menos duas teor lll em como ensina magistralmente Max Weber

1 A etica da convicqao entendida como deonrologia (trataJu dt )t

deveres) 2 A etica da responsabilidade conhecida como teleologia (estudo dlll

fins humanos)l

Escreve Weber

toda atividade orientada pela hica pode ser subordi11ar-se a dlIi 111aximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas Eta )()II orientar-se pela etica del- responsabilidade (verantwortungsethistJ) (11

pela etica da convicqao (gesinnungsethisch) 1sso nao quer dizer tUI

rJtica da convicqao seja identica aausencia de responsabilidade t a dii(

da responsabilidade d (UsciIa de convicqao Nao se trata e(Jidl1I

mente disso Todauia I IIIII (IU-70 abissal entre a atiludr rlt bull7flP II I

I II~I H [Il i I IIJIII II hIIW I i~li4l1 1111 illllili bullbull IDigt 101lt

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

---------_-_ _ ~---__ -------=-_--shy---~~==~---0__ -shy _shy e-_--

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 4: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

Ltll rl fllllr~(mQI

Outra curiosidade chinesa do ponto de vista ocidcnral diz rcspeito ~lOS hlbitos alimentares do pais que seguem uma maxima popular Comeshyse tudo que tem perna menos as mesas tudo que voa menos os avioes c [Udo que nada menos os barcos Assim comem-se ratos e ratazanas cachorros e ate escorpioes que chegam vivos acozinha e depois sao sershyvidos como se fossem Iagostas 6

Milhares de outros exemplos poderiam ser citados hauridos tanto clrls fontes antropo16gicas como dos jornais e revistas de nosso cotidiano

Em setembro de 1999 os telespectadores da Tanzania foram conshy

frontados com imagens de peles humanas ao tado de cadaveres

desmembrados dos quais as peles tinham sido retiradas 0 prego de

cada pele variava entre US$300 e US$500

Representantes das polfcias de Zambia Tanzania e Malaui se comshy

prometeram a atuar em conjunto para par fim ao que qualiticaram como

uma vergonha para a Africa oriental Na regiao sobretudo 110 Zaire

feiticeiros utilizam as peles para produzir pog6es magicas 6rgaos

genitais de criangas convertem-se em pogoes medicinais e a pele da

cabega de homens calvos e um dos insumos para dar sabedoria a

quem a consome

o relativismo cultural ap6ia-se em justificaltoes morais igualmente competentes porque igualmente legitimadas pelas sociedades que as culshytivam Assim as morais sao multiplas e nenhum sistema de normas moshyrais pode pretender obter 0 selo da eternidade ou da universalidade Isso por uma razao bem simples as representacoes mentais os bens simb6lishycos e tudo 0 que e imaginario fincam suas rafzes na hist6ria e portanto mergulham por inteiro nos eventos singulares e em fluxo Assumem pOl isso mesmo carater efemero transit6rio provis6rio passageiro e mutave

Acontece que nenhuma moral se sustenta pura e exclusivamente pelas virtudes de seu discurso Hlti sempre urn embate entre morais diversas que expressam ideologias variadas e representam interesses diferenciashy

6 Foha de SPaulo 6 de fevereiro de 2000 7 SMITH Alex Duvnl Africa combate venda de pele hurnann The Independent reproduzido

pela Folha de SPattlo 29 de outubro de 1999

PI V llJr 1111tQ(

ias111ft tlO rnais das vezcs contradit6rios A exemplo das ideolog a moral IJIIIill~nte em Llma coletividade qualquer efruto de uma reIaltao de forshy

I sc nao cairiamos em um vale-tudO relativista A questao-chave dos problemas da moralidade repousa no conflito de

1111 cresses Em uma primeira instancia os interesses pessoais contrapoemshyil ~ interess coletivos - familiares paroquiais corporativos empresashyes I his comunitarios de categorias sociais classistas nacionais ou suprashyILKionais Em uma segunda instancia algum tipo de interesse coletivo Jlode contrapor-se a outroS de igual ou maior abrangencia 0 pr6prio cgolsmo que expressa in extremis OS interesses privados e pessoais e formulado e endossado por alguma coletividade de modo que toda moshyrl esempre a moral de algum agente coletivo A eficacia de qualquer moral depende dos apoios politicos ou dos agentes que a suportam bern como do arsenal de sanltoes de que as coletividades dispoem para fazer vater seus ditames - sejam estes dogmas sejam estes prop6sitos

Abrindo parenteses 0 que vem a ser as normas sociais Pautas de aao que expressam valores balizas definidas por uma coletividade qualquer para guiar 0 comportamento exigencias que tornam obrigat6rias as conshydutas e operam como fatores de coesao social ou como regras de convivenshycia visando acoexistencia entre interesses contradit6rios Mas pOl que as Dormas sociais sao acatadas Por tres razoes que muitas vezes se conjugam

bull a convicltao de que a vida em sociedade requer 0 respeito a regras de interesse comum (e 0 caso das normas morais) essa convicltao

decone da socializacao ou da reflexao bull a submissao dos agentes diante da amealta representada pOl sanoes

que a coletividade pode exercer (e 0 caso das normas juridicas) bull a adesao motivada pela necessidade de identificar-se e pertencer a

dada coletividade (e 0 caso das normas de etiqueta)8 As normas jurfdicas (leis e regulamentos) dispoem de sanltoes sobre 0

corpo ou as vontades dos agentes sociais Correspondem a reclusoes (prishyvacao de liberdade) ou a outras formas de intimidaltao e sao respaldadas pelo poder poHtico ou pelo monop6tio da violencia que 0 Estado detem POl via de consequencia sua eficacia repousa nos efeitos da coafao extershyna As demais normas por sua vez como as de etiqueta as religiosas lS

esteticas e as morais tern carater simb6lico e implicam a aceitaltao volull

8 FONSECA Eduardo Giannetri dn Vicios PriJados Belle(fcios pliblicos A etica na iqll

llai(oes Sao Pn111o Companhia das Letras 1993 pp 88-91

3

I pl ()(IfI(11

(~Iria dos agcntes [sso n1o quer dizer que estejam dltst it [lfdas de san~6es ngtll(Tltl quem as desrespeitar apenas indica que as san~6es nuo tem carater fisico mas il11aginlthio cultural remetem sobretudo a censura que recai sobre os agentes que transgridem suas pautas A efiCltlcia das normas simb6shylieas reside em boa parte (embora nao exclusivamente) na co4fdo interna

bull oa disciplina da consciencia de seus temores e fantasmas nos pashydroes inculcados pelos agentes sociais ou

bull na dinamica da reflexao madura que convaIida a pertinencia dos mecanismos de regula~ao social e justifica a existencia das regras de convivencia social

Figura 8

Por que se acatam normas (raz6es conjugadas)

Inculca Temor

Fazendo agora uma analise mais afeita ao discurso social comum podemos responder aquestao Para que etica da seguinte maneira na visao mfstica 0 que e julgado no tribunal divino apos a mone Apenas e tao-somente a conduta moral sobressai dentre todos os feitos humanos Na visao secular ao fim e ao cabo 0 que distingue as pessoas Novamenshyte comparece a conduta moral Isso equivale a dizer duas coisas

1 identificam-se 0 bern com as luzes (seja Deus seja a retidao de carMer) e 0 mal Com as trevas (seja Sata seja a falta de escrupulo)

2 em consequencia 0 jufzo de merito implica uma bonifica~ao _ quer a entrada no reino dos ceus quer urn credito social de confian~a

Temos ai chaves preciosas para as reflexoes que seguirao

UflI rJlJ J9

quem Be cleve lcaldadc 1 6tica sempre foi uma disciplina filosofica mas a filosofia ja perdeu

1 ndusividade de seu exercfcio De fato mantido 0 mesmo objeto de ll1do (as morais as praticas que estas pautam ou os fen6menos morais) Ilscllvolveu-se recentemente nova disciplina de carater cientifico

A rJtica filosofica sempre tentou estabelecer princfpios constantes e lI11ivcrsalmente validos para a boa conduta da vida em quaisquer sociedashydes c epocas Definiu 0 bern moral como 0 ideal do melhor agir ou do IllclllOr ser e procurou as fontes da moral nas divindades na natureza ou 110 pensamento racional

Em contrapartida a etica cientffica constata 0 re1ativismo cultural e 0 aJota como pedra angular para tomar inteligiveis os fenomenos morais I)ito de outra forma qua1ifica 0 bern e 0 mal assim como a virtude e 0 vfcio a partir de seus fundamentos sociais e historicos aborda as normas que as coletividades consideram validas sem julga-las investiga e explica a razao de ser da pluralidade da dinamica e da coexistencia das morais hisshytoricas Trata-se de urn discurso demonstrativo com asser~6es verificaveis diferentemente da fi10sofia que consiste em pensar sem provar9

Em sintese a etica filos6fica - ou filosofia da moral - tende a ter urn cadter normativo e de prescri~ao ansiosa por estabelecer uma moral universal cujos prindpios eternos deveriam inspirar os homens malgrado as contingencias de lugar e de tempo

No polo oposto a etica cientffica - ou ciencia da moral - tende a ter urn carater descritivo e explicativo porque centra sua aten~ao no coshynhecimento das regularidades que os fenomenos morais apresentam malgrado sua diversidade cultural e apesar da variedade de seus pressushypostos normativos Na medida do possivel procura preyer a ocorrencia desses mesmos fen6menos

Mas 0 que vern a ser 0 bern ou melhor 0 supremo bem (summum bonum) Ao longo da historia das doutrinas eticas (filosofias morais) 0 que se entendeu pe10 bern em sua plenitude assumiu as mais diversas defini~oes felicidade prazer dever perfei~ao prudencia poder discishyplina mental conhecimento autocontrole ascetismo gra~a de Deus rashyzao prosperidade liberdade igualdade social realiza~ao pessoal sucesshyso Temos diante de nos portanto urn extraordinario leque de hipoteshyses ou de convic~oes que apenas refor~a 0 carater relativista dos valores

9 COMTE-SPONVILLE Andre PequellO Tratado das Grandegt Virtudes Sao Paulo Ma~tins Fonshytes 1995 p 173 4

cultUllt1is c como 6 Lkil ckduzir a Idlcx50 te61ica urio lsli illlUnc as condicionantes hist6ricas

Assim quando estao em jogo problemas morais em vez de procurar a essencia metaflsica do bern parece melhor fazer a seguinte pergunta a quem devemos lealdade

bull Aorganiza~ao em que trabalhamos ou ao chefe imediato bull Aos colegas de trabalho ou aos amigos de fora bull Ao nosso padrinho (quem nos indicou) ou ao c1iente bull Anossa famnia ou a nossa igreja bull Anossa classe social ou ao nosso pais bull Exclusivamente a n6s mesmos (egoismo) ou no extrema oposto a

hUl11anidade como urn todo bull Anossa categoria profissional representada pelo sindicato ou as

nossas conviclt6es ideo16gicas expressas por urn partido polftico bull A urn movimento social que defende causas nobres ou a empresa

que dirigimos Qual seja falar de moral e falar de conflito de interesses Toda relashy

ltao moral implica escolhas algumas tao diffceis que nos levam acatatonia AfinaI nao se pode ser leal a todos e a tudo 0 tempo todo Em sintese no terreno moral nao ha neutralidade possivel e precise posicionar-se Em termos praticos toda decisao beneficia alguns em detrimento de outros pais os afeta desigualmente Ora como compatibilizar as variadas lealdashydes que cultivamos Qual escolha fazer Quem sera beneficiado e quem sera prejudicado

Por exemplo urn advogado nao escolhe seu cliente porque ele fala a verdade ou aparenta ser inocente mas porque na qualidade de cidadao possui direitos que devem ser protegidos Nesses estritos Iimites sob a egide do respeito a lei 0 advogado deve lealdade ao reu unica e exclusivashymente para garantir-lhe urn julgamento justa Vale dizer s6 deve lealdade ao cidadao nao ao cliente em si Da mesma forma 0 promotor publico se preocupa em defender direitos que 0 acusado supostamente lesou 0 proshymotor deve entao lealdade a quem Novamente sob a egide da lei a vftima na sua qualidade de cidada E 0 juiz Deve lealdade a sociedade como urn todo sem discriminar vitimas ou acusados na cega imparcialidashyde da administra~ao da Justi~a presQ ao cumprimento da lei A rigor nem sempre esses preceitos sao observados dai 0 descredito que recai as vezes sobre os tribunais e sobre os membros do aparelho judiciario

Por seu tumo uma agencia de publicidade deve lealdade a quem Ao contratante da campanha publicitaria cliente imediato desta Ao publico

Uluie I ngirln par suo nensagem e que pode vir a tornar-s cons shyII 0 procuto ou usu5rio do servilto A todos ao mesmo tempo Como I III pILI conciliar tantos e taO dlspares interesses Sem uma reflexao a

rnn 0 vabalho da ag~ncia perde a ruma e pode deriva para a mistishyill 1(10 al11edida que ao privilegiar 0 cliente imediato para nao perder 0

llllIW em detrimento dos usuarios finais satisfara apenas os interes-I ais diretamente envolvidos na operaltao Todavia havendo duvidas

IqIlimas a respeito da qualidade do produto ou do servilto a ser anun-I illdo nao caberia uma investiga~ao previa indo ao extremo da suspenshyIl do lanltamento da campanha caso as suspeitas tenham algum fundashyIlltllto Afinal haveria como evitar a co_responsabilidade da agencia e de sa (IS profissionais tendo em vista que uma publicidade engano implicaen vlntuais prejulzoS para os consumidores ou os usuarios finais A ag shy i~1 correria 0 risco de comprometer nao s6 a credibilidade do c1iente shylinda que este possa n~lO se preocupar com 0 fato - mas de manchar a propria reputaltao 0 que fazer entao Aderir as praticas interesseiras e de curto alcance ou cultivar uma cautela escrupulosa A quem a agencia cleve lealdade A uma coletividade restrita ou a uma coletividade mais Hupla ElU tese a resposta e 6bvia Na pratica nem empre a escolha altrulsta prevalece haja vista a ansia de auferir lucros no curto prazo

Vejamo agora a situaltao da administra~ao de recursoS de terceiros ums se forem geridos por corretora ou por banco nao poderi surgir alg conflito de interesse entre os estabelecimentos financeiros e seus clienshytes Eclaro que sim na medida em que aqueles como administradores de recurso poderia usar informa~6es confidenciais ern proveito pr6shymsprio 0 sigilo de opera6es da especie costuma ser garantido par meio das chamadas muralhas da China verdadeiros anteparos que visam a evitar a inside information ou prevenir 0 vazamento de informalt6es conshyfidenciais entre os dientes ou os funcionirios da propria empresa finanshyceira e que tambem consistem em isolar 0 que e informa~ao publica do se qoe e informaao privada As muralhas sao levantadas estabelecendoshydesde separalt6es Hsicas entre os varios departamentos ate condilt6es de trabalho implicam 0 cumprimento de poHticas de investimentoS a que os funcionirios poundicam obrigados sob pena de serem demitidos e levam a mia criaao de departamentoS de fiscalizaO (compliance) com autono em rela~ao a direltao para controlar eventuais deslizes Aqui no caso a lealdade e devida aoS clientes como coletividade de investidores e nao ern primeira mao ao estabelecimento financeiro que prove os serviltos

5

Ulmiddot LllljJH1StJnaf

loll IICT littn

sem 0 que os investidores fugiriam da empresa que nio viesse a Utesgarantir 0 sigilo1O

No primeiro semestre de 2002 a famosa Merryll Lynch fo acusada pelo procurador geraJ de Nova York Eliot Spitzer de ter acobertado

relagoes promscuas entre suas divisoes de analise e investimentos

o procurador acusou os anaJistas de crassificar favoravermente as agoes de empresas que utilizavam os servigos da corretora para coloshycar agoes no mercado Em outras palavras a MerryJl Lynch foi denunshy

ciada como tendo indUZido investidores ao erro com avaliagoes tenshy

denCiosas No mes seguinte ao anuncio da investigagao atingida em cheio em sua credibilidade a corretora perdeu US$11 bilhoes em vashylor de mercado na Boisa

Assim para par tim as acusagoes do procurador geral a empresa fechou um acordo que implicou pagar uma multa de US$1 00 milhoes

US$48 milhoes destinados ao Estado de Nova York e 0 restante a oushytros Estados A corretora tambem se comprometeu a criar um comite para revisar as mUdangas nas classificagoes de agoes e foi obrigada a

controlar a comunicagao entre as areas de analise e de investimento A MerryJJ Lynch nao ticou ao abrigo eclaro da impetragao de agoes

coletivas na Justiga ou do apelo a tribunais de arbitragem privados a

serem desencadeados por investidores que alegam ter perdido mishyIhoes de d6lares por causa de suas analises viciadas

11

Alias no final de 2002 em urn acordo hist6rico com a Procuradoria Ceral de Nova York e a SEC Yisando arquivar acusacoes de que iludiram c1ientes com anaJises tendenciosas quanto ao comportamento de acoes negociadas na Bolsa as maiores Corretoras de Wall Street _ Citigroup Credit Suisse First BOston Merrill Lynch Morgan Stanley Goldman Sachs Lehman Bros Deutsche Bank] P Morgan Bear Stears UBS Paine Webber - acertaram pagar US$l bilhao em multas aMm de US$450 milhoes

10 REBOUCAS lucia Chinese wall gatante 0 sigilo de opera~iio bancaria Cauta Mercantil19 de agosto de 1996

11 Bloomberg e Dow Jones Merryll Lynch paga multa por acusa~iio de induzir investido Cazeta Mercantil 22 de maio de 2002 r

I~r fin~tnciar a distribui~io de anMises indepcndentesc1e outras ernshy

~ll~S que Ilao tern banco de investimento 11

[lortanto a sobrevivencia do neg6cio depende dessa lealdade maio IOS investidores em geral Mais ainda a credibilidade do sistema finallshyl jro como urn todo estaria em jogo se a coletividade de investidores njo h sse respeitada Isso para nao enfrentar questao bern mais abrangente L

dclicada a indagacao a respeito do carater socialmente responsavel dos illvestimentos

Em abril de 1994 The New York Times anunciou um escandalo poshytencial envolvendo 0 maior banco americano 0 Citibank 0 presidenshyIe John Reed e Richard Handley ex-diretor do banco na America Lashy

tina entao presidente de uma subsidiaria do Citi na Argentina a Citicorp Equity Investiment (CEI) teriam feito neg6cios suspeitos na Argentina As operagoes deram muito dinheiro ao banco mas teriam tambelll enriquecido amigos de Handley com 0 conhecimento de Reed

Edesse desvio prejudicial aos demais acionistas do Citi que Handley e Reed sao acusados 0 banco garante que 0 neg6cio argentino fui muito correto

A operagao comegou em 1989 Naquele ano 0 Citibank tinha US$1 bllhao em papeis da dfvida argentina Essa fortuna tinha valor apenas nominal porque os papeis estavam muito desvalorizados 0 pais esshytava em um processo de hiperinflagao e os investidores pagavam apeshynas 11 centavos por um bonus de 1 d61ar do governo argentino Handley convenceu 0 governo a aceitar os bonus em troca de agoes de empreshysas estatais As agoes compradas pelo Citi foram colocadas na CEI criada especialmente para isso

Em 1992 depois que 0 Plano Cavallo trouxe alguma estabilidade a economia argentina 0 pais foi invadido pelos d61ares dos investidores estrangeiros a privatizagao deslanchou eo prego das agoes deu um saishyto enorme A CEI converteu-se na maior holding industrial da Argentina

Mas 0 Citi nao era mais 0 unico dono da CEI Vendeu 60 da emshypresa justamente quando 0 neg6cio estava se valorizando E os comshypradores foram na maioria amigos de Handley um amigo de infancia assumiu 33 das agoes pertencentes a holdjng e a compra cujo

12 GA5PARINO Charles Acordo de U5$14 bilhiio muda pnitica de neg6cios em Wall 511((1 The Wall Street Journal Americas reproduzido pOl 0 Estado de S Paulo 23 de dezembro de 2002 Danco pagara multa recorde nos EUA Gazeta Mercantil 23 a 25 de dezembro d~ 200i 6

I r It rI I IIIl((IIII

montante alcangou US$269 rnilh6es foi (jnanci~j(I I 11110 II i IprlO Citi dois advogados funcionarios da CEI e assessores elu I ItHl(lI y licashy

i

ram com outros 12 da holding (pagaram uma parte em dinheJro e 0 restante em trabalho)

As explicagoes dadas pareceram razoaveis como os acionistas nao recebiam dividendos desde 1991 e como havia pressao do governo norte-americana por causa dos prejuizos seguidos do banco fol preshyciso vender fatias da sUbsidjaria argentina para incorporar 0 lucro ao

seu balan90 e agradar os acionistas Ganhou 0 Citi US$450 milh6es livrando-se dos titulos da divida argentina Os acionistas argumentashy

ram no entanto que 0 CHi deixou de realizar outros US$575 milhoes com essa opera9ao 13

A quem deviam lealdade esses altos funcionarios do Citibank Uma resposta licita poderia ser aos acionistas E por que Porque se trata

de uma coletividade cUja abrangencia emaior do que a rede informal

de poder formada pelos funcionarios envolvidos na Operag30 e porshyque afinal os acionistas sao seus empregadores

Urn dos graves problemas que atormentou a sociedade brasileira no final do seculo XX disse respeito ao deficit da Previdencia Social Por sell vulto amea~ou a estabilidade economica do pals Havia um abissal desequiHbrio entre 0 que ganhava e 0 que Custava um trabalhador do setor privado e outro do setor publico No primeiro caso 0 beneficio obedecia ao teto de R$1200 No segundo caso nao havia limite Ora existiam em 1998 18 milh6es de trabalhadores privados recebendo beshyneffcios pelo INSS e 0 rombo do Instituto chegava a R$78 bilh6es Em contraposi~ao menos de 3 milh6es de trabalhadores do setor publico geravam um deficit de R$34 bilh6es Ou seja atraves dos impostos pashygos 0 conjunto dos brasileiros bancava a aposentadoria de uma pequena minoria No seio desta 905 mil servidores da Uniao Custavam asociedashyde US $18 biIh6es mais do que a saude de toda a populaltao J4 AContece que 0 rombo da Previdencia subiu de R$4224 biIh6es em 1998 para R$723 bilh6es em 2002 e as mesmas distorlt6es permaneceram entre os aposentados 11 eram servidores publicos recebiam 41 dos beneshyfkios e representavam por si s6s um deficit de R$S 62 bilh6es 15

13 Revista Veja 27 de abril de 1994

14 LAHOZ Andre Caiu a ficha revista Exame 18 de novembro de 1998 15 CORREA Crisriane Cad a ceforma reyjsta Exarne 15 de maio de 2002

101 I ((It u

i(Ii LltlC OS dirilOgt lllquirido~ de uns nio se COl1verteram em priviIeshyIII (l~ oblcS beneficiJlldo os bem aquinhoados em uma especie de illllyenicdade invertida A aposentadoria que favorece uma categoria soshy

i I_d 1middotIll detrimento da maioria da populaltao nao perdeu assim sua legishyillilllllde e portanto sua valida~ao moral Escreve JoeImir Beting

( ) saudoso conselheiro Acacio fil6sofo e semi610go costumava adshyIJcrtir 110S idos da Velha Republica (quando s6 3 dos brasileiros voshylavam para presidente) que nos tratos da coisa publica a soma das fwrtes nao pode ser maior do que 0 todo Essa revolta politica contra a Ilritmetica orfamentaria e que esta na raiz de todos os vicios e desvios do Estado contempordneo - no Brasil e 110 mundo A irresponsashyhilidade fiscal pode tel mil explicafoes mas nenhuma justificativa Lla estiola governos que nao se governam nao se deixam governar e fechando aroda da gastanfa publica nao conseguem govemar 0 proshyblema de fundo eque a boa gestdo das contas publicas sem vazios nem desvios sobre ser uma exigencia moral demanda compettncia tecnica e sabedoria potica ou seja duas moedas mais escassas histoshyricamente da administrafao publica H J6

Para superar as in6meras Iinhas divis6rias que demarcam 0 espalto -KiaI aparentemente a tinica safda consistiria em fazer escoIhas que inshyrcressassem ahumanidade como urn todo Esrarfamos assim praticando um aItrulsmo inquestionaveI pois terfamos sempre em mente os bens publicos globais ja que estes nao conhecem fronteiras Bens publicos gIoshybais a serem preservados combatendo-se entre outros 0 narcotrafico a Aids as radia~6es nucleares a polui~ao ambientaI 0 buraco de ozonio 0

efeito estnfa 0 lixo radioativo 0 mercado negro de material fossil a aItera~ao dos ritmos das esta~6es a erosao do solo 0 desemprego tecnoI6gico e 0 terrorismo internacionai Poderfamos tambem investir na defesa dos direitos humanos na redu~ao dos arsenais nucleares e na conshytensao de sna prolifera~ao

Mesmo assim quando essas quest6es vem a ser enfrentadas levanshytam-se as vozes daque1es cujos interesses sao feridos por exemplo nem todos ainda hoje ap6iam 0 respeito aos direitos humanos (pafses totalishytarios e polfcias autoritfuias) nem os traficantes e os viciados endossam 0

combate ao trafico de drogas nem todas as empresas acatam de born

16 BETIlG Joelmir Medo da ordem 0 Estado de SPaulu 11 de junho de 2002 7

111 rlpljf11111

grntlo no lkJsd proihj~1o do lISC) do gas CFC paLl pi C( 1 JI 0 ozonlO

cia atmosfera a partir do ana 2000 em respeito ao Protoco]o de Montreal de 1987 17 E isso embora se saiba que sem 0 escudo estratosferico reshypresentado pelo ozonio a humanidade como urn todo seja mais vulnerashyvel ao cancer de pele e a catarata e que 0 sistema imunol6gico das pessoshyas fique prejudicado 18

Ademais ha conceitos que ainda nao consolidaram seu status de bens piiblicos globais - exemplo da Internet - embora outros estejam a camishynho do consenso como a paz a seguranca a cultura e a justicaY Todavia ern sa consciencia sera que e sempre POSSIVel tomar decisoes tendo a humashyIichde por marco de referencia A complexidade das sociedades contemposhy1middot~11CS e suas fraturas sociais expostas deixam ampla margem aduvida

Em um lugarejo de nome Vladimir Volynskiy cerca de 500 quil6meshytros de Kiev na Ucrania a famma gentia Vavrisevich escondeu sete Judeus de novembro de 1942 a fevereiro de 1944 Alimentou-os e cuishydou-os em uma especie de porao escavado sob 0 assoalho de sua casa Procurou contrapor-se a solugao final nazista (eliminagao dos judeus em campos de exterminio) sem nenhuma salvaguarda contm o pelotao de fuzilamento caso ela fosse denunciada

Os membros dessa familia nao eram guerrilheiros em luta contra 0

invasor nem eram mais religiosos do que a media da populagao crista ortodoxa da aldeia Nao tinham tantas posses que pudessem sustenshytar sem problemas em tempo de guerra sete bocas alem das pr6shyprias mas nao eram anti-semitas ao contrario da esmagadora maioshyria de seus conterraneos Escoilleram apenas fazer a coisa justa quanshydo nao fazer nada ou fazer a coisa injusta era a coisa certa a fazer do ponto de vista de seus interesses 20

Fizeram 0 bem quando a banalidade do mal era a regra

Il HANDYSIDE Gillian CE vai combarer inimigos do ozonio Gazeta Mercantil 2 de jl1lho de 1998 CASTRO Gleise de SATOMI LililIl e CASPANI Eduardo Empresas fazem opltiio pelo verde Gazeta Menantil Latino-americana 2 a 8 de outubro de 2000

IX COCKROFT Claire Dezenove paises estndariio perda de ozonio 0 Estado de SPaulo reshyproduzindo artigo de The Guardia11 29 de janeiro de 2000

I) CALAIS Alexandre ONU ctitica efeiros da globalizaltao Gazeta Menantil 9 a 11 de julho de 1999

lO WEIS Luiz A lista de Vavriseyich 0 Estado de SPaulo 9 de dezembro de 1997

111 II 11111 Iii P lll

l-1l1hOL1 kalcLid~ st 1rLldlL~1 elll termoS de fidelidade a tais OLl quais Illividacks esta muitas vczes assume 0 carater abstrato de lealdade a I illLlpios Oll a ideais isto e 0 inv6lucro ret6rico e ideol6gico contribui Jlr mobilizar os semelhantes Age-se assim em nome da Tradiltao da Iropricdade de Deus da Familia da Religiao da Honta da Lei e da

h dem da Hierarquia e da Disciplina da Superioridade da Ralta da 1nshyk[tndencia Nacional da Revolultao Social do Futuro do Socialismo Ii i lZeino dos Ceus da Paz entre os Povos do Internacionalismo Proletashy110 da Terra Prometida da Fraternidade da Justilta Social da Igualdade

1middot1t De maneira que a pergunta sobre a quem dever lealdade acaba crushyllldo e modelando esta outra lealdade a que Aparece entaO uma lealshy

enta lhde as ideias que funcionam como far6is ou guias as repres lt6es il11aginarias que sao capazes de galvanizar as energias de coletividades hem precisas porque ideais ou prindpios sao preconizados par agentes coletivOs nao sao entidades dissociadas dos interesses materiais que se confrontam socialmente Em ultima instancia raros sao aqueles que deshyfendem algo que va ferir seu modo de vida e suas expectativas com relashy~ao aO futuro Ao contrario todos tendem a esposar pontos de vista e perspectivas que se coadunam com 0 que eles tem de mais precioso - a posiltao que ocupam no espalto social ou a posiltao que imaginam que

merecem oCl1parQuando se fala de Liberdade 0 grito de guerra arregimenta por exemshy

plo bnrgues e plebeus contra 0 Antigo Regime absolutista e seus es estamentos privilegiados (a nobreza e 0 alto clero) pondo em jogo coleshytividades que questionam ou defendem determinado estado de coisas

Quando se fala de religiao niio se trata de algo etereo e nao observavel

mas de uma religiao espedfica que detem certa influencia em dado perf0shy

do hist6rico _ religiao que uma coletividade professa Eposslvel identishyficar uma categoria social que a abralta (cat6lica evangelica judaica

islamica etc) e distinguir quais interesses estao em jogo Ate no caso do ate1smo geralmente os comunistas os anarquistas e os socialistas de forshymalt8o marxista aglutinam-se em um p610 e os fieis de todas as confissoes religiosas formam outro p610 0 confronto ocorre por conseguinte enshytre coletividades que professam esses au aqueies credos e nao entre absshy

res tralt6es formais E a oposilt3o se da entre agentes que sao portado de relaltoes sociais determinadas (ateus versuS categorias religiosas por exemshy

plo) e que personificam contradiltoes

8

-0middot I IJlt I tJ IIIJltIII

Assim OS idearios nao pairam no ar divorciados das coJetividades que os abra~am mas fincam suas raizes nos interesses materiais historicamente defishynidos e correspondem as tradu~6es imaginarias desses mesmos interesses

No final de novembro do ana 2000 no Rio de Janeiro cerca de 3 mil

motoristas auxiliares - trabalhadores que pagam uma diarla aos doshy

nos de taxi - bloquearam 0 transite nas principais vias da cidade

provocando um verdadeiro caos

A manifestag8o foi organizada pelo movimento Diaria Nunca Mais

em protesto contra a liminar concedida pela Justiga e que sustou os

efeitos de uma lei aprovada em lunho pela Camara dos Vereadores e

sancionada pelo prefeito Luiz Paulo Conde Essa lei permitia que a

Prefeitura fornecesse licengas de taxi aos 13 mil motoristas auxiliares

convertendo-os em aut6nomos

o pedido de liminar havia side solicitado pelo Sindicato dos Motoshy

ristas Aut6nomos do Rio de Janeiro js que considerou absurda a enshy

trada de mais concorrentes na praga

Em represalia os motoristas auxilfares abandonaram centenas de

carros nas principais vias de acesso da cidade trancaram-nos e levashy

ram as chaves 0 Batalnao de Choque da Polfcia Mifitar interveio queshy

brou 0 vidro de 40 taxis para soltar 0 freio de mao apreendeu 220

vefculos e prendeu 22 manifestantes 21

A tentativa dos motoristas auxiliares de sensibilizar a popula~ao carioca para que apoiasse 0 movimento saiu pela culatra As lideran~as nao pershyceberam que a tatica utilizada feria os interesses de centenas de milhares de pessoas que deixaram de poder circular livremente levando-os a se insurgir contra os baderneiros que transtornam a vida da cidade Emshybota a reivindicaltao - obten~ao de uma licen~a de taxi - pudesse ser considerada legftima os meios utilizados foram desastrosos e 0 resultado nao poderia ser outro a a~ao de bloquear os acessos ao Rio de Janeiro deu moralmente ganho de causa aos taxistas E por que isso Porque nao foi altrufsta nao levou em considera~ao os interesses daqueles que seshy

21 RODRIGUES Karine Com projeto auxiliar vira prupriet~rio Folha de SPaulo 2S de noshyvembru de 2000

HII 1

ill I Ijlldicados rch 11l1~1 Illtlllld assumiu un) c~Irlll1 lmiddotl lPjVIt1 I

I d gt11 lt(lido condenaJa peLt populaltao ainda que m)is l)rdl q~ IllU

1 11(li 1l1xiliares obtivessem 0 dire ito de pleitear licencsas provis6tins 1111

1 11lt1 Minai 0 que e au nao moral depende tambem da reb~Jo Iv

I-In~ em presell~aI~nl suma como resolver esta questao candente a quem devenws Iv lhk Lan~ando mao de um criterio objetivo que passa par olltr] WI

~~illl) _ a quem beneficia uma a~io determinada e a quem esta precll iii Toda e qualquer altao pode ser submetida a esse erivo Em tese flllll ill) I11dis ampla for uma coletividade beneficiada mais altrulsta scr~i 1

1110 au ao contrario quanto 111ais ampla for uma coletividade prejlldi

i ld) mais exclusivista ou egoista sera a alt5o 15so nos leva a procurar saber como identificar 0 tamanho das colc i

vidadesbull No nfvel macrossocial a maior coletividade possive1 no plan~I~ l sem duvida a humanidade enquanto que abaixo desta vern (ivili

za~6es imperios nalt6es e religi6es bull No nlvel mesossocial coletividades de tamanho intermedi5ril) ~l( 1

as etnias as regi6es au provincias as classes sociais as catcgul i

sociais e os publicos (usuarios au consumidores) bull No nfvel microssocia1 coletividades restritas sao organizalt6es sill

gulares e suas areas componentes ate desembocar nas familia e ILl

menor celula que e 0 individuo

Figura 9

JM II I

Escopo das morais devemos lealdade a quem

lNrERMEDrARlO REsTRtl0 (nivelmcso) (nivel m1CfO)

9

tm SltLJa~oes muiro pecujjare~ OU elll sirlllgt(s (x1 IC I) 11gt _ lteOlllO cnl

algumas escolhas de Sofia - e possivel ser illtrufsta atelldendo a cok 22

tividades menores Mas no caso estariamos diante do que e uiduel fazer nao do que seria 0 mais desejave1 fazer Exatamente con1O nas chashymadas roletas russas que ocorrem em hospitais publicos superlotados quando sobram pacientes criticos nos corredores e aparece uma unica vaga na UTI - 0 que faz 0 medico de plantao Escolhe um dos pacientes ou nada faz porque nao existem vagas para todos

Por que Mica nos neg6cios

As decisoes empresariais nao sao in6cuas an6dinas ou isentas de conseshyquencias carregam Um enorme poder de irradja~ao pe10s epoundeitos que proshyvocam Em termos praticos afetam os stakeholders os agentes que manshytem vinculos com dada organiza~ao isto e os participes ou as partesinteressadas

bull na frente interna temos os traba1hadores gestores e proprietarios(acionistas ou quotistas)

bull na hente externa temos os clientes fornecedores prestadores de servi~os autoridades governamentais bancos credores concorrenshytes mfdia comunidade local e entidades da sociedade civil _ sinshydicatos associa~6es profissionais movimentos sociais clubes de servl~Os e igrejas

Mas por que as decisoes empresariais afetam os ambientes interno e externo Simp1esmel1te porque os agentes sociais sao vulneraveis 0 caso do Tylenol nos Estados Unidos e um exemplo classico

A Johnson amp Johnson possufa 35 do mercado de analgesicos nos Estados Unidos com vendas anuais de US$400 mjlhOes No final de

setembro de 1982 sete pessoas morreram envenenadas apos ingerir Tylenol Contaminado com cianeto As vendas do remedio cairam entao de US$33 milhOes para US$4 milhOes por mes

A JampJ agiu com prontidao recolheu e destruiu 22 milhoes de frasshycos em todo 0 territ6rio norte-americano a um custo de US$100 mi

22 Ver capitulo sobre as teorias eticas

Ii 1111i II01I1I-[CIO ~mlluIJijJltOO( lui InUlllndn IlfllrlllI1l11111l tl~ til

I Ii II ~I lr InlOI ~~~Hd08 0 que rcsullou elll CfllCfJ de 12- I till

II IlrJllcias na mlclJa EtO redor clo lTlundo llulrtllV- dc chantagem reita por um norte-americano qUtl iuho

Ii III l1U(+SIW colocando cianureto em parle do lote distribufclo IW

fii lhicago foi denunciada pela JampJ e 0 culpado mais 1art Iii Ii IIJ preso S6 que antes de a investigagao estar completa e ~ot) () ir ( It tJs ropercussoes publicas a empresa teve que se posicionar

I jnrrmsse medidas corajosas para reverter 0 quadro de c1esconll II I (~riado arriscaria perder 0 pr6prio negocio e nao somenlt~

I reflelo do Tylenol IJuddiu entao tazer 0 recall e descontinuar a produltao do remedl

iI IdangEl-lo com nova embalagem inviolavel Fez campanhas flu GlllrBcimento e ofereceu recompensas pela prisao do assassino 1

lilillas telef6nicas adisposigao para ajudar quem necessitasse 8 ClI

IllOl1strou visivel preocupagao com a tragedia Fez um acordo GlIlf)

vlllor jamais velo a publico com as famllias das sete vitimas G I 11 )11

rJutras US$100 milhOes com a parte fiscal da devolugao dos medII I

rllentos Nao quis correr 0 risco de comprometer sua imagenl C I J III

fragar Afinal a JampJ nao se concebia como mera tabricante de Il~~rllt

dios seu neg6cio estrategico era vender saude segura Havia elabn rado um codigo de conduta que determinava a resposta aproprkJdH para situaltoes de grave emergencia Oualquer mancha sobre sua f

putagao ou sobre a lisura de seus procedimentos colocaria em X

que sua credibilidade Na ocasiao reafirmou seu modo de agir e consolidou sua imagem d~

empresa confiavel e responsavel Posteriormente gastou mais US$15 milhoes em campanhas publicitarias para recuperar 0 mercado perdishydo e obteve enorme sucesso dois anos depois do incidente23

Vamos mais a fundo Edificil acreditar que a empresa tenha a~Sll mido tal postma par mero born mocismo Emais crivel aceitar que (middotLt tenha conjugado seu credo organizacional - que considera a empreSl

23 NASH Laura L Etica nas Empresas boas intemoes J parte Sao PaJlo Makron Books 1) p 36-40 CALDINJ Alexandre Como gerenciar a crise revista Exame 26 de iall~ir I

2000 e revista Exame 8 de novembro de 1995 10

- 1IT11 I 1111 Iol1l iul

respons5vel pelos clientes empregados cOl1lunidade e acionislas - com uma analise estrategica da rela~ao de for~as no mercado re1a~ao esta que a mfdia tao bern ajudou a forjar com alertas regulares aopiniao publica e que se ttaduz na capacidade de os stakeholders boicotarem qualquer entidade que nao proceda de forma socialmente responsavel De maneira que nao e improvavel que 0 proprio credo organizacional tenha sido frushyto de urn contexto hist6rico bern preciso e de uma analise da dinamica social

Malgrado a influencia do codigo elaborado alguns perguntam por que sera que a JampJ fez apenas 0 recall do Tylenol distribufdo nos Estados Unidos e nao no resto do mundo sera que nao inHuiu aqui a percep~ao

de que 0 nive de mobiliza~ao da sociedade civil norte-americana e muito maior do que 0 das sociedades civis de outros paises igualmente consushymidores do produto Se assim nao fosse dizem aquelas vozes bastaria ter recolhido 0 Tylenol na area de Chicago em que daramente se evidenshyciaram os indfcios de viola~ao dos frascos e nao no territ6rio todo dos

II Estados Unidos Eis uma boa pista para penetrar no cerne da etica empresarial Entre

diferentes cursos de a~ao h5 sempre uma escolha a fazer nao seria esse urn motivo razoavel para que a reHexao etica se de nas empresas Por que adotar uma decisao e nao ontra Quais consequencias poderiam advir 0 que poderia prejudicar os neg6cios Quais medidas poderiam ferir os interesses ou os valores de quais stakeholders e quais contribui~6es asoshyciedade seriam bem acolhidas Como tudo isso repercutiria sobre 0 futushyro da empresa Em suma qual resposta estrategica dar nas mais diversas situa~6es de mercado

A bern da verdade em ambiente competitivo as empresas tern uma imagem a resguardar uma reputa~ao uma marca e em paises que desshyfrutam de Estados de Direito a sociedade civil reune condi~6es para mobilizar-se e retaliar as empresas socialmente irresponsaveis ou inid6neas Os c1ientes em particular ao exercitar seu direito de escolha e ao migrar simplesmente para os concorrentes disp6em de uma indiscutivel capacishydade de dissuasao uma especie de arsenal nuclear A cidadania organizashyda pode levar os dirigentes empresariais a agir de forma responsavel em detrimento ate de suas convic~6es intimas

Em outros termos a sociedade civil tern possibilidade de fazer polfshytica pela etica e viabilizar a ado~iio de posturas morais por parte das empresas por meio de uma interven~ao na realidade social Lan~ando

I II~middotmiddot bull - bull

IILill de quais canais ()l illiun1lIl~lltoS Recorrendo a mkil lll~tlii It

hllicote dos produtos vendidos ~IS agencias de defesa clos conslruid()(

)1 cia cidadania como 0 Procon (Funda~ao de Prote~ao e Defesa do (~nn -Iltnidor) a Promotoria de Justi~a e Prote~ao do Consumidor 0 lPCll1

(Institnto de PesOS e Medidas) 0 Centro de Vigilancia Sanitaria 0 Dillto (Departamento de Inspeao de Alimentos) 0 Inmetro (Institu Nad llat de Metrologia Normaliza~ao e Qualidade Industrial) eo Idee (ma i tuto Brasileiro de Defesa do Consumidor) uma organiza~ao nao gltlVLl

lamental

Figura 10

A politiCO pela etica pressoes cidadiis

bpi cote )ugencias cdefes~

Em paises autoritarios ou totalitarios esses recursos sao ponca efiea zes ou nao estao disponiveis e a sociedade civi~ vive arnorda~ada ou sil1lshyplesmente nao existe De forma simetrica em ambientes economicos k chados como nas economias de comando ou noS ambientes de carater semifechado em que prevalecem oligop61ios e carteis a poHtica peb

etica tambem sofre impedimentos Traduzindo a polftica pe1a etica relIne boas condi~6es para HoresClr

quando 0 chamado poder de mercado das empresas esta distribufdo quanshydo existe col11peti~ao efetiva e possibilidades reais de escolha por partl de clientes e usnarios finais Mesmo assim 0 respeito a soberania dos c1ientes ainda nao e moeda corrente em muitos paises e s6 acontece St

11

urI oj 111l1tU tlti

eles gritarem ou fizerem um escaudalo Atestado de dClllollstrJltJo de for~a dos consumidores encontra-se no nurnero de consultas e reclarnashylt6es feitas ao Procon da capital de Sao Paulo 0 nurnero de atendimentos realizados entre 1977 e 1994 foi de 1498517 entre 1995 e 2000 esse numero subiu para 1776492 Isso significa que em 6 anos houve 18500 mais atendimentos do que nos 18 anos anteriores Sem duvida urn cresshycimento vertiginoso 24

Para ilustrar esse poder de fogo vale a pena citar urn caso que chocou a opiniao publica e envolveu a Botica ao Veado DOuro farmacia de manipula~ao centenaria fundada em 1858

Por intermedio de um laboratorio de sua propriedade (Veafarm) foshy

ram produzidos em 1998 1 milhao de comprimidos lnocuos de um

remedio indicado para 0 tratamento de cancer de prostata (Androcur

da Schering do Brasil) Dez pacientes que faleceram na epoca podem ter tide a morte acelerada por terem ingerido 0 placebo Revelado 0

fato a denuncia da falsifica~ao foi repercutida pela midia e teve efeitos devastadores sobre a empresa Desde logo 19 pessoas foram indishy

ciadas pela Justi~a no processo de falsificacgao 25

Seis meses depois as lojas mantidas em importantes shoppings paulistanos (Ibirapuera Morumbi e 19uatemi) tiveram suas portas feshychadas metade dos andares da propria loja matriz no centro de Sao

Paulo foi desocupada 0 faturarnento caiu 80 dos 200 funcionarios que a empresa tinha antes do evento restaram pouco menos de 50 os

fornecedores deixaram de receber em dia26

A clientela nao perdoou 0 desrespeito e a fraude nem a irresponsashybilidade virtualmente homicida Puniu a empresa com urn eficaz boicote

Outta caso que desta vez envolveu diretamente a Schering do Brasil filial da Schering alema merece considera~ao ja que tambem retrata 0

inconformismo dos consurnidores

24 Ver FUllda~ao Procon SP wwwproconspgovbr 25 CONTE Carla ]uiz decrcra prisao de socio da Borica Folha de Sao Paulo 10 de novembro

de 1998 26 BERTON Particia Veado DOuro faz feestrurura~ao Gazeta Menanti 29 de abril de 1999

I ~ II i

I 1fI rY)eados de 199~1 u l~lllt)l Il()rio realizou um t8ste GUn) UInH nOVd

Ililquina embaladora ProduLiu embalagens com piluas anticoncepmiddot

donais Mcrovla sem 0 principio ativo Os placebos das 644 mil carte~as r uu dos 1200 quios de comprirnidos continham lactose com um reshy

vestimento de a~ucar e foram mandados para serem incinerados por

urna empresa especializada Ocorre que em maio a Schering io iniormada por meio de uma

carta anonima que um lote de placebo estarla sendo comercializado

Uma cartela do produto estava anexa Como a empresa ja tinha sido

vltma de remedios ialsos acreditou que a carta anonima era uma tenshy

tativa de chantag Resoveu entao investigar por conta proprla em emmais de uma centena de iarmacias Nada esclareceu

No inicio de iunho uma senhora gravida de um mes entrou em conshy

tato com 0 laboratorio e apresentou as pllulas falsas A Schering levou mais 15 dias apos a denuncia para notiticar a Vlgilancia Sanitaria

Curiosamente 0 fez no dia em que Jornal Nacional da TV Globo evava

ao ar a primeira reportagem a respeito Seu pecado residlu al embora

o aboratorio nada tivesse ialsificado foi displicente no contrale do descarte de placebos e nao alertou a opiniao publica sobre a possibishy

lidade de desvio de parte destes Sua omissao custou-Ihe caro Ate final de agosto 189 mulheres dis-

ramseram ter engravldado vltimas dos placebos que chega as farmashycias A midia moveu uma fortssima campanha contra a empresa afeshy

tando profundamente urna marca criada na Alemanha 127 anos atras

A Procurado Gera do Estado de Sao Paulo e 0 Procon entraram ria

com uma acgao civil publica contra 0 laboratorio pedindo ndeniza~ao por danos morais e materlas A Secretaria de Direito Economico do

Ministerio da Justl~a multou a empresa em quase R$3 mih6es A Vigishy

lancia Sanitaria interditou 0 laboratorio par duas vezes A suspensao

do anticoncepcional durou um mes e meo e for~ou a Schering a

relan~ar 0 produto que ia foi Hder do segmento (tinha 22 do mercashy

do) com nova cor de embalagem o inquerito polcial instaurado sobre 0 caso loi encerrado sem indlshy

car culpado 0 que dificultou tremendamente a recupera~ao da s ver

credibilidade do laboratOrio A Schering teve entao que promo uma milionaria campanha de comunica~aocom gastos avaliados em mais

12

5 Etica tmpresarial

de R$15 milhoes em uma tentativa de reCOnstruir sua imagem queficou muito desgastada e sob suspeita 27

No ano seguinte a matriz alema determinou as suas 50 sUbsidiarias que Suspendessem os testes de novos equipamentos e embalagens usando placebo a tim de evitar que casos como 0 do Microvlar se repetissem pelo mundo A empresa perdeu R$18 milh6es com 0 epishy

sodia samanda as meses em que a praduta esteve fara do mercado

queda nas vendas quando este votou as prateleiras e dois acordosfeitos com consumidoras 28

A Schering do Brasil Jevou tres anos para votar ao topo do mercado de anticoncepcionais em 2001 a participagao no mercado do Microvlar

cllegou a 177 (embora detivesse 22 em 1998) Tres fatores Contrishybuiram para essa recuperagao a) a fideJidade que as consumidoras

em gera mantE~m com a pilula que tomam ja que tem que acertar a dosagem de hormonios e livrar-se dos possiveis efeitos colaterais de seu usa b) 0 baixo prego do produto (3 reais e 50 centavos a cartela 8m 2001) e c) a confianga preservada junto aos medicos que receishytarn 0 anticoncepcionaJ 29

Para quem nao soube avaliar corretamente 0 nivel de exigencia dos dientes e para quem errou redondamente em termos de comunicaao ilti sem dnvida um serio transtorno simpfesmente porque nao ho adeqllado gerenciamento da crise 30 uve

Em um Caso semelhante porem Com reaao rapida e COmpetente bull jhoclia Farma foi aJerracia par um farmaclurico em 1993 de que um Ctela do neuroJitico AmpJictil fora achada dentro de uma caixa do llltialergico Fenergan No rua seguinte 0 laborat6rio soltou um comunicashy

lfTTENCOURT Silvia e CONTE Carla A~ao de Serra e eleitoraJ diz Schering alema Foha de Sll1O 3 de julho de 1998 SCHEINBERG Gabriela Schering foi vitima de crime afjnna uccurivo 0 Estado de sPa~rlo 4 de julho de 1998 PASTORE Karina 0 paraiso dos remeshys clius IJlsiJi(ado revista l1eja 8 de julho de 1998 PFEIFER Ismael Schering gasta milh6esI~III rcconstruir ill1ltlgem Gazeta Mercantil 27 de agosro de 1998

x C()RlJ~A Silvia c ESC()SSJA Fernanda cIa Scherillg cancela res res Com placebo Folha de SItw 26 de selelllbro de 1999

) VII imiddotIinAGA Vi(Lnl( Ivlicrrgtvlar VOa ao 10po do Illcnaltl til prld (middoti~ti1 Merci1ntil 3 ltI IJIIl dl Jon I

11 II~IIR( Fihiubull 11 d Loilllflrnilll((uItI tI 11111 I ~ 11 Jlllio I I))li

011 t lIP (tlco 571

do na televisao advertindo os consumidores Contatou a Vigilancia Sanitashyrin e determinou 0 recolhimento do lote Nao houve vitimas da troca3l

Na primeira pagina de um grande jornal do interior de Sao Paulo a foto de uma rnulher careca afirmando que ficou assim logo depois de usar um xampu da Gessy Lever (xampu Seda urna de suas principais marcas e Ifder do segmento) desencadeou uma rea~ao imediata da

empresa Os gestores da Gessy Lever fizeram consultas a seu laboratorio

mandaram recolher produtos para analise despacharam um medico independente e um advogado para a cidade interiorana Em algumas horas respiraram aliviados a mulher raspou a cabe~a

Mesmo assim a Gessy Lever teve que responder a um inquerito policial e definir uma estrategia de comunica~ao para dirimir quaisshy

quer duvidas32

As empresas detem marcas que representam preciosos ativos intangishyveis e que consomem tempo e dinheiro para serem construidas Em deshycorrencia muitas percebem que perder a credibilidade deixando de ser transparentes e de agir rapidamente eurn passo fatal para 0 neg6cio que operam

Caso de repercussao mundial foi 0 da contamina~ao de alimentos pela ra~ao fornecida aos animais nas granjas e fazendas da Belgica A origem da contamina~aofoi um oleo chamado ascarel e os donos da empresa acusada de ter adulterado a ra~ao foram presos

Em junho de 1999 depois de difundido 0 fato sumiram das prateshyleiras dos supermercados os frangos e os ovos a carne de boi e de porco 0 leite a manteiga os queijos e tudo 0 que e feito com esses ingredientes inclusive os chocolates 0 governo belga interditou a disshy

1 IIIU1 IIN(kR jlIql hl I Ilt 11111 I dlmiddotllmiddotrr ill~ndio rcvir Exarne 15 d( lulho de 10~)H

1 II M 1ldlS( l [JIlII 11 I II I I 1 gt fImiddot1 Ilt 11 I Ii fed Irfe de eviral e cllfrelll 1I1ll1 LT-middot (111( ~~flrJI 1l1IU I I I I lid I L lljltl

13

58 Etica Empresarial

tribuigao desses alimentos por suspeita de contaminagao par dioxinas substancias altamente t6xcas que podem causar doengas que vao do diabetes ao cancer

o que deflagrou grave escandalo na Uniao Eurcpeia entretanto foi que 0 governo belga demorou dois meses para revelar que os produshytos estavam impr6prios para 0 consumo A negligencia provocou a renuncia de dois ministros - 0 da Agricultura e 0 da Saude - e levou a suspensao das exportag6es causando um prejuizo avaliado em US$1 545 bilhao Mais ainda deixou aberta a possibilidade de a Belgishyca ser levada a julgamento em uma corte internacional por expor a riscos a populagao do continente europeu33

Em resumo no ultimo quartel do seculo XX a qnestao etica tornoushyse urn imperativo no universo das empresas privadas e par extensao das organizasoes publicas do Primeiro Mundo Converteu-se ate em disciplishyna obrigat6ria nos cursos de Administrasao As razoes residem no essenshycial no fato de que escandalos vieram atona em virtude do desenvolvishymento de uma mfdia plural e dedicada a investigalt53o Atos considerados imorais ou inidoneos peJa coJetividade deixaram de ser encobertos e toshylerados A sociedade civil passon a exercer pressoes eficazes sobre as empresas Isto e dada a sua vulnerabilidade cada vez mais os clientes procuram assegurar a qualidade dos produtos e dos servilt5os adquiridos POl sua vez concorrentes fornecedores investidores autoridades govershynamentais prestadores de servisos e empregados auscultam 0 modus operandi das empresas com as quais mantem relasoes visando policiar fraudes e repudiar alt50es irrespons8veis

Resultados Quando os escandalos eclodem estes geram altos cusshytos multas pesadas quebra de rotinas baixo moral dos empregados aumento da rotatividade dificuldades para recrutar funciowirios qualishyficados frau des internas e perda da confial1lt5a publica na reputalt5ao das empresas 34

Dificilmente os dirigentes empresariais podem manter-se alheios a esse movimento de mobilizalt5ao dosstakeholders Nem 0 posicionamento moral das empresas pode ficar amerce das flutualt50es e das inumeras

33 Revi5ta Veja 16 ue junho de 1999 0 Estado de SPaulo 2 de Jldho k 1l))J

34 NASH Laura L opcit p 4

OJ) I II ckJ

i 11ciencias morais individuais Pautas de orientalt5ao e pad-metros 111

Iillhlcao de conflitos de illteresse tornam-se indispensaveis RepontH lIl[lU

11111 conclusao a moral organizacional virou chave para a pr6pri~1 soh (

~lr~llcia das empresas I materia esra ganhando relevo no Brasil dado 0 porte de sua eeOll

1111 e em funlt5 da 0Plt5 estrategica que foi feita - integrar 0 pli~ (IIIao lll mercado que se globaliza e que exige relalt5oes profissionais e COil lIill1ais Em decorrencia 0 imaginario brasileiro est1 sofrendo lenta~ c rsistentes alteralt5Oes Ha crescente demanda por rransparencia e pruli dlk tanto no nato da coisa publica como nO fornecimento de proclllltJ~

crvilt5os ao mercado Caberia entao as empresas convencionar e prJ i

ao

l I 11gum c6digo de conduta que esteja em sintonia com essas expectt1 IIS Mas sobretudo valeria a pena conceber e implantar um conjunto tk

esccanismos de conrrole que pudesse prevenir as transgtesso as ori(1

IIt)es adotadas

14

As ieorias eticas Com 0 ohar perdido um sobrevivente

do campo de exterminio disse Se Auschwitz existiu Deus nao pode existir Jgt

As linhas de demarcasao

Vma mocinha de 15 anos procura 0 pai e pede-Ihe ajuda para fazer um aboIto Exige no entanto que a mae nao saiba Abalado 0 pai pershygunta quem a engravidou Em um rasgo de maturidade a mocinha Ihe diz que 0 menino tem 16 anos e ponanto e tao crianlta quanto ela Val1os consultar a mae sugere 0 pai Para que pergunta a garota se ja sabemos a resposta Segundo a mae uma catolica praticante 0 aborto constitui urn atentado contra a vida um crime imperdoavel e pOnto final

A moral catolica abriga-se sob as asas de uma etica do dever e sentenshycia falta 0 que esta prescrito Como 0 pai eagnostico a fiIha aposta no dialogo Ele nao CostUlDa repetir respondo par meus atos Quem sabe possa sensibilizar-se com a situaltao deIa QUilta venha a considerar as

impIicalt6es de uma gravidez prematura e a hipoteca que recaira sobre seu futuro de adolescente Nao empate minha vida pai me de uma chance suplica a filha

o pai en tao cai em si Uma vez que sua esposa ja tem posiltao tomashyda para que consulta-Ia Diante de conviclt6es religiosas que tacham 0

abono como um pecado abominavel nao resta margem de manobra A resposta sera sempre um nao sonoro Isso nao corresponde ao modo de

pensar e de agir do pal que nunca deixou de avaliar as conseqilencias do que faz Assim em face do desamparo da filha como nao se comover Algumas interrogalt6es comeltam a assaIta-Io faz sentido minhl men ina ter um bebe fruro da imprudencia Esensato criar lima ltrilIl(1 qlil niio foi dCS(jlCt () qUt rlII~lrJn Os pJrCllles IS llllil~~ 0- 111IIII I

ulras

rdllcidos do clube os professores as colegas da minha filha 0 qLl dill1o 1 pessoas com as quais me relaciono E aquelas com as quais trabalho Iso tudo nao vai comprometer 0 destino dela Ese ell concordar com () Ihorto e alguem souber 0 que vai acontecer

o pai reflete sobre as circunstancias e mede os efeitos possfveis d~

L ~Ja uma das oplt6es que se Ihe apresentam Sua avalialtao e decisi va 1 Itl1sao porem 0 deixa exausto em um processo de crescente ang6sri1 pOLS as conseqiiencias da decisao a ser tomada recaido sobre seus OITlshy

hros Em conrrapartida como ficaria a mulher dele se soubesse do peJi do da filha Certamente nao ficaria desnorteada graltas aresposta pr()n~

1 que tern Eprovavel que aceite com resignaltao a vinda daqueia crian(71

lO mundo e que nao se arormente com os desdobramenros do faro Pm que isso Porque as implicalt6es do cumprimento do dever nao sao de SUl

llcada - simplesmente pertencem a Deus Em resumo estamos diante de duas maneiras oposras de enfocar a qlll

[10 do aborto Melhor dizendo estamos diante de dois modos difnlmiddotllIci

d~ tomar decis6es cada qual derivando de uma matriz etica distinu Ora como a etica teoriza sobre as condutas morais vale iudag11 i~

cxiste uma 6nica teoria etica Absolutamente nao A despeito de () li-t logos fazerem da unicidade da etica um postulado ou apesar (Ii S( 11111

tlcsafio recorrente para muitos filosofos ha pelo menos duas teor lll em como ensina magistralmente Max Weber

1 A etica da convicqao entendida como deonrologia (trataJu dt )t

deveres) 2 A etica da responsabilidade conhecida como teleologia (estudo dlll

fins humanos)l

Escreve Weber

toda atividade orientada pela hica pode ser subordi11ar-se a dlIi 111aximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas Eta )()II orientar-se pela etica del- responsabilidade (verantwortungsethistJ) (11

pela etica da convicqao (gesinnungsethisch) 1sso nao quer dizer tUI

rJtica da convicqao seja identica aausencia de responsabilidade t a dii(

da responsabilidade d (UsciIa de convicqao Nao se trata e(Jidl1I

mente disso Todauia I IIIII (IU-70 abissal entre a atiludr rlt bull7flP II I

I II~I H [Il i I IIJIII II hIIW I i~li4l1 1111 illllili bullbull IDigt 101lt

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 5: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

