Download - Crucificar o ego para viver
Crucificar o Ego Para Viver
Silvio Dutra
Dez/2015
2
Sumário Introdução 3
Renúncias Necessárias 4
A Amputação Que É Necessária Para Entrar no Céu 12
“...quem neste mundo odeia a sua vida,” 17
Renúncia e Abnegação 21
O Verdadeiro Significado da Renúncia 25
Aquele que Não Renunciar a Tudo o Que Tem Não Pode Ser Meu Discípulo
35
Criado para Ser Espiritual e não Carnal 44
Porque a Vida Eterna Demanda a Morte do Nosso Ego
46
Aquele que Não Renunciar a Tudo o Que Tem Não Pode Ser Meu Discípulo
52
Se Não Perder Não Ganhará 61
Trazendo no Corpo a Mortificação de Jesus 66
Esvaziar-nos de nós Mesmos Para Sermos Úteis 70
Escrito na Mente e no Coração 77
O Governo Usurpador da Alma Sobre o Nosso Espírito
84
A real condição da natureza humana 106
O homem é inimigo de Deus 112
A Carnalidade é Inimiga de Deus 116
Despindo-se do Velho e Revestindo-se do Novo 122
Como e porque ser espiritual e não carnal 125
Não Mais na Carne 177
A Supremacia do Espírito Sobre o Corpo 186
Espiritual 201
A Natureza da Nova Criatura em Cristo Jesus 207
Natural e Espiritual 213
Curando a Doença e Não Aliviando Somente os Sintomas
221
Destruindo a Fábrica do Mal e Não Apenas os Seus Produtos
226
3
Introdução
Watchman Nee costumava dizer que a primeira e
principal lição que deveria ser ensinada aos novos
convertidos era aquela que foi tão enfatizada por
nosso Senhor Jesus Cristo em seu ministério
terreno, de que deveríamos nos negar a nós
mesmos, tomar a cruz diariamente e segui-lo para
que pudéssemos ser de fato seus discípulos.
Como há muita falta da devida compreensão do
significado desta ordenança, resolvemos tratar do
assunto neste livro, fundamentando nossas
palavras no ensino bíblico e na forma como esta
verdade declarada por nosso Senhor se aplica e se
ajusta à realidade prática da vida.
Com tal propósito em vista reunimos alguns dos
vários artigos que escrevemos sobre este assunto e
esperamos que eles sejam de alguma valia para os
amados leitores.
4
Renúncias Necessárias
Nós lemos no texto de Lucas 14.25-35 o seguinte:
“25 Ora, iam com ele grandes multidões; e,
voltando-se, disse-lhes:
26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e
mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda
também à própria vida, não pode ser meu discípulo.
27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não
pode ser meu discípulo.
28 Pois qual de vós, querendo edificar uma torre,
não se senta primeiro a calcular as despesas, para
ver se tem com que a acabar?
29 Para não acontecer que, depois de haver posto
os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que
a virem comecem a zombar dele,
5
30 dizendo: Este homem começou a edificar e não
pode acabar.
31 Ou qual é o rei que, indo entrar em guerra contra
outro rei, não se senta primeiro a consultar se com
dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele
com vinte mil?
32 No caso contrário, enquanto o outro ainda está
longe, manda embaixadores, e pede condições de
paz.
33 Assim, pois, todo aquele dentre vós que não
renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu
discípulo.
34 Bom é o sal; mas se o sal se tornar insípido, com
que se há de restaurar-lhe o sabor?
35 Não presta nem para terra, nem para adubo;
lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir,
ouça.”
6
A obediência e serviço a Cristo são na verdade uma
sequência de renúncias feitas por amor a Ele, e para
que a Palavra de Deus se cumpra em nossas vidas.
Por exemplo, há necessidade que os pais renunciem
a seus filhos, e os filhos a seus pais, para que o
propósito de Deus relativo ao casamento se
consolide, pelo ato de deixar o homem pai e mãe,
se unir à sua mulher, para que não sejam mais dois,
mas uma só carne aos olhos do Senhor.
Todavia, há uma renúncia suprema que se impõe ao
próprio casal, de maneira que deverão aprender a
renunciar-se mutuamente, para que o amor e
serviço a Cristo, venham em primeiro lugar em suas
vidas.
Por isso, nosso Senhor enunciou claramente às
multidões que O seguiam, as condições necessárias
para o discipulado, porque ninguém poderá ser Seu
discípulo se não renunciar a tudo quanto possui.
7
Quem quiser ser discípulo de Cristo terá que
aprender a renunciar a tudo que lhe seja muito
querido, e até à Sua própria vontade.
Ninguém poderá guardar a palavra de perseverança
do Senhor, que consiste em não negar o Seu nome
e os Seus mandamentos, sejam quais forem as
circunstâncias, caso não se tenha um sincero amor
a Cristo que seja superior a tudo o mais que ame
neste mundo, incluindo a sua própria vida.
Isto porque nas situações práticas da vida, o serviço
ao Senhor exigirá renúncias da parte de Seus
discípulos.
Eles terão que sacrificar os interesses de outras
pessoas e até os seus próprios interesses, para que
possam, não raras vezes, se dedicarem ao serviço do
Senhor.
Para melhor esclarecer o caráter da renúncia que se
exige dos discípulos, nosso Senhor comparou tal
renúncia como aquela que se faz necessária aos que
se empenham numa guerra.
8
Eles terão que reunir recursos para a batalha e terão
que deixar todas as demais coisas que eles amam
para que possam se dedicar aos combates que terão
que empreender na guerra em que estiverem
empenhados.
Para o mesmo propósito usou a ilustração de quem
edifica uma torre.
Ele não poderá concluir a construção caso não
calcule o custo dos materiais e caso não se dedique
totalmente ao projeto da torre que pretende
construir.
Isto lhe tomará tempo e dinheiro e não poderá estar
mais dedicando a totalidade do seu tempo a outras
atividades e interesses.
O afeto natural pelas pessoas que amamos terá que
ceder lugar muitas vezes ao afeto espiritual, que
decorre do amor celestial divino, para o
atendimento daqueles aos quais devemos servir
pela vontade do Senhor, toda vez que tais afetos
colidirem.
9
Servir ao Senhor é então comparado aos sacrifícios
e renúncias que se exigem daqueles que se
empenham numa guerra ou num projeto de
construção.
Quando o nosso afeto natural pelos nossos pais
entrar em competição com o nosso dever evidente
para com Cristo, nós temos que dar prova do nosso
amor ao Senhor, cumprindo o que se exige de nós,
conforme revelado na Sua Palavra, mesmo quando
isto signifique contrariar aqueles que amamos, ou
então que tal implique um grande sacrifício a ser
feito por nós.
Cristo deve ter a preferência em todas as coisas, se
quisermos fazer a Sua vontade, e sermos agentes da
sua bênção para muitas pessoas que necessitam do
seu amor.
Quantos interesses de amigos terão que ser
deixados para trás para que possamos fazer a
vontade de Deus, em relação a algum serviço
prático que Ele nos tenha ordenado.
10
Não raras vezes, Deus colocará o nosso amor por Ele
à prova, fazendo com que tenhamos a oportunidade
de demonstrar na prática a nossa dependência dEle,
e fidelidade a Ele e à Sua Palavra, em meio às
tribulações que nos alcançam em forma de
enfermidades, carências, perseguições, etc.
Se não estivermos dispostos a fazer a renúncia total
que Cristo exige de nós, é certo que o inferno se rirá,
e muitas pessoas também rirão de modo
escarnecedor por termos começado um
relacionamento com o Senhor, e não termos
permanecido de modo constante na realização e
consumação do nosso amor a Ele, por Lhe termos
voltado as nossas costas.
Assim, todo verdadeiro cristão deve ter uma
posição firme e definida contra todo tipo de
apostasia e corrupção de mente e de espírito,
porque tal apostasia e corrupção lhe tornarão inútil
para os propósitos de Deus, e ele virá por fim a ser
como o sal que perdendo o seu sabor, para nada
11
mais presta senão para ser lançado fora para ser
pisado pelos homens, como disse Jesus.
12
A Amputação Que É Necessária Para Entrar no Céu
“E, se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor
entrares maneta na vida do
que, tendo as duas mãos, ires para o inferno, para o
fogo inextinguível onde
não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga.
E, se teu pé te faz tropeçar, corta-o; é melhor
entrares na vida aleijado do que, tendo os dois pés,
seres lançado no inferno onde não lhes morre o
verme, nem o fogo se apaga.
E, se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o; é
melhor entrares no reino de Deus com um só dos
teus olhos do que, tendo os dois seres lançado no
inferno, onde não lhes morre o verme, nem o fogo
se apaga.” (Marcos 9.43-48)
13
Com este ensino, nosso Senhor Jesus Cristo
enfatizou a vital importância da salvação da alma,
pela demonstração que caso fosse necessário para
obtê-la, deveríamos amputar partes importantes do
nosso corpo físico, que por suposição, fossem a
causa de nos manterem aprisionados ao pecado.
É evidente que Ele não está recomendando uma
prática de mutilações literais, porque nos é
ordenado também por Deus o cuidado com a
preservação do nosso corpo físico.
Mas, para ilustrar que em não raros casos, a
salvação será obtida por renúncias a práticas
pecaminosas, que serão dolorosas para nós, e
muitas vezes, que até mesmo colocarão em risco a
nossa integridade física – quantos não foram e que
têm ainda sido martirizados por conta da fé que
abraçaram, ainda que não tivessem tropeçado,
dando causa a isto - todavia, sofreram com
paciência e voluntariamente o martírio sabendo
que havia uma vida muito melhor e eterna lhes
14
aguardando, a qual, na verdade, já estavam
experimentando desde que se converteram a
Cristo.
O ensino de nosso Senhor alude à mortificação do
pecado, que deve ser feita por todos os cristãos.
Este é um dever que deverão operar para a sua
santificação, pelo corte de afeições pecaminosas e
todo o tipo de inclinações carnais que os levem a
pecar. Os que se entregam a este trabalho
evidenciam em si mesmos que entraram no reino de
Deus, e por conseguinte, jamais serão lançados no
inferno eterno.
A ilustração da amputação dos membros indica
portanto que o trabalho de mortificação do pecado
não é algo nocional, ou de mero caráter intelectual,
mas algo que será realizado em nossa própria vida,
atingindo o âmago do nosso ser, pelo despojamento
do velho homem, da natureza terrena decaída no
pecado que foi crucificada juntamente com Cristo,
15
recebendo a necessária sentença de morte para que
possamos viver em novidade de vida.
Nosso Senhor não fez portanto, uma aplicação
relativa a um suposto castigo de pecados
cometidos, mas uma alusão à remoção necessária
do pecado, para que possamos entrar no reino de
Deus.
Assim, as concupiscências que combatem contra a
alma devem ser removidas.
Esta amputação de caráter espiritual não é para
morte, assim como na ilustração apresentada por
nosso Senhor não foi indicada a amputação de
qualquer órgão vital. É uma remoção para vida e
não para morte. Assim como quem amputa um
órgão gangrenado para continuar vivendo, neste
caso apresentado a retirada das inclinações e dos
hábitos pecaminosos visam mais do que permitir
que continuemos vivendo esta vida natural, senão
que obtenhamos a vida espiritual eterna.
16
Outra parte importante do ensino de Jesus é o de
que a alma embora esteja morta com suas partes
gangrenadas pelo pecado, ela pode ainda ser
recuperada, desde que nos apresentemos a Ele para
a realização deste trabalho de remoção daquelas
coisas que são para nós a causa do nosso tropeço, e
que impedem a nossa entrada no reino de Deus.
Assim, aqueles que carregam este corpo de morte
do pecado em sua jornada terrena, mas do qual vão
se despojando ao longo de sua caminhada, haverão
de ter a sua entrada no reino de Deus, amplamente
suprida.
17
“...quem neste mundo odeia a sua vida,” (Jo 12.25)
O mesmo Jesus que disse em João 12.25.26:
“Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste
mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida
eterna. Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde
eu estiver, ali estará também o meu servo; se
alguém me servir, o Pai o honrará.", também disse
que veio a este mundo para que tivéssemos vida, e
que a tivéssemos em abundância (Jo 10.10).
Não há qualquer paradoxo entre as duas passagens
bíblicas citadas; ao contrário, são idênticas e
complementares mutuamente.
O ponto a ser destacado é que nosso Senhor se
refere a dois tipos de vida: a natural, relativa a este
mundo cuja fonte reside na nossa natureza terrena
pecaminosa, a qual deve ser perdida pelo trabalho
da cruz, por odiarmos o pecado que em nós habita
e que há no mundo; e a vida que é santa, espiritual
18
e celestial que recebemos por meio da fé em Jesus,
pois é este o tipo de vida abundante que somente
Ele pode nos dar.
A manifestação desta vida celestial abundante
independe de circunstâncias, se somos ou não
afligidos por provações em forma de enfermidades,
perseguições, pobreza, e até mesmo pelas
tentações da carne, do mundo e do diabo.
Aquele que tem carregado a sua cruz diariamente, e
que tem crucificado o seu ego, seguindo o pendor
do Espírito Santo por caminhar em santificação com
Jesus, terá uma fonte de paz, alegria, gratidão,
amor, jorrando em seu interior para a vida eterna.
Não importa que esteja preso injustamente, por
anos, como sucedeu com José no Egito, conforme o
conselho e determinação de Deus, para bons
propósitos definidos para o aperfeiçoamento de
José na paciência e na santificação; enquanto o
mordomo de faraó, que havia transgredido contra o
19
próprio rei, foi colocado por ele em liberdade em
poucos dias.
Os apóstolos foram também presos e duramente
perseguidos, mas perseveraram na fé, na paciência
e na esperança, enquanto aqueles que os oprimiam
prosperavam materialmente neste mundo, e no
entanto, não haviam alcançado a vida eterna
abundante que eles possuíam.
Deus corrige, repreende e disciplina apenas aqueles
que são seus filhos, e esta é uma das razões porque
são provados por Ele em circunstâncias em que os
que os ímpios são livrados rapidamente, enquanto
o crente permanece por maior período debaixo dos
mesmos sofrimentos em que eles se encontravam.
Nestas tribulações dos crentes estão sendo forjadas
a fundamentação do caráter, a paciência, a
perseverança, a fé e a esperança.
É evidente que naqueles que amam o tipo de vida
que o mundo tem a oferecer, ou seja, as coisas e os
tipos de comportamentos que são contrários à
20
vontade e santidade de Deus; nenhuma destas
graças está sendo forjada, até mesmo porque não
as desejam ou conhecem; e como aqueles que
amam o mundo permanecem como inimigos de
Deus, jamais obterão a vida eterna que está em
Jesus.
21
Renúncia e Abnegação
Qual é o grande motivo da renúncia e abnegação
que nos são exigidas por nosso Senhor Jesus Cristo?
Creio que seja o compromisso total que é necessário
ter com Ele e com o evangelho.
Em várias passagens Ele ilustrou o caráter deste
compromisso pleno quando citou, por exemplo, que
quem lança mão do arado e olha pra trás não é apto
para o reino de Deus (Lucas 9.61); que quem começa
a construção de uma torre ou uma guerra deve
concluí-las empenhando-se até o fim (Lucas 14.28-
32).
O arar o campo, a construção da torre ; e a
declaração de guerra devem ser minuciosamente
calculados e não podem ser abandonados ou
interrompidos de modo algum, sob pena de termos
o nosso trabalho prejudicado e não concluído.
22
Fomos empregados como lavradores e
construtores, e alistados como soldados de Cristo
ao nos convertermos a Ele, e para agradá-lo
deveremos cuidar inteiramente dos interesses do
seu reino.
Em consequência teremos que renunciar a muitos
projetos e desejos pessoais; teremos que priorizar o
nosso tempo para Cristo e o reino, e isto certamente
encurtará o tempo que dispendemos sobretudo
com os nossos familiares e as pessoas que exigem
muito da nossa atenção em nossos
relacionamentos, e por isso Jesus disse que:
“Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe,
a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também
à própria vida, não pode ser meu discípulo.” (Lucas
14.26)
Como isto contraria os nossos sentimentos e
vontade naturais, então necessitaremos colocar em
prática o que Ele nos ensina:
Primeiro,
23
“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém
quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua
cruz, e siga-me;” (Lucas 14.27)
E em seguida,
“Assim, pois, todo aquele dentre vós que não
renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu
discípulo.” (Lucas 14.33)
Não há outra alternativa para vencer nossos afetos
naturais que possam nos impedir de servir ao
Senhor inteiramente senão a crucificação do nosso
ego com todos os seus desejos.
Teremos que contrariar nossos desejos e até a
própria vida para que possamos servir a Cristo da
maneira pela qual convém ser servido.
Ele nos deu o exemplo supremo disto não fazendo a
sua própria vontade, senão a do Pai, para que
pudesse consumar a nossa salvação.
De igual forma isto se aplica a nós, porque não
podemos nos empenhar na obra de salvação de
24
almas, sem que se veja operando em nós, não a
nossa, mas a vontade do Senhor.
25
O Verdadeiro Significado da Renúncia
“26 Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e
mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda
também à própria vida, não pode ser meu discípulo.
27 Quem não leva a sua cruz e não me segue, não
pode ser meu discípulo...
33 Assim, pois, todo aquele dentre vós que não
renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu
discípulo.” (Lc 14.26, 27, 33).
O verdadeiro significado da renúncia cristã não diz
respeito tanto ao que abandonamos e o esforço que
realizamos, quanto por quem o fazemos, a saber,
se por nós mesmos ou por Cristo.
Este desapego às coisas que mais amamos, inclusive
a nós mesmos, conforme nos é imposto pelo Senhor
para segui-lO, é de caráter totalmente diferente das
renúncias que as pessoas costumam fazer para
atingirem seus objetivos, porque elas o fazem por si
26
mesmas e por aquilo que escolhem fazer, e não para
Cristo, e segundo a Sua vontade divina.
O cristão é portanto chamado a se auto negar e
carregar a cruz que mortificará o seu ego, para
poder seguir verdadeiramente a Cristo, de maneira
que possa dizer de fato que tem feito a vontade de
Deus neste mundo, e não a sua própria vontade.
Nós selecionamos apenas três versículos da porção
de Lucas 14.25-35 nos quais Jesus expôs as
condições exigidas por Ele para o discipulado, de
maneira que aqueles que pretendem segui-lO
fazendo a Sua vontade estejam plenamente
instruídos quanto ao que será exigido deles para tal,
de maneira que possam se armar do pensamento
das coisas que terão que fazer e ao que terão que
renunciar se pretenderem fazer de fato a vontade
de Deus.