I pl ()(IfI(11

(~Iria dos agcntes [sso n1o quer dizer que estejam dltst it [lfdas de san~6es ngtll(Tltl quem as desrespeitar apenas indica que as san~6es nuo tem carater fisico mas il11aginlthio cultural remetem sobretudo a censura que recai sobre os agentes que transgridem suas pautas A efiCltlcia das normas simb6shylieas reside em boa parte (embora nao exclusivamente) na co4fdo interna

bull oa disciplina da consciencia de seus temores e fantasmas nos pashydroes inculcados pelos agentes sociais ou

bull na dinamica da reflexao madura que convaIida a pertinencia dos mecanismos de regula~ao social e justifica a existencia das regras de convivencia social

Figura 8

Por que se acatam normas (raz6es conjugadas)

Inculca Temor

Fazendo agora uma analise mais afeita ao discurso social comum podemos responder aquestao Para que etica da seguinte maneira na visao mfstica 0 que e julgado no tribunal divino apos a mone Apenas e tao-somente a conduta moral sobressai dentre todos os feitos humanos Na visao secular ao fim e ao cabo 0 que distingue as pessoas Novamenshyte comparece a conduta moral Isso equivale a dizer duas coisas

1 identificam-se 0 bern com as luzes (seja Deus seja a retidao de carMer) e 0 mal Com as trevas (seja Sata seja a falta de escrupulo)

2 em consequencia 0 jufzo de merito implica uma bonifica~ao _ quer a entrada no reino dos ceus quer urn credito social de confian~a

Temos ai chaves preciosas para as reflexoes que seguirao

UflI rJlJ J9

quem Be cleve lcaldadc 1 6tica sempre foi uma disciplina filosofica mas a filosofia ja perdeu

1 ndusividade de seu exercfcio De fato mantido 0 mesmo objeto de ll1do (as morais as praticas que estas pautam ou os fen6menos morais) Ilscllvolveu-se recentemente nova disciplina de carater cientifico

A rJtica filosofica sempre tentou estabelecer princfpios constantes e lI11ivcrsalmente validos para a boa conduta da vida em quaisquer sociedashydes c epocas Definiu 0 bern moral como 0 ideal do melhor agir ou do IllclllOr ser e procurou as fontes da moral nas divindades na natureza ou 110 pensamento racional

Em contrapartida a etica cientffica constata 0 re1ativismo cultural e 0 aJota como pedra angular para tomar inteligiveis os fenomenos morais I)ito de outra forma qua1ifica 0 bern e 0 mal assim como a virtude e 0 vfcio a partir de seus fundamentos sociais e historicos aborda as normas que as coletividades consideram validas sem julga-las investiga e explica a razao de ser da pluralidade da dinamica e da coexistencia das morais hisshytoricas Trata-se de urn discurso demonstrativo com asser~6es verificaveis diferentemente da fi10sofia que consiste em pensar sem provar9

Em sintese a etica filos6fica - ou filosofia da moral - tende a ter urn cadter normativo e de prescri~ao ansiosa por estabelecer uma moral universal cujos prindpios eternos deveriam inspirar os homens malgrado as contingencias de lugar e de tempo

No polo oposto a etica cientffica - ou ciencia da moral - tende a ter urn carater descritivo e explicativo porque centra sua aten~ao no coshynhecimento das regularidades que os fenomenos morais apresentam malgrado sua diversidade cultural e apesar da variedade de seus pressushypostos normativos Na medida do possivel procura preyer a ocorrencia desses mesmos fen6menos

Mas 0 que vern a ser 0 bern ou melhor 0 supremo bem (summum bonum) Ao longo da historia das doutrinas eticas (filosofias morais) 0 que se entendeu pe10 bern em sua plenitude assumiu as mais diversas defini~oes felicidade prazer dever perfei~ao prudencia poder discishyplina mental conhecimento autocontrole ascetismo gra~a de Deus rashyzao prosperidade liberdade igualdade social realiza~ao pessoal sucesshyso Temos diante de nos portanto urn extraordinario leque de hipoteshyses ou de convic~oes que apenas refor~a 0 carater relativista dos valores

9 COMTE-SPONVILLE Andre PequellO Tratado das Grandegt Virtudes Sao Paulo Ma~tins Fonshytes 1995 p 173 4

cultUllt1is c como 6 Lkil ckduzir a Idlcx50 te61ica urio lsli illlUnc as condicionantes hist6ricas

Assim quando estao em jogo problemas morais em vez de procurar a essencia metaflsica do bern parece melhor fazer a seguinte pergunta a quem devemos lealdade

bull Aorganiza~ao em que trabalhamos ou ao chefe imediato bull Aos colegas de trabalho ou aos amigos de fora bull Ao nosso padrinho (quem nos indicou) ou ao c1iente bull Anossa famnia ou a nossa igreja bull Anossa classe social ou ao nosso pais bull Exclusivamente a n6s mesmos (egoismo) ou no extrema oposto a

hUl11anidade como urn todo bull Anossa categoria profissional representada pelo sindicato ou as

nossas conviclt6es ideo16gicas expressas por urn partido polftico bull A urn movimento social que defende causas nobres ou a empresa

que dirigimos Qual seja falar de moral e falar de conflito de interesses Toda relashy

ltao moral implica escolhas algumas tao diffceis que nos levam acatatonia AfinaI nao se pode ser leal a todos e a tudo 0 tempo todo Em sintese no terreno moral nao ha neutralidade possivel e precise posicionar-se Em termos praticos toda decisao beneficia alguns em detrimento de outros pais os afeta desigualmente Ora como compatibilizar as variadas lealdashydes que cultivamos Qual escolha fazer Quem sera beneficiado e quem sera prejudicado

Por exemplo urn advogado nao escolhe seu cliente porque ele fala a verdade ou aparenta ser inocente mas porque na qualidade de cidadao possui direitos que devem ser protegidos Nesses estritos Iimites sob a egide do respeito a lei 0 advogado deve lealdade ao reu unica e exclusivashymente para garantir-lhe urn julgamento justa Vale dizer s6 deve lealdade ao cidadao nao ao cliente em si Da mesma forma 0 promotor publico se preocupa em defender direitos que 0 acusado supostamente lesou 0 proshymotor deve entao lealdade a quem Novamente sob a egide da lei a vftima na sua qualidade de cidada E 0 juiz Deve lealdade a sociedade como urn todo sem discriminar vitimas ou acusados na cega imparcialidashyde da administra~ao da Justi~a presQ ao cumprimento da lei A rigor nem sempre esses preceitos sao observados dai 0 descredito que recai as vezes sobre os tribunais e sobre os membros do aparelho judiciario

Por seu tumo uma agencia de publicidade deve lealdade a quem Ao contratante da campanha publicitaria cliente imediato desta Ao publico

Uluie I ngirln par suo nensagem e que pode vir a tornar-s cons shyII 0 procuto ou usu5rio do servilto A todos ao mesmo tempo Como I III pILI conciliar tantos e taO dlspares interesses Sem uma reflexao a

rnn 0 vabalho da ag~ncia perde a ruma e pode deriva para a mistishyill 1(10 al11edida que ao privilegiar 0 cliente imediato para nao perder 0

llllIW em detrimento dos usuarios finais satisfara apenas os interes-I ais diretamente envolvidos na operaltao Todavia havendo duvidas

IqIlimas a respeito da qualidade do produto ou do servilto a ser anun-I illdo nao caberia uma investiga~ao previa indo ao extremo da suspenshyIl do lanltamento da campanha caso as suspeitas tenham algum fundashyIlltllto Afinal haveria como evitar a co_responsabilidade da agencia e de sa (IS profissionais tendo em vista que uma publicidade engano implicaen vlntuais prejulzoS para os consumidores ou os usuarios finais A ag shy i~1 correria 0 risco de comprometer nao s6 a credibilidade do c1iente shylinda que este possa n~lO se preocupar com 0 fato - mas de manchar a propria reputaltao 0 que fazer entao Aderir as praticas interesseiras e de curto alcance ou cultivar uma cautela escrupulosa A quem a agencia cleve lealdade A uma coletividade restrita ou a uma coletividade mais Hupla ElU tese a resposta e 6bvia Na pratica nem empre a escolha altrulsta prevalece haja vista a ansia de auferir lucros no curto prazo

Vejamo agora a situaltao da administra~ao de recursoS de terceiros ums se forem geridos por corretora ou por banco nao poderi surgir alg conflito de interesse entre os estabelecimentos financeiros e seus clienshytes Eclaro que sim na medida em que aqueles como administradores de recurso poderia usar informa~6es confidenciais ern proveito pr6shymsprio 0 sigilo de opera6es da especie costuma ser garantido par meio das chamadas muralhas da China verdadeiros anteparos que visam a evitar a inside information ou prevenir 0 vazamento de informalt6es conshyfidenciais entre os dientes ou os funcionirios da propria empresa finanshyceira e que tambem consistem em isolar 0 que e informa~ao publica do se qoe e informaao privada As muralhas sao levantadas estabelecendoshydesde separalt6es Hsicas entre os varios departamentos ate condilt6es de trabalho implicam 0 cumprimento de poHticas de investimentoS a que os funcionirios poundicam obrigados sob pena de serem demitidos e levam a mia criaao de departamentoS de fiscalizaO (compliance) com autono em rela~ao a direltao para controlar eventuais deslizes Aqui no caso a lealdade e devida aoS clientes como coletividade de investidores e nao ern primeira mao ao estabelecimento financeiro que prove os serviltos

5

Ulmiddot LllljJH1StJnaf

loll IICT littn

sem 0 que os investidores fugiriam da empresa que nio viesse a Utesgarantir 0 sigilo1O

No primeiro semestre de 2002 a famosa Merryll Lynch fo acusada pelo procurador geraJ de Nova York Eliot Spitzer de ter acobertado

relagoes promscuas entre suas divisoes de analise e investimentos

o procurador acusou os anaJistas de crassificar favoravermente as agoes de empresas que utilizavam os servigos da corretora para coloshycar agoes no mercado Em outras palavras a MerryJl Lynch foi denunshy

ciada como tendo indUZido investidores ao erro com avaliagoes tenshy

denCiosas No mes seguinte ao anuncio da investigagao atingida em cheio em sua credibilidade a corretora perdeu US$11 bilhoes em vashylor de mercado na Boisa

Assim para par tim as acusagoes do procurador geral a empresa fechou um acordo que implicou pagar uma multa de US$1 00 milhoes

US$48 milhoes destinados ao Estado de Nova York e 0 restante a oushytros Estados A corretora tambem se comprometeu a criar um comite para revisar as mUdangas nas classificagoes de agoes e foi obrigada a

controlar a comunicagao entre as areas de analise e de investimento A MerryJJ Lynch nao ticou ao abrigo eclaro da impetragao de agoes

coletivas na Justiga ou do apelo a tribunais de arbitragem privados a

serem desencadeados por investidores que alegam ter perdido mishyIhoes de d6lares por causa de suas analises viciadas

11

Alias no final de 2002 em urn acordo hist6rico com a Procuradoria Ceral de Nova York e a SEC Yisando arquivar acusacoes de que iludiram c1ientes com anaJises tendenciosas quanto ao comportamento de acoes negociadas na Bolsa as maiores Corretoras de Wall Street _ Citigroup Credit Suisse First BOston Merrill Lynch Morgan Stanley Goldman Sachs Lehman Bros Deutsche Bank] P Morgan Bear Stears UBS Paine Webber - acertaram pagar US$l bilhao em multas aMm de US$450 milhoes

10 REBOUCAS lucia Chinese wall gatante 0 sigilo de opera~iio bancaria Cauta Mercantil19 de agosto de 1996

11 Bloomberg e Dow Jones Merryll Lynch paga multa por acusa~iio de induzir investido Cazeta Mercantil 22 de maio de 2002 r

I~r fin~tnciar a distribui~io de anMises indepcndentesc1e outras ernshy

~ll~S que Ilao tern banco de investimento 11

[lortanto a sobrevivencia do neg6cio depende dessa lealdade maio IOS investidores em geral Mais ainda a credibilidade do sistema finallshyl jro como urn todo estaria em jogo se a coletividade de investidores njo h sse respeitada Isso para nao enfrentar questao bern mais abrangente L

dclicada a indagacao a respeito do carater socialmente responsavel dos illvestimentos

Em abril de 1994 The New York Times anunciou um escandalo poshytencial envolvendo 0 maior banco americano 0 Citibank 0 presidenshyIe John Reed e Richard Handley ex-diretor do banco na America Lashy

tina entao presidente de uma subsidiaria do Citi na Argentina a Citicorp Equity Investiment (CEI) teriam feito neg6cios suspeitos na Argentina As operagoes deram muito dinheiro ao banco mas teriam tambelll enriquecido amigos de Handley com 0 conhecimento de Reed

Edesse desvio prejudicial aos demais acionistas do Citi que Handley e Reed sao acusados 0 banco garante que 0 neg6cio argentino fui muito correto

A operagao comegou em 1989 Naquele ano 0 Citibank tinha US$1 bllhao em papeis da dfvida argentina Essa fortuna tinha valor apenas nominal porque os papeis estavam muito desvalorizados 0 pais esshytava em um processo de hiperinflagao e os investidores pagavam apeshynas 11 centavos por um bonus de 1 d61ar do governo argentino Handley convenceu 0 governo a aceitar os bonus em troca de agoes de empreshysas estatais As agoes compradas pelo Citi foram colocadas na CEI criada especialmente para isso

Em 1992 depois que 0 Plano Cavallo trouxe alguma estabilidade a economia argentina 0 pais foi invadido pelos d61ares dos investidores estrangeiros a privatizagao deslanchou eo prego das agoes deu um saishyto enorme A CEI converteu-se na maior holding industrial da Argentina

Mas 0 Citi nao era mais 0 unico dono da CEI Vendeu 60 da emshypresa justamente quando 0 neg6cio estava se valorizando E os comshypradores foram na maioria amigos de Handley um amigo de infancia assumiu 33 das agoes pertencentes a holdjng e a compra cujo

12 GA5PARINO Charles Acordo de U5$14 bilhiio muda pnitica de neg6cios em Wall 511((1 The Wall Street Journal Americas reproduzido pOl 0 Estado de S Paulo 23 de dezembro de 2002 Danco pagara multa recorde nos EUA Gazeta Mercantil 23 a 25 de dezembro d~ 200i 6

I r It rI I IIIl((IIII

montante alcangou US$269 rnilh6es foi (jnanci~j(I I 11110 II i IprlO Citi dois advogados funcionarios da CEI e assessores elu I ItHl(lI y licashy

i

ram com outros 12 da holding (pagaram uma parte em dinheJro e 0 restante em trabalho)

As explicagoes dadas pareceram razoaveis como os acionistas nao recebiam dividendos desde 1991 e como havia pressao do governo norte-americana por causa dos prejuizos seguidos do banco fol preshyciso vender fatias da sUbsidjaria argentina para incorporar 0 lucro ao

seu balan90 e agradar os acionistas Ganhou 0 Citi US$450 milh6es livrando-se dos titulos da divida argentina Os acionistas argumentashy

ram no entanto que 0 CHi deixou de realizar outros US$575 milhoes com essa opera9ao 13

A quem deviam lealdade esses altos funcionarios do Citibank Uma resposta licita poderia ser aos acionistas E por que Porque se trata

de uma coletividade cUja abrangencia emaior do que a rede informal

de poder formada pelos funcionarios envolvidos na Operag30 e porshyque afinal os acionistas sao seus empregadores

Urn dos graves problemas que atormentou a sociedade brasileira no final do seculo XX disse respeito ao deficit da Previdencia Social Por sell vulto amea~ou a estabilidade economica do pals Havia um abissal desequiHbrio entre 0 que ganhava e 0 que Custava um trabalhador do setor privado e outro do setor publico No primeiro caso 0 beneficio obedecia ao teto de R$1200 No segundo caso nao havia limite Ora existiam em 1998 18 milh6es de trabalhadores privados recebendo beshyneffcios pelo INSS e 0 rombo do Instituto chegava a R$78 bilh6es Em contraposi~ao menos de 3 milh6es de trabalhadores do setor publico geravam um deficit de R$34 bilh6es Ou seja atraves dos impostos pashygos 0 conjunto dos brasileiros bancava a aposentadoria de uma pequena minoria No seio desta 905 mil servidores da Uniao Custavam asociedashyde US $18 biIh6es mais do que a saude de toda a populaltao J4 AContece que 0 rombo da Previdencia subiu de R$4224 biIh6es em 1998 para R$723 bilh6es em 2002 e as mesmas distorlt6es permaneceram entre os aposentados 11 eram servidores publicos recebiam 41 dos beneshyfkios e representavam por si s6s um deficit de R$S 62 bilh6es 15

13 Revista Veja 27 de abril de 1994

14 LAHOZ Andre Caiu a ficha revista Exame 18 de novembro de 1998 15 CORREA Crisriane Cad a ceforma reyjsta Exarne 15 de maio de 2002

101 I ((It u

i(Ii LltlC OS dirilOgt lllquirido~ de uns nio se COl1verteram em priviIeshyIII (l~ oblcS beneficiJlldo os bem aquinhoados em uma especie de illllyenicdade invertida A aposentadoria que favorece uma categoria soshy

i I_d 1middotIll detrimento da maioria da populaltao nao perdeu assim sua legishyillilllllde e portanto sua valida~ao moral Escreve JoeImir Beting

( ) saudoso conselheiro Acacio fil6sofo e semi610go costumava adshyIJcrtir 110S idos da Velha Republica (quando s6 3 dos brasileiros voshylavam para presidente) que nos tratos da coisa publica a soma das fwrtes nao pode ser maior do que 0 todo Essa revolta politica contra a Ilritmetica orfamentaria e que esta na raiz de todos os vicios e desvios do Estado contempordneo - no Brasil e 110 mundo A irresponsashyhilidade fiscal pode tel mil explicafoes mas nenhuma justificativa Lla estiola governos que nao se governam nao se deixam governar e fechando aroda da gastanfa publica nao conseguem govemar 0 proshyblema de fundo eque a boa gestdo das contas publicas sem vazios nem desvios sobre ser uma exigencia moral demanda compettncia tecnica e sabedoria potica ou seja duas moedas mais escassas histoshyricamente da administrafao publica H J6

Para superar as in6meras Iinhas divis6rias que demarcam 0 espalto -KiaI aparentemente a tinica safda consistiria em fazer escoIhas que inshyrcressassem ahumanidade como urn todo Esrarfamos assim praticando um aItrulsmo inquestionaveI pois terfamos sempre em mente os bens publicos globais ja que estes nao conhecem fronteiras Bens publicos gIoshybais a serem preservados combatendo-se entre outros 0 narcotrafico a Aids as radia~6es nucleares a polui~ao ambientaI 0 buraco de ozonio 0

efeito estnfa 0 lixo radioativo 0 mercado negro de material fossil a aItera~ao dos ritmos das esta~6es a erosao do solo 0 desemprego tecnoI6gico e 0 terrorismo internacionai Poderfamos tambem investir na defesa dos direitos humanos na redu~ao dos arsenais nucleares e na conshytensao de sna prolifera~ao

Mesmo assim quando essas quest6es vem a ser enfrentadas levanshytam-se as vozes daque1es cujos interesses sao feridos por exemplo nem todos ainda hoje ap6iam 0 respeito aos direitos humanos (pafses totalishytarios e polfcias autoritfuias) nem os traficantes e os viciados endossam 0

combate ao trafico de drogas nem todas as empresas acatam de born

16 BETIlG Joelmir Medo da ordem 0 Estado de SPaulu 11 de junho de 2002 7

111 rlpljf11111

grntlo no lkJsd proihj~1o do lISC) do gas CFC paLl pi C( 1 JI 0 ozonlO

cia atmosfera a partir do ana 2000 em respeito ao Protoco]o de Montreal de 1987 17 E isso embora se saiba que sem 0 escudo estratosferico reshypresentado pelo ozonio a humanidade como urn todo seja mais vulnerashyvel ao cancer de pele e a catarata e que 0 sistema imunol6gico das pessoshyas fique prejudicado 18

Ademais ha conceitos que ainda nao consolidaram seu status de bens piiblicos globais - exemplo da Internet - embora outros estejam a camishynho do consenso como a paz a seguranca a cultura e a justicaY Todavia ern sa consciencia sera que e sempre POSSIVel tomar decisoes tendo a humashyIichde por marco de referencia A complexidade das sociedades contemposhy1middot~11CS e suas fraturas sociais expostas deixam ampla margem aduvida

Em um lugarejo de nome Vladimir Volynskiy cerca de 500 quil6meshytros de Kiev na Ucrania a famma gentia Vavrisevich escondeu sete Judeus de novembro de 1942 a fevereiro de 1944 Alimentou-os e cuishydou-os em uma especie de porao escavado sob 0 assoalho de sua casa Procurou contrapor-se a solugao final nazista (eliminagao dos judeus em campos de exterminio) sem nenhuma salvaguarda contm o pelotao de fuzilamento caso ela fosse denunciada

Os membros dessa familia nao eram guerrilheiros em luta contra 0

invasor nem eram mais religiosos do que a media da populagao crista ortodoxa da aldeia Nao tinham tantas posses que pudessem sustenshytar sem problemas em tempo de guerra sete bocas alem das pr6shyprias mas nao eram anti-semitas ao contrario da esmagadora maioshyria de seus conterraneos Escoilleram apenas fazer a coisa justa quanshydo nao fazer nada ou fazer a coisa injusta era a coisa certa a fazer do ponto de vista de seus interesses 20

Fizeram 0 bem quando a banalidade do mal era a regra

Il HANDYSIDE Gillian CE vai combarer inimigos do ozonio Gazeta Mercantil 2 de jl1lho de 1998 CASTRO Gleise de SATOMI LililIl e CASPANI Eduardo Empresas fazem opltiio pelo verde Gazeta Menantil Latino-americana 2 a 8 de outubro de 2000

IX COCKROFT Claire Dezenove paises estndariio perda de ozonio 0 Estado de SPaulo reshyproduzindo artigo de The Guardia11 29 de janeiro de 2000

I) CALAIS Alexandre ONU ctitica efeiros da globalizaltao Gazeta Menantil 9 a 11 de julho de 1999

lO WEIS Luiz A lista de Vavriseyich 0 Estado de SPaulo 9 de dezembro de 1997

111 II 11111 Iii P lll

l-1l1hOL1 kalcLid~ st 1rLldlL~1 elll termoS de fidelidade a tais OLl quais Illividacks esta muitas vczes assume 0 carater abstrato de lealdade a I illLlpios Oll a ideais isto e 0 inv6lucro ret6rico e ideol6gico contribui Jlr mobilizar os semelhantes Age-se assim em nome da Tradiltao da Iropricdade de Deus da Familia da Religiao da Honta da Lei e da

h dem da Hierarquia e da Disciplina da Superioridade da Ralta da 1nshyk[tndencia Nacional da Revolultao Social do Futuro do Socialismo Ii i lZeino dos Ceus da Paz entre os Povos do Internacionalismo Proletashy110 da Terra Prometida da Fraternidade da Justilta Social da Igualdade

1middot1t De maneira que a pergunta sobre a quem dever lealdade acaba crushyllldo e modelando esta outra lealdade a que Aparece entaO uma lealshy

enta lhde as ideias que funcionam como far6is ou guias as repres lt6es il11aginarias que sao capazes de galvanizar as energias de coletividades hem precisas porque ideais ou prindpios sao preconizados par agentes coletivOs nao sao entidades dissociadas dos interesses materiais que se confrontam socialmente Em ultima instancia raros sao aqueles que deshyfendem algo que va ferir seu modo de vida e suas expectativas com relashy~ao aO futuro Ao contrario todos tendem a esposar pontos de vista e perspectivas que se coadunam com 0 que eles tem de mais precioso - a posiltao que ocupam no espalto social ou a posiltao que imaginam que

merecem oCl1parQuando se fala de Liberdade 0 grito de guerra arregimenta por exemshy

plo bnrgues e plebeus contra 0 Antigo Regime absolutista e seus es estamentos privilegiados (a nobreza e 0 alto clero) pondo em jogo coleshytividades que questionam ou defendem determinado estado de coisas

Quando se fala de religiao niio se trata de algo etereo e nao observavel

mas de uma religiao espedfica que detem certa influencia em dado perf0shy

do hist6rico _ religiao que uma coletividade professa Eposslvel identishyficar uma categoria social que a abralta (cat6lica evangelica judaica

islamica etc) e distinguir quais interesses estao em jogo Ate no caso do ate1smo geralmente os comunistas os anarquistas e os socialistas de forshymalt8o marxista aglutinam-se em um p610 e os fieis de todas as confissoes religiosas formam outro p610 0 confronto ocorre por conseguinte enshytre coletividades que professam esses au aqueies credos e nao entre absshy

res tralt6es formais E a oposilt3o se da entre agentes que sao portado de relaltoes sociais determinadas (ateus versuS categorias religiosas por exemshy

plo) e que personificam contradiltoes

8

-0middot I IJlt I tJ IIIJltIII

Assim OS idearios nao pairam no ar divorciados das coJetividades que os abra~am mas fincam suas raizes nos interesses materiais historicamente defishynidos e correspondem as tradu~6es imaginarias desses mesmos interesses

No final de novembro do ana 2000 no Rio de Janeiro cerca de 3 mil

motoristas auxiliares - trabalhadores que pagam uma diarla aos doshy

nos de taxi - bloquearam 0 transite nas principais vias da cidade

provocando um verdadeiro caos

A manifestag8o foi organizada pelo movimento Diaria Nunca Mais

em protesto contra a liminar concedida pela Justiga e que sustou os

efeitos de uma lei aprovada em lunho pela Camara dos Vereadores e

sancionada pelo prefeito Luiz Paulo Conde Essa lei permitia que a

Prefeitura fornecesse licengas de taxi aos 13 mil motoristas auxiliares

convertendo-os em aut6nomos

o pedido de liminar havia side solicitado pelo Sindicato dos Motoshy

ristas Aut6nomos do Rio de Janeiro js que considerou absurda a enshy

trada de mais concorrentes na praga

Em represalia os motoristas auxilfares abandonaram centenas de

carros nas principais vias de acesso da cidade trancaram-nos e levashy

ram as chaves 0 Batalnao de Choque da Polfcia Mifitar interveio queshy

brou 0 vidro de 40 taxis para soltar 0 freio de mao apreendeu 220

vefculos e prendeu 22 manifestantes 21

A tentativa dos motoristas auxiliares de sensibilizar a popula~ao carioca para que apoiasse 0 movimento saiu pela culatra As lideran~as nao pershyceberam que a tatica utilizada feria os interesses de centenas de milhares de pessoas que deixaram de poder circular livremente levando-os a se insurgir contra os baderneiros que transtornam a vida da cidade Emshybota a reivindicaltao - obten~ao de uma licen~a de taxi - pudesse ser considerada legftima os meios utilizados foram desastrosos e 0 resultado nao poderia ser outro a a~ao de bloquear os acessos ao Rio de Janeiro deu moralmente ganho de causa aos taxistas E por que isso Porque nao foi altrufsta nao levou em considera~ao os interesses daqueles que seshy

21 RODRIGUES Karine Com projeto auxiliar vira prupriet~rio Folha de SPaulo 2S de noshyvembru de 2000

HII 1

ill I Ijlldicados rch 11l1~1 Illtlllld assumiu un) c~Irlll1 lmiddotl lPjVIt1 I

I d gt11 lt(lido condenaJa peLt populaltao ainda que m)is l)rdl q~ IllU

1 11(li 1l1xiliares obtivessem 0 dire ito de pleitear licencsas provis6tins 1111

1 11lt1 Minai 0 que e au nao moral depende tambem da reb~Jo Iv

I-In~ em presell~aI~nl suma como resolver esta questao candente a quem devenws Iv lhk Lan~ando mao de um criterio objetivo que passa par olltr] WI

~~illl) _ a quem beneficia uma a~io determinada e a quem esta precll iii Toda e qualquer altao pode ser submetida a esse erivo Em tese flllll ill) I11dis ampla for uma coletividade beneficiada mais altrulsta scr~i 1

1110 au ao contrario quanto 111ais ampla for uma coletividade prejlldi

i ld) mais exclusivista ou egoista sera a alt5o 15so nos leva a procurar saber como identificar 0 tamanho das colc i

vidadesbull No nfvel macrossocial a maior coletividade possive1 no plan~I~ l sem duvida a humanidade enquanto que abaixo desta vern (ivili

za~6es imperios nalt6es e religi6es bull No nlvel mesossocial coletividades de tamanho intermedi5ril) ~l( 1

as etnias as regi6es au provincias as classes sociais as catcgul i

sociais e os publicos (usuarios au consumidores) bull No nfvel microssocia1 coletividades restritas sao organizalt6es sill

gulares e suas areas componentes ate desembocar nas familia e ILl

menor celula que e 0 individuo

Figura 9

JM II I

Escopo das morais devemos lealdade a quem

lNrERMEDrARlO REsTRtl0 (nivelmcso) (nivel m1CfO)

9

tm SltLJa~oes muiro pecujjare~ OU elll sirlllgt(s (x1 IC I) 11gt _ lteOlllO cnl

algumas escolhas de Sofia - e possivel ser illtrufsta atelldendo a cok 22

tividades menores Mas no caso estariamos diante do que e uiduel fazer nao do que seria 0 mais desejave1 fazer Exatamente con1O nas chashymadas roletas russas que ocorrem em hospitais publicos superlotados quando sobram pacientes criticos nos corredores e aparece uma unica vaga na UTI - 0 que faz 0 medico de plantao Escolhe um dos pacientes ou nada faz porque nao existem vagas para todos

Por que Mica nos neg6cios

As decisoes empresariais nao sao in6cuas an6dinas ou isentas de conseshyquencias carregam Um enorme poder de irradja~ao pe10s epoundeitos que proshyvocam Em termos praticos afetam os stakeholders os agentes que manshytem vinculos com dada organiza~ao isto e os participes ou as partesinteressadas

bull na frente interna temos os traba1hadores gestores e proprietarios(acionistas ou quotistas)

bull na hente externa temos os clientes fornecedores prestadores de servi~os autoridades governamentais bancos credores concorrenshytes mfdia comunidade local e entidades da sociedade civil _ sinshydicatos associa~6es profissionais movimentos sociais clubes de servl~Os e igrejas

Mas por que as decisoes empresariais afetam os ambientes interno e externo Simp1esmel1te porque os agentes sociais sao vulneraveis 0 caso do Tylenol nos Estados Unidos e um exemplo classico

A Johnson amp Johnson possufa 35 do mercado de analgesicos nos Estados Unidos com vendas anuais de US$400 mjlhOes No final de

setembro de 1982 sete pessoas morreram envenenadas apos ingerir Tylenol Contaminado com cianeto As vendas do remedio cairam entao de US$33 milhOes para US$4 milhOes por mes

A JampJ agiu com prontidao recolheu e destruiu 22 milhoes de frasshycos em todo 0 territ6rio norte-americano a um custo de US$100 mi

22 Ver capitulo sobre as teorias eticas

Ii 1111i II01I1I-[CIO ~mlluIJijJltOO( lui InUlllndn IlfllrlllI1l11111l tl~ til

I Ii II ~I lr InlOI ~~~Hd08 0 que rcsullou elll CfllCfJ de 12- I till

II IlrJllcias na mlclJa EtO redor clo lTlundo llulrtllV- dc chantagem reita por um norte-americano qUtl iuho

Ii III l1U(+SIW colocando cianureto em parle do lote distribufclo IW

fii lhicago foi denunciada pela JampJ e 0 culpado mais 1art Iii Ii IIJ preso S6 que antes de a investigagao estar completa e ~ot) () ir ( It tJs ropercussoes publicas a empresa teve que se posicionar

I jnrrmsse medidas corajosas para reverter 0 quadro de c1esconll II I (~riado arriscaria perder 0 pr6prio negocio e nao somenlt~

I reflelo do Tylenol IJuddiu entao tazer 0 recall e descontinuar a produltao do remedl

iI IdangEl-lo com nova embalagem inviolavel Fez campanhas flu GlllrBcimento e ofereceu recompensas pela prisao do assassino 1

lilillas telef6nicas adisposigao para ajudar quem necessitasse 8 ClI

IllOl1strou visivel preocupagao com a tragedia Fez um acordo GlIlf)

vlllor jamais velo a publico com as famllias das sete vitimas G I 11 )11

rJutras US$100 milhOes com a parte fiscal da devolugao dos medII I

rllentos Nao quis correr 0 risco de comprometer sua imagenl C I J III

fragar Afinal a JampJ nao se concebia como mera tabricante de Il~~rllt

dios seu neg6cio estrategico era vender saude segura Havia elabn rado um codigo de conduta que determinava a resposta aproprkJdH para situaltoes de grave emergencia Oualquer mancha sobre sua f

putagao ou sobre a lisura de seus procedimentos colocaria em X

que sua credibilidade Na ocasiao reafirmou seu modo de agir e consolidou sua imagem d~

empresa confiavel e responsavel Posteriormente gastou mais US$15 milhoes em campanhas publicitarias para recuperar 0 mercado perdishydo e obteve enorme sucesso dois anos depois do incidente23

Vamos mais a fundo Edificil acreditar que a empresa tenha a~Sll mido tal postma par mero born mocismo Emais crivel aceitar que (middotLt tenha conjugado seu credo organizacional - que considera a empreSl

23 NASH Laura L Etica nas Empresas boas intemoes J parte Sao PaJlo Makron Books 1) p 36-40 CALDINJ Alexandre Como gerenciar a crise revista Exame 26 de iall~ir I

2000 e revista Exame 8 de novembro de 1995 10

- 1IT11 I 1111 Iol1l iul

respons5vel pelos clientes empregados cOl1lunidade e acionislas - com uma analise estrategica da rela~ao de for~as no mercado re1a~ao esta que a mfdia tao bern ajudou a forjar com alertas regulares aopiniao publica e que se ttaduz na capacidade de os stakeholders boicotarem qualquer entidade que nao proceda de forma socialmente responsavel De maneira que nao e improvavel que 0 proprio credo organizacional tenha sido frushyto de urn contexto hist6rico bern preciso e de uma analise da dinamica social

Malgrado a influencia do codigo elaborado alguns perguntam por que sera que a JampJ fez apenas 0 recall do Tylenol distribufdo nos Estados Unidos e nao no resto do mundo sera que nao inHuiu aqui a percep~ao

de que 0 nive de mobiliza~ao da sociedade civil norte-americana e muito maior do que 0 das sociedades civis de outros paises igualmente consushymidores do produto Se assim nao fosse dizem aquelas vozes bastaria ter recolhido 0 Tylenol na area de Chicago em que daramente se evidenshyciaram os indfcios de viola~ao dos frascos e nao no territ6rio todo dos

II Estados Unidos Eis uma boa pista para penetrar no cerne da etica empresarial Entre

diferentes cursos de a~ao h5 sempre uma escolha a fazer nao seria esse urn motivo razoavel para que a reHexao etica se de nas empresas Por que adotar uma decisao e nao ontra Quais consequencias poderiam advir 0 que poderia prejudicar os neg6cios Quais medidas poderiam ferir os interesses ou os valores de quais stakeholders e quais contribui~6es asoshyciedade seriam bem acolhidas Como tudo isso repercutiria sobre 0 futushyro da empresa Em suma qual resposta estrategica dar nas mais diversas situa~6es de mercado

A bern da verdade em ambiente competitivo as empresas tern uma imagem a resguardar uma reputa~ao uma marca e em paises que desshyfrutam de Estados de Direito a sociedade civil reune condi~6es para mobilizar-se e retaliar as empresas socialmente irresponsaveis ou inid6neas Os c1ientes em particular ao exercitar seu direito de escolha e ao migrar simplesmente para os concorrentes disp6em de uma indiscutivel capacishydade de dissuasao uma especie de arsenal nuclear A cidadania organizashyda pode levar os dirigentes empresariais a agir de forma responsavel em detrimento ate de suas convic~6es intimas

Em outros termos a sociedade civil tern possibilidade de fazer polfshytica pela etica e viabilizar a ado~iio de posturas morais por parte das empresas por meio de uma interven~ao na realidade social Lan~ando

I II~middotmiddot bull - bull

IILill de quais canais ()l illiun1lIl~lltoS Recorrendo a mkil lll~tlii It

hllicote dos produtos vendidos ~IS agencias de defesa clos conslruid()(

)1 cia cidadania como 0 Procon (Funda~ao de Prote~ao e Defesa do (~nn -Iltnidor) a Promotoria de Justi~a e Prote~ao do Consumidor 0 lPCll1

(Institnto de PesOS e Medidas) 0 Centro de Vigilancia Sanitaria 0 Dillto (Departamento de Inspeao de Alimentos) 0 Inmetro (Institu Nad llat de Metrologia Normaliza~ao e Qualidade Industrial) eo Idee (ma i tuto Brasileiro de Defesa do Consumidor) uma organiza~ao nao gltlVLl

lamental

Figura 10

A politiCO pela etica pressoes cidadiis

bpi cote )ugencias cdefes~

Em paises autoritarios ou totalitarios esses recursos sao ponca efiea zes ou nao estao disponiveis e a sociedade civi~ vive arnorda~ada ou sil1lshyplesmente nao existe De forma simetrica em ambientes economicos k chados como nas economias de comando ou noS ambientes de carater semifechado em que prevalecem oligop61ios e carteis a poHtica peb

etica tambem sofre impedimentos Traduzindo a polftica pe1a etica relIne boas condi~6es para HoresClr

quando 0 chamado poder de mercado das empresas esta distribufdo quanshydo existe col11peti~ao efetiva e possibilidades reais de escolha por partl de clientes e usnarios finais Mesmo assim 0 respeito a soberania dos c1ientes ainda nao e moeda corrente em muitos paises e s6 acontece St

11

urI oj 111l1tU tlti

eles gritarem ou fizerem um escaudalo Atestado de dClllollstrJltJo de for~a dos consumidores encontra-se no nurnero de consultas e reclarnashylt6es feitas ao Procon da capital de Sao Paulo 0 nurnero de atendimentos realizados entre 1977 e 1994 foi de 1498517 entre 1995 e 2000 esse numero subiu para 1776492 Isso significa que em 6 anos houve 18500 mais atendimentos do que nos 18 anos anteriores Sem duvida urn cresshycimento vertiginoso 24

Para ilustrar esse poder de fogo vale a pena citar urn caso que chocou a opiniao publica e envolveu a Botica ao Veado DOuro farmacia de manipula~ao centenaria fundada em 1858

Por intermedio de um laboratorio de sua propriedade (Veafarm) foshy

ram produzidos em 1998 1 milhao de comprimidos lnocuos de um

remedio indicado para 0 tratamento de cancer de prostata (Androcur

da Schering do Brasil) Dez pacientes que faleceram na epoca podem ter tide a morte acelerada por terem ingerido 0 placebo Revelado 0

fato a denuncia da falsifica~ao foi repercutida pela midia e teve efeitos devastadores sobre a empresa Desde logo 19 pessoas foram indishy

ciadas pela Justi~a no processo de falsificacgao 25

Seis meses depois as lojas mantidas em importantes shoppings paulistanos (Ibirapuera Morumbi e 19uatemi) tiveram suas portas feshychadas metade dos andares da propria loja matriz no centro de Sao

Paulo foi desocupada 0 faturarnento caiu 80 dos 200 funcionarios que a empresa tinha antes do evento restaram pouco menos de 50 os

fornecedores deixaram de receber em dia26

A clientela nao perdoou 0 desrespeito e a fraude nem a irresponsashybilidade virtualmente homicida Puniu a empresa com urn eficaz boicote

Outta caso que desta vez envolveu diretamente a Schering do Brasil filial da Schering alema merece considera~ao ja que tambem retrata 0

inconformismo dos consurnidores

24 Ver FUllda~ao Procon SP wwwproconspgovbr 25 CONTE Carla ]uiz decrcra prisao de socio da Borica Folha de Sao Paulo 10 de novembro

de 1998 26 BERTON Particia Veado DOuro faz feestrurura~ao Gazeta Menanti 29 de abril de 1999

I ~ II i

I 1fI rY)eados de 199~1 u l~lllt)l Il()rio realizou um t8ste GUn) UInH nOVd

Ililquina embaladora ProduLiu embalagens com piluas anticoncepmiddot

donais Mcrovla sem 0 principio ativo Os placebos das 644 mil carte~as r uu dos 1200 quios de comprirnidos continham lactose com um reshy

vestimento de a~ucar e foram mandados para serem incinerados por

urna empresa especializada Ocorre que em maio a Schering io iniormada por meio de uma

carta anonima que um lote de placebo estarla sendo comercializado

Uma cartela do produto estava anexa Como a empresa ja tinha sido

vltma de remedios ialsos acreditou que a carta anonima era uma tenshy

tativa de chantag Resoveu entao investigar por conta proprla em emmais de uma centena de iarmacias Nada esclareceu

No inicio de iunho uma senhora gravida de um mes entrou em conshy

tato com 0 laboratorio e apresentou as pllulas falsas A Schering levou mais 15 dias apos a denuncia para notiticar a Vlgilancia Sanitaria

Curiosamente 0 fez no dia em que Jornal Nacional da TV Globo evava

ao ar a primeira reportagem a respeito Seu pecado residlu al embora

o aboratorio nada tivesse ialsificado foi displicente no contrale do descarte de placebos e nao alertou a opiniao publica sobre a possibishy

lidade de desvio de parte destes Sua omissao custou-Ihe caro Ate final de agosto 189 mulheres dis-

ramseram ter engravldado vltimas dos placebos que chega as farmashycias A midia moveu uma fortssima campanha contra a empresa afeshy

tando profundamente urna marca criada na Alemanha 127 anos atras

A Procurado Gera do Estado de Sao Paulo e 0 Procon entraram ria

com uma acgao civil publica contra 0 laboratorio pedindo ndeniza~ao por danos morais e materlas A Secretaria de Direito Economico do

Ministerio da Justl~a multou a empresa em quase R$3 mih6es A Vigishy

lancia Sanitaria interditou 0 laboratorio par duas vezes A suspensao

do anticoncepcional durou um mes e meo e for~ou a Schering a

relan~ar 0 produto que ia foi Hder do segmento (tinha 22 do mercashy

do) com nova cor de embalagem o inquerito polcial instaurado sobre 0 caso loi encerrado sem indlshy

car culpado 0 que dificultou tremendamente a recupera~ao da s ver

credibilidade do laboratOrio A Schering teve entao que promo uma milionaria campanha de comunica~aocom gastos avaliados em mais

12

5 Etica tmpresarial

de R$15 milhoes em uma tentativa de reCOnstruir sua imagem queficou muito desgastada e sob suspeita 27

No ano seguinte a matriz alema determinou as suas 50 sUbsidiarias que Suspendessem os testes de novos equipamentos e embalagens usando placebo a tim de evitar que casos como 0 do Microvlar se repetissem pelo mundo A empresa perdeu R$18 milh6es com 0 epishy

sodia samanda as meses em que a praduta esteve fara do mercado

queda nas vendas quando este votou as prateleiras e dois acordosfeitos com consumidoras 28

A Schering do Brasil Jevou tres anos para votar ao topo do mercado de anticoncepcionais em 2001 a participagao no mercado do Microvlar

cllegou a 177 (embora detivesse 22 em 1998) Tres fatores Contrishybuiram para essa recuperagao a) a fideJidade que as consumidoras

em gera mantE~m com a pilula que tomam ja que tem que acertar a dosagem de hormonios e livrar-se dos possiveis efeitos colaterais de seu usa b) 0 baixo prego do produto (3 reais e 50 centavos a cartela 8m 2001) e c) a confianga preservada junto aos medicos que receishytarn 0 anticoncepcionaJ 29

Para quem nao soube avaliar corretamente 0 nivel de exigencia dos dientes e para quem errou redondamente em termos de comunicaao ilti sem dnvida um serio transtorno simpfesmente porque nao ho adeqllado gerenciamento da crise 30 uve

Em um Caso semelhante porem Com reaao rapida e COmpetente bull jhoclia Farma foi aJerracia par um farmaclurico em 1993 de que um Ctela do neuroJitico AmpJictil fora achada dentro de uma caixa do llltialergico Fenergan No rua seguinte 0 laborat6rio soltou um comunicashy

lfTTENCOURT Silvia e CONTE Carla A~ao de Serra e eleitoraJ diz Schering alema Foha de Sll1O 3 de julho de 1998 SCHEINBERG Gabriela Schering foi vitima de crime afjnna uccurivo 0 Estado de sPa~rlo 4 de julho de 1998 PASTORE Karina 0 paraiso dos remeshys clius IJlsiJi(ado revista l1eja 8 de julho de 1998 PFEIFER Ismael Schering gasta milh6esI~III rcconstruir ill1ltlgem Gazeta Mercantil 27 de agosro de 1998

x C()RlJ~A Silvia c ESC()SSJA Fernanda cIa Scherillg cancela res res Com placebo Folha de SItw 26 de selelllbro de 1999

) VII imiddotIinAGA Vi(Lnl( Ivlicrrgtvlar VOa ao 10po do Illcnaltl til prld (middoti~ti1 Merci1ntil 3 ltI IJIIl dl Jon I

11 II~IIR( Fihiubull 11 d Loilllflrnilll((uItI tI 11111 I ~ 11 Jlllio I I))li

011 t lIP (tlco 571

do na televisao advertindo os consumidores Contatou a Vigilancia Sanitashyrin e determinou 0 recolhimento do lote Nao houve vitimas da troca3l

Na primeira pagina de um grande jornal do interior de Sao Paulo a foto de uma rnulher careca afirmando que ficou assim logo depois de usar um xampu da Gessy Lever (xampu Seda urna de suas principais marcas e Ifder do segmento) desencadeou uma rea~ao imediata da

empresa Os gestores da Gessy Lever fizeram consultas a seu laboratorio

mandaram recolher produtos para analise despacharam um medico independente e um advogado para a cidade interiorana Em algumas horas respiraram aliviados a mulher raspou a cabe~a

Mesmo assim a Gessy Lever teve que responder a um inquerito policial e definir uma estrategia de comunica~ao para dirimir quaisshy

quer duvidas32

As empresas detem marcas que representam preciosos ativos intangishyveis e que consomem tempo e dinheiro para serem construidas Em deshycorrencia muitas percebem que perder a credibilidade deixando de ser transparentes e de agir rapidamente eurn passo fatal para 0 neg6cio que operam

Caso de repercussao mundial foi 0 da contamina~ao de alimentos pela ra~ao fornecida aos animais nas granjas e fazendas da Belgica A origem da contamina~aofoi um oleo chamado ascarel e os donos da empresa acusada de ter adulterado a ra~ao foram presos

Em junho de 1999 depois de difundido 0 fato sumiram das prateshyleiras dos supermercados os frangos e os ovos a carne de boi e de porco 0 leite a manteiga os queijos e tudo 0 que e feito com esses ingredientes inclusive os chocolates 0 governo belga interditou a disshy

1 IIIU1 IIN(kR jlIql hl I Ilt 11111 I dlmiddotllmiddotrr ill~ndio rcvir Exarne 15 d( lulho de 10~)H

1 II M 1ldlS( l [JIlII 11 I II I I 1 gt fImiddot1 Ilt 11 I Ii fed Irfe de eviral e cllfrelll 1I1ll1 LT-middot (111( ~~flrJI 1l1IU I I I I lid I L lljltl

13

58 Etica Empresarial

tribuigao desses alimentos por suspeita de contaminagao par dioxinas substancias altamente t6xcas que podem causar doengas que vao do diabetes ao cancer

o que deflagrou grave escandalo na Uniao Eurcpeia entretanto foi que 0 governo belga demorou dois meses para revelar que os produshytos estavam impr6prios para 0 consumo A negligencia provocou a renuncia de dois ministros - 0 da Agricultura e 0 da Saude - e levou a suspensao das exportag6es causando um prejuizo avaliado em US$1 545 bilhao Mais ainda deixou aberta a possibilidade de a Belgishyca ser levada a julgamento em uma corte internacional por expor a riscos a populagao do continente europeu33

Em resumo no ultimo quartel do seculo XX a qnestao etica tornoushyse urn imperativo no universo das empresas privadas e par extensao das organizasoes publicas do Primeiro Mundo Converteu-se ate em disciplishyna obrigat6ria nos cursos de Administrasao As razoes residem no essenshycial no fato de que escandalos vieram atona em virtude do desenvolvishymento de uma mfdia plural e dedicada a investigalt53o Atos considerados imorais ou inidoneos peJa coJetividade deixaram de ser encobertos e toshylerados A sociedade civil passon a exercer pressoes eficazes sobre as empresas Isto e dada a sua vulnerabilidade cada vez mais os clientes procuram assegurar a qualidade dos produtos e dos servilt5os adquiridos POl sua vez concorrentes fornecedores investidores autoridades govershynamentais prestadores de servisos e empregados auscultam 0 modus operandi das empresas com as quais mantem relasoes visando policiar fraudes e repudiar alt50es irrespons8veis

Resultados Quando os escandalos eclodem estes geram altos cusshytos multas pesadas quebra de rotinas baixo moral dos empregados aumento da rotatividade dificuldades para recrutar funciowirios qualishyficados frau des internas e perda da confial1lt5a publica na reputalt5ao das empresas 34

Dificilmente os dirigentes empresariais podem manter-se alheios a esse movimento de mobilizalt5ao dosstakeholders Nem 0 posicionamento moral das empresas pode ficar amerce das flutualt50es e das inumeras

33 Revi5ta Veja 16 ue junho de 1999 0 Estado de SPaulo 2 de Jldho k 1l))J

34 NASH Laura L opcit p 4

OJ) I II ckJ

i 11ciencias morais individuais Pautas de orientalt5ao e pad-metros 111

Iillhlcao de conflitos de illteresse tornam-se indispensaveis RepontH lIl[lU

11111 conclusao a moral organizacional virou chave para a pr6pri~1 soh (

~lr~llcia das empresas I materia esra ganhando relevo no Brasil dado 0 porte de sua eeOll

1111 e em funlt5 da 0Plt5 estrategica que foi feita - integrar 0 pli~ (IIIao lll mercado que se globaliza e que exige relalt5oes profissionais e COil lIill1ais Em decorrencia 0 imaginario brasileiro est1 sofrendo lenta~ c rsistentes alteralt5Oes Ha crescente demanda por rransparencia e pruli dlk tanto no nato da coisa publica como nO fornecimento de proclllltJ~

crvilt5os ao mercado Caberia entao as empresas convencionar e prJ i

ao

l I 11gum c6digo de conduta que esteja em sintonia com essas expectt1 IIS Mas sobretudo valeria a pena conceber e implantar um conjunto tk

esccanismos de conrrole que pudesse prevenir as transgtesso as ori(1

IIt)es adotadas

14

As ieorias eticas Com 0 ohar perdido um sobrevivente

do campo de exterminio disse Se Auschwitz existiu Deus nao pode existir Jgt

As linhas de demarcasao

Vma mocinha de 15 anos procura 0 pai e pede-Ihe ajuda para fazer um aboIto Exige no entanto que a mae nao saiba Abalado 0 pai pershygunta quem a engravidou Em um rasgo de maturidade a mocinha Ihe diz que 0 menino tem 16 anos e ponanto e tao crianlta quanto ela Val1os consultar a mae sugere 0 pai Para que pergunta a garota se ja sabemos a resposta Segundo a mae uma catolica praticante 0 aborto constitui urn atentado contra a vida um crime imperdoavel e pOnto final

A moral catolica abriga-se sob as asas de uma etica do dever e sentenshycia falta 0 que esta prescrito Como 0 pai eagnostico a fiIha aposta no dialogo Ele nao CostUlDa repetir respondo par meus atos Quem sabe possa sensibilizar-se com a situaltao deIa QUilta venha a considerar as

impIicalt6es de uma gravidez prematura e a hipoteca que recaira sobre seu futuro de adolescente Nao empate minha vida pai me de uma chance suplica a filha

o pai en tao cai em si Uma vez que sua esposa ja tem posiltao tomashyda para que consulta-Ia Diante de conviclt6es religiosas que tacham 0

abono como um pecado abominavel nao resta margem de manobra A resposta sera sempre um nao sonoro Isso nao corresponde ao modo de

pensar e de agir do pal que nunca deixou de avaliar as conseqilencias do que faz Assim em face do desamparo da filha como nao se comover Algumas interrogalt6es comeltam a assaIta-Io faz sentido minhl men ina ter um bebe fruro da imprudencia Esensato criar lima ltrilIl(1 qlil niio foi dCS(jlCt () qUt rlII~lrJn Os pJrCllles IS llllil~~ 0- 111IIII I

ulras

rdllcidos do clube os professores as colegas da minha filha 0 qLl dill1o 1 pessoas com as quais me relaciono E aquelas com as quais trabalho Iso tudo nao vai comprometer 0 destino dela Ese ell concordar com () Ihorto e alguem souber 0 que vai acontecer

o pai reflete sobre as circunstancias e mede os efeitos possfveis d~

L ~Ja uma das oplt6es que se Ihe apresentam Sua avalialtao e decisi va 1 Itl1sao porem 0 deixa exausto em um processo de crescente ang6sri1 pOLS as conseqiiencias da decisao a ser tomada recaido sobre seus OITlshy

hros Em conrrapartida como ficaria a mulher dele se soubesse do peJi do da filha Certamente nao ficaria desnorteada graltas aresposta pr()n~

1 que tern Eprovavel que aceite com resignaltao a vinda daqueia crian(71

lO mundo e que nao se arormente com os desdobramenros do faro Pm que isso Porque as implicalt6es do cumprimento do dever nao sao de SUl

llcada - simplesmente pertencem a Deus Em resumo estamos diante de duas maneiras oposras de enfocar a qlll

[10 do aborto Melhor dizendo estamos diante de dois modos difnlmiddotllIci

d~ tomar decis6es cada qual derivando de uma matriz etica distinu Ora como a etica teoriza sobre as condutas morais vale iudag11 i~

cxiste uma 6nica teoria etica Absolutamente nao A despeito de () li-t logos fazerem da unicidade da etica um postulado ou apesar (Ii S( 11111

tlcsafio recorrente para muitos filosofos ha pelo menos duas teor lll em como ensina magistralmente Max Weber

1 A etica da convicqao entendida como deonrologia (trataJu dt )t

deveres) 2 A etica da responsabilidade conhecida como teleologia (estudo dlll

fins humanos)l

Escreve Weber

toda atividade orientada pela hica pode ser subordi11ar-se a dlIi 111aximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas Eta )()II orientar-se pela etica del- responsabilidade (verantwortungsethistJ) (11

pela etica da convicqao (gesinnungsethisch) 1sso nao quer dizer tUI

rJtica da convicqao seja identica aausencia de responsabilidade t a dii(

da responsabilidade d (UsciIa de convicqao Nao se trata e(Jidl1I

mente disso Todauia I IIIII (IU-70 abissal entre a atiludr rlt bull7flP II I

I II~I H [Il i I IIJIII II hIIW I i~li4l1 1111 illllili bullbull IDigt 101lt

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 6: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

cultUllt1is c como 6 Lkil ckduzir a Idlcx50 te61ica urio lsli illlUnc as condicionantes hist6ricas

Assim quando estao em jogo problemas morais em vez de procurar a essencia metaflsica do bern parece melhor fazer a seguinte pergunta a quem devemos lealdade

bull Aorganiza~ao em que trabalhamos ou ao chefe imediato bull Aos colegas de trabalho ou aos amigos de fora bull Ao nosso padrinho (quem nos indicou) ou ao c1iente bull Anossa famnia ou a nossa igreja bull Anossa classe social ou ao nosso pais bull Exclusivamente a n6s mesmos (egoismo) ou no extrema oposto a

hUl11anidade como urn todo bull Anossa categoria profissional representada pelo sindicato ou as

nossas conviclt6es ideo16gicas expressas por urn partido polftico bull A urn movimento social que defende causas nobres ou a empresa

que dirigimos Qual seja falar de moral e falar de conflito de interesses Toda relashy

ltao moral implica escolhas algumas tao diffceis que nos levam acatatonia AfinaI nao se pode ser leal a todos e a tudo 0 tempo todo Em sintese no terreno moral nao ha neutralidade possivel e precise posicionar-se Em termos praticos toda decisao beneficia alguns em detrimento de outros pais os afeta desigualmente Ora como compatibilizar as variadas lealdashydes que cultivamos Qual escolha fazer Quem sera beneficiado e quem sera prejudicado

Por exemplo urn advogado nao escolhe seu cliente porque ele fala a verdade ou aparenta ser inocente mas porque na qualidade de cidadao possui direitos que devem ser protegidos Nesses estritos Iimites sob a egide do respeito a lei 0 advogado deve lealdade ao reu unica e exclusivashymente para garantir-lhe urn julgamento justa Vale dizer s6 deve lealdade ao cidadao nao ao cliente em si Da mesma forma 0 promotor publico se preocupa em defender direitos que 0 acusado supostamente lesou 0 proshymotor deve entao lealdade a quem Novamente sob a egide da lei a vftima na sua qualidade de cidada E 0 juiz Deve lealdade a sociedade como urn todo sem discriminar vitimas ou acusados na cega imparcialidashyde da administra~ao da Justi~a presQ ao cumprimento da lei A rigor nem sempre esses preceitos sao observados dai 0 descredito que recai as vezes sobre os tribunais e sobre os membros do aparelho judiciario

Por seu tumo uma agencia de publicidade deve lealdade a quem Ao contratante da campanha publicitaria cliente imediato desta Ao publico

Uluie I ngirln par suo nensagem e que pode vir a tornar-s cons shyII 0 procuto ou usu5rio do servilto A todos ao mesmo tempo Como I III pILI conciliar tantos e taO dlspares interesses Sem uma reflexao a

rnn 0 vabalho da ag~ncia perde a ruma e pode deriva para a mistishyill 1(10 al11edida que ao privilegiar 0 cliente imediato para nao perder 0

llllIW em detrimento dos usuarios finais satisfara apenas os interes-I ais diretamente envolvidos na operaltao Todavia havendo duvidas

IqIlimas a respeito da qualidade do produto ou do servilto a ser anun-I illdo nao caberia uma investiga~ao previa indo ao extremo da suspenshyIl do lanltamento da campanha caso as suspeitas tenham algum fundashyIlltllto Afinal haveria como evitar a co_responsabilidade da agencia e de sa (IS profissionais tendo em vista que uma publicidade engano implicaen vlntuais prejulzoS para os consumidores ou os usuarios finais A ag shy i~1 correria 0 risco de comprometer nao s6 a credibilidade do c1iente shylinda que este possa n~lO se preocupar com 0 fato - mas de manchar a propria reputaltao 0 que fazer entao Aderir as praticas interesseiras e de curto alcance ou cultivar uma cautela escrupulosa A quem a agencia cleve lealdade A uma coletividade restrita ou a uma coletividade mais Hupla ElU tese a resposta e 6bvia Na pratica nem empre a escolha altrulsta prevalece haja vista a ansia de auferir lucros no curto prazo

Vejamo agora a situaltao da administra~ao de recursoS de terceiros ums se forem geridos por corretora ou por banco nao poderi surgir alg conflito de interesse entre os estabelecimentos financeiros e seus clienshytes Eclaro que sim na medida em que aqueles como administradores de recurso poderia usar informa~6es confidenciais ern proveito pr6shymsprio 0 sigilo de opera6es da especie costuma ser garantido par meio das chamadas muralhas da China verdadeiros anteparos que visam a evitar a inside information ou prevenir 0 vazamento de informalt6es conshyfidenciais entre os dientes ou os funcionirios da propria empresa finanshyceira e que tambem consistem em isolar 0 que e informa~ao publica do se qoe e informaao privada As muralhas sao levantadas estabelecendoshydesde separalt6es Hsicas entre os varios departamentos ate condilt6es de trabalho implicam 0 cumprimento de poHticas de investimentoS a que os funcionirios poundicam obrigados sob pena de serem demitidos e levam a mia criaao de departamentoS de fiscalizaO (compliance) com autono em rela~ao a direltao para controlar eventuais deslizes Aqui no caso a lealdade e devida aoS clientes como coletividade de investidores e nao ern primeira mao ao estabelecimento financeiro que prove os serviltos

5

Ulmiddot LllljJH1StJnaf

loll IICT littn

sem 0 que os investidores fugiriam da empresa que nio viesse a Utesgarantir 0 sigilo1O

No primeiro semestre de 2002 a famosa Merryll Lynch fo acusada pelo procurador geraJ de Nova York Eliot Spitzer de ter acobertado

relagoes promscuas entre suas divisoes de analise e investimentos

o procurador acusou os anaJistas de crassificar favoravermente as agoes de empresas que utilizavam os servigos da corretora para coloshycar agoes no mercado Em outras palavras a MerryJl Lynch foi denunshy

ciada como tendo indUZido investidores ao erro com avaliagoes tenshy

denCiosas No mes seguinte ao anuncio da investigagao atingida em cheio em sua credibilidade a corretora perdeu US$11 bilhoes em vashylor de mercado na Boisa

Assim para par tim as acusagoes do procurador geral a empresa fechou um acordo que implicou pagar uma multa de US$1 00 milhoes

US$48 milhoes destinados ao Estado de Nova York e 0 restante a oushytros Estados A corretora tambem se comprometeu a criar um comite para revisar as mUdangas nas classificagoes de agoes e foi obrigada a

controlar a comunicagao entre as areas de analise e de investimento A MerryJJ Lynch nao ticou ao abrigo eclaro da impetragao de agoes

coletivas na Justiga ou do apelo a tribunais de arbitragem privados a

serem desencadeados por investidores que alegam ter perdido mishyIhoes de d6lares por causa de suas analises viciadas

11

Alias no final de 2002 em urn acordo hist6rico com a Procuradoria Ceral de Nova York e a SEC Yisando arquivar acusacoes de que iludiram c1ientes com anaJises tendenciosas quanto ao comportamento de acoes negociadas na Bolsa as maiores Corretoras de Wall Street _ Citigroup Credit Suisse First BOston Merrill Lynch Morgan Stanley Goldman Sachs Lehman Bros Deutsche Bank] P Morgan Bear Stears UBS Paine Webber - acertaram pagar US$l bilhao em multas aMm de US$450 milhoes

10 REBOUCAS lucia Chinese wall gatante 0 sigilo de opera~iio bancaria Cauta Mercantil19 de agosto de 1996

11 Bloomberg e Dow Jones Merryll Lynch paga multa por acusa~iio de induzir investido Cazeta Mercantil 22 de maio de 2002 r

I~r fin~tnciar a distribui~io de anMises indepcndentesc1e outras ernshy

~ll~S que Ilao tern banco de investimento 11

[lortanto a sobrevivencia do neg6cio depende dessa lealdade maio IOS investidores em geral Mais ainda a credibilidade do sistema finallshyl jro como urn todo estaria em jogo se a coletividade de investidores njo h sse respeitada Isso para nao enfrentar questao bern mais abrangente L

dclicada a indagacao a respeito do carater socialmente responsavel dos illvestimentos

Em abril de 1994 The New York Times anunciou um escandalo poshytencial envolvendo 0 maior banco americano 0 Citibank 0 presidenshyIe John Reed e Richard Handley ex-diretor do banco na America Lashy

tina entao presidente de uma subsidiaria do Citi na Argentina a Citicorp Equity Investiment (CEI) teriam feito neg6cios suspeitos na Argentina As operagoes deram muito dinheiro ao banco mas teriam tambelll enriquecido amigos de Handley com 0 conhecimento de Reed

Edesse desvio prejudicial aos demais acionistas do Citi que Handley e Reed sao acusados 0 banco garante que 0 neg6cio argentino fui muito correto

A operagao comegou em 1989 Naquele ano 0 Citibank tinha US$1 bllhao em papeis da dfvida argentina Essa fortuna tinha valor apenas nominal porque os papeis estavam muito desvalorizados 0 pais esshytava em um processo de hiperinflagao e os investidores pagavam apeshynas 11 centavos por um bonus de 1 d61ar do governo argentino Handley convenceu 0 governo a aceitar os bonus em troca de agoes de empreshysas estatais As agoes compradas pelo Citi foram colocadas na CEI criada especialmente para isso

Em 1992 depois que 0 Plano Cavallo trouxe alguma estabilidade a economia argentina 0 pais foi invadido pelos d61ares dos investidores estrangeiros a privatizagao deslanchou eo prego das agoes deu um saishyto enorme A CEI converteu-se na maior holding industrial da Argentina

Mas 0 Citi nao era mais 0 unico dono da CEI Vendeu 60 da emshypresa justamente quando 0 neg6cio estava se valorizando E os comshypradores foram na maioria amigos de Handley um amigo de infancia assumiu 33 das agoes pertencentes a holdjng e a compra cujo

12 GA5PARINO Charles Acordo de U5$14 bilhiio muda pnitica de neg6cios em Wall 511((1 The Wall Street Journal Americas reproduzido pOl 0 Estado de S Paulo 23 de dezembro de 2002 Danco pagara multa recorde nos EUA Gazeta Mercantil 23 a 25 de dezembro d~ 200i 6

I r It rI I IIIl((IIII

montante alcangou US$269 rnilh6es foi (jnanci~j(I I 11110 II i IprlO Citi dois advogados funcionarios da CEI e assessores elu I ItHl(lI y licashy

i

ram com outros 12 da holding (pagaram uma parte em dinheJro e 0 restante em trabalho)

As explicagoes dadas pareceram razoaveis como os acionistas nao recebiam dividendos desde 1991 e como havia pressao do governo norte-americana por causa dos prejuizos seguidos do banco fol preshyciso vender fatias da sUbsidjaria argentina para incorporar 0 lucro ao

seu balan90 e agradar os acionistas Ganhou 0 Citi US$450 milh6es livrando-se dos titulos da divida argentina Os acionistas argumentashy

ram no entanto que 0 CHi deixou de realizar outros US$575 milhoes com essa opera9ao 13

A quem deviam lealdade esses altos funcionarios do Citibank Uma resposta licita poderia ser aos acionistas E por que Porque se trata

de uma coletividade cUja abrangencia emaior do que a rede informal

de poder formada pelos funcionarios envolvidos na Operag30 e porshyque afinal os acionistas sao seus empregadores

Urn dos graves problemas que atormentou a sociedade brasileira no final do seculo XX disse respeito ao deficit da Previdencia Social Por sell vulto amea~ou a estabilidade economica do pals Havia um abissal desequiHbrio entre 0 que ganhava e 0 que Custava um trabalhador do setor privado e outro do setor publico No primeiro caso 0 beneficio obedecia ao teto de R$1200 No segundo caso nao havia limite Ora existiam em 1998 18 milh6es de trabalhadores privados recebendo beshyneffcios pelo INSS e 0 rombo do Instituto chegava a R$78 bilh6es Em contraposi~ao menos de 3 milh6es de trabalhadores do setor publico geravam um deficit de R$34 bilh6es Ou seja atraves dos impostos pashygos 0 conjunto dos brasileiros bancava a aposentadoria de uma pequena minoria No seio desta 905 mil servidores da Uniao Custavam asociedashyde US $18 biIh6es mais do que a saude de toda a populaltao J4 AContece que 0 rombo da Previdencia subiu de R$4224 biIh6es em 1998 para R$723 bilh6es em 2002 e as mesmas distorlt6es permaneceram entre os aposentados 11 eram servidores publicos recebiam 41 dos beneshyfkios e representavam por si s6s um deficit de R$S 62 bilh6es 15

13 Revista Veja 27 de abril de 1994

14 LAHOZ Andre Caiu a ficha revista Exame 18 de novembro de 1998 15 CORREA Crisriane Cad a ceforma reyjsta Exarne 15 de maio de 2002

101 I ((It u

i(Ii LltlC OS dirilOgt lllquirido~ de uns nio se COl1verteram em priviIeshyIII (l~ oblcS beneficiJlldo os bem aquinhoados em uma especie de illllyenicdade invertida A aposentadoria que favorece uma categoria soshy

i I_d 1middotIll detrimento da maioria da populaltao nao perdeu assim sua legishyillilllllde e portanto sua valida~ao moral Escreve JoeImir Beting

( ) saudoso conselheiro Acacio fil6sofo e semi610go costumava adshyIJcrtir 110S idos da Velha Republica (quando s6 3 dos brasileiros voshylavam para presidente) que nos tratos da coisa publica a soma das fwrtes nao pode ser maior do que 0 todo Essa revolta politica contra a Ilritmetica orfamentaria e que esta na raiz de todos os vicios e desvios do Estado contempordneo - no Brasil e 110 mundo A irresponsashyhilidade fiscal pode tel mil explicafoes mas nenhuma justificativa Lla estiola governos que nao se governam nao se deixam governar e fechando aroda da gastanfa publica nao conseguem govemar 0 proshyblema de fundo eque a boa gestdo das contas publicas sem vazios nem desvios sobre ser uma exigencia moral demanda compettncia tecnica e sabedoria potica ou seja duas moedas mais escassas histoshyricamente da administrafao publica H J6

Para superar as in6meras Iinhas divis6rias que demarcam 0 espalto -KiaI aparentemente a tinica safda consistiria em fazer escoIhas que inshyrcressassem ahumanidade como urn todo Esrarfamos assim praticando um aItrulsmo inquestionaveI pois terfamos sempre em mente os bens publicos globais ja que estes nao conhecem fronteiras Bens publicos gIoshybais a serem preservados combatendo-se entre outros 0 narcotrafico a Aids as radia~6es nucleares a polui~ao ambientaI 0 buraco de ozonio 0

efeito estnfa 0 lixo radioativo 0 mercado negro de material fossil a aItera~ao dos ritmos das esta~6es a erosao do solo 0 desemprego tecnoI6gico e 0 terrorismo internacionai Poderfamos tambem investir na defesa dos direitos humanos na redu~ao dos arsenais nucleares e na conshytensao de sna prolifera~ao

Mesmo assim quando essas quest6es vem a ser enfrentadas levanshytam-se as vozes daque1es cujos interesses sao feridos por exemplo nem todos ainda hoje ap6iam 0 respeito aos direitos humanos (pafses totalishytarios e polfcias autoritfuias) nem os traficantes e os viciados endossam 0

combate ao trafico de drogas nem todas as empresas acatam de born

16 BETIlG Joelmir Medo da ordem 0 Estado de SPaulu 11 de junho de 2002 7

111 rlpljf11111

grntlo no lkJsd proihj~1o do lISC) do gas CFC paLl pi C( 1 JI 0 ozonlO

cia atmosfera a partir do ana 2000 em respeito ao Protoco]o de Montreal de 1987 17 E isso embora se saiba que sem 0 escudo estratosferico reshypresentado pelo ozonio a humanidade como urn todo seja mais vulnerashyvel ao cancer de pele e a catarata e que 0 sistema imunol6gico das pessoshyas fique prejudicado 18

Ademais ha conceitos que ainda nao consolidaram seu status de bens piiblicos globais - exemplo da Internet - embora outros estejam a camishynho do consenso como a paz a seguranca a cultura e a justicaY Todavia ern sa consciencia sera que e sempre POSSIVel tomar decisoes tendo a humashyIichde por marco de referencia A complexidade das sociedades contemposhy1middot~11CS e suas fraturas sociais expostas deixam ampla margem aduvida

Em um lugarejo de nome Vladimir Volynskiy cerca de 500 quil6meshytros de Kiev na Ucrania a famma gentia Vavrisevich escondeu sete Judeus de novembro de 1942 a fevereiro de 1944 Alimentou-os e cuishydou-os em uma especie de porao escavado sob 0 assoalho de sua casa Procurou contrapor-se a solugao final nazista (eliminagao dos judeus em campos de exterminio) sem nenhuma salvaguarda contm o pelotao de fuzilamento caso ela fosse denunciada

Os membros dessa familia nao eram guerrilheiros em luta contra 0

invasor nem eram mais religiosos do que a media da populagao crista ortodoxa da aldeia Nao tinham tantas posses que pudessem sustenshytar sem problemas em tempo de guerra sete bocas alem das pr6shyprias mas nao eram anti-semitas ao contrario da esmagadora maioshyria de seus conterraneos Escoilleram apenas fazer a coisa justa quanshydo nao fazer nada ou fazer a coisa injusta era a coisa certa a fazer do ponto de vista de seus interesses 20

Fizeram 0 bem quando a banalidade do mal era a regra

Il HANDYSIDE Gillian CE vai combarer inimigos do ozonio Gazeta Mercantil 2 de jl1lho de 1998 CASTRO Gleise de SATOMI LililIl e CASPANI Eduardo Empresas fazem opltiio pelo verde Gazeta Menantil Latino-americana 2 a 8 de outubro de 2000

IX COCKROFT Claire Dezenove paises estndariio perda de ozonio 0 Estado de SPaulo reshyproduzindo artigo de The Guardia11 29 de janeiro de 2000

I) CALAIS Alexandre ONU ctitica efeiros da globalizaltao Gazeta Menantil 9 a 11 de julho de 1999

lO WEIS Luiz A lista de Vavriseyich 0 Estado de SPaulo 9 de dezembro de 1997

111 II 11111 Iii P lll

l-1l1hOL1 kalcLid~ st 1rLldlL~1 elll termoS de fidelidade a tais OLl quais Illividacks esta muitas vczes assume 0 carater abstrato de lealdade a I illLlpios Oll a ideais isto e 0 inv6lucro ret6rico e ideol6gico contribui Jlr mobilizar os semelhantes Age-se assim em nome da Tradiltao da Iropricdade de Deus da Familia da Religiao da Honta da Lei e da

h dem da Hierarquia e da Disciplina da Superioridade da Ralta da 1nshyk[tndencia Nacional da Revolultao Social do Futuro do Socialismo Ii i lZeino dos Ceus da Paz entre os Povos do Internacionalismo Proletashy110 da Terra Prometida da Fraternidade da Justilta Social da Igualdade

1middot1t De maneira que a pergunta sobre a quem dever lealdade acaba crushyllldo e modelando esta outra lealdade a que Aparece entaO uma lealshy

enta lhde as ideias que funcionam como far6is ou guias as repres lt6es il11aginarias que sao capazes de galvanizar as energias de coletividades hem precisas porque ideais ou prindpios sao preconizados par agentes coletivOs nao sao entidades dissociadas dos interesses materiais que se confrontam socialmente Em ultima instancia raros sao aqueles que deshyfendem algo que va ferir seu modo de vida e suas expectativas com relashy~ao aO futuro Ao contrario todos tendem a esposar pontos de vista e perspectivas que se coadunam com 0 que eles tem de mais precioso - a posiltao que ocupam no espalto social ou a posiltao que imaginam que

merecem oCl1parQuando se fala de Liberdade 0 grito de guerra arregimenta por exemshy

plo bnrgues e plebeus contra 0 Antigo Regime absolutista e seus es estamentos privilegiados (a nobreza e 0 alto clero) pondo em jogo coleshytividades que questionam ou defendem determinado estado de coisas

Quando se fala de religiao niio se trata de algo etereo e nao observavel

mas de uma religiao espedfica que detem certa influencia em dado perf0shy

do hist6rico _ religiao que uma coletividade professa Eposslvel identishyficar uma categoria social que a abralta (cat6lica evangelica judaica

islamica etc) e distinguir quais interesses estao em jogo Ate no caso do ate1smo geralmente os comunistas os anarquistas e os socialistas de forshymalt8o marxista aglutinam-se em um p610 e os fieis de todas as confissoes religiosas formam outro p610 0 confronto ocorre por conseguinte enshytre coletividades que professam esses au aqueies credos e nao entre absshy

res tralt6es formais E a oposilt3o se da entre agentes que sao portado de relaltoes sociais determinadas (ateus versuS categorias religiosas por exemshy

plo) e que personificam contradiltoes

8

-0middot I IJlt I tJ IIIJltIII

Assim OS idearios nao pairam no ar divorciados das coJetividades que os abra~am mas fincam suas raizes nos interesses materiais historicamente defishynidos e correspondem as tradu~6es imaginarias desses mesmos interesses

No final de novembro do ana 2000 no Rio de Janeiro cerca de 3 mil

motoristas auxiliares - trabalhadores que pagam uma diarla aos doshy

nos de taxi - bloquearam 0 transite nas principais vias da cidade

provocando um verdadeiro caos

A manifestag8o foi organizada pelo movimento Diaria Nunca Mais

em protesto contra a liminar concedida pela Justiga e que sustou os

efeitos de uma lei aprovada em lunho pela Camara dos Vereadores e

sancionada pelo prefeito Luiz Paulo Conde Essa lei permitia que a

Prefeitura fornecesse licengas de taxi aos 13 mil motoristas auxiliares

convertendo-os em aut6nomos

o pedido de liminar havia side solicitado pelo Sindicato dos Motoshy

ristas Aut6nomos do Rio de Janeiro js que considerou absurda a enshy

trada de mais concorrentes na praga

Em represalia os motoristas auxilfares abandonaram centenas de

carros nas principais vias de acesso da cidade trancaram-nos e levashy

ram as chaves 0 Batalnao de Choque da Polfcia Mifitar interveio queshy

brou 0 vidro de 40 taxis para soltar 0 freio de mao apreendeu 220

vefculos e prendeu 22 manifestantes 21

A tentativa dos motoristas auxiliares de sensibilizar a popula~ao carioca para que apoiasse 0 movimento saiu pela culatra As lideran~as nao pershyceberam que a tatica utilizada feria os interesses de centenas de milhares de pessoas que deixaram de poder circular livremente levando-os a se insurgir contra os baderneiros que transtornam a vida da cidade Emshybota a reivindicaltao - obten~ao de uma licen~a de taxi - pudesse ser considerada legftima os meios utilizados foram desastrosos e 0 resultado nao poderia ser outro a a~ao de bloquear os acessos ao Rio de Janeiro deu moralmente ganho de causa aos taxistas E por que isso Porque nao foi altrufsta nao levou em considera~ao os interesses daqueles que seshy

21 RODRIGUES Karine Com projeto auxiliar vira prupriet~rio Folha de SPaulo 2S de noshyvembru de 2000

HII 1

ill I Ijlldicados rch 11l1~1 Illtlllld assumiu un) c~Irlll1 lmiddotl lPjVIt1 I

I d gt11 lt(lido condenaJa peLt populaltao ainda que m)is l)rdl q~ IllU

1 11(li 1l1xiliares obtivessem 0 dire ito de pleitear licencsas provis6tins 1111

1 11lt1 Minai 0 que e au nao moral depende tambem da reb~Jo Iv

I-In~ em presell~aI~nl suma como resolver esta questao candente a quem devenws Iv lhk Lan~ando mao de um criterio objetivo que passa par olltr] WI

~~illl) _ a quem beneficia uma a~io determinada e a quem esta precll iii Toda e qualquer altao pode ser submetida a esse erivo Em tese flllll ill) I11dis ampla for uma coletividade beneficiada mais altrulsta scr~i 1

1110 au ao contrario quanto 111ais ampla for uma coletividade prejlldi

i ld) mais exclusivista ou egoista sera a alt5o 15so nos leva a procurar saber como identificar 0 tamanho das colc i

vidadesbull No nfvel macrossocial a maior coletividade possive1 no plan~I~ l sem duvida a humanidade enquanto que abaixo desta vern (ivili

za~6es imperios nalt6es e religi6es bull No nlvel mesossocial coletividades de tamanho intermedi5ril) ~l( 1

as etnias as regi6es au provincias as classes sociais as catcgul i

sociais e os publicos (usuarios au consumidores) bull No nfvel microssocia1 coletividades restritas sao organizalt6es sill

gulares e suas areas componentes ate desembocar nas familia e ILl

menor celula que e 0 individuo

Figura 9

JM II I

Escopo das morais devemos lealdade a quem

lNrERMEDrARlO REsTRtl0 (nivelmcso) (nivel m1CfO)

9

tm SltLJa~oes muiro pecujjare~ OU elll sirlllgt(s (x1 IC I) 11gt _ lteOlllO cnl

algumas escolhas de Sofia - e possivel ser illtrufsta atelldendo a cok 22

tividades menores Mas no caso estariamos diante do que e uiduel fazer nao do que seria 0 mais desejave1 fazer Exatamente con1O nas chashymadas roletas russas que ocorrem em hospitais publicos superlotados quando sobram pacientes criticos nos corredores e aparece uma unica vaga na UTI - 0 que faz 0 medico de plantao Escolhe um dos pacientes ou nada faz porque nao existem vagas para todos

Por que Mica nos neg6cios

As decisoes empresariais nao sao in6cuas an6dinas ou isentas de conseshyquencias carregam Um enorme poder de irradja~ao pe10s epoundeitos que proshyvocam Em termos praticos afetam os stakeholders os agentes que manshytem vinculos com dada organiza~ao isto e os participes ou as partesinteressadas

bull na frente interna temos os traba1hadores gestores e proprietarios(acionistas ou quotistas)

bull na hente externa temos os clientes fornecedores prestadores de servi~os autoridades governamentais bancos credores concorrenshytes mfdia comunidade local e entidades da sociedade civil _ sinshydicatos associa~6es profissionais movimentos sociais clubes de servl~Os e igrejas

Mas por que as decisoes empresariais afetam os ambientes interno e externo Simp1esmel1te porque os agentes sociais sao vulneraveis 0 caso do Tylenol nos Estados Unidos e um exemplo classico

A Johnson amp Johnson possufa 35 do mercado de analgesicos nos Estados Unidos com vendas anuais de US$400 mjlhOes No final de

setembro de 1982 sete pessoas morreram envenenadas apos ingerir Tylenol Contaminado com cianeto As vendas do remedio cairam entao de US$33 milhOes para US$4 milhOes por mes

A JampJ agiu com prontidao recolheu e destruiu 22 milhoes de frasshycos em todo 0 territ6rio norte-americano a um custo de US$100 mi

22 Ver capitulo sobre as teorias eticas

Ii 1111i II01I1I-[CIO ~mlluIJijJltOO( lui InUlllndn IlfllrlllI1l11111l tl~ til

I Ii II ~I lr InlOI ~~~Hd08 0 que rcsullou elll CfllCfJ de 12- I till

II IlrJllcias na mlclJa EtO redor clo lTlundo llulrtllV- dc chantagem reita por um norte-americano qUtl iuho

Ii III l1U(+SIW colocando cianureto em parle do lote distribufclo IW

fii lhicago foi denunciada pela JampJ e 0 culpado mais 1art Iii Ii IIJ preso S6 que antes de a investigagao estar completa e ~ot) () ir ( It tJs ropercussoes publicas a empresa teve que se posicionar

I jnrrmsse medidas corajosas para reverter 0 quadro de c1esconll II I (~riado arriscaria perder 0 pr6prio negocio e nao somenlt~

I reflelo do Tylenol IJuddiu entao tazer 0 recall e descontinuar a produltao do remedl

iI IdangEl-lo com nova embalagem inviolavel Fez campanhas flu GlllrBcimento e ofereceu recompensas pela prisao do assassino 1

lilillas telef6nicas adisposigao para ajudar quem necessitasse 8 ClI

IllOl1strou visivel preocupagao com a tragedia Fez um acordo GlIlf)

vlllor jamais velo a publico com as famllias das sete vitimas G I 11 )11

rJutras US$100 milhOes com a parte fiscal da devolugao dos medII I

rllentos Nao quis correr 0 risco de comprometer sua imagenl C I J III

fragar Afinal a JampJ nao se concebia como mera tabricante de Il~~rllt

dios seu neg6cio estrategico era vender saude segura Havia elabn rado um codigo de conduta que determinava a resposta aproprkJdH para situaltoes de grave emergencia Oualquer mancha sobre sua f

putagao ou sobre a lisura de seus procedimentos colocaria em X

que sua credibilidade Na ocasiao reafirmou seu modo de agir e consolidou sua imagem d~

empresa confiavel e responsavel Posteriormente gastou mais US$15 milhoes em campanhas publicitarias para recuperar 0 mercado perdishydo e obteve enorme sucesso dois anos depois do incidente23

Vamos mais a fundo Edificil acreditar que a empresa tenha a~Sll mido tal postma par mero born mocismo Emais crivel aceitar que (middotLt tenha conjugado seu credo organizacional - que considera a empreSl

23 NASH Laura L Etica nas Empresas boas intemoes J parte Sao PaJlo Makron Books 1) p 36-40 CALDINJ Alexandre Como gerenciar a crise revista Exame 26 de iall~ir I

2000 e revista Exame 8 de novembro de 1995 10

- 1IT11 I 1111 Iol1l iul

respons5vel pelos clientes empregados cOl1lunidade e acionislas - com uma analise estrategica da rela~ao de for~as no mercado re1a~ao esta que a mfdia tao bern ajudou a forjar com alertas regulares aopiniao publica e que se ttaduz na capacidade de os stakeholders boicotarem qualquer entidade que nao proceda de forma socialmente responsavel De maneira que nao e improvavel que 0 proprio credo organizacional tenha sido frushyto de urn contexto hist6rico bern preciso e de uma analise da dinamica social

Malgrado a influencia do codigo elaborado alguns perguntam por que sera que a JampJ fez apenas 0 recall do Tylenol distribufdo nos Estados Unidos e nao no resto do mundo sera que nao inHuiu aqui a percep~ao

de que 0 nive de mobiliza~ao da sociedade civil norte-americana e muito maior do que 0 das sociedades civis de outros paises igualmente consushymidores do produto Se assim nao fosse dizem aquelas vozes bastaria ter recolhido 0 Tylenol na area de Chicago em que daramente se evidenshyciaram os indfcios de viola~ao dos frascos e nao no territ6rio todo dos

II Estados Unidos Eis uma boa pista para penetrar no cerne da etica empresarial Entre

diferentes cursos de a~ao h5 sempre uma escolha a fazer nao seria esse urn motivo razoavel para que a reHexao etica se de nas empresas Por que adotar uma decisao e nao ontra Quais consequencias poderiam advir 0 que poderia prejudicar os neg6cios Quais medidas poderiam ferir os interesses ou os valores de quais stakeholders e quais contribui~6es asoshyciedade seriam bem acolhidas Como tudo isso repercutiria sobre 0 futushyro da empresa Em suma qual resposta estrategica dar nas mais diversas situa~6es de mercado

A bern da verdade em ambiente competitivo as empresas tern uma imagem a resguardar uma reputa~ao uma marca e em paises que desshyfrutam de Estados de Direito a sociedade civil reune condi~6es para mobilizar-se e retaliar as empresas socialmente irresponsaveis ou inid6neas Os c1ientes em particular ao exercitar seu direito de escolha e ao migrar simplesmente para os concorrentes disp6em de uma indiscutivel capacishydade de dissuasao uma especie de arsenal nuclear A cidadania organizashyda pode levar os dirigentes empresariais a agir de forma responsavel em detrimento ate de suas convic~6es intimas

Em outros termos a sociedade civil tern possibilidade de fazer polfshytica pela etica e viabilizar a ado~iio de posturas morais por parte das empresas por meio de uma interven~ao na realidade social Lan~ando

I II~middotmiddot bull - bull

IILill de quais canais ()l illiun1lIl~lltoS Recorrendo a mkil lll~tlii It

hllicote dos produtos vendidos ~IS agencias de defesa clos conslruid()(

)1 cia cidadania como 0 Procon (Funda~ao de Prote~ao e Defesa do (~nn -Iltnidor) a Promotoria de Justi~a e Prote~ao do Consumidor 0 lPCll1

(Institnto de PesOS e Medidas) 0 Centro de Vigilancia Sanitaria 0 Dillto (Departamento de Inspeao de Alimentos) 0 Inmetro (Institu Nad llat de Metrologia Normaliza~ao e Qualidade Industrial) eo Idee (ma i tuto Brasileiro de Defesa do Consumidor) uma organiza~ao nao gltlVLl

lamental

Figura 10

A politiCO pela etica pressoes cidadiis

bpi cote )ugencias cdefes~

Em paises autoritarios ou totalitarios esses recursos sao ponca efiea zes ou nao estao disponiveis e a sociedade civi~ vive arnorda~ada ou sil1lshyplesmente nao existe De forma simetrica em ambientes economicos k chados como nas economias de comando ou noS ambientes de carater semifechado em que prevalecem oligop61ios e carteis a poHtica peb

etica tambem sofre impedimentos Traduzindo a polftica pe1a etica relIne boas condi~6es para HoresClr

quando 0 chamado poder de mercado das empresas esta distribufdo quanshydo existe col11peti~ao efetiva e possibilidades reais de escolha por partl de clientes e usnarios finais Mesmo assim 0 respeito a soberania dos c1ientes ainda nao e moeda corrente em muitos paises e s6 acontece St

11

urI oj 111l1tU tlti

eles gritarem ou fizerem um escaudalo Atestado de dClllollstrJltJo de for~a dos consumidores encontra-se no nurnero de consultas e reclarnashylt6es feitas ao Procon da capital de Sao Paulo 0 nurnero de atendimentos realizados entre 1977 e 1994 foi de 1498517 entre 1995 e 2000 esse numero subiu para 1776492 Isso significa que em 6 anos houve 18500 mais atendimentos do que nos 18 anos anteriores Sem duvida urn cresshycimento vertiginoso 24

Para ilustrar esse poder de fogo vale a pena citar urn caso que chocou a opiniao publica e envolveu a Botica ao Veado DOuro farmacia de manipula~ao centenaria fundada em 1858

Por intermedio de um laboratorio de sua propriedade (Veafarm) foshy

ram produzidos em 1998 1 milhao de comprimidos lnocuos de um

remedio indicado para 0 tratamento de cancer de prostata (Androcur

da Schering do Brasil) Dez pacientes que faleceram na epoca podem ter tide a morte acelerada por terem ingerido 0 placebo Revelado 0

fato a denuncia da falsifica~ao foi repercutida pela midia e teve efeitos devastadores sobre a empresa Desde logo 19 pessoas foram indishy

ciadas pela Justi~a no processo de falsificacgao 25

Seis meses depois as lojas mantidas em importantes shoppings paulistanos (Ibirapuera Morumbi e 19uatemi) tiveram suas portas feshychadas metade dos andares da propria loja matriz no centro de Sao

Paulo foi desocupada 0 faturarnento caiu 80 dos 200 funcionarios que a empresa tinha antes do evento restaram pouco menos de 50 os

fornecedores deixaram de receber em dia26

A clientela nao perdoou 0 desrespeito e a fraude nem a irresponsashybilidade virtualmente homicida Puniu a empresa com urn eficaz boicote

Outta caso que desta vez envolveu diretamente a Schering do Brasil filial da Schering alema merece considera~ao ja que tambem retrata 0

inconformismo dos consurnidores

24 Ver FUllda~ao Procon SP wwwproconspgovbr 25 CONTE Carla ]uiz decrcra prisao de socio da Borica Folha de Sao Paulo 10 de novembro

de 1998 26 BERTON Particia Veado DOuro faz feestrurura~ao Gazeta Menanti 29 de abril de 1999

I ~ II i

I 1fI rY)eados de 199~1 u l~lllt)l Il()rio realizou um t8ste GUn) UInH nOVd

Ililquina embaladora ProduLiu embalagens com piluas anticoncepmiddot

donais Mcrovla sem 0 principio ativo Os placebos das 644 mil carte~as r uu dos 1200 quios de comprirnidos continham lactose com um reshy

vestimento de a~ucar e foram mandados para serem incinerados por

urna empresa especializada Ocorre que em maio a Schering io iniormada por meio de uma

carta anonima que um lote de placebo estarla sendo comercializado

Uma cartela do produto estava anexa Como a empresa ja tinha sido

vltma de remedios ialsos acreditou que a carta anonima era uma tenshy

tativa de chantag Resoveu entao investigar por conta proprla em emmais de uma centena de iarmacias Nada esclareceu

No inicio de iunho uma senhora gravida de um mes entrou em conshy

tato com 0 laboratorio e apresentou as pllulas falsas A Schering levou mais 15 dias apos a denuncia para notiticar a Vlgilancia Sanitaria

Curiosamente 0 fez no dia em que Jornal Nacional da TV Globo evava

ao ar a primeira reportagem a respeito Seu pecado residlu al embora

o aboratorio nada tivesse ialsificado foi displicente no contrale do descarte de placebos e nao alertou a opiniao publica sobre a possibishy

lidade de desvio de parte destes Sua omissao custou-Ihe caro Ate final de agosto 189 mulheres dis-

ramseram ter engravldado vltimas dos placebos que chega as farmashycias A midia moveu uma fortssima campanha contra a empresa afeshy

tando profundamente urna marca criada na Alemanha 127 anos atras

A Procurado Gera do Estado de Sao Paulo e 0 Procon entraram ria

com uma acgao civil publica contra 0 laboratorio pedindo ndeniza~ao por danos morais e materlas A Secretaria de Direito Economico do

Ministerio da Justl~a multou a empresa em quase R$3 mih6es A Vigishy

lancia Sanitaria interditou 0 laboratorio par duas vezes A suspensao

do anticoncepcional durou um mes e meo e for~ou a Schering a

relan~ar 0 produto que ia foi Hder do segmento (tinha 22 do mercashy

do) com nova cor de embalagem o inquerito polcial instaurado sobre 0 caso loi encerrado sem indlshy

car culpado 0 que dificultou tremendamente a recupera~ao da s ver

credibilidade do laboratOrio A Schering teve entao que promo uma milionaria campanha de comunica~aocom gastos avaliados em mais

12

5 Etica tmpresarial

de R$15 milhoes em uma tentativa de reCOnstruir sua imagem queficou muito desgastada e sob suspeita 27

No ano seguinte a matriz alema determinou as suas 50 sUbsidiarias que Suspendessem os testes de novos equipamentos e embalagens usando placebo a tim de evitar que casos como 0 do Microvlar se repetissem pelo mundo A empresa perdeu R$18 milh6es com 0 epishy

sodia samanda as meses em que a praduta esteve fara do mercado

queda nas vendas quando este votou as prateleiras e dois acordosfeitos com consumidoras 28

A Schering do Brasil Jevou tres anos para votar ao topo do mercado de anticoncepcionais em 2001 a participagao no mercado do Microvlar

cllegou a 177 (embora detivesse 22 em 1998) Tres fatores Contrishybuiram para essa recuperagao a) a fideJidade que as consumidoras

em gera mantE~m com a pilula que tomam ja que tem que acertar a dosagem de hormonios e livrar-se dos possiveis efeitos colaterais de seu usa b) 0 baixo prego do produto (3 reais e 50 centavos a cartela 8m 2001) e c) a confianga preservada junto aos medicos que receishytarn 0 anticoncepcionaJ 29

Para quem nao soube avaliar corretamente 0 nivel de exigencia dos dientes e para quem errou redondamente em termos de comunicaao ilti sem dnvida um serio transtorno simpfesmente porque nao ho adeqllado gerenciamento da crise 30 uve

Em um Caso semelhante porem Com reaao rapida e COmpetente bull jhoclia Farma foi aJerracia par um farmaclurico em 1993 de que um Ctela do neuroJitico AmpJictil fora achada dentro de uma caixa do llltialergico Fenergan No rua seguinte 0 laborat6rio soltou um comunicashy

lfTTENCOURT Silvia e CONTE Carla A~ao de Serra e eleitoraJ diz Schering alema Foha de Sll1O 3 de julho de 1998 SCHEINBERG Gabriela Schering foi vitima de crime afjnna uccurivo 0 Estado de sPa~rlo 4 de julho de 1998 PASTORE Karina 0 paraiso dos remeshys clius IJlsiJi(ado revista l1eja 8 de julho de 1998 PFEIFER Ismael Schering gasta milh6esI~III rcconstruir ill1ltlgem Gazeta Mercantil 27 de agosro de 1998

x C()RlJ~A Silvia c ESC()SSJA Fernanda cIa Scherillg cancela res res Com placebo Folha de SItw 26 de selelllbro de 1999

) VII imiddotIinAGA Vi(Lnl( Ivlicrrgtvlar VOa ao 10po do Illcnaltl til prld (middoti~ti1 Merci1ntil 3 ltI IJIIl dl Jon I

11 II~IIR( Fihiubull 11 d Loilllflrnilll((uItI tI 11111 I ~ 11 Jlllio I I))li

011 t lIP (tlco 571

do na televisao advertindo os consumidores Contatou a Vigilancia Sanitashyrin e determinou 0 recolhimento do lote Nao houve vitimas da troca3l

Na primeira pagina de um grande jornal do interior de Sao Paulo a foto de uma rnulher careca afirmando que ficou assim logo depois de usar um xampu da Gessy Lever (xampu Seda urna de suas principais marcas e Ifder do segmento) desencadeou uma rea~ao imediata da

empresa Os gestores da Gessy Lever fizeram consultas a seu laboratorio

mandaram recolher produtos para analise despacharam um medico independente e um advogado para a cidade interiorana Em algumas horas respiraram aliviados a mulher raspou a cabe~a

Mesmo assim a Gessy Lever teve que responder a um inquerito policial e definir uma estrategia de comunica~ao para dirimir quaisshy

quer duvidas32

As empresas detem marcas que representam preciosos ativos intangishyveis e que consomem tempo e dinheiro para serem construidas Em deshycorrencia muitas percebem que perder a credibilidade deixando de ser transparentes e de agir rapidamente eurn passo fatal para 0 neg6cio que operam

Caso de repercussao mundial foi 0 da contamina~ao de alimentos pela ra~ao fornecida aos animais nas granjas e fazendas da Belgica A origem da contamina~aofoi um oleo chamado ascarel e os donos da empresa acusada de ter adulterado a ra~ao foram presos

Em junho de 1999 depois de difundido 0 fato sumiram das prateshyleiras dos supermercados os frangos e os ovos a carne de boi e de porco 0 leite a manteiga os queijos e tudo 0 que e feito com esses ingredientes inclusive os chocolates 0 governo belga interditou a disshy

1 IIIU1 IIN(kR jlIql hl I Ilt 11111 I dlmiddotllmiddotrr ill~ndio rcvir Exarne 15 d( lulho de 10~)H

1 II M 1ldlS( l [JIlII 11 I II I I 1 gt fImiddot1 Ilt 11 I Ii fed Irfe de eviral e cllfrelll 1I1ll1 LT-middot (111( ~~flrJI 1l1IU I I I I lid I L lljltl

13

58 Etica Empresarial

tribuigao desses alimentos por suspeita de contaminagao par dioxinas substancias altamente t6xcas que podem causar doengas que vao do diabetes ao cancer

o que deflagrou grave escandalo na Uniao Eurcpeia entretanto foi que 0 governo belga demorou dois meses para revelar que os produshytos estavam impr6prios para 0 consumo A negligencia provocou a renuncia de dois ministros - 0 da Agricultura e 0 da Saude - e levou a suspensao das exportag6es causando um prejuizo avaliado em US$1 545 bilhao Mais ainda deixou aberta a possibilidade de a Belgishyca ser levada a julgamento em uma corte internacional por expor a riscos a populagao do continente europeu33

Em resumo no ultimo quartel do seculo XX a qnestao etica tornoushyse urn imperativo no universo das empresas privadas e par extensao das organizasoes publicas do Primeiro Mundo Converteu-se ate em disciplishyna obrigat6ria nos cursos de Administrasao As razoes residem no essenshycial no fato de que escandalos vieram atona em virtude do desenvolvishymento de uma mfdia plural e dedicada a investigalt53o Atos considerados imorais ou inidoneos peJa coJetividade deixaram de ser encobertos e toshylerados A sociedade civil passon a exercer pressoes eficazes sobre as empresas Isto e dada a sua vulnerabilidade cada vez mais os clientes procuram assegurar a qualidade dos produtos e dos servilt5os adquiridos POl sua vez concorrentes fornecedores investidores autoridades govershynamentais prestadores de servisos e empregados auscultam 0 modus operandi das empresas com as quais mantem relasoes visando policiar fraudes e repudiar alt50es irrespons8veis

Resultados Quando os escandalos eclodem estes geram altos cusshytos multas pesadas quebra de rotinas baixo moral dos empregados aumento da rotatividade dificuldades para recrutar funciowirios qualishyficados frau des internas e perda da confial1lt5a publica na reputalt5ao das empresas 34

Dificilmente os dirigentes empresariais podem manter-se alheios a esse movimento de mobilizalt5ao dosstakeholders Nem 0 posicionamento moral das empresas pode ficar amerce das flutualt50es e das inumeras

33 Revi5ta Veja 16 ue junho de 1999 0 Estado de SPaulo 2 de Jldho k 1l))J

34 NASH Laura L opcit p 4

OJ) I II ckJ

i 11ciencias morais individuais Pautas de orientalt5ao e pad-metros 111

Iillhlcao de conflitos de illteresse tornam-se indispensaveis RepontH lIl[lU

11111 conclusao a moral organizacional virou chave para a pr6pri~1 soh (

~lr~llcia das empresas I materia esra ganhando relevo no Brasil dado 0 porte de sua eeOll

1111 e em funlt5 da 0Plt5 estrategica que foi feita - integrar 0 pli~ (IIIao lll mercado que se globaliza e que exige relalt5oes profissionais e COil lIill1ais Em decorrencia 0 imaginario brasileiro est1 sofrendo lenta~ c rsistentes alteralt5Oes Ha crescente demanda por rransparencia e pruli dlk tanto no nato da coisa publica como nO fornecimento de proclllltJ~

crvilt5os ao mercado Caberia entao as empresas convencionar e prJ i

ao

l I 11gum c6digo de conduta que esteja em sintonia com essas expectt1 IIS Mas sobretudo valeria a pena conceber e implantar um conjunto tk

esccanismos de conrrole que pudesse prevenir as transgtesso as ori(1

IIt)es adotadas

14

As ieorias eticas Com 0 ohar perdido um sobrevivente

do campo de exterminio disse Se Auschwitz existiu Deus nao pode existir Jgt

As linhas de demarcasao

Vma mocinha de 15 anos procura 0 pai e pede-Ihe ajuda para fazer um aboIto Exige no entanto que a mae nao saiba Abalado 0 pai pershygunta quem a engravidou Em um rasgo de maturidade a mocinha Ihe diz que 0 menino tem 16 anos e ponanto e tao crianlta quanto ela Val1os consultar a mae sugere 0 pai Para que pergunta a garota se ja sabemos a resposta Segundo a mae uma catolica praticante 0 aborto constitui urn atentado contra a vida um crime imperdoavel e pOnto final

A moral catolica abriga-se sob as asas de uma etica do dever e sentenshycia falta 0 que esta prescrito Como 0 pai eagnostico a fiIha aposta no dialogo Ele nao CostUlDa repetir respondo par meus atos Quem sabe possa sensibilizar-se com a situaltao deIa QUilta venha a considerar as

impIicalt6es de uma gravidez prematura e a hipoteca que recaira sobre seu futuro de adolescente Nao empate minha vida pai me de uma chance suplica a filha

o pai en tao cai em si Uma vez que sua esposa ja tem posiltao tomashyda para que consulta-Ia Diante de conviclt6es religiosas que tacham 0

abono como um pecado abominavel nao resta margem de manobra A resposta sera sempre um nao sonoro Isso nao corresponde ao modo de

pensar e de agir do pal que nunca deixou de avaliar as conseqilencias do que faz Assim em face do desamparo da filha como nao se comover Algumas interrogalt6es comeltam a assaIta-Io faz sentido minhl men ina ter um bebe fruro da imprudencia Esensato criar lima ltrilIl(1 qlil niio foi dCS(jlCt () qUt rlII~lrJn Os pJrCllles IS llllil~~ 0- 111IIII I

ulras

rdllcidos do clube os professores as colegas da minha filha 0 qLl dill1o 1 pessoas com as quais me relaciono E aquelas com as quais trabalho Iso tudo nao vai comprometer 0 destino dela Ese ell concordar com () Ihorto e alguem souber 0 que vai acontecer

o pai reflete sobre as circunstancias e mede os efeitos possfveis d~

L ~Ja uma das oplt6es que se Ihe apresentam Sua avalialtao e decisi va 1 Itl1sao porem 0 deixa exausto em um processo de crescente ang6sri1 pOLS as conseqiiencias da decisao a ser tomada recaido sobre seus OITlshy

hros Em conrrapartida como ficaria a mulher dele se soubesse do peJi do da filha Certamente nao ficaria desnorteada graltas aresposta pr()n~

1 que tern Eprovavel que aceite com resignaltao a vinda daqueia crian(71

lO mundo e que nao se arormente com os desdobramenros do faro Pm que isso Porque as implicalt6es do cumprimento do dever nao sao de SUl

llcada - simplesmente pertencem a Deus Em resumo estamos diante de duas maneiras oposras de enfocar a qlll

[10 do aborto Melhor dizendo estamos diante de dois modos difnlmiddotllIci

d~ tomar decis6es cada qual derivando de uma matriz etica distinu Ora como a etica teoriza sobre as condutas morais vale iudag11 i~

cxiste uma 6nica teoria etica Absolutamente nao A despeito de () li-t logos fazerem da unicidade da etica um postulado ou apesar (Ii S( 11111

tlcsafio recorrente para muitos filosofos ha pelo menos duas teor lll em como ensina magistralmente Max Weber

1 A etica da convicqao entendida como deonrologia (trataJu dt )t

deveres) 2 A etica da responsabilidade conhecida como teleologia (estudo dlll

fins humanos)l

Escreve Weber

toda atividade orientada pela hica pode ser subordi11ar-se a dlIi 111aximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas Eta )()II orientar-se pela etica del- responsabilidade (verantwortungsethistJ) (11

pela etica da convicqao (gesinnungsethisch) 1sso nao quer dizer tUI

rJtica da convicqao seja identica aausencia de responsabilidade t a dii(

da responsabilidade d (UsciIa de convicqao Nao se trata e(Jidl1I

mente disso Todauia I IIIII (IU-70 abissal entre a atiludr rlt bull7flP II I

I II~I H [Il i I IIJIII II hIIW I i~li4l1 1111 illllili bullbull IDigt 101lt

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 7: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

Ulmiddot LllljJH1StJnaf

loll IICT littn

sem 0 que os investidores fugiriam da empresa que nio viesse a Utesgarantir 0 sigilo1O

No primeiro semestre de 2002 a famosa Merryll Lynch fo acusada pelo procurador geraJ de Nova York Eliot Spitzer de ter acobertado

relagoes promscuas entre suas divisoes de analise e investimentos

o procurador acusou os anaJistas de crassificar favoravermente as agoes de empresas que utilizavam os servigos da corretora para coloshycar agoes no mercado Em outras palavras a MerryJl Lynch foi denunshy

ciada como tendo indUZido investidores ao erro com avaliagoes tenshy

denCiosas No mes seguinte ao anuncio da investigagao atingida em cheio em sua credibilidade a corretora perdeu US$11 bilhoes em vashylor de mercado na Boisa

Assim para par tim as acusagoes do procurador geral a empresa fechou um acordo que implicou pagar uma multa de US$1 00 milhoes

US$48 milhoes destinados ao Estado de Nova York e 0 restante a oushytros Estados A corretora tambem se comprometeu a criar um comite para revisar as mUdangas nas classificagoes de agoes e foi obrigada a

controlar a comunicagao entre as areas de analise e de investimento A MerryJJ Lynch nao ticou ao abrigo eclaro da impetragao de agoes

coletivas na Justiga ou do apelo a tribunais de arbitragem privados a

serem desencadeados por investidores que alegam ter perdido mishyIhoes de d6lares por causa de suas analises viciadas

11

Alias no final de 2002 em urn acordo hist6rico com a Procuradoria Ceral de Nova York e a SEC Yisando arquivar acusacoes de que iludiram c1ientes com anaJises tendenciosas quanto ao comportamento de acoes negociadas na Bolsa as maiores Corretoras de Wall Street _ Citigroup Credit Suisse First BOston Merrill Lynch Morgan Stanley Goldman Sachs Lehman Bros Deutsche Bank] P Morgan Bear Stears UBS Paine Webber - acertaram pagar US$l bilhao em multas aMm de US$450 milhoes

10 REBOUCAS lucia Chinese wall gatante 0 sigilo de opera~iio bancaria Cauta Mercantil19 de agosto de 1996

11 Bloomberg e Dow Jones Merryll Lynch paga multa por acusa~iio de induzir investido Cazeta Mercantil 22 de maio de 2002 r

I~r fin~tnciar a distribui~io de anMises indepcndentesc1e outras ernshy

~ll~S que Ilao tern banco de investimento 11

[lortanto a sobrevivencia do neg6cio depende dessa lealdade maio IOS investidores em geral Mais ainda a credibilidade do sistema finallshyl jro como urn todo estaria em jogo se a coletividade de investidores njo h sse respeitada Isso para nao enfrentar questao bern mais abrangente L

dclicada a indagacao a respeito do carater socialmente responsavel dos illvestimentos

Em abril de 1994 The New York Times anunciou um escandalo poshytencial envolvendo 0 maior banco americano 0 Citibank 0 presidenshyIe John Reed e Richard Handley ex-diretor do banco na America Lashy

tina entao presidente de uma subsidiaria do Citi na Argentina a Citicorp Equity Investiment (CEI) teriam feito neg6cios suspeitos na Argentina As operagoes deram muito dinheiro ao banco mas teriam tambelll enriquecido amigos de Handley com 0 conhecimento de Reed

Edesse desvio prejudicial aos demais acionistas do Citi que Handley e Reed sao acusados 0 banco garante que 0 neg6cio argentino fui muito correto

A operagao comegou em 1989 Naquele ano 0 Citibank tinha US$1 bllhao em papeis da dfvida argentina Essa fortuna tinha valor apenas nominal porque os papeis estavam muito desvalorizados 0 pais esshytava em um processo de hiperinflagao e os investidores pagavam apeshynas 11 centavos por um bonus de 1 d61ar do governo argentino Handley convenceu 0 governo a aceitar os bonus em troca de agoes de empreshysas estatais As agoes compradas pelo Citi foram colocadas na CEI criada especialmente para isso

Em 1992 depois que 0 Plano Cavallo trouxe alguma estabilidade a economia argentina 0 pais foi invadido pelos d61ares dos investidores estrangeiros a privatizagao deslanchou eo prego das agoes deu um saishyto enorme A CEI converteu-se na maior holding industrial da Argentina

Mas 0 Citi nao era mais 0 unico dono da CEI Vendeu 60 da emshypresa justamente quando 0 neg6cio estava se valorizando E os comshypradores foram na maioria amigos de Handley um amigo de infancia assumiu 33 das agoes pertencentes a holdjng e a compra cujo

12 GA5PARINO Charles Acordo de U5$14 bilhiio muda pnitica de neg6cios em Wall 511((1 The Wall Street Journal Americas reproduzido pOl 0 Estado de S Paulo 23 de dezembro de 2002 Danco pagara multa recorde nos EUA Gazeta Mercantil 23 a 25 de dezembro d~ 200i 6

I r It rI I IIIl((IIII

montante alcangou US$269 rnilh6es foi (jnanci~j(I I 11110 II i IprlO Citi dois advogados funcionarios da CEI e assessores elu I ItHl(lI y licashy

i

ram com outros 12 da holding (pagaram uma parte em dinheJro e 0 restante em trabalho)

As explicagoes dadas pareceram razoaveis como os acionistas nao recebiam dividendos desde 1991 e como havia pressao do governo norte-americana por causa dos prejuizos seguidos do banco fol preshyciso vender fatias da sUbsidjaria argentina para incorporar 0 lucro ao

seu balan90 e agradar os acionistas Ganhou 0 Citi US$450 milh6es livrando-se dos titulos da divida argentina Os acionistas argumentashy

ram no entanto que 0 CHi deixou de realizar outros US$575 milhoes com essa opera9ao 13

A quem deviam lealdade esses altos funcionarios do Citibank Uma resposta licita poderia ser aos acionistas E por que Porque se trata

de uma coletividade cUja abrangencia emaior do que a rede informal

de poder formada pelos funcionarios envolvidos na Operag30 e porshyque afinal os acionistas sao seus empregadores

Urn dos graves problemas que atormentou a sociedade brasileira no final do seculo XX disse respeito ao deficit da Previdencia Social Por sell vulto amea~ou a estabilidade economica do pals Havia um abissal desequiHbrio entre 0 que ganhava e 0 que Custava um trabalhador do setor privado e outro do setor publico No primeiro caso 0 beneficio obedecia ao teto de R$1200 No segundo caso nao havia limite Ora existiam em 1998 18 milh6es de trabalhadores privados recebendo beshyneffcios pelo INSS e 0 rombo do Instituto chegava a R$78 bilh6es Em contraposi~ao menos de 3 milh6es de trabalhadores do setor publico geravam um deficit de R$34 bilh6es Ou seja atraves dos impostos pashygos 0 conjunto dos brasileiros bancava a aposentadoria de uma pequena minoria No seio desta 905 mil servidores da Uniao Custavam asociedashyde US $18 biIh6es mais do que a saude de toda a populaltao J4 AContece que 0 rombo da Previdencia subiu de R$4224 biIh6es em 1998 para R$723 bilh6es em 2002 e as mesmas distorlt6es permaneceram entre os aposentados 11 eram servidores publicos recebiam 41 dos beneshyfkios e representavam por si s6s um deficit de R$S 62 bilh6es 15

13 Revista Veja 27 de abril de 1994

14 LAHOZ Andre Caiu a ficha revista Exame 18 de novembro de 1998 15 CORREA Crisriane Cad a ceforma reyjsta Exarne 15 de maio de 2002

101 I ((It u

i(Ii LltlC OS dirilOgt lllquirido~ de uns nio se COl1verteram em priviIeshyIII (l~ oblcS beneficiJlldo os bem aquinhoados em uma especie de illllyenicdade invertida A aposentadoria que favorece uma categoria soshy

i I_d 1middotIll detrimento da maioria da populaltao nao perdeu assim sua legishyillilllllde e portanto sua valida~ao moral Escreve JoeImir Beting

( ) saudoso conselheiro Acacio fil6sofo e semi610go costumava adshyIJcrtir 110S idos da Velha Republica (quando s6 3 dos brasileiros voshylavam para presidente) que nos tratos da coisa publica a soma das fwrtes nao pode ser maior do que 0 todo Essa revolta politica contra a Ilritmetica orfamentaria e que esta na raiz de todos os vicios e desvios do Estado contempordneo - no Brasil e 110 mundo A irresponsashyhilidade fiscal pode tel mil explicafoes mas nenhuma justificativa Lla estiola governos que nao se governam nao se deixam governar e fechando aroda da gastanfa publica nao conseguem govemar 0 proshyblema de fundo eque a boa gestdo das contas publicas sem vazios nem desvios sobre ser uma exigencia moral demanda compettncia tecnica e sabedoria potica ou seja duas moedas mais escassas histoshyricamente da administrafao publica H J6

Para superar as in6meras Iinhas divis6rias que demarcam 0 espalto -KiaI aparentemente a tinica safda consistiria em fazer escoIhas que inshyrcressassem ahumanidade como urn todo Esrarfamos assim praticando um aItrulsmo inquestionaveI pois terfamos sempre em mente os bens publicos globais ja que estes nao conhecem fronteiras Bens publicos gIoshybais a serem preservados combatendo-se entre outros 0 narcotrafico a Aids as radia~6es nucleares a polui~ao ambientaI 0 buraco de ozonio 0

efeito estnfa 0 lixo radioativo 0 mercado negro de material fossil a aItera~ao dos ritmos das esta~6es a erosao do solo 0 desemprego tecnoI6gico e 0 terrorismo internacionai Poderfamos tambem investir na defesa dos direitos humanos na redu~ao dos arsenais nucleares e na conshytensao de sna prolifera~ao

Mesmo assim quando essas quest6es vem a ser enfrentadas levanshytam-se as vozes daque1es cujos interesses sao feridos por exemplo nem todos ainda hoje ap6iam 0 respeito aos direitos humanos (pafses totalishytarios e polfcias autoritfuias) nem os traficantes e os viciados endossam 0

combate ao trafico de drogas nem todas as empresas acatam de born

16 BETIlG Joelmir Medo da ordem 0 Estado de SPaulu 11 de junho de 2002 7

111 rlpljf11111

grntlo no lkJsd proihj~1o do lISC) do gas CFC paLl pi C( 1 JI 0 ozonlO

cia atmosfera a partir do ana 2000 em respeito ao Protoco]o de Montreal de 1987 17 E isso embora se saiba que sem 0 escudo estratosferico reshypresentado pelo ozonio a humanidade como urn todo seja mais vulnerashyvel ao cancer de pele e a catarata e que 0 sistema imunol6gico das pessoshyas fique prejudicado 18

Ademais ha conceitos que ainda nao consolidaram seu status de bens piiblicos globais - exemplo da Internet - embora outros estejam a camishynho do consenso como a paz a seguranca a cultura e a justicaY Todavia ern sa consciencia sera que e sempre POSSIVel tomar decisoes tendo a humashyIichde por marco de referencia A complexidade das sociedades contemposhy1middot~11CS e suas fraturas sociais expostas deixam ampla margem aduvida

Em um lugarejo de nome Vladimir Volynskiy cerca de 500 quil6meshytros de Kiev na Ucrania a famma gentia Vavrisevich escondeu sete Judeus de novembro de 1942 a fevereiro de 1944 Alimentou-os e cuishydou-os em uma especie de porao escavado sob 0 assoalho de sua casa Procurou contrapor-se a solugao final nazista (eliminagao dos judeus em campos de exterminio) sem nenhuma salvaguarda contm o pelotao de fuzilamento caso ela fosse denunciada

Os membros dessa familia nao eram guerrilheiros em luta contra 0

invasor nem eram mais religiosos do que a media da populagao crista ortodoxa da aldeia Nao tinham tantas posses que pudessem sustenshytar sem problemas em tempo de guerra sete bocas alem das pr6shyprias mas nao eram anti-semitas ao contrario da esmagadora maioshyria de seus conterraneos Escoilleram apenas fazer a coisa justa quanshydo nao fazer nada ou fazer a coisa injusta era a coisa certa a fazer do ponto de vista de seus interesses 20

Fizeram 0 bem quando a banalidade do mal era a regra

Il HANDYSIDE Gillian CE vai combarer inimigos do ozonio Gazeta Mercantil 2 de jl1lho de 1998 CASTRO Gleise de SATOMI LililIl e CASPANI Eduardo Empresas fazem opltiio pelo verde Gazeta Menantil Latino-americana 2 a 8 de outubro de 2000

IX COCKROFT Claire Dezenove paises estndariio perda de ozonio 0 Estado de SPaulo reshyproduzindo artigo de The Guardia11 29 de janeiro de 2000

I) CALAIS Alexandre ONU ctitica efeiros da globalizaltao Gazeta Menantil 9 a 11 de julho de 1999

lO WEIS Luiz A lista de Vavriseyich 0 Estado de SPaulo 9 de dezembro de 1997

111 II 11111 Iii P lll

l-1l1hOL1 kalcLid~ st 1rLldlL~1 elll termoS de fidelidade a tais OLl quais Illividacks esta muitas vczes assume 0 carater abstrato de lealdade a I illLlpios Oll a ideais isto e 0 inv6lucro ret6rico e ideol6gico contribui Jlr mobilizar os semelhantes Age-se assim em nome da Tradiltao da Iropricdade de Deus da Familia da Religiao da Honta da Lei e da

h dem da Hierarquia e da Disciplina da Superioridade da Ralta da 1nshyk[tndencia Nacional da Revolultao Social do Futuro do Socialismo Ii i lZeino dos Ceus da Paz entre os Povos do Internacionalismo Proletashy110 da Terra Prometida da Fraternidade da Justilta Social da Igualdade

1middot1t De maneira que a pergunta sobre a quem dever lealdade acaba crushyllldo e modelando esta outra lealdade a que Aparece entaO uma lealshy

enta lhde as ideias que funcionam como far6is ou guias as repres lt6es il11aginarias que sao capazes de galvanizar as energias de coletividades hem precisas porque ideais ou prindpios sao preconizados par agentes coletivOs nao sao entidades dissociadas dos interesses materiais que se confrontam socialmente Em ultima instancia raros sao aqueles que deshyfendem algo que va ferir seu modo de vida e suas expectativas com relashy~ao aO futuro Ao contrario todos tendem a esposar pontos de vista e perspectivas que se coadunam com 0 que eles tem de mais precioso - a posiltao que ocupam no espalto social ou a posiltao que imaginam que

merecem oCl1parQuando se fala de Liberdade 0 grito de guerra arregimenta por exemshy

plo bnrgues e plebeus contra 0 Antigo Regime absolutista e seus es estamentos privilegiados (a nobreza e 0 alto clero) pondo em jogo coleshytividades que questionam ou defendem determinado estado de coisas

Quando se fala de religiao niio se trata de algo etereo e nao observavel

mas de uma religiao espedfica que detem certa influencia em dado perf0shy

do hist6rico _ religiao que uma coletividade professa Eposslvel identishyficar uma categoria social que a abralta (cat6lica evangelica judaica

islamica etc) e distinguir quais interesses estao em jogo Ate no caso do ate1smo geralmente os comunistas os anarquistas e os socialistas de forshymalt8o marxista aglutinam-se em um p610 e os fieis de todas as confissoes religiosas formam outro p610 0 confronto ocorre por conseguinte enshytre coletividades que professam esses au aqueies credos e nao entre absshy

res tralt6es formais E a oposilt3o se da entre agentes que sao portado de relaltoes sociais determinadas (ateus versuS categorias religiosas por exemshy

plo) e que personificam contradiltoes

8

-0middot I IJlt I tJ IIIJltIII

Assim OS idearios nao pairam no ar divorciados das coJetividades que os abra~am mas fincam suas raizes nos interesses materiais historicamente defishynidos e correspondem as tradu~6es imaginarias desses mesmos interesses