Todos os que pretenderem seguir a Cristo têm que
contar com o pior, e se prepararem
adequadamente.
27
É possível que muitos discípulos de Jesus pensassem
que Ele lhes diria o seguinte: “Se qualquer homem
vier a mim, e for meu discípulo, ele terá honras e
riquezas em abundância neste mundo.”. Mas Ele
lhes disse exatamente o contrário disto, e lhes
revelou que deveriam se dispor a deixar tudo o que
fosse querido a eles, e deveriam ser desmamados
de tudo aquilo em que buscavam o seu conforto e
segurança, e que teriam aflições.
Eles deveriam morrer para tudo aquilo que lhes
desse conforto e segurança no mundo e morrerem
inclusive para si mesmos, não mais vivendo para
fazer a vontade do eu, de maneira que pudessem
conhecer e praticar a vontade de Deus.
Assim ninguém pode ser discípulo de Cristo se não
estiver disposto a contrariar a vontade de seus
familiares (v. 26) quando esta vontade entrar em
competição com a de Deus. E não somente isto,
deve estar disposto a contrariar a sua própria
vontade e vida. Se não for sincero nisto e se não o
28
fizer, não poderá ser constante e perseverante na
obra de Deus, a não ser que ame mais a Cristo do
que qualquer outra coisa neste mundo, e esteja
disposto a se separar de tudo aquilo que ele possuir
oferecendo-o como um sacrifício para Deus, de
maneira que Cristo possa ser glorificado por esta
nossa separação para nos consagrarmos
inteiramente a Ele (tal como os mártires que não
amaram as suas vidas diante da morte).
É somente quando nos separamos dos afetos que
nos prendem a este mundo, que somos capacitados
a servir melhor a Cristo.
Assim Abraão se separou do próprio país dele, e
Moisés da corte de faraó.
Não é feito nesta passagem de Lucas menção a
casas e terras porque a filosofia ensinará a olhar
para isto com desprezo; mas o cristão considera isto
de uma maneira bem mais elevada, por saber que
tudo o que o homem amar seja em seu
relacionamento com pessoas ou bens, se ele for um
29
discípulo de Cristo, terá que amar menos estas
coisas do que a Cristo, e estar disposto a se separar
delas caso seja necessário para continuar seguindo
ao Senhor.
Não que as pessoas que amamos devam ser em
algum grau desprezadas, mas deve ser perdido o
conforto e satisfação que achamos nelas para que
somente Cristo seja todo o conforto e sustentáculo
de nossas vidas. E é a este tipo de renúncia a que o
Senhor se refere ao dizer que é necessário renunciar
a tudo para ser seu discípulo, isto é, aqueles que
pretendem segui-lo não podem ter a razão da sua
esperança e conforto em qualquer coisa ou pessoa
deste mundo, porque terão que aprender a
depender inteiramente do Senhor porque Deus os
provará muitas vezes vendo falhar ou faltar estes
confortos, e não raro, mesmo aqueles que muito
amamos e prezamos se levantarão contra nós
quando perceberem a nossa plena disposição de
nos consagrarmos inteiramente a Deus.
30
Quando nosso dever para com nossos pais entrar
em competição com nosso dever evidente para
Cristo, nós temos que dar a preferência a Cristo. Se
nós tivermos que negar a Cristo para não sermos
banidos por nossos parentes, nós temos que perder
a companhia deles e permanecer fiéis a Cristo.
Todo homem ama a sua própria vida, mas nós não
podemos ser discípulos de Cristo se nós não O
amamos mais que nossas próprias vidas. A
experiência dos prazeres da vida espiritual e a
esperança da vida eterna farão com que esta dura
declaração do Senhor se torne fácil. Quando a
tribulação e a perseguição surgirem por causa da
Palavra, então principalmente a tentação será
superada se nós amarmos mais a Cristo.
A tentação constante de buscarmos a Deus para que
Ele faça a nossa vontade, em vez de nos inteirarmos
qual seja a vontade dEle para conosco, para que nos
empenhemos em fazê-la, só pode ser tratada pela
cruz, que imporá sua sentença de morte sobre os
31
desejos carnais de nossa alma, de forma que
sejamos conduzidos pelo Espírito Santo.
Há um grande equívoco em se pensar que uma
grande fé é aquela que consegue obter coisas de
Deus para própria e exclusiva conveniência pessoal.
Mas, ao contrário uma fé verdadeira em exercício
nos capacitará a renunciar a tudo e a fazer com
amor e paciência perseverante a obra que Deus nos
tem designado, enquanto descansamos na Sua
promessa de suprir aquilo que nos for necessário.
Esta fé verdadeira em exercício fará muitas petições
a Deus, mas somente daquilo que for da Sua
vontade, para que possamos continuar a Seu
serviço neste mundo, que não devemos amar, e do
qual devemos estar desmamados.
A verdadeira fé nunca levará um cristão
amadurecido e devidamente instruído a buscar o
que seja da sua própria conveniência, mas somente
aquilo que é aprovado e conveniente de ser pedido
a Deus.
32
Ele saberá desfrutar o melhor desta vida, sem
qualquer ascetismo, mas nada terá o domínio de
sua vontade e coração, porque este domínio
pertencerá ao Senhor, que sempre quer o melhor
para nós.
Os que são verdadeiramente discípulos de Cristo
estão construindo uma torre que os aproxima cada
vez mais das realidades do céu, e eles sabem que a
construção desta torre lhes impõe o custo da
mortificação dos seus pecados, da renúncia ao
mundo e ao eu, e de tudo o mais que é necessário
para permanecerem em sua obediência a Deus.
Eles são também como reis empenhados numa
grande guerra contra os poderes das trevas, contra
o pecado, e contra as tentações do mundo.
E a vitória nesta guerra lhes exigirá o custo da
vigilância, da oração perseverante, de estarem
equipados continuamente com toda a armadura de
Deus, resistindo firmes na fé ao diabo, vivendo em
sobriedade.
33
Enfim, o discipulado cobra o preço da consagração
total a Deus, porque o homem de coração dobre
não obterá nada do Senhor. Não se pode servir a
dois senhores. Ou se serve a Deus ou às riquezas. Ao
que é terreno ou ao que é celestial. Ao que é do
Espírito Santo ou ao que é da carne. À luz ou às
trevas. Não se pode ter um pouco de um e um pouco
de outro nestas coisas citadas. Se tivermos um não
teremos o outro. Porque onde estiver o nosso
tesouro, ali estará também o nosso coração. Mas é
comum que muitos se enganem pensando que
estão seguindo a Cristo e fazendo uma obra
verdadeira para Deus enquanto não renunciam a
tudo quanto devem renunciar para que Cristo e
somente Cristo seja o grande prazer e objetivo de
suas vidas.
A vida cristã é uma declaração de guerra contra o
pecado, o diabo e o mundo, para que almas possam
ser resgatadas das trevas para a luz de Jesus. E
somente os que têm calculado o custo desta guerra
34
e pago efetivamente o preço necessário poderão
desfrutar das grandes vitórias que obterão pelo
auxílio da graça do Senhor.
Sem esta renúncia que é imposta aos discípulos de
Cristo eles não poderão ter sal em si mesmos para
preservar este mundo da corrupção, e salgarem a
vida de muitos com o testemunho de suas próprias
vidas. Sem renúncia o sal perde o sabor e quando
isto acontece é lançado fora e será pisado pelos
homens, porque terá perdido a sua função de salgar
para preservar. Isto ensina de modo muito claro que
o Senhor somente pode usar aqueles que estiverem
consagrando efetivamente suas vidas.
35
Aquele que Não Renunciar a Tudo o Que Tem Não Pode Ser Meu Discípulo
Nosso Senhor Jesus Cristo foi quem proferiu as
palavras do nosso título.
Há muitos ensinamentos para nós quanto a isto, na
chamada de Eliseu.
Gostaríamos de enfocar o que lemos no texto de I
Reis 19.19-21:
“19 Partiu, pois, Elias dali e achou Eliseu, filho de
Safate, que andava lavrando com doze juntas de
bois adiante dele, estando ele com a duodécima;
chegando-se Elias a Eliseu, lançou a sua capa sobre
ele.
20 Então, deixando este os bois, correu após Elias, e
disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe, e
então te seguirei. Respondeu-lhe Elias: Vai, volta;
pois, que te fiz eu?
21 Voltou, pois, de o seguir, tomou a junta de bois,
e os matou, e com os aparelhos dos bois cozeu a
36
carne, e a deu ao povo, e comeram. Então se
levantou e seguiu a Elias, e o servia.” .
Deus mesmo chamou Eliseu para ser profeta no
lugar de Elias, conforme se vê no verso 16, quando
lhe ordenou que ungisse a Jeú, rei de Israel, a
Hazael, rei da Síria, e a Eliseu por profeta.
Não foi numa escola de profetas, nem num templo,
que Eliseu foi chamado, mas no seu local de
trabalho, quando arava o campo com doze juntas de
bois, sendo que ele próprio arava com uma destas
juntas.
E não tem sido assim o método comum com o qual
muitos têm sido chamados pelo Senhor, para
deixarem suas atividades seculares, para viverem
do evangelho?
Eliseu não deixou pouco para se consagrar à sua
chamada, pois se diz que arava com doze juntas de
bois.
Ele ofereceu tudo o que tinha como um holocausto,
nas mãos do Senhor, como símbolo da sua renúncia
37
ao seu antigo modo de vida, quando matou os seus
bois e fez uma fogueira para assar a carne com os
instrumentos com os quais arava a terra.
Ele não seria mais agricultor dali por diante, porque
se desfez dos meios que eram necessários para a
realização do seu antigo sustento de vida.
Um dos motivos de Deus ter chamado Eliseu para
ser sucessor de Elias, foi o fato de apesar dele ser
um homem importante, que tinha servos, era
simples e trabalhador, porque se diz que ele
também estava trabalhando no arado, quando
podia deixar todo o serviço pesado a cargo dos seus
empregados.
Pessoas que buscam uma vida de mordomia neste
mundo não serão chamadas por Deus para a Sua
obra.
O pedido de Eliseu para se despedir de seus pais,
não foi uma desculpa para demorar a atender à
chamada do Senhor, como a citada em Lucas 9.61.
38
Ele somente o fizera por uma questão de respeito e
dever para com os seus pais.
Elias não constrangeu Eliseu a segui-lo, mas
lembrou-lhe somente que havia lançado o seu
manto sobre ele, como uma indicação de que estava
sendo chamado por Deus para ser preparado por
ele, Elias, para o ministério, e isto estava
representado no fato de que estaria debaixo das
vestes de Elias, isto é, de sua proteção e cuidado.
Eliseu se colocou humildemente na posição de servo
de Elias, e era o servo que lavava as mãos do profeta
como se vê em II Reis 3.11.
Há renúncias impostas para o exercício do
ministério
Muitos que são chamados pelo Senhor,
especialmente para a obra de missões, vivendo pela
fé, custam a entender em princípio, qual é o caráter
da chamada deles.
Até o próprio Eliseu, aquele gigante espiritual,
demonstrou estar ainda ligado a laços familiares de
39
sangue, quando o Senhor o chamou para o
ministério profético através de Elias (I Rs 19.19-21).
Muitos ficaram perplexos por grande tempo até
entenderem que as perdas que sofreram em suas
vidas, foram decorrentes desta chamada do Senhor
para o exercício do ministério.
O Senhor impõe renúncias àqueles aos quais chama,
tal como fizera com todos os apóstolos, que tudo
tiveram que deixar para poder segui-lO.
A quantas coisas e pessoas estamos apegados,
ainda que não estejamos devidamente
conscientizados de tal realidade.
E dificilmente entendemos que muitas perdas que
sofremos, e guinadas violentas que são produzidas
por Deus em nossas vidas, têm o propósito de nos
tornar desimpedidos para a realização da Sua obra.
Se não houver esta renúncia aprendida e recebida
de modo voluntário, pela consagração de tudo o
que somos e do que temos ao Senhor, não será
possível trabalhar para Deus, porque o nosso
40
coração estará apegado àquelas coisas e pessoas
das quais, o Senhor sabe que devemos nos
desprender primeiro (não deixar de lhes assistir,
nem abandoná-las, mas não ser presa de laços
sentimentais e emocionais, ou de dependência
financeira, psicológica ou de qualquer outra
ordem), para que possamos então fazer a Sua
vontade, sem que sejam tais coisas e pessoas a
principal ocupação de nossos pensamentos,
afeições e desejos.
Quando Deus chamou Eliseu através do profeta
Elias, este lançou a sua capa sobre Eliseu, indicando
que a autoridade espiritual que estava sobre Elias,
seria transferida por Deus, no tempo oportuno,
para Eliseu.
Mas desde já, ele teria que abandonar tudo para
poder seguir Elias, para ser preparado para ser o seu
sucessor.
Quando Jesus lança sobre nós a sua capa
concedendo-nos dons, capacitações, e Sua
41
autoridade, é para a realização da Sua obra, e não
da nossa. Para fazermos a Sua vontade e não a
nossa.
Adeus amigos! Adeus prazeres carnais e mundanos!
Adeus parentes! Adeus interesses particulares!
Adeus sonhos seculares! É a atitude que devemos
ter em nosso coração, tão logo identifiquemos que
fomos chamados para a realização de uma obra
específica para Deus.
Aqueles que não se auto negarem não poderão
tomar diariamente a sua cruz.
E sem tomar a cruz é absolutamente impossível
seguir a Jesus.
Porque a cruz nos imporá renúncias, empenhos,
deslocamentos, que a nossa carne não sente
nenhum prazer neles.
A cruz será um objeto de ofensa para aqueles que
não se autonegarem primeiro.
42
Eles se escandalizarão com os sofrimentos e aflições
que a cruz lhes trará quando estiverem
empenhados na realização da obra do Senhor.
Por isso, os apóstolos nos advertem quanto à
necessidade de estarmos armados com o
pensamento de que importa suportar todo tipo de
tribulação e oposição, que nos possam sobrevir por
causa da nossa consagração ao serviço de Deus.
Assim, aqueles que têm sido chamados por Deus,
em vez de ficarem perplexos e gemendo por causa
das coisas que estão sofrendo, devem aprender, tal
como Paulo, a se gloriarem nas tribulações que
estiverem sofrendo, e nas renúncias que o próprio
Deus lhes está impondo, porque estas aflições são a
prova mesma de que estão empenhados numa obra
que procede verdadeiramente de Deus, e isto é um
motivo não para tristeza, mas para alegria, é uma
grande honra, e não uma condição humilhante; uma
grande vantagem, recompensa e riqueza espiritual,
e nenhuma tragédia ou miséria. Afinal, deixaram de
43
confiar no cuidado dos homens, para viverem
debaixo do cuidado do Deus Altíssimo e
Onipotente.
Gloriemo-nos portanto somente no Senhor, nas
tribulações e na Sua cruz, porque, por meio de todas
estas coisas, somos capacitados a sermos bem
sucedidos na obra que realizamos para a glória do
Seu nome, e por meio das quais cessarão todos os
nossos fracassos e vazio de vida.
Eliseu que o diga! Tudo o que ele realizou para Deus
se tornou um grande exemplo para nós, de que vale
muito a pena tudo deixar para podermos seguir a
Jesus.
44
Criado para Ser Espiritual e não Carnal
Está declarada de modo muito claro e direto na
Bíblia, desde o seu primeiro livro de Gênesis, a
verdade relativa à condição natural de todo ser
humano de se inclinar para a sua natureza terrena
carnal pecaminosa, e por ela ser dirigido, em vez de
se inclinar para a natureza celestial e espiritual
divina, para a qual fora criado, para viver por meio
dela eternamente.
O próprio Deus expôs esta verdade no motivo
declarado do dilúvio que traria sobre toda a Terra:
“Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não agirá
para sempre no homem, pois este é carnal; e os seus
dias serão cento e vinte anos.” (Gênesis 6.3)
Veja a comprovação desta verdade, porque no meio
de toda uma geração que se inclinava e se movia
45
apenas pelo que era carnal, somente um homem
(Noé) havia se voltado para Deus, pela fé, e obtido
pela justificação, a coparticipação da natureza
divina, pela qual recebeu o testemunho de ser
homem justo, temente a Deus e que se desviava do
mal.
Viver na carne, segundo a lição que nos foi deixada
no dilúvio, opera a morte e a destruição.
E deste viver todos compartilham, em razão da
natureza que possuímos, até que sejamos
libertados e justificados pela fé em Cristo, para
recebermos uma nova natureza, na qual se cumpre
o propósito eterno de Deus na nossa criação.
Afinal, Deus é espírito, e importa que também o
sejamos para termos comunhão com Ele e
participação da sua vida divina.
46
Porque a Vida Eterna Demanda a Morte do Nosso Ego
Paulo poderia ter começado o 4º capítulo de 2
Coríntios com as palavras do verso 5:
“Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a
Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos
servos por amor de Jesus.”.
Porque para não pregarmos a nós mesmos, mas a
Cristo é preciso trazer o morrer de Jesus em nosso
corpo, em nosso ego, e em tudo que se refira à
nossa própria vontade e desejos, que devem ser
levados à morte na cruz, para que a vida de Jesus
possa se manifestar através de nós (v. 10).
Esta mortificação progressiva de todas as áreas de
nossas vidas há de ocorrer se tivermos uma
chamada para o ministério, tal como Paulo a tivera,
porque o ministério consiste em manifestar não a
nós mesmos, mas o que é relativo à vida de Cristo.
47
E para isto o velho homem tem que ser despojado,
para que a nova criatura se manifeste em poder
nestes vasos de barro que são os nossos corpos
mortais.
São vasos de barro porque têm a ver com o que
herdamos da natureza terrena de Adão, que foi
criada a partir do barro, dos elementos naturais
deste mundo, que passa.
Todavia, a nova vida em Cristo é do céu, e o seu
poder excelente pode se manifestar somente se a
casca do velho homem com suas vontades e desejos
for completamente quebrada através das
tribulações, perplexidades, perseguições, e
abatimentos, ao mesmo tempo que somos
consolados e amparados pelo Senhor pela
manifestação do Seu poder e amor, para que não
sejamos angustiados, desanimados, desamparados
e destruídos (v. 8, 9).
48
Esta será a experiência de todos aqueles que
consagrarem efetivamente suas vidas ao serviço do
Senhor.
Tal como Paulo, saberão, por experiência, o que
significa trazer diariamente no corpo o morrer de
Jesus para que a Sua vida possa se manifestar em
nós.