No final de novembro do ana 2000 no Rio de Janeiro cerca de 3 mil

motoristas auxiliares - trabalhadores que pagam uma diarla aos doshy

nos de taxi - bloquearam 0 transite nas principais vias da cidade

provocando um verdadeiro caos

A manifestag8o foi organizada pelo movimento Diaria Nunca Mais

em protesto contra a liminar concedida pela Justiga e que sustou os

efeitos de uma lei aprovada em lunho pela Camara dos Vereadores e

sancionada pelo prefeito Luiz Paulo Conde Essa lei permitia que a

Prefeitura fornecesse licengas de taxi aos 13 mil motoristas auxiliares

convertendo-os em aut6nomos

o pedido de liminar havia side solicitado pelo Sindicato dos Motoshy

ristas Aut6nomos do Rio de Janeiro js que considerou absurda a enshy

trada de mais concorrentes na praga

Em represalia os motoristas auxilfares abandonaram centenas de

carros nas principais vias de acesso da cidade trancaram-nos e levashy

ram as chaves 0 Batalnao de Choque da Polfcia Mifitar interveio queshy

brou 0 vidro de 40 taxis para soltar 0 freio de mao apreendeu 220

vefculos e prendeu 22 manifestantes 21

A tentativa dos motoristas auxiliares de sensibilizar a popula~ao carioca para que apoiasse 0 movimento saiu pela culatra As lideran~as nao pershyceberam que a tatica utilizada feria os interesses de centenas de milhares de pessoas que deixaram de poder circular livremente levando-os a se insurgir contra os baderneiros que transtornam a vida da cidade Emshybota a reivindicaltao - obten~ao de uma licen~a de taxi - pudesse ser considerada legftima os meios utilizados foram desastrosos e 0 resultado nao poderia ser outro a a~ao de bloquear os acessos ao Rio de Janeiro deu moralmente ganho de causa aos taxistas E por que isso Porque nao foi altrufsta nao levou em considera~ao os interesses daqueles que seshy

21 RODRIGUES Karine Com projeto auxiliar vira prupriet~rio Folha de SPaulo 2S de noshyvembru de 2000

HII 1

ill I Ijlldicados rch 11l1~1 Illtlllld assumiu un) c~Irlll1 lmiddotl lPjVIt1 I

I d gt11 lt(lido condenaJa peLt populaltao ainda que m)is l)rdl q~ IllU

1 11(li 1l1xiliares obtivessem 0 dire ito de pleitear licencsas provis6tins 1111

1 11lt1 Minai 0 que e au nao moral depende tambem da reb~Jo Iv

I-In~ em presell~aI~nl suma como resolver esta questao candente a quem devenws Iv lhk Lan~ando mao de um criterio objetivo que passa par olltr] WI

~~illl) _ a quem beneficia uma a~io determinada e a quem esta precll iii Toda e qualquer altao pode ser submetida a esse erivo Em tese flllll ill) I11dis ampla for uma coletividade beneficiada mais altrulsta scr~i 1

1110 au ao contrario quanto 111ais ampla for uma coletividade prejlldi

i ld) mais exclusivista ou egoista sera a alt5o 15so nos leva a procurar saber como identificar 0 tamanho das colc i

vidadesbull No nfvel macrossocial a maior coletividade possive1 no plan~I~ l sem duvida a humanidade enquanto que abaixo desta vern (ivili

za~6es imperios nalt6es e religi6es bull No nlvel mesossocial coletividades de tamanho intermedi5ril) ~l( 1

as etnias as regi6es au provincias as classes sociais as catcgul i

sociais e os publicos (usuarios au consumidores) bull No nfvel microssocia1 coletividades restritas sao organizalt6es sill

gulares e suas areas componentes ate desembocar nas familia e ILl

menor celula que e 0 individuo

Figura 9

JM II I

Escopo das morais devemos lealdade a quem

lNrERMEDrARlO REsTRtl0 (nivelmcso) (nivel m1CfO)

9

tm SltLJa~oes muiro pecujjare~ OU elll sirlllgt(s (x1 IC I) 11gt _ lteOlllO cnl

algumas escolhas de Sofia - e possivel ser illtrufsta atelldendo a cok 22

tividades menores Mas no caso estariamos diante do que e uiduel fazer nao do que seria 0 mais desejave1 fazer Exatamente con1O nas chashymadas roletas russas que ocorrem em hospitais publicos superlotados quando sobram pacientes criticos nos corredores e aparece uma unica vaga na UTI - 0 que faz 0 medico de plantao Escolhe um dos pacientes ou nada faz porque nao existem vagas para todos

Por que Mica nos neg6cios

As decisoes empresariais nao sao in6cuas an6dinas ou isentas de conseshyquencias carregam Um enorme poder de irradja~ao pe10s epoundeitos que proshyvocam Em termos praticos afetam os stakeholders os agentes que manshytem vinculos com dada organiza~ao isto e os participes ou as partesinteressadas

bull na frente interna temos os traba1hadores gestores e proprietarios(acionistas ou quotistas)

bull na hente externa temos os clientes fornecedores prestadores de servi~os autoridades governamentais bancos credores concorrenshytes mfdia comunidade local e entidades da sociedade civil _ sinshydicatos associa~6es profissionais movimentos sociais clubes de servl~Os e igrejas

Mas por que as decisoes empresariais afetam os ambientes interno e externo Simp1esmel1te porque os agentes sociais sao vulneraveis 0 caso do Tylenol nos Estados Unidos e um exemplo classico

A Johnson amp Johnson possufa 35 do mercado de analgesicos nos Estados Unidos com vendas anuais de US$400 mjlhOes No final de

setembro de 1982 sete pessoas morreram envenenadas apos ingerir Tylenol Contaminado com cianeto As vendas do remedio cairam entao de US$33 milhOes para US$4 milhOes por mes

A JampJ agiu com prontidao recolheu e destruiu 22 milhoes de frasshycos em todo 0 territ6rio norte-americano a um custo de US$100 mi

22 Ver capitulo sobre as teorias eticas

Ii 1111i II01I1I-[CIO ~mlluIJijJltOO( lui InUlllndn IlfllrlllI1l11111l tl~ til

I Ii II ~I lr InlOI ~~~Hd08 0 que rcsullou elll CfllCfJ de 12- I till

II IlrJllcias na mlclJa EtO redor clo lTlundo llulrtllV- dc chantagem reita por um norte-americano qUtl iuho

Ii III l1U(+SIW colocando cianureto em parle do lote distribufclo IW

fii lhicago foi denunciada pela JampJ e 0 culpado mais 1art Iii Ii IIJ preso S6 que antes de a investigagao estar completa e ~ot) () ir ( It tJs ropercussoes publicas a empresa teve que se posicionar

I jnrrmsse medidas corajosas para reverter 0 quadro de c1esconll II I (~riado arriscaria perder 0 pr6prio negocio e nao somenlt~

I reflelo do Tylenol IJuddiu entao tazer 0 recall e descontinuar a produltao do remedl

iI IdangEl-lo com nova embalagem inviolavel Fez campanhas flu GlllrBcimento e ofereceu recompensas pela prisao do assassino 1

lilillas telef6nicas adisposigao para ajudar quem necessitasse 8 ClI

IllOl1strou visivel preocupagao com a tragedia Fez um acordo GlIlf)

vlllor jamais velo a publico com as famllias das sete vitimas G I 11 )11

rJutras US$100 milhOes com a parte fiscal da devolugao dos medII I

rllentos Nao quis correr 0 risco de comprometer sua imagenl C I J III

fragar Afinal a JampJ nao se concebia como mera tabricante de Il~~rllt

dios seu neg6cio estrategico era vender saude segura Havia elabn rado um codigo de conduta que determinava a resposta aproprkJdH para situaltoes de grave emergencia Oualquer mancha sobre sua f

putagao ou sobre a lisura de seus procedimentos colocaria em X

que sua credibilidade Na ocasiao reafirmou seu modo de agir e consolidou sua imagem d~

empresa confiavel e responsavel Posteriormente gastou mais US$15 milhoes em campanhas publicitarias para recuperar 0 mercado perdishydo e obteve enorme sucesso dois anos depois do incidente23

Vamos mais a fundo Edificil acreditar que a empresa tenha a~Sll mido tal postma par mero born mocismo Emais crivel aceitar que (middotLt tenha conjugado seu credo organizacional - que considera a empreSl

23 NASH Laura L Etica nas Empresas boas intemoes J parte Sao PaJlo Makron Books 1) p 36-40 CALDINJ Alexandre Como gerenciar a crise revista Exame 26 de iall~ir I

2000 e revista Exame 8 de novembro de 1995 10

- 1IT11 I 1111 Iol1l iul

respons5vel pelos clientes empregados cOl1lunidade e acionislas - com uma analise estrategica da rela~ao de for~as no mercado re1a~ao esta que a mfdia tao bern ajudou a forjar com alertas regulares aopiniao publica e que se ttaduz na capacidade de os stakeholders boicotarem qualquer entidade que nao proceda de forma socialmente responsavel De maneira que nao e improvavel que 0 proprio credo organizacional tenha sido frushyto de urn contexto hist6rico bern preciso e de uma analise da dinamica social

Malgrado a influencia do codigo elaborado alguns perguntam por que sera que a JampJ fez apenas 0 recall do Tylenol distribufdo nos Estados Unidos e nao no resto do mundo sera que nao inHuiu aqui a percep~ao

de que 0 nive de mobiliza~ao da sociedade civil norte-americana e muito maior do que 0 das sociedades civis de outros paises igualmente consushymidores do produto Se assim nao fosse dizem aquelas vozes bastaria ter recolhido 0 Tylenol na area de Chicago em que daramente se evidenshyciaram os indfcios de viola~ao dos frascos e nao no territ6rio todo dos

II Estados Unidos Eis uma boa pista para penetrar no cerne da etica empresarial Entre

diferentes cursos de a~ao h5 sempre uma escolha a fazer nao seria esse urn motivo razoavel para que a reHexao etica se de nas empresas Por que adotar uma decisao e nao ontra Quais consequencias poderiam advir 0 que poderia prejudicar os neg6cios Quais medidas poderiam ferir os interesses ou os valores de quais stakeholders e quais contribui~6es asoshyciedade seriam bem acolhidas Como tudo isso repercutiria sobre 0 futushyro da empresa Em suma qual resposta estrategica dar nas mais diversas situa~6es de mercado

A bern da verdade em ambiente competitivo as empresas tern uma imagem a resguardar uma reputa~ao uma marca e em paises que desshyfrutam de Estados de Direito a sociedade civil reune condi~6es para mobilizar-se e retaliar as empresas socialmente irresponsaveis ou inid6neas Os c1ientes em particular ao exercitar seu direito de escolha e ao migrar simplesmente para os concorrentes disp6em de uma indiscutivel capacishydade de dissuasao uma especie de arsenal nuclear A cidadania organizashyda pode levar os dirigentes empresariais a agir de forma responsavel em detrimento ate de suas convic~6es intimas

Em outros termos a sociedade civil tern possibilidade de fazer polfshytica pela etica e viabilizar a ado~iio de posturas morais por parte das empresas por meio de uma interven~ao na realidade social Lan~ando

I II~middotmiddot bull - bull

IILill de quais canais ()l illiun1lIl~lltoS Recorrendo a mkil lll~tlii It

hllicote dos produtos vendidos ~IS agencias de defesa clos conslruid()(

)1 cia cidadania como 0 Procon (Funda~ao de Prote~ao e Defesa do (~nn -Iltnidor) a Promotoria de Justi~a e Prote~ao do Consumidor 0 lPCll1

(Institnto de PesOS e Medidas) 0 Centro de Vigilancia Sanitaria 0 Dillto (Departamento de Inspeao de Alimentos) 0 Inmetro (Institu Nad llat de Metrologia Normaliza~ao e Qualidade Industrial) eo Idee (ma i tuto Brasileiro de Defesa do Consumidor) uma organiza~ao nao gltlVLl

lamental

Figura 10

A politiCO pela etica pressoes cidadiis

bpi cote )ugencias cdefes~

Em paises autoritarios ou totalitarios esses recursos sao ponca efiea zes ou nao estao disponiveis e a sociedade civi~ vive arnorda~ada ou sil1lshyplesmente nao existe De forma simetrica em ambientes economicos k chados como nas economias de comando ou noS ambientes de carater semifechado em que prevalecem oligop61ios e carteis a poHtica peb

etica tambem sofre impedimentos Traduzindo a polftica pe1a etica relIne boas condi~6es para HoresClr

quando 0 chamado poder de mercado das empresas esta distribufdo quanshydo existe col11peti~ao efetiva e possibilidades reais de escolha por partl de clientes e usnarios finais Mesmo assim 0 respeito a soberania dos c1ientes ainda nao e moeda corrente em muitos paises e s6 acontece St

11

urI oj 111l1tU tlti

eles gritarem ou fizerem um escaudalo Atestado de dClllollstrJltJo de for~a dos consumidores encontra-se no nurnero de consultas e reclarnashylt6es feitas ao Procon da capital de Sao Paulo 0 nurnero de atendimentos realizados entre 1977 e 1994 foi de 1498517 entre 1995 e 2000 esse numero subiu para 1776492 Isso significa que em 6 anos houve 18500 mais atendimentos do que nos 18 anos anteriores Sem duvida urn cresshycimento vertiginoso 24

Para ilustrar esse poder de fogo vale a pena citar urn caso que chocou a opiniao publica e envolveu a Botica ao Veado DOuro farmacia de manipula~ao centenaria fundada em 1858

Por intermedio de um laboratorio de sua propriedade (Veafarm) foshy

ram produzidos em 1998 1 milhao de comprimidos lnocuos de um

remedio indicado para 0 tratamento de cancer de prostata (Androcur

da Schering do Brasil) Dez pacientes que faleceram na epoca podem ter tide a morte acelerada por terem ingerido 0 placebo Revelado 0

fato a denuncia da falsifica~ao foi repercutida pela midia e teve efeitos devastadores sobre a empresa Desde logo 19 pessoas foram indishy

ciadas pela Justi~a no processo de falsificacgao 25

Seis meses depois as lojas mantidas em importantes shoppings paulistanos (Ibirapuera Morumbi e 19uatemi) tiveram suas portas feshychadas metade dos andares da propria loja matriz no centro de Sao

Paulo foi desocupada 0 faturarnento caiu 80 dos 200 funcionarios que a empresa tinha antes do evento restaram pouco menos de 50 os

fornecedores deixaram de receber em dia26

A clientela nao perdoou 0 desrespeito e a fraude nem a irresponsashybilidade virtualmente homicida Puniu a empresa com urn eficaz boicote

Outta caso que desta vez envolveu diretamente a Schering do Brasil filial da Schering alema merece considera~ao ja que tambem retrata 0

inconformismo dos consurnidores

24 Ver FUllda~ao Procon SP wwwproconspgovbr 25 CONTE Carla ]uiz decrcra prisao de socio da Borica Folha de Sao Paulo 10 de novembro

de 1998 26 BERTON Particia Veado DOuro faz feestrurura~ao Gazeta Menanti 29 de abril de 1999

I ~ II i

I 1fI rY)eados de 199~1 u l~lllt)l Il()rio realizou um t8ste GUn) UInH nOVd

Ililquina embaladora ProduLiu embalagens com piluas anticoncepmiddot

donais Mcrovla sem 0 principio ativo Os placebos das 644 mil carte~as r uu dos 1200 quios de comprirnidos continham lactose com um reshy

vestimento de a~ucar e foram mandados para serem incinerados por

urna empresa especializada Ocorre que em maio a Schering io iniormada por meio de uma

carta anonima que um lote de placebo estarla sendo comercializado

Uma cartela do produto estava anexa Como a empresa ja tinha sido

vltma de remedios ialsos acreditou que a carta anonima era uma tenshy

tativa de chantag Resoveu entao investigar por conta proprla em emmais de uma centena de iarmacias Nada esclareceu

No inicio de iunho uma senhora gravida de um mes entrou em conshy

tato com 0 laboratorio e apresentou as pllulas falsas A Schering levou mais 15 dias apos a denuncia para notiticar a Vlgilancia Sanitaria

Curiosamente 0 fez no dia em que Jornal Nacional da TV Globo evava

ao ar a primeira reportagem a respeito Seu pecado residlu al embora

o aboratorio nada tivesse ialsificado foi displicente no contrale do descarte de placebos e nao alertou a opiniao publica sobre a possibishy

lidade de desvio de parte destes Sua omissao custou-Ihe caro Ate final de agosto 189 mulheres dis-

ramseram ter engravldado vltimas dos placebos que chega as farmashycias A midia moveu uma fortssima campanha contra a empresa afeshy

tando profundamente urna marca criada na Alemanha 127 anos atras

A Procurado Gera do Estado de Sao Paulo e 0 Procon entraram ria

com uma acgao civil publica contra 0 laboratorio pedindo ndeniza~ao por danos morais e materlas A Secretaria de Direito Economico do

Ministerio da Justl~a multou a empresa em quase R$3 mih6es A Vigishy

lancia Sanitaria interditou 0 laboratorio par duas vezes A suspensao

do anticoncepcional durou um mes e meo e for~ou a Schering a

relan~ar 0 produto que ia foi Hder do segmento (tinha 22 do mercashy

do) com nova cor de embalagem o inquerito polcial instaurado sobre 0 caso loi encerrado sem indlshy

car culpado 0 que dificultou tremendamente a recupera~ao da s ver

credibilidade do laboratOrio A Schering teve entao que promo uma milionaria campanha de comunica~aocom gastos avaliados em mais

12

5 Etica tmpresarial

de R$15 milhoes em uma tentativa de reCOnstruir sua imagem queficou muito desgastada e sob suspeita 27

No ano seguinte a matriz alema determinou as suas 50 sUbsidiarias que Suspendessem os testes de novos equipamentos e embalagens usando placebo a tim de evitar que casos como 0 do Microvlar se repetissem pelo mundo A empresa perdeu R$18 milh6es com 0 epishy

sodia samanda as meses em que a praduta esteve fara do mercado

queda nas vendas quando este votou as prateleiras e dois acordosfeitos com consumidoras 28

A Schering do Brasil Jevou tres anos para votar ao topo do mercado de anticoncepcionais em 2001 a participagao no mercado do Microvlar

cllegou a 177 (embora detivesse 22 em 1998) Tres fatores Contrishybuiram para essa recuperagao a) a fideJidade que as consumidoras

em gera mantE~m com a pilula que tomam ja que tem que acertar a dosagem de hormonios e livrar-se dos possiveis efeitos colaterais de seu usa b) 0 baixo prego do produto (3 reais e 50 centavos a cartela 8m 2001) e c) a confianga preservada junto aos medicos que receishytarn 0 anticoncepcionaJ 29

Para quem nao soube avaliar corretamente 0 nivel de exigencia dos dientes e para quem errou redondamente em termos de comunicaao ilti sem dnvida um serio transtorno simpfesmente porque nao ho adeqllado gerenciamento da crise 30 uve

Em um Caso semelhante porem Com reaao rapida e COmpetente bull jhoclia Farma foi aJerracia par um farmaclurico em 1993 de que um Ctela do neuroJitico AmpJictil fora achada dentro de uma caixa do llltialergico Fenergan No rua seguinte 0 laborat6rio soltou um comunicashy

lfTTENCOURT Silvia e CONTE Carla A~ao de Serra e eleitoraJ diz Schering alema Foha de Sll1O 3 de julho de 1998 SCHEINBERG Gabriela Schering foi vitima de crime afjnna uccurivo 0 Estado de sPa~rlo 4 de julho de 1998 PASTORE Karina 0 paraiso dos remeshys clius IJlsiJi(ado revista l1eja 8 de julho de 1998 PFEIFER Ismael Schering gasta milh6esI~III rcconstruir ill1ltlgem Gazeta Mercantil 27 de agosro de 1998

x C()RlJ~A Silvia c ESC()SSJA Fernanda cIa Scherillg cancela res res Com placebo Folha de SItw 26 de selelllbro de 1999

) VII imiddotIinAGA Vi(Lnl( Ivlicrrgtvlar VOa ao 10po do Illcnaltl til prld (middoti~ti1 Merci1ntil 3 ltI IJIIl dl Jon I

11 II~IIR( Fihiubull 11 d Loilllflrnilll((uItI tI 11111 I ~ 11 Jlllio I I))li

011 t lIP (tlco 571

do na televisao advertindo os consumidores Contatou a Vigilancia Sanitashyrin e determinou 0 recolhimento do lote Nao houve vitimas da troca3l

Na primeira pagina de um grande jornal do interior de Sao Paulo a foto de uma rnulher careca afirmando que ficou assim logo depois de usar um xampu da Gessy Lever (xampu Seda urna de suas principais marcas e Ifder do segmento) desencadeou uma rea~ao imediata da

empresa Os gestores da Gessy Lever fizeram consultas a seu laboratorio

mandaram recolher produtos para analise despacharam um medico independente e um advogado para a cidade interiorana Em algumas horas respiraram aliviados a mulher raspou a cabe~a

Mesmo assim a Gessy Lever teve que responder a um inquerito policial e definir uma estrategia de comunica~ao para dirimir quaisshy

quer duvidas32

As empresas detem marcas que representam preciosos ativos intangishyveis e que consomem tempo e dinheiro para serem construidas Em deshycorrencia muitas percebem que perder a credibilidade deixando de ser transparentes e de agir rapidamente eurn passo fatal para 0 neg6cio que operam

Caso de repercussao mundial foi 0 da contamina~ao de alimentos pela ra~ao fornecida aos animais nas granjas e fazendas da Belgica A origem da contamina~aofoi um oleo chamado ascarel e os donos da empresa acusada de ter adulterado a ra~ao foram presos

Em junho de 1999 depois de difundido 0 fato sumiram das prateshyleiras dos supermercados os frangos e os ovos a carne de boi e de porco 0 leite a manteiga os queijos e tudo 0 que e feito com esses ingredientes inclusive os chocolates 0 governo belga interditou a disshy

1 IIIU1 IIN(kR jlIql hl I Ilt 11111 I dlmiddotllmiddotrr ill~ndio rcvir Exarne 15 d( lulho de 10~)H

1 II M 1ldlS( l [JIlII 11 I II I I 1 gt fImiddot1 Ilt 11 I Ii fed Irfe de eviral e cllfrelll 1I1ll1 LT-middot (111( ~~flrJI 1l1IU I I I I lid I L lljltl

13

58 Etica Empresarial

tribuigao desses alimentos por suspeita de contaminagao par dioxinas substancias altamente t6xcas que podem causar doengas que vao do diabetes ao cancer

o que deflagrou grave escandalo na Uniao Eurcpeia entretanto foi que 0 governo belga demorou dois meses para revelar que os produshytos estavam impr6prios para 0 consumo A negligencia provocou a renuncia de dois ministros - 0 da Agricultura e 0 da Saude - e levou a suspensao das exportag6es causando um prejuizo avaliado em US$1 545 bilhao Mais ainda deixou aberta a possibilidade de a Belgishyca ser levada a julgamento em uma corte internacional por expor a riscos a populagao do continente europeu33

Em resumo no ultimo quartel do seculo XX a qnestao etica tornoushyse urn imperativo no universo das empresas privadas e par extensao das organizasoes publicas do Primeiro Mundo Converteu-se ate em disciplishyna obrigat6ria nos cursos de Administrasao As razoes residem no essenshycial no fato de que escandalos vieram atona em virtude do desenvolvishymento de uma mfdia plural e dedicada a investigalt53o Atos considerados imorais ou inidoneos peJa coJetividade deixaram de ser encobertos e toshylerados A sociedade civil passon a exercer pressoes eficazes sobre as empresas Isto e dada a sua vulnerabilidade cada vez mais os clientes procuram assegurar a qualidade dos produtos e dos servilt5os adquiridos POl sua vez concorrentes fornecedores investidores autoridades govershynamentais prestadores de servisos e empregados auscultam 0 modus operandi das empresas com as quais mantem relasoes visando policiar fraudes e repudiar alt50es irrespons8veis

Resultados Quando os escandalos eclodem estes geram altos cusshytos multas pesadas quebra de rotinas baixo moral dos empregados aumento da rotatividade dificuldades para recrutar funciowirios qualishyficados frau des internas e perda da confial1lt5a publica na reputalt5ao das empresas 34

Dificilmente os dirigentes empresariais podem manter-se alheios a esse movimento de mobilizalt5ao dosstakeholders Nem 0 posicionamento moral das empresas pode ficar amerce das flutualt50es e das inumeras

33 Revi5ta Veja 16 ue junho de 1999 0 Estado de SPaulo 2 de Jldho k 1l))J

34 NASH Laura L opcit p 4

OJ) I II ckJ

i 11ciencias morais individuais Pautas de orientalt5ao e pad-metros 111

Iillhlcao de conflitos de illteresse tornam-se indispensaveis RepontH lIl[lU

11111 conclusao a moral organizacional virou chave para a pr6pri~1 soh (

~lr~llcia das empresas I materia esra ganhando relevo no Brasil dado 0 porte de sua eeOll

1111 e em funlt5 da 0Plt5 estrategica que foi feita - integrar 0 pli~ (IIIao lll mercado que se globaliza e que exige relalt5oes profissionais e COil lIill1ais Em decorrencia 0 imaginario brasileiro est1 sofrendo lenta~ c rsistentes alteralt5Oes Ha crescente demanda por rransparencia e pruli dlk tanto no nato da coisa publica como nO fornecimento de proclllltJ~

crvilt5os ao mercado Caberia entao as empresas convencionar e prJ i

ao

l I 11gum c6digo de conduta que esteja em sintonia com essas expectt1 IIS Mas sobretudo valeria a pena conceber e implantar um conjunto tk

esccanismos de conrrole que pudesse prevenir as transgtesso as ori(1

IIt)es adotadas

14

As ieorias eticas Com 0 ohar perdido um sobrevivente

do campo de exterminio disse Se Auschwitz existiu Deus nao pode existir Jgt

As linhas de demarcasao

Vma mocinha de 15 anos procura 0 pai e pede-Ihe ajuda para fazer um aboIto Exige no entanto que a mae nao saiba Abalado 0 pai pershygunta quem a engravidou Em um rasgo de maturidade a mocinha Ihe diz que 0 menino tem 16 anos e ponanto e tao crianlta quanto ela Val1os consultar a mae sugere 0 pai Para que pergunta a garota se ja sabemos a resposta Segundo a mae uma catolica praticante 0 aborto constitui urn atentado contra a vida um crime imperdoavel e pOnto final

A moral catolica abriga-se sob as asas de uma etica do dever e sentenshycia falta 0 que esta prescrito Como 0 pai eagnostico a fiIha aposta no dialogo Ele nao CostUlDa repetir respondo par meus atos Quem sabe possa sensibilizar-se com a situaltao deIa QUilta venha a considerar as

impIicalt6es de uma gravidez prematura e a hipoteca que recaira sobre seu futuro de adolescente Nao empate minha vida pai me de uma chance suplica a filha

o pai en tao cai em si Uma vez que sua esposa ja tem posiltao tomashyda para que consulta-Ia Diante de conviclt6es religiosas que tacham 0

abono como um pecado abominavel nao resta margem de manobra A resposta sera sempre um nao sonoro Isso nao corresponde ao modo de

pensar e de agir do pal que nunca deixou de avaliar as conseqilencias do que faz Assim em face do desamparo da filha como nao se comover Algumas interrogalt6es comeltam a assaIta-Io faz sentido minhl men ina ter um bebe fruro da imprudencia Esensato criar lima ltrilIl(1 qlil niio foi dCS(jlCt () qUt rlII~lrJn Os pJrCllles IS llllil~~ 0- 111IIII I

ulras

rdllcidos do clube os professores as colegas da minha filha 0 qLl dill1o 1 pessoas com as quais me relaciono E aquelas com as quais trabalho Iso tudo nao vai comprometer 0 destino dela Ese ell concordar com () Ihorto e alguem souber 0 que vai acontecer

o pai reflete sobre as circunstancias e mede os efeitos possfveis d~

L ~Ja uma das oplt6es que se Ihe apresentam Sua avalialtao e decisi va 1 Itl1sao porem 0 deixa exausto em um processo de crescente ang6sri1 pOLS as conseqiiencias da decisao a ser tomada recaido sobre seus OITlshy

hros Em conrrapartida como ficaria a mulher dele se soubesse do peJi do da filha Certamente nao ficaria desnorteada graltas aresposta pr()n~

1 que tern Eprovavel que aceite com resignaltao a vinda daqueia crian(71

lO mundo e que nao se arormente com os desdobramenros do faro Pm que isso Porque as implicalt6es do cumprimento do dever nao sao de SUl

llcada - simplesmente pertencem a Deus Em resumo estamos diante de duas maneiras oposras de enfocar a qlll

[10 do aborto Melhor dizendo estamos diante de dois modos difnlmiddotllIci

d~ tomar decis6es cada qual derivando de uma matriz etica distinu Ora como a etica teoriza sobre as condutas morais vale iudag11 i~

cxiste uma 6nica teoria etica Absolutamente nao A despeito de () li-t logos fazerem da unicidade da etica um postulado ou apesar (Ii S( 11111

tlcsafio recorrente para muitos filosofos ha pelo menos duas teor lll em como ensina magistralmente Max Weber

1 A etica da convicqao entendida como deonrologia (trataJu dt )t

deveres) 2 A etica da responsabilidade conhecida como teleologia (estudo dlll

fins humanos)l

Escreve Weber

toda atividade orientada pela hica pode ser subordi11ar-se a dlIi 111aximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas Eta )()II orientar-se pela etica del- responsabilidade (verantwortungsethistJ) (11

pela etica da convicqao (gesinnungsethisch) 1sso nao quer dizer tUI

rJtica da convicqao seja identica aausencia de responsabilidade t a dii(

da responsabilidade d (UsciIa de convicqao Nao se trata e(Jidl1I

mente disso Todauia I IIIII (IU-70 abissal entre a atiludr rlt bull7flP II I

I II~I H [Il i I IIJIII II hIIW I i~li4l1 1111 illllili bullbull IDigt 101lt

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 8: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

I r It rI I IIIl((IIII

montante alcangou US$269 rnilh6es foi (jnanci~j(I I 11110 II i IprlO Citi dois advogados funcionarios da CEI e assessores elu I ItHl(lI y licashy

i

ram com outros 12 da holding (pagaram uma parte em dinheJro e 0 restante em trabalho)

As explicagoes dadas pareceram razoaveis como os acionistas nao recebiam dividendos desde 1991 e como havia pressao do governo norte-americana por causa dos prejuizos seguidos do banco fol preshyciso vender fatias da sUbsidjaria argentina para incorporar 0 lucro ao

seu balan90 e agradar os acionistas Ganhou 0 Citi US$450 milh6es livrando-se dos titulos da divida argentina Os acionistas argumentashy

ram no entanto que 0 CHi deixou de realizar outros US$575 milhoes com essa opera9ao 13

A quem deviam lealdade esses altos funcionarios do Citibank Uma resposta licita poderia ser aos acionistas E por que Porque se trata

de uma coletividade cUja abrangencia emaior do que a rede informal

de poder formada pelos funcionarios envolvidos na Operag30 e porshyque afinal os acionistas sao seus empregadores

Urn dos graves problemas que atormentou a sociedade brasileira no final do seculo XX disse respeito ao deficit da Previdencia Social Por sell vulto amea~ou a estabilidade economica do pals Havia um abissal desequiHbrio entre 0 que ganhava e 0 que Custava um trabalhador do setor privado e outro do setor publico No primeiro caso 0 beneficio obedecia ao teto de R$1200 No segundo caso nao havia limite Ora existiam em 1998 18 milh6es de trabalhadores privados recebendo beshyneffcios pelo INSS e 0 rombo do Instituto chegava a R$78 bilh6es Em contraposi~ao menos de 3 milh6es de trabalhadores do setor publico geravam um deficit de R$34 bilh6es Ou seja atraves dos impostos pashygos 0 conjunto dos brasileiros bancava a aposentadoria de uma pequena minoria No seio desta 905 mil servidores da Uniao Custavam asociedashyde US $18 biIh6es mais do que a saude de toda a populaltao J4 AContece que 0 rombo da Previdencia subiu de R$4224 biIh6es em 1998 para R$723 bilh6es em 2002 e as mesmas distorlt6es permaneceram entre os aposentados 11 eram servidores publicos recebiam 41 dos beneshyfkios e representavam por si s6s um deficit de R$S 62 bilh6es 15

13 Revista Veja 27 de abril de 1994

14 LAHOZ Andre Caiu a ficha revista Exame 18 de novembro de 1998 15 CORREA Crisriane Cad a ceforma reyjsta Exarne 15 de maio de 2002

101 I ((It u

i(Ii LltlC OS dirilOgt lllquirido~ de uns nio se COl1verteram em priviIeshyIII (l~ oblcS beneficiJlldo os bem aquinhoados em uma especie de illllyenicdade invertida A aposentadoria que favorece uma categoria soshy

i I_d 1middotIll detrimento da maioria da populaltao nao perdeu assim sua legishyillilllllde e portanto sua valida~ao moral Escreve JoeImir Beting

( ) saudoso conselheiro Acacio fil6sofo e semi610go costumava adshyIJcrtir 110S idos da Velha Republica (quando s6 3 dos brasileiros voshylavam para presidente) que nos tratos da coisa publica a soma das fwrtes nao pode ser maior do que 0 todo Essa revolta politica contra a Ilritmetica orfamentaria e que esta na raiz de todos os vicios e desvios do Estado contempordneo - no Brasil e 110 mundo A irresponsashyhilidade fiscal pode tel mil explicafoes mas nenhuma justificativa Lla estiola governos que nao se governam nao se deixam governar e fechando aroda da gastanfa publica nao conseguem govemar 0 proshyblema de fundo eque a boa gestdo das contas publicas sem vazios nem desvios sobre ser uma exigencia moral demanda compettncia tecnica e sabedoria potica ou seja duas moedas mais escassas histoshyricamente da administrafao publica H J6

Para superar as in6meras Iinhas divis6rias que demarcam 0 espalto -KiaI aparentemente a tinica safda consistiria em fazer escoIhas que inshyrcressassem ahumanidade como urn todo Esrarfamos assim praticando um aItrulsmo inquestionaveI pois terfamos sempre em mente os bens publicos globais ja que estes nao conhecem fronteiras Bens publicos gIoshybais a serem preservados combatendo-se entre outros 0 narcotrafico a Aids as radia~6es nucleares a polui~ao ambientaI 0 buraco de ozonio 0

efeito estnfa 0 lixo radioativo 0 mercado negro de material fossil a aItera~ao dos ritmos das esta~6es a erosao do solo 0 desemprego tecnoI6gico e 0 terrorismo internacionai Poderfamos tambem investir na defesa dos direitos humanos na redu~ao dos arsenais nucleares e na conshytensao de sna prolifera~ao

Mesmo assim quando essas quest6es vem a ser enfrentadas levanshytam-se as vozes daque1es cujos interesses sao feridos por exemplo nem todos ainda hoje ap6iam 0 respeito aos direitos humanos (pafses totalishytarios e polfcias autoritfuias) nem os traficantes e os viciados endossam 0

combate ao trafico de drogas nem todas as empresas acatam de born

16 BETIlG Joelmir Medo da ordem 0 Estado de SPaulu 11 de junho de 2002 7

111 rlpljf11111

grntlo no lkJsd proihj~1o do lISC) do gas CFC paLl pi C( 1 JI 0 ozonlO

cia atmosfera a partir do ana 2000 em respeito ao Protoco]o de Montreal de 1987 17 E isso embora se saiba que sem 0 escudo estratosferico reshypresentado pelo ozonio a humanidade como urn todo seja mais vulnerashyvel ao cancer de pele e a catarata e que 0 sistema imunol6gico das pessoshyas fique prejudicado 18

Ademais ha conceitos que ainda nao consolidaram seu status de bens piiblicos globais - exemplo da Internet - embora outros estejam a camishynho do consenso como a paz a seguranca a cultura e a justicaY Todavia ern sa consciencia sera que e sempre POSSIVel tomar decisoes tendo a humashyIichde por marco de referencia A complexidade das sociedades contemposhy1middot~11CS e suas fraturas sociais expostas deixam ampla margem aduvida

Em um lugarejo de nome Vladimir Volynskiy cerca de 500 quil6meshytros de Kiev na Ucrania a famma gentia Vavrisevich escondeu sete Judeus de novembro de 1942 a fevereiro de 1944 Alimentou-os e cuishydou-os em uma especie de porao escavado sob 0 assoalho de sua casa Procurou contrapor-se a solugao final nazista (eliminagao dos judeus em campos de exterminio) sem nenhuma salvaguarda contm o pelotao de fuzilamento caso ela fosse denunciada

Os membros dessa familia nao eram guerrilheiros em luta contra 0

invasor nem eram mais religiosos do que a media da populagao crista ortodoxa da aldeia Nao tinham tantas posses que pudessem sustenshytar sem problemas em tempo de guerra sete bocas alem das pr6shyprias mas nao eram anti-semitas ao contrario da esmagadora maioshyria de seus conterraneos Escoilleram apenas fazer a coisa justa quanshydo nao fazer nada ou fazer a coisa injusta era a coisa certa a fazer do ponto de vista de seus interesses 20

Fizeram 0 bem quando a banalidade do mal era a regra

Il HANDYSIDE Gillian CE vai combarer inimigos do ozonio Gazeta Mercantil 2 de jl1lho de 1998 CASTRO Gleise de SATOMI LililIl e CASPANI Eduardo Empresas fazem opltiio pelo verde Gazeta Menantil Latino-americana 2 a 8 de outubro de 2000

IX COCKROFT Claire Dezenove paises estndariio perda de ozonio 0 Estado de SPaulo reshyproduzindo artigo de The Guardia11 29 de janeiro de 2000

I) CALAIS Alexandre ONU ctitica efeiros da globalizaltao Gazeta Menantil 9 a 11 de julho de 1999

lO WEIS Luiz A lista de Vavriseyich 0 Estado de SPaulo 9 de dezembro de 1997

111 II 11111 Iii P lll

l-1l1hOL1 kalcLid~ st 1rLldlL~1 elll termoS de fidelidade a tais OLl quais Illividacks esta muitas vczes assume 0 carater abstrato de lealdade a I illLlpios Oll a ideais isto e 0 inv6lucro ret6rico e ideol6gico contribui Jlr mobilizar os semelhantes Age-se assim em nome da Tradiltao da Iropricdade de Deus da Familia da Religiao da Honta da Lei e da

h dem da Hierarquia e da Disciplina da Superioridade da Ralta da 1nshyk[tndencia Nacional da Revolultao Social do Futuro do Socialismo Ii i lZeino dos Ceus da Paz entre os Povos do Internacionalismo Proletashy110 da Terra Prometida da Fraternidade da Justilta Social da Igualdade

1middot1t De maneira que a pergunta sobre a quem dever lealdade acaba crushyllldo e modelando esta outra lealdade a que Aparece entaO uma lealshy

enta lhde as ideias que funcionam como far6is ou guias as repres lt6es il11aginarias que sao capazes de galvanizar as energias de coletividades hem precisas porque ideais ou prindpios sao preconizados par agentes coletivOs nao sao entidades dissociadas dos interesses materiais que se confrontam socialmente Em ultima instancia raros sao aqueles que deshyfendem algo que va ferir seu modo de vida e suas expectativas com relashy~ao aO futuro Ao contrario todos tendem a esposar pontos de vista e perspectivas que se coadunam com 0 que eles tem de mais precioso - a posiltao que ocupam no espalto social ou a posiltao que imaginam que

merecem oCl1parQuando se fala de Liberdade 0 grito de guerra arregimenta por exemshy

plo bnrgues e plebeus contra 0 Antigo Regime absolutista e seus es estamentos privilegiados (a nobreza e 0 alto clero) pondo em jogo coleshytividades que questionam ou defendem determinado estado de coisas

Quando se fala de religiao niio se trata de algo etereo e nao observavel

mas de uma religiao espedfica que detem certa influencia em dado perf0shy

do hist6rico _ religiao que uma coletividade professa Eposslvel identishyficar uma categoria social que a abralta (cat6lica evangelica judaica

islamica etc) e distinguir quais interesses estao em jogo Ate no caso do ate1smo geralmente os comunistas os anarquistas e os socialistas de forshymalt8o marxista aglutinam-se em um p610 e os fieis de todas as confissoes religiosas formam outro p610 0 confronto ocorre por conseguinte enshytre coletividades que professam esses au aqueies credos e nao entre absshy

res tralt6es formais E a oposilt3o se da entre agentes que sao portado de relaltoes sociais determinadas (ateus versuS categorias religiosas por exemshy

plo) e que personificam contradiltoes

8

-0middot I IJlt I tJ IIIJltIII

Assim OS idearios nao pairam no ar divorciados das coJetividades que os abra~am mas fincam suas raizes nos interesses materiais historicamente defishynidos e correspondem as tradu~6es imaginarias desses mesmos interesses

No final de novembro do ana 2000 no Rio de Janeiro cerca de 3 mil

motoristas auxiliares - trabalhadores que pagam uma diarla aos doshy

nos de taxi - bloquearam 0 transite nas principais vias da cidade

provocando um verdadeiro caos

A manifestag8o foi organizada pelo movimento Diaria Nunca Mais

em protesto contra a liminar concedida pela Justiga e que sustou os

efeitos de uma lei aprovada em lunho pela Camara dos Vereadores e

sancionada pelo prefeito Luiz Paulo Conde Essa lei permitia que a

Prefeitura fornecesse licengas de taxi aos 13 mil motoristas auxiliares

convertendo-os em aut6nomos

o pedido de liminar havia side solicitado pelo Sindicato dos Motoshy

ristas Aut6nomos do Rio de Janeiro js que considerou absurda a enshy

trada de mais concorrentes na praga

Em represalia os motoristas auxilfares abandonaram centenas de

carros nas principais vias de acesso da cidade trancaram-nos e levashy

ram as chaves 0 Batalnao de Choque da Polfcia Mifitar interveio queshy

brou 0 vidro de 40 taxis para soltar 0 freio de mao apreendeu 220

vefculos e prendeu 22 manifestantes 21

A tentativa dos motoristas auxiliares de sensibilizar a popula~ao carioca para que apoiasse 0 movimento saiu pela culatra As lideran~as nao pershyceberam que a tatica utilizada feria os interesses de centenas de milhares de pessoas que deixaram de poder circular livremente levando-os a se insurgir contra os baderneiros que transtornam a vida da cidade Emshybota a reivindicaltao - obten~ao de uma licen~a de taxi - pudesse ser considerada legftima os meios utilizados foram desastrosos e 0 resultado nao poderia ser outro a a~ao de bloquear os acessos ao Rio de Janeiro deu moralmente ganho de causa aos taxistas E por que isso Porque nao foi altrufsta nao levou em considera~ao os interesses daqueles que seshy

21 RODRIGUES Karine Com projeto auxiliar vira prupriet~rio Folha de SPaulo 2S de noshyvembru de 2000

HII 1

ill I Ijlldicados rch 11l1~1 Illtlllld assumiu un) c~Irlll1 lmiddotl lPjVIt1 I

I d gt11 lt(lido condenaJa peLt populaltao ainda que m)is l)rdl q~ IllU

1 11(li 1l1xiliares obtivessem 0 dire ito de pleitear licencsas provis6tins 1111

1 11lt1 Minai 0 que e au nao moral depende tambem da reb~Jo Iv

I-In~ em presell~aI~nl suma como resolver esta questao candente a quem devenws Iv lhk Lan~ando mao de um criterio objetivo que passa par olltr] WI

~~illl) _ a quem beneficia uma a~io determinada e a quem esta precll iii Toda e qualquer altao pode ser submetida a esse erivo Em tese flllll ill) I11dis ampla for uma coletividade beneficiada mais altrulsta scr~i 1

1110 au ao contrario quanto 111ais ampla for uma coletividade prejlldi

i ld) mais exclusivista ou egoista sera a alt5o 15so nos leva a procurar saber como identificar 0 tamanho das colc i

vidadesbull No nfvel macrossocial a maior coletividade possive1 no plan~I~ l sem duvida a humanidade enquanto que abaixo desta vern (ivili

za~6es imperios nalt6es e religi6es bull No nlvel mesossocial coletividades de tamanho intermedi5ril) ~l( 1

as etnias as regi6es au provincias as classes sociais as catcgul i

sociais e os publicos (usuarios au consumidores) bull No nfvel microssocia1 coletividades restritas sao organizalt6es sill

gulares e suas areas componentes ate desembocar nas familia e ILl

menor celula que e 0 individuo

Figura 9

JM II I

Escopo das morais devemos lealdade a quem

lNrERMEDrARlO REsTRtl0 (nivelmcso) (nivel m1CfO)

9

tm SltLJa~oes muiro pecujjare~ OU elll sirlllgt(s (x1 IC I) 11gt _ lteOlllO cnl

algumas escolhas de Sofia - e possivel ser illtrufsta atelldendo a cok 22

tividades menores Mas no caso estariamos diante do que e uiduel fazer nao do que seria 0 mais desejave1 fazer Exatamente con1O nas chashymadas roletas russas que ocorrem em hospitais publicos superlotados quando sobram pacientes criticos nos corredores e aparece uma unica vaga na UTI - 0 que faz 0 medico de plantao Escolhe um dos pacientes ou nada faz porque nao existem vagas para todos

Por que Mica nos neg6cios

As decisoes empresariais nao sao in6cuas an6dinas ou isentas de conseshyquencias carregam Um enorme poder de irradja~ao pe10s epoundeitos que proshyvocam Em termos praticos afetam os stakeholders os agentes que manshytem vinculos com dada organiza~ao isto e os participes ou as partesinteressadas

bull na frente interna temos os traba1hadores gestores e proprietarios(acionistas ou quotistas)

bull na hente externa temos os clientes fornecedores prestadores de servi~os autoridades governamentais bancos credores concorrenshytes mfdia comunidade local e entidades da sociedade civil _ sinshydicatos associa~6es profissionais movimentos sociais clubes de servl~Os e igrejas

Mas por que as decisoes empresariais afetam os ambientes interno e externo Simp1esmel1te porque os agentes sociais sao vulneraveis 0 caso do Tylenol nos Estados Unidos e um exemplo classico

A Johnson amp Johnson possufa 35 do mercado de analgesicos nos Estados Unidos com vendas anuais de US$400 mjlhOes No final de

setembro de 1982 sete pessoas morreram envenenadas apos ingerir Tylenol Contaminado com cianeto As vendas do remedio cairam entao de US$33 milhOes para US$4 milhOes por mes

A JampJ agiu com prontidao recolheu e destruiu 22 milhoes de frasshycos em todo 0 territ6rio norte-americano a um custo de US$100 mi

22 Ver capitulo sobre as teorias eticas

Ii 1111i II01I1I-[CIO ~mlluIJijJltOO( lui InUlllndn IlfllrlllI1l11111l tl~ til

I Ii II ~I lr InlOI ~~~Hd08 0 que rcsullou elll CfllCfJ de 12- I till

II IlrJllcias na mlclJa EtO redor clo lTlundo llulrtllV- dc chantagem reita por um norte-americano qUtl iuho

Ii III l1U(+SIW colocando cianureto em parle do lote distribufclo IW

fii lhicago foi denunciada pela JampJ e 0 culpado mais 1art Iii Ii IIJ preso S6 que antes de a investigagao estar completa e ~ot) () ir ( It tJs ropercussoes publicas a empresa teve que se posicionar

I jnrrmsse medidas corajosas para reverter 0 quadro de c1esconll II I (~riado arriscaria perder 0 pr6prio negocio e nao somenlt~

I reflelo do Tylenol IJuddiu entao tazer 0 recall e descontinuar a produltao do remedl

iI IdangEl-lo com nova embalagem inviolavel Fez campanhas flu GlllrBcimento e ofereceu recompensas pela prisao do assassino 1

lilillas telef6nicas adisposigao para ajudar quem necessitasse 8 ClI

IllOl1strou visivel preocupagao com a tragedia Fez um acordo GlIlf)

vlllor jamais velo a publico com as famllias das sete vitimas G I 11 )11

rJutras US$100 milhOes com a parte fiscal da devolugao dos medII I

rllentos Nao quis correr 0 risco de comprometer sua imagenl C I J III

fragar Afinal a JampJ nao se concebia como mera tabricante de Il~~rllt

dios seu neg6cio estrategico era vender saude segura Havia elabn rado um codigo de conduta que determinava a resposta aproprkJdH para situaltoes de grave emergencia Oualquer mancha sobre sua f

putagao ou sobre a lisura de seus procedimentos colocaria em X

que sua credibilidade Na ocasiao reafirmou seu modo de agir e consolidou sua imagem d~

empresa confiavel e responsavel Posteriormente gastou mais US$15 milhoes em campanhas publicitarias para recuperar 0 mercado perdishydo e obteve enorme sucesso dois anos depois do incidente23

Vamos mais a fundo Edificil acreditar que a empresa tenha a~Sll mido tal postma par mero born mocismo Emais crivel aceitar que (middotLt tenha conjugado seu credo organizacional - que considera a empreSl

23 NASH Laura L Etica nas Empresas boas intemoes J parte Sao PaJlo Makron Books 1) p 36-40 CALDINJ Alexandre Como gerenciar a crise revista Exame 26 de iall~ir I

2000 e revista Exame 8 de novembro de 1995 10

- 1IT11 I 1111 Iol1l iul

respons5vel pelos clientes empregados cOl1lunidade e acionislas - com uma analise estrategica da rela~ao de for~as no mercado re1a~ao esta que a mfdia tao bern ajudou a forjar com alertas regulares aopiniao publica e que se ttaduz na capacidade de os stakeholders boicotarem qualquer entidade que nao proceda de forma socialmente responsavel De maneira que nao e improvavel que 0 proprio credo organizacional tenha sido frushyto de urn contexto hist6rico bern preciso e de uma analise da dinamica social

Malgrado a influencia do codigo elaborado alguns perguntam por que sera que a JampJ fez apenas 0 recall do Tylenol distribufdo nos Estados Unidos e nao no resto do mundo sera que nao inHuiu aqui a percep~ao

de que 0 nive de mobiliza~ao da sociedade civil norte-americana e muito maior do que 0 das sociedades civis de outros paises igualmente consushymidores do produto Se assim nao fosse dizem aquelas vozes bastaria ter recolhido 0 Tylenol na area de Chicago em que daramente se evidenshyciaram os indfcios de viola~ao dos frascos e nao no territ6rio todo dos

II Estados Unidos Eis uma boa pista para penetrar no cerne da etica empresarial Entre

diferentes cursos de a~ao h5 sempre uma escolha a fazer nao seria esse urn motivo razoavel para que a reHexao etica se de nas empresas Por que adotar uma decisao e nao ontra Quais consequencias poderiam advir 0 que poderia prejudicar os neg6cios Quais medidas poderiam ferir os interesses ou os valores de quais stakeholders e quais contribui~6es asoshyciedade seriam bem acolhidas Como tudo isso repercutiria sobre 0 futushyro da empresa Em suma qual resposta estrategica dar nas mais diversas situa~6es de mercado

A bern da verdade em ambiente competitivo as empresas tern uma imagem a resguardar uma reputa~ao uma marca e em paises que desshyfrutam de Estados de Direito a sociedade civil reune condi~6es para mobilizar-se e retaliar as empresas socialmente irresponsaveis ou inid6neas Os c1ientes em particular ao exercitar seu direito de escolha e ao migrar simplesmente para os concorrentes disp6em de uma indiscutivel capacishydade de dissuasao uma especie de arsenal nuclear A cidadania organizashyda pode levar os dirigentes empresariais a agir de forma responsavel em detrimento ate de suas convic~6es intimas

Em outros termos a sociedade civil tern possibilidade de fazer polfshytica pela etica e viabilizar a ado~iio de posturas morais por parte das empresas por meio de uma interven~ao na realidade social Lan~ando

I II~middotmiddot bull - bull

IILill de quais canais ()l illiun1lIl~lltoS Recorrendo a mkil lll~tlii It

hllicote dos produtos vendidos ~IS agencias de defesa clos conslruid()(

)1 cia cidadania como 0 Procon (Funda~ao de Prote~ao e Defesa do (~nn -Iltnidor) a Promotoria de Justi~a e Prote~ao do Consumidor 0 lPCll1

(Institnto de PesOS e Medidas) 0 Centro de Vigilancia Sanitaria 0 Dillto (Departamento de Inspeao de Alimentos) 0 Inmetro (Institu Nad llat de Metrologia Normaliza~ao e Qualidade Industrial) eo Idee (ma i tuto Brasileiro de Defesa do Consumidor) uma organiza~ao nao gltlVLl

lamental

Figura 10

A politiCO pela etica pressoes cidadiis

bpi cote )ugencias cdefes~

Em paises autoritarios ou totalitarios esses recursos sao ponca efiea zes ou nao estao disponiveis e a sociedade civi~ vive arnorda~ada ou sil1lshyplesmente nao existe De forma simetrica em ambientes economicos k chados como nas economias de comando ou noS ambientes de carater semifechado em que prevalecem oligop61ios e carteis a poHtica peb

etica tambem sofre impedimentos Traduzindo a polftica pe1a etica relIne boas condi~6es para HoresClr

quando 0 chamado poder de mercado das empresas esta distribufdo quanshydo existe col11peti~ao efetiva e possibilidades reais de escolha por partl de clientes e usnarios finais Mesmo assim 0 respeito a soberania dos c1ientes ainda nao e moeda corrente em muitos paises e s6 acontece St

11

urI oj 111l1tU tlti

eles gritarem ou fizerem um escaudalo Atestado de dClllollstrJltJo de for~a dos consumidores encontra-se no nurnero de consultas e reclarnashylt6es feitas ao Procon da capital de Sao Paulo 0 nurnero de atendimentos realizados entre 1977 e 1994 foi de 1498517 entre 1995 e 2000 esse numero subiu para 1776492 Isso significa que em 6 anos houve 18500 mais atendimentos do que nos 18 anos anteriores Sem duvida urn cresshycimento vertiginoso 24

Para ilustrar esse poder de fogo vale a pena citar urn caso que chocou a opiniao publica e envolveu a Botica ao Veado DOuro farmacia de manipula~ao centenaria fundada em 1858

Por intermedio de um laboratorio de sua propriedade (Veafarm) foshy

ram produzidos em 1998 1 milhao de comprimidos lnocuos de um

remedio indicado para 0 tratamento de cancer de prostata (Androcur

da Schering do Brasil) Dez pacientes que faleceram na epoca podem ter tide a morte acelerada por terem ingerido 0 placebo Revelado 0

fato a denuncia da falsifica~ao foi repercutida pela midia e teve efeitos devastadores sobre a empresa Desde logo 19 pessoas foram indishy

ciadas pela Justi~a no processo de falsificacgao 25

Seis meses depois as lojas mantidas em importantes shoppings paulistanos (Ibirapuera Morumbi e 19uatemi) tiveram suas portas feshychadas metade dos andares da propria loja matriz no centro de Sao

Paulo foi desocupada 0 faturarnento caiu 80 dos 200 funcionarios que a empresa tinha antes do evento restaram pouco menos de 50 os

fornecedores deixaram de receber em dia26

A clientela nao perdoou 0 desrespeito e a fraude nem a irresponsashybilidade virtualmente homicida Puniu a empresa com urn eficaz boicote

Outta caso que desta vez envolveu diretamente a Schering do Brasil filial da Schering alema merece considera~ao ja que tambem retrata 0

inconformismo dos consurnidores

24 Ver FUllda~ao Procon SP wwwproconspgovbr 25 CONTE Carla ]uiz decrcra prisao de socio da Borica Folha de Sao Paulo 10 de novembro

de 1998 26 BERTON Particia Veado DOuro faz feestrurura~ao Gazeta Menanti 29 de abril de 1999

I ~ II i

I 1fI rY)eados de 199~1 u l~lllt)l Il()rio realizou um t8ste GUn) UInH nOVd

Ililquina embaladora ProduLiu embalagens com piluas anticoncepmiddot

donais Mcrovla sem 0 principio ativo Os placebos das 644 mil carte~as r uu dos 1200 quios de comprirnidos continham lactose com um reshy

vestimento de a~ucar e foram mandados para serem incinerados por

urna empresa especializada Ocorre que em maio a Schering io iniormada por meio de uma

carta anonima que um lote de placebo estarla sendo comercializado

Uma cartela do produto estava anexa Como a empresa ja tinha sido

vltma de remedios ialsos acreditou que a carta anonima era uma tenshy

tativa de chantag Resoveu entao investigar por conta proprla em emmais de uma centena de iarmacias Nada esclareceu

No inicio de iunho uma senhora gravida de um mes entrou em conshy

tato com 0 laboratorio e apresentou as pllulas falsas A Schering levou mais 15 dias apos a denuncia para notiticar a Vlgilancia Sanitaria

Curiosamente 0 fez no dia em que Jornal Nacional da TV Globo evava

ao ar a primeira reportagem a respeito Seu pecado residlu al embora

o aboratorio nada tivesse ialsificado foi displicente no contrale do descarte de placebos e nao alertou a opiniao publica sobre a possibishy

lidade de desvio de parte destes Sua omissao custou-Ihe caro Ate final de agosto 189 mulheres dis-

ramseram ter engravldado vltimas dos placebos que chega as farmashycias A midia moveu uma fortssima campanha contra a empresa afeshy

tando profundamente urna marca criada na Alemanha 127 anos atras

A Procurado Gera do Estado de Sao Paulo e 0 Procon entraram ria

com uma acgao civil publica contra 0 laboratorio pedindo ndeniza~ao por danos morais e materlas A Secretaria de Direito Economico do

Ministerio da Justl~a multou a empresa em quase R$3 mih6es A Vigishy

lancia Sanitaria interditou 0 laboratorio par duas vezes A suspensao

do anticoncepcional durou um mes e meo e for~ou a Schering a

relan~ar 0 produto que ia foi Hder do segmento (tinha 22 do mercashy

do) com nova cor de embalagem o inquerito polcial instaurado sobre 0 caso loi encerrado sem indlshy

car culpado 0 que dificultou tremendamente a recupera~ao da s ver

credibilidade do laboratOrio A Schering teve entao que promo uma milionaria campanha de comunica~aocom gastos avaliados em mais

12

5 Etica tmpresarial

de R$15 milhoes em uma tentativa de reCOnstruir sua imagem queficou muito desgastada e sob suspeita 27

No ano seguinte a matriz alema determinou as suas 50 sUbsidiarias que Suspendessem os testes de novos equipamentos e embalagens usando placebo a tim de evitar que casos como 0 do Microvlar se repetissem pelo mundo A empresa perdeu R$18 milh6es com 0 epishy

sodia samanda as meses em que a praduta esteve fara do mercado

queda nas vendas quando este votou as prateleiras e dois acordosfeitos com consumidoras 28

A Schering do Brasil Jevou tres anos para votar ao topo do mercado de anticoncepcionais em 2001 a participagao no mercado do Microvlar

cllegou a 177 (embora detivesse 22 em 1998) Tres fatores Contrishybuiram para essa recuperagao a) a fideJidade que as consumidoras

em gera mantE~m com a pilula que tomam ja que tem que acertar a dosagem de hormonios e livrar-se dos possiveis efeitos colaterais de seu usa b) 0 baixo prego do produto (3 reais e 50 centavos a cartela 8m 2001) e c) a confianga preservada junto aos medicos que receishytarn 0 anticoncepcionaJ 29

Para quem nao soube avaliar corretamente 0 nivel de exigencia dos dientes e para quem errou redondamente em termos de comunicaao ilti sem dnvida um serio transtorno simpfesmente porque nao ho adeqllado gerenciamento da crise 30 uve

Em um Caso semelhante porem Com reaao rapida e COmpetente bull jhoclia Farma foi aJerracia par um farmaclurico em 1993 de que um Ctela do neuroJitico AmpJictil fora achada dentro de uma caixa do llltialergico Fenergan No rua seguinte 0 laborat6rio soltou um comunicashy

lfTTENCOURT Silvia e CONTE Carla A~ao de Serra e eleitoraJ diz Schering alema Foha de Sll1O 3 de julho de 1998 SCHEINBERG Gabriela Schering foi vitima de crime afjnna uccurivo 0 Estado de sPa~rlo 4 de julho de 1998 PASTORE Karina 0 paraiso dos remeshys clius IJlsiJi(ado revista l1eja 8 de julho de 1998 PFEIFER Ismael Schering gasta milh6esI~III rcconstruir ill1ltlgem Gazeta Mercantil 27 de agosro de 1998

x C()RlJ~A Silvia c ESC()SSJA Fernanda cIa Scherillg cancela res res Com placebo Folha de SItw 26 de selelllbro de 1999

) VII imiddotIinAGA Vi(Lnl( Ivlicrrgtvlar VOa ao 10po do Illcnaltl til prld (middoti~ti1 Merci1ntil 3 ltI IJIIl dl Jon I

11 II~IIR( Fihiubull 11 d Loilllflrnilll((uItI tI 11111 I ~ 11 Jlllio I I))li

011 t lIP (tlco 571

do na televisao advertindo os consumidores Contatou a Vigilancia Sanitashyrin e determinou 0 recolhimento do lote Nao houve vitimas da troca3l

Na primeira pagina de um grande jornal do interior de Sao Paulo a foto de uma rnulher careca afirmando que ficou assim logo depois de usar um xampu da Gessy Lever (xampu Seda urna de suas principais marcas e Ifder do segmento) desencadeou uma rea~ao imediata da

empresa Os gestores da Gessy Lever fizeram consultas a seu laboratorio

mandaram recolher produtos para analise despacharam um medico independente e um advogado para a cidade interiorana Em algumas horas respiraram aliviados a mulher raspou a cabe~a

Mesmo assim a Gessy Lever teve que responder a um inquerito policial e definir uma estrategia de comunica~ao para dirimir quaisshy

quer duvidas32

As empresas detem marcas que representam preciosos ativos intangishyveis e que consomem tempo e dinheiro para serem construidas Em deshycorrencia muitas percebem que perder a credibilidade deixando de ser transparentes e de agir rapidamente eurn passo fatal para 0 neg6cio que operam

Caso de repercussao mundial foi 0 da contamina~ao de alimentos pela ra~ao fornecida aos animais nas granjas e fazendas da Belgica A origem da contamina~aofoi um oleo chamado ascarel e os donos da empresa acusada de ter adulterado a ra~ao foram presos

Em junho de 1999 depois de difundido 0 fato sumiram das prateshyleiras dos supermercados os frangos e os ovos a carne de boi e de porco 0 leite a manteiga os queijos e tudo 0 que e feito com esses ingredientes inclusive os chocolates 0 governo belga interditou a disshy

1 IIIU1 IIN(kR jlIql hl I Ilt 11111 I dlmiddotllmiddotrr ill~ndio rcvir Exarne 15 d( lulho de 10~)H

1 II M 1ldlS( l [JIlII 11 I II I I 1 gt fImiddot1 Ilt 11 I Ii fed Irfe de eviral e cllfrelll 1I1ll1 LT-middot (111( ~~flrJI 1l1IU I I I I lid I L lljltl

13

58 Etica Empresarial

tribuigao desses alimentos por suspeita de contaminagao par dioxinas substancias altamente t6xcas que podem causar doengas que vao do diabetes ao cancer

o que deflagrou grave escandalo na Uniao Eurcpeia entretanto foi que 0 governo belga demorou dois meses para revelar que os produshytos estavam impr6prios para 0 consumo A negligencia provocou a renuncia de dois ministros - 0 da Agricultura e 0 da Saude - e levou a suspensao das exportag6es causando um prejuizo avaliado em US$1 545 bilhao Mais ainda deixou aberta a possibilidade de a Belgishyca ser levada a julgamento em uma corte internacional por expor a riscos a populagao do continente europeu33

Em resumo no ultimo quartel do seculo XX a qnestao etica tornoushyse urn imperativo no universo das empresas privadas e par extensao das organizasoes publicas do Primeiro Mundo Converteu-se ate em disciplishyna obrigat6ria nos cursos de Administrasao As razoes residem no essenshycial no fato de que escandalos vieram atona em virtude do desenvolvishymento de uma mfdia plural e dedicada a investigalt53o Atos considerados imorais ou inidoneos peJa coJetividade deixaram de ser encobertos e toshylerados A sociedade civil passon a exercer pressoes eficazes sobre as empresas Isto e dada a sua vulnerabilidade cada vez mais os clientes procuram assegurar a qualidade dos produtos e dos servilt5os adquiridos POl sua vez concorrentes fornecedores investidores autoridades govershynamentais prestadores de servisos e empregados auscultam 0 modus operandi das empresas com as quais mantem relasoes visando policiar fraudes e repudiar alt50es irrespons8veis

Resultados Quando os escandalos eclodem estes geram altos cusshytos multas pesadas quebra de rotinas baixo moral dos empregados aumento da rotatividade dificuldades para recrutar funciowirios qualishyficados frau des internas e perda da confial1lt5a publica na reputalt5ao das empresas 34

Dificilmente os dirigentes empresariais podem manter-se alheios a esse movimento de mobilizalt5ao dosstakeholders Nem 0 posicionamento moral das empresas pode ficar amerce das flutualt50es e das inumeras

33 Revi5ta Veja 16 ue junho de 1999 0 Estado de SPaulo 2 de Jldho k 1l))J

34 NASH Laura L opcit p 4

OJ) I II ckJ

i 11ciencias morais individuais Pautas de orientalt5ao e pad-metros 111

Iillhlcao de conflitos de illteresse tornam-se indispensaveis RepontH lIl[lU

11111 conclusao a moral organizacional virou chave para a pr6pri~1 soh (

~lr~llcia das empresas I materia esra ganhando relevo no Brasil dado 0 porte de sua eeOll

1111 e em funlt5 da 0Plt5 estrategica que foi feita - integrar 0 pli~ (IIIao lll mercado que se globaliza e que exige relalt5oes profissionais e COil lIill1ais Em decorrencia 0 imaginario brasileiro est1 sofrendo lenta~ c rsistentes alteralt5Oes Ha crescente demanda por rransparencia e pruli dlk tanto no nato da coisa publica como nO fornecimento de proclllltJ~

crvilt5os ao mercado Caberia entao as empresas convencionar e prJ i

ao

l I 11gum c6digo de conduta que esteja em sintonia com essas expectt1 IIS Mas sobretudo valeria a pena conceber e implantar um conjunto tk

esccanismos de conrrole que pudesse prevenir as transgtesso as ori(1

IIt)es adotadas

14

As ieorias eticas Com 0 ohar perdido um sobrevivente

do campo de exterminio disse Se Auschwitz existiu Deus nao pode existir Jgt

As linhas de demarcasao

Vma mocinha de 15 anos procura 0 pai e pede-Ihe ajuda para fazer um aboIto Exige no entanto que a mae nao saiba Abalado 0 pai pershygunta quem a engravidou Em um rasgo de maturidade a mocinha Ihe diz que 0 menino tem 16 anos e ponanto e tao crianlta quanto ela Val1os consultar a mae sugere 0 pai Para que pergunta a garota se ja sabemos a resposta Segundo a mae uma catolica praticante 0 aborto constitui urn atentado contra a vida um crime imperdoavel e pOnto final

A moral catolica abriga-se sob as asas de uma etica do dever e sentenshycia falta 0 que esta prescrito Como 0 pai eagnostico a fiIha aposta no dialogo Ele nao CostUlDa repetir respondo par meus atos Quem sabe possa sensibilizar-se com a situaltao deIa QUilta venha a considerar as

impIicalt6es de uma gravidez prematura e a hipoteca que recaira sobre seu futuro de adolescente Nao empate minha vida pai me de uma chance suplica a filha

o pai en tao cai em si Uma vez que sua esposa ja tem posiltao tomashyda para que consulta-Ia Diante de conviclt6es religiosas que tacham 0

abono como um pecado abominavel nao resta margem de manobra A resposta sera sempre um nao sonoro Isso nao corresponde ao modo de

pensar e de agir do pal que nunca deixou de avaliar as conseqilencias do que faz Assim em face do desamparo da filha como nao se comover Algumas interrogalt6es comeltam a assaIta-Io faz sentido minhl men ina ter um bebe fruro da imprudencia Esensato criar lima ltrilIl(1 qlil niio foi dCS(jlCt () qUt rlII~lrJn Os pJrCllles IS llllil~~ 0- 111IIII I

ulras

rdllcidos do clube os professores as colegas da minha filha 0 qLl dill1o 1 pessoas com as quais me relaciono E aquelas com as quais trabalho Iso tudo nao vai comprometer 0 destino dela Ese ell concordar com () Ihorto e alguem souber 0 que vai acontecer

o pai reflete sobre as circunstancias e mede os efeitos possfveis d~

L ~Ja uma das oplt6es que se Ihe apresentam Sua avalialtao e decisi va 1 Itl1sao porem 0 deixa exausto em um processo de crescente ang6sri1 pOLS as conseqiiencias da decisao a ser tomada recaido sobre seus OITlshy

hros Em conrrapartida como ficaria a mulher dele se soubesse do peJi do da filha Certamente nao ficaria desnorteada graltas aresposta pr()n~

1 que tern Eprovavel que aceite com resignaltao a vinda daqueia crian(71

lO mundo e que nao se arormente com os desdobramenros do faro Pm que isso Porque as implicalt6es do cumprimento do dever nao sao de SUl

llcada - simplesmente pertencem a Deus Em resumo estamos diante de duas maneiras oposras de enfocar a qlll

[10 do aborto Melhor dizendo estamos diante de dois modos difnlmiddotllIci

d~ tomar decis6es cada qual derivando de uma matriz etica distinu Ora como a etica teoriza sobre as condutas morais vale iudag11 i~

cxiste uma 6nica teoria etica Absolutamente nao A despeito de () li-t logos fazerem da unicidade da etica um postulado ou apesar (Ii S( 11111

tlcsafio recorrente para muitos filosofos ha pelo menos duas teor lll em como ensina magistralmente Max Weber

1 A etica da convicqao entendida como deonrologia (trataJu dt )t

deveres) 2 A etica da responsabilidade conhecida como teleologia (estudo dlll

fins humanos)l

Escreve Weber

toda atividade orientada pela hica pode ser subordi11ar-se a dlIi 111aximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas Eta )()II orientar-se pela etica del- responsabilidade (verantwortungsethistJ) (11

pela etica da convicqao (gesinnungsethisch) 1sso nao quer dizer tUI

rJtica da convicqao seja identica aausencia de responsabilidade t a dii(

da responsabilidade d (UsciIa de convicqao Nao se trata e(Jidl1I

mente disso Todauia I IIIII (IU-70 abissal entre a atiludr rlt bull7flP II I

I II~I H [Il i I IIJIII II hIIW I i~li4l1 1111 illllili bullbull IDigt 101lt

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 9: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

111 rlpljf11111

grntlo no lkJsd proihj~1o do lISC) do gas CFC paLl pi C( 1 JI 0 ozonlO

cia atmosfera a partir do ana 2000 em respeito ao Protoco]o de Montreal de 1987 17 E isso embora se saiba que sem 0 escudo estratosferico reshypresentado pelo ozonio a humanidade como urn todo seja mais vulnerashyvel ao cancer de pele e a catarata e que 0 sistema imunol6gico das pessoshyas fique prejudicado 18

Ademais ha conceitos que ainda nao consolidaram seu status de bens piiblicos globais - exemplo da Internet - embora outros estejam a camishynho do consenso como a paz a seguranca a cultura e a justicaY Todavia ern sa consciencia sera que e sempre POSSIVel tomar decisoes tendo a humashyIichde por marco de referencia A complexidade das sociedades contemposhy1middot~11CS e suas fraturas sociais expostas deixam ampla margem aduvida

Em um lugarejo de nome Vladimir Volynskiy cerca de 500 quil6meshytros de Kiev na Ucrania a famma gentia Vavrisevich escondeu sete Judeus de novembro de 1942 a fevereiro de 1944 Alimentou-os e cuishydou-os em uma especie de porao escavado sob 0 assoalho de sua casa Procurou contrapor-se a solugao final nazista (eliminagao dos judeus em campos de exterminio) sem nenhuma salvaguarda contm o pelotao de fuzilamento caso ela fosse denunciada

Os membros dessa familia nao eram guerrilheiros em luta contra 0

invasor nem eram mais religiosos do que a media da populagao crista ortodoxa da aldeia Nao tinham tantas posses que pudessem sustenshytar sem problemas em tempo de guerra sete bocas alem das pr6shyprias mas nao eram anti-semitas ao contrario da esmagadora maioshyria de seus conterraneos Escoilleram apenas fazer a coisa justa quanshydo nao fazer nada ou fazer a coisa injusta era a coisa certa a fazer do ponto de vista de seus interesses 20

Fizeram 0 bem quando a banalidade do mal era a regra

Il HANDYSIDE Gillian CE vai combarer inimigos do ozonio Gazeta Mercantil 2 de jl1lho de 1998 CASTRO Gleise de SATOMI LililIl e CASPANI Eduardo Empresas fazem opltiio pelo verde Gazeta Menantil Latino-americana 2 a 8 de outubro de 2000

IX COCKROFT Claire Dezenove paises estndariio perda de ozonio 0 Estado de SPaulo reshyproduzindo artigo de The Guardia11 29 de janeiro de 2000

I) CALAIS Alexandre ONU ctitica efeiros da globalizaltao Gazeta Menantil 9 a 11 de julho de 1999

lO WEIS Luiz A lista de Vavriseyich 0 Estado de SPaulo 9 de dezembro de 1997

111 II 11111 Iii P lll

l-1l1hOL1 kalcLid~ st 1rLldlL~1 elll termoS de fidelidade a tais OLl quais Illividacks esta muitas vczes assume 0 carater abstrato de lealdade a I illLlpios Oll a ideais isto e 0 inv6lucro ret6rico e ideol6gico contribui Jlr mobilizar os semelhantes Age-se assim em nome da Tradiltao da Iropricdade de Deus da Familia da Religiao da Honta da Lei e da

h dem da Hierarquia e da Disciplina da Superioridade da Ralta da 1nshyk[tndencia Nacional da Revolultao Social do Futuro do Socialismo Ii i lZeino dos Ceus da Paz entre os Povos do Internacionalismo Proletashy110 da Terra Prometida da Fraternidade da Justilta Social da Igualdade

1middot1t De maneira que a pergunta sobre a quem dever lealdade acaba crushyllldo e modelando esta outra lealdade a que Aparece entaO uma lealshy

enta lhde as ideias que funcionam como far6is ou guias as repres lt6es il11aginarias que sao capazes de galvanizar as energias de coletividades hem precisas porque ideais ou prindpios sao preconizados par agentes coletivOs nao sao entidades dissociadas dos interesses materiais que se confrontam socialmente Em ultima instancia raros sao aqueles que deshyfendem algo que va ferir seu modo de vida e suas expectativas com relashy~ao aO futuro Ao contrario todos tendem a esposar pontos de vista e perspectivas que se coadunam com 0 que eles tem de mais precioso - a posiltao que ocupam no espalto social ou a posiltao que imaginam que

merecem oCl1parQuando se fala de Liberdade 0 grito de guerra arregimenta por exemshy

plo bnrgues e plebeus contra 0 Antigo Regime absolutista e seus es estamentos privilegiados (a nobreza e 0 alto clero) pondo em jogo coleshytividades que questionam ou defendem determinado estado de coisas

Quando se fala de religiao niio se trata de algo etereo e nao observavel

mas de uma religiao espedfica que detem certa influencia em dado perf0shy

do hist6rico _ religiao que uma coletividade professa Eposslvel identishyficar uma categoria social que a abralta (cat6lica evangelica judaica

islamica etc) e distinguir quais interesses estao em jogo Ate no caso do ate1smo geralmente os comunistas os anarquistas e os socialistas de forshymalt8o marxista aglutinam-se em um p610 e os fieis de todas as confissoes religiosas formam outro p610 0 confronto ocorre por conseguinte enshytre coletividades que professam esses au aqueies credos e nao entre absshy

res tralt6es formais E a oposilt3o se da entre agentes que sao portado de relaltoes sociais determinadas (ateus versuS categorias religiosas por exemshy

plo) e que personificam contradiltoes

8

-0middot I IJlt I tJ IIIJltIII

Assim OS idearios nao pairam no ar divorciados das coJetividades que os abra~am mas fincam suas raizes nos interesses materiais historicamente defishynidos e correspondem as tradu~6es imaginarias desses mesmos interesses

No final de novembro do ana 2000 no Rio de Janeiro cerca de 3 mil

motoristas auxiliares - trabalhadores que pagam uma diarla aos doshy

nos de taxi - bloquearam 0 transite nas principais vias da cidade

provocando um verdadeiro caos

A manifestag8o foi organizada pelo movimento Diaria Nunca Mais

em protesto contra a liminar concedida pela Justiga e que sustou os

efeitos de uma lei aprovada em lunho pela Camara dos Vereadores e

sancionada pelo prefeito Luiz Paulo Conde Essa lei permitia que a

Prefeitura fornecesse licengas de taxi aos 13 mil motoristas auxiliares

convertendo-os em aut6nomos

o pedido de liminar havia side solicitado pelo Sindicato dos Motoshy

ristas Aut6nomos do Rio de Janeiro js que considerou absurda a enshy

trada de mais concorrentes na praga

Em represalia os motoristas auxilfares abandonaram centenas de

carros nas principais vias de acesso da cidade trancaram-nos e levashy

ram as chaves 0 Batalnao de Choque da Polfcia Mifitar interveio queshy

brou 0 vidro de 40 taxis para soltar 0 freio de mao apreendeu 220

vefculos e prendeu 22 manifestantes 21

A tentativa dos motoristas auxiliares de sensibilizar a popula~ao carioca para que apoiasse 0 movimento saiu pela culatra As lideran~as nao pershyceberam que a tatica utilizada feria os interesses de centenas de milhares de pessoas que deixaram de poder circular livremente levando-os a se insurgir contra os baderneiros que transtornam a vida da cidade Emshybota a reivindicaltao - obten~ao de uma licen~a de taxi - pudesse ser considerada legftima os meios utilizados foram desastrosos e 0 resultado nao poderia ser outro a a~ao de bloquear os acessos ao Rio de Janeiro deu moralmente ganho de causa aos taxistas E por que isso Porque nao foi altrufsta nao levou em considera~ao os interesses daqueles que seshy

21 RODRIGUES Karine Com projeto auxiliar vira prupriet~rio Folha de SPaulo 2S de noshyvembru de 2000

HII 1

ill I Ijlldicados rch 11l1~1 Illtlllld assumiu un) c~Irlll1 lmiddotl lPjVIt1 I

I d gt11 lt(lido condenaJa peLt populaltao ainda que m)is l)rdl q~ IllU

1 11(li 1l1xiliares obtivessem 0 dire ito de pleitear licencsas provis6tins 1111

1 11lt1 Minai 0 que e au nao moral depende tambem da reb~Jo Iv

I-In~ em presell~aI~nl suma como resolver esta questao candente a quem devenws Iv lhk Lan~ando mao de um criterio objetivo que passa par olltr] WI

~~illl) _ a quem beneficia uma a~io determinada e a quem esta precll iii Toda e qualquer altao pode ser submetida a esse erivo Em tese flllll ill) I11dis ampla for uma coletividade beneficiada mais altrulsta scr~i 1

1110 au ao contrario quanto 111ais ampla for uma coletividade prejlldi

i ld) mais exclusivista ou egoista sera a alt5o 15so nos leva a procurar saber como identificar 0 tamanho das colc i

vidadesbull No nfvel macrossocial a maior coletividade possive1 no plan~I~ l sem duvida a humanidade enquanto que abaixo desta vern (ivili

za~6es imperios nalt6es e religi6es bull No nlvel mesossocial coletividades de tamanho intermedi5ril) ~l( 1

as etnias as regi6es au provincias as classes sociais as catcgul i

sociais e os publicos (usuarios au consumidores) bull No nfvel microssocia1 coletividades restritas sao organizalt6es sill

gulares e suas areas componentes ate desembocar nas familia e ILl

menor celula que e 0 individuo

Figura 9

JM II I

Escopo das morais devemos lealdade a quem

lNrERMEDrARlO REsTRtl0 (nivelmcso) (nivel m1CfO)

9

tm SltLJa~oes muiro pecujjare~ OU elll sirlllgt(s (x1 IC I) 11gt _ lteOlllO cnl

algumas escolhas de Sofia - e possivel ser illtrufsta atelldendo a cok 22

tividades menores Mas no caso estariamos diante do que e uiduel fazer nao do que seria 0 mais desejave1 fazer Exatamente con1O nas chashymadas roletas russas que ocorrem em hospitais publicos superlotados quando sobram pacientes criticos nos corredores e aparece uma unica vaga na UTI - 0 que faz 0 medico de plantao Escolhe um dos pacientes ou nada faz porque nao existem vagas para todos

Por que Mica nos neg6cios

As decisoes empresariais nao sao in6cuas an6dinas ou isentas de conseshyquencias carregam Um enorme poder de irradja~ao pe10s epoundeitos que proshyvocam Em termos praticos afetam os stakeholders os agentes que manshytem vinculos com dada organiza~ao isto e os participes ou as partesinteressadas

bull na frente interna temos os traba1hadores gestores e proprietarios(acionistas ou quotistas)

bull na hente externa temos os clientes fornecedores prestadores de servi~os autoridades governamentais bancos credores concorrenshytes mfdia comunidade local e entidades da sociedade civil _ sinshydicatos associa~6es profissionais movimentos sociais clubes de servl~Os e igrejas

Mas por que as decisoes empresariais afetam os ambientes interno e externo Simp1esmel1te porque os agentes sociais sao vulneraveis 0 caso do Tylenol nos Estados Unidos e um exemplo classico

A Johnson amp Johnson possufa 35 do mercado de analgesicos nos Estados Unidos com vendas anuais de US$400 mjlhOes No final de

setembro de 1982 sete pessoas morreram envenenadas apos ingerir Tylenol Contaminado com cianeto As vendas do remedio cairam entao de US$33 milhOes para US$4 milhOes por mes

A JampJ agiu com prontidao recolheu e destruiu 22 milhoes de frasshycos em todo 0 territ6rio norte-americano a um custo de US$100 mi

22 Ver capitulo sobre as teorias eticas

Ii 1111i II01I1I-[CIO ~mlluIJijJltOO( lui InUlllndn IlfllrlllI1l11111l tl~ til

I Ii II ~I lr InlOI ~~~Hd08 0 que rcsullou elll CfllCfJ de 12- I till

II IlrJllcias na mlclJa EtO redor clo lTlundo llulrtllV- dc chantagem reita por um norte-americano qUtl iuho

Ii III l1U(+SIW colocando cianureto em parle do lote distribufclo IW

fii lhicago foi denunciada pela JampJ e 0 culpado mais 1art Iii Ii IIJ preso S6 que antes de a investigagao estar completa e ~ot) () ir ( It tJs ropercussoes publicas a empresa teve que se posicionar

I jnrrmsse medidas corajosas para reverter 0 quadro de c1esconll II I (~riado arriscaria perder 0 pr6prio negocio e nao somenlt~

I reflelo do Tylenol IJuddiu entao tazer 0 recall e descontinuar a produltao do remedl

iI IdangEl-lo com nova embalagem inviolavel Fez campanhas flu GlllrBcimento e ofereceu recompensas pela prisao do assassino 1

lilillas telef6nicas adisposigao para ajudar quem necessitasse 8 ClI

IllOl1strou visivel preocupagao com a tragedia Fez um acordo GlIlf)

vlllor jamais velo a publico com as famllias das sete vitimas G I 11 )11

rJutras US$100 milhOes com a parte fiscal da devolugao dos medII I

rllentos Nao quis correr 0 risco de comprometer sua imagenl C I J III

fragar Afinal a JampJ nao se concebia como mera tabricante de Il~~rllt

dios seu neg6cio estrategico era vender saude segura Havia elabn rado um codigo de conduta que determinava a resposta aproprkJdH para situaltoes de grave emergencia Oualquer mancha sobre sua f

putagao ou sobre a lisura de seus procedimentos colocaria em X

que sua credibilidade Na ocasiao reafirmou seu modo de agir e consolidou sua imagem d~

empresa confiavel e responsavel Posteriormente gastou mais US$15 milhoes em campanhas publicitarias para recuperar 0 mercado perdishydo e obteve enorme sucesso dois anos depois do incidente23

Vamos mais a fundo Edificil acreditar que a empresa tenha a~Sll mido tal postma par mero born mocismo Emais crivel aceitar que (middotLt tenha conjugado seu credo organizacional - que considera a empreSl

23 NASH Laura L Etica nas Empresas boas intemoes J parte Sao PaJlo Makron Books 1) p 36-40 CALDINJ Alexandre Como gerenciar a crise revista Exame 26 de iall~ir I

2000 e revista Exame 8 de novembro de 1995 10

- 1IT11 I 1111 Iol1l iul

respons5vel pelos clientes empregados cOl1lunidade e acionislas - com uma analise estrategica da rela~ao de for~as no mercado re1a~ao esta que a mfdia tao bern ajudou a forjar com alertas regulares aopiniao publica e que se ttaduz na capacidade de os stakeholders boicotarem qualquer entidade que nao proceda de forma socialmente responsavel De maneira que nao e improvavel que 0 proprio credo organizacional tenha sido frushyto de urn contexto hist6rico bern preciso e de uma analise da dinamica social

Malgrado a influencia do codigo elaborado alguns perguntam por que sera que a JampJ fez apenas 0 recall do Tylenol distribufdo nos Estados Unidos e nao no resto do mundo sera que nao inHuiu aqui a percep~ao

de que 0 nive de mobiliza~ao da sociedade civil norte-americana e muito maior do que 0 das sociedades civis de outros paises igualmente consushymidores do produto Se assim nao fosse dizem aquelas vozes bastaria ter recolhido 0 Tylenol na area de Chicago em que daramente se evidenshyciaram os indfcios de viola~ao dos frascos e nao no territ6rio todo dos

II Estados Unidos Eis uma boa pista para penetrar no cerne da etica empresarial Entre

diferentes cursos de a~ao h5 sempre uma escolha a fazer nao seria esse urn motivo razoavel para que a reHexao etica se de nas empresas Por que adotar uma decisao e nao ontra Quais consequencias poderiam advir 0 que poderia prejudicar os neg6cios Quais medidas poderiam ferir os interesses ou os valores de quais stakeholders e quais contribui~6es asoshyciedade seriam bem acolhidas Como tudo isso repercutiria sobre 0 futushyro da empresa Em suma qual resposta estrategica dar nas mais diversas situa~6es de mercado

A bern da verdade em ambiente competitivo as empresas tern uma imagem a resguardar uma reputa~ao uma marca e em paises que desshyfrutam de Estados de Direito a sociedade civil reune condi~6es para mobilizar-se e retaliar as empresas socialmente irresponsaveis ou inid6neas Os c1ientes em particular ao exercitar seu direito de escolha e ao migrar simplesmente para os concorrentes disp6em de uma indiscutivel capacishydade de dissuasao uma especie de arsenal nuclear A cidadania organizashyda pode levar os dirigentes empresariais a agir de forma responsavel em detrimento ate de suas convic~6es intimas

Em outros termos a sociedade civil tern possibilidade de fazer polfshytica pela etica e viabilizar a ado~iio de posturas morais por parte das empresas por meio de uma interven~ao na realidade social Lan~ando

I II~middotmiddot bull - bull

IILill de quais canais ()l illiun1lIl~lltoS Recorrendo a mkil lll~tlii It

hllicote dos produtos vendidos ~IS agencias de defesa clos conslruid()(

)1 cia cidadania como 0 Procon (Funda~ao de Prote~ao e Defesa do (~nn -Iltnidor) a Promotoria de Justi~a e Prote~ao do Consumidor 0 lPCll1

(Institnto de PesOS e Medidas) 0 Centro de Vigilancia Sanitaria 0 Dillto (Departamento de Inspeao de Alimentos) 0 Inmetro (Institu Nad llat de Metrologia Normaliza~ao e Qualidade Industrial) eo Idee (ma i tuto Brasileiro de Defesa do Consumidor) uma organiza~ao nao gltlVLl

lamental

Figura 10

A politiCO pela etica pressoes cidadiis

bpi cote )ugencias cdefes~

Em paises autoritarios ou totalitarios esses recursos sao ponca efiea zes ou nao estao disponiveis e a sociedade civi~ vive arnorda~ada ou sil1lshyplesmente nao existe De forma simetrica em ambientes economicos k chados como nas economias de comando ou noS ambientes de carater semifechado em que prevalecem oligop61ios e carteis a poHtica peb

etica tambem sofre impedimentos Traduzindo a polftica pe1a etica relIne boas condi~6es para HoresClr

quando 0 chamado poder de mercado das empresas esta distribufdo quanshydo existe col11peti~ao efetiva e possibilidades reais de escolha por partl de clientes e usnarios finais Mesmo assim 0 respeito a soberania dos c1ientes ainda nao e moeda corrente em muitos paises e s6 acontece St

11

urI oj 111l1tU tlti

eles gritarem ou fizerem um escaudalo Atestado de dClllollstrJltJo de for~a dos consumidores encontra-se no nurnero de consultas e reclarnashylt6es feitas ao Procon da capital de Sao Paulo 0 nurnero de atendimentos realizados entre 1977 e 1994 foi de 1498517 entre 1995 e 2000 esse numero subiu para 1776492 Isso significa que em 6 anos houve 18500 mais atendimentos do que nos 18 anos anteriores Sem duvida urn cresshycimento vertiginoso 24

Para ilustrar esse poder de fogo vale a pena citar urn caso que chocou a opiniao publica e envolveu a Botica ao Veado DOuro farmacia de manipula~ao centenaria fundada em 1858

Por intermedio de um laboratorio de sua propriedade (Veafarm) foshy

ram produzidos em 1998 1 milhao de comprimidos lnocuos de um

remedio indicado para 0 tratamento de cancer de prostata (Androcur

da Schering do Brasil) Dez pacientes que faleceram na epoca podem ter tide a morte acelerada por terem ingerido 0 placebo Revelado 0

fato a denuncia da falsifica~ao foi repercutida pela midia e teve efeitos devastadores sobre a empresa Desde logo 19 pessoas foram indishy

ciadas pela Justi~a no processo de falsificacgao 25

Seis meses depois as lojas mantidas em importantes shoppings paulistanos (Ibirapuera Morumbi e 19uatemi) tiveram suas portas feshychadas metade dos andares da propria loja matriz no centro de Sao

Paulo foi desocupada 0 faturarnento caiu 80 dos 200 funcionarios que a empresa tinha antes do evento restaram pouco menos de 50 os

fornecedores deixaram de receber em dia26

A clientela nao perdoou 0 desrespeito e a fraude nem a irresponsashybilidade virtualmente homicida Puniu a empresa com urn eficaz boicote

Outta caso que desta vez envolveu diretamente a Schering do Brasil filial da Schering alema merece considera~ao ja que tambem retrata 0

inconformismo dos consurnidores

24 Ver FUllda~ao Procon SP wwwproconspgovbr 25 CONTE Carla ]uiz decrcra prisao de socio da Borica Folha de Sao Paulo 10 de novembro

de 1998 26 BERTON Particia Veado DOuro faz feestrurura~ao Gazeta Menanti 29 de abril de 1999

I ~ II i

I 1fI rY)eados de 199~1 u l~lllt)l Il()rio realizou um t8ste GUn) UInH nOVd

Ililquina embaladora ProduLiu embalagens com piluas anticoncepmiddot

donais Mcrovla sem 0 principio ativo Os placebos das 644 mil carte~as r uu dos 1200 quios de comprirnidos continham lactose com um reshy

vestimento de a~ucar e foram mandados para serem incinerados por

urna empresa especializada Ocorre que em maio a Schering io iniormada por meio de uma

carta anonima que um lote de placebo estarla sendo comercializado

Uma cartela do produto estava anexa Como a empresa ja tinha sido

vltma de remedios ialsos acreditou que a carta anonima era uma tenshy

tativa de chantag Resoveu entao investigar por conta proprla em emmais de uma centena de iarmacias Nada esclareceu

No inicio de iunho uma senhora gravida de um mes entrou em conshy

tato com 0 laboratorio e apresentou as pllulas falsas A Schering levou mais 15 dias apos a denuncia para notiticar a Vlgilancia Sanitaria

Curiosamente 0 fez no dia em que Jornal Nacional da TV Globo evava

ao ar a primeira reportagem a respeito Seu pecado residlu al embora

o aboratorio nada tivesse ialsificado foi displicente no contrale do descarte de placebos e nao alertou a opiniao publica sobre a possibishy

lidade de desvio de parte destes Sua omissao custou-Ihe caro Ate final de agosto 189 mulheres dis-

ramseram ter engravldado vltimas dos placebos que chega as farmashycias A midia moveu uma fortssima campanha contra a empresa afeshy

tando profundamente urna marca criada na Alemanha 127 anos atras

A Procurado Gera do Estado de Sao Paulo e 0 Procon entraram ria

com uma acgao civil publica contra 0 laboratorio pedindo ndeniza~ao por danos morais e materlas A Secretaria de Direito Economico do

Ministerio da Justl~a multou a empresa em quase R$3 mih6es A Vigishy

lancia Sanitaria interditou 0 laboratorio par duas vezes A suspensao

do anticoncepcional durou um mes e meo e for~ou a Schering a

relan~ar 0 produto que ia foi Hder do segmento (tinha 22 do mercashy

do) com nova cor de embalagem o inquerito polcial instaurado sobre 0 caso loi encerrado sem indlshy

car culpado 0 que dificultou tremendamente a recupera~ao da s ver

credibilidade do laboratOrio A Schering teve entao que promo uma milionaria campanha de comunica~aocom gastos avaliados em mais

12

5 Etica tmpresarial

de R$15 milhoes em uma tentativa de reCOnstruir sua imagem queficou muito desgastada e sob suspeita 27

No ano seguinte a matriz alema determinou as suas 50 sUbsidiarias que Suspendessem os testes de novos equipamentos e embalagens usando placebo a tim de evitar que casos como 0 do Microvlar se repetissem pelo mundo A empresa perdeu R$18 milh6es com 0 epishy

sodia samanda as meses em que a praduta esteve fara do mercado

queda nas vendas quando este votou as prateleiras e dois acordosfeitos com consumidoras 28

A Schering do Brasil Jevou tres anos para votar ao topo do mercado de anticoncepcionais em 2001 a participagao no mercado do Microvlar

cllegou a 177 (embora detivesse 22 em 1998) Tres fatores Contrishybuiram para essa recuperagao a) a fideJidade que as consumidoras

em gera mantE~m com a pilula que tomam ja que tem que acertar a dosagem de hormonios e livrar-se dos possiveis efeitos colaterais de seu usa b) 0 baixo prego do produto (3 reais e 50 centavos a cartela 8m 2001) e c) a confianga preservada junto aos medicos que receishytarn 0 anticoncepcionaJ 29

Para quem nao soube avaliar corretamente 0 nivel de exigencia dos dientes e para quem errou redondamente em termos de comunicaao ilti sem dnvida um serio transtorno simpfesmente porque nao ho adeqllado gerenciamento da crise 30 uve

Em um Caso semelhante porem Com reaao rapida e COmpetente bull jhoclia Farma foi aJerracia par um farmaclurico em 1993 de que um Ctela do neuroJitico AmpJictil fora achada dentro de uma caixa do llltialergico Fenergan No rua seguinte 0 laborat6rio soltou um comunicashy

lfTTENCOURT Silvia e CONTE Carla A~ao de Serra e eleitoraJ diz Schering alema Foha de Sll1O 3 de julho de 1998 SCHEINBERG Gabriela Schering foi vitima de crime afjnna uccurivo 0 Estado de sPa~rlo 4 de julho de 1998 PASTORE Karina 0 paraiso dos remeshys clius IJlsiJi(ado revista l1eja 8 de julho de 1998 PFEIFER Ismael Schering gasta milh6esI~III rcconstruir ill1ltlgem Gazeta Mercantil 27 de agosro de 1998

x C()RlJ~A Silvia c ESC()SSJA Fernanda cIa Scherillg cancela res res Com placebo Folha de SItw 26 de selelllbro de 1999

) VII imiddotIinAGA Vi(Lnl( Ivlicrrgtvlar VOa ao 10po do Illcnaltl til prld (middoti~ti1 Merci1ntil 3 ltI IJIIl dl Jon I

11 II~IIR( Fihiubull 11 d Loilllflrnilll((uItI tI 11111 I ~ 11 Jlllio I I))li

011 t lIP (tlco 571

do na televisao advertindo os consumidores Contatou a Vigilancia Sanitashyrin e determinou 0 recolhimento do lote Nao houve vitimas da troca3l

Na primeira pagina de um grande jornal do interior de Sao Paulo a foto de uma rnulher careca afirmando que ficou assim logo depois de usar um xampu da Gessy Lever (xampu Seda urna de suas principais marcas e Ifder do segmento) desencadeou uma rea~ao imediata da

empresa Os gestores da Gessy Lever fizeram consultas a seu laboratorio

mandaram recolher produtos para analise despacharam um medico independente e um advogado para a cidade interiorana Em algumas horas respiraram aliviados a mulher raspou a cabe~a

Mesmo assim a Gessy Lever teve que responder a um inquerito policial e definir uma estrategia de comunica~ao para dirimir quaisshy

quer duvidas32

As empresas detem marcas que representam preciosos ativos intangishyveis e que consomem tempo e dinheiro para serem construidas Em deshycorrencia muitas percebem que perder a credibilidade deixando de ser transparentes e de agir rapidamente eurn passo fatal para 0 neg6cio que operam

Caso de repercussao mundial foi 0 da contamina~ao de alimentos pela ra~ao fornecida aos animais nas granjas e fazendas da Belgica A origem da contamina~aofoi um oleo chamado ascarel e os donos da empresa acusada de ter adulterado a ra~ao foram presos

Em junho de 1999 depois de difundido 0 fato sumiram das prateshyleiras dos supermercados os frangos e os ovos a carne de boi e de porco 0 leite a manteiga os queijos e tudo 0 que e feito com esses ingredientes inclusive os chocolates 0 governo belga interditou a disshy

1 IIIU1 IIN(kR jlIql hl I Ilt 11111 I dlmiddotllmiddotrr ill~ndio rcvir Exarne 15 d( lulho de 10~)H

1 II M 1ldlS( l [JIlII 11 I II I I 1 gt fImiddot1 Ilt 11 I Ii fed Irfe de eviral e cllfrelll 1I1ll1 LT-middot (111( ~~flrJI 1l1IU I I I I lid I L lljltl

13

58 Etica Empresarial

tribuigao desses alimentos por suspeita de contaminagao par dioxinas substancias altamente t6xcas que podem causar doengas que vao do diabetes ao cancer

o que deflagrou grave escandalo na Uniao Eurcpeia entretanto foi que 0 governo belga demorou dois meses para revelar que os produshytos estavam impr6prios para 0 consumo A negligencia provocou a renuncia de dois ministros - 0 da Agricultura e 0 da Saude - e levou a suspensao das exportag6es causando um prejuizo avaliado em US$1 545 bilhao Mais ainda deixou aberta a possibilidade de a Belgishyca ser levada a julgamento em uma corte internacional por expor a riscos a populagao do continente europeu33

Em resumo no ultimo quartel do seculo XX a qnestao etica tornoushyse urn imperativo no universo das empresas privadas e par extensao das organizasoes publicas do Primeiro Mundo Converteu-se ate em disciplishyna obrigat6ria nos cursos de Administrasao As razoes residem no essenshycial no fato de que escandalos vieram atona em virtude do desenvolvishymento de uma mfdia plural e dedicada a investigalt53o Atos considerados imorais ou inidoneos peJa coJetividade deixaram de ser encobertos e toshylerados A sociedade civil passon a exercer pressoes eficazes sobre as empresas Isto e dada a sua vulnerabilidade cada vez mais os clientes procuram assegurar a qualidade dos produtos e dos servilt5os adquiridos POl sua vez concorrentes fornecedores investidores autoridades govershynamentais prestadores de servisos e empregados auscultam 0 modus operandi das empresas com as quais mantem relasoes visando policiar fraudes e repudiar alt50es irrespons8veis

Resultados Quando os escandalos eclodem estes geram altos cusshytos multas pesadas quebra de rotinas baixo moral dos empregados aumento da rotatividade dificuldades para recrutar funciowirios qualishyficados frau des internas e perda da confial1lt5a publica na reputalt5ao das empresas 34

Dificilmente os dirigentes empresariais podem manter-se alheios a esse movimento de mobilizalt5ao dosstakeholders Nem 0 posicionamento moral das empresas pode ficar amerce das flutualt50es e das inumeras

33 Revi5ta Veja 16 ue junho de 1999 0 Estado de SPaulo 2 de Jldho k 1l))J

34 NASH Laura L opcit p 4

OJ) I II ckJ

i 11ciencias morais individuais Pautas de orientalt5ao e pad-metros 111

Iillhlcao de conflitos de illteresse tornam-se indispensaveis RepontH lIl[lU

11111 conclusao a moral organizacional virou chave para a pr6pri~1 soh (

~lr~llcia das empresas I materia esra ganhando relevo no Brasil dado 0 porte de sua eeOll

1111 e em funlt5 da 0Plt5 estrategica que foi feita - integrar 0 pli~ (IIIao lll mercado que se globaliza e que exige relalt5oes profissionais e COil lIill1ais Em decorrencia 0 imaginario brasileiro est1 sofrendo lenta~ c rsistentes alteralt5Oes Ha crescente demanda por rransparencia e pruli dlk tanto no nato da coisa publica como nO fornecimento de proclllltJ~

crvilt5os ao mercado Caberia entao as empresas convencionar e prJ i

ao

l I 11gum c6digo de conduta que esteja em sintonia com essas expectt1 IIS Mas sobretudo valeria a pena conceber e implantar um conjunto tk

esccanismos de conrrole que pudesse prevenir as transgtesso as ori(1

IIt)es adotadas

14

As ieorias eticas Com 0 ohar perdido um sobrevivente

do campo de exterminio disse Se Auschwitz existiu Deus nao pode existir Jgt

As linhas de demarcasao

Vma mocinha de 15 anos procura 0 pai e pede-Ihe ajuda para fazer um aboIto Exige no entanto que a mae nao saiba Abalado 0 pai pershygunta quem a engravidou Em um rasgo de maturidade a mocinha Ihe diz que 0 menino tem 16 anos e ponanto e tao crianlta quanto ela Val1os consultar a mae sugere 0 pai Para que pergunta a garota se ja sabemos a resposta Segundo a mae uma catolica praticante 0 aborto constitui urn atentado contra a vida um crime imperdoavel e pOnto final

A moral catolica abriga-se sob as asas de uma etica do dever e sentenshycia falta 0 que esta prescrito Como 0 pai eagnostico a fiIha aposta no dialogo Ele nao CostUlDa repetir respondo par meus atos Quem sabe possa sensibilizar-se com a situaltao deIa QUilta venha a considerar as

impIicalt6es de uma gravidez prematura e a hipoteca que recaira sobre seu futuro de adolescente Nao empate minha vida pai me de uma chance suplica a filha

o pai en tao cai em si Uma vez que sua esposa ja tem posiltao tomashyda para que consulta-Ia Diante de conviclt6es religiosas que tacham 0

abono como um pecado abominavel nao resta margem de manobra A resposta sera sempre um nao sonoro Isso nao corresponde ao modo de

pensar e de agir do pal que nunca deixou de avaliar as conseqilencias do que faz Assim em face do desamparo da filha como nao se comover Algumas interrogalt6es comeltam a assaIta-Io faz sentido minhl men ina ter um bebe fruro da imprudencia Esensato criar lima ltrilIl(1 qlil niio foi dCS(jlCt () qUt rlII~lrJn Os pJrCllles IS llllil~~ 0- 111IIII I

ulras

rdllcidos do clube os professores as colegas da minha filha 0 qLl dill1o 1 pessoas com as quais me relaciono E aquelas com as quais trabalho Iso tudo nao vai comprometer 0 destino dela Ese ell concordar com () Ihorto e alguem souber 0 que vai acontecer

o pai reflete sobre as circunstancias e mede os efeitos possfveis d~

L ~Ja uma das oplt6es que se Ihe apresentam Sua avalialtao e decisi va 1 Itl1sao porem 0 deixa exausto em um processo de crescente ang6sri1 pOLS as conseqiiencias da decisao a ser tomada recaido sobre seus OITlshy

hros Em conrrapartida como ficaria a mulher dele se soubesse do peJi do da filha Certamente nao ficaria desnorteada graltas aresposta pr()n~

1 que tern Eprovavel que aceite com resignaltao a vinda daqueia crian(71

lO mundo e que nao se arormente com os desdobramenros do faro Pm que isso Porque as implicalt6es do cumprimento do dever nao sao de SUl

llcada - simplesmente pertencem a Deus Em resumo estamos diante de duas maneiras oposras de enfocar a qlll

[10 do aborto Melhor dizendo estamos diante de dois modos difnlmiddotllIci

d~ tomar decis6es cada qual derivando de uma matriz etica distinu Ora como a etica teoriza sobre as condutas morais vale iudag11 i~

cxiste uma 6nica teoria etica Absolutamente nao A despeito de () li-t logos fazerem da unicidade da etica um postulado ou apesar (Ii S( 11111

tlcsafio recorrente para muitos filosofos ha pelo menos duas teor lll em como ensina magistralmente Max Weber

1 A etica da convicqao entendida como deonrologia (trataJu dt )t

deveres) 2 A etica da responsabilidade conhecida como teleologia (estudo dlll

fins humanos)l

Escreve Weber

toda atividade orientada pela hica pode ser subordi11ar-se a dlIi 111aximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas Eta )()II orientar-se pela etica del- responsabilidade (verantwortungsethistJ) (11

pela etica da convicqao (gesinnungsethisch) 1sso nao quer dizer tUI

rJtica da convicqao seja identica aausencia de responsabilidade t a dii(

da responsabilidade d (UsciIa de convicqao Nao se trata e(Jidl1I

mente disso Todauia I IIIII (IU-70 abissal entre a atiludr rlt bull7flP II I

I II~I H [Il i I IIJIII II hIIW I i~li4l1 1111 illllili bullbull IDigt 101lt

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 10: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

-0middot I IJlt I tJ IIIJltIII

Assim OS idearios nao pairam no ar divorciados das coJetividades que os abra~am mas fincam suas raizes nos interesses materiais historicamente defishynidos e correspondem as tradu~6es imaginarias desses mesmos interesses

No final de novembro do ana 2000 no Rio de Janeiro cerca de 3 mil

motoristas auxiliares - trabalhadores que pagam uma diarla aos doshy

nos de taxi - bloquearam 0 transite nas principais vias da cidade

provocando um verdadeiro caos

A manifestag8o foi organizada pelo movimento Diaria Nunca Mais

em protesto contra a liminar concedida pela Justiga e que sustou os

efeitos de uma lei aprovada em lunho pela Camara dos Vereadores e

sancionada pelo prefeito Luiz Paulo Conde Essa lei permitia que a

Prefeitura fornecesse licengas de taxi aos 13 mil motoristas auxiliares

convertendo-os em aut6nomos

o pedido de liminar havia side solicitado pelo Sindicato dos Motoshy

ristas Aut6nomos do Rio de Janeiro js que considerou absurda a enshy

trada de mais concorrentes na praga

Em represalia os motoristas auxilfares abandonaram centenas de

carros nas principais vias de acesso da cidade trancaram-nos e levashy

ram as chaves 0 Batalnao de Choque da Polfcia Mifitar interveio queshy

brou 0 vidro de 40 taxis para soltar 0 freio de mao apreendeu 220

vefculos e prendeu 22 manifestantes 21

A tentativa dos motoristas auxiliares de sensibilizar a popula~ao carioca para que apoiasse 0 movimento saiu pela culatra As lideran~as nao pershyceberam que a tatica utilizada feria os interesses de centenas de milhares de pessoas que deixaram de poder circular livremente levando-os a se insurgir contra os baderneiros que transtornam a vida da cidade Emshybota a reivindicaltao - obten~ao de uma licen~a de taxi - pudesse ser considerada legftima os meios utilizados foram desastrosos e 0 resultado nao poderia ser outro a a~ao de bloquear os acessos ao Rio de Janeiro deu moralmente ganho de causa aos taxistas E por que isso Porque nao foi altrufsta nao levou em considera~ao os interesses daqueles que seshy

21 RODRIGUES Karine Com projeto auxiliar vira prupriet~rio Folha de SPaulo 2S de noshyvembru de 2000

HII 1

ill I Ijlldicados rch 11l1~1 Illtlllld assumiu un) c~Irlll1 lmiddotl lPjVIt1 I

I d gt11 lt(lido condenaJa peLt populaltao ainda que m)is l)rdl q~ IllU

1 11(li 1l1xiliares obtivessem 0 dire ito de pleitear licencsas provis6tins 1111

1 11lt1 Minai 0 que e au nao moral depende tambem da reb~Jo Iv

I-In~ em presell~aI~nl suma como resolver esta questao candente a quem devenws Iv lhk Lan~ando mao de um criterio objetivo que passa par olltr] WI

~~illl) _ a quem beneficia uma a~io determinada e a quem esta precll iii Toda e qualquer altao pode ser submetida a esse erivo Em tese flllll ill) I11dis ampla for uma coletividade beneficiada mais altrulsta scr~i 1

1110 au ao contrario quanto 111ais ampla for uma coletividade prejlldi

i ld) mais exclusivista ou egoista sera a alt5o 15so nos leva a procurar saber como identificar 0 tamanho das colc i

vidadesbull No nfvel macrossocial a maior coletividade possive1 no plan~I~ l sem duvida a humanidade enquanto que abaixo desta vern (ivili

za~6es imperios nalt6es e religi6es bull No nlvel mesossocial coletividades de tamanho intermedi5ril) ~l( 1

as etnias as regi6es au provincias as classes sociais as catcgul i

sociais e os publicos (usuarios au consumidores) bull No nfvel microssocia1 coletividades restritas sao organizalt6es sill

gulares e suas areas componentes ate desembocar nas familia e ILl

menor celula que e 0 individuo

Figura 9

JM II I

Escopo das morais devemos lealdade a quem

lNrERMEDrARlO REsTRtl0 (nivelmcso) (nivel m1CfO)

9

tm SltLJa~oes muiro pecujjare~ OU elll sirlllgt(s (x1 IC I) 11gt _ lteOlllO cnl

algumas escolhas de Sofia - e possivel ser illtrufsta atelldendo a cok 22

tividades menores Mas no caso estariamos diante do que e uiduel fazer nao do que seria 0 mais desejave1 fazer Exatamente con1O nas chashymadas roletas russas que ocorrem em hospitais publicos superlotados quando sobram pacientes criticos nos corredores e aparece uma unica vaga na UTI - 0 que faz 0 medico de plantao Escolhe um dos pacientes ou nada faz porque nao existem vagas para todos

Por que Mica nos neg6cios

As decisoes empresariais nao sao in6cuas an6dinas ou isentas de conseshyquencias carregam Um enorme poder de irradja~ao pe10s epoundeitos que proshyvocam Em termos praticos afetam os stakeholders os agentes que manshytem vinculos com dada organiza~ao isto e os participes ou as partesinteressadas

bull na frente interna temos os traba1hadores gestores e proprietarios(acionistas ou quotistas)

bull na hente externa temos os clientes fornecedores prestadores de servi~os autoridades governamentais bancos credores concorrenshytes mfdia comunidade local e entidades da sociedade civil _ sinshydicatos associa~6es profissionais movimentos sociais clubes de servl~Os e igrejas

Mas por que as decisoes empresariais afetam os ambientes interno e externo Simp1esmel1te porque os agentes sociais sao vulneraveis 0 caso do Tylenol nos Estados Unidos e um exemplo classico

A Johnson amp Johnson possufa 35 do mercado de analgesicos nos Estados Unidos com vendas anuais de US$400 mjlhOes No final de

setembro de 1982 sete pessoas morreram envenenadas apos ingerir Tylenol Contaminado com cianeto As vendas do remedio cairam entao de US$33 milhOes para US$4 milhOes por mes

A JampJ agiu com prontidao recolheu e destruiu 22 milhoes de frasshycos em todo 0 territ6rio norte-americano a um custo de US$100 mi

22 Ver capitulo sobre as teorias eticas

Ii 1111i II01I1I-[CIO ~mlluIJijJltOO( lui InUlllndn IlfllrlllI1l11111l tl~ til

I Ii II ~I lr InlOI ~~~Hd08 0 que rcsullou elll CfllCfJ de 12- I till

II IlrJllcias na mlclJa EtO redor clo lTlundo llulrtllV- dc chantagem reita por um norte-americano qUtl iuho

Ii III l1U(+SIW colocando cianureto em parle do lote distribufclo IW

fii lhicago foi denunciada pela JampJ e 0 culpado mais 1art Iii Ii IIJ preso S6 que antes de a investigagao estar completa e ~ot) () ir ( It tJs ropercussoes publicas a empresa teve que se posicionar

I jnrrmsse medidas corajosas para reverter 0 quadro de c1esconll II I (~riado arriscaria perder 0 pr6prio negocio e nao somenlt~

I reflelo do Tylenol IJuddiu entao tazer 0 recall e descontinuar a produltao do remedl

iI IdangEl-lo com nova embalagem inviolavel Fez campanhas flu GlllrBcimento e ofereceu recompensas pela prisao do assassino 1

lilillas telef6nicas adisposigao para ajudar quem necessitasse 8 ClI

IllOl1strou visivel preocupagao com a tragedia Fez um acordo GlIlf)

vlllor jamais velo a publico com as famllias das sete vitimas G I 11 )11

rJutras US$100 milhOes com a parte fiscal da devolugao dos medII I

rllentos Nao quis correr 0 risco de comprometer sua imagenl C I J III

fragar Afinal a JampJ nao se concebia como mera tabricante de Il~~rllt

dios seu neg6cio estrategico era vender saude segura Havia elabn rado um codigo de conduta que determinava a resposta aproprkJdH para situaltoes de grave emergencia Oualquer mancha sobre sua f

putagao ou sobre a lisura de seus procedimentos colocaria em X

que sua credibilidade Na ocasiao reafirmou seu modo de agir e consolidou sua imagem d~

empresa confiavel e responsavel Posteriormente gastou mais US$15 milhoes em campanhas publicitarias para recuperar 0 mercado perdishydo e obteve enorme sucesso dois anos depois do incidente23

Vamos mais a fundo Edificil acreditar que a empresa tenha a~Sll mido tal postma par mero born mocismo Emais crivel aceitar que (middotLt tenha conjugado seu credo organizacional - que considera a empreSl

23 NASH Laura L Etica nas Empresas boas intemoes J parte Sao PaJlo Makron Books 1) p 36-40 CALDINJ Alexandre Como gerenciar a crise revista Exame 26 de iall~ir I

2000 e revista Exame 8 de novembro de 1995 10

- 1IT11 I 1111 Iol1l iul

respons5vel pelos clientes empregados cOl1lunidade e acionislas - com uma analise estrategica da rela~ao de for~as no mercado re1a~ao esta que a mfdia tao bern ajudou a forjar com alertas regulares aopiniao publica e que se ttaduz na capacidade de os stakeholders boicotarem qualquer entidade que nao proceda de forma socialmente responsavel De maneira que nao e improvavel que 0 proprio credo organizacional tenha sido frushyto de urn contexto hist6rico bern preciso e de uma analise da dinamica social

Malgrado a influencia do codigo elaborado alguns perguntam por que sera que a JampJ fez apenas 0 recall do Tylenol distribufdo nos Estados Unidos e nao no resto do mundo sera que nao inHuiu aqui a percep~ao

de que 0 nive de mobiliza~ao da sociedade civil norte-americana e muito maior do que 0 das sociedades civis de outros paises igualmente consushymidores do produto Se assim nao fosse dizem aquelas vozes bastaria ter recolhido 0 Tylenol na area de Chicago em que daramente se evidenshyciaram os indfcios de viola~ao dos frascos e nao no territ6rio todo dos

II Estados Unidos Eis uma boa pista para penetrar no cerne da etica empresarial Entre

diferentes cursos de a~ao h5 sempre uma escolha a fazer nao seria esse urn motivo razoavel para que a reHexao etica se de nas empresas Por que adotar uma decisao e nao ontra Quais consequencias poderiam advir 0 que poderia prejudicar os neg6cios Quais medidas poderiam ferir os interesses ou os valores de quais stakeholders e quais contribui~6es asoshyciedade seriam bem acolhidas Como tudo isso repercutiria sobre 0 futushyro da empresa Em suma qual resposta estrategica dar nas mais diversas situa~6es de mercado

A bern da verdade em ambiente competitivo as empresas tern uma imagem a resguardar uma reputa~ao uma marca e em paises que desshyfrutam de Estados de Direito a sociedade civil reune condi~6es para mobilizar-se e retaliar as empresas socialmente irresponsaveis ou inid6neas Os c1ientes em particular ao exercitar seu direito de escolha e ao migrar simplesmente para os concorrentes disp6em de uma indiscutivel capacishydade de dissuasao uma especie de arsenal nuclear A cidadania organizashyda pode levar os dirigentes empresariais a agir de forma responsavel em detrimento ate de suas convic~6es intimas

Em outros termos a sociedade civil tern possibilidade de fazer polfshytica pela etica e viabilizar a ado~iio de posturas morais por parte das empresas por meio de uma interven~ao na realidade social Lan~ando

I II~middotmiddot bull - bull

IILill de quais canais ()l illiun1lIl~lltoS Recorrendo a mkil lll~tlii It

hllicote dos produtos vendidos ~IS agencias de defesa clos conslruid()(

)1 cia cidadania como 0 Procon (Funda~ao de Prote~ao e Defesa do (~nn -Iltnidor) a Promotoria de Justi~a e Prote~ao do Consumidor 0 lPCll1

(Institnto de PesOS e Medidas) 0 Centro de Vigilancia Sanitaria 0 Dillto (Departamento de Inspeao de Alimentos) 0 Inmetro (Institu Nad llat de Metrologia Normaliza~ao e Qualidade Industrial) eo Idee (ma i tuto Brasileiro de Defesa do Consumidor) uma organiza~ao nao gltlVLl

lamental

Figura 10

A politiCO pela etica pressoes cidadiis

bpi cote )ugencias cdefes~

Em paises autoritarios ou totalitarios esses recursos sao ponca efiea zes ou nao estao disponiveis e a sociedade civi~ vive arnorda~ada ou sil1lshyplesmente nao existe De forma simetrica em ambientes economicos k chados como nas economias de comando ou noS ambientes de carater semifechado em que prevalecem oligop61ios e carteis a poHtica peb

etica tambem sofre impedimentos Traduzindo a polftica pe1a etica relIne boas condi~6es para HoresClr

quando 0 chamado poder de mercado das empresas esta distribufdo quanshydo existe col11peti~ao efetiva e possibilidades reais de escolha por partl de clientes e usnarios finais Mesmo assim 0 respeito a soberania dos c1ientes ainda nao e moeda corrente em muitos paises e s6 acontece St

11

urI oj 111l1tU tlti

eles gritarem ou fizerem um escaudalo Atestado de dClllollstrJltJo de for~a dos consumidores encontra-se no nurnero de consultas e reclarnashylt6es feitas ao Procon da capital de Sao Paulo 0 nurnero de atendimentos realizados entre 1977 e 1994 foi de 1498517 entre 1995 e 2000 esse numero subiu para 1776492 Isso significa que em 6 anos houve 18500 mais atendimentos do que nos 18 anos anteriores Sem duvida urn cresshycimento vertiginoso 24

Para ilustrar esse poder de fogo vale a pena citar urn caso que chocou a opiniao publica e envolveu a Botica ao Veado DOuro farmacia de manipula~ao centenaria fundada em 1858

Por intermedio de um laboratorio de sua propriedade (Veafarm) foshy

ram produzidos em 1998 1 milhao de comprimidos lnocuos de um

remedio indicado para 0 tratamento de cancer de prostata (Androcur

da Schering do Brasil) Dez pacientes que faleceram na epoca podem ter tide a morte acelerada por terem ingerido 0 placebo Revelado 0

fato a denuncia da falsifica~ao foi repercutida pela midia e teve efeitos devastadores sobre a empresa Desde logo 19 pessoas foram indishy

ciadas pela Justi~a no processo de falsificacgao 25

Seis meses depois as lojas mantidas em importantes shoppings paulistanos (Ibirapuera Morumbi e 19uatemi) tiveram suas portas feshychadas metade dos andares da propria loja matriz no centro de Sao

Paulo foi desocupada 0 faturarnento caiu 80 dos 200 funcionarios que a empresa tinha antes do evento restaram pouco menos de 50 os

fornecedores deixaram de receber em dia26

A clientela nao perdoou 0 desrespeito e a fraude nem a irresponsashybilidade virtualmente homicida Puniu a empresa com urn eficaz boicote

Outta caso que desta vez envolveu diretamente a Schering do Brasil filial da Schering alema merece considera~ao ja que tambem retrata 0

inconformismo dos consurnidores

24 Ver FUllda~ao Procon SP wwwproconspgovbr 25 CONTE Carla ]uiz decrcra prisao de socio da Borica Folha de Sao Paulo 10 de novembro

de 1998 26 BERTON Particia Veado DOuro faz feestrurura~ao Gazeta Menanti 29 de abril de 1999