Eles saberão por experiência que toda a
mortificação que é operada neles, sobretudo no seu
ego, tem o propósito de gerar a vida de Cristo nos
seus ouvintes (v. 12).
Eles saberão que todo o seu dever é anunciar a fé
em Cristo, e a Sua morte e ressurreição, para a nossa
própria ressurreição, de modo que ministrando por
amor aos homens, possam todos abundar em ações
de graças, para a glória de Deus, por causa da
multiplicação da graça em muitos corações (v. 13 a
15).
Eles saberão que um cristão em seu posto de
trabalho, operando fielmente no Espírito, não
49
desfalece e suportará e sofrerá tudo por amor a
Cristo, ainda que o homem exterior se corrompa,
isto é, que enfraqueça, enferme, envelheça, porque
o homem interior, a saber, o Espírito é renovado
gradual e diariamente por Deus, segundo o Seu
próprio poder e glória (v. 16).
Assim saberá também que toda tribulação traz em
si mesma um propósito de nos tornar mais íntimos
e participantes da glória de Deus, e que se tornam
leves e momentâneas comparadas ao peso das
consolações e operações poderosas do Senhor no
nosso corpo, alma e espírito.
Um cristão experimentado, como Paulo, saberá
discernir a vida espiritual que não se experimenta
por vista, mas por fé, que se firma não nas coisas
visíveis que são temporais, mas nas invisíveis que
são eternas.
Portanto, à luz de todas estas afirmações que o
apóstolo faz nos últimos versos deste 4º capítulo,
50
nós podemos entender melhor o que ele pretendia
dizer nos seus quatro primeiros versículos.
Os que são de Cristo podem entender as palavras de
Paulo, a saber, o evangelho da cruz de Cristo, mas
não os incrédulos, porque seus entendimentos
foram cegados pelo Inimigo, de modo que não
podem enxergar a glória que há no evangelho, que
produz a sua vida ressurreta à medida que nosso
velho homem vai sendo despojado,
progressivamente, pela mortificação operada pela
cruz.
Para o mundo isto não é glória, quando muito,
masoquismo, porque não pode experimentar o
poder da vida do Espírito que se manifesta naqueles
que permitem a mortificação dos feitos do corpo
pelo poder de Deus.
Eles não podem entender que a cruz não é
carregada para nos aniquilar, mas para gerar a vida
eterna de Cristo, porque Ele veio a este mundo não
51
para nos matar, mas para que tivéssemos vida, e
vida em abundância.
Mas esta vida não pode ser experimentada, a não
ser na nova criatura, gerada em nós pelo Espírito, e
isto demanda a morte e despojamento progressivo
dos atos pecaminosos do velho homem, trabalho
este que é feito pela cruz que carregamos
diariamente, para que o Espírito não somente
mortifique o nosso pecado, como também
manifeste a vida poderosa de Cristo em nós.
Enquanto o que prevalece é o eu, eu, eu ... posso,
não posso; quero, não quero, jamais conheceremos
o significado de ser conduzido pela vontade de
Deus, e ser por ela capacitado a fazer
voluntariamente e com amor o que seja necessário
e contrário ao nosso querer, ao nosso sentir, e até
mesmo tudo que não haja em nós habilidade e
poder para fazer.
52
Aquele que Não Renunciar a Tudo o Que Tem Não Pode Ser Meu Discípulo
Nosso Senhor Jesus Cristo foi quem proferiu as
palavras do nosso título.
Há muitos ensinamentos para nós quanto a isto, na
chamada de Eliseu.
Gostaríamos de enfocar o que lemos no texto de I
Reis 19.19-21:
“19 Partiu, pois, Elias dali e achou Eliseu, filho de
Safate, que andava lavrando com doze juntas de
bois adiante dele, estando ele com a duodécima;
chegando-se Elias a Eliseu, lançou a sua capa sobre
ele.
20 Então, deixando este os bois, correu após Elias, e
disse: Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe, e
então te seguirei. Respondeu-lhe Elias: Vai, volta;
pois, que te fiz eu?
21 Voltou, pois, de o seguir, tomou a junta de bois,
e os matou, e com os aparelhos dos bois cozeu a
53
carne, e a deu ao povo, e comeram. Então se
levantou e seguiu a Elias, e o servia.” .
Deus mesmo chamou Eliseu para ser profeta no
lugar de Elias, conforme se vê no verso 16, quando
lhe ordenou que ungisse a Jeú, rei de Israel, a
Hazael, rei da Síria, e a Eliseu por profeta.
Não foi numa escola de profetas, nem num templo,
que Eliseu foi chamado, mas no seu local de
trabalho, quando arava o campo com doze juntas de
bois, sendo que ele próprio arava com uma destas
juntas.
E não tem sido assim o método comum com o qual
muitos têm sido chamados pelo Senhor, para
deixarem suas atividades seculares, para viverem
do evangelho?
Eliseu não deixou pouco para se consagrar à sua
chamada, pois se diz que arava com doze juntas de
bois.
Ele ofereceu tudo o que tinha como um holocausto,
nas mãos do Senhor, como símbolo da sua renúncia
54
ao seu antigo modo de vida, quando matou os seus
bois e fez uma fogueira para assar a carne com os
instrumentos com os quais arava a terra.
Ele não seria mais agricultor dali por diante, porque
se desfez dos meios que eram necessários para a
realização do seu antigo sustento de vida.
Um dos motivos de Deus ter chamado Eliseu para
ser sucessor de Elias, foi o fato de apesar dele ser
um homem importante, que tinha servos, era
simples e trabalhador, porque se diz que ele
também estava trabalhando no arado, quando
podia deixar todo o serviço pesado a cargo dos seus
empregados.
Pessoas que buscam uma vida de mordomia neste
mundo não serão chamadas por Deus para a Sua
obra.
O pedido de Eliseu para se despedir de seus pais,
não foi uma desculpa para demorar a atender à
chamada do Senhor, como a citada em Lucas 9.61.
55
Ele somente o fizera por uma questão de respeito e
dever para com os seus pais.
Elias não constrangeu Eliseu a segui-lo, mas
lembrou-lhe somente que havia lançado o seu
manto sobre ele, como uma indicação de que estava
sendo chamado por Deus para ser preparado por
ele, Elias, para o ministério, e isto estava
representado no fato de que estaria debaixo das
vestes de Elias, isto é, de sua proteção e cuidado.
Eliseu se colocou humildemente na posição de servo
de Elias, e era o servo que lavava as mãos do profeta
como se vê em II Reis 3.11.
Há renúncias impostas para o exercício do
ministério
Muitos que são chamados pelo Senhor,
especialmente para a obra de missões, vivendo pela
fé, custam a entender em princípio, qual é o caráter
da chamada deles.
Até o próprio Eliseu, aquele gigante espiritual,
demonstrou estar ainda ligado a laços familiares de
56
sangue, quando o Senhor o chamou para o
ministério profético através de Elias (I Rs 19.19-21).
Muitos ficaram perplexos por grande tempo até
entenderem que as perdas que sofreram em suas
vidas, foram decorrentes desta chamada do Senhor
para o exercício do ministério.
O Senhor impõe renúncias àqueles aos quais chama,
tal como fizera com todos os apóstolos, que tudo
tiveram que deixar para poder segui-lO.
A quantas coisas e pessoas estamos apegados,
ainda que não estejamos devidamente
conscientizados de tal realidade.
E dificilmente entendemos que muitas perdas que
sofremos, e guinadas violentas que são produzidas
por Deus em nossas vidas, têm o propósito de nos
tornar desimpedidos para a realização da Sua obra.
Se não houver esta renúncia aprendida e recebida
de modo voluntário, pela consagração de tudo o
que somos e do que temos ao Senhor, não será
possível trabalhar para Deus, porque o nosso
57
coração estará apegado àquelas coisas e pessoas
das quais, o Senhor sabe que devemos nos
desprender primeiro (não deixar de lhes assistir,
nem abandoná-las, mas não ser presa de laços
sentimentais e emocionais, ou de dependência
financeira, psicológica ou de qualquer outra
ordem), para que possamos então fazer a Sua
vontade, sem que sejam tais coisas e pessoas a
principal ocupação de nossos pensamentos,
afeições e desejos.
Quando Deus chamou Eliseu através do profeta
Elias, este lançou a sua capa sobre Eliseu, indicando
que a autoridade espiritual que estava sobre Elias,
seria transferida por Deus, no tempo oportuno,
para Eliseu.
Mas desde já, ele teria que abandonar tudo para
poder seguir Elias, para ser preparado para ser o seu
sucessor.
Quando Jesus lança sobre nós a sua capa
concedendo-nos dons, capacitações, e Sua
58
autoridade, é para a realização da Sua obra, e não
da nossa. Para fazermos a Sua vontade e não a
nossa.
Adeus amigos! Adeus prazeres carnais e mundanos!
Adeus parentes! Adeus interesses particulares!
Adeus sonhos seculares! É a atitude que devemos
ter em nosso coração, tão logo identifiquemos que
fomos chamados para a realização de uma obra
específica para Deus.
Aqueles que não se auto negarem não poderão
tomar diariamente a sua cruz.
E sem tomar a cruz é absolutamente impossível
seguir a Jesus.
Porque a cruz nos imporá renúncias, empenhos,
deslocamentos, que a nossa carne não sente
nenhum prazer neles.
A cruz será um objeto de ofensa para aqueles que
não se autonegarem primeiro.
59
Eles se escandalizarão com os sofrimentos e aflições
que a cruz lhes trará quando estiverem
empenhados na realização da obra do Senhor.
Por isso, os apóstolos nos advertem quanto à
necessidade de estarmos armados com o
pensamento de que importa suportar todo tipo de
tribulação e oposição, que nos possam sobrevir por
causa da nossa consagração ao serviço de Deus.
Assim, aqueles que têm sido chamados por Deus,
em vez de ficarem perplexos e gemendo por causa
das coisas que estão sofrendo, devem aprender, tal
como Paulo, a se gloriarem nas tribulações que
estiverem sofrendo, e nas renúncias que o próprio
Deus lhes está impondo, porque estas aflições são a
prova mesma de que estão empenhados numa obra
que procede verdadeiramente de Deus, e isto é um
motivo não para tristeza, mas para alegria, é uma
grande honra, e não uma condição humilhante; uma
grande vantagem, recompensa e riqueza espiritual,
e nenhuma tragédia ou miséria. Afinal, deixaram de
60
confiar no cuidado dos homens, para viverem
debaixo do cuidado do Deus Altíssimo e
Onipotente.
Gloriemo-nos portanto somente no Senhor, nas
tribulações e na Sua cruz, porque, por meio de todas
estas coisas, somos capacitados a sermos bem
sucedidos na obra que realizamos para a glória do
Seu nome, e por meio das quais cessarão todos os
nossos fracassos e vazio de vida.
Eliseu que o diga! Tudo o que ele realizou para Deus
se tornou um grande exemplo para nós, de que vale
muito a pena tudo deixar para podermos seguir a
Jesus.
61
Se Não Perder Não Ganhará
“João 12:24 Em verdade, em verdade vos digo: se o
grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele
só; mas, se morrer, produz muito fruto.
João 12:25 Quem ama a sua vida perde-a; mas
aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-
la-á para a vida eterna.”
Se formos interpretar de modo literal a verdade
proferida nas palavras de nosso Senhor Jesus Cristo
- de que quem ama a vida a perde, e de que quem a
odeia a preserva para a vida eterna – poderemos
pensar que está sendo afirmado algum tipo de
absurdo, e na verdade o seria caso o sentido destas
palavras fosse interpretado segundo a razão natural
e comum do mundo; todavia elas expressam de
forma resumida o grande segredo de se alcançar a
vida eterna não somente para este mundo quanto
62
para o vindouro. Porque importa que sejam
interpretadas em seu significado espiritual, com a
ajuda da iluminação do Espírito Santo, que é o único
que pode nos tornar capazes de discernir
espiritualmente as realidades que são espirituais.
Primeiro, Jesus aplicou este ensino do céu ao seu
próprio caso, pois não viveu para fazer a sua própria
vontade, senão a de Deus Pai que o enviou para
morrer no nosso lugar.
Ele se esvaziou completamente e tomou a forma
humana e de servo, não sendo dirigido pelo seu
próprio ego, mas pelo Espírito Santo que o guiava
em tudo.
Jesus não é somente a vida eterna, a sua fonte,
como também o caminho e a verdade que nos
conduzem também à vida eterna, pelo mesmo
caminho que ele seguiu.
O morrer para o eu, para se viver pela vontade e
poder de Deus é o grande segredo disto, que Jesus
veio revelar em si mesmo. Por isso ele venceu a
63
morte, e não pôde a sua vida ser retida pelo
sepulcro, e se encontra agora assentado em glória à
destra do Pai no céu, intercedendo continuamente
por nós, para que alcancemos a vida eterna e que a
vivamos do modo digno pelo qual importa ser
vivida.
Agora, em relação a nós, quão indispostos somos a
fazer morrer o modo de viver pelo nosso ego, quão
apegados somos à nossa vontade e ao mundo, e
então necessitamos - diferentemente do Senhor
Jesus que não tinha qualquer pecado – de mortificar
a nossa natureza terrena pecaminosa, para que
tendo a nossa mente renovada, possamos conhecer
de modo experimental a boa, perfeita e agradável
vontade de Deus, pela qual somos santificados.
Perdas de entes queridos e coisas que amamos nos
causam grande sofrimento, e por isso tememos
abandonar esta coisa que é a primeira em ordem a
amarmos mais do que tudo, a saber, o nosso modo
de viver neste mundo, ao qual nosso Senhor se
64
refere como algo que devemos aprender a odiar,
porque está cheio de hábitos e desejos que são
contrários à justiça e santidade de Deus.
Então, se não odiarmos esta vida pecaminosa
mundana, a nossa condição espiritual permanece
sendo de morte, que por fim virá a ser morte eterna,
e não vida eterna, conforme é prometido àqueles
que a odiarem, por amarem o modo de vida
celestial, espiritual e divino.
Em muitos outros textos da Bíblia vemos esta
verdade de João 12.24,25, sendo reafirmada, e para
nossa apreciação, estamos destacando alguns deles
a seguir:
Mateus 16:25 Porquanto, quem quiser salvar a sua
vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha
causa achá-la-á.
65
Mateus 10:39 Quem acha a sua vida perdê-la-á;
quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-
la-á.
Lucas 14:26 Se alguém vem a mim e não aborrece a
seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs
e ainda a sua própria vida, não pode ser meu
discípulo.
Lucas 17:33 Quem quiser preservar a sua vida
perdê-la-á; e quem a perder de fato a salvará.
66
Trazendo no Corpo a Mortificação de Jesus
“Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a
Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos
servos por amor de Jesus.” (II Coríntios 4.5)
Para não pregarmos a nós mesmos, mas a Cristo é
preciso trazer o morrer de Jesus em nosso corpo (II
Cor 4.10), em nosso ego, e em tudo que se refira à
nossa própria vontade e desejos, que devem ser
levados à morte na cruz, para que a vida de Jesus
possa se manifestar através de nós.
Aquele que não traz o seu ego mortificado pela cruz
não está habilitado a pregar e a ensinar o evangelho
da cruz.
Aquele que não renunciou a tudo quanto tem não
pode pedir aos seus ouvintes que renunciem a si
mesmos para confiarem suas almas ao Salvador.
67
É por isso que o nosso velho homem tem que ser
despojado, para que a nova criatura se manifeste
em poder nestes vasos de barro que são os nossos
corpos mortais.
São vasos de barro porque têm a ver com o que
herdamos da natureza terrena de Adão, que foi
criada a partir do barro, dos elementos naturais
deste mundo, que passa.
Todavia, a nova vida em Cristo é do céu, e o seu
poder excelente pode se manifestar somente se a
casca do velho homem com suas vontades e desejos
for completamente quebrada através das
tribulações, perplexidades, perseguições, e
abatimentos, ao mesmo tempo que somos
consolados e amparados pelo Senhor pela
manifestação do Seu poder e amor, para que não
sejamos angustiados, desanimados, desamparados
e destruídos (II Cor 4.8,9).
68
Esta será a experiência de todos aqueles que
consagrarem efetivamente suas vidas ao serviço de
Deus.
Tal como Paulo, saberão, por experiência, o que
significa trazer diariamente no corpo o morrer de
Jesus para que a Sua vida possa se manifestar em
nós.
Eles saberão por experiência que toda a
mortificação que é operada neles, sobretudo no seu
ego, tem o propósito de gerar a vida de Cristo nos
seus ouvintes (II Cor 4.12).
Eles saberão que todo o seu dever é anunciar a fé
em Cristo, e a Sua morte e ressurreição, de modo
que ministrando por amor aos homens, possam
abundar as ações de graças, para a glória de Deus,
por causa da multiplicação da graça em muitos
corações (v. 13 a 15).
Eles saberão que um cristão em seu posto de
trabalho, operando fielmente no Espírito, não
desfalecerá e suportará e sofrerá tudo por amor a
69
Cristo, ainda que o homem exterior se corrompa,
isto é, que enfraqueça, enferme, envelheça, porque
o homem interior, a saber, o espírito é renovado
gradual e diariamente por Deus, segundo o Seu
próprio poder e glória (v. 16).
Assim reconhecerão também que toda tribulação
traz em si mesma um propósito de nos tornar mais
íntimos e participantes da glória de Deus, e que se
tornam leves e momentâneas comparadas ao peso
das consolações e operações poderosas do Senhor
no nosso corpo, alma e espírito.
Um cristão experimentado, como Paulo, saberá
discernir a vida espiritual que não se experimenta
por vista, mas por fé, que se firma não nas coisas
visíveis que são temporais, mas nas invisíveis que
são eternas.
70
Esvaziar-nos de nós Mesmos Para Sermos Úteis
"5 Tende em vós o mesmo sentimento que houve
também em Cristo Jesus,
6 o qual, subsistindo em forma de Deus, não
considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia
aferrar,
7 mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de
servo, tornando-se semelhante aos homens;
8 e, achado na forma de homem, humilhou-se a si
mesmo, tornando-se obediente até a morte, e
morte de cruz.
9 Pelo que também Deus o exaltou soberanamente,
e lhe deu o nome que é sobre todo nome;
10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho
dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da
terra,
11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor,
para glória de Deus Pai." (Filipenses 2.5-11)
71
Ninguém jamais poderá se humilhar tanto quanto
Cristo se humilhou, pois não era um homem
pecador; porém se fez homem, sendo Deus,
exaltado à destra do Pai, coroado de honra e glória
diante dos serafins, querubins, arcanjos e anjos no
céu.