I ~ II i

I 1fI rY)eados de 199~1 u l~lllt)l Il()rio realizou um t8ste GUn) UInH nOVd

Ililquina embaladora ProduLiu embalagens com piluas anticoncepmiddot

donais Mcrovla sem 0 principio ativo Os placebos das 644 mil carte~as r uu dos 1200 quios de comprirnidos continham lactose com um reshy

vestimento de a~ucar e foram mandados para serem incinerados por

urna empresa especializada Ocorre que em maio a Schering io iniormada por meio de uma

carta anonima que um lote de placebo estarla sendo comercializado

Uma cartela do produto estava anexa Como a empresa ja tinha sido

vltma de remedios ialsos acreditou que a carta anonima era uma tenshy

tativa de chantag Resoveu entao investigar por conta proprla em emmais de uma centena de iarmacias Nada esclareceu

No inicio de iunho uma senhora gravida de um mes entrou em conshy

tato com 0 laboratorio e apresentou as pllulas falsas A Schering levou mais 15 dias apos a denuncia para notiticar a Vlgilancia Sanitaria

Curiosamente 0 fez no dia em que Jornal Nacional da TV Globo evava

ao ar a primeira reportagem a respeito Seu pecado residlu al embora

o aboratorio nada tivesse ialsificado foi displicente no contrale do descarte de placebos e nao alertou a opiniao publica sobre a possibishy

lidade de desvio de parte destes Sua omissao custou-Ihe caro Ate final de agosto 189 mulheres dis-

ramseram ter engravldado vltimas dos placebos que chega as farmashycias A midia moveu uma fortssima campanha contra a empresa afeshy

tando profundamente urna marca criada na Alemanha 127 anos atras

A Procurado Gera do Estado de Sao Paulo e 0 Procon entraram ria

com uma acgao civil publica contra 0 laboratorio pedindo ndeniza~ao por danos morais e materlas A Secretaria de Direito Economico do

Ministerio da Justl~a multou a empresa em quase R$3 mih6es A Vigishy

lancia Sanitaria interditou 0 laboratorio par duas vezes A suspensao

do anticoncepcional durou um mes e meo e for~ou a Schering a

relan~ar 0 produto que ia foi Hder do segmento (tinha 22 do mercashy

do) com nova cor de embalagem o inquerito polcial instaurado sobre 0 caso loi encerrado sem indlshy

car culpado 0 que dificultou tremendamente a recupera~ao da s ver

credibilidade do laboratOrio A Schering teve entao que promo uma milionaria campanha de comunica~aocom gastos avaliados em mais

12

5 Etica tmpresarial

de R$15 milhoes em uma tentativa de reCOnstruir sua imagem queficou muito desgastada e sob suspeita 27

No ano seguinte a matriz alema determinou as suas 50 sUbsidiarias que Suspendessem os testes de novos equipamentos e embalagens usando placebo a tim de evitar que casos como 0 do Microvlar se repetissem pelo mundo A empresa perdeu R$18 milh6es com 0 epishy

sodia samanda as meses em que a praduta esteve fara do mercado

queda nas vendas quando este votou as prateleiras e dois acordosfeitos com consumidoras 28

A Schering do Brasil Jevou tres anos para votar ao topo do mercado de anticoncepcionais em 2001 a participagao no mercado do Microvlar

cllegou a 177 (embora detivesse 22 em 1998) Tres fatores Contrishybuiram para essa recuperagao a) a fideJidade que as consumidoras

em gera mantE~m com a pilula que tomam ja que tem que acertar a dosagem de hormonios e livrar-se dos possiveis efeitos colaterais de seu usa b) 0 baixo prego do produto (3 reais e 50 centavos a cartela 8m 2001) e c) a confianga preservada junto aos medicos que receishytarn 0 anticoncepcionaJ 29

Para quem nao soube avaliar corretamente 0 nivel de exigencia dos dientes e para quem errou redondamente em termos de comunicaao ilti sem dnvida um serio transtorno simpfesmente porque nao ho adeqllado gerenciamento da crise 30 uve

Em um Caso semelhante porem Com reaao rapida e COmpetente bull jhoclia Farma foi aJerracia par um farmaclurico em 1993 de que um Ctela do neuroJitico AmpJictil fora achada dentro de uma caixa do llltialergico Fenergan No rua seguinte 0 laborat6rio soltou um comunicashy

lfTTENCOURT Silvia e CONTE Carla A~ao de Serra e eleitoraJ diz Schering alema Foha de Sll1O 3 de julho de 1998 SCHEINBERG Gabriela Schering foi vitima de crime afjnna uccurivo 0 Estado de sPa~rlo 4 de julho de 1998 PASTORE Karina 0 paraiso dos remeshys clius IJlsiJi(ado revista l1eja 8 de julho de 1998 PFEIFER Ismael Schering gasta milh6esI~III rcconstruir ill1ltlgem Gazeta Mercantil 27 de agosro de 1998

x C()RlJ~A Silvia c ESC()SSJA Fernanda cIa Scherillg cancela res res Com placebo Folha de SItw 26 de selelllbro de 1999

) VII imiddotIinAGA Vi(Lnl( Ivlicrrgtvlar VOa ao 10po do Illcnaltl til prld (middoti~ti1 Merci1ntil 3 ltI IJIIl dl Jon I

11 II~IIR( Fihiubull 11 d Loilllflrnilll((uItI tI 11111 I ~ 11 Jlllio I I))li

011 t lIP (tlco 571

do na televisao advertindo os consumidores Contatou a Vigilancia Sanitashyrin e determinou 0 recolhimento do lote Nao houve vitimas da troca3l

Na primeira pagina de um grande jornal do interior de Sao Paulo a foto de uma rnulher careca afirmando que ficou assim logo depois de usar um xampu da Gessy Lever (xampu Seda urna de suas principais marcas e Ifder do segmento) desencadeou uma rea~ao imediata da

empresa Os gestores da Gessy Lever fizeram consultas a seu laboratorio

mandaram recolher produtos para analise despacharam um medico independente e um advogado para a cidade interiorana Em algumas horas respiraram aliviados a mulher raspou a cabe~a

Mesmo assim a Gessy Lever teve que responder a um inquerito policial e definir uma estrategia de comunica~ao para dirimir quaisshy

quer duvidas32

As empresas detem marcas que representam preciosos ativos intangishyveis e que consomem tempo e dinheiro para serem construidas Em deshycorrencia muitas percebem que perder a credibilidade deixando de ser transparentes e de agir rapidamente eurn passo fatal para 0 neg6cio que operam

Caso de repercussao mundial foi 0 da contamina~ao de alimentos pela ra~ao fornecida aos animais nas granjas e fazendas da Belgica A origem da contamina~aofoi um oleo chamado ascarel e os donos da empresa acusada de ter adulterado a ra~ao foram presos

Em junho de 1999 depois de difundido 0 fato sumiram das prateshyleiras dos supermercados os frangos e os ovos a carne de boi e de porco 0 leite a manteiga os queijos e tudo 0 que e feito com esses ingredientes inclusive os chocolates 0 governo belga interditou a disshy

1 IIIU1 IIN(kR jlIql hl I Ilt 11111 I dlmiddotllmiddotrr ill~ndio rcvir Exarne 15 d( lulho de 10~)H

1 II M 1ldlS( l [JIlII 11 I II I I 1 gt fImiddot1 Ilt 11 I Ii fed Irfe de eviral e cllfrelll 1I1ll1 LT-middot (111( ~~flrJI 1l1IU I I I I lid I L lljltl

13

58 Etica Empresarial

tribuigao desses alimentos por suspeita de contaminagao par dioxinas substancias altamente t6xcas que podem causar doengas que vao do diabetes ao cancer

o que deflagrou grave escandalo na Uniao Eurcpeia entretanto foi que 0 governo belga demorou dois meses para revelar que os produshytos estavam impr6prios para 0 consumo A negligencia provocou a renuncia de dois ministros - 0 da Agricultura e 0 da Saude - e levou a suspensao das exportag6es causando um prejuizo avaliado em US$1 545 bilhao Mais ainda deixou aberta a possibilidade de a Belgishyca ser levada a julgamento em uma corte internacional por expor a riscos a populagao do continente europeu33

Em resumo no ultimo quartel do seculo XX a qnestao etica tornoushyse urn imperativo no universo das empresas privadas e par extensao das organizasoes publicas do Primeiro Mundo Converteu-se ate em disciplishyna obrigat6ria nos cursos de Administrasao As razoes residem no essenshycial no fato de que escandalos vieram atona em virtude do desenvolvishymento de uma mfdia plural e dedicada a investigalt53o Atos considerados imorais ou inidoneos peJa coJetividade deixaram de ser encobertos e toshylerados A sociedade civil passon a exercer pressoes eficazes sobre as empresas Isto e dada a sua vulnerabilidade cada vez mais os clientes procuram assegurar a qualidade dos produtos e dos servilt5os adquiridos POl sua vez concorrentes fornecedores investidores autoridades govershynamentais prestadores de servisos e empregados auscultam 0 modus operandi das empresas com as quais mantem relasoes visando policiar fraudes e repudiar alt50es irrespons8veis

Resultados Quando os escandalos eclodem estes geram altos cusshytos multas pesadas quebra de rotinas baixo moral dos empregados aumento da rotatividade dificuldades para recrutar funciowirios qualishyficados frau des internas e perda da confial1lt5a publica na reputalt5ao das empresas 34

Dificilmente os dirigentes empresariais podem manter-se alheios a esse movimento de mobilizalt5ao dosstakeholders Nem 0 posicionamento moral das empresas pode ficar amerce das flutualt50es e das inumeras

33 Revi5ta Veja 16 ue junho de 1999 0 Estado de SPaulo 2 de Jldho k 1l))J

34 NASH Laura L opcit p 4

OJ) I II ckJ

i 11ciencias morais individuais Pautas de orientalt5ao e pad-metros 111

Iillhlcao de conflitos de illteresse tornam-se indispensaveis RepontH lIl[lU

11111 conclusao a moral organizacional virou chave para a pr6pri~1 soh (

~lr~llcia das empresas I materia esra ganhando relevo no Brasil dado 0 porte de sua eeOll

1111 e em funlt5 da 0Plt5 estrategica que foi feita - integrar 0 pli~ (IIIao lll mercado que se globaliza e que exige relalt5oes profissionais e COil lIill1ais Em decorrencia 0 imaginario brasileiro est1 sofrendo lenta~ c rsistentes alteralt5Oes Ha crescente demanda por rransparencia e pruli dlk tanto no nato da coisa publica como nO fornecimento de proclllltJ~

crvilt5os ao mercado Caberia entao as empresas convencionar e prJ i

ao

l I 11gum c6digo de conduta que esteja em sintonia com essas expectt1 IIS Mas sobretudo valeria a pena conceber e implantar um conjunto tk

esccanismos de conrrole que pudesse prevenir as transgtesso as ori(1

IIt)es adotadas

14

As ieorias eticas Com 0 ohar perdido um sobrevivente

do campo de exterminio disse Se Auschwitz existiu Deus nao pode existir Jgt

As linhas de demarcasao

Vma mocinha de 15 anos procura 0 pai e pede-Ihe ajuda para fazer um aboIto Exige no entanto que a mae nao saiba Abalado 0 pai pershygunta quem a engravidou Em um rasgo de maturidade a mocinha Ihe diz que 0 menino tem 16 anos e ponanto e tao crianlta quanto ela Val1os consultar a mae sugere 0 pai Para que pergunta a garota se ja sabemos a resposta Segundo a mae uma catolica praticante 0 aborto constitui urn atentado contra a vida um crime imperdoavel e pOnto final

A moral catolica abriga-se sob as asas de uma etica do dever e sentenshycia falta 0 que esta prescrito Como 0 pai eagnostico a fiIha aposta no dialogo Ele nao CostUlDa repetir respondo par meus atos Quem sabe possa sensibilizar-se com a situaltao deIa QUilta venha a considerar as

impIicalt6es de uma gravidez prematura e a hipoteca que recaira sobre seu futuro de adolescente Nao empate minha vida pai me de uma chance suplica a filha

o pai en tao cai em si Uma vez que sua esposa ja tem posiltao tomashyda para que consulta-Ia Diante de conviclt6es religiosas que tacham 0

abono como um pecado abominavel nao resta margem de manobra A resposta sera sempre um nao sonoro Isso nao corresponde ao modo de

pensar e de agir do pal que nunca deixou de avaliar as conseqilencias do que faz Assim em face do desamparo da filha como nao se comover Algumas interrogalt6es comeltam a assaIta-Io faz sentido minhl men ina ter um bebe fruro da imprudencia Esensato criar lima ltrilIl(1 qlil niio foi dCS(jlCt () qUt rlII~lrJn Os pJrCllles IS llllil~~ 0- 111IIII I

ulras

rdllcidos do clube os professores as colegas da minha filha 0 qLl dill1o 1 pessoas com as quais me relaciono E aquelas com as quais trabalho Iso tudo nao vai comprometer 0 destino dela Ese ell concordar com () Ihorto e alguem souber 0 que vai acontecer

o pai reflete sobre as circunstancias e mede os efeitos possfveis d~

L ~Ja uma das oplt6es que se Ihe apresentam Sua avalialtao e decisi va 1 Itl1sao porem 0 deixa exausto em um processo de crescente ang6sri1 pOLS as conseqiiencias da decisao a ser tomada recaido sobre seus OITlshy

hros Em conrrapartida como ficaria a mulher dele se soubesse do peJi do da filha Certamente nao ficaria desnorteada graltas aresposta pr()n~

1 que tern Eprovavel que aceite com resignaltao a vinda daqueia crian(71

lO mundo e que nao se arormente com os desdobramenros do faro Pm que isso Porque as implicalt6es do cumprimento do dever nao sao de SUl

llcada - simplesmente pertencem a Deus Em resumo estamos diante de duas maneiras oposras de enfocar a qlll

[10 do aborto Melhor dizendo estamos diante de dois modos difnlmiddotllIci

d~ tomar decis6es cada qual derivando de uma matriz etica distinu Ora como a etica teoriza sobre as condutas morais vale iudag11 i~

cxiste uma 6nica teoria etica Absolutamente nao A despeito de () li-t logos fazerem da unicidade da etica um postulado ou apesar (Ii S( 11111

tlcsafio recorrente para muitos filosofos ha pelo menos duas teor lll em como ensina magistralmente Max Weber

1 A etica da convicqao entendida como deonrologia (trataJu dt )t

deveres) 2 A etica da responsabilidade conhecida como teleologia (estudo dlll

fins humanos)l

Escreve Weber

toda atividade orientada pela hica pode ser subordi11ar-se a dlIi 111aximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas Eta )()II orientar-se pela etica del- responsabilidade (verantwortungsethistJ) (11

pela etica da convicqao (gesinnungsethisch) 1sso nao quer dizer tUI

rJtica da convicqao seja identica aausencia de responsabilidade t a dii(

da responsabilidade d (UsciIa de convicqao Nao se trata e(Jidl1I

mente disso Todauia I IIIII (IU-70 abissal entre a atiludr rlt bull7flP II I

I II~I H [Il i I IIJIII II hIIW I i~li4l1 1111 illllili bullbull IDigt 101lt

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

---------_-_ _ ~---__ -------=-_--shy---~~==~---0__ -shy _shy e-_--

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 11: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

tm SltLJa~oes muiro pecujjare~ OU elll sirlllgt(s (x1 IC I) 11gt _ lteOlllO cnl

algumas escolhas de Sofia - e possivel ser illtrufsta atelldendo a cok 22

tividades menores Mas no caso estariamos diante do que e uiduel fazer nao do que seria 0 mais desejave1 fazer Exatamente con1O nas chashymadas roletas russas que ocorrem em hospitais publicos superlotados quando sobram pacientes criticos nos corredores e aparece uma unica vaga na UTI - 0 que faz 0 medico de plantao Escolhe um dos pacientes ou nada faz porque nao existem vagas para todos

Por que Mica nos neg6cios

As decisoes empresariais nao sao in6cuas an6dinas ou isentas de conseshyquencias carregam Um enorme poder de irradja~ao pe10s epoundeitos que proshyvocam Em termos praticos afetam os stakeholders os agentes que manshytem vinculos com dada organiza~ao isto e os participes ou as partesinteressadas

bull na frente interna temos os traba1hadores gestores e proprietarios(acionistas ou quotistas)

bull na hente externa temos os clientes fornecedores prestadores de servi~os autoridades governamentais bancos credores concorrenshytes mfdia comunidade local e entidades da sociedade civil _ sinshydicatos associa~6es profissionais movimentos sociais clubes de servl~Os e igrejas

Mas por que as decisoes empresariais afetam os ambientes interno e externo Simp1esmel1te porque os agentes sociais sao vulneraveis 0 caso do Tylenol nos Estados Unidos e um exemplo classico

A Johnson amp Johnson possufa 35 do mercado de analgesicos nos Estados Unidos com vendas anuais de US$400 mjlhOes No final de

setembro de 1982 sete pessoas morreram envenenadas apos ingerir Tylenol Contaminado com cianeto As vendas do remedio cairam entao de US$33 milhOes para US$4 milhOes por mes

A JampJ agiu com prontidao recolheu e destruiu 22 milhoes de frasshycos em todo 0 territ6rio norte-americano a um custo de US$100 mi

22 Ver capitulo sobre as teorias eticas

Ii 1111i II01I1I-[CIO ~mlluIJijJltOO( lui InUlllndn IlfllrlllI1l11111l tl~ til

I Ii II ~I lr InlOI ~~~Hd08 0 que rcsullou elll CfllCfJ de 12- I till

II IlrJllcias na mlclJa EtO redor clo lTlundo llulrtllV- dc chantagem reita por um norte-americano qUtl iuho

Ii III l1U(+SIW colocando cianureto em parle do lote distribufclo IW

fii lhicago foi denunciada pela JampJ e 0 culpado mais 1art Iii Ii IIJ preso S6 que antes de a investigagao estar completa e ~ot) () ir ( It tJs ropercussoes publicas a empresa teve que se posicionar

I jnrrmsse medidas corajosas para reverter 0 quadro de c1esconll II I (~riado arriscaria perder 0 pr6prio negocio e nao somenlt~

I reflelo do Tylenol IJuddiu entao tazer 0 recall e descontinuar a produltao do remedl

iI IdangEl-lo com nova embalagem inviolavel Fez campanhas flu GlllrBcimento e ofereceu recompensas pela prisao do assassino 1

lilillas telef6nicas adisposigao para ajudar quem necessitasse 8 ClI

IllOl1strou visivel preocupagao com a tragedia Fez um acordo GlIlf)

vlllor jamais velo a publico com as famllias das sete vitimas G I 11 )11

rJutras US$100 milhOes com a parte fiscal da devolugao dos medII I

rllentos Nao quis correr 0 risco de comprometer sua imagenl C I J III

fragar Afinal a JampJ nao se concebia como mera tabricante de Il~~rllt

dios seu neg6cio estrategico era vender saude segura Havia elabn rado um codigo de conduta que determinava a resposta aproprkJdH para situaltoes de grave emergencia Oualquer mancha sobre sua f

putagao ou sobre a lisura de seus procedimentos colocaria em X

que sua credibilidade Na ocasiao reafirmou seu modo de agir e consolidou sua imagem d~

empresa confiavel e responsavel Posteriormente gastou mais US$15 milhoes em campanhas publicitarias para recuperar 0 mercado perdishydo e obteve enorme sucesso dois anos depois do incidente23

Vamos mais a fundo Edificil acreditar que a empresa tenha a~Sll mido tal postma par mero born mocismo Emais crivel aceitar que (middotLt tenha conjugado seu credo organizacional - que considera a empreSl

23 NASH Laura L Etica nas Empresas boas intemoes J parte Sao PaJlo Makron Books 1) p 36-40 CALDINJ Alexandre Como gerenciar a crise revista Exame 26 de iall~ir I

2000 e revista Exame 8 de novembro de 1995 10

- 1IT11 I 1111 Iol1l iul

respons5vel pelos clientes empregados cOl1lunidade e acionislas - com uma analise estrategica da rela~ao de for~as no mercado re1a~ao esta que a mfdia tao bern ajudou a forjar com alertas regulares aopiniao publica e que se ttaduz na capacidade de os stakeholders boicotarem qualquer entidade que nao proceda de forma socialmente responsavel De maneira que nao e improvavel que 0 proprio credo organizacional tenha sido frushyto de urn contexto hist6rico bern preciso e de uma analise da dinamica social

Malgrado a influencia do codigo elaborado alguns perguntam por que sera que a JampJ fez apenas 0 recall do Tylenol distribufdo nos Estados Unidos e nao no resto do mundo sera que nao inHuiu aqui a percep~ao

de que 0 nive de mobiliza~ao da sociedade civil norte-americana e muito maior do que 0 das sociedades civis de outros paises igualmente consushymidores do produto Se assim nao fosse dizem aquelas vozes bastaria ter recolhido 0 Tylenol na area de Chicago em que daramente se evidenshyciaram os indfcios de viola~ao dos frascos e nao no territ6rio todo dos

II Estados Unidos Eis uma boa pista para penetrar no cerne da etica empresarial Entre

diferentes cursos de a~ao h5 sempre uma escolha a fazer nao seria esse urn motivo razoavel para que a reHexao etica se de nas empresas Por que adotar uma decisao e nao ontra Quais consequencias poderiam advir 0 que poderia prejudicar os neg6cios Quais medidas poderiam ferir os interesses ou os valores de quais stakeholders e quais contribui~6es asoshyciedade seriam bem acolhidas Como tudo isso repercutiria sobre 0 futushyro da empresa Em suma qual resposta estrategica dar nas mais diversas situa~6es de mercado

A bern da verdade em ambiente competitivo as empresas tern uma imagem a resguardar uma reputa~ao uma marca e em paises que desshyfrutam de Estados de Direito a sociedade civil reune condi~6es para mobilizar-se e retaliar as empresas socialmente irresponsaveis ou inid6neas Os c1ientes em particular ao exercitar seu direito de escolha e ao migrar simplesmente para os concorrentes disp6em de uma indiscutivel capacishydade de dissuasao uma especie de arsenal nuclear A cidadania organizashyda pode levar os dirigentes empresariais a agir de forma responsavel em detrimento ate de suas convic~6es intimas

Em outros termos a sociedade civil tern possibilidade de fazer polfshytica pela etica e viabilizar a ado~iio de posturas morais por parte das empresas por meio de uma interven~ao na realidade social Lan~ando

I II~middotmiddot bull - bull

IILill de quais canais ()l illiun1lIl~lltoS Recorrendo a mkil lll~tlii It

hllicote dos produtos vendidos ~IS agencias de defesa clos conslruid()(

)1 cia cidadania como 0 Procon (Funda~ao de Prote~ao e Defesa do (~nn -Iltnidor) a Promotoria de Justi~a e Prote~ao do Consumidor 0 lPCll1

(Institnto de PesOS e Medidas) 0 Centro de Vigilancia Sanitaria 0 Dillto (Departamento de Inspeao de Alimentos) 0 Inmetro (Institu Nad llat de Metrologia Normaliza~ao e Qualidade Industrial) eo Idee (ma i tuto Brasileiro de Defesa do Consumidor) uma organiza~ao nao gltlVLl

lamental

Figura 10

A politiCO pela etica pressoes cidadiis

bpi cote )ugencias cdefes~

Em paises autoritarios ou totalitarios esses recursos sao ponca efiea zes ou nao estao disponiveis e a sociedade civi~ vive arnorda~ada ou sil1lshyplesmente nao existe De forma simetrica em ambientes economicos k chados como nas economias de comando ou noS ambientes de carater semifechado em que prevalecem oligop61ios e carteis a poHtica peb

etica tambem sofre impedimentos Traduzindo a polftica pe1a etica relIne boas condi~6es para HoresClr

quando 0 chamado poder de mercado das empresas esta distribufdo quanshydo existe col11peti~ao efetiva e possibilidades reais de escolha por partl de clientes e usnarios finais Mesmo assim 0 respeito a soberania dos c1ientes ainda nao e moeda corrente em muitos paises e s6 acontece St

11

urI oj 111l1tU tlti

eles gritarem ou fizerem um escaudalo Atestado de dClllollstrJltJo de for~a dos consumidores encontra-se no nurnero de consultas e reclarnashylt6es feitas ao Procon da capital de Sao Paulo 0 nurnero de atendimentos realizados entre 1977 e 1994 foi de 1498517 entre 1995 e 2000 esse numero subiu para 1776492 Isso significa que em 6 anos houve 18500 mais atendimentos do que nos 18 anos anteriores Sem duvida urn cresshycimento vertiginoso 24

Para ilustrar esse poder de fogo vale a pena citar urn caso que chocou a opiniao publica e envolveu a Botica ao Veado DOuro farmacia de manipula~ao centenaria fundada em 1858

Por intermedio de um laboratorio de sua propriedade (Veafarm) foshy

ram produzidos em 1998 1 milhao de comprimidos lnocuos de um

remedio indicado para 0 tratamento de cancer de prostata (Androcur

da Schering do Brasil) Dez pacientes que faleceram na epoca podem ter tide a morte acelerada por terem ingerido 0 placebo Revelado 0

fato a denuncia da falsifica~ao foi repercutida pela midia e teve efeitos devastadores sobre a empresa Desde logo 19 pessoas foram indishy

ciadas pela Justi~a no processo de falsificacgao 25

Seis meses depois as lojas mantidas em importantes shoppings paulistanos (Ibirapuera Morumbi e 19uatemi) tiveram suas portas feshychadas metade dos andares da propria loja matriz no centro de Sao

Paulo foi desocupada 0 faturarnento caiu 80 dos 200 funcionarios que a empresa tinha antes do evento restaram pouco menos de 50 os

fornecedores deixaram de receber em dia26

A clientela nao perdoou 0 desrespeito e a fraude nem a irresponsashybilidade virtualmente homicida Puniu a empresa com urn eficaz boicote

Outta caso que desta vez envolveu diretamente a Schering do Brasil filial da Schering alema merece considera~ao ja que tambem retrata 0

inconformismo dos consurnidores

24 Ver FUllda~ao Procon SP wwwproconspgovbr 25 CONTE Carla ]uiz decrcra prisao de socio da Borica Folha de Sao Paulo 10 de novembro

de 1998 26 BERTON Particia Veado DOuro faz feestrurura~ao Gazeta Menanti 29 de abril de 1999

I ~ II i

I 1fI rY)eados de 199~1 u l~lllt)l Il()rio realizou um t8ste GUn) UInH nOVd

Ililquina embaladora ProduLiu embalagens com piluas anticoncepmiddot

donais Mcrovla sem 0 principio ativo Os placebos das 644 mil carte~as r uu dos 1200 quios de comprirnidos continham lactose com um reshy

vestimento de a~ucar e foram mandados para serem incinerados por

urna empresa especializada Ocorre que em maio a Schering io iniormada por meio de uma

carta anonima que um lote de placebo estarla sendo comercializado

Uma cartela do produto estava anexa Como a empresa ja tinha sido

vltma de remedios ialsos acreditou que a carta anonima era uma tenshy

tativa de chantag Resoveu entao investigar por conta proprla em emmais de uma centena de iarmacias Nada esclareceu

No inicio de iunho uma senhora gravida de um mes entrou em conshy

tato com 0 laboratorio e apresentou as pllulas falsas A Schering levou mais 15 dias apos a denuncia para notiticar a Vlgilancia Sanitaria

Curiosamente 0 fez no dia em que Jornal Nacional da TV Globo evava

ao ar a primeira reportagem a respeito Seu pecado residlu al embora

o aboratorio nada tivesse ialsificado foi displicente no contrale do descarte de placebos e nao alertou a opiniao publica sobre a possibishy

lidade de desvio de parte destes Sua omissao custou-Ihe caro Ate final de agosto 189 mulheres dis-

ramseram ter engravldado vltimas dos placebos que chega as farmashycias A midia moveu uma fortssima campanha contra a empresa afeshy

tando profundamente urna marca criada na Alemanha 127 anos atras

A Procurado Gera do Estado de Sao Paulo e 0 Procon entraram ria

com uma acgao civil publica contra 0 laboratorio pedindo ndeniza~ao por danos morais e materlas A Secretaria de Direito Economico do

Ministerio da Justl~a multou a empresa em quase R$3 mih6es A Vigishy

lancia Sanitaria interditou 0 laboratorio par duas vezes A suspensao

do anticoncepcional durou um mes e meo e for~ou a Schering a

relan~ar 0 produto que ia foi Hder do segmento (tinha 22 do mercashy

do) com nova cor de embalagem o inquerito polcial instaurado sobre 0 caso loi encerrado sem indlshy

car culpado 0 que dificultou tremendamente a recupera~ao da s ver

credibilidade do laboratOrio A Schering teve entao que promo uma milionaria campanha de comunica~aocom gastos avaliados em mais

12

5 Etica tmpresarial

de R$15 milhoes em uma tentativa de reCOnstruir sua imagem queficou muito desgastada e sob suspeita 27

No ano seguinte a matriz alema determinou as suas 50 sUbsidiarias que Suspendessem os testes de novos equipamentos e embalagens usando placebo a tim de evitar que casos como 0 do Microvlar se repetissem pelo mundo A empresa perdeu R$18 milh6es com 0 epishy

sodia samanda as meses em que a praduta esteve fara do mercado

queda nas vendas quando este votou as prateleiras e dois acordosfeitos com consumidoras 28

A Schering do Brasil Jevou tres anos para votar ao topo do mercado de anticoncepcionais em 2001 a participagao no mercado do Microvlar

cllegou a 177 (embora detivesse 22 em 1998) Tres fatores Contrishybuiram para essa recuperagao a) a fideJidade que as consumidoras

em gera mantE~m com a pilula que tomam ja que tem que acertar a dosagem de hormonios e livrar-se dos possiveis efeitos colaterais de seu usa b) 0 baixo prego do produto (3 reais e 50 centavos a cartela 8m 2001) e c) a confianga preservada junto aos medicos que receishytarn 0 anticoncepcionaJ 29

Para quem nao soube avaliar corretamente 0 nivel de exigencia dos dientes e para quem errou redondamente em termos de comunicaao ilti sem dnvida um serio transtorno simpfesmente porque nao ho adeqllado gerenciamento da crise 30 uve

Em um Caso semelhante porem Com reaao rapida e COmpetente bull jhoclia Farma foi aJerracia par um farmaclurico em 1993 de que um Ctela do neuroJitico AmpJictil fora achada dentro de uma caixa do llltialergico Fenergan No rua seguinte 0 laborat6rio soltou um comunicashy

lfTTENCOURT Silvia e CONTE Carla A~ao de Serra e eleitoraJ diz Schering alema Foha de Sll1O 3 de julho de 1998 SCHEINBERG Gabriela Schering foi vitima de crime afjnna uccurivo 0 Estado de sPa~rlo 4 de julho de 1998 PASTORE Karina 0 paraiso dos remeshys clius IJlsiJi(ado revista l1eja 8 de julho de 1998 PFEIFER Ismael Schering gasta milh6esI~III rcconstruir ill1ltlgem Gazeta Mercantil 27 de agosro de 1998

x C()RlJ~A Silvia c ESC()SSJA Fernanda cIa Scherillg cancela res res Com placebo Folha de SItw 26 de selelllbro de 1999

) VII imiddotIinAGA Vi(Lnl( Ivlicrrgtvlar VOa ao 10po do Illcnaltl til prld (middoti~ti1 Merci1ntil 3 ltI IJIIl dl Jon I

11 II~IIR( Fihiubull 11 d Loilllflrnilll((uItI tI 11111 I ~ 11 Jlllio I I))li

011 t lIP (tlco 571

do na televisao advertindo os consumidores Contatou a Vigilancia Sanitashyrin e determinou 0 recolhimento do lote Nao houve vitimas da troca3l

Na primeira pagina de um grande jornal do interior de Sao Paulo a foto de uma rnulher careca afirmando que ficou assim logo depois de usar um xampu da Gessy Lever (xampu Seda urna de suas principais marcas e Ifder do segmento) desencadeou uma rea~ao imediata da

empresa Os gestores da Gessy Lever fizeram consultas a seu laboratorio

mandaram recolher produtos para analise despacharam um medico independente e um advogado para a cidade interiorana Em algumas horas respiraram aliviados a mulher raspou a cabe~a

Mesmo assim a Gessy Lever teve que responder a um inquerito policial e definir uma estrategia de comunica~ao para dirimir quaisshy

quer duvidas32

As empresas detem marcas que representam preciosos ativos intangishyveis e que consomem tempo e dinheiro para serem construidas Em deshycorrencia muitas percebem que perder a credibilidade deixando de ser transparentes e de agir rapidamente eurn passo fatal para 0 neg6cio que operam

Caso de repercussao mundial foi 0 da contamina~ao de alimentos pela ra~ao fornecida aos animais nas granjas e fazendas da Belgica A origem da contamina~aofoi um oleo chamado ascarel e os donos da empresa acusada de ter adulterado a ra~ao foram presos

Em junho de 1999 depois de difundido 0 fato sumiram das prateshyleiras dos supermercados os frangos e os ovos a carne de boi e de porco 0 leite a manteiga os queijos e tudo 0 que e feito com esses ingredientes inclusive os chocolates 0 governo belga interditou a disshy

1 IIIU1 IIN(kR jlIql hl I Ilt 11111 I dlmiddotllmiddotrr ill~ndio rcvir Exarne 15 d( lulho de 10~)H

1 II M 1ldlS( l [JIlII 11 I II I I 1 gt fImiddot1 Ilt 11 I Ii fed Irfe de eviral e cllfrelll 1I1ll1 LT-middot (111( ~~flrJI 1l1IU I I I I lid I L lljltl

13

58 Etica Empresarial

tribuigao desses alimentos por suspeita de contaminagao par dioxinas substancias altamente t6xcas que podem causar doengas que vao do diabetes ao cancer

o que deflagrou grave escandalo na Uniao Eurcpeia entretanto foi que 0 governo belga demorou dois meses para revelar que os produshytos estavam impr6prios para 0 consumo A negligencia provocou a renuncia de dois ministros - 0 da Agricultura e 0 da Saude - e levou a suspensao das exportag6es causando um prejuizo avaliado em US$1 545 bilhao Mais ainda deixou aberta a possibilidade de a Belgishyca ser levada a julgamento em uma corte internacional por expor a riscos a populagao do continente europeu33

Em resumo no ultimo quartel do seculo XX a qnestao etica tornoushyse urn imperativo no universo das empresas privadas e par extensao das organizasoes publicas do Primeiro Mundo Converteu-se ate em disciplishyna obrigat6ria nos cursos de Administrasao As razoes residem no essenshycial no fato de que escandalos vieram atona em virtude do desenvolvishymento de uma mfdia plural e dedicada a investigalt53o Atos considerados imorais ou inidoneos peJa coJetividade deixaram de ser encobertos e toshylerados A sociedade civil passon a exercer pressoes eficazes sobre as empresas Isto e dada a sua vulnerabilidade cada vez mais os clientes procuram assegurar a qualidade dos produtos e dos servilt5os adquiridos POl sua vez concorrentes fornecedores investidores autoridades govershynamentais prestadores de servisos e empregados auscultam 0 modus operandi das empresas com as quais mantem relasoes visando policiar fraudes e repudiar alt50es irrespons8veis

Resultados Quando os escandalos eclodem estes geram altos cusshytos multas pesadas quebra de rotinas baixo moral dos empregados aumento da rotatividade dificuldades para recrutar funciowirios qualishyficados frau des internas e perda da confial1lt5a publica na reputalt5ao das empresas 34

Dificilmente os dirigentes empresariais podem manter-se alheios a esse movimento de mobilizalt5ao dosstakeholders Nem 0 posicionamento moral das empresas pode ficar amerce das flutualt50es e das inumeras

33 Revi5ta Veja 16 ue junho de 1999 0 Estado de SPaulo 2 de Jldho k 1l))J

34 NASH Laura L opcit p 4

OJ) I II ckJ

i 11ciencias morais individuais Pautas de orientalt5ao e pad-metros 111

Iillhlcao de conflitos de illteresse tornam-se indispensaveis RepontH lIl[lU

11111 conclusao a moral organizacional virou chave para a pr6pri~1 soh (

~lr~llcia das empresas I materia esra ganhando relevo no Brasil dado 0 porte de sua eeOll

1111 e em funlt5 da 0Plt5 estrategica que foi feita - integrar 0 pli~ (IIIao lll mercado que se globaliza e que exige relalt5oes profissionais e COil lIill1ais Em decorrencia 0 imaginario brasileiro est1 sofrendo lenta~ c rsistentes alteralt5Oes Ha crescente demanda por rransparencia e pruli dlk tanto no nato da coisa publica como nO fornecimento de proclllltJ~

crvilt5os ao mercado Caberia entao as empresas convencionar e prJ i

ao

l I 11gum c6digo de conduta que esteja em sintonia com essas expectt1 IIS Mas sobretudo valeria a pena conceber e implantar um conjunto tk

esccanismos de conrrole que pudesse prevenir as transgtesso as ori(1

IIt)es adotadas

14

As ieorias eticas Com 0 ohar perdido um sobrevivente

do campo de exterminio disse Se Auschwitz existiu Deus nao pode existir Jgt

As linhas de demarcasao

Vma mocinha de 15 anos procura 0 pai e pede-Ihe ajuda para fazer um aboIto Exige no entanto que a mae nao saiba Abalado 0 pai pershygunta quem a engravidou Em um rasgo de maturidade a mocinha Ihe diz que 0 menino tem 16 anos e ponanto e tao crianlta quanto ela Val1os consultar a mae sugere 0 pai Para que pergunta a garota se ja sabemos a resposta Segundo a mae uma catolica praticante 0 aborto constitui urn atentado contra a vida um crime imperdoavel e pOnto final

A moral catolica abriga-se sob as asas de uma etica do dever e sentenshycia falta 0 que esta prescrito Como 0 pai eagnostico a fiIha aposta no dialogo Ele nao CostUlDa repetir respondo par meus atos Quem sabe possa sensibilizar-se com a situaltao deIa QUilta venha a considerar as

impIicalt6es de uma gravidez prematura e a hipoteca que recaira sobre seu futuro de adolescente Nao empate minha vida pai me de uma chance suplica a filha

o pai en tao cai em si Uma vez que sua esposa ja tem posiltao tomashyda para que consulta-Ia Diante de conviclt6es religiosas que tacham 0

abono como um pecado abominavel nao resta margem de manobra A resposta sera sempre um nao sonoro Isso nao corresponde ao modo de

pensar e de agir do pal que nunca deixou de avaliar as conseqilencias do que faz Assim em face do desamparo da filha como nao se comover Algumas interrogalt6es comeltam a assaIta-Io faz sentido minhl men ina ter um bebe fruro da imprudencia Esensato criar lima ltrilIl(1 qlil niio foi dCS(jlCt () qUt rlII~lrJn Os pJrCllles IS llllil~~ 0- 111IIII I

ulras

rdllcidos do clube os professores as colegas da minha filha 0 qLl dill1o 1 pessoas com as quais me relaciono E aquelas com as quais trabalho Iso tudo nao vai comprometer 0 destino dela Ese ell concordar com () Ihorto e alguem souber 0 que vai acontecer

o pai reflete sobre as circunstancias e mede os efeitos possfveis d~

L ~Ja uma das oplt6es que se Ihe apresentam Sua avalialtao e decisi va 1 Itl1sao porem 0 deixa exausto em um processo de crescente ang6sri1 pOLS as conseqiiencias da decisao a ser tomada recaido sobre seus OITlshy

hros Em conrrapartida como ficaria a mulher dele se soubesse do peJi do da filha Certamente nao ficaria desnorteada graltas aresposta pr()n~

1 que tern Eprovavel que aceite com resignaltao a vinda daqueia crian(71

lO mundo e que nao se arormente com os desdobramenros do faro Pm que isso Porque as implicalt6es do cumprimento do dever nao sao de SUl

llcada - simplesmente pertencem a Deus Em resumo estamos diante de duas maneiras oposras de enfocar a qlll

[10 do aborto Melhor dizendo estamos diante de dois modos difnlmiddotllIci

d~ tomar decis6es cada qual derivando de uma matriz etica distinu Ora como a etica teoriza sobre as condutas morais vale iudag11 i~

cxiste uma 6nica teoria etica Absolutamente nao A despeito de () li-t logos fazerem da unicidade da etica um postulado ou apesar (Ii S( 11111

tlcsafio recorrente para muitos filosofos ha pelo menos duas teor lll em como ensina magistralmente Max Weber

1 A etica da convicqao entendida como deonrologia (trataJu dt )t

deveres) 2 A etica da responsabilidade conhecida como teleologia (estudo dlll

fins humanos)l

Escreve Weber

toda atividade orientada pela hica pode ser subordi11ar-se a dlIi 111aximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas Eta )()II orientar-se pela etica del- responsabilidade (verantwortungsethistJ) (11

pela etica da convicqao (gesinnungsethisch) 1sso nao quer dizer tUI

rJtica da convicqao seja identica aausencia de responsabilidade t a dii(

da responsabilidade d (UsciIa de convicqao Nao se trata e(Jidl1I

mente disso Todauia I IIIII (IU-70 abissal entre a atiludr rlt bull7flP II I

I II~I H [Il i I IIJIII II hIIW I i~li4l1 1111 illllili bullbull IDigt 101lt

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 12: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

- 1IT11 I 1111 Iol1l iul

respons5vel pelos clientes empregados cOl1lunidade e acionislas - com uma analise estrategica da rela~ao de for~as no mercado re1a~ao esta que a mfdia tao bern ajudou a forjar com alertas regulares aopiniao publica e que se ttaduz na capacidade de os stakeholders boicotarem qualquer entidade que nao proceda de forma socialmente responsavel De maneira que nao e improvavel que 0 proprio credo organizacional tenha sido frushyto de urn contexto hist6rico bern preciso e de uma analise da dinamica social

Malgrado a influencia do codigo elaborado alguns perguntam por que sera que a JampJ fez apenas 0 recall do Tylenol distribufdo nos Estados Unidos e nao no resto do mundo sera que nao inHuiu aqui a percep~ao

de que 0 nive de mobiliza~ao da sociedade civil norte-americana e muito maior do que 0 das sociedades civis de outros paises igualmente consushymidores do produto Se assim nao fosse dizem aquelas vozes bastaria ter recolhido 0 Tylenol na area de Chicago em que daramente se evidenshyciaram os indfcios de viola~ao dos frascos e nao no territ6rio todo dos

II Estados Unidos Eis uma boa pista para penetrar no cerne da etica empresarial Entre

diferentes cursos de a~ao h5 sempre uma escolha a fazer nao seria esse urn motivo razoavel para que a reHexao etica se de nas empresas Por que adotar uma decisao e nao ontra Quais consequencias poderiam advir 0 que poderia prejudicar os neg6cios Quais medidas poderiam ferir os interesses ou os valores de quais stakeholders e quais contribui~6es asoshyciedade seriam bem acolhidas Como tudo isso repercutiria sobre 0 futushyro da empresa Em suma qual resposta estrategica dar nas mais diversas situa~6es de mercado

A bern da verdade em ambiente competitivo as empresas tern uma imagem a resguardar uma reputa~ao uma marca e em paises que desshyfrutam de Estados de Direito a sociedade civil reune condi~6es para mobilizar-se e retaliar as empresas socialmente irresponsaveis ou inid6neas Os c1ientes em particular ao exercitar seu direito de escolha e ao migrar simplesmente para os concorrentes disp6em de uma indiscutivel capacishydade de dissuasao uma especie de arsenal nuclear A cidadania organizashyda pode levar os dirigentes empresariais a agir de forma responsavel em detrimento ate de suas convic~6es intimas

Em outros termos a sociedade civil tern possibilidade de fazer polfshytica pela etica e viabilizar a ado~iio de posturas morais por parte das empresas por meio de uma interven~ao na realidade social Lan~ando

I II~middotmiddot bull - bull

IILill de quais canais ()l illiun1lIl~lltoS Recorrendo a mkil lll~tlii It

hllicote dos produtos vendidos ~IS agencias de defesa clos conslruid()(

)1 cia cidadania como 0 Procon (Funda~ao de Prote~ao e Defesa do (~nn -Iltnidor) a Promotoria de Justi~a e Prote~ao do Consumidor 0 lPCll1

(Institnto de PesOS e Medidas) 0 Centro de Vigilancia Sanitaria 0 Dillto (Departamento de Inspeao de Alimentos) 0 Inmetro (Institu Nad llat de Metrologia Normaliza~ao e Qualidade Industrial) eo Idee (ma i tuto Brasileiro de Defesa do Consumidor) uma organiza~ao nao gltlVLl

lamental

Figura 10

A politiCO pela etica pressoes cidadiis

bpi cote )ugencias cdefes~

Em paises autoritarios ou totalitarios esses recursos sao ponca efiea zes ou nao estao disponiveis e a sociedade civi~ vive arnorda~ada ou sil1lshyplesmente nao existe De forma simetrica em ambientes economicos k chados como nas economias de comando ou noS ambientes de carater semifechado em que prevalecem oligop61ios e carteis a poHtica peb

etica tambem sofre impedimentos Traduzindo a polftica pe1a etica relIne boas condi~6es para HoresClr

quando 0 chamado poder de mercado das empresas esta distribufdo quanshydo existe col11peti~ao efetiva e possibilidades reais de escolha por partl de clientes e usnarios finais Mesmo assim 0 respeito a soberania dos c1ientes ainda nao e moeda corrente em muitos paises e s6 acontece St

11

urI oj 111l1tU tlti

eles gritarem ou fizerem um escaudalo Atestado de dClllollstrJltJo de for~a dos consumidores encontra-se no nurnero de consultas e reclarnashylt6es feitas ao Procon da capital de Sao Paulo 0 nurnero de atendimentos realizados entre 1977 e 1994 foi de 1498517 entre 1995 e 2000 esse numero subiu para 1776492 Isso significa que em 6 anos houve 18500 mais atendimentos do que nos 18 anos anteriores Sem duvida urn cresshycimento vertiginoso 24

Para ilustrar esse poder de fogo vale a pena citar urn caso que chocou a opiniao publica e envolveu a Botica ao Veado DOuro farmacia de manipula~ao centenaria fundada em 1858

Por intermedio de um laboratorio de sua propriedade (Veafarm) foshy

ram produzidos em 1998 1 milhao de comprimidos lnocuos de um

remedio indicado para 0 tratamento de cancer de prostata (Androcur

da Schering do Brasil) Dez pacientes que faleceram na epoca podem ter tide a morte acelerada por terem ingerido 0 placebo Revelado 0

fato a denuncia da falsifica~ao foi repercutida pela midia e teve efeitos devastadores sobre a empresa Desde logo 19 pessoas foram indishy

ciadas pela Justi~a no processo de falsificacgao 25

Seis meses depois as lojas mantidas em importantes shoppings paulistanos (Ibirapuera Morumbi e 19uatemi) tiveram suas portas feshychadas metade dos andares da propria loja matriz no centro de Sao

Paulo foi desocupada 0 faturarnento caiu 80 dos 200 funcionarios que a empresa tinha antes do evento restaram pouco menos de 50 os

fornecedores deixaram de receber em dia26

A clientela nao perdoou 0 desrespeito e a fraude nem a irresponsashybilidade virtualmente homicida Puniu a empresa com urn eficaz boicote

Outta caso que desta vez envolveu diretamente a Schering do Brasil filial da Schering alema merece considera~ao ja que tambem retrata 0

inconformismo dos consurnidores

24 Ver FUllda~ao Procon SP wwwproconspgovbr 25 CONTE Carla ]uiz decrcra prisao de socio da Borica Folha de Sao Paulo 10 de novembro

de 1998 26 BERTON Particia Veado DOuro faz feestrurura~ao Gazeta Menanti 29 de abril de 1999

I ~ II i

I 1fI rY)eados de 199~1 u l~lllt)l Il()rio realizou um t8ste GUn) UInH nOVd

Ililquina embaladora ProduLiu embalagens com piluas anticoncepmiddot

donais Mcrovla sem 0 principio ativo Os placebos das 644 mil carte~as r uu dos 1200 quios de comprirnidos continham lactose com um reshy

vestimento de a~ucar e foram mandados para serem incinerados por

urna empresa especializada Ocorre que em maio a Schering io iniormada por meio de uma

carta anonima que um lote de placebo estarla sendo comercializado

Uma cartela do produto estava anexa Como a empresa ja tinha sido

vltma de remedios ialsos acreditou que a carta anonima era uma tenshy

tativa de chantag Resoveu entao investigar por conta proprla em emmais de uma centena de iarmacias Nada esclareceu

No inicio de iunho uma senhora gravida de um mes entrou em conshy

tato com 0 laboratorio e apresentou as pllulas falsas A Schering levou mais 15 dias apos a denuncia para notiticar a Vlgilancia Sanitaria

Curiosamente 0 fez no dia em que Jornal Nacional da TV Globo evava

ao ar a primeira reportagem a respeito Seu pecado residlu al embora

o aboratorio nada tivesse ialsificado foi displicente no contrale do descarte de placebos e nao alertou a opiniao publica sobre a possibishy

lidade de desvio de parte destes Sua omissao custou-Ihe caro Ate final de agosto 189 mulheres dis-

ramseram ter engravldado vltimas dos placebos que chega as farmashycias A midia moveu uma fortssima campanha contra a empresa afeshy

tando profundamente urna marca criada na Alemanha 127 anos atras

A Procurado Gera do Estado de Sao Paulo e 0 Procon entraram ria

com uma acgao civil publica contra 0 laboratorio pedindo ndeniza~ao por danos morais e materlas A Secretaria de Direito Economico do

Ministerio da Justl~a multou a empresa em quase R$3 mih6es A Vigishy

lancia Sanitaria interditou 0 laboratorio par duas vezes A suspensao

do anticoncepcional durou um mes e meo e for~ou a Schering a

relan~ar 0 produto que ia foi Hder do segmento (tinha 22 do mercashy

do) com nova cor de embalagem o inquerito polcial instaurado sobre 0 caso loi encerrado sem indlshy

car culpado 0 que dificultou tremendamente a recupera~ao da s ver

credibilidade do laboratOrio A Schering teve entao que promo uma milionaria campanha de comunica~aocom gastos avaliados em mais

12

5 Etica tmpresarial

de R$15 milhoes em uma tentativa de reCOnstruir sua imagem queficou muito desgastada e sob suspeita 27

No ano seguinte a matriz alema determinou as suas 50 sUbsidiarias que Suspendessem os testes de novos equipamentos e embalagens usando placebo a tim de evitar que casos como 0 do Microvlar se repetissem pelo mundo A empresa perdeu R$18 milh6es com 0 epishy

sodia samanda as meses em que a praduta esteve fara do mercado

queda nas vendas quando este votou as prateleiras e dois acordosfeitos com consumidoras 28

A Schering do Brasil Jevou tres anos para votar ao topo do mercado de anticoncepcionais em 2001 a participagao no mercado do Microvlar

cllegou a 177 (embora detivesse 22 em 1998) Tres fatores Contrishybuiram para essa recuperagao a) a fideJidade que as consumidoras

em gera mantE~m com a pilula que tomam ja que tem que acertar a dosagem de hormonios e livrar-se dos possiveis efeitos colaterais de seu usa b) 0 baixo prego do produto (3 reais e 50 centavos a cartela 8m 2001) e c) a confianga preservada junto aos medicos que receishytarn 0 anticoncepcionaJ 29

Para quem nao soube avaliar corretamente 0 nivel de exigencia dos dientes e para quem errou redondamente em termos de comunicaao ilti sem dnvida um serio transtorno simpfesmente porque nao ho adeqllado gerenciamento da crise 30 uve

Em um Caso semelhante porem Com reaao rapida e COmpetente bull jhoclia Farma foi aJerracia par um farmaclurico em 1993 de que um Ctela do neuroJitico AmpJictil fora achada dentro de uma caixa do llltialergico Fenergan No rua seguinte 0 laborat6rio soltou um comunicashy

lfTTENCOURT Silvia e CONTE Carla A~ao de Serra e eleitoraJ diz Schering alema Foha de Sll1O 3 de julho de 1998 SCHEINBERG Gabriela Schering foi vitima de crime afjnna uccurivo 0 Estado de sPa~rlo 4 de julho de 1998 PASTORE Karina 0 paraiso dos remeshys clius IJlsiJi(ado revista l1eja 8 de julho de 1998 PFEIFER Ismael Schering gasta milh6esI~III rcconstruir ill1ltlgem Gazeta Mercantil 27 de agosro de 1998

x C()RlJ~A Silvia c ESC()SSJA Fernanda cIa Scherillg cancela res res Com placebo Folha de SItw 26 de selelllbro de 1999

) VII imiddotIinAGA Vi(Lnl( Ivlicrrgtvlar VOa ao 10po do Illcnaltl til prld (middoti~ti1 Merci1ntil 3 ltI IJIIl dl Jon I

11 II~IIR( Fihiubull 11 d Loilllflrnilll((uItI tI 11111 I ~ 11 Jlllio I I))li

011 t lIP (tlco 571

do na televisao advertindo os consumidores Contatou a Vigilancia Sanitashyrin e determinou 0 recolhimento do lote Nao houve vitimas da troca3l

Na primeira pagina de um grande jornal do interior de Sao Paulo a foto de uma rnulher careca afirmando que ficou assim logo depois de usar um xampu da Gessy Lever (xampu Seda urna de suas principais marcas e Ifder do segmento) desencadeou uma rea~ao imediata da

empresa Os gestores da Gessy Lever fizeram consultas a seu laboratorio

mandaram recolher produtos para analise despacharam um medico independente e um advogado para a cidade interiorana Em algumas horas respiraram aliviados a mulher raspou a cabe~a

Mesmo assim a Gessy Lever teve que responder a um inquerito policial e definir uma estrategia de comunica~ao para dirimir quaisshy

quer duvidas32

As empresas detem marcas que representam preciosos ativos intangishyveis e que consomem tempo e dinheiro para serem construidas Em deshycorrencia muitas percebem que perder a credibilidade deixando de ser transparentes e de agir rapidamente eurn passo fatal para 0 neg6cio que operam

Caso de repercussao mundial foi 0 da contamina~ao de alimentos pela ra~ao fornecida aos animais nas granjas e fazendas da Belgica A origem da contamina~aofoi um oleo chamado ascarel e os donos da empresa acusada de ter adulterado a ra~ao foram presos

Em junho de 1999 depois de difundido 0 fato sumiram das prateshyleiras dos supermercados os frangos e os ovos a carne de boi e de porco 0 leite a manteiga os queijos e tudo 0 que e feito com esses ingredientes inclusive os chocolates 0 governo belga interditou a disshy

1 IIIU1 IIN(kR jlIql hl I Ilt 11111 I dlmiddotllmiddotrr ill~ndio rcvir Exarne 15 d( lulho de 10~)H

1 II M 1ldlS( l [JIlII 11 I II I I 1 gt fImiddot1 Ilt 11 I Ii fed Irfe de eviral e cllfrelll 1I1ll1 LT-middot (111( ~~flrJI 1l1IU I I I I lid I L lljltl

13

58 Etica Empresarial

tribuigao desses alimentos por suspeita de contaminagao par dioxinas substancias altamente t6xcas que podem causar doengas que vao do diabetes ao cancer

o que deflagrou grave escandalo na Uniao Eurcpeia entretanto foi que 0 governo belga demorou dois meses para revelar que os produshytos estavam impr6prios para 0 consumo A negligencia provocou a renuncia de dois ministros - 0 da Agricultura e 0 da Saude - e levou a suspensao das exportag6es causando um prejuizo avaliado em US$1 545 bilhao Mais ainda deixou aberta a possibilidade de a Belgishyca ser levada a julgamento em uma corte internacional por expor a riscos a populagao do continente europeu33

Em resumo no ultimo quartel do seculo XX a qnestao etica tornoushyse urn imperativo no universo das empresas privadas e par extensao das organizasoes publicas do Primeiro Mundo Converteu-se ate em disciplishyna obrigat6ria nos cursos de Administrasao As razoes residem no essenshycial no fato de que escandalos vieram atona em virtude do desenvolvishymento de uma mfdia plural e dedicada a investigalt53o Atos considerados imorais ou inidoneos peJa coJetividade deixaram de ser encobertos e toshylerados A sociedade civil passon a exercer pressoes eficazes sobre as empresas Isto e dada a sua vulnerabilidade cada vez mais os clientes procuram assegurar a qualidade dos produtos e dos servilt5os adquiridos POl sua vez concorrentes fornecedores investidores autoridades govershynamentais prestadores de servisos e empregados auscultam 0 modus operandi das empresas com as quais mantem relasoes visando policiar fraudes e repudiar alt50es irrespons8veis

Resultados Quando os escandalos eclodem estes geram altos cusshytos multas pesadas quebra de rotinas baixo moral dos empregados aumento da rotatividade dificuldades para recrutar funciowirios qualishyficados frau des internas e perda da confial1lt5a publica na reputalt5ao das empresas 34

Dificilmente os dirigentes empresariais podem manter-se alheios a esse movimento de mobilizalt5ao dosstakeholders Nem 0 posicionamento moral das empresas pode ficar amerce das flutualt50es e das inumeras

33 Revi5ta Veja 16 ue junho de 1999 0 Estado de SPaulo 2 de Jldho k 1l))J

34 NASH Laura L opcit p 4

OJ) I II ckJ

i 11ciencias morais individuais Pautas de orientalt5ao e pad-metros 111

Iillhlcao de conflitos de illteresse tornam-se indispensaveis RepontH lIl[lU

11111 conclusao a moral organizacional virou chave para a pr6pri~1 soh (

~lr~llcia das empresas I materia esra ganhando relevo no Brasil dado 0 porte de sua eeOll

1111 e em funlt5 da 0Plt5 estrategica que foi feita - integrar 0 pli~ (IIIao lll mercado que se globaliza e que exige relalt5oes profissionais e COil lIill1ais Em decorrencia 0 imaginario brasileiro est1 sofrendo lenta~ c rsistentes alteralt5Oes Ha crescente demanda por rransparencia e pruli dlk tanto no nato da coisa publica como nO fornecimento de proclllltJ~

crvilt5os ao mercado Caberia entao as empresas convencionar e prJ i

ao

l I 11gum c6digo de conduta que esteja em sintonia com essas expectt1 IIS Mas sobretudo valeria a pena conceber e implantar um conjunto tk

esccanismos de conrrole que pudesse prevenir as transgtesso as ori(1

IIt)es adotadas

14

As ieorias eticas Com 0 ohar perdido um sobrevivente

do campo de exterminio disse Se Auschwitz existiu Deus nao pode existir Jgt

As linhas de demarcasao

Vma mocinha de 15 anos procura 0 pai e pede-Ihe ajuda para fazer um aboIto Exige no entanto que a mae nao saiba Abalado 0 pai pershygunta quem a engravidou Em um rasgo de maturidade a mocinha Ihe diz que 0 menino tem 16 anos e ponanto e tao crianlta quanto ela Val1os consultar a mae sugere 0 pai Para que pergunta a garota se ja sabemos a resposta Segundo a mae uma catolica praticante 0 aborto constitui urn atentado contra a vida um crime imperdoavel e pOnto final

A moral catolica abriga-se sob as asas de uma etica do dever e sentenshycia falta 0 que esta prescrito Como 0 pai eagnostico a fiIha aposta no dialogo Ele nao CostUlDa repetir respondo par meus atos Quem sabe possa sensibilizar-se com a situaltao deIa QUilta venha a considerar as

impIicalt6es de uma gravidez prematura e a hipoteca que recaira sobre seu futuro de adolescente Nao empate minha vida pai me de uma chance suplica a filha

o pai en tao cai em si Uma vez que sua esposa ja tem posiltao tomashyda para que consulta-Ia Diante de conviclt6es religiosas que tacham 0

abono como um pecado abominavel nao resta margem de manobra A resposta sera sempre um nao sonoro Isso nao corresponde ao modo de

pensar e de agir do pal que nunca deixou de avaliar as conseqilencias do que faz Assim em face do desamparo da filha como nao se comover Algumas interrogalt6es comeltam a assaIta-Io faz sentido minhl men ina ter um bebe fruro da imprudencia Esensato criar lima ltrilIl(1 qlil niio foi dCS(jlCt () qUt rlII~lrJn Os pJrCllles IS llllil~~ 0- 111IIII I

ulras

rdllcidos do clube os professores as colegas da minha filha 0 qLl dill1o 1 pessoas com as quais me relaciono E aquelas com as quais trabalho Iso tudo nao vai comprometer 0 destino dela Ese ell concordar com () Ihorto e alguem souber 0 que vai acontecer

o pai reflete sobre as circunstancias e mede os efeitos possfveis d~

L ~Ja uma das oplt6es que se Ihe apresentam Sua avalialtao e decisi va 1 Itl1sao porem 0 deixa exausto em um processo de crescente ang6sri1 pOLS as conseqiiencias da decisao a ser tomada recaido sobre seus OITlshy

hros Em conrrapartida como ficaria a mulher dele se soubesse do peJi do da filha Certamente nao ficaria desnorteada graltas aresposta pr()n~

1 que tern Eprovavel que aceite com resignaltao a vinda daqueia crian(71

lO mundo e que nao se arormente com os desdobramenros do faro Pm que isso Porque as implicalt6es do cumprimento do dever nao sao de SUl

llcada - simplesmente pertencem a Deus Em resumo estamos diante de duas maneiras oposras de enfocar a qlll