Foi desta altura infinita de glória que Ele desceu até
nós humilhando-se a si mesmo, esvaziando-se e
tomando a forma de servo, assumindo a natureza
do homem, apesar de ser Deus.
Ele fez isto, porque era governado completamente
por um sentimento de humildade e não de orgulho.
É este mesmo sentimento de Cristo que todos os
cristãos devem possuir.
Cristo não considerou uma desonra o fato de ter
sido feito menor do que os anjos, ainda que por um
determinado período, a saber, enquanto viveu em
carne neste mundo esvaziado da Sua glória divina,
como vemos em Hb 2.9, porque considerou maior
72
coisa fazer a vontade do Pai, relativamente à
salvação dos pecadores.
Os cristãos têm um serviço a fazer para Deus, que é
a continuidade do mesmo serviço de Cristo, e para
tanto necessitam ter o mesmo sentimento de
humildade que houve em Cristo Jesus.
Nosso Senhor comprovou Sua humildade através da
Sua obediência ao Pai, e é do mesmo modo que
nossa humildade é comprovada diante de Deus, a
saber, na nossa obediência a Ele.
Jesus se manifestou também, para o propósito de
nos ensinar qual é o modo correto de se viver para
Deus.
Este modo que nos revelou é em completa
submissão e serviço, mediante a Sua Palavra,
escolhendo fazer a vontade de Deus, em vez da
nossa vontade, gastando-se inteiramente na Sua
obra, porque afinal, nos deu vida para que
trabalhássemos para Ele.
73
Fomos colocados neste mundo para este propósito.
Bem-aventurados são todos aqueles que não
somente descobrem isto, como também se aplicam
a isto.
A humilhação voluntária de Jesus se comprova
também, no fato de que Ele tem o nome que é sobre
todo o nome. Por isso, ao nome de Jesus se dobra e
se dobrará todo joelho dos que estão nos céus, na
terra e debaixo da terra, e toda língua confessa e
confessará que Jesus é Senhor, porque Ele sempre
foi e será o Senhor de tudo e de todos.
Este que é o Senhor foi achado em Seu ministério
terreno na forma de servo e em completa
humildade. Servo na verdadeira acepção da
palavra, ou seja, servindo de fato tanto a Deus
quanto aos homens criados à Sua imagem e
semelhança.
Como devem ser e andar então, os cristãos, os quais
não estavam na glória do céu antes de serem
74
gerados, e que nunca tiveram e jamais terão a
mesma intensidade de glória do seu Senhor?
Caberia, se deixarem dominar por qualquer forma
de orgulho ou vanglória?
Jesus viveu suportando pacientemente a maldade
dos homens, em grande pobreza, a ponto de não ter
onde reclinar a cabeça; viveu de ofertas e sabia o
que era a aflição; não viveu em pompa externa e
não buscou nenhuma posição que O exaltasse sobre
os demais homens, buscando fama e honrarias
deste mundo.
Ele não deu somente Seu serviço aos homens, mas
Sua própria vida; morrendo por eles na cruz.
Ninguém nunca desceu tanto ou poderá descer
tanto em humilhação, quanto nosso Senhor, porque
Ele estava na glória do céu quando veio assumir
nossa humanidade, ao ser gerado com um corpo
humano no ventre de Maria.
Ele passou a ter a natureza humana, além da
natureza divina na qual Ele subsistia. E, consentiu,
75
apesar de sua perfeição gloriosa, em suportar
conviver com pecadores falhos, impuros,
imperfeitos e ignorantes como nós.
Se Ele não tivesse feito isto, jamais poderíamos
receber a natureza divina para estar em nós, além
da nossa natureza humana.
Para nós, receber a natureza divina é uma grande
honra e glória. Mas para Cristo, assumir nossa
natureza humana, sendo Deus, foi uma grande
humilhação. A Palavra, porém nos afirma que Ele
não se envergonhou disto, porque não se
envergonha em nos chamar de irmãos, por ter-se
feito semelhante a nós, como lemos em Hb 2.11 e
11.16.
Nós não somos, por natureza humildes, ao
contrário, somos governados pela carne.
Por isso é preciso mortificar a carne para que
possamos ser governados pelo Espírito Santo, e
crescermos em humildade diante de Deus e dos
76
homens, para que Ele possa nos transformar
segundo a semelhança de Cristo.
A nossa vontade natural quer sempre fazer aquilo
que seja do nosso próprio interesse egoísta, mas a
vontade de Deus é santa, perfeita, boa, agradável. É
esta vontade que o Espírito Santo quer implantar
em nossa natureza.
O Espírito Santo não nos foi dado, portanto para
fazermos o que seja da nossa própria vontade, mas
aquilo que é da vontade de Deus, na transformação
de nossas vidas.
Quando o Espírito luta contra a carne, não é para
fazer nossa vontade, mas para aplicar em nossa vida
a vontade de Deus, como vemos em Gál 5.17.
É a graça de Deus que inclina nossa vontade ao que
é bom, e nos permite executar o bem.
Não há nenhuma força, mérito ou capacidade em
nós mesmos, que nos habilite a fazer a obra de
Deus.
77
Escrito na Mente e no Coração
Quando lemos o Sermão do Monte, em Mateus 5 a
7, costumamos pensar que estamos diante de um
novo código de leis, que nos foram dadas por Jesus
Cristo para cumprirmos em complemento aos
mandamentos da Lei de Moisés.
Todavia, a intenção de nosso Senhor Jesus Cristo
não foi esta, mas a de revelar quais são as
características pessoais e circunstâncias que
acompanharão aqueles que foram tornados
cidadãos do reino dos céus, por meio da fé nEle, e
por terem nascido de novo do Espírito Santo.
Ali está descrito sobretudo, quais são as atitudes,
pensamentos, ações e o programa de vida de um
cristão amadurecido.
Dizemos amadurecido, porque ninguém amará seus
inimigos, perdoará seus ofensores, orará pelo bem
dos que lhe perseguem, e bendirá os que lhe
amaldiçoam, ou ainda, não reclamará o que se
78
considera seus direitos legítimos quando sofrer
injustiças, caso não tenha feito progresso no
crescimento na fé, na graça e no conhecimento
pessoal de Jesus Cristo, sendo e agindo como o Seu
Mestre.
A glória de Deus é ser amoroso, misericordioso,
longânimo, bondoso, perdoador, para com todos,
inclusive para com os piores pecadores.
E assim como Ele é, importa que sejam aqueles que
se tornaram seus filhos amados, por meio da fé em
Cristo.
Então o Senhor delineou no Sermão do Monte,
quais são as características essenciais que estarão
presentes naqueles que se converterem a Ele, como
resultado do fruto do Espírito Santo, que operou
neles a regeneração (novo nascimento espiritual) e
a santificação (mortificação das obras da carne e
revestimento das suas virtudes divinas). Cristãos
amadurecidos não são dominados por amarguras,
79
iras, contendas, gritarias, glutonarias, e todas as
demais obras da carne que são nomeadas na Bíblia.
Cristãos amadurecidos são longânimos, como Deus
é completamente longânimo. São amorosos, como
Deus é amoroso. São misericordiosos, como Deus é
misericordioso. Não são legalistas, moralistas,
acusadores, mas promotores do amor, da paz, do
perdão, da oferta da justiça de Cristo para a
justificação dos que se encontram presos às
amarras do pecado. São tardios para se irar e para
falar, e prontos para ouvir, porque sabem que a ira
do homem não promove a justiça de Deus, mesmo
quando esta ira é motivada pela defesa dos
princípios de Deus contra o pecado.
A propósito, era justamente isto o que Tiago queria
ensinar quando escreveu a epístola que leva o Seu
nome. Ele indicou a necessidade de se aprender a
ser paciente e longânime, debaixo das mais variadas
provações, porque estas visam ao aperfeiçoamento
espiritual do cristão, para que seja conformado ao
80
caráter amoroso, longânime, bondoso e paciente do
próprio Deus. Não estava portanto escrevendo uma
cartilha de bons modos, ou de procedimentos
sociológicos e psicológicos para sermos bem
sucedidos em possíveis demandas e disputas com o
nosso próximo, por nos mantermos serenos e
calados.
O que ele tinha em foco, tal como o Seu Senhor no
Sermão do Monte, era muito mais profundo e
significativo do que isto. A semelhança com Jesus
Cristo em tudo. Este é o alvo principal. A vida de
Cristo manifestada no comportamento do cristão.
Este é o ponto central. E isto não é obtido por mero
conhecimento intelectual da vontade revelada de
Deus nas Escrituras. Tem a ver com experiências
reais transformadoras da graça de Jesus, do poder
do Espírito Santo, dando-nos um novo coração e um
crescimento progressivo na obtenção das virtudes
espirituais do próprio Deus.
81
Foi para esta exata imagem e semelhança com o
caráter santo de Deus que o homem foi criado por
Ele. De modo que saberemos que temos sido
aperfeiçoados em tal caráter, quando virmos as
realidades afirmadas no Novo Testamento, sendo
implantadas no nosso viver diário, especialmente
pela forma como agimos nas situações que nos são
adversas. Então temos estas leis, se é assim que
devemos considerá-las (porque são inscritas por
Deus na nossa mente e coração, ou seja, farão parte
da nova natureza recebida pela fé), como as leis
principais que devemos observar e praticar: a do
amor a Deus, à Sua Palavra e ao próximo; a da
paciência na tribulação; a da longanimidade na
provocação; a da fé e do ânimo constante nas
aflições; a da mansidão, da paz de mente e coração
nas perturbações.
Na verdade, nada disto se obtém por uma simples
vontade de cumprir a lei ou o mandamento, mas por
82
uma andar constante no Espírito Santo, debaixo de
um temor e amor real a Cristo.
Gál 5:16-25:
Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à
concupiscência da carne. Porque a carne milita
contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne,
porque são opostos entre si; para que não façais o
que, porventura, seja do vosso querer. Mas, se sois
guiados pelo Espírito, não estais sob a lei. Ora, as
obras da carne são conhecidas e são: prostituição,
impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades,
porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões,
facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas
semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos
declaro, como já, outrora, vos preveni, que não
herdarão o reino de Deus os que tais coisas
praticam. Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria,
paz, longanimidade, benignidade, bondade,
fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas
coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus
83
crucificaram a carne, com as suas paixões e
concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos
também no Espírito.
84
O Governo Usurpador da Alma Sobre o Nosso Espírito
Nós lemos em Hebreus 4.12:
"...a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante
do que qualquer espada de dois gumes, e penetra
até a divisão de alma e espírito, e de juntas e
medulas, e é apta para discernir os pensamentos e
intenções do coração".
Este texto fala de separação de alma e espírito pela
Palavra de Deus.
Sabemos que o corpo, a alma e o espírito do homem
formam uma grande unidade, e estão intimamente
ligados, de modo que se pode dizer que são uma só
coisa, assim como Deus é um, e no entanto são três
pessoas: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.
Por isso, quando o espírito deixa este mundo, o
corpo morre; se o corpo morre, sai o espírito e volta
para Deus.
85
Quando o corpo e alma descansam no sono,
também descansa o espírito.
Todavia, há diferenças marcantes entre os três.
Mas nos concentraremos neste artigo somente na
alma e no espírito, porque a Bíblia fala de separação
de alma e espírito, e o que se quer afirmar é a
distinção das funções que competem
respectivamente ao espírito e à alma.
Com vistas a um melhor entendimento de tudo o
que vai ser comentado, gostaríamos, antes, de
explicar quais são as faculdades da alma, que não
fazem parte do espírito humano.
Entre estas faculdades estão nossos sentimentos,
nossa mente, nossa vontade, nossas emoções e
pensamentos, até mesmo a nossa razão.
Alma tem a ver com o cérebro, de onde procedem
todas estas faculdades referidas.
Cérebro tem a ver com o que é natural, e não
sobrenatural, como é o caso do espírito, que nos
veio de Deus, e que volta para Ele, na nossa morte.
86
De maneira que ao falar em separação de alma e
espírito, pela Palavra de Deus, a Bíblia quer nos
mostrar que precisamos ser governados pelo
espírito, e não meramente por nossos sentimentos,
vontade, emoções, pensamentos e até mesmo pela
nossa própria razão.
Somente quando estamos santificados pelo Espírito
Santo, mediante aplicação da Palavra de Deus em
nossas vidas, a nossa alma entra automaticamente
debaixo do governo do nosso espírito e passa a ser
uma serva do espírito, ficando este portanto, livre
das suas paixões irregulares e desordenadas que
nos levam a pecar.
Portanto, não é possível ser espiritual, conforme é
do propósito de Deus na criação do homem, sem
que se tenha a habitação do Espírito Santo.
Entretanto, como o pecado continua operando na
carne, há necessidade do trabalho da cruz para que
sejamos as pessoas espirituais que Deus planejou
desde antes da fundação do mundo.
87
Nós lemos em Gênesis 6.3 o seguinte:
“Então disse o Senhor: O meu Espírito não
permanecerá para sempre no homem, porquanto
ele é carnal, mas os seus dias serão cento e vinte
anos.”
O que podemos deduzir desta passagem das
Escrituras, senão que Deus não havia criado o
homem para que ele vivesse pelo governo da sua
alma natural?
A palavra “carnal” no texto de Gên 6.3 reporta à
inclinação da natureza decaída no pecado, e não
propriamente ao fato de o homem também possuir
um corpo físico.
Deus é espírito, e criou o homem para ter comunhão
com Ele em espírito, porque é somente este o modo
possível de tal comunhão.
Por isso Jesus destacou que não se pode adorar a
Deus a não ser apenas em espírito e em verdade.
88
O propósito de Deus na criação do homem é que
este fosse espiritual e não carnal, conforme
veremos neste nosso estudo.
E quando Deus diz que o homem se tornou carnal
por causa do pecado é a isto que Ele quer
principalmente se referir, porque não é governado
pelo reino espiritual divino, mas pelo reino natural
segundo a carne.
Por isso se impõe o trabalho da cruz sobre o ego
carnal, para que o Espírito Santo possa assumir o
pleno governo, conforme Deus havia planejado
desde antes da criação do mundo.
Desde a Queda no Éden a alma deixou de
estar em sujeição ao espírito e passou a assumir o
governo do ser humano, tornando-se assim uma
barreira para o conhecimento experimental da vida
de Deus, que é espírito.
Se Cristo não estabelecer o Seu governo no nosso
coração, o que haverá será o governo usurpador da
alma contra a vontade de Deus.
89
E este governo da alma é designado na Bíblia como
um viver segundo a carne. Segundo o homem
natural e não segundo o homem espiritual.
Vale lembrar que a palavra constante de I Cor 2.14
para “natural”, quando Paulo diz que o homem
natural não aceita as coisas do Espírito, tal palavra
é no original grego psiquikós, que significa aquilo
que é relativo à alma.
Quando o homem é governado pelas faculdades da
alma, e não pelas faculdades do espírito, ele agirá
segundo a natureza terrena,
Daí se afirmar que o homem natural, ou seja, aquele
que é governado por um viver segundo a alma, e
não segundo o espírito, não pode entender as coisas
do Espírito Santo de Deus.
Os cristãos carnais a que Paulo se refere em I Cor
3.1 em contraposição aos espirituais, são
designados no original grego pela palavra sarkikós,
para carnais, e os espirituais, pela palavra
pneumatikós, que se refere ao espírito.
90
O trabalho da alma no cristão carnal é fazê-lo viver
pela sua própria vida natural e tentar trabalhar e
servir a Deus pela sua própria habilidade natural.
Com isto, ele não chega a ter um conhecimento
verdadeiro e progressivo de Deus, porque este
conhecimento decorre de uma comunhão e de
experiências reais com o Espírito Santo de Deus, em
espírito.
A carne não pode ter tal comunhão e experiência
com o Espírito Santo de Deus.
Por isso nosso Senhor Jesus Cristo afirmou que a
carne para nada aproveita, e que o que tudo é
gerado pela carne é carnal.
Nossos pensamentos, emoções, sentimentos e
vontade, e razão, que são faculdades que emanam
do nosso cérebro, devem ser submetidos ao
governo do Espírito Santo de Deus, e por
conseguinte do nosso próprio espírito.
E a Bíblia afirma que isto é operado pela Palavra de
Deus, em Hb 4.12.
91
Chegará o dia em que não haverá mais esta
dependência do cérebro, ou da alma, quando
sairmos deste mundo pela morte, porque somente
o espírito subirá à presença do Senhor, libertado
completamente dos desejos e das paixões da alma.
Então o espírito terá vida e expressão
independentemente do nosso cérebro.
E não há nenhum outro modo para subjugar o
governo usurpador da alma, senão somente pela
crucificação do ego pela nossa cruz, que deve ser
carregada voluntária e diariamente.
Nos quatro Evangelhos, nós vemos que
Jesus chamou os seus discípulos para renunciarem
ao modo de viver pelo governo das suas almas,
submetendo-o à morte na cruz, para que pudessem
segui-lO.
O Senhor sabia que renunciar ao modo de viver
pela alma é uma exigência absolutamente
indispensável, para que os cristãos possam segui-
lO.
92
Em Mt 10:38 e 39 o Senhor Jesus disse: "38 E quem
não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é
digno de mim. 39 Quem achar a sua vida perdê-la-
á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-
la-á.".
Neste texto, a palavra para vida no original grego é
psiquê, que significa alma.
Não se trata propriamente de se matar a alma, mas
o modo de viver pela alma, para que se possa viver
pelo espírito. É isto que Jesus quis dizer com suas
palavras.
Este modo de viver pela alma somente pode ser
morto pela cruz.
É por isso que em outras passagens do Evangelho,
como em Lc 14.26,27 por exemplo, Jesus associou
a perda da vida da alma ao ato voluntário de se
carregar a cruz e de se auto negar, para poder segui-
lO.
Estes versos nos chamam a perder o viver pela alma
por causa do Senhor, entregando este viver à cruz,
93
para que seja crucificado, e Ele ensinou que isto
deve ser feito diariamente.
De acordo com nosso viver pela alma, nós
fazemos a vontade daqueles a quem amamos,
ainda que isto contrarie a vontade de Deus, por isso
se impõe a morte deste viver pela alma.
Nada há de errado em demonstrar sentimentos e
emoções, mas quando nossos sentimentos,
emoções e vontade são irregulares e são a causa de
não nos submetermos à Palavra e vontade de Deus,
é porque estamos sendo pessoas carnais e não
espirituais.
Quando Deus está em conflito com o desejo do
homem, embora aquela pessoa
seja a que nós mais amamos, importa antes amar
mais a Deus.
Por isso nosso Senhor disse em Mt 10.37: "Quem
ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno
de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que
a mim não é digno de mim.".
94
Em Lucas 14:26 e 27 está escrito: "26 Se alguém vier
a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e
filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria
vida, não pode ser meu discípulo. 27 Quem não leva
a sua cruz e não me segue, não pode ser meu
discípulo.".
É proibido pelo Senhor que eu ame somente
aqueles a quem eu amo naturalmente.
O próprio Jesus nos deixou este exemplo quando
definiu a sua família como sendo a que é composta
por aqueles que conhecem a Deus e fazem a Sua
vontade.
O Senhor Jesus quer nos libertar deste tipo de
domínio do afeto natural, de modo que possamos
ser cheios do seu amor sobrenatural, que é um
amor por todos os homens, e que não faz qualquer
tipo de acepção de pessoas.
O afeto natural é muito importante, mas convém se
dar um passo além e se amar com o amor ágape,
sobrenatural de Deus.
95
O amor ágape nos vem do alto, e o amor filéo, de
mera amizade, é terreno e inerente à nossa própria
natureza.
Este amor ágape, que é o amor derramado pelo
Espírito Santo nos nossos corações, é o amor de
comunhão entre espíritos, que capacita a tudo
sofrer, perdoar, suportar, e não ficarmos irados com
as injustiças e ofensas que sofremos, de modo que
é um amor que habilita a amar até mesmo inimigos.
A espada referida no texto de Hb 4.12 é uma alusão
à que era usada pelo sumo sacerdote para dividir o
holocausto em partes.
Esta espada representa a Palavra que é
usada por Cristo através do trabalho do Espírito
Santo para separar espírito e alma nos cristãos, de
maneira que possam ser verdadeiramente
espirituais.
A espada do Espírito é a Palavra de Deus. É portanto
a palavra do evangelho de Cristo, que aplicada à
mente e ao coração, traz à tona o viver na dimensão
96
do que é espiritual e celestial, prevalecendo sobre
tudo o que se refere ao homem exterior com suas
cobiças e paixões.
Veja o que o apóstolo nos ensina sobre a luta que
existe permanentemente entre a carne e o Espírito,
e vice- versa:
"Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito
contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para
que não façais o que quereis." (Gál 5.17).
Observe que ele afirma que a carne e o Espírito se
opõem mutuamente para que não façamos o que
seja do nosso querer.
O que ele quis dizer com isto?
É que na verdade tanto a carne quanto o Espírito
lutam contra a lei natural da nossa mente, e contra
as disposições da nossa alma. e, tanto um quanto
o outro pretendem ter o domínio da nossa vontade
e de todo o nosso ser.
A carne pretende nos levar a pecar ainda que não o
queiramos; e o Espírito Santo pretende nos
97
santificar e nos levar a viver não pelo que é
propriamente da nossa vontade, mas por aquilo
que é da vontade de Deus.
Então o Espírito não luta contra a carne para que
seja feito o que seja do nosso querer, mas para que
a vontade de Deus possa se cumprir em nós.
O Espírito procurará nos levar portanto à cruz para
que a carne possa ser crucificada com as
suas paixões e desejos (Gál 5.24).
Como estas paixões e desejos da carne operam
principalmente na mente, então é fundamental que
a mente seja renovada.
Uma mente renovada pelo Espírito coopera e muito
para que tenhamos comunhão com Deus, porque
ajudará o espírito nesta comunhão, porque a mente
renovada e guiada não pela carne, mas pelo Espírito
Santo.
E o Espírito poderá então comunicar à nossa mente
renovada o conhecimento da vontade de Deus
revelada na Sua Palavra.
98
Para entendermos melhor a distinção entre alma e
espírito, podemos nos valer de uma análise do que
há no comportamento dos
animais, porque sabidamente eles não são dotados
de espírito como os homens, senão somente de
corpo e alma.
Nós podemos, em certo grau, entender o que é
relativo à nossa alma pelo que observamos no
comportamento dos animais, porque tudo o que
eles sentem se refere aos poderes da alma, porque
como já dissemos, eles não possuem espírito.
Há afeto mútuo entre eles, em suas próprias
espécies.
Então o nosso afeto natural pertence à alma
animal, e não propriamente ao espírito, porque
animais irracionais possuem isto evidentemente.
Especialmente quando os seus filhotes estão num
estado dependente e precisam do seu cuidado,
exibem um afeto por eles, muito forte como o que
é visto em pais humanos.
99
Podemos acrescentar também, a tristeza que os
animais sentem quando são privados dos seus
filhotes; assim, podemos concluir que o amor
paternal e filial como existe naturalmente no
gênero humano, é um afeto, não da parte imortal
ou espírito, mas da alma, como algo instintivo, tal
como o instinto de sobrevivência que há tanto nos
homens quanto nos animais.
Ninguém supõe que haja alguma bondade moral no
afeto que os animais sentem pelas suas crias.
O afeto que os pais e filhos humanos sentem
mutuamente parece ser da mesma natureza.
Nós não amamos nossos filhos naturalmente,
porque Deus requer isto; nós não os amamos com
o objetivo de agradá-los; nós não os amamos
porque é um dever; nosso afeto por eles parece ser
um mero instinto animal natural, que em si mesmo;
nem é santo, nem pecaminoso.
Mas estes afetos, agora no homem caído no
pecado, com toda a sua natureza corrompida,
100
podem se tornar pecaminosos e conduzirem a
outros pecados.
Por exemplo, fica pecaminoso quando nosso
afeto por qualquer criatura é maior do que o amor
com que amamos a Deus, porque Ele requer o
primeiro lugar sobre os nossos afetos, e nos proíbe
que prefiramos qualquer objeto ou pessoa a Ele.
Quando os pais se ocupam em
adquirir riquezas e posições para seus filhos,
geralmente eles negligenciam muitos dos deveres
mais importantes que Deus lhes exige que
executem.
Quando instruímos nossos filhos de tal maneira que
eles dão mais preferência a seus corpos do que aos
seus espíritos, nós estamos também dirigindo
nossos afetos numa direção irregular e pecaminosa,
e esta necessita ser santificada.
Por isso o apostolo Pedro fala em I Pe 1.18 de um
resgate em Cristo de uma vã maneira de viver
101
recebida deste afeto natural da parte de nossos
pais.
Consequentemente é evidente, que o afeto da alma
precisa ser santificado.
Se não for santificado, nós não podemos ser
integralmente santos como o apóstolo fala em I Tes
5.23, que não apenas o espírito e o corpo devem ser
santificados, como também a alma, ou seja, a alma
deve fazer a vontade de Deus e não a sua própria
vontade, ou seja do ego.
As Escrituras ensinam que sem santificação
ninguém verá a Deus.
E não se deve confundir a santidade com
temperamento amável, porque não há nada da
natureza da santidade num temperamento
naturalmente amável.
A santidade consiste em conformidade
à lei de Deus, mas há pessoas que possuem o
temperamento do qual estamos falando, que não
têm nenhuma consideração pela lei de Deus.
102
Por isso Jesus não faz nenhuma distinção entre
temperamentos quanto à necessidade comum
de arrependimento, regeneração e
santificação. Todos necessitam igualmente de tudo
isto.
Também, uma correta moralidade, considerada
isoladamente, não é nenhuma santificação.
Veja o homem religioso sem Cristo gabando-se de
sua justiça própria tal como o fariseu da parábola
que Jesus ensinou.
Há algo de comunhão verdadeira com Deus em sua
vida?
Ele é movido pelo Espírito Santo?
A falta destas verdades essenciais indicam que a
sua moralidade não é a santidade evangélica, que o
homem alcança pela graça e mediante a fé e na
união com Cristo, andando diariamente no Espírito,
por se submeter voluntariamente ao trabalho da
cruz.
103
Este assunto pode nos ajudar a entender a
declaração de Cristo, de que "àquele que não tem,
até aquilo que tem lhe será tirado" (Mt 13.12); pois
vimos que toda coisa que parece ser naturalmente
boa e amável nos pecadores como o
afeto paternal e filial, compaixão, um
temperamento amável, pertence à alma, porém
isto morre com o corpo.
Nada sobreviverá à morte, a não ser o espírito
porque é imortal.
Com a morte, isto que parecia se ter, será tirado, e
com ela toda esta bondade natural será perdida,
porque não teve a marca da santificação operada
por Deus, sem a qual ninguém o verá, conforme
afirma a Bíblia (Hebreus 12.14).
Somente a santidade que procede de Deus pode
fazer com que esta bondade natural se torne
permanente.
Assim, a divisão de alma e espírito, referida em Hb
4.12, não é para a morte, mas para a vida ressurreta
104
de Cristo, no poder do Espírito Santo, que é
encontrada somente do outro lado da cruz, depois
que passamos por ela.
Assim, sem cruz, não há a verdadeira vida
abundante que Jesus veio nos dar.
Jesus disse que veio para dar vida e vida abundante.
Esta vida é espiritual e eterna.
Deste modo, teremos mais desta vida, quanto mais
mortificarmos o nosso velho homem.
Muito mais a vida da nova criatura em Cristo Jesus
florescerá, no terreno em que a vida do velho
homem for mais mortificada.
E é nesta condição de ter a alma e espírito
separados pela Palavra de Deus, que o espírito é
livrado dos embaraços e pesos da alma que
assediam juntamente com o pecado tão de perto a
vida dos cristãos.
E então a alma é levada a compartilhar deste
deleite, em vez de se sentir facilmente tentada e
105
atraída pelos prazeres que são oferecidos pelo
mundo.
Tendo as faculdades amadurecidas para discernir
tanto o bem quanto o mal, o homem espiritual pode
discernir e vencer toda e qualquer movimentação
do velho homem para produzir as obras da carne,
bem como resistir às tentações da carne, do diabo e
do mundo, por uma vigilância e oração constante e
perseverante, em plena sujeição, dependência e
obediência à vontade de Deus (Hb 5.14), por
colocar a sua mente voluntariamente a serviço da
nova natureza, recebida na conversão, e não a
serviço do velho homem.
106
A real condição da natureza humana
Por que a inclinação da carne, isto é, da sua
natureza humana decaída no pecado, conforme
Deus afirma na Bíblia, é um estado permanente de
inimizade contra Ele. Depois de ter criado o
primeiro homem, Deus plantou um jardim para ele,
e o colocou no jardim, onde havia também plantado
bem em seu meio, duas árvores excepcionais, a
primeira, a árvore da vida, e a segunda, a árvore do
conhecimento do bem e do mal. Ambas
representavam e significavam respectivamente
para o homem, a vida e a morte.
E este significado não foi removido, até hoje, e
jamais será removido, até que tudo se cumpra,
porque Deus tem colocado diante de cada homem,
tanto a possibilidade da vida quanto da morte.
O homem, apesar de ter sido criado perfeito e bom,
à semelhança do próprio Deus, sendo um agente
107
moral livre quanto ao exercício da sua vontade,
tende, tal como Adão fizera, a se inclinar para
buscar governar e não ser governado; a fazer valer
a sua própria vontade e não a do Criador; a ser
independente e não a criar laços eternos de amor; e
assim agindo, se envereda por causa de suas
atitudes e comportamento pelo caminho que
conduz à morte. Deus não criou o homem para que
ele viva para si mesmo, senão para o Seu Criador.
Não o criou para fazer a sua própria vontade, senão
a do seu Senhor.
Isto não é um capricho, mas uma demanda da vida,
porque não pode haver vida eterna a não ser na
comunhão do homem com Deus, participando da
Sua natureza divina. Antes da queda no pecado,
Adão era inocente, e onde há inocência não há
imputação de pecado, porque a imputação do
pecado demanda que haja consciência do pecado,
que haja discernimento do que seja o mal e do que
108
seja o bem, tornando o homem responsável
perante o Seu Criador.
A inocência de Adão foi perdida quando Ele
desobedeceu a Deus comendo o fruto da árvore do
conhecimento do bem e do mal.
E se achando debaixo da sentença de morte
produzida pelo pecado, o homem não pode lançar
mão do fruto da árvore da vida, porque a vida
eterna, a vida de Deus, não está reservada para
aqueles que se encontram em estado de inimizade
contra Ele, senão apenas para aqueles que são seus
amigos, e o comprovam pelo fato de Lhe amar e
obedecer. Como somente o próprio Deus pode
gerar esta disposição e capacidade para ser
obedecido e amado, então o homem, não poderá de
si mesmo, viver de modo aprovado por Deus.
Ele concederá tal capacidade pela operação do
Espírito Santo, somente àqueles que se
arrependerem do estado ruim em que se encontram
os seus espíritos, para que sejam capacitados e
109
transformados pelo Espírito Santo para amarem e
obedecerem ao Senhor.
O homem caído pode portanto ser levantado por
Deus caso se disponha a buscar a vida eterna que há
em Cristo, pelo simples arrependimento e fé na
bondade e misericórdia de Deus que estende a mão
para o pecador, para que seja livrado da morte e
reviva.
Por isso a justiça própria ofende tanto a graça do
Senhor. Porque por ela o homem insiste em não
reconhecer que naturalmente encontra-se
indisposto contra Deus e contra a Sua vontade e
mandamentos. Que se encontra naturalmente
condenado à morte eterna, por conta desta
inclinação carnal.
Enquanto não reconhecer pelo convencimento
operado pelo Espírito Santo que é um pecador
condenado, por ser inimigo de Deus e da Sua
vontade, não poderá jamais ser justificado pela fé e
ser reconciliado com o Senhor. Agora, não é
110
suficiente o reconhecimento da condição de ser
pecador, é necessário também rejeitar o mal e
buscar o bem; buscar a face do Senhor, confiar na
sua bondade, perdão e misericórdia, dispor-se a
servi-lo por amor, por todos os dias da nossa vida.
Concluímos assim, que a condição de inimizade
contra Deus está intimamente relacionada à
natureza caída no pecado. Ela reside no fato de
estar o homem afastado de Deus. De não estar se
alimentando do fruto da árvore da vida, que é
Cristo. O único alimento espiritual que dá vida
eterna a todo aquele que nEle crê.
Bendito seja o Senhor, que proveu, por sua graça e
misericórdia, um escape da morte eterna para o
homem que crê.
De modo que ninguém precisa permanecer
irremediavelmente perdido e condenado, porque
Jesus derramou o Seu sangue na cruz para que
pudéssemos ser resgatados da morte para a vida.
111
Bendito seja o Seu santo nome. Louvaremos para
sempre a glória da Sua maravilhosa graça.
112
O homem é inimigo de Deus
Soa exagerado fazer a afirmação do nosso título,
contudo, é isto que a Bíblia ensina quanto à
condição de toda pessoa, quanto ao que se refere à
sua natureza terrena.
Por que a inclinação da carne, isto é, da natureza
humana decaída no pecado, é um estado
permanente de inimizade contra Deus?
Depois de ter criado o primeiro homem, Deus
plantou um jardim para ele, e o colocou no jardim,
onde havia também plantado bem em seu meio,
duas árvores excepcionais, a primeira, a árvore da
vida, e a segunda, a árvore do conhecimento do
bem e do mal.
Ambas representavam respectivamente, para o
homem, a vida e a morte.
E este significado não foi removido, e jamais será
removido, até que tudo se cumpra, porque Deus
113
tem colocado diante de cada homem, tanto a
possibilidade da vida quanto a da morte.
O homem, apesar de ter sido criado perfeito e bom,
à semelhança do próprio Deus, sendo um agente
moral livre, tende, tal como Adão fizera, a se inclinar
para buscar governar e não a ser governado; a fazer
valer a sua própria vontade e não a do Criador; a ser
independente e não a criar laços eternos de amor; e
assim agindo, se envereda por causa de suas
atitudes e comportamento pelo caminho que
conduz à morte espiritual (separação de Deus) e ao
sofrimento.
Deus não criou o homem para que ele viva para si
mesmo, senão para o Seu Criador.
Não o criou para fazer a sua própria vontade, senão
a do seu Senhor.
Isto não é um capricho, mas uma demanda da vida,
porque não pode haver vida eterna a não ser na
comunhão do homem com Deus, participando da
Sua natureza divina.
114
Como pode o ramo viver separado do caule que
deve sustentá-lo?
Somente em Cristo, poderá ser desfeito o nosso
estado de inimizade latente contra Deus, conforme
se ensina nas Escrituras, e comprovado na
experiência real da nossa vida.
Rom 5:8 Mas Deus prova o seu próprio amor para
conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós,
sendo nós ainda pecadores.
Rom 5:9 Logo, muito mais agora, sendo justificados
pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.
Rom 5:10 Porque, se nós, quando inimigos, fomos
reconciliados com Deus mediante a morte do seu
Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos
salvos pela sua vida;
Rom 5:11 e não apenas isto, mas também nos
gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo,
por intermédio de quem recebemos, agora, a
reconciliação.
115
Tiago 4:4 Infiéis, não compreendeis que a amizade
do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que
quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de
Deus.
116
A Carnalidade é Inimiga de Deus
Por que a inclinação da carne, isto é, da natureza
humana decaída no pecado, conforme Deus afirma
na Bíblia, é um estado permanente de inimizade
contra Ele.
Depois de ter criado o primeiro homem, Deus
plantou um jardim para ele, e o colocou no jardim,
onde havia também plantado bem em seu meio,
duas árvores excepcionais, a primeira, a árvore da
vida, e a segunda, a árvore do conhecimento do
bem e do mal.
Ambas representavam e significavam
respectivamente para o homem, a vida e a morte.
E este significado não foi removido, até hoje, e
jamais será removido, até que tudo se cumpra,
porque Deus tem colocado diante de cada homem,
tanto a possibilidade da vida quanto da morte.
117
O homem, apesar de ter sido criado perfeito e bom,
à semelhança do próprio Deus, sendo um agente
moral livre quanto ao exercício da sua vontade,
tende, tal como Adão fizera, a se inclinar para
buscar governar e não ser governado; a fazer valer
a sua própria vontade e não a do Criador; a ser
independente e não a criar laços eternos de amor; e
assim agindo, se envereda por causa de suas
atitudes e comportamento pelo caminho que
conduz à morte.
Deus não criou o homem para que ele viva para si
mesmo, senão para o Seu Criador. Não o criou para
fazer a sua própria vontade, senão a do seu Senhor.
Isto não é um capricho, mas uma demanda da vida,
porque não pode haver vida eterna a não ser na
comunhão do homem com Deus, participando da
Sua natureza divina.
Antes da queda no pecado, Adão era inocente, e
onde há inocência não há imputação de pecado,
porque a imputação do pecado demanda que haja
118
consciência do pecado, que haja discernimento do
que seja o mal e do que seja o bem, tornando o
homem responsável perante o Seu Criador.