[10 do aborto Melhor dizendo estamos diante de dois modos difnlmiddotllIci

d~ tomar decis6es cada qual derivando de uma matriz etica distinu Ora como a etica teoriza sobre as condutas morais vale iudag11 i~

cxiste uma 6nica teoria etica Absolutamente nao A despeito de () li-t logos fazerem da unicidade da etica um postulado ou apesar (Ii S( 11111

tlcsafio recorrente para muitos filosofos ha pelo menos duas teor lll em como ensina magistralmente Max Weber

1 A etica da convicqao entendida como deonrologia (trataJu dt )t

deveres) 2 A etica da responsabilidade conhecida como teleologia (estudo dlll

fins humanos)l

Escreve Weber

toda atividade orientada pela hica pode ser subordi11ar-se a dlIi 111aximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas Eta )()II orientar-se pela etica del- responsabilidade (verantwortungsethistJ) (11

pela etica da convicqao (gesinnungsethisch) 1sso nao quer dizer tUI

rJtica da convicqao seja identica aausencia de responsabilidade t a dii(

da responsabilidade d (UsciIa de convicqao Nao se trata e(Jidl1I

mente disso Todauia I IIIII (IU-70 abissal entre a atiludr rlt bull7flP II I

I II~I H [Il i I IIJIII II hIIW I i~li4l1 1111 illllili bullbull IDigt 101lt

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 13: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

urI oj 111l1tU tlti

eles gritarem ou fizerem um escaudalo Atestado de dClllollstrJltJo de for~a dos consumidores encontra-se no nurnero de consultas e reclarnashylt6es feitas ao Procon da capital de Sao Paulo 0 nurnero de atendimentos realizados entre 1977 e 1994 foi de 1498517 entre 1995 e 2000 esse numero subiu para 1776492 Isso significa que em 6 anos houve 18500 mais atendimentos do que nos 18 anos anteriores Sem duvida urn cresshycimento vertiginoso 24

Para ilustrar esse poder de fogo vale a pena citar urn caso que chocou a opiniao publica e envolveu a Botica ao Veado DOuro farmacia de manipula~ao centenaria fundada em 1858

Por intermedio de um laboratorio de sua propriedade (Veafarm) foshy

ram produzidos em 1998 1 milhao de comprimidos lnocuos de um

remedio indicado para 0 tratamento de cancer de prostata (Androcur

da Schering do Brasil) Dez pacientes que faleceram na epoca podem ter tide a morte acelerada por terem ingerido 0 placebo Revelado 0

fato a denuncia da falsifica~ao foi repercutida pela midia e teve efeitos devastadores sobre a empresa Desde logo 19 pessoas foram indishy

ciadas pela Justi~a no processo de falsificacgao 25

Seis meses depois as lojas mantidas em importantes shoppings paulistanos (Ibirapuera Morumbi e 19uatemi) tiveram suas portas feshychadas metade dos andares da propria loja matriz no centro de Sao

Paulo foi desocupada 0 faturarnento caiu 80 dos 200 funcionarios que a empresa tinha antes do evento restaram pouco menos de 50 os

fornecedores deixaram de receber em dia26

A clientela nao perdoou 0 desrespeito e a fraude nem a irresponsashybilidade virtualmente homicida Puniu a empresa com urn eficaz boicote

Outta caso que desta vez envolveu diretamente a Schering do Brasil filial da Schering alema merece considera~ao ja que tambem retrata 0

inconformismo dos consurnidores

24 Ver FUllda~ao Procon SP wwwproconspgovbr 25 CONTE Carla ]uiz decrcra prisao de socio da Borica Folha de Sao Paulo 10 de novembro

de 1998 26 BERTON Particia Veado DOuro faz feestrurura~ao Gazeta Menanti 29 de abril de 1999

I ~ II i

I 1fI rY)eados de 199~1 u l~lllt)l Il()rio realizou um t8ste GUn) UInH nOVd

Ililquina embaladora ProduLiu embalagens com piluas anticoncepmiddot

donais Mcrovla sem 0 principio ativo Os placebos das 644 mil carte~as r uu dos 1200 quios de comprirnidos continham lactose com um reshy

vestimento de a~ucar e foram mandados para serem incinerados por

urna empresa especializada Ocorre que em maio a Schering io iniormada por meio de uma

carta anonima que um lote de placebo estarla sendo comercializado

Uma cartela do produto estava anexa Como a empresa ja tinha sido

vltma de remedios ialsos acreditou que a carta anonima era uma tenshy

tativa de chantag Resoveu entao investigar por conta proprla em emmais de uma centena de iarmacias Nada esclareceu

No inicio de iunho uma senhora gravida de um mes entrou em conshy

tato com 0 laboratorio e apresentou as pllulas falsas A Schering levou mais 15 dias apos a denuncia para notiticar a Vlgilancia Sanitaria

Curiosamente 0 fez no dia em que Jornal Nacional da TV Globo evava

ao ar a primeira reportagem a respeito Seu pecado residlu al embora

o aboratorio nada tivesse ialsificado foi displicente no contrale do descarte de placebos e nao alertou a opiniao publica sobre a possibishy

lidade de desvio de parte destes Sua omissao custou-Ihe caro Ate final de agosto 189 mulheres dis-

ramseram ter engravldado vltimas dos placebos que chega as farmashycias A midia moveu uma fortssima campanha contra a empresa afeshy

tando profundamente urna marca criada na Alemanha 127 anos atras

A Procurado Gera do Estado de Sao Paulo e 0 Procon entraram ria

com uma acgao civil publica contra 0 laboratorio pedindo ndeniza~ao por danos morais e materlas A Secretaria de Direito Economico do

Ministerio da Justl~a multou a empresa em quase R$3 mih6es A Vigishy

lancia Sanitaria interditou 0 laboratorio par duas vezes A suspensao

do anticoncepcional durou um mes e meo e for~ou a Schering a

relan~ar 0 produto que ia foi Hder do segmento (tinha 22 do mercashy

do) com nova cor de embalagem o inquerito polcial instaurado sobre 0 caso loi encerrado sem indlshy

car culpado 0 que dificultou tremendamente a recupera~ao da s ver

credibilidade do laboratOrio A Schering teve entao que promo uma milionaria campanha de comunica~aocom gastos avaliados em mais

12

5 Etica tmpresarial

de R$15 milhoes em uma tentativa de reCOnstruir sua imagem queficou muito desgastada e sob suspeita 27

No ano seguinte a matriz alema determinou as suas 50 sUbsidiarias que Suspendessem os testes de novos equipamentos e embalagens usando placebo a tim de evitar que casos como 0 do Microvlar se repetissem pelo mundo A empresa perdeu R$18 milh6es com 0 epishy

sodia samanda as meses em que a praduta esteve fara do mercado

queda nas vendas quando este votou as prateleiras e dois acordosfeitos com consumidoras 28

A Schering do Brasil Jevou tres anos para votar ao topo do mercado de anticoncepcionais em 2001 a participagao no mercado do Microvlar

cllegou a 177 (embora detivesse 22 em 1998) Tres fatores Contrishybuiram para essa recuperagao a) a fideJidade que as consumidoras

em gera mantE~m com a pilula que tomam ja que tem que acertar a dosagem de hormonios e livrar-se dos possiveis efeitos colaterais de seu usa b) 0 baixo prego do produto (3 reais e 50 centavos a cartela 8m 2001) e c) a confianga preservada junto aos medicos que receishytarn 0 anticoncepcionaJ 29

Para quem nao soube avaliar corretamente 0 nivel de exigencia dos dientes e para quem errou redondamente em termos de comunicaao ilti sem dnvida um serio transtorno simpfesmente porque nao ho adeqllado gerenciamento da crise 30 uve

Em um Caso semelhante porem Com reaao rapida e COmpetente bull jhoclia Farma foi aJerracia par um farmaclurico em 1993 de que um Ctela do neuroJitico AmpJictil fora achada dentro de uma caixa do llltialergico Fenergan No rua seguinte 0 laborat6rio soltou um comunicashy

lfTTENCOURT Silvia e CONTE Carla A~ao de Serra e eleitoraJ diz Schering alema Foha de Sll1O 3 de julho de 1998 SCHEINBERG Gabriela Schering foi vitima de crime afjnna uccurivo 0 Estado de sPa~rlo 4 de julho de 1998 PASTORE Karina 0 paraiso dos remeshys clius IJlsiJi(ado revista l1eja 8 de julho de 1998 PFEIFER Ismael Schering gasta milh6esI~III rcconstruir ill1ltlgem Gazeta Mercantil 27 de agosro de 1998

x C()RlJ~A Silvia c ESC()SSJA Fernanda cIa Scherillg cancela res res Com placebo Folha de SItw 26 de selelllbro de 1999

) VII imiddotIinAGA Vi(Lnl( Ivlicrrgtvlar VOa ao 10po do Illcnaltl til prld (middoti~ti1 Merci1ntil 3 ltI IJIIl dl Jon I

11 II~IIR( Fihiubull 11 d Loilllflrnilll((uItI tI 11111 I ~ 11 Jlllio I I))li

011 t lIP (tlco 571

do na televisao advertindo os consumidores Contatou a Vigilancia Sanitashyrin e determinou 0 recolhimento do lote Nao houve vitimas da troca3l

Na primeira pagina de um grande jornal do interior de Sao Paulo a foto de uma rnulher careca afirmando que ficou assim logo depois de usar um xampu da Gessy Lever (xampu Seda urna de suas principais marcas e Ifder do segmento) desencadeou uma rea~ao imediata da

empresa Os gestores da Gessy Lever fizeram consultas a seu laboratorio

mandaram recolher produtos para analise despacharam um medico independente e um advogado para a cidade interiorana Em algumas horas respiraram aliviados a mulher raspou a cabe~a

Mesmo assim a Gessy Lever teve que responder a um inquerito policial e definir uma estrategia de comunica~ao para dirimir quaisshy

quer duvidas32

As empresas detem marcas que representam preciosos ativos intangishyveis e que consomem tempo e dinheiro para serem construidas Em deshycorrencia muitas percebem que perder a credibilidade deixando de ser transparentes e de agir rapidamente eurn passo fatal para 0 neg6cio que operam

Caso de repercussao mundial foi 0 da contamina~ao de alimentos pela ra~ao fornecida aos animais nas granjas e fazendas da Belgica A origem da contamina~aofoi um oleo chamado ascarel e os donos da empresa acusada de ter adulterado a ra~ao foram presos

Em junho de 1999 depois de difundido 0 fato sumiram das prateshyleiras dos supermercados os frangos e os ovos a carne de boi e de porco 0 leite a manteiga os queijos e tudo 0 que e feito com esses ingredientes inclusive os chocolates 0 governo belga interditou a disshy

1 IIIU1 IIN(kR jlIql hl I Ilt 11111 I dlmiddotllmiddotrr ill~ndio rcvir Exarne 15 d( lulho de 10~)H

1 II M 1ldlS( l [JIlII 11 I II I I 1 gt fImiddot1 Ilt 11 I Ii fed Irfe de eviral e cllfrelll 1I1ll1 LT-middot (111( ~~flrJI 1l1IU I I I I lid I L lljltl

13

58 Etica Empresarial

tribuigao desses alimentos por suspeita de contaminagao par dioxinas substancias altamente t6xcas que podem causar doengas que vao do diabetes ao cancer

o que deflagrou grave escandalo na Uniao Eurcpeia entretanto foi que 0 governo belga demorou dois meses para revelar que os produshytos estavam impr6prios para 0 consumo A negligencia provocou a renuncia de dois ministros - 0 da Agricultura e 0 da Saude - e levou a suspensao das exportag6es causando um prejuizo avaliado em US$1 545 bilhao Mais ainda deixou aberta a possibilidade de a Belgishyca ser levada a julgamento em uma corte internacional por expor a riscos a populagao do continente europeu33

Em resumo no ultimo quartel do seculo XX a qnestao etica tornoushyse urn imperativo no universo das empresas privadas e par extensao das organizasoes publicas do Primeiro Mundo Converteu-se ate em disciplishyna obrigat6ria nos cursos de Administrasao As razoes residem no essenshycial no fato de que escandalos vieram atona em virtude do desenvolvishymento de uma mfdia plural e dedicada a investigalt53o Atos considerados imorais ou inidoneos peJa coJetividade deixaram de ser encobertos e toshylerados A sociedade civil passon a exercer pressoes eficazes sobre as empresas Isto e dada a sua vulnerabilidade cada vez mais os clientes procuram assegurar a qualidade dos produtos e dos servilt5os adquiridos POl sua vez concorrentes fornecedores investidores autoridades govershynamentais prestadores de servisos e empregados auscultam 0 modus operandi das empresas com as quais mantem relasoes visando policiar fraudes e repudiar alt50es irrespons8veis

Resultados Quando os escandalos eclodem estes geram altos cusshytos multas pesadas quebra de rotinas baixo moral dos empregados aumento da rotatividade dificuldades para recrutar funciowirios qualishyficados frau des internas e perda da confial1lt5a publica na reputalt5ao das empresas 34

Dificilmente os dirigentes empresariais podem manter-se alheios a esse movimento de mobilizalt5ao dosstakeholders Nem 0 posicionamento moral das empresas pode ficar amerce das flutualt50es e das inumeras

33 Revi5ta Veja 16 ue junho de 1999 0 Estado de SPaulo 2 de Jldho k 1l))J

34 NASH Laura L opcit p 4

OJ) I II ckJ

i 11ciencias morais individuais Pautas de orientalt5ao e pad-metros 111

Iillhlcao de conflitos de illteresse tornam-se indispensaveis RepontH lIl[lU

11111 conclusao a moral organizacional virou chave para a pr6pri~1 soh (

~lr~llcia das empresas I materia esra ganhando relevo no Brasil dado 0 porte de sua eeOll

1111 e em funlt5 da 0Plt5 estrategica que foi feita - integrar 0 pli~ (IIIao lll mercado que se globaliza e que exige relalt5oes profissionais e COil lIill1ais Em decorrencia 0 imaginario brasileiro est1 sofrendo lenta~ c rsistentes alteralt5Oes Ha crescente demanda por rransparencia e pruli dlk tanto no nato da coisa publica como nO fornecimento de proclllltJ~

crvilt5os ao mercado Caberia entao as empresas convencionar e prJ i

ao

l I 11gum c6digo de conduta que esteja em sintonia com essas expectt1 IIS Mas sobretudo valeria a pena conceber e implantar um conjunto tk

esccanismos de conrrole que pudesse prevenir as transgtesso as ori(1

IIt)es adotadas

14

As ieorias eticas Com 0 ohar perdido um sobrevivente

do campo de exterminio disse Se Auschwitz existiu Deus nao pode existir Jgt

As linhas de demarcasao

Vma mocinha de 15 anos procura 0 pai e pede-Ihe ajuda para fazer um aboIto Exige no entanto que a mae nao saiba Abalado 0 pai pershygunta quem a engravidou Em um rasgo de maturidade a mocinha Ihe diz que 0 menino tem 16 anos e ponanto e tao crianlta quanto ela Val1os consultar a mae sugere 0 pai Para que pergunta a garota se ja sabemos a resposta Segundo a mae uma catolica praticante 0 aborto constitui urn atentado contra a vida um crime imperdoavel e pOnto final

A moral catolica abriga-se sob as asas de uma etica do dever e sentenshycia falta 0 que esta prescrito Como 0 pai eagnostico a fiIha aposta no dialogo Ele nao CostUlDa repetir respondo par meus atos Quem sabe possa sensibilizar-se com a situaltao deIa QUilta venha a considerar as

impIicalt6es de uma gravidez prematura e a hipoteca que recaira sobre seu futuro de adolescente Nao empate minha vida pai me de uma chance suplica a filha

o pai en tao cai em si Uma vez que sua esposa ja tem posiltao tomashyda para que consulta-Ia Diante de conviclt6es religiosas que tacham 0

abono como um pecado abominavel nao resta margem de manobra A resposta sera sempre um nao sonoro Isso nao corresponde ao modo de

pensar e de agir do pal que nunca deixou de avaliar as conseqilencias do que faz Assim em face do desamparo da filha como nao se comover Algumas interrogalt6es comeltam a assaIta-Io faz sentido minhl men ina ter um bebe fruro da imprudencia Esensato criar lima ltrilIl(1 qlil niio foi dCS(jlCt () qUt rlII~lrJn Os pJrCllles IS llllil~~ 0- 111IIII I

ulras

rdllcidos do clube os professores as colegas da minha filha 0 qLl dill1o 1 pessoas com as quais me relaciono E aquelas com as quais trabalho Iso tudo nao vai comprometer 0 destino dela Ese ell concordar com () Ihorto e alguem souber 0 que vai acontecer

o pai reflete sobre as circunstancias e mede os efeitos possfveis d~

L ~Ja uma das oplt6es que se Ihe apresentam Sua avalialtao e decisi va 1 Itl1sao porem 0 deixa exausto em um processo de crescente ang6sri1 pOLS as conseqiiencias da decisao a ser tomada recaido sobre seus OITlshy

hros Em conrrapartida como ficaria a mulher dele se soubesse do peJi do da filha Certamente nao ficaria desnorteada graltas aresposta pr()n~

1 que tern Eprovavel que aceite com resignaltao a vinda daqueia crian(71

lO mundo e que nao se arormente com os desdobramenros do faro Pm que isso Porque as implicalt6es do cumprimento do dever nao sao de SUl

llcada - simplesmente pertencem a Deus Em resumo estamos diante de duas maneiras oposras de enfocar a qlll

[10 do aborto Melhor dizendo estamos diante de dois modos difnlmiddotllIci

d~ tomar decis6es cada qual derivando de uma matriz etica distinu Ora como a etica teoriza sobre as condutas morais vale iudag11 i~

cxiste uma 6nica teoria etica Absolutamente nao A despeito de () li-t logos fazerem da unicidade da etica um postulado ou apesar (Ii S( 11111

tlcsafio recorrente para muitos filosofos ha pelo menos duas teor lll em como ensina magistralmente Max Weber

1 A etica da convicqao entendida como deonrologia (trataJu dt )t

deveres) 2 A etica da responsabilidade conhecida como teleologia (estudo dlll

fins humanos)l

Escreve Weber

toda atividade orientada pela hica pode ser subordi11ar-se a dlIi 111aximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas Eta )()II orientar-se pela etica del- responsabilidade (verantwortungsethistJ) (11

pela etica da convicqao (gesinnungsethisch) 1sso nao quer dizer tUI

rJtica da convicqao seja identica aausencia de responsabilidade t a dii(

da responsabilidade d (UsciIa de convicqao Nao se trata e(Jidl1I

mente disso Todauia I IIIII (IU-70 abissal entre a atiludr rlt bull7flP II I

I II~I H [Il i I IIJIII II hIIW I i~li4l1 1111 illllili bullbull IDigt 101lt

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 14: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

5 Etica tmpresarial

de R$15 milhoes em uma tentativa de reCOnstruir sua imagem queficou muito desgastada e sob suspeita 27

No ano seguinte a matriz alema determinou as suas 50 sUbsidiarias que Suspendessem os testes de novos equipamentos e embalagens usando placebo a tim de evitar que casos como 0 do Microvlar se repetissem pelo mundo A empresa perdeu R$18 milh6es com 0 epishy

sodia samanda as meses em que a praduta esteve fara do mercado

queda nas vendas quando este votou as prateleiras e dois acordosfeitos com consumidoras 28

A Schering do Brasil Jevou tres anos para votar ao topo do mercado de anticoncepcionais em 2001 a participagao no mercado do Microvlar

cllegou a 177 (embora detivesse 22 em 1998) Tres fatores Contrishybuiram para essa recuperagao a) a fideJidade que as consumidoras

em gera mantE~m com a pilula que tomam ja que tem que acertar a dosagem de hormonios e livrar-se dos possiveis efeitos colaterais de seu usa b) 0 baixo prego do produto (3 reais e 50 centavos a cartela 8m 2001) e c) a confianga preservada junto aos medicos que receishytarn 0 anticoncepcionaJ 29

Para quem nao soube avaliar corretamente 0 nivel de exigencia dos dientes e para quem errou redondamente em termos de comunicaao ilti sem dnvida um serio transtorno simpfesmente porque nao ho adeqllado gerenciamento da crise 30 uve

Em um Caso semelhante porem Com reaao rapida e COmpetente bull jhoclia Farma foi aJerracia par um farmaclurico em 1993 de que um Ctela do neuroJitico AmpJictil fora achada dentro de uma caixa do llltialergico Fenergan No rua seguinte 0 laborat6rio soltou um comunicashy

lfTTENCOURT Silvia e CONTE Carla A~ao de Serra e eleitoraJ diz Schering alema Foha de Sll1O 3 de julho de 1998 SCHEINBERG Gabriela Schering foi vitima de crime afjnna uccurivo 0 Estado de sPa~rlo 4 de julho de 1998 PASTORE Karina 0 paraiso dos remeshys clius IJlsiJi(ado revista l1eja 8 de julho de 1998 PFEIFER Ismael Schering gasta milh6esI~III rcconstruir ill1ltlgem Gazeta Mercantil 27 de agosro de 1998

x C()RlJ~A Silvia c ESC()SSJA Fernanda cIa Scherillg cancela res res Com placebo Folha de SItw 26 de selelllbro de 1999

) VII imiddotIinAGA Vi(Lnl( Ivlicrrgtvlar VOa ao 10po do Illcnaltl til prld (middoti~ti1 Merci1ntil 3 ltI IJIIl dl Jon I

11 II~IIR( Fihiubull 11 d Loilllflrnilll((uItI tI 11111 I ~ 11 Jlllio I I))li

011 t lIP (tlco 571

do na televisao advertindo os consumidores Contatou a Vigilancia Sanitashyrin e determinou 0 recolhimento do lote Nao houve vitimas da troca3l

Na primeira pagina de um grande jornal do interior de Sao Paulo a foto de uma rnulher careca afirmando que ficou assim logo depois de usar um xampu da Gessy Lever (xampu Seda urna de suas principais marcas e Ifder do segmento) desencadeou uma rea~ao imediata da

empresa Os gestores da Gessy Lever fizeram consultas a seu laboratorio

mandaram recolher produtos para analise despacharam um medico independente e um advogado para a cidade interiorana Em algumas horas respiraram aliviados a mulher raspou a cabe~a

Mesmo assim a Gessy Lever teve que responder a um inquerito policial e definir uma estrategia de comunica~ao para dirimir quaisshy

quer duvidas32

As empresas detem marcas que representam preciosos ativos intangishyveis e que consomem tempo e dinheiro para serem construidas Em deshycorrencia muitas percebem que perder a credibilidade deixando de ser transparentes e de agir rapidamente eurn passo fatal para 0 neg6cio que operam

Caso de repercussao mundial foi 0 da contamina~ao de alimentos pela ra~ao fornecida aos animais nas granjas e fazendas da Belgica A origem da contamina~aofoi um oleo chamado ascarel e os donos da empresa acusada de ter adulterado a ra~ao foram presos

Em junho de 1999 depois de difundido 0 fato sumiram das prateshyleiras dos supermercados os frangos e os ovos a carne de boi e de porco 0 leite a manteiga os queijos e tudo 0 que e feito com esses ingredientes inclusive os chocolates 0 governo belga interditou a disshy

1 IIIU1 IIN(kR jlIql hl I Ilt 11111 I dlmiddotllmiddotrr ill~ndio rcvir Exarne 15 d( lulho de 10~)H

1 II M 1ldlS( l [JIlII 11 I II I I 1 gt fImiddot1 Ilt 11 I Ii fed Irfe de eviral e cllfrelll 1I1ll1 LT-middot (111( ~~flrJI 1l1IU I I I I lid I L lljltl

13

58 Etica Empresarial

tribuigao desses alimentos por suspeita de contaminagao par dioxinas substancias altamente t6xcas que podem causar doengas que vao do diabetes ao cancer

o que deflagrou grave escandalo na Uniao Eurcpeia entretanto foi que 0 governo belga demorou dois meses para revelar que os produshytos estavam impr6prios para 0 consumo A negligencia provocou a renuncia de dois ministros - 0 da Agricultura e 0 da Saude - e levou a suspensao das exportag6es causando um prejuizo avaliado em US$1 545 bilhao Mais ainda deixou aberta a possibilidade de a Belgishyca ser levada a julgamento em uma corte internacional por expor a riscos a populagao do continente europeu33

Em resumo no ultimo quartel do seculo XX a qnestao etica tornoushyse urn imperativo no universo das empresas privadas e par extensao das organizasoes publicas do Primeiro Mundo Converteu-se ate em disciplishyna obrigat6ria nos cursos de Administrasao As razoes residem no essenshycial no fato de que escandalos vieram atona em virtude do desenvolvishymento de uma mfdia plural e dedicada a investigalt53o Atos considerados imorais ou inidoneos peJa coJetividade deixaram de ser encobertos e toshylerados A sociedade civil passon a exercer pressoes eficazes sobre as empresas Isto e dada a sua vulnerabilidade cada vez mais os clientes procuram assegurar a qualidade dos produtos e dos servilt5os adquiridos POl sua vez concorrentes fornecedores investidores autoridades govershynamentais prestadores de servisos e empregados auscultam 0 modus operandi das empresas com as quais mantem relasoes visando policiar fraudes e repudiar alt50es irrespons8veis

Resultados Quando os escandalos eclodem estes geram altos cusshytos multas pesadas quebra de rotinas baixo moral dos empregados aumento da rotatividade dificuldades para recrutar funciowirios qualishyficados frau des internas e perda da confial1lt5a publica na reputalt5ao das empresas 34

Dificilmente os dirigentes empresariais podem manter-se alheios a esse movimento de mobilizalt5ao dosstakeholders Nem 0 posicionamento moral das empresas pode ficar amerce das flutualt50es e das inumeras

33 Revi5ta Veja 16 ue junho de 1999 0 Estado de SPaulo 2 de Jldho k 1l))J

34 NASH Laura L opcit p 4

OJ) I II ckJ

i 11ciencias morais individuais Pautas de orientalt5ao e pad-metros 111

Iillhlcao de conflitos de illteresse tornam-se indispensaveis RepontH lIl[lU

11111 conclusao a moral organizacional virou chave para a pr6pri~1 soh (

~lr~llcia das empresas I materia esra ganhando relevo no Brasil dado 0 porte de sua eeOll

1111 e em funlt5 da 0Plt5 estrategica que foi feita - integrar 0 pli~ (IIIao lll mercado que se globaliza e que exige relalt5oes profissionais e COil lIill1ais Em decorrencia 0 imaginario brasileiro est1 sofrendo lenta~ c rsistentes alteralt5Oes Ha crescente demanda por rransparencia e pruli dlk tanto no nato da coisa publica como nO fornecimento de proclllltJ~

crvilt5os ao mercado Caberia entao as empresas convencionar e prJ i

ao

l I 11gum c6digo de conduta que esteja em sintonia com essas expectt1 IIS Mas sobretudo valeria a pena conceber e implantar um conjunto tk

esccanismos de conrrole que pudesse prevenir as transgtesso as ori(1

IIt)es adotadas

14

As ieorias eticas Com 0 ohar perdido um sobrevivente

do campo de exterminio disse Se Auschwitz existiu Deus nao pode existir Jgt

As linhas de demarcasao

Vma mocinha de 15 anos procura 0 pai e pede-Ihe ajuda para fazer um aboIto Exige no entanto que a mae nao saiba Abalado 0 pai pershygunta quem a engravidou Em um rasgo de maturidade a mocinha Ihe diz que 0 menino tem 16 anos e ponanto e tao crianlta quanto ela Val1os consultar a mae sugere 0 pai Para que pergunta a garota se ja sabemos a resposta Segundo a mae uma catolica praticante 0 aborto constitui urn atentado contra a vida um crime imperdoavel e pOnto final

A moral catolica abriga-se sob as asas de uma etica do dever e sentenshycia falta 0 que esta prescrito Como 0 pai eagnostico a fiIha aposta no dialogo Ele nao CostUlDa repetir respondo par meus atos Quem sabe possa sensibilizar-se com a situaltao deIa QUilta venha a considerar as

impIicalt6es de uma gravidez prematura e a hipoteca que recaira sobre seu futuro de adolescente Nao empate minha vida pai me de uma chance suplica a filha

o pai en tao cai em si Uma vez que sua esposa ja tem posiltao tomashyda para que consulta-Ia Diante de conviclt6es religiosas que tacham 0

abono como um pecado abominavel nao resta margem de manobra A resposta sera sempre um nao sonoro Isso nao corresponde ao modo de

pensar e de agir do pal que nunca deixou de avaliar as conseqilencias do que faz Assim em face do desamparo da filha como nao se comover Algumas interrogalt6es comeltam a assaIta-Io faz sentido minhl men ina ter um bebe fruro da imprudencia Esensato criar lima ltrilIl(1 qlil niio foi dCS(jlCt () qUt rlII~lrJn Os pJrCllles IS llllil~~ 0- 111IIII I

ulras

rdllcidos do clube os professores as colegas da minha filha 0 qLl dill1o 1 pessoas com as quais me relaciono E aquelas com as quais trabalho Iso tudo nao vai comprometer 0 destino dela Ese ell concordar com () Ihorto e alguem souber 0 que vai acontecer

o pai reflete sobre as circunstancias e mede os efeitos possfveis d~

L ~Ja uma das oplt6es que se Ihe apresentam Sua avalialtao e decisi va 1 Itl1sao porem 0 deixa exausto em um processo de crescente ang6sri1 pOLS as conseqiiencias da decisao a ser tomada recaido sobre seus OITlshy

hros Em conrrapartida como ficaria a mulher dele se soubesse do peJi do da filha Certamente nao ficaria desnorteada graltas aresposta pr()n~

1 que tern Eprovavel que aceite com resignaltao a vinda daqueia crian(71

lO mundo e que nao se arormente com os desdobramenros do faro Pm que isso Porque as implicalt6es do cumprimento do dever nao sao de SUl

llcada - simplesmente pertencem a Deus Em resumo estamos diante de duas maneiras oposras de enfocar a qlll

[10 do aborto Melhor dizendo estamos diante de dois modos difnlmiddotllIci

d~ tomar decis6es cada qual derivando de uma matriz etica distinu Ora como a etica teoriza sobre as condutas morais vale iudag11 i~

cxiste uma 6nica teoria etica Absolutamente nao A despeito de () li-t logos fazerem da unicidade da etica um postulado ou apesar (Ii S( 11111

tlcsafio recorrente para muitos filosofos ha pelo menos duas teor lll em como ensina magistralmente Max Weber

1 A etica da convicqao entendida como deonrologia (trataJu dt )t

deveres) 2 A etica da responsabilidade conhecida como teleologia (estudo dlll

fins humanos)l

Escreve Weber

toda atividade orientada pela hica pode ser subordi11ar-se a dlIi 111aximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas Eta )()II orientar-se pela etica del- responsabilidade (verantwortungsethistJ) (11

pela etica da convicqao (gesinnungsethisch) 1sso nao quer dizer tUI

rJtica da convicqao seja identica aausencia de responsabilidade t a dii(

da responsabilidade d (UsciIa de convicqao Nao se trata e(Jidl1I

mente disso Todauia I IIIII (IU-70 abissal entre a atiludr rlt bull7flP II I

I II~I H [Il i I IIJIII II hIIW I i~li4l1 1111 illllili bullbull IDigt 101lt

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 15: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

58 Etica Empresarial

tribuigao desses alimentos por suspeita de contaminagao par dioxinas substancias altamente t6xcas que podem causar doengas que vao do diabetes ao cancer

o que deflagrou grave escandalo na Uniao Eurcpeia entretanto foi que 0 governo belga demorou dois meses para revelar que os produshytos estavam impr6prios para 0 consumo A negligencia provocou a renuncia de dois ministros - 0 da Agricultura e 0 da Saude - e levou a suspensao das exportag6es causando um prejuizo avaliado em US$1 545 bilhao Mais ainda deixou aberta a possibilidade de a Belgishyca ser levada a julgamento em uma corte internacional por expor a riscos a populagao do continente europeu33

Em resumo no ultimo quartel do seculo XX a qnestao etica tornoushyse urn imperativo no universo das empresas privadas e par extensao das organizasoes publicas do Primeiro Mundo Converteu-se ate em disciplishyna obrigat6ria nos cursos de Administrasao As razoes residem no essenshycial no fato de que escandalos vieram atona em virtude do desenvolvishymento de uma mfdia plural e dedicada a investigalt53o Atos considerados imorais ou inidoneos peJa coJetividade deixaram de ser encobertos e toshylerados A sociedade civil passon a exercer pressoes eficazes sobre as empresas Isto e dada a sua vulnerabilidade cada vez mais os clientes procuram assegurar a qualidade dos produtos e dos servilt5os adquiridos POl sua vez concorrentes fornecedores investidores autoridades govershynamentais prestadores de servisos e empregados auscultam 0 modus operandi das empresas com as quais mantem relasoes visando policiar fraudes e repudiar alt50es irrespons8veis

Resultados Quando os escandalos eclodem estes geram altos cusshytos multas pesadas quebra de rotinas baixo moral dos empregados aumento da rotatividade dificuldades para recrutar funciowirios qualishyficados frau des internas e perda da confial1lt5a publica na reputalt5ao das empresas 34

Dificilmente os dirigentes empresariais podem manter-se alheios a esse movimento de mobilizalt5ao dosstakeholders Nem 0 posicionamento moral das empresas pode ficar amerce das flutualt50es e das inumeras

33 Revi5ta Veja 16 ue junho de 1999 0 Estado de SPaulo 2 de Jldho k 1l))J

34 NASH Laura L opcit p 4

OJ) I II ckJ

i 11ciencias morais individuais Pautas de orientalt5ao e pad-metros 111

Iillhlcao de conflitos de illteresse tornam-se indispensaveis RepontH lIl[lU

11111 conclusao a moral organizacional virou chave para a pr6pri~1 soh (

~lr~llcia das empresas I materia esra ganhando relevo no Brasil dado 0 porte de sua eeOll

1111 e em funlt5 da 0Plt5 estrategica que foi feita - integrar 0 pli~ (IIIao lll mercado que se globaliza e que exige relalt5oes profissionais e COil lIill1ais Em decorrencia 0 imaginario brasileiro est1 sofrendo lenta~ c rsistentes alteralt5Oes Ha crescente demanda por rransparencia e pruli dlk tanto no nato da coisa publica como nO fornecimento de proclllltJ~

crvilt5os ao mercado Caberia entao as empresas convencionar e prJ i

ao

l I 11gum c6digo de conduta que esteja em sintonia com essas expectt1 IIS Mas sobretudo valeria a pena conceber e implantar um conjunto tk

esccanismos de conrrole que pudesse prevenir as transgtesso as ori(1

IIt)es adotadas

14

As ieorias eticas Com 0 ohar perdido um sobrevivente

do campo de exterminio disse Se Auschwitz existiu Deus nao pode existir Jgt

As linhas de demarcasao

Vma mocinha de 15 anos procura 0 pai e pede-Ihe ajuda para fazer um aboIto Exige no entanto que a mae nao saiba Abalado 0 pai pershygunta quem a engravidou Em um rasgo de maturidade a mocinha Ihe diz que 0 menino tem 16 anos e ponanto e tao crianlta quanto ela Val1os consultar a mae sugere 0 pai Para que pergunta a garota se ja sabemos a resposta Segundo a mae uma catolica praticante 0 aborto constitui urn atentado contra a vida um crime imperdoavel e pOnto final

A moral catolica abriga-se sob as asas de uma etica do dever e sentenshycia falta 0 que esta prescrito Como 0 pai eagnostico a fiIha aposta no dialogo Ele nao CostUlDa repetir respondo par meus atos Quem sabe possa sensibilizar-se com a situaltao deIa QUilta venha a considerar as

impIicalt6es de uma gravidez prematura e a hipoteca que recaira sobre seu futuro de adolescente Nao empate minha vida pai me de uma chance suplica a filha

o pai en tao cai em si Uma vez que sua esposa ja tem posiltao tomashyda para que consulta-Ia Diante de conviclt6es religiosas que tacham 0

abono como um pecado abominavel nao resta margem de manobra A resposta sera sempre um nao sonoro Isso nao corresponde ao modo de

pensar e de agir do pal que nunca deixou de avaliar as conseqilencias do que faz Assim em face do desamparo da filha como nao se comover Algumas interrogalt6es comeltam a assaIta-Io faz sentido minhl men ina ter um bebe fruro da imprudencia Esensato criar lima ltrilIl(1 qlil niio foi dCS(jlCt () qUt rlII~lrJn Os pJrCllles IS llllil~~ 0- 111IIII I

ulras

rdllcidos do clube os professores as colegas da minha filha 0 qLl dill1o 1 pessoas com as quais me relaciono E aquelas com as quais trabalho Iso tudo nao vai comprometer 0 destino dela Ese ell concordar com () Ihorto e alguem souber 0 que vai acontecer

o pai reflete sobre as circunstancias e mede os efeitos possfveis d~

L ~Ja uma das oplt6es que se Ihe apresentam Sua avalialtao e decisi va 1 Itl1sao porem 0 deixa exausto em um processo de crescente ang6sri1 pOLS as conseqiiencias da decisao a ser tomada recaido sobre seus OITlshy

hros Em conrrapartida como ficaria a mulher dele se soubesse do peJi do da filha Certamente nao ficaria desnorteada graltas aresposta pr()n~

1 que tern Eprovavel que aceite com resignaltao a vinda daqueia crian(71

lO mundo e que nao se arormente com os desdobramenros do faro Pm que isso Porque as implicalt6es do cumprimento do dever nao sao de SUl

llcada - simplesmente pertencem a Deus Em resumo estamos diante de duas maneiras oposras de enfocar a qlll

[10 do aborto Melhor dizendo estamos diante de dois modos difnlmiddotllIci

d~ tomar decis6es cada qual derivando de uma matriz etica distinu Ora como a etica teoriza sobre as condutas morais vale iudag11 i~

cxiste uma 6nica teoria etica Absolutamente nao A despeito de () li-t logos fazerem da unicidade da etica um postulado ou apesar (Ii S( 11111

tlcsafio recorrente para muitos filosofos ha pelo menos duas teor lll em como ensina magistralmente Max Weber

1 A etica da convicqao entendida como deonrologia (trataJu dt )t

deveres) 2 A etica da responsabilidade conhecida como teleologia (estudo dlll

fins humanos)l

Escreve Weber

toda atividade orientada pela hica pode ser subordi11ar-se a dlIi 111aximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas Eta )()II orientar-se pela etica del- responsabilidade (verantwortungsethistJ) (11

pela etica da convicqao (gesinnungsethisch) 1sso nao quer dizer tUI

rJtica da convicqao seja identica aausencia de responsabilidade t a dii(

da responsabilidade d (UsciIa de convicqao Nao se trata e(Jidl1I

mente disso Todauia I IIIII (IU-70 abissal entre a atiludr rlt bull7flP II I

I II~I H [Il i I IIJIII II hIIW I i~li4l1 1111 illllili bullbull IDigt 101lt

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 16: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

As ieorias eticas Com 0 ohar perdido um sobrevivente

do campo de exterminio disse Se Auschwitz existiu Deus nao pode existir Jgt

As linhas de demarcasao

Vma mocinha de 15 anos procura 0 pai e pede-Ihe ajuda para fazer um aboIto Exige no entanto que a mae nao saiba Abalado 0 pai pershygunta quem a engravidou Em um rasgo de maturidade a mocinha Ihe diz que 0 menino tem 16 anos e ponanto e tao crianlta quanto ela Val1os consultar a mae sugere 0 pai Para que pergunta a garota se ja sabemos a resposta Segundo a mae uma catolica praticante 0 aborto constitui urn atentado contra a vida um crime imperdoavel e pOnto final

A moral catolica abriga-se sob as asas de uma etica do dever e sentenshycia falta 0 que esta prescrito Como 0 pai eagnostico a fiIha aposta no dialogo Ele nao CostUlDa repetir respondo par meus atos Quem sabe possa sensibilizar-se com a situaltao deIa QUilta venha a considerar as

impIicalt6es de uma gravidez prematura e a hipoteca que recaira sobre seu futuro de adolescente Nao empate minha vida pai me de uma chance suplica a filha

o pai en tao cai em si Uma vez que sua esposa ja tem posiltao tomashyda para que consulta-Ia Diante de conviclt6es religiosas que tacham 0

abono como um pecado abominavel nao resta margem de manobra A resposta sera sempre um nao sonoro Isso nao corresponde ao modo de

pensar e de agir do pal que nunca deixou de avaliar as conseqilencias do que faz Assim em face do desamparo da filha como nao se comover Algumas interrogalt6es comeltam a assaIta-Io faz sentido minhl men ina ter um bebe fruro da imprudencia Esensato criar lima ltrilIl(1 qlil niio foi dCS(jlCt () qUt rlII~lrJn Os pJrCllles IS llllil~~ 0- 111IIII I

ulras

rdllcidos do clube os professores as colegas da minha filha 0 qLl dill1o 1 pessoas com as quais me relaciono E aquelas com as quais trabalho Iso tudo nao vai comprometer 0 destino dela Ese ell concordar com () Ihorto e alguem souber 0 que vai acontecer

o pai reflete sobre as circunstancias e mede os efeitos possfveis d~

L ~Ja uma das oplt6es que se Ihe apresentam Sua avalialtao e decisi va 1 Itl1sao porem 0 deixa exausto em um processo de crescente ang6sri1 pOLS as conseqiiencias da decisao a ser tomada recaido sobre seus OITlshy

hros Em conrrapartida como ficaria a mulher dele se soubesse do peJi do da filha Certamente nao ficaria desnorteada graltas aresposta pr()n~

1 que tern Eprovavel que aceite com resignaltao a vinda daqueia crian(71

lO mundo e que nao se arormente com os desdobramenros do faro Pm que isso Porque as implicalt6es do cumprimento do dever nao sao de SUl

llcada - simplesmente pertencem a Deus Em resumo estamos diante de duas maneiras oposras de enfocar a qlll

[10 do aborto Melhor dizendo estamos diante de dois modos difnlmiddotllIci

d~ tomar decis6es cada qual derivando de uma matriz etica distinu Ora como a etica teoriza sobre as condutas morais vale iudag11 i~

cxiste uma 6nica teoria etica Absolutamente nao A despeito de () li-t logos fazerem da unicidade da etica um postulado ou apesar (Ii S( 11111

tlcsafio recorrente para muitos filosofos ha pelo menos duas teor lll em como ensina magistralmente Max Weber

1 A etica da convicqao entendida como deonrologia (trataJu dt )t

deveres) 2 A etica da responsabilidade conhecida como teleologia (estudo dlll

fins humanos)l

Escreve Weber

toda atividade orientada pela hica pode ser subordi11ar-se a dlIi 111aximas totalmente diferentes e irredutivelmente opostas Eta )()II orientar-se pela etica del- responsabilidade (verantwortungsethistJ) (11

pela etica da convicqao (gesinnungsethisch) 1sso nao quer dizer tUI

rJtica da convicqao seja identica aausencia de responsabilidade t a dii(

da responsabilidade d (UsciIa de convicqao Nao se trata e(Jidl1I

mente disso Todauia I IIIII (IU-70 abissal entre a atiludr rlt bull7flP II I

I II~I H [Il i I IIJIII II hIIW I i~li4l1 1111 illllili bullbull IDigt 101lt

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 17: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

100 Etica Empresariaf

age segundo as mdximas da itica da convicfiio _ em linguagem relishygiosa diremos 0 cristiio faz seu dever e no que diz respeito 40 resultashydo da afiio 1emete-se a Deus - e a atitude de quem age segundo a itica da responsabilidade que diz Devemos responder pelas conseshyqiiencias previsiveis de nossos atos 2

De forma simplificada a maxima da hica da convicfiio diz cumpra suas obriga~6es OU siga as prescrl~6es 1mplicitamente ce1ebra variashydos maniqueismos ou impecaveis dicotomias quando advoga tudo ou nada sim ou nao branco OU preto Argumenta que nao ha meia gravishydez nem vitgindade telativa descarta meios-tons e nao toleta incertezas Euma teoria que se pauta por valores e normas previamente estabelecishydos cujo efeito primeiro consiste em moldar as a~6es que deverao ser praricadas Em urn mundo assim regrado deixam de existit dilemas ou questionamentos nao restam d6vidas a dilacetar consciencias e sobram preceitos a setem implementados tal qual a mae cat6lica que nega a priori qualquet cogita~ao de aborto Essa matriz todavia desdobra-se em duas vertentes

1 A de principio que se at6n rigorosamente as norm as morais estabelecidas em urn deliberado desintetesse pelas circunstancias e cuja maxima sentencia respeite as regras haja 0 que houver

2 A da esperanfa que ancora em ideais moldada por uma fe capaz de mover montanhas pois convicta de que todas as coisas podem melhorar e cuja maxima preconiza 0 sonho antes de tudo

Essas vertentes correspondem a modula~6es de deveres preceitos dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos Assim como epossive instituir infinitas tcibuas de valores no cadinho da etica da convic~ao forma-se urn sem-numero de morais do dever Ou dito de Outra forma 0 modo de decidir e de agir que a etica da convicCao prescreve comporta e conforma muitas morais 1sso significa que emboshyta as obriga~6es se imponham aos agemes estes nao perdem seu livre arbftrio nem deixam de dispor de variadas op~6es em tese podem ate deixar de orientar-se pelos imperativos morais que sempre os orientaram e preferit Outros caminhos

1 Podem ado tar outtos vaores ou princfpios sem deixat de obedeshycet a mesma mec1nica da teoria da convic~ao e que consiste em

r~ I PtJd ~1r~-rf

aplicar prescri~6es llilllprir ordel1~ CLllvar-se a certezas irnbuir-s( de rigor ro~ar 0 absoluto

2 Podem percorrer a cirdua via-crucis da etica da responsabilidaclc ltlssumindo 0 onus das conseqiiencias das decisoes que tomam

Podem abandonar toda etica e enveredar pelos desvios tortuosos lb vilania pois fazer 0 bern ou 0 mal e uma escolha nao um destino

Os dispositivos que compoem os c6digos morais ttaduzem valorcs 111 indpios normas crenCas ou ideais e acabam sendo aplicados pe[os 11~ntes a situacoes concretas Funcionam portanto como receituarios

Il iIpendios de prescri~oes ou manuais de instrucoes que sao seguidos ilS l11ais diversas ocorrencias

o consul portugues Aristides Sousa Mendes do Amaral Abranches lolado no porto frances de Bordeaux preferiu ter compaixao a obedeshy8r cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela etica

da convicgao Priorizou um valor em relaltao ao outro baseado niJ determinaltao de que devo agir como cristao como manda a minhpoundl consciencia

Diante do avango do exercito alemao em junho de 1940 salvou a vida de 30 mil pessoas entre as quais 10 mil judeus ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse em um ritmo freshynetico

Asemelhanlta de Oskar Schindler membro do Partido Nazista Sousa Mendes havia sido ate os 55 anos um funcionario fiel a ditadura salazarista Porem em face da proibigao de seu governo em conceder vistos para judeus e outras pessoas de nacionalidade incerta dec ishycliu dar vistos a todos sam discriminaltao de nacionalidades etnias ou religi6es

Chamado de volta a Portugal 0 consul foi forltado ao exflio interno e morreu na miseria em um convento franciscano Cat61ico fervoroso ele julgou ter apenas agido segundo sua consciencia e recusou qualshyquer notoriedade 3

2 WEBER Max Idem p 172 1 RmiddotVImiddotI~ Vtlitl t I tk ~111111 I 1lIl 1-q1 111(de iII1i~lllIL ll) ~t Idlidhl 111l111)ll IIclll

[) lilli ( hllfJ 1 11 Imiddot limiddotrlllh (1411

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 18: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

---

middotjcll 1illlf3M IfI

A maxima da etica do esJonsabiltdade par sua vez apregoa qUe mas responsaveis par aq uilo que fazemos Em vez de aplicar ordenament previamente estabe1ecidos as agentes realizam uma anaLise situacional avaliam os efeitos previsiveis que uma aao produz planejam obter reos sulrado positivos para a c01etividade e ampliam a leque das escolhas aa preconizar que dos

males 0 menor au ao visar fazer mais bem maior numero pOSSive1 de pessoas A tomada de decisao deixa de Set dedutiva como OCorre na teoria da convicao para ser indutiva E parque Porgue a decisao

1 deriva de urna reflexao sabre as implica6es que cada possivel Curso de a~ao apresenta

2 obriga-se ao conhecimento das circunstancias vigeotes 3 configura uma analise de riscos

4 sup6e uma analise de Custos e beneffeios

5 fundamiddotse sempre n presunao de que seriio alcanado Conseqiien scias au fins muito valiosos porque altrufstas imparciais

1S50 corresponde de alguma forma i expressao norteamericana moshyral haZad qUase inrraduziveJ e utilizada quando uma decisao de SOcorshyro financeiro e tomada par razoes de ordem politica Por exemplo dian te de uma crise de desconfian ou de ataques especulativos COmo os que ocorreram em 1998 na Russia e no Brasil a mundo nao podia deixar que esses Paises quebrassem sob pena de provocar um serio abal no

osistema financeiro internacional Diaote disso organismos mundiais en tre as quais a Fundo Mouerio Internacional viabilizaram operaloes de socorro Vale dizer embora a custo do resgate foss grande a omissao

ediante da situaao seria ainda pior para todos as agenres da economia mundia1~

Em 1944 vatando de uma mlssaa avlOes da Royal Air Force esta Yam sendo perseguidas par uma esquadrllha da lultwalfe Naquela naite fria a trlpuJaao do parlamiddotavioes britaniea aguardava ansiosa 0 IIeamandante do navia anUneiara que dali a dez mlnutas apagarla as

luzes de bordo Inclusive as da plsla de pausa A malaria dos aVioes

pausou a tempo Mas reslaram lr~s retardatiirias 0 eamandante Can

_tiLl

1I1I1 I rInls dois minUlos Dois avi6es chegaram As luzes entao faram II IrliJas par ordem dele

npulaltao do navl0 e os pilotos ficaram revoltados com a crueldashyI till comandante Afinal deixou um aviao perdido no oceano par 1I1~ I Iino esperou mais alguns minutos

I I clilema do comandante foi 0 de ter que escolher entre arriscar a

lilt de mil~lares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronashy( Ijerguntou a si mesmo quais seriam as conseqOencias se 0 portashy

IOf-~~i fosse descoberto Um possivelmorticinio Foi quando decidiu i rificar os retardatarios 5

1 mesma situacao pode ser reproduzida em uma empresa Diante da [11111 acentuada das receitas LIm dos cemlrios possfveis e 0 da forte reshy1 10 das despesas com 0 conseqiiente corte de pessoal 0 que fazer

1IIII-a a dispendio representado pela folha de pagamento e agravar a 11( (lalvez ate pedir concordata) all diminuir a desembolso e devolver

1l1Lpresa 0 fOlego necessario para tentar ficar a tona na tormenta Vale Ilin cabe au nao sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar Ilhn~vida ao resto da tripulacao e ao proprio navio E a que mais inteshy

IlSl do ponto de vista social uma empresa que feche as portas ou uma Illpresa que gere riquezas

Acossada por uma divida de cerca de US$250 milh6es a Arisco uma das mais importantes empresas de alimentos sediada em Goiania - foi ao spa Vendeu fabricas velhas e terrenos Desfez a sociedade

com a Visagis (dona da Visconti) e com esta sua parlicipaltao na Fritex

Interrompeu um acordo de distribuiltao dos inseticidas SSp mantido com

a Clorox Reduziu 0 numero de funcionarios de 8200 para 5800 As vesperas de alcanltar seu primeiro bilhao de reais em vendas

anuais a Arisco estava se preparando para acolher um novo socio e

virtual controlador por isso teve que aliviar 0 excesso de carga e ficar

II enxuta6

ra de 2000 4 RM DO PRADO Md elmiddot Rh ei hd G M~~it it me MFI LAU IJII i I I 1I1middotj ii i) () middotlt1lt1d de fllll 20 de 1~(L de J999

I IH 1middot(dJJmiddott NI1I11 ill)I1 ri~IIII1 III1I~ hl~Irltl~I(~ rlrI I1 I~~(ln~ Imiddot kdcflnhro de 111

1

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 19: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

12 I (lie(J Empresarial

Em fevereiro de 2000 a empresa foi comprada pelo grupo norteshyamericano Bestfoods um dos maiores do mundo no setor de alimenshytos por US$490 mih6es A Bestfoods tambem assumiu 0 passivo de US$262 milh6es

Ao transferir 0 Contrale para uma companhia mundial a familia Oueiroz explicou que a Bestfoods POderia dar sustentagao aos pianos de expansao da Arisco alem de guardar sjmetra e coincidencia de melodos em relagao a estralogia empresaria adotada pelo grupOgoiano 7

A respeito dessa tematica Antonio Ermirio de Moraes _ especie de mito do capitalismo brasileiro e dono do imperio Votorantim _ 50posicionou COm lucidez

7inhamos no passado cerea de 50 mil homens Hoje temos a metade disso Fazer esses cortes ndo (oi uma questdo de gandnc de querer ganhar dinheiro Foi uma questdo de sobrevivencia E lamentdvel tel de fazer isso Uma das coisas mais tristes que pode acontecer a um chefe de familia echegar em casa e dizer d mulher tenho 40 anos e perdi 0 emprego No Brasil Um homem de 40 anos eum homem velho Temos conScietlcia de tudo isso e fizemos essas mudanfas com muito sofrimento 0 fato eque tinhamos de faze-las e as fizemos8

A etica da responsabilidade nao COnVerte prineipios au ideais em pdshytIcas do COtidiano tal COmo 0 faz a etica da convieao nem aplica norshymas ou crenps previamente estipuladas indepelldentemente dos impacshytos que pOSsam ocasionar Como precede entao Analisa as situalt6es Conshycretas e antecipa as repercussoes que uma decisao pode provocar Dentre as oplt6es que se apresentam aquela que presumivelmente traz benefishycios maiores acoletividade acaba adotada ou seja ganha legitimidade a a~ao que produz urn bern maior ou evita um mal maior

Eassim que procede aque1e pai que sopesa COm muito cuidado qual das duas opgoes sera assimilada pela coletividade aqual pertenee _ apOiat

reiro de 20007 VEIGA FILHO Lauro Bestfoods decide Illanrer a 1ll1[C1 Arj 1111 MllIiil 9 de fcveshy

S VASSALLO Claudia lr()fi~Sl olillli~n r~vil I 11111 i 1 IJUl rp (I d

(i~ lIIllJ N(as II

II lhOlto da 6Iha O~] rcitlr~imiddotlo - para depois e somente entao tomar

I~ atitude

-Em agosto de 2000 a Justiga inglesa teve que se haver com 0 caso

lie duas irmas siamesas ligadas pela barriga so uma delas tinha corashy(50 e pulm6es alem do cerebro com desenvolvimento normal A solushy80 proposta pelos medicos foi a de sacrificar a mais fraca para salvar a outra

Os pais catolicos praticantes vindos da ilha de Malta em busca de recursos medicos mais sofisticados se opuseram acirurgia aleganshydo que Deus deveria decidir 0 destino das meninas

Nao podemos aceitar que uma de nossas criangas deva morrer para permitir que a outra viva disseram os pais em comunicado esshycrito Acreditamos que nenhuma das meninas deveria receber cuidashydos especiais Temos te em Deus e queremos deixar que ele decida 0

que deve acontecer com nossas filhas Um tribunal de primeira instancia deu permissao para que os medishy

cos operassem as meninas Mas houve recurso e a Corte de Apelagao decidiu em setembro que as gemeas deveriam ser separadas 9

Foi urn embate entre os pais inspirados pela teoria da convicltao e os lIledicos do St Marys Hospital de Londres orientados pe1a teoria da responsabilidade Esse desencontro acabou se transformando em uma batalha judicial vencida pelos ultimos

De modo similar a etica da convicltao duas vertentes expreSSltl1ll ctica da responsabilidade

1 a utilitarista exige que as altoes produzam 0 maximo de bern pact () maior numero isto e que possam combinar a mais intensa fe1icitbshyde possivel (criterio da quaIidade ou da eficacia) com a maior abrangencia populacional (criterio da quantidade ou da equidadc) sua maxima recomenda falta 0 maior bern para mais gentt

J SANTI ( 1(1 1 flniltls nI~ nisq WI 1 ltI erclllh ltI 20()() l () 1~lIdlt1

SI~II(1 d Iltt IldII- iiI nOIl

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 20: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

n lIltI TIprQsorial

2 a da (inaJidade determina que a bondade dos fins justifica as ac6es empreendidas desde que coincida com 0 interesse coletivo e sushypoe que todas as medidas necessarias sejam tomadas sua maxima ordena alcance objetivos altru[stas Custe 0 que CUstar

Ambas as vertentes exprimem de forma difetenciada as expectativas que as coletividades nutrem Partem do pressuposto de que os eventos desejados s6 ocorrerao se dadas decisoes forem tomadas e se determinashydas ac6es forem empreendidas Assim de maneira simetrica aoutra etica sob 0 guarda-chuva da etica da responsabilidade podem aninhar-se inushymeras morais hist6ricas MinaI quantos bons prop6sitos podem interesshysar acoletividade Ou me1hor muitas morais podem obedecer aI6gica da reflexao e da delibetacao e portanto podem justificar e assumir 0

onus dos efeitos produzidos pelas decis6es tomadas

o contraponto fica claro embora ambas as teorias enCOntrem no a1shytrufsmo imparcial um denominador comum

1 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da convicfdo decorshyrem imediatamente da aplicacao de prescric6es anteriormeme deshyfinidas (princfpios ou ideais)

2 as ac6es cometidas pelos praticantes da etica da responsabilidade decorrem da expectativa de alcancar fins aImejados (finalidade) ou consequencias presumidas (utilitarismo)

Figura 15

As duos teorios eticos

ETICA DA CONVICCAO

rUdll C(JdS 115

As duas teorias (tjcas enfocam assim tipos diferentes de referencias llllWJis - prescricoes versus prop6sitos - e configuram de forma inshy

I t1liundfvel dois modos de decidir Enquanto os agentes que obedecem i [ ica da conviccao guiam-se por imperativos de consciencia os que se

11i1Ham pela etica da responsabilidade guiam-se por uma analise de risshy 1)14 Enquanto aqueles celebram 0 rito de suas injunc6es morais com IIlillUdente rigor estes examinam os efeitos presumfveis que suas ac6es 110 provocar e adotam 0 curso que Ihes aponta os maio res beneffcios

bull j etivos possfveis em relacao aos custos provaveis

Figura 16

M6ximos eticos

ETICA DA CO)lV[CcO

No renomado Hospital das Clfnicas de Sao Paulo ha uma fila dupla

ou dupla entrada os pacientes particulares e de convenio enfrentam filas bem menores do que os pacientes do Sistema Unico de Saude

(SUS) publico e gratuito Na radiologia par exemplo um paciente do SUS poclc lsporar quatro meses para fazer um exame de raios X enshyquanLo 11111 1111111 ill i1( tonvenlo leva poucos dias para conseguir 0

rneSIIIIIIX 11111 I A JIll 1 Imiddot (II J i lepets pam conseguir fazer uma ressoshy1111111 111111 111 111 I ill I Ii IUIllori Ii cnl1Gul1aS e c~inlrniH~

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 21: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

1161 ftica Empresanal

o Superintendente do hospital admite que haja fila dupla e discreshypancia nos prazos de atendimento mas garante que os pacientes do SUS teriam um ganho infimo na redugao do tempo de espera se houshy

vesse a fila Cmica Em contrapartida 0 hospital nao teria como atrair pacientes particulares - sao 48 do total dos pacientes que responshy

dem por 30 do faturamento - 0 que prejudicara a qualldade do atendimento Contra essa politica erguem-se VOzes que qualificam a

fila dupla como ilegal uma vez que a Constituigao estabelece a univershysalidade integralidade e equdade do atendimento do SUS10

Confrontam-se aqui as duas eticas ambas COm posturas altrufsshytas Haspitais universilarias dizem necesstar de mais recursas par

isso passaram a reservar parte do atendimento a pacientes particulashyres e conveniados 0 modelo de dupla porta comegou na decada de