A inocência de Adão foi perdida quando Ele
desobedeceu a Deus comendo o fruto da árvore do
conhecimento do bem e do mal.
E se achando debaixo da sentença de morte
produzida pelo pecado, o homem não pode lançar
mão do fruto da árvore da vida, porque a vida
eterna, a vida de Deus, não está reservada para
aqueles que se encontram em estado de inimizade
contra Ele, senão apenas para aqueles que são seus
amigos, e o comprovam pelo fato de Lhe amar e
obedecer.
Como somente o próprio Deus pode gerar esta
disposição e capacidade para ser obedecido e
amado, então o homem, não poderá de si mesmo,
viver de modo aprovado por Deus.
Ele concederá tal capacidade pela operação do
Espírito Santo, somente àqueles que se
119
arrependerem do estado ruim em que se encontram
os seus espíritos, para que sejam capacitados e
transformados pelo Espírito Santo para amarem e
obedecerem ao Senhor.
O homem caído pode portanto ser levantado por
Deus caso se disponha a buscar a vida eterna que há
em Cristo, pelo simples arrependimento e fé na
bondade e misericórdia de Deus que estende a mão
para o pecador, para que seja livrado da morte e
reviva.
Por isso a justiça própria ofende tanto a graça do
Senhor.
Porque por ela o homem insiste em não reconhecer
que naturalmente encontra-se indisposto contra
Deus e contra a Sua vontade e mandamentos.
Que se encontra naturalmente condenado à morte
eterna, por conta desta inclinação carnal.
Enquanto não reconhecer pelo convencimento
operado pelo Espírito Santo que é um pecador
condenado, por ser inimigo de Deus e da Sua
120
vontade, não poderá jamais ser justificado pela fé e
ser reconciliado com o Senhor.
Agora, não é suficiente o reconhecimento da
condição de ser pecador, é necessário também
rejeitar o mal e buscar o bem; buscar a face do
Senhor, confiar na sua bondade, perdão e
misericórdia, dispor-se a servi-lo por amor, por
todos os dias da nossa vida.
Concluímos assim, que a condição de inimizade
contra Deus está intimamente relacionada à
natureza caída no pecado.
Ela reside no fato de estar o homem afastado de
Deus. De não estar se alimentando do fruto da
árvore da vida, que é Cristo. O único alimento
espiritual que dá vida eterna a todo aquele que nEle
crê.
Bendito seja o Senhor, que proveu, por sua graça e
misericórdia, um escape da morte eterna para o
homem que crê.
121
De modo que ninguém precisa permanecer
irremediavelmente perdido e condenado, porque
Jesus derramou o Seu sangue na cruz para que
pudéssemos ser resgatados da morte para a vida.
Bendito seja o Seu santo nome. Louvaremos para
sempre a glória da Sua maravilhosa graça.
122
Despindo-se do Velho e Revestindo-se do Novo
São as paixões e desejos da alma que combatem
contra a nova natureza celestial recebida do Espírito
Santo.
Daí se dizer que a carne luta contra o Espírito e que
o Espírito luta contra a carne.
Toda forma de inclinação carnal, prostituição,
impureza, paixões, desejos vis e avareza devem ser
mortificados pelo Espírito, para que a nova vida
possa se manifestar no nosso caminhar, como se lê
em Col 3.5.
Mas não é somente a prostituição, impureza,
paixões, desejos vis e avareza que os cristãos devem
mortificar, como tudo o mais que é relativo à carne,
isto é, à natureza terrena decaída no pecado, e por
isso devemos também nos despojar da ira, da
cólera, da malícia, da maledicência, das palavras
torpes e da mentira, porque tendo morrido
123
juntamente com Cristo, o velho homem recebeu a
sentença de morte e os crentes estão aos olhos de
Deus, como tendo sido despidos do velho homem e
das suas obras carnais; e vestidos do novo homem,
que se renova para o pleno conhecimento de Deus
e da Sua vontade, através do processo da
santificação.
Esta santificação deve ser tanto do espírito, da
alma, e do corpo, operando sobre a nossa razão,
mente, vontade, sentimentos e emoções (I Tes
5.23).
E a meta desta santificação é nos transformar à
imagem mesma de Cristo (Col 3.8-10).
A santificação não consiste somente no
despojamento ou mortificação do pecado, das
obras da carne, mas principalmente na prática das
virtudes que estão em Cristo, que é o grande
objetivo final da santificação.
O despojamento do velho homem se faz necessário
para que possamos ser revestidos do novo.
124
O revestimento da nova criatura em Cristo consiste
na prática da justiça evangélica e das graças e
virtudes do Espírito, que chamamos de fruto do
Espírito - amor, misericórdia, benignidade,
humildade, mansidão, longanimidade, domínio
próprio, alegria, paz, fé - suportando-se e
perdoando-se os crentes mutuamente, tendo por
modelo o próprio Senhor que lhes perdoou.
Esta virtudes são decorrentes da habitação da
Palavra de Deus nos nossos corações, fazendo nós,
provisão para que sejamos enriquecidos por esta
Palavra que nos santifica, em prol da comunhão
com nossos irmãs na fé, e para o progresso do
evangelho de Cristo na Terra.
125
Como e porque ser espiritual e não carnal
Tudo o que se refira a conhecimento, liberdade,
obediência, amor, poder e tudo o mais que for
necessário para sermos efetivos na obra do Senhor,
é de caráter espiritual, celestial e divino.
É algo que recebemos do alto, e que não se encontra
em nossa natureza terrena.
Daí Jesus ter ordenado ao primeiro grupo de
cristãos que permanecessem em oração unânime
até que fossem revestidos do poder do alto.
O Espírito que recebemos não é deste mundo mas
do céu, e tudo o que se refere à vida que devemos
ter neste mesmo Espírito também é recebido do
céu.
Não é terreno mas celestial. Não é natural, mas
espiritual. O mundo antigo foi destruído pelas águas
do dilúvio porque o homem era carnal e se recusava
em se tornar em espiritual.
126
O propósito de Deus na criação do homem é que
este fosse espiritual e não carnal, ou seja: não
governado pela sua essência natural, por se
submeter à direção e poder do Espírito Santo.
Converter-se a Cristo significa portanto, receber
uma nova natureza celestial e espiritual, que
habilita o convertido a ter comunhão com Deus, o
qual é puro espírito.
Nos quatro Evangelhos, pelo menos quatro vezes, o
Senhor Jesus chamou os seus discípulos para
renunciarem à vida das suas almas, colocando-a
à morte para poderem segui-lO.
Mortificação da alma não é extermínio, mas
renúncia ao ego, aos poderes e faculdades da alma
(vontade, emoção, sentimento, razão, imaginação
etc), para estarem sob o governo do espírito
(intuição divina, comunhão espiritual, consciência,
amor, poder, virtude e atributos santos e divinos).
O Senhor Jesus colocou a renuncia à
vida da alma como uma exigência absolutamente
127
indispensável para que os cristãos possam segui-
lO, para poderem ser como Ele no serviço deles aos
homens, e para serem aperfeiçoados em fazer a
vontade de Deus.
Embora o Senhor Jesus tenha falado sobre a vida da
alma em todas estas quatro chamadas dos
Evangelhos, Ele deu uma ênfase especial a cada
uma delas.
Nós sabemos que a vida da alma, na verdade, tem
várias manifestações.
Então, o Senhor falou sobre a vida da alma com
ênfases diversas.
A chamada do Senhor é que o homem deve
entregar a vida da sua alma à cruz.
Em Mt 10:38 e 39 o Senhor Jesus disse:
"E quem não toma a sua cruz, e não segue após
mim, não é digno de mim. Quem achar a sua
vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor
de mim acha-la-á.".
128
Neste texto, a palavra para vida no original grego é
psiquê, que significa alma.
Não se trata propriamente de se matar a alma, mas
o modo de viver pela alma, para se viver pelo
espírito.
Este modo de viver pela alma somente pode ser
morto efetivamente pela cruz.
Em Lc 14.26,27, Jesus associou a perda da vida da
alma ao ato voluntário de se carregar a cruz e de se
auto negar para poder segui-lO.
Estes versos nos chamam a perder o viver pela alma
por causa do Senhor, entregando este viver à cruz
para que seja crucificado, e Ele ensinou que isto
deve ser feito diariamente.
Antes destes versos, o Senhor Jesus falou que os
inimigos de um homem são aqueles da sua própria
casa, e como um filho, por causa do Senhor, pode
vir a ficar alienado do seu pai, a filha da sua mãe, e
a nora da sua sogra, e vice-versa.
129
Isto ocorre quando os familiares do cristão não
conhecem ao Senhor ou não andam em
conformidade com a Sua vontade.
De acordo com nosso viver pela alma, nós
fazemos a vontade daqueles a quem nós amamos,
ainda que isto contrarie a vontade de Deus, por isso
se impõe a morte deste viver pela alma
(sentimentos e emoções sobretudo, que
prevalecem sobre Deus, Sua vontade e Palavra).
Quando Deus está em conflito com o desejo do
homem, embora aquela pessoa
seja a que nós mais amamos, e até mesmo por
imposição da própria Palavra de Deus que nos
ordena amar os nossos cônjuges, pais e filhos, por
exemplo, importa antes amar mais a Deus do que a
eles, e fazer a vontade de Deus do que a
deles, porque Ele deve ser amado acima de todos
e de tudo.
Por isso nós necessitamos da cruz para matar a
irregularidade dos nossos afetos, não propriamente
130
para acabar com eles, mas para que eles possam
existir na ordenação certa e também para que não
sejamos governados por eles, mas pela vontade do
Senhor.
A chamada do Senhor Jesus é para nos libertar do
poder de nossos afetos naturais de maneira que
não sejamos guiados por eles em nossas decisões,
mas pela Palavra.
Assim, Ele disse em Mt 10.37: "Quem ama o pai ou
a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e
quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não
é digno de mim.".
Em Lucas 14:26 e 27 está escrito: "Se alguém vier a
mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e filhos,
a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida,
não pode ser meu discípulo. Quem não leva a sua
cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo.".
Em Mateus Ele mostra para o cristão a escolha que
ele deveria fazer relativa ao seu próprio afeto: ele
deveria amar o Senhor mais do que à sua família.
131
Em Lucas mostra além disso, qual atitude que o
cristão deveria ter em relação ao seu próprio viver
pela alma (porque aqui neste texto a palavra para
vida é também psiquê no original grego, que
significa alma), e ele deve odiar esta atitude de
viver pela alma, pois Jesus diz que ele deve
aborrecer a sua própria vida (Lc 14.26) de maneira a
amar viver pelo espírito em obediência a Deus e à
Sua vontade.
Este viver pela alma traz sérios problemas e até
mesmo impede uma vida de comunhão com o
Senhor e com o próximo, pois qualquer arranhão na
comunicação, trará decisões não perdoadoras e não
amáveis ´pr arte daqueles que são dirigidos por
emoções e sentimentos.
O cristão não deve apenas amar
aqueles que lhe são familiares e agradáveis e aos
quais ele ama naturalmente, mas estender o seu
amor a todas as pessoas.
132
É proibido pelo Senhor que eu ame somente
aqueles a quem eu amo naturalmente.
O viver simplesmente debaixo do governo dos
afetos naturais tende a fazer com que a pessoa
esteja ligada a outros aos quais ama, como também
a exigir o amor deles, enquanto exclui a outros que
não pertencem ao seu círculo de amizades.
A pessoa nesta condição não se conduz pela justiça
e pela verdade, mas pela parcialidade sentimental,
que a leva a apoiar os que ama, mesmo que estejam
errados, e a rejeitar os que lhe tenham contrariado,
por terem repreendido a estes que ama meramente
com afeto natural, ainda que estejam certos, na
repreensão que fizeram, e por amor à verdade, ao
repreendido e ao Senhor.
Por isso o Senhor Jesus exige que este viver pela
alma deve ser mortificado, pela negação do ego,
porque sem isto, não se poderá viver de modo
verdadeiramente santificado, agindo e pensando
133
em suas decisões e escolhas segundo a vontade de
Deus revelada na Bíblia.
A alma deve ser santificada, tornando-se dócil e
obediente ao governo do espírito revivificado e
também santificado. E o corpo responderá também
em santificação, porque seus membros serão
usados para servirem a justiça do evangelho e do
reino de Deus.
Daí ser dito em I Tessalonicenses 5.23:
“O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o
vosso espírito, alma e corpo sejam conservados
íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor
Jesus Cristo.”
O Senhor Jesus quer nos libertar do domínio do
afeto natural, de maneira que possamos ser cheios
do seu amor sobrenatural, que é um amor por todas
as pessoas, e que não faz qualquer tipo de acepção.
É somente por causa do Senhor, e por estarmos
cheios do Seu Espírito, que nós amamos de fato a
134
outros que estejam fora do nosso
círculo de amizades.
Não é por causa de nosso próprio amor por outros
que nós amamos.
Nós amamos, porque recebemos o amor
sobrenatural de Deus que nos possibilita amar o
nosso próximo.
E somente entre aqueles que andam no Espírito
cumpre-se o mandamento de Cristo de nos
amarmos uns aos outros como Ele nos amou,
porque somente estes são espirituais, e o amor com
que Cristo nos amou é espiritual.
É o amor de comunhão entre espíritos que é
possível de ser visto e vivido somente entre aqueles
que vivem e andam no Espírito.
Aqueles que amam com este amor espiritual são
verdadeiramente livres para amar e deixam
também em liberdade aqueles aos quais
ama, porque amando a Deus acima de tudo, não
terá nada e a ninguém na conta do seu "deus".
135
O Senhor não quer que nós prendamos os nossos
corações em qualquer lugar ou pessoa.
Ele quer que nós O sirvamos livremente.
Deus criou o homem para ser amado por ele acima
de todas as coisas.
Isto significa que o homem somente poderá ter
saúde espiritual, emocional e física caso viva em
obediência a esta ordem normal estabelecida por
Deus para o seu amor.
Se ele amar alguém ou qualquer outra coisa em
primeiro lugar, ele sofrerá em sua própria
constituição as consequências disto.
E de igual modo o homem não deve desejar ter a
primazia em ser amado em primeiro lugar por
quem quer que seja, senão sofrerá de igual modo.
Jesus destacou o amor aos familiares porque
geralmente é nas famílias que se corre maior risco
de se eleger alguém como um ídolo, como um
tipo de deus, porque se amamos algo ou alguém,
136
na prática, acima de Deus, este ídolo passa a ser
automaticamente o nosso deus.
Veja como era diferente o caso de Abraão.
Deus o colocou à prova e lhe demandou o seu único
filho para que fosse oferecido em sacrifício.
O temor, obediência e o amor de Abraão a Deus
comprovaram-se naquela prova serem maiores do
que a tudo mais.
Por isso Deus lhe disse que cumpriria tudo o que
havia prometido fazer através dele.
Nós aprendemos disto que uma pessoa não poderá
ser útil na obra do Senhor enquanto amar alguém
ou algo acima dele.
Ele deve ser o primeiro em tudo, e isto deve ser
de fato, demonstrado nas renúncias que
porventura Ele venha a exigir de nós para que
possamos servi-lO.
Quando o fizermos, tudo irá bem conosco.
E o nosso amor pelos outros será um amor
equilibrado.
137
Um amor sadio, um amor que nada cobra para
que possa ser saudável.
Porque tudo estará de acordo com o plano e com
a ordem que Deus estabeleceu quanto ao
propósito da criação do ser humano.
Se Ele for amado de fato em primeiro lugar, em
demonstrações práticas da nossa vida, então tudo
mais estará bem na nossa relação com as pessoas
que amamos.
Amemos intensamente os nossos entes queridos,
amemos fervorosamente, e amemos também o
nosso próximo, conforme nos ordena
a Palavra, mas em obediência à mesma Palavra,
amemos a Deus de todo o nosso coração, de toda a
nossa alma e de todo a nossa mente.
O amor a Deus não é um amor para ser expressado
em relação a Ele com nossos afetos naturais, porque
Deus é invisível e é espírito.
Então o amor com o qual deve ser amado não é
natural mas espiritual.
138
Deus não quer e nem mesmo pode ser conhecido
pela carne.
O amor natural é da carne e não do espírito.
E sabemos que importa conhecer a Deus somente
em espírito porque Ele é espírito.
E na verdade não é somente Cristo que não deve
ser conhecido segundo o conhecimento da carne
(natural), mas até mesmo todas as demais pessoas.
O cristão deve discernir quem são os homens, não
segundo a carne, mas segundo o espírito (II Cor
5.16).
Por isso se faz necessária a separação de alma e
espírito, que é efetuada pela Palavra de Deus (Hb
4.12).
Mas a Palavra de Deus pode efetuar esta separação
somente quando se carrega voluntariamente a
cada dia a nossa cruz.
Se não houver renúncia ao ego, a Palavra não
poderá efetuar tal separação.
139
É preciso colocar a vida no altar para que o nosso
Sumo Sacerdote possa usar a faca da Palavra para
nos apresentar como sacrifícios vivos para Deus.
A visão animista que considera tudo e todos,
inclusive os seres inanimados como dotados de um
mesmo espírito, e sendo tudo uma grande unidade
espiritual com Deus, e de igual modo o teísmo que
ensina que Deus está presente em todos e de igual
modo, não possibilitam a busca da separação de
alma e espírito, que é ordenada na Bíblia, e que é
necessária para a nossa santificação em
crescimento espiritual.
Como buscaremos fazer aquilo em que não cremos?
Felizes são portanto aqueles que dão ouvido às
palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e que
renunciam ao modo de se viver pela energia da
alma (mente), para se viver pelo espírito por Ele
revivificado, renovado e santificado.
Com isto até mesmo o nosso afeto natural será
melhorado extraordinariamente, e não apenas
140
pelos nossos semelhantes, mas também por tudo o
mais que pertence à criação natural.
Se não houvesse necessidade da nossa cooperação
com o trabalho do Espírito Santo, e do
conhecimento das coisas que nos são necessárias,
conforme reveladas na Bíblia, Jesus não teria
ordenado que os cristãos fossem ensinados a
guardarem tudo o que Ele ordenou aos apóstolos.
É por isso que se impõe a pobreza de espírito e de
humildade (reconhecermos que dependemos
inteiramente de Deus) e de submissão ao Senhor e
à Sua Palavra para que possamos receber a Sua
graça, para que seja efetuado este trabalho de
separação de alma e espírito, de maneira que não
sejamos mais governados pela nossa alma com os
seus afetos, mas, sim, pelo nosso espírito.
Assim, se o cristão for humilde, o Espírito Santo irá,
na prática, separar a sua alma do seu espírito, ainda
que ele possa nem mesmo ter conhecimento do
141
modo como Deus processa esta operação
verdadeira e real.
Mas ele perceberá até mesmo racionalmente, que
está sendo transformado, de forma progressiva,
numa nova criatura plena na aquisição das virtudes
do Senhor (misericórdia, amor, longanimidade, etc),
em sua própria vida, na medida em que caminha no
Espírito, e se dedicando ao exercício espiritual da
meditação da Palavra, da oração, da comunhão, e
de todas as demais graças que nos aperfeiçoam
espiritualmente.
A vida natural, o afeto natural, são muito
importantes, mas quando se vive apenas nesta
dimensão da natureza terrena, jamais se poderá
adquirir ou se desenvolver as faculdades espirituais
anteriormente referidas.
Muito pensam equivocadamente que ser santo é
algo doentio e triste. Que os que buscam ser
espirituais são pessoas que ficaram de algum modo
frustradas com a vida.
142
Não há nada mais errado do que este modo de
pensar, porque a santificação é o encontro da
verdadeira vida, que é plena de significado e
contentamento.
O que se santifica tudo ama, até mesmo inimigos.
Ama a natureza, os animais, é sensível, e se encanta
com tudo o que Deus criou.
Deus tudo fez para o nosso aprazimento, mas jamais
poderemos dar o devido valor e fazer uma justa
apreciação de tudo o que há na vida, caso não
vençamos o pendor da carne, tornando-nos
espirituais.
Deus é amor e ama o que criou.
Deus é espírito perfeitamente santo.
Então quanto mais santificarmos o nosso espírito,
mais amaremos, com o mesmo amor de Deus.
O apóstolo nos ensina sobre a luta que existe
permanentemente entre a carne e o Espírito, e vice-
versa:
143
"Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito
contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para
que não façais o que quereis." (Gál 5.17).
Observe que ele afirma que a carne e o Espírito se
opõem mutuamente para que não façamos o que
seja do nosso querer.
O que ele quis dizer com isto?
É que tanto a carne quanto o Espírito lutam contra
a lei natural da nossa mente, e contra as
disposições da nossa alma.
Isto é, tanto um quanto o outro pretendem ter o
domínio da nossa vontade e de todo o nosso ser.
A carne (natureza decaída) pretende nos levar a
pecar ainda que não o queiramos; e o Espírito
Santo pretende nos santificar e levar-nos a viver não
pelo que é propriamente da nossa vontade, mas
por aquilo que é da vontade de Deus.
Então o Espírito não luta contra a carne para que
seja feito o que seja do nosso querer, mas para que
a vontade de Deus possa se cumprir em nós.
144
O Espírito procurará nos levar portanto à cruz para
que a carne possa ser crucificada com as
suas paixões e desejos (Gál 5.24).
Jesus disse que as Suas palavras são espírito e são
vida (João 6.63).
É a isto que o apóstolo Paulo se refere em todo o
segundo capítulo de I Coríntios, porque ali ele nos
diz que a sua linguagem e pregação não consistiram
em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas
em demonstração de Espírito de poder (I Cor 2.1, 4).
E neste mesmo capítulo ele explica o motivo de ter
agido de tal maneira: ele sabia que devia pregar
somente a Cristo, e este crucificado (o evangelho da
cruz- v.2), e como não deveria falar de si mesmo
ou da sabedoria deste mundo, ele pregou e ensinou
em fraqueza, temor e grande tremor (v.3).
Ele sabia que a sua missão não seria cumprida
caso ele somente instruísse as mentes dos seus
ouvintes e não os conduzisse à cruz.
145
Usar de métodos persuasivos e tentar conduzir
alguém a Cristo pela força de argumentos não será
produtivo, porque as realidades espirituais se
cumprem pela operação do Espírito Santo nos
corações, enquanto a verdade da Palavra de Deus é
pregada ou ensinada.
A própria Palavra de Deus é vida, e produz vida.
Por isso o autor de Hebreus diz que ela é viva e
eficaz.
O apóstolo Paulo sabia que a mente natural do
homem não pode entender as coisas espirituais do
reino de Deus, porque elas podem ser discernidas
somente espiritualmente pela revelação do Espírito
Santo (I Cor 2. 10), e foi para este propósito de
compreender as coisas de Deus que o Espírito
Santo foi dado aos cristãos (v. 12).
E Paulo diz que estas coisas espirituais que nos
foram dadas gratuitamente por Deus devem ser
ensinadas não com palavras ensinadas pela
sabedoria humana, mas com palavras ensinadas
146
pelo Espírito Santo, comparando coisas espirituais
com espirituais (v.13).
Isto implica que é necessário portanto ser um
cristão espiritual para que se possa aprender estas
coisas que são ensinadas pelo Espírito.
É necessário porque não é através da mente natural
que Deus manifesta e revela as realidades
espirituais, celestiais e divinas, mas através da
revelação do Espírito Santo ao nosso espírito.
A mentalidade natural não somente não entende as
coisas espirituais como não as aceita, porque lhe
parecem loucura (v. 14), isto é, aqueles
que tentam entender a vontade de Deus sem que
seja em espírito, mas pelo mero exercício da mente
natural, rejeitarão a Palavra de Deus,
especialmente as suas exortações relativas à cruz,
porque isto soará exagerado e como sendo uma
loucura para a mente natural.
Veja que Paulo pregava somente Cristo e este
crucificado. Isto significa que o cristão está também
147
crucificado com Cristo e por isso deve carregar
diariamente a sua cruz.
Então a mente natural não aceitará as coisas
espirituais porque não pode entendê-las, e o ego
resiste tenazmente para que não seja crucificado
com as suas paixões, e se opõe totalmente ao
trabalho do Espírito Santo.
É necessário orar então a Deus, pedindo-Lhe que
quebre esta resistência natural.
Para isto é necessário ter humildade diante de Deus
para que Ele nos conceda graça e misericórdia,
revelando-nos estas coisas preciosas que
Ele preparou para aqueles que O amam, e que os
olhos não viram, e que os ouvidos não ouviram, e
que jamais penetraram no coração humano (v. 9);
isto é, que não podem ser discernidas pelo homem
natural ou carnal, porque nos são reveladas
pelo Espírito Santo com as palavras que Ele ensina,
e não com palavras de sabedoria humana.
148
O apóstolo Paulo nos diz que se o homem natural
não pode discernir as realidades espirituais, no
entanto somente o homem
espiritual pode compreendê-las, porque ele
discerne bem a tudo que nos tem sido dado
gratuitamente por Deus, por meio de Jesus Cristo,
porque sendo espiritual ele terá a revelação destas
coisas em sua vida, pelo Espírito Santo (I Cor 2.15).
Somente o homem espiritual que tem a mente de
Cristo pode conhecer a mente do Senhor, porque
não é propriamente a sua mente natural que lhe
propicia tal conhecimento, mas a revelação do
Espírito Santo que é feita ao seu espírito revivificado
(v. 16).
Portanto, é necessário vigiar para que o nosso
espírito não esteja inativo ao mesmo tempo que a
nossa mente esteja muito ativa e até mesmo por um
longo período, ocupada em entender a verdade
revelada na Palavra.
149
Por isso a própria Bíblia nos ordena que não
sejamos meramente ouvintes da Palavra, mas
praticantes, isto é, que não devemos ficar
satisfeitos apenas com entender a verdade com a
mente, mas experimentar a verdade pelo poder do
Espírito, para que possamos ter o conhecimento
real e experimental das coisas espirituais às quais a
Palavra se refere.
E nós já vimos antes que este
verdadeiro conhecimento que é real e
experimental não é adquirido meramente por
aquilo que aprendemos com a nossa mente, mas
aquilo que aprendemos por revelação do
Espírito em experiências reais em nossa vida.
Tudo o que está revelado na Palavra não é
para o nosso próprio interesse pessoal, mas para
que se cumpram os propósitos de Deus relativos ao
Seu povo.
Olhemos por um pouco para a história da Igreja
antiga, o povo de Israel, no período da restauração,
150
quando Deus os trouxe de volta do cativeiro em
Babilônia para a própria terra deles em Judá, e
especialmente para a cidade de Jerusalém.
O que estava ocorrendo?
Qual era o propósito de Deus com
aquela restauração da vida espiritual de Israel?
Era simplesmente o de alegrar alguns fiéis dentre
o povo?
Qual era o caráter das pessoas chaves que Ele usou
para liderar Israel?
Qual era o pensamento delas quanto à necessidade
de serem espirituais e consagradas ao Senhor?
Olhemos para a rainha Ester disposta a morrer se
fosse necessário, caso o rei não lhe estendesse o
seu cetro, quando ela decidiu que intercederia junto
dele para o livramento do extermínio de Israel sob
o ardil de Hamã.
Olhemos para a atitude do povo e de Mordecai, que
jejuaram e choraram amargamente por causa do
decreto do extermínio do povo (Ester 4.1-3).
151
Olhemos para a atitude de Esdras, depois do povo
ter retornado para Judá, mas não vivendo na
santidade prescrita pelo Senhor na Sua Palavra.
Nós o vemos chorando diante do Senhor no templo,
por causa do pecado deles, ao mesmo tempo que
se dispôs a tomar providências para que
eles fossem santificados (Esdras 1.6).
E finalmente, qual foi a atitude de Neemias quando
soube do estado de miséria do povo que se
encontrava em Jerusalém?
Porventura ele não chorou, lamentou por alguns
dias e não jejuou e orou perante o Deus dos céus
por causa daquela situação em que Israel se
encontrava? (Neemias 1.3,4).
Tudo o que se encontrava em jogo para estas
pessoas não era o que fosse do próprio interesse
deles, mas a glória do nome do Senhor que não
estava sendo santificado enquanto o Seu povo
permanecia naquela condição de miséria espiritual.
152
Eles almejavam que a vontade de Deus fosse feita,
conforme deve ser, na vida do Seu povo.
E por acaso o estado em que a Igreja de Cristo se
encontra presentemente não é de necessidade de
restauração em santidade, pela pregação da rude
cruz?
E isto não é motivo para que choremos,
lamentemos e jejuemos tal como Ester, Mordecai,
Esdras e Neemias fizeram no passado?
Que o Senhor tenha misericórdia de nós, e que nos
conceda um coração sempre contrito perante Ele, e
nunca esquecido destas coisas, para que não
venhamos a fixar o motivo da nossa consagração
em nós mesmos, senão somente nEle e na Sua
vontade.
As sete igrejas citadas nos capítulos 2 e 3 de
Apocalipse representam todas as igrejas de todas as
localidades do mundo em toda a história do
Cristianismo.
153
No entanto, elas configuram as igrejas que estarão
predominando no mundo no tempo do fim,
especialmente as três últimas citadas (Sardes,
Laodiceia e Filadélfia). Lembremos também em
reforço deste argumento que Apocalipse foi escrito
para descrever as coisas que acontecerão no
tempo do fim.
E é bem fácil de identificarmos estes três tipos de
Igrejas em nossos dias, e disto podemos concluir
que a volta do Senhor está mais próxima do que
imaginamos.
Nós vemos que uma das notas constantes para as
igrejas que estão vivendo fora da vontade do
Senhor, com exceção de Esmirna e Filadélfia, que
permanecem fiéis à Sua vontade, é a chamada ao
arrependimento. E que se ouça o que o Espírito
está dizendo às igrejas.
Nós entendemos então que uma das principais
missões dos cristãos fiéis neste tempo do fim é
154
chamar ao arrependimento os cristãos que estão
vivendo de maneira contrária à vontade de Deus.
E esta chamada ao arrependimento deve ser feita
por se proclamar a verdade no poder do Espírito.
Porque é o Espírito Santo que dá testemunho da
verdade juntamente com o nosso espírito.
Para tanto é necessário viver em santidade,
porque é pela fidelidade de Filadélfia que muitos de
Sardes e de Laodiceia poderão chegar ao
arrependimento, porque numa igreja corrompida
fica quase impossível conhecer a mensagem do
verdadeiro evangelho, e muito mais ainda o poder
para praticá-la.
É nosso dever portanto, se desejamos ser fiéis ao
Senhor, que santifiquemos nossas vidas para que
sejamos cristãos espirituais e úteis no Seu
serviço em favor da restauração da Sua Igreja que
se encontra em sua maior parte corrompida,
conforme Ele próprio a descreve com
155
as palavras que dirigiu às Igrejas de Sardes e de
Laodiceia.
Há uma grande recompensa e um grande fruto para
o nosso trabalho no Senhor.
Ele próprio fortalecerá as nossas mãos para a
batalha.
Sigamos portanto em frente, perseverando na fé,
certos de que a vitória pertence ao Senhor, e Ele nos
honrará porque nós O temos honrado.
A cruz nos impôs o abandono da confiança em nós
mesmos e a inteira confiança no sangue de Jesus
para que fôssemos salvos, e a mesma cruz
continuará nos impondo a necessidade de renúncia
ao nosso ego e vontade para que haja a ação do
poder do Espírito para a nossa santificação, e
edificação da Igreja.
Ele fará o Seu trabalho
se formos achados submissos e obedientes a Ele,
não inativos, mas despertados em nosso
156
espírito, e não propriamente pela mera atividade
das faculdades da nossa alma.
A crucificação da carne com as suas paixões é
realizada pelo Espírito com base na nossa escolha
voluntária de renunciarmos ao modo de viver pela
alma, para que possamos continuar sendo
aperfeiçoados no espírito.
Este é o único modo de sermos frutíferos na obra de
Deus, porque o trabalho espiritual da nova criação
em Cristo Jesus é realizado exclusivamente pelo
Espírito, tal como Ele trouxe todas as coisas à
existência na criação natural, sem necessitar do
auxílio de mãos humanas.
Na verdade não somos propriamente nós que
somos os agentes ativos deste processo, porque o
que nos cabe é aceitar o trabalho de
quebrantamento operado pelo Senhor
em nós, de maneira que aprendamos a ser
submissos à vontade de Deus, para que sejam
157
implantadas em nós as virtudes de Cristo, que são
designados como sendo o fruto do Espírito.
Assim, a chamada da cruz do Senhor Jesus é para
nós odiarmos nosso viver pela alma de forma que
nós achemos a oportunidade para perder isto e não
preservá-lo.
Jesus disse que quem perder a vida da alma achará
a verdadeira vida do espírito.
É isto que significa a expressão "quem perder a sua
vida por amor de mim vai achá-la.".
O Senhor falou do assunto de odiarmos a nossa
própria vida (viver pela alma).
Assim não se trata de prática religiosa, mas de uma
assunto relacionado à essência mesma da
verdadeira vida. Por isso se fala de se achar ou de se
perder a vida. De modo que "aquele que procurar
salvar a sua vida perdê-la-á" (Mc 8.35); isto é, salvar
este tipo de vida que é pelo viver pela
alma e não pelo espírito.
158
Aqueles que vivem deste modo não poderão achar
a verdadeira vida espiritual que procede de Deus.
Se nós não rejeitarmos nosso ego
e perdermos nosso viver pela alma, mas ao invés
disso, seguirmos sua (da alma) ideia, opinião, e
sugestão, e se nós constantemente não negarmos
seu direito incondicionalmente e sem qualquer
reserva, levando-a às cinzas, sem almejar o que nós
perderemos, nós não podemos esperar ter uma vida
espiritual e trabalho que agradem a Deus.
A razão de nós termos tantos fracassos em nossa
vida espiritual deve-se ao fato de que a morte desta
vida da alma não foi tratada completamente.
Se o trabalho do Espírito Santo não recebe boa
acolhida da nossa parte, a carne prevalece, e como
está naturalmente em inimizade permanente
contra Deus, isto apaga o Espírito.
O Senhor Jesus disse: "O espírito é o que vivifica, a
carne para nada aproveita;" (Jo 6:63).
As obras da carne são de nenhum proveito!
159
Tudo aquilo que nasce da carne, indiferentemente
do que possa ser, é carne, e nunca pode se tornar
espiritual.
Se a carne prega, se a carne ora, se a carne lê a
Bíblia, se a carne oferta, se a carne canta hinos de
louvor, ou se faz o bem, o Senhor disse que nada
disso tem qualquer proveito.
Não importa quanto os cristãos confiem na carne,
Deus disse que é de nenhum proveito e não ajuda a
vida espiritual. A carne não pode cumprir a justiça
de Deus.
"Porque a inclinação da carne é morte" (Rom. 8:6).
Do ponto de vista de Deus, há morte espiritual na
carne. E realmente ela está morta, espiritualmente
falando, porque o espírito do homem está morto
em delitos e em pecados, e somente pode ser
revivificado para a comunhão com Deus, caso
renasça do Espírito, e seja continuamente renovada
pelo Espírito Santo.
160
Não há nenhum outro caminho para a carne senão
ser levada à cruz.
Não importa quão capaz é a carne de fazer o bem,
de pensar e planejar, e de ganhar o louvor
dos homens, porque aos olhos de Deus, tudo
aquilo que é originado da carne tem a inscrição em
letras maiúsculas: "MORTE".
"Porque a inclinação da carne é morte; mas a
inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a
inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois
não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode
ser" (Rom. 8:6,7).
A carne está completamente contra Deus e não tem
nenhuma possibilidade de ser entrosada com Deus.
Viver na carne significa viver pela própria energia
independentemente de Deus, daí a
incompatibilidade que há entre a carne e tudo
aquilo que se refere a Deus, que é espírito.
A alma daqueles que vivem na carne está em
rebelião contra o Senhor, contra a Sua vontade e
161
Palavra, e é fortalecida nesta sua resistência ao
Espírito quando a pessoa não possui uma mente
que tenha sido renovada.
Mas naqueles em que houve um tratamento da
alma pela cruz, pela crucificação da carne com as
suas paixões, e pelo hábito continuado deles de
procurarem fazer a vontade do Senhor,
a alma é uma boa serva do espírito, e mesmo
quando este está em silêncio, a alma e a mente
continuarão se ocupando daquilo que é do
interesse de Deus, e vigiará contra Satanás, contra
o pecado e contra as investidas do
mundo com suas tentações, e o resultado disto é
vida e paz.
E quando a pessoa se mover para exercitar o
espírito em oração, louvor, pregação ou em
qualquer outra forma de se exercitar o espírito, este
logo entrará em atividade, pelo hábito formado da
comunhão com Deus.
162
Não haverá resistência da carne porque estará
crucificada; nem oposição da alma e da mente,
porque estão inclinadas para Cristo e Sua vontade;
e assim fazer a obra de Deus, a par de toda a
oposição que se possa sofrer, será um prazer.