1970 no Instituto do Coragao do Hospital das Clinicas mas os crfticos dessa politica consideram inconcebfvel que se atendam pessoas de

forma diferente em um mesmo local pUblico assumindo claramente a Idiscriminaltao entre os que podem pagar e os que nao podem

o jUiz paulista que julgou a agao civil mpetrada peJo Ministerio Pushybfico assim se manifestou a diferenciagao de atendimento entre os

que pagam e os que nao pagam pelo servigo constitui COndigao indisshypensavel de sUbsistencia do atendimento pago que nao fere 0 princfshy

pio constitucional da sonomia porque 0 criterio de discriminagao esta plenamente justificado11

o lanlOsa romance A poundSeoha de Sofia de William Styron canta-nos que na triagem dos que iriam para a camara de gas do campo de concenshytraaa de Ausc1rwitz Sofia recebeu uma propasta de um alicial alemaa que se encantou com sua beleza Depois de perguntar-lhe se era comunista au judia e obtendo delo duas negativas disse-lhe sem pestanejar que era muito bonita e que ele estava a lim de darnur com ela A proposta que preteodia ser misericordioa loi atordoante se Solla quisesse salvar a vida de uma criana tinha de deixar um dos dais filhos na fila Dilacerada dianshy

10 MATEos 5 Bih FD dpl comO He d 550100 ampdo SP29 de janeiro de 2000

I I LAMBERT Priscila e BIANCARELLI AureJiano ]ustilta aprova prjyjlcgio I plJJIc II1lcUshy

lar do HC e ]atene defeode atendimento diferenciado Folha d )11 1 1 I i 01 2000

I rmlos e(icas 117

I de tao hediondo dilellla Sofia afirmou repetidas vezes que nao podia 1middotLmiddotolher Ate 0 momenta em que 0 oficial exasperado mandou que guarshyhs arrancassem as duas crian~as de seus bra~os Foi quando em urn sufoshy_ I Sofia apomou Eva de oito anos e foi poupada com seu filho Jan Se I ivesse exercido a etica da convic~ao na sua vertente de principio Sofia llcusaria a oferta que Ihe foi feita nos seguintes termos ou os tres se ~~dvam ou morrem os tres E por que Porque vidas humanas nao sao Ilcgociaveis Hi como Ihes definir urn pre~o Duas valendo mais do que Illna A etica da convioao nao tolera especulaltao alguma a esse respeito

Para muitos leitores a op~ao de Sofia foi imoral Outros a veem como tllloral ja que refem de uma situa~ao extrema Sofia nao tinha condishyoes de fazer uma escolha Vamos e convenhamos Sofia fez sim uma cscolha - a de salvar a vida de um filho e tambern adela ainda que ela fosse servir de escrava sexual Em troca entregou a filha

Cabe lembrar que a motte provocada nunca deixou de ser uma escoshylha haja vista os prisioneiros dos campos de concentraltao que preferishyram 0 suicidio a morte planejada que Ihes era reservada Sofia adotou a etica da responsabilidade em sua vertente da finalidade refletiu que em vez de perder dois filhos perderia um s6 fez um ca1culo quando ajuizou que a salvaltao de duas vidas em troca de uma s6 justificava a escolha pensou cometer urn mal menor para evitar um mal maior Ademais imashyginou provavel que outros tantos milhares de irmaos de infortunio seguishyriam seu caminho se a alternativa Ihes fosse apresentada

De fato no mundo ocidental as escolhas de Sofia (dilemas entre a~6es indesejaveis ou situaltoes extremas em que as op~6es implicam grashyves concessoes em troca de objetivos maiores) encontram respaldo coletishyvo a despeito do horror que suscitam Em um navio que afunda e que nao possui botes saIva-vidas em quantidade suficiente 0 que se costuma fashyzer Sacrificam-se todos os passageiros e tripulantes ou salvam-se quantos couberem nos botes

Consumado 0 fato porem 0 remorso corroeu a Sofia do romance Ela carregou sua angustia pela vida afora e acabou matando-se com cianureto de potissio Ao fim e ao cabo no recondito de sua consciencia talvez tenhl vencido a etica da convic~ao

EscnVI Cblldio de Moura Castro

( ) 111111middot (iii tIIrllll uidas tem sempre efeitos colaterais Os mr Ii(~l 1IllIIJdlh~WII(~ il IIN JIIII lIId NIt1I1l1 n4ra altar () 111

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 22: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

118 Etica Empresarial

dao 0 remedio e lidam depois com os efeitos colaterais e COm as doshyen~as iatrogenicas isto e aquelas que sao geradas pelos tratamentos e hospitais 12

Uma escolha de Sofia Ocorrida em meados de 1999 recebeu granshyde atengao por parte da mfdia norte-americana Trata-se de uma mushyIher de 42 anos de idade que ganhou 0 direito de ter os aparelhos que a mantinham viva desligados A condigao para tal foi a de colaborar com a Justiga do Estado da Florida nos Estados Unidos para acusara pr6pria mae de homicfdio

Georgette Smith aceitou 0 acordo que consistiu em testemunhar Com a justificativa de que nao podia mais viver assim A mae cega de um olho atirou contra a filha depois de saber que seria internada em uma casa de idosos Acertou 0 pescogo de Georgette Com uma bala que rompeu sua espinha dorsal Embora estivesse consciente e cOnseguisse falar com esforgo a filha havia perdido quase todos os movimentos do corpo e vinha sendo alimentada por meio de tUbos Ap6s 0 depoimento a promotores publicos 0 jUiz determinou que os medicos retirassem 0 respirador artificial e Georgette morrell

Ha dois fatos ineditos aqui uma pessoa consciente apelar para a Justiga e ganhar 0 direito de nao mais viver artificialmente e alguem processado (a mae) por morte provocada por decisao de quem estashyva com a vida em jogo (a filha) 13

Quem deve decidir sobre a vida ou a morte Deus de forma exclusishyva como dizem muitos adeptos da etica da conviqao ou a op~ao pela morte em certos casos seria 0 menor dos males como afirmam Outros tamos adeptos da etica da responsabiIidade Isso poderia justificar 0 suishyddio assistido a eutanasia voluntaria e a involuntaria e ate a acelera~ao da morte a partir do necessario tratamento paliativo H

U CASTRO Claudio de Mom Quem tern medo da avalialt30 revjsca Veia J0 de ulho de 2002

Il NS DA SILVA ClrQS EcllIilrdo Americana acusa mile rlra roder mllIr(I (gt1 d pound((1OtImiddotm1illIImiddotIINi

1lt1 [II( rlNUN I 1~lf~h tIlhdmiddotlI1 flllluisi~ plI J IIli-lI 111 11bull JIII (I~ MImiddotbull 1Iltl~ 01 II d middotjmiddotIIII 4 lIIlX

I (1~IrIgt ~lic(ls 119

Um projeto de lei proposto em 1999 pelo governo da Holanda deshysencadeou uma polemica acirrada nos meios medicos do pais barashyIhando etica da responsabilidade e etica da convjc~ao

o projeto visou a descriminar a pratica da eutanasia tanto para pesshysoas adulkas como para criangas com mais de 12 anos Previa autorishyzar essas crian~as portadoras de doen~as incuraveis a solicitar uma morte assistida par medicos com a concordancia de seus pais Mas um artigo estipulava que os medicos poderiam passar por cima do veto dos pais se achassem necessario tendo em vista 0 estado e 0

sofrimento dos pacientes A Associagao Medica Real dos Paises Baixos declarou que se os

pais nao podem cooperar e dever do medico respeitar a vontade de seus pacientes Partidos de oposi~ao diversas associa~6es familiashyres e os movimentos de combate ao aborto denunciaram 0 projeto 15

Uma situa~ao-limite foi vivida por Herbert de Souza hemofflico t

contaminado peIo virus da Aids em uma transfusao de sangue Em 1990 diante de uma grave crise de sobrevivencia da organizacao nao gover namental que dirigia - a Associacao Brasileira Interdisciplinar da Ailh (Abia) - Herbert de Souza (Betinho) fez apelo a urn amigo que ~r1

membro da entidade Desse apelo resultou uma contribuicao de US$40 mil feita pOl um bicheiro Para Betinho tratava-se de enfrentar uma epimiddot demia que atingia 0 Brasil um flagelo que matava seus amigos seus irshymaos e tantos outros que nao tinham condi~ao de saber do que morriam COl1siderou legitimo 0 meio avaliando a situa~ao como de extrema 1(shy

cessidade Escreveu

J1 hica nao e uma etiqueta que a gente poe e tim e uma luz que 1

gente projeta para segui-la com os nossos pes do modo que pudermos com acertos e erros sempre e sem hipocrisia 1(

Em seu apoio acorreram muitos intelectuais um dos quais recolIv ceu que lS vidas que foram salvas mereciam 0 pequeno sacrificio JJ [nU

I~ NAIl IImiddot 1 11 bull i 1middot middotfd1 novllli 1-1Ii IIIltnblmiddot Cllfl de glll 111k 11 I ~ P)l

1( lt)j I II I IT II I 1111 I IlilfI () Vhul 01 ~Illli I ~iI II 1 Ii I

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

---------_-_ _ ~---__ -------=-_--shy---~~==~---0__ -shy _shy e-_--

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 23: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

o Etica Empresarial

Id poi~ aceitando 0 dinheiro sujo dos contraventores Betinho cometeu 11111 a to imoral do ponto de vista da moral oficial brasiIeira Em COntrashypl rt ida a1can~ou resultados necessarios e altrufstas (etica da responsabishyIidade vertente da finalidade) A responsabilidade de Betinho consistiu Clll decidir 0 que fazer diante de um quadro em que vidas se encontravam (Ilfregues ao descaso e ao mais cruel abandonoY

No rim da Segunda Guerra Mundial um oficial alemao foi morto por II Iixrilheiros italianos na Italia Setentrional 0 comandante das tropas III I III)U a seus soldados que prendessem vinte civis em uma adeia viII Ila Trazidos a sua presen9a mandou executa-los

11 ilf)~ do fuzilamento um dos soldados - piedoso e comprometishy lu cum os valores cristaos - assinalou ao comandante que havia i IrJsrropor9ao entre um unico oficial morto e vinte civis 0 comandante rotletiu e disse entao ao soldado esta bem escolha um deles e tuzishyIe-o Por raz6es de consciencia 0 soldado nao ousou escolher Logo dopois aqueles vinte civis toram fuzilados

Mais de cinqOenta anos mais tarde este homem ainda sOfria com a Jecisao que tomou e que 0 eximia de qualquer culpa Mas se tivesse

tido a coragem de escolher (e tivesse assumido 0 terrivel fardo da morte do infeliz que teria escolhido) dezenove inocentes nao teriam perdido a vida 1B

o soldado alemao obedeceu a teoria etica da conviccao que confere ~(rn duvida certo conforto quanto as conseqiiencias dos atos praticados ~ob Sua egide Neste caso porem quanto constrangimento ao saber que ltntos morreram inutilmentel Pais para muitos dentre n6s a etica da nsponsabilidade se impunha mais valia matar urn para salvar os Outros dcztnove ainda que 0 soldado tivesse de carregar a pecha

Ii ct)~middotIIIIIllIlIirmiddotlJrrmiddotln ~L()lIla de lc-nI1110 0 L(stadu de SJlmo lh1111 111

Ill HgtIN(I-R KIIIImiddot Ivl I ~CIIMn I~ Klfll lrhmiddot( ~mrs(ria rtd bulltll~I (lfftlftfH 111111 1 I 11 1J~puli~ 10[1 of) bull I~ I jfJ

Ali foUl Wi eticas

Durante a Primeira Guerra Mundial um soldado alemao desgarroushyse de sua patrulha e caiu em uma vala cheia de gas leta Ao aspirar 0 gas come90u a soltar baba branca

Em panico seus camaradas 0 viam sofrer Um deles entao gritou atire nele Ninguem se atreveu 0 oficial apontou a pistola embora nao conseguisse puxar 0 gatilho Logo desistiu Deu entao ordem ao sargento para matar 0 infeliz Este aturdido hesitou Mas finalmente atirou

Decisao dramatica a exemplo dos animais que irrecuperavelmente feridos sao sacrificados pelos pr6prios do nos Com qual fundamento 0 de dar cabo a um sofrimento insano e inutil A interven~ao se imp6e ainda que acusta da dar da perda que ted de ser suportada Dos males 0

menor sem duvida na clara acep~ao da vertente da finalidade (teoria da responsabilidade)

As tomadas de decisao

A etica da convic~ao move os agentes pelo sensa do dever e exacerba o cnmprimento das prescri~6es Vejamos algnmas ilustra~6es

bull Como sou mae devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me a familia

bull Como son cat6lico If (o1(-oso obedecer aos dogmas da Igreja e asua hierarquia

bull Como sou brasileiro sinto-me obrigado a amar a minha patria e defende-Ia se esta for agredida

bull Como sou empregado tel1ho de vestir a camisa da empresa bull Como sou motorista precisa cumprir as regras do transito bull Como sou aiuno cump1e-me respeitar as meus mestres e seguir as

orienta~6es de minha escola bull Como tenho urn compromisso marcado nita posso atrasar-me e

assi ITI por diante ImpL1 IIIVlI liLmiddot consciencia guiam estritamente os comportamentos

fa~(l dll ltllpl I Ifill 1111l1cLunento Quais sao as fontes desses impeshyn~IV(l 1~Ltll middotil il1ir1tl lJl~lcbs s~rit1lrls lnSirLtnl(lllO~ de r~ljgioshy-pbullbull 1 bull I I I iii ~ 1111 11 (I1lllllllf1 111tn IOri~~ qlll dll i11(111 (1 Qlll tl n qm

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 24: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

rIZ I tieu Empresorio7

Figura 17

A tomada de decisoo etica da conviqao

AltOESados

nao e apropriado fazel credos olganizacionais conse1hos da famHia ou dos professores Isso tudo sem que grandes explicacoes sejam exigidas pois vale 0 pressuposto de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos

Ora para estabelecer uma comparaCao pontual 0 que diria quem se oriellta pela etica da responsabilidade

bull Como tenho urn compromisso marcado vale a pena nao me atrashysal caso contrario complometerei a atividade que me confiaram posso prejudicar a firma que me emprega e isso pode afetal minha carrelfa

bull Como sou aluno esensato nao pertulbar as aulas concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes caso contrario isso atrashypalhara os outros e pOl extensao me criara problemas

bull Como sou motorista Ii de interesse - meu e dos demais - que existam legras de transito e que eStas sejam obedecidas para que possa circular em paz evitar acidentes e nao correr riscos de vida

bull Como sou empregado eimportante me empenhar com seriedade para nao atrapalhar 0 selvico dos outros comprometer os resultashydos a serem alcanltados e por em risco minha promoCao 01 j1mvoshycar sem pensar minha propria demissao

lJ I 1_ fllll lticos

bull Como sou brasileiro faz sel1tido eu ser patriota principalmcl)~ ~( minba conduta puder contribuir para 0 pais e servir de do com 1HIP

conterraneos esbull Como sou cat6lico evalido respeitar as orientac6 do clero plll

que isso promo a gl6ria de Deus e pode salvar a minha alma l lve

dos demais fieis bull Como sou mae einteligente e utii nao descuidar dos meus famili1

res porque isso lhes traz bem-estar e me torna feliz

Figura 18

A tomada de decisoo etica da responsabilidade

A(OES

1

ObjetivOs ou analises de conseqiiencias moldam e conduzem a t01l1

cia de decisao faco algo porque isso semeia 0 bern ou como sou rLS pons pelo deitoS de meus atoS evito males maiores Em vez til qli I

avelsirnplesmentesporque 0 agente deve precisa sente-se obrigado ou tell) lit

fazer algurna coisa ele acha importante util sensato valido bem~fin I vantajoso adequado e inteligente fazer 0 que for necessario AssirH nllli

sao obrigac6es que impulsionam os movimentoS dos agentes SOCili Iil

resultados pretendidos ou previslveis sem jamais esquecer que I1Jl) 1111

porta a tcoril etica as decisoes s~o sempre prenhes de proje(lllS tlllIlI tas (tCoIi1 ILl njlol1Sabilidade) OLl de i11ttll~()ls (llmihIS ((or1 L I PI

Vi~~ll)

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 25: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

I

litlco fmfrCmfitil

Na leitura de Weber a etica da responsabilidade expreSSd de forma tipica a vocaltao do homem politico na medida em que cabe a alguem se opor ao mal pe1a for~a se nao quiser ser responsave1 pdo seu triunfo Ha urn prelto a pagar para alcanltar beneffcios coletivos Eis algumas ilusshytraltoes de decisoes tomadas aluz da teoria da responsabilidade no bojo de de1icadas polemicas eticas

bull A colocaltao de fluor na dgua para reduzir as caries da populaltao indignou aqueles que repudiavam a ingerencia do governo no amshybito dos direitos individuais mas acabou adotada peIo governo mesmo que ninguem pudesse assegurar com absoluta certeza que nao haveria erros de dosagem

bull A vacinacao em massa para prevenir doenltas infecciosas ou contashygiosas (variola poliomielite difteria tetano coqueluche sarampo tuberculose caxumba rubeola hepatite B febre amarela etc) acashybou sendo adotada a despeito de fortlssimas resistencias Por exemshyplo em 1904 a obrigatoriedade da vacina antivari6lica no Rio de Janeiro deflagrou uma grande realtao popular - serviu de pretexshyto para um levante da Escola Militar que pretendia depor 0 presishydente Rodrigues Alves e que foi prontamente reprimido A rebeshyhao contra a vacina empolgou Rui Barbosa que disse Nao tem nome na categoria dos crimes do poder () a tirania a violencia () me envenenar com a introdultao no meu sangue () de urn vlrus ( ) condutor () da morte 0 Estado () nao pode () imshypor 0 suiddio aos inocentes19

bull A legalizacao do aborto deflagrou celeumas sangrentas nos Estados Unidos e em outros paises e ainda constitui terreno fertil para que se travem debates agressivos e ocorram confrontos OLl atentados em urn vaivem infernal entre coibiltao e tolerancia facltoes favorashyveis a liberdade de escolha e outras que se prodamam defensoras da vida abortos clanclestinos e autorizaltoes restritas a casos espeshyClaIS

bull A introdultao dos anticoncepcionais para 0 planejamento familiar embora amplamente aceita ainda nao se universalizou nem e consensual

bull A adirao de iodo 110 sal nao vem sendo respeitada por muitas emshypresas embora seja hoje deterl11ina~ao legal fixada entre 40 mg e

IJ SARNEY Jose Deodoro RlIi repllblica e v3cina Foilla de SPallo 12 dl II IIJi I Ill

lL~

illt J~ dICilS

100 rug pOl quill) Je sal Ela visa a impedir doenltas como 0 b6cio (papo) e 0 hipotireoidismo que causa fadiga cronica e deficienshy

cias no desenvolvimento neurol6gico20 bull A fertilizaCao in vitro (os bebes de proveta) introduzida em 1978

enfrento discussoes acirradas sobre a inseminaltao artificial acushyu

sada de ser um fatar de desagregaltao da familia e um fator de tisco

na formaltao de uma sociedade de clones bull 0 uso da energia nuclear por fissao como fonte de produltao de

eletricidade depois de uma forte difusao inicial (desde 1956) acashybou sendo contido ap6s os acidentes conhecidos de Three Mile Island (Estados Unidos 1979) e de Chemobyl (Ucrania 1986) Desde 0

final dos anoS 1970 alias nao hi mais novas plantas nos Estados Unidos e a Suecia decidiu desativar todas as suas usinas nucleares ate 2010 Muitos pIanos e reatores nucleares no mundo todo foshyram caI1celados mas mesmo assim a polemica persiste de forma

acirrada u se bull 0 uso dos cintos de seguranca e dos air-bags transformo - em

uma batalha nos Estados Unidos nas decadas de 1970 e 1980 ate converter-s em exigencia legal 0 confronto se deu entre a) os

e defenso dos direitos individuais que rechaltavam qualquer imshy

resposiltao e desfrutavam do apoio da industria autol11obilistica preoshycupada com 0 aumento de seuS custoS e b) 0 poder publico que pretendia reduzir 0 numero de feridos e de mortoS em acidentes

sofridos por motoristas e sellS acompanhantes bull 0 rodizio de carros que restringiu a circulaltao para rnelhorar 0

transito e reduzir a poluiltao nas cidades brasileiras depois de iuushymeras resistencias acabou sendo respeitado nao so por causa das multas incidentes sobre quem 0 infringisse mas por adesao as suas vantag coletivas malgrado 0 sacrificio pessoal dos motoristas

ensbull A conclus da hidretetrica de Porto Primavera no Estado de Sao

ao Paulo em 1999 sofreu a oposiltao de varias organizaltoes nao goshyvernamentais e de muttoS promotores de ustilta que alegavam que urn desastre ambiental e social se seguiria a formaltao cornpleta do 3 maior lag do Brasil constituido por uma area de 220 mil

0 o hectares Em contrapartida a posiltao governamental era a de que

0 SA 0 SIIIlrl Mlliltr6rio aprcendc marc de s1 SCIll iodo 0 blldo de ~HHlJo 6 de nOshy

cHbrilI JlP

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 26: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

-------

tOeu FmpresmiaJ

a usina destinava-se a abastecer de energia e1etrica 6 milh6es de pessoas e que obras de compensa~ao e de mitiga~ao dos danos caushysados seriam realizadas2

bull A utilizatdo de pesticidas na agricultura dos raios X para realizar diagnosticos dos conservantes nos alimentos da biotecnologia proshyvocou e continua provocando emoltoes fortes

bull No passado amputaltoes cirurgicas de membros gangrenados de eventuais extirpa~oes de apendices amfgdalas canceres de pele ou outros orgaos atacados pelo cancer eram motivos de francas oposishylt6es Isso contudo nao impediu que as intervenltoes fossem feitas

bull As chamadas Poffticas publicas cOmpensat6rias em que agentes sociais tecebem tratamentos especfficos (mulheres gravidas idoshysos crianltas abandonadas ou de rua portadores de deficiencias fisicas aideticos desempregados invalidos depelldentes de droshygas flagelados etc) fazendo com que desiguais sejam tratados deshysigualmente correspondem a orienta~6es inspiradas pela etica da responsabilidade

Permanecem ainda em aberto inumeras questoes eticas como a pena de mOrte a uniao civil entre bOl11ossexuais (embora ja admirida no fi11al do seculo XX peIa Dinamarca Frall~a Inglaterra Holanda Hungria Noruega e Suecia)22 a clonagem humana a manipula~ao genetica de embrioes a identificaltao de doen~as tardias em crian~as atraves do DNA os Iimites da engenharia genetica e mil Outras

Uma polemica diz respeito ao plantio e a comercializacao de seshy

mentes geneticamente modificadas para resistir a virus fungos inseshy

tos e herbicidas - a exemplo da soja transgenica Essas praticas obshy

tiveram 0 aval de agencias reguladoras governamentais (entre as quais

as norte-americanas) eo apoio de muitos cientistas pois foram vistas como alternativas para aumentar a produCao mundial de aimentos e para combater a fome

Entretanto ambientalistas e outros tantos cientistas alertaram conshy

tra os riscos alimentares agronomicos e ambientais reagindo na Jusshy

2 TREvrsAN Clltludilt1 E diffcil vender a Cesp agora afinna Covas Foha ti S Ili N de maio de 1999 0 Estado de SPaufo 25 de julho de 1999

22 SALGADO Eduardo Gays no poder revisra Vela 17 de novemhrq 01 II

duro

liGB Argumentaram que os organismos modificados geneticlrneille

I lodem causar alergias danificar 0 sistema imullologico ou transmilir

)s genes a outras especies de plantas gerando superpragas e poshy

dendo provocar desastres ecol6gicos

Ate a 5a Conferencia das Partes da Convencao da Biodiversidade

rJas Nac6es Unidas em fevereiro de 1999 170 paises nao haviam cheshy

Dado a um acordo sobre 0 controle internacional da producao e do

comercio de sementes alteradas geneticamente23

Assim ao adotar-se a etica da responsabilidade realizam-se analj)cs Lit risco mapeiam-se as circunstancias sopesam-se as for~as em jogo ptrseguem-se objetivos e medem-se as consequencias das decis6es qUl

crao tomadas Trata-se de uma teoria que envolve a articulaltao de apoios polfricos e que se guia pela efidcia Os efeitos deflagrados pelas a~( In

dcvem corresponder a certas projelt6es e ser mais liteis do que pcrig( )il Vole dizer os ganhos devem superar os maleficios eventuais e compem11 os riscos por exemplo ainda hoje se discutem os possfveis efeitos llll cerfgenos dos campos gerados pelos apare1hos eletricos quantos si()

Iontudo os que se prop6em a nao utiliza-los Enrre as pr6prias vertentes da etica da responsabilidade - a utilir1risl ~I

c a da finalidade - chegam a exisrir orienta~6es contradit6rias depen dendo dos enfoques e das coletividades afetadas Veja-se 0 caso da qmi rna da palha de cana-de-a~ucar

Ao lado de ecologistas que defendem 0 meio ambiente por questao

de principio (tearia da conviccao) existem ecologistas de orientacao

utilitarista para quem a fumaca das queimadas deixa no ar um mar de

fuligem que ateta a saude da populacao e agride a camada de oz6nio

Nao traz pois 0 maximo de bem ao maior numero e favorece ecolloshy

micamente apenas uma minoria

Os cortadores de cana pOl sua vez dizem que a queimada afugentci

cobras e aranhas e limpa a plantaltao facilita 0 corte e permitamp un kl

produCao de 9 toneladas ao dis 8segura melhor remunacao par que sem eli3 lim cortador prodiJil I I dIltlllj 6 tCJI181acias e gEo1nllsr j ~ 11111

1i1 i nill I le Itmiddot( rllr I [tll1

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 27: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

12

120 Etica Empresarial

tergo a menos Alegam que a alternativa disponfvel implica 0 uso de colheitadeiras mecanicas 0 que reduziria a forga de trabaho a um quarshyto da atual gerando desemprego Portanto ao beneficar uma ampa cashytegoria profissional no campo os fins sao bons - vertente da finalidade

Para os empresarios tambem adeptos dessa vertente a queimada aumenta a produtividade garante baixo custo de produgao torna desshynecessarios os investimentos para uma colheita mecanizada (as colheitadeiras custam em media US$260 mil cada) e gera efeitos multiplicadores sobre a economia

Em outras palavras uns olham para 0 todo 0 generico outros para o especifico uns pensam nas geragaes vindouras e no futuro do plashyneta outros pensam nos beneficios imediatos para coletividades mais restritas

Todavia os imperativos da competitividade e as pressaes polfticas por um meio ambiente sustentavel acabaram fazendo com que aos poucos as colheitadeiras fossem introduzidas superando paulatinashy

mente 0 probiema da queimada I

Nesse caso 0 utilitarismo parte de pressupostos bern mais amplos e pot via de conseqlH~ncia mais altrulstas A quem deveriamos beneficiar as gera~oes futuras lancsando mao de tecnicas de produCSao gue nao dilapidem recursos naturais ou a alguns agentes coletivos (interesses mais imediatos) em detrimento do planeta Assim a dissonancia nao ocorre apenas entre as duas teorias eticas mas tambem entre as vertentes gue as ramificam na medida em que poem em jogo a guestao dos beneficiarios das decisoes e a~oes - a quem devemos lealdade

As duas matrizes eticas

No plano mais abstrato da teoria operam a etica da convicltao e a elica da responsabilidade Descendo em direcsao ao real para 0 plano iJ ist(gtrico das coletividades - nacs6es classes sociais categorias sociais comunidades locals organizaltoes - operam as morais por exemplo IW Hnbito inclusivo da sociedade brasileira a moral da intcgridade e a 1110111 do oportunismo no ambito inclusivo da sociedadl 1I1Hlilma 1110shy

111 rllrinlla rlltlgr~Hlo a importJrlcia que tem a 11lOrd I 11 1111 llnH

dn i(()IIlr~ I-lonclll1ic1 Il~(llibrnl

( Wfld(i~ cliCQ5

A etica da conv iCIS80 euma etica do dever do absoluto porgue seus lr1ndpios e seus ideais convertem-se para os agentes em obrigalt6es Ill [vocas ou em imperativos incondicionais nao resultam de delibera-I (iS norteadas pela projecsao de resultados presumidos Seus preceitos 1 )ll1lam um sistema codificado de virtudes determinadas a priori e aceishyIlb independentemente de qualquer expetiencia concteta Mais ainda ddinem um acervo de exigencias morais gue abstraem ou desconsideram

~nto as circunstancias como os efeitoS das altoes de modo que sO mente I ohediencia as normas morais ou a transposiltao dos valores em praticas t )itimam as acs6es e demarcam a linha divis6ria que separa os virtuOSOS lins pecadores Como condusao bastam a si mesmas na plenitude de sua

vndadeSe necessario for 0 militante imola-se em nome do ideal anarguista

~Hrifica-se para chegar asociedade comunitaria agui e agora porgue a llvoluCS social exige a entrega total de seus filhos (etica da convicltao vrtente

aoda esperanlta) OutroS ativistas como os ambientalistas da

rcenpeace _ organizaltao nao governamental que atua em quarenta lfses e tem quatro milh6es de associados - erigem por causas a defesa lb floresta amJzonica 0 combate a produltao de alimentoS transgenicoS 1 rejeics do uso da energia nuclear a proteltao de especies ameacsadas de l xtinltao

ao etC Uma das acsoes mundialmente conhecidas diz respeito as

111issoes de seu navio que visam a impedir a calta de baleias em botes il1poundlaveis seus militantes se colocam entre 0 arpao e as baleias dependushyral11-se nos animais arpoados para gue eles nao sejam puxados para borshydo ou mergulham no mar para bloquear 0 caminbo dos cacsadoresY Esshy

creve Max Weber

0 partiddrio da etica da convicqao nao se sentird responsdve senao pela necessidade de velar sobre a chama da pura doutrina a fim de que ela nao se extinga velar pOl exemplo sobre a chama que anima 0

protesto contra a injustiqa social Seus atos s6 podem e devem ter um valor exemplar mas que considerados do ponto de vista do objetivo eventual sao totalmente irracionais s6 podem ter um unico fim reashy

nimar perpetuamente a chama de sua convicqao 25

I Lvhf 1 ~jil 2( dc jauciro de WOO d VI1I VI A lZiordo 1 1111 dll I XgthlV1 rvltJ ul 01 I I

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 28: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

110 Etiea Empresarial

Djferente seria pensar amaneira leninista para a qual para implantar (J socialismo e assegurar sua consolidaltao eabsolutamente valido lanltar IIIUO das mesmas armas que a minoria exploradora usa (a violencia orgashyIlizada) instalando a ditadura do proletariado e reprimindo de forma irllplclc8vel os inimigos da revolultao (etica da tesponsabiJidade vertente dl hnzdidade) Neste ultimo caso a altao nao emovida POl urn imperatishyVO lllas por um fim deliberado faz da violencia seu instrumento para 114Iil 0 caminho do poder escolhe uma estrategia entre varias outras 0

i(~ I lilJ)a a morte dos revolucionarios uma contingencia do processo Os 11I11-11s dernocraticos por exemplo imaginaram a possibilidade de t1 C iJ ir 1 sociedade socialista por meio da via parlamentar associada a II II IIIio pacffica dos espaltos polfticos existentes no Estado e na socieshy1 [vii 1dotaram uma estrategia eleitoral que nao previa confrontos ~il IIllfJOS mas eventual alternancia no poder com os partidos burgueses

Vcjamos agora 0 caso exemplar de urn homem de princfpios que nunshyCl vHilou e que permaneceu inquebrantavel diante das piores amealtas

Condenado a morte pela Assembleia Popular ateniense (Ekkesia) Socrates nao se curvou nem fez concessoes Os ditames de sua cons-

I ciencia 0 levaram a nao aceitar cUlpa nas acusagoes que Ihe fjzeram

nao reconhecer os deuses do Estado introduzir novas divindades e corromper a juventude Rejeitou a ideia do exilio ou do pagamento de

mUlta apesar do fato de poder fixar a propria pena como era de prashy

xe apos 0 veredicto da Condenagao Preferiu a morte para nao abdishycar de suas convicgoes ou trair sua consciencia e mesmo quando

instado por seus amigos a fugir manteve-se irredutivel para nao desshyrespeitar a lei

A unica coisa que importa disse Socrates e viver honestamente 8em cometer injustigas nem mesmo em retribuigao a uma injustiga rpcebida Bebeu a cicuta sUblinhando a dupfa fidelidade que 0 anishyrnava a fidelidade a sl mesmo e aos compromissos assumidos

26

rl~ I Ctll1C1~ c ticas 131- Na etica da convicltao a moda de Kant sendo a veracidade urn dever

Ihsoluto nao se admite mentir em circunstancia alguma Imaginemos 11m homem que estivesse escondendo urn amigo na propria casa ele nao deveria mentir aos dois ma1feitores que procuram 0 refugiado ainda que 1lt11 gesto viesse a custar ao amigo a propria vida pois e melhor faltar com a prudencia do que faltar com seu dever nem que seja para salvar um inocente ou a si mesmoY

Nesse preciso exemplo e de forma diametralmente oposta a etica da responsabilidade rotularia a mentira como prudente e necessaria abrinshydo espalto para 0 florescimento de urn vasto leque de mentiras uteis shyLIas piedosas as inocentes das solidarias as clvicas

Para fustigar a duvida de que ninguem hoje em dia adotaria as presshycrilt6es de Kant basta citar 0 caso verdadeiro do programa Twenty One que 0 filme Quiz Show dirigido por Robert Redford retrata

Um professor universitario de literatura da Columbia University de

Nova York Charles van Doren pertencente a uma familia tradicional

de intelectuais (a mae era escritora e 0 pai era tambem professor da

Columbia) confessou uma tramoia diante de uma subcomissao inshy

vestigadora do Congresso

De fato recebia com antecedencia as perguntas e ensaiava as respostas dos produtores de um programa de televisao cujo chamashy

r1Z e encanto eram os testes de conhecimento que os candidatos enshy

frentavam Toda semana os premios e as dificuldades cresciam manshy

tendo a audiencia em estado de excitagao 0 jovem professor nao era o unico candidato a aderir a trapalta como se soube logo depois

Pressionado por um promotor igualmente jovem e formado em

Harvard 0 professor nao resistiu as cobrangas da propria consciencia

moral Incapaz de conviver com a mentira e 0 engodo decidiu tudo revelar em um tributo pago aetica da convicgao

Isso destruiu sua carreira profissional perdeu 0 programa que manshy

tinha na rede de televisao NBC em que ganhava US$50 mil por ana

lIIINIII f( llrwrlI MiltJl (lllolldlril) Vidl UI III III ii CI IhloInrclt iin Pltlll dllJ I (III ( UJtIlAd 11~middotI 1111 HI 17 l UMI ~ j rIi1 1 1 Illl II I tIIlI J~ I ~IIf5 Virlfmiddot Si Inll MJIin Fnshy

tl i I Iqtl II

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 29: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

I32l Etica Empresarial

foi demitido de sua docencia na universidade e acabou discriminado e execrado pDr muitos Apenas os produtores do programa sofreram tambem dificuldades enquanto a rede NBC safou-se da encrenca

Uma pergunta entao reponta embora haja cidadaos cuja consciencia moral se sobrepoe aos pr6prios interesses 0 que diria a teoria da responshysabilidade a esse respeito Ela diria que a astucia e 0 oportunismo tanto dos produtores do programa como do jovem professor e dos demais canshydidatos que se prestaram a fraude nao se justificam do ponto de vista etico E por que Porque a haude beneficiava algumas pessoas em detrishymento de milhoes de pessoas iludidas manipuladas e ao fim e ao cabo logradas Prevalecia entre eles urn altrufsmo parcial e nao 0 altrufsmo imparcial que ambas as teorias eticas exigem

Ademais a etica da responsabilidade nao e urn vale-tudo nem faz tashybua rasa dos valores que as coletividades tanto prezam 56 que os agenshytes em vez de tomar decisoes exclusivamente em funrao dos valores que os iluminam tomam decisoes em fUl1rao dos efeitos concretos que ido produzir sobre a coletividade sem deixar de respeitar valores e sem deishyxar de nortear-se pe10 altrufsmo imparcial que combina interesses gerais corporativos e particulates

Mas vejamos outra situa~ao Segundo a 16gica da etica da responsabishylidade 0 usa de cobaias animais e valido ainda que de forma controlada em nome do bem-estar da humanidade para testar por exemplo novos remedios terapias ou procedimentos medicos ou ainda para fabricar soro antioffdico - quando cavalos sao inoculados com veneno de cobra para que produzam anticorpos e sao sangrados toda semana Ate cobaias humanas sao utilizadas em certas circunstancias com conhecimento dos riscos envolvidos e com previa aprova~ao dos pacientes 28

A contrapelo certos adeptos da etica da convic~ao rejeitam in limine a uso de cobaias animais em nome de seus direitos como seres vivos mesmo que isso prejudique 0 avanlto da ciencia ou a produltao de remeshydios Quanto ao caso de cobaias humanas a reprovaltao e pior ainda porqne trata as pessoas apenas como meios e nao como fins em si messhymos (na linguagem de Kant) desrespeitando-as e ferindo sun dj~njdade

28 BOYC~ Nell C()J~lilS IHlma N(II Snmi rqmdnl IrI 1middot1 111)(( Ude

jlllll1l I J PIN

1 t rlllllil~- dlt t-Jr

Em um patamar totolIncnlc diverso em nome de uma pseudociampHi1

L iustificadas em um ambito estritamente nacional perpetraram-sl dllshyI Illte 0 seculo XX atrocidades inominaveis principalmente pOl paists

lotalitariosbull Pesquisas duvidosas e crueis foram realizadas por medicos nazistlS comandados por Josef Menge1e no campo de concentraltao d Auschwitz Era frequente deixar crianltas morrer de fome para lt5

tudar a motte natural bull Os japones antes e durante a Segunda Guerra Mundial infectarul1 es

prisioneiros chineses (homens mulheres e crianltas) com as bact( rias causadoras da peste bub6nica antraz febre tif6ide e c6lera Depois de doentes os expunham a vivissecltoes sem anestesia

bull Na Africa do Sui durante 0 regime racista (apartheid) houve ttll tativas de desenvolver microorganismos manipulados em labur116 rio que esterilizassem a populaltao negra sem atingir os brantns

bull No Iraque dos anoS 1990 milhares de prisioneiros curdos StVI

ram de testes para armas qufmicas e bacteriol6gicas foram all111

rados a estacas e alvejados com bonlbas recheadas de substlm 1

armazenadas em laborat6rios E mais em aldeias intci r IS dtl Curdistao foram despejadas armas qufmicas letais dizim1ud()

populaltaoo mais surpreendente esaber que garotos deficientes mentais havi111

~ido usados como cobaias humanas pelo governo dos Estados UniJp durante os anoS 1940 e 1950 Em sua escola estadual recebiam mer~nd1 de mingau de aveia contaminada com is6topoS radiativos A trOCO dll

que Empenhadas na Guerra Fria e temendo uma guerra at6mica as I~()I ltas Armadas americanas queriam avaliar as conseqiiencias da radia~a() Il organismo humano Em um processo sigiloso cidades inteiras forlIl1

deliberadamente expostas aos efeitos da radia~ao Essas revelaltoes foram posslveis graltas aabertura dos arquivos 11111

te-americanos em 1994 0 presidente Bill Clinton pediu descutpas plII11 cas a naltao por isso em outubro de 19950 mais grave entretatll

que muitas experiencias vitimaram minorias etnicas bull Entre os anos 1930 e 1970 0 Servi~o de Sa6de P6blic~1 felllld

privou pacientes negros de tratamento sem que soubesseOl -111

poder observar os efeitas da sffilis no longo prazo bull indios navajos foram L111prf~1cos) na decada de 1950 erll 1lI~111

LlL ur5nio ent5o 0 prinlil 1)lihl~tlvel at6mico SCIIl slCrl1l1 111111

l

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

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Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

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11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 30: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

I34l EtiCQ Empresorio[

mados dos maleficios da radia~ao Em consequencia muitos morshyreram de cancer

bull Inje~6es de plutonio foram ministradas a pacientes ern hospitais sem que estes desconfiassem

bull Soldados foram enviados para locais de teste de bombas atomicas logo ap6s as explos6es 29

Depois da Segunda Guerra Mundial a Gra-Bretanha e os Estados

Unidos organizaram 0 recrutamento e a transferencia para a Australia

de cientistas e especiallstas em armas alemaes incluindo ex-nazistas

e membros das SS para trabalhar em projeurotos secretos na area da defesa

Os motivos foram 0 desenvolvimento do potencial militar e 0 temor

de que a Uniao Sovietica seqOestrasse os especialistas se permaneshycessem na Alemanha Dez deles hsviam trabalhado para a companhia

qufmica alema que inventou 0 gas Zyklon-B usado para matar judeus

em campos de concentra~ao Segundo 0 jomal Sydney Morning Herald pelo menos 127 cientistas alemaes foram contratados clandestinamente

entre 1946 e 1951 e nao foram investigados pelo Ttibunal de Crimes de Guerra Australiano30

No contexto da rivalidade entre as superpotencias militares e posshyteriormente da Guerra Fria tais decisoes chegaram a encontrar legitishymidade - aluz da etica da responsabilidade vertente da finalidade

Claro esta que do ponto de vista da humanidade todos esses eventos merecem 0 repudio de qualquer uma das duas teorias eticas Basta lemshybrar que na 6rbita jurfdica 0 avan~o ja esta em curso confotme se pode depreender pelo Estatuto de Roma (0 documento foi conclufdo em 1998) Pela primeira vez na hist6ria foi estabe1ecido urn Tribunal Penal Internashycional de carater permanente sediado na cidade de Haia na Holanda como entidade aut6noma vinculada aONU 0 tribunal come~ou a funcishyonar em julho de 2002 e se destina a processar e julgar os responsaveis

29 SELIGMAN Airrull COblll~ lUH1allI1 revi1 Veia 28 tit Ldl iI 1)1

10 () ampi 1middot Saltu IK dL Ilo-In lk 111-1

u 1 t 1( bj(tS

1l(OS mais graves delitos internaciollais - crimes de genoddio (11111

I pntra a humanidade crimes de guerra e crimes de agressaoY Vale (ih crvar todavia que embora 75 paises tenham ratificado 0 estabik~middott Illcnto do tribunal treS importantes paises recusaram seu apoio - list

d()~ Unidos Russia e China32 Ainda que haja convergencias pontuais entre as duas teorias eticas (1111

IS oposi~6es podem existir entre elas Se roubar na etica da convic~~(I l

Ihsotutamente condenavd (caso a honestidade constitua um valor mod)

lura a etica da responsabilidade 0 furto famelico ou 0 roubo de projlu lIimigos durante a guerra sao perfeitamente justificados Se falar a verdlltshyI))de tornar-se 0 unico norte na primeira etica na segunda nao deixa dc ~(I llequado elogiar a sofdvel comida que uma dona de casa nos ofcrc(t (Ill 111ll gesto hospitaleiro pode tambem ser aconselhavel louvar 0 born I

pccro de urn parente muito doente para melhorar seu animo Iss() sjJ1llill

c que a etica da responsabilidade confere endosso a a~H~ qll

presumivelmente engendram um bem do ponto de vista da cokll 1111 Enquanto a etica da convic~ao de orienta~ao cat6lica cenSUlltl t 1111 i I

matar na medida em que isso fere um mandamento divino 1 111 dl rcsponsabilidade nao hesita em vahdar a derrubada de urn avilO I lillie

Lial que transporta centenas de passageiros desde que seque~trHI pl II

lanaticos dispostos a lan~ar 11ma bomba quimica sobre uma nlctrd ~om base em qual argumento 0 de que a preserva~ao da vida Ji ltkll

lIas de milhares de pessoas justifica 0 sacriffcio de centenas delagt Silll

ltlos males 0 menor A etica da convic~ao insurge-se contra isso alegando que um HItIll

pode ser remedio para outro mal Condenar um inocente para salvJr I

hllmanidade seria uma ignominia para pensadores como Kant Doswicv l i lkrgsoll Camus e Jankelevictch A vida dos homens perderia 0 valor lt I

iusti~a desaparecesseYCuriosamente porern terroristas suicidas chegam a invocar lstil 1111

ma etica _ de orienta~ao fundamentalista - para a realizacao de 111

~I PAIVA IHdo wllll 1 bull 101 1111111 11I1rIIlCiltlI1~ (iJ~II-r Mt1cal1it 11111

til 2002 II Ill I - I nlI1 I illil 1- 11(1 IPI lnl~JI 1 ll1ltBll l lH Illll IId 11j11ll 11imiddot (J l~I ~lftl 1

Iihllill 11111 iII1 111 h I)I

II I I I I~ I I -11 111 I I lOr I it I

I

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

4 t 1 I t 11 Dr Or Ml Crafl Dikmllll illncl9 111tillllC (Ill i1nht1 Fthic WI lil l 1 diu llh

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

__ INJI _

11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 31: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

Ill I tleo IlIIprusarial

crenras religiosas certos de que 0 martfrio lhes abrira a porta do parafso(vertente da esperan~a)

Vejamos agora um caso interessante que permite comparar as divershysas vertentes das duas teorias

A diretora de uma fundagao que financia programas de arte em esshycolas publicas secundarias a fundo perdido estava procurando um professor Entre os varios curricuJos que chegaram as maos da comisshy

sao de sere membros encarregada do processo de selegao havia 0

de um reputado pintor regional Este alias nao se fez de rogado e

espalhou aos quatro ventos que era candidato Em seu curriculo consshytava que era doutor em hist6ria da arte

A assistente da diretora procedeu as checagens rotineiras e descoshybriu com surpresa que na universidade indicada nao havia mengao a tese defendida A diretora refatou 0 fato a comissao e chamou 0 pintor

para se pronunciar Este alegou que nao p6de completar seu doutorashydo porque teve de alistar-se no exercito e que a indicagao em seu curriculo saiu truncada na medida em que fez os cursos para 0 doutoshy

rado embora sem defender a tese Em seguida 0 pintor alertou a comissao que se ela 0 recusasse por uma tecnicalidade dessa ordem

- que muito pouco tinha a ver com sua capacidade de lidar com alushynos - ele iria processar seus membros por discriminaltao de sua candidatura e por difamaltao potencial de seu carater

A comissao decidiu entao analisar de forma desapaixonada as opshyltoes de que dispunha Alguns argumentaram que ern termos do mashyximo de beneficios para 0 maior numero a presenlta do pintor era desejavel (vertente utilitarista da etica da responsabilidade) Todo mundo

na comunidade sabia da candidatura dele e ansiava pelo seu sucesshyso seu talento conferiria credibilidade ao programa e os aJunos aprenshy

deriam mUlto com um professor de seu gabarito Era preClso ser reashylista pensar nas terriveis consequencias que adviriam se fosse recushy

sada sua contrataltao e nao conferir tanta importancia a uma formalishydade

Outros no entanto fundados nas normas vigentes inslstiram que nao era pouco desconsiderar a infragao cometida Como aceitar sem

mais uma fraude Nao importa quaO talentoso fosse 0 pintor lal tipo de desonestidade era inaceitavel Nao se podia transigir COlT I HI ld-

A (t1o(ias eticas 137

pios que as normas espelhavam nao se podia admitir trapaga fraude u logro (vertente de principio da 8tica da convicgao) Ademais caso

1 midia descobrisse que 0 curriculo continha uma falsidade e que a comissao conhecia 0 fato passando por cima dele isso nao desacreshyditaria 0 programa todo

Na votagao antes de a diretora manifestar-se houve empate de tres a tres Ficou com ela 0 voto de Minerva A diretora argumentou entao que embora 0 pintor pudesse ser de grande valia para 0 ensino cia arte e pudesse carrear prestigio ao programa (vertente da final idashyde da 8tica da responsabilidade) nao se podia ser leniente com a desonestidade moral Isso feria os padroes esperados do corpo doshycente 0 pintor nao era 0 [ipo de exemplo que a fundagao queria dar aos alunos que particlpavam dos programas que ela financiava Defishynido 0 ideal que deveria inspirar a figura dos docentes desejados a diretora votou contra a contratagao (vertente da esperanga da etica da convicgao)

Em seguida 0 pintor nao levou adiante 0 seu blefe retirou sua canshydidatura e nao cumpriu suas ameagas nao processou nem divulgou as verdadeiras razoes de sua desistencia34

E preciso sublinhar que sem exigir contrapartidas ao pintor - por exemplo a correltao do currfculo uma eventual retrata~ao publica 0

acompanhamento de seu desempenho docente ou ainda a defesa da tese para a obtenltao do titulo de doutor - 0 risco de a funda~ao perder sua credibilidade seria imenso Isso significaria par a perder seu patrimonio mais precioso e par em risco todos os programas sociais que patrocina com recursos oriundos de doa~6es da comunidade Assim a teoria da responsabilidade nao pode ser invocada sem as devidas precau~6es porshyque ela nao encampa quaisquer justifica~6es nem deixa de sopesar as jmplica~6es que estas embutem nao abre mao em suma de salvaguardas que preservem 0 respeito a condutas socialmente responsaveis Em resushymo ao fazer uma analise estrategica da situaltao a teoria da responsabili dade nao emfope nem resvala para 0 pragmatismo exacerbado

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III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

~ IUII11H 1 1IllIp 1 I l 1 II I 1111 tllllllhdHlldlmiddot middot11 II nIJllrJ~ I ~ d dlIddllIIIIlH

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

erd~d~~ 1b~d iws i i(lli(t(h~s relitt] islas

rli) liPmiddot cf( (1 I I I

1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

~ - shy~ftt1tlutfl

~

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11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 32: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

III 1 Etica Empresoriol

Nas duas eticas e clara lazem-se escalhas porque em ambas a ade sao a um curso de aao depende da concepaa de mundo que as agen testem au de SUa consciencia da necessidade na linguagem de Espinosa Mas oa etica da convicao nao ha aferiao dos efehos a serem gerados Ha isso sim obediencia a valores respeito aquila que as narmas morai au as ideais determinam pais os agentes ja dispoem de ardenaoes pre vias e explicitas em um movimento Prima facie que independe de um exame campleta da situaaa Excluem-se avaliafoes apreciaoes menshysuraoes uma vez que as escalhas derivam de pressUpastas e saa dedutivas

A ideia que paSSa a quem nao compartilha da mesrna ari l1taaa e que e as decisoes naa sao verdadClras escolhas na medida em que derivam de

obedincia a prescrioes Em termos praticos porem nao M Como dei xar de ve-Ias como escolhas pois e sempre possivel aos agentes recuar au Optay par outro caminho Ademais os agentes nao deixam de argumen_ tar dando a real impressao de que a situaao foi au esta sendo estudada

Para os adeptos da etica da canvieaa quem infringir as pautas es tabelecidas deve assumir a onus da transgressao sofrer as respectivas moes e SUportar 0 peso daculpa e do remoSo Em contrapartida quem cumprir a seu dever so pode remeter-se a Deus quanta ao resuhado daaltao

De maneira sensivelmente diversa os adeptas da lilica da responsabi_ lidade seguem duas etapa primClramnte reBetem sabre as faros e as condifoes presentes e depois deliberam A legitimaao das decisoes cal ca-se em um pensamemo indutiva Ao claborarem e ao distinguirem 01shyroes os agemes detem-se em uma delas apos fazer uma avaliafaa dos efeitos que poderao vir a OCOrrer As escolhas decorrem de um julzo nao codifieado de uma compreensao do comexto historieo e de uma anted paao das impactas que as aoes irao provocar Sao escolhas ex post que derivam de um exame que 50 reahza quais as vantagens e as desvantashygens que cada escalha implica Quais as passibilidades de alcanfar objeshytivos determinados Quais os CUstos envolvidos Quem se beneficia comisso e quem fica prejudicado

Os agentes levam em COnta as circuostandas e as multiplas opoes que 50 oferecem uma Ve que assumem de antemao fins especifieos au medem as consequencias de cada decisao e afao Para els unda nau esta ordenada COmo em lun brevia-ia no qual so des ltI bullp I da bem Acei tam cameter uill OlaI me u0middot po r nI I i

139

dlI1do par urn atalho para chegar ao bem Tornam-se entao refens de lIId dilemas Debatem-se diante de inc6gnitas ao antecipar mentalmente I tmltados e ao enunciar hip6teses de trabalho Equacionam riscos e acashym~ captam as forltas em jogo imaginam estrategias alternativas levam

111 conta 0 presente e 0 futuro e nem por isso lhes faltam princfpios ou cCfupulos

1 na vertente do utilitarismo procuram 0 maximo de bem para a maior numero

2 na vertente da finalidade assumem os fins definidos como bons pela coletividade a qual pertencem

No reverso da medalha porem quando as escolhas revelam-se infelishyfes ou quando paradoxalmente os efeitos das decisoes tomadas e das 1~6es empreendidas nao correspondem aos prop6sitos iniciais - nao semeiam 0 bern e infligem dores e males ainda maiores do que aqueles que pretendiam evitar - entao os agentes suportam as sanlt6es cia coleshyeividade Mais ainda carregam 0 fardo do malogro e da inepcia Escreve Renato Janine Ribeiro

Ios olhas de muitos a etica da responsabilidade aparece como uma indecencia a que ela nao e e nao como 0 que e uma etica menos ciosa das princfpios mas nem por isso leve de portar porque e implashycavel com quem nao consegue gem os efeitos prometidos ( ) a resshyponsabilidade impoe a obrigaqao do sucesso Nao hd perdao para 0

fracasso () um po[tico tem de estar preparado para a derrota e para a vazia que a etica da responsabilidade produz asua volta 35

A etica da responsabilidade projeta no futuro seus desideratos e torshyna-se uma etica dos resultados presumidos A validade de uma altao enshycontra-se na bondade dos fins almejados ou na antecipaltao de conseshyquencias beneficas poupando grandes males a coletividade interessada Nao e uma etica das boas intenltoes das quais 0 inferno esta cheio pais

1 pretende a1canpr metas factfveis 2 prioriza a urn s6 tempo a eficacia dos resultados e a eficiencia c10s

mews 3 alia posicionamcllto jllaillli I iql ~ postur al trn fsn1

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J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

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1-lt111 resumo dcscnll-W IlllLl polarizacao entre a etica da convi(~~j()

1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

~ IT a consistencia existente entre os resultados pretendidos e os TeSlI111 dos alcal1(ados

As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

los de tamar decisoes dois moldes que permitem distinguir c lili11 U

discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

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as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

reposicionaveis aceitam escrita

EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 33: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

J4D tCCI Empresarial

A etica da convicfdo e uma etica das certezas e dos inlperativos cau g6ricos das ordenac6es incondicionais e das mentes perfiladas Repolls) no confono das respostas acabadas e das verdades absolutas Euma etic convencional disciplinada formalista e incondicionaI que se inspira elll

valores eternos e em verdades reveladas Lembra de algum modo ()

misticismo religioso na medida em que as orientacoes pressupostas sao percebidas como sagradas E uma etica saturada pela universalidade d(sua profissao de fe

A etica da responsabilidade por sua vez e uma etica das duvidas 011

das interrogac6es uma etica que se subordina ao exame das circunstanshycias e dos fatores condicionantes enfrenta a vertigem das Controversias c

o desafio das solucoes incertas desemboca em prognosticos Euma etica situaciona~ aberta cetica e condicional em busca do horizonte possishy

vel de cada epoca moldada pelas analises de risco e precariamente estrishybada em certezas provis6rias sujeita a dinamica dos costumes e do coshynhecimento Euma etica saturada pela historicidade de seu ptojeto

A etica da conviccao imbui-se de principios universalistas e anistoricos confortada por sua pureza doutrinaria faz Com que os agentes por ela inspirados passem ao largo das implicacoes que suas decisoes acarretam

A etica da responsabilidade ao Contrario faz com que os agentes mergulhem na analise dos COntextos hist6ricos das variaveis conjunturais do fogo cruzado das forcas em jogo e respondam pelos efeitos que suas decisoes provocam

Figura 19

As duos teorios eticos

Rc lOILa lIu ClJL1~lI11 1 ltl~ middotmiddotIntlcnta[I-(rlieem lhi~respot~~~=~~~r~J cl~~ J~t~rgtHlli)S~ rI d~-jiit UJL1l

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1( corresponde a um idealisma purista - dogmatico 11rico dcdurivn 111l1iquelsta rfgido absoluto - e a etica da responsabilidade lJUC

I Iresponde a urn realismo pragmatica - analitico calculista il1dutivq pllllalista flexive1 relativista De forma metaf6rica a primeira refktt (J

1 cino dos ceus especie de essencia sagrada mistica e transcendenld ilLjuanto a segunda expressa 0 reino dos homens de modo pr()fll1o

IllLlndano e secular Conttapoem-se assim uma etica da fe e uma etica da razao aindll

qlle ambas se pretendam racionais E por que Porque 0 jufzo final J( na consiste em constatar se as acoes correspondem fielmente as presai oes preestabe1ecidas enquanto 0 juizo final da outra consiste em vcrih

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As duas matrizes eticas configuram dois modos absolutamentt disllll

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discursos morais A etica da conviccao conforma seus adepto~ a (1111 PIII

junto de obriga~6es e ao mesmo tempo os fortifica com as cCrllII 1111i proclama A etica da responsabilidade convence seus adeptos COllI I I 11

Gl de suas razoes e ao mesmo tempo os atardoa com as inccr(Imiddot 11 rnaneja Os riscos que ambas correm sao por isso mesmo divtrCls ILl primeira ha sempre rondando 0 fantasma do fanatismo com SlIS lIIi

Figura 20

As duos teorios eticos

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as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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Segunda E(H~ao Revista e Atualizada

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EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

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11 EtCQ EmpresQllU1

as bruxas e seus autos-de-fe na segunda hi sempre 0 perigo da Cony sao do ceticismo em cinismo justificando 0 usa de meios crueis para 1

consecu~ao dos objetivos ou legitimando a onipotencia do arbftrio COllI seu desfile de abusos e honores

Resta uma importante observa~ao a fazer relativa ao enfoque teorieo adotado aqui nao e a subjetividade dos agentes que tern 0 condao dl definir 0 que obedece a tal ou qual orienta~ao etica mas os padr6es cllJshyturais objetivos e observaveis A perspectiva portanto e socio16gica macrossocial e toma as coletividades como referenciais Nao basta alshyguem imaginar universalizltlve1 uma norma para que ela se torne etica () jufzo moral individualnao possui a faculdade de Olltorgar carater etica a decis6es ou a~6es

As leis morais ou os ideais dos discursos morais que obedecem a logishyca da etica da convic~ao correspondem a prescri~oes sociamente validashydas De forma similar os fins almejados ou as conseqiiencias presumidas dos discursos morais que obedecem a logica da etica da responsabilidade correspondem a propositos sociamente validados Assim sao os padroes culturais partiIhados pela coletividade que servem de regua e de esquashydro amoralidade pois permitem de urn lado conhecer a efetiva hierarshyquia dos valores e de outro indicam a abrangencia e a il11parcialidade do altruismo que se deve praticar Sao os padroes cuIturais macrossociais que conferem as a~6es sua legitima~ao etica ainda que esta e aqueles estejam condicionados por rela~6es de poder

A legitimagao etica Nem todo mundo tem um prero

nao s6 porque a venalidade e abominada mas tambem porque ela

depende de condir6es particulares

onvergencias e confronta9oes

Argumenta-se as vezes que nao se pode falar de moralidade em S1shyIIlloes-Iimite por exemplo no caso da sobrevivencia ffsica ou no chashy

IIlldo estado de necessidade quando um agente sacrifica 0 direito do olltro para garantir 0 seu porque quem pratica 0 ato nao ptovoca a situshy1iio por sua vontade nem pode evita-la E 0 casu de uma calamidade 1H lIral que detona 0 furto famelco a a~ao visa a salvar os agentes de perigo atual inadiavel

Estariam entao suspensos os padroes morais Claro que nao E a rashytio e bem evidente os padr6es estao sendo simplesmente transgredidos ) que pensa disso a colerividade Nao faz sentido que as pessoas s6 teshyIlham humanidade em situa~6es de normalidade e se convertam em besshyI a-fera quando tudo desanda No momento em que os padroes morais (stao em jogo cabe perguntar-se a coletividade chancela ou nao a escoshylila feira Por exemplo matar consritui um estigma na civiliza~ao crista porem se 0 ato ocorrer em legftima defesa justifica-se a quebra do manshydamento Salvo raras exce~oes integristas em quantas ocasioes comunishydades ou sociedades crisras deixaram de promover mortidnios por uma hoa causa Esrariam elas mergulhadas na amoralidade alem das dimenshylti)cs do universo conhecido Os regramenros marais deixam assim de valer Nao essa e uma fasa resposta Diga-se logo com todas as letras em situa~6es-Limite a coletividadc conftore endosso mora Is transgresshytlCS por IlllrrCl)cl~ls que ~cjlln Ill~i ~nh 1~ltaTiLas (of)dilllS dlsdlt qU( middottjllll nlll(II~ il1lpan iii

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C+ _ ~-- shy--shy ~ ~~~~_ coo

oJ j~

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EMPRESARIAL A Gestao da Reputagao

Posturas responsaveis nos neg6cios na poftica

e nas reacoes pessoais

Page 35: Para que etica? - feiraconceitual.files.wordpress.com · !Jova de Sabiny (regiao leste de Uganda) aboliu a muti ... uso de contraceptivos; • 0 . direito de serem contratadas no

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