Por isso uma pessoa somente despertada pela
Palavra de Deus, que queira servi-lo, temê-lo, amá-
lo, sem ter sido nascida de novo do Espírito Santo,
não poderá de modo algum ter no seu viver o fruto
do Espírito, conforme descrito em Gálatas 5.
O cristão espiritual buscará a comunhão com o
Senhor e com os irmãos na fé.
Ainda que o princípio do pecado continue operando
na carne, todavia a mente terá prazer na lei de Deus
e buscará servi-lO.
E por esta disposição de uma mente renovada o
cristão espiritual buscará auxílio em Cristo para que
o Espírito Santo vença toda tentativa de
manifestação do pecado na carne.
163
E ele terá sucesso nisto por causa da prática que tem
em exercitar suas faculdades espirituais para
discernir tanto o bem quanto o mal (Hb 5.14).
Por isso se vê o espírito apagado nos cristãos carnais
como que se o espírito deles estivesse de fato
morto, exatamente porque caminham na carne e
não no Espírito, porque como vimos em Rom 8.6 a
inclinação para a carne dá para a morte das graças
espirituais, mas a inclinação do Espírito dá para a
vida e paz.
Assim, concluímos que a vida poderosa de Deus não
se manifesta na carne, mas no espírito.
E quando o cristão anda na carne, ele mata a vida
espiritual que é decorrente do Espírito.
"e os que estão na carne não podem agradar a
Deus." (Rom. 8:8). Esta é a resolução final.
Não importa quanto possa ser boa a conduta do
homem, caso tenha o ego como sua fonte, nunca
poderá agradar a Deus.
Deus somente pode ser agradado pelo Seu Filho.
164
Aparte de Cristo e do Seu trabalho, o homem e as
suas obras não podem agradar a Deus.
Embora nós, seres humanos façamos uma distinção
entre bem e mal baseando-nos apenas no
comportamento, a distinção que Deus faz não está
limitada ao comportamento porque Ele pesa
também as intenções e contempla os nossos
corações, e acima de tudo, especialmente na Sua
obra na Igreja Ele leva em conta qual é a fonte das
nossas ações, se a carne ou o Espírito.
E acima de tudo lembremos que o homem foi criado
por Deus para viver não segundo a carne, mas
segundo o Espírito.
Assim a carne deve ser obrigatoriamente
mortificada pela cruz se pretendemos viver de
modo agradável a Deus.
Daí podemos afirmar que ser espiritual é um dever
que nos é imposto por Deus, e devemos então nos
empenhar em conhecer o como e o porque de ser
espiritual e não carnal.
165
O texto de Ef 4.20-24 fala da crucificação e
despojamento do velho homem (carne, natureza
terrena), para o revestimento do novo homem
(nova criatura, nova natureza espiritual).
“Efs 4:20 Mas não foi assim que aprendestes a
Cristo,
Efs 4:21 se é que, de fato, o tendes ouvido e nele
fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus,
Efs 4:22 no sentido de que, quanto ao trato passado,
vos despojeis do velho homem, que se corrompe
segundo as concupiscências do engano,
Efs 4:23 e vos renoveis no espírito do vosso
entendimento,
Efs 4:24 e vos revistais do novo homem, criado
segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da
verdade.”
Somente a santificação pela aplicação deste
fundamento que nos é ensinado pela Palavra nos
tornará úteis na obra de Deus (II Tim 3.16,17).
166
Romanos 7:22 diz: "Porque, segundo o homem
interior, tenho prazer na lei de Deus;".
Nosso homem interior (nova criatura) tem prazer na
lei de Deus.
Então quando temos prazer em obedecer todos os
mandamentos de Deus isto é sinal que temos sido
despojados do velho homem, pelo trabalho
progressivo de santificação do Espírito Santo,
relativo à mortificação do pecado.
Efésios 3:16 também nos diz que sejamos
fortalecidos com poder pelo Espírito
no homem interior.
Paulo disse também em II Coríntios 4:16: "mas
ainda que o nosso homem exterior se esteja
consumindo, o interior, contudo, se renova de dia
em dia.".
A nova criatura é pura, santa, celestial, espiritual e
divina. Ela foi recebida do alto, porque somos feitos
novas criaturas por um novo nascimento do
Espírito, procedente das alturas.
167
Por isso nosso Senhor destacou nas bem-
aventuranças, a pureza de coração como condição
para se ver a Deus.
Esta pureza está justamente em não misturarmos as
coisas relativas ao Espírito com as obras da carne,
conforme mencionadas em Gálatas 5.
Quem ama a santidade odiará a impureza.
Não permitirá que a facilidade em se irar conviva ao
lado da longanimidade; que indolência espiritual
vença a diligência; e em tudo o mais, buscará o que
é relativo à nova criatura, pela mortificação daquilo
que pertence ao velho homem.
Algumas pessoas pensam que contanto que eles
recebam poder de Deus, tudo o que eles têm será
purificado e será usado por Deus para o serviço
dEle.
Mas isto nunca acontecerá, enquanto prevalecer
um viver carnal, por se inclinar àquilo que é da
carne, e não do espírito.
168
Não se obtém o fruto do Espírito Santo por
imposição de mãos, ou declarações de recebimento
de poder instantâneo, porque isto é feito
progressivamente pela obra de santificação, que
será tanto maior quanto maior for a nossa
consagração a Deus e à prática da Sua Palavra.
Quanto mais nós conhecemos a Deus, mais nós
buscamos pureza e santidade acima do poder.
Na verdade, sem pureza, sem santificação, não há
um poder espiritual operante, porque este poder é
sempre, em primeiro lugar, transformador e
renovador, no que se refere à nossa própria vida.
Enquanto não despertamos para viver buscando o
reino de Deus e a sua justiça em primeiro lugar,
nunca conheceremos isto ou a sua profundidade,
porque é concedido pelo Senhor somente àqueles
que Lhe obedecem.
Nosso Senhor foi muito incisivo quando disse que se
não guardarmos os seus mandamentos nós não O
169
amamos, e que Ele e o Pai se manifestam apenas
àqueles que guardam os Seus mandamentos.
Então é possível até mesmo ser de Jesus, conhecer
a Jesus, e não prosseguir no conhecimento da graça
e do Senhor, contra a ordenança apostólica de II
Pedro 3.18.
E quando isto sucede, a consequência natural é ser
carnal, e não espiritual.
Quando se é espiritual, disciplinamos nossos filhos
e nossos irmãos em Cristo.
Há muito desgaste e trabalho envolvido nisto, mas
o fazemos por amor ao Senhor e à Sua Palavra,
independentemente do quanto isto possa nos
contrariar ou a eles.
Nós também aceitamos de bom grado a palavra de
repreensão e de disciplina, caso tenhamos dado
ocasião a isto, porque sabemos, pela Palavra, que
tem por finalidade, nos preservar do mal.
Nós lutamos bravamente contra as tentações
carnais, e ficamos satisfeitos ao ver que elas vão
170
ficando cada vez mais fracas, e as graças cada vez
mais fortes, à medida da nossa perseverança na
obediência e fidelidade ao Senhor e aos seus
mandamentos.
Um viver segundo a carne já não nos atrairá com a
mesma facilidade do passado, e passamos a ter real
prazer numa vida santificada, e não ficamos
satisfeitos com a medida presente das graças que
possuímos, porque há um princípio vivo espiritual
que é o de graça sobre graça, ou seja, ela sempre
chama por maiores medidas e nos impulsiona a isto.
Tudo devemos fazer para a exclusiva glória de Deus.
E quando assim procedemos, Deus em sua infinita
bondade, faz com que nos sintamos plenamente
satisfeitos, e Ele faz com que desfrutemos todas as
coisas com contentamento e moderação.
Quando somos espirituais, até mesmo o nosso afeto
natural é excepcionalmente melhorado, porque ele
se estende a todas as pessoas, e não somente a
pessoas, como a tudo o mais na criação.
171
Nossas mãos afagarão em vez de ferir, e se
movimentarão pelos comandos de um coração
santificado.
Daí dizer o apóstolo Pedro:
“1Pe 3:8 Finalmente, sede todos de igual ânimo,
compadecidos, fraternalmente amigos,
misericordiosos, humildes,
1Pe 3:9 não pagando mal por mal ou injúria por
injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para
isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes
bênção por herança.
1Pe 3:10 Pois quem quer amar a vida e ver dias
felizes refreie a língua do mal e evite que os seus
lábios falem dolosamente;
1Pe 3:11 aparte-se do mal, pratique o que é bom,
busque a paz e empenhe-se 17 - Hábitos são Ditados
Pelo Tipo de Natureza que se Possui
172
Os hábitos de um gato são ditados pelo tipo de
natureza dos gatos; isto se aplica respectivamente a
todas as demais espécies de animais.
Quanto ao homem, seus hábitos são ditados pela
natureza humana, todavia como fora criado para
ser à imagem e semelhança de Deus necessita para
tanto, possuir também a natureza divina, para que
possa atingir o propósito pleno da sua criação.
Assim, a natureza humana não pode responder por
si só aos hábitos que são inerentes à natureza
divina; pois não carrega consigo os hábitos de
santidade que são exclusivos à natureza de Deus, ao
contrário, em razão da queda no pecado carrega um
princípio que é totalmente contrário ao citado
hábito de santidade.
Acrescente-se a isso, que sem o arrependimento e a
fé em Jesus Cristo é impossível ser participante da
natureza divina.
Antes da Queda no pecado original a natureza
humana se inclinava somente para o que é bom.
173
Mas, com a Queda, passou a se inclinar também
para o que é mau, e esta inclinação passou a ser o
princípio dominante que opera na natureza
humana, pois o homem é mais inclinado para o mal
do que para o bem, conforme se vê na experiência
prática, e sendo confirmado pelas palavras de nosso
Senhor Jesus Cristo e dos apóstolos, de que temos
um coração perverso do qual procedem todos os
tipos de males, e os quais são referidos pelo
apóstolo Paulo como sendo obras da carne.
Então “carne”, neste sentido bíblico, nada mais é do
que a inclinação pecaminosa que habita na
natureza humana, ao lado da primitiva inclinação
para o bem, e que pode ser sufocada agora por esta
má inclinação em muitas ocasiões e modos.
Esta inclinação original da natureza humana
disposta para o bem nada pode fazer contra esta
inclinação para o mal que leva o homem a pecar; ou
seja, não pode tratar com a raiz do pecado no que
174
se refere a subjugar e remover a fonte dos desejos
maus.
Somente a natureza divina, que é recebida na
conversão, por meio da fé em Cristo, tem o poder
que é capaz de subjugar a inclinação pecaminosa da
natureza humana.
Daí se afirmar que o Espírito que em nós habita, e
que ativa e opera esta natureza divina, se opõe à
carne, ou seja, à má inclinação de nossa natureza,
que nela penetrou desde a Queda no pecado
original.
Então, se somos instruídos pelo Espírito, submissos
ao Espírito, movidos e guiados pelo Espírito,
especialmente em relação àquelas atitudes e
comportamentos santos da Palavra de Deus,
podemos subjugar a má inclinação da natureza
humana que dá para a morte espiritual, e assim,
podemos experimentar a vida de Deus e a paz que
dela decorre (Rom 8.6).
175
É nisto basicamente que consiste a nossa
semelhança com Deus, ou seja, a nossa efetiva
participação de sua natureza divina, traduzida nas
operações progressivas do Espírito Santo para forjar
em nós atitudes, comportamentos, atos e
pensamentos que sejam cada vez mais condizentes
com a nossa inclinação para aquela santidade que é
inerente à natureza divina, e que existe somente
naqueles que pertencem a Jesus Cristo.
Assim, perdemos muito desta semelhança com
Deus quando não andamos no Espírito, ou seja,
quando não somos instruídos, dirigidos e movidos
por Ele, por causa de andarmos segundo a má
inclinação que é para a carne (pecado), porque em
vez de produzirmos o fruto do Espírito em nossas
vidas, produzimos as obras da carne.
À luz destas verdades bíblicas podemos entender
porque simples atos bons morais não configuram
necessariamente aquela santidade divina à qual
176
somos chamados, porque a antiga inclinação para
o bem da natureza humana pode responder a isto.
Assim, é possível praticar o bem e não ser
participante da vida de Deus, porque é certo que em
todas as pessoas, esta habilidade para o bem
sempre é acompanhada de perto e subjugada por
uma outra inclinação que é mais poderosa, ou seja,
a que é para o mal, e sendo Deus, completamente
santo e justo, não pode habitar onde o problema do
pecado não tenha sido resolvido, pelo perdão e pela
justificação que existem somente por meio da nossa
fé no Senhor Jesus Cristo.
por alcançá-la.
1Pe 3:12 Porque os olhos do Senhor repousam
sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às
suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra
aqueles que praticam males.”
177
Não Mais na Carne
“Rom 8:1 Agora, pois, já nenhuma condenação há
para os que estão em Cristo Jesus.
Rom 8:2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo
Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.
Rom 8:3 Porquanto o que fora impossível à lei, no
que estava enferma pela carne, isso fez Deus
enviando o seu próprio Filho em semelhança de
carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com
efeito, condenou Deus, na carne, o pecado,
Rom 8:4 a fim de que o preceito da lei se cumprisse
em nós, que não andamos segundo a carne, mas
segundo o Espírito.
Rom 8:5 Porque os que se inclinam para a carne
cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam
para o Espírito, das coisas do Espírito.
Rom 8:6 Porque o pendor da carne dá para a morte,
mas o do Espírito, para a vida e paz.
178
Rom 8:7 Por isso, o pendor da carne é inimizade
contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem
mesmo pode estar.
Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não podem
agradar a Deus.
Rom 8:9 Vós, porém, não estais na carne, mas no
Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em
vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse
tal não é dele.
Rom 8:10 Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na
verdade, está morto por causa do pecado, mas o
espírito é vida, por causa da justiça.
Rom 8:11 Se habita em vós o Espírito daquele que
ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo
que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos
vivificará também o vosso corpo mortal, por meio
do seu Espírito, que em vós habita.
Rom 8:12 Assim, pois, irmãos, somos devedores,
não à carne como se constrangidos a viver segundo
a carne.
179
Rom 8:13 Porque, se viverdes segundo a carne,
caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito,
mortificardes os feitos do corpo, certamente,
vivereis.
Rom 8:14 Pois todos os que são guiados pelo
Espírito de Deus são filhos de Deus.”
A força e o foco do argumento do apóstolo Paulo,
nesta seção do oitavo capítulo da epístola aos
Romanos repousa na verdade espiritual de que em
Cristo nenhum servo autêntico de Deus, nascido de
novo do Espírito Santo, encontra-se em estado de
inimizade com Deus, por não estar reconciliado com
Ele.
Todos, sem uma única exceção, são filhos amados,
por meio da sua união com Cristo.
Foram resgatados de um viver exclusivamente pela
energia da natureza terrena, porque encontram-se
agora também dotados de uma nova natureza, pela
habitação do Espírito Santo, que está destinada a
180
destruir e a despojá-los da antiga natureza terrena
pecaminosa.
Já são assim considerados, embora ainda neles
remanesça o velho homem com suas paixões
terrenas, de modo que deles se diz que não estão
mais na carne, caso tenham de fato a habitação do
Espírito Santo.
Deus os vê na nova natureza que lhes deu por causa
da fé em Cristo.
E os chama a mortificarem os feitos da velha pelo
poder da nova, de modo que tenham toda a
plenitude da vida espiritual que se encontra em
Jesus Cristo.
Já se encontram na posse da vida eterna, mas
necessitam crescer na graça e no conhecimento de
Jesus, pela mortificação do pecado e por um andar
no Espírito Santo.
É evidente que, quando o cristão faz provisão para
as obras da carne, que ele não está agradando a
Deus, mas ele possui, pelo Espírito que nele habita,
181
a condição de reverter este quadro pela confissão e
abandono do pecado, com a devida consagração ao
Senhor.
Mas, não é ao cristão que Paulo está se referindo,
quando diz:
“Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não
podem agradar a Deus.”
Porque, seu propósito, quando faz esta afirmação
no contexto desta epístola aos Romanos, é o de
demonstrar que não ter a Cristo significa não ter
consequentemente a nova natureza celestial e
divina, senão apenas a terrena, que é designada na
Bíblia pela palavra “carne”.
Assim, não é possível se agradar a Deus, por
qualquer obra religiosa ou de caráter de
benemerência, com vistas à salvação ou à
comunhão, porque a carne não está sujeita a Deus,
não lhe ama, nem os seus mandamentos, e não está
habilitada a fazer a sua vontade, porque isto é
182
possível somente quando somos transformados e
dirigidos pelo Espírito Santo.
Como o cristão possui a referida habitação do
Espírito ele pode realizar o trabalho de mortificação
do pecado, pela operação do Espírito.
E como este trabalho é realizado pelo Espírito,
podemos concluir consequentemente que não se
pode ver isto sendo feito naqueles que não são de
Cristo.
Palavras proferidas por Jesus Cristo:
João 3:5 Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade
te digo: quem não nascer da água e do Espírito não
pode entrar no reino de Deus.
João 3:6 O que é nascido da carne é carne; e o que é
nascido do Espírito é espírito.
Palavras proferidas por Paulo:
183
Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não podem
agradar a Deus.
Rom 8:9 Vós, porém, não estais na carne, mas no
Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em
vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse
tal não é dele.
Nós percebemos que foi do ensino de nosso Senhor
Jesus Cristo em João 3.5,6, que o apóstolo Paulo
baseou a sua afirmação no texto de Romanos 8.9 de
que o cristão não está na carne mas no Espírito.
Ora, por que ele fez tal afirmação, uma vez que
apesar de ter nascido de novo do Espírito, o cristão
permanece, enquanto neste mundo, sob a
influência da carne (natureza terrena pecaminosa)
que ele ainda possui?
Só podemos entendê-lo a partir do ensino de Jesus
que disse que o que é nascido do Espírito é espírito.
Não se diz que será, mas que já é espírito.
184
Ou seja: seu espírito que se encontrava morto em
delitos e pecados foi revivificado. É agora um ser
espiritual aos olhos de Deus. Sua natureza carnal
recebeu a sentença de morte na cruz juntamente
com Cristo, e está sendo despojada pela nova
natureza espiritual e celestial, que também habita
no cristão.
O Espírito Santo não produz naturezas
pecaminosas, mas santas. Daí se dizer que todo o
que é nascido do Espírito é espírito.
Mas o que não é nascido do espírito não pode
agradar a Deus, porque tudo quanto pode gerar é a
mesma natureza terrena pecaminosa que possui, ou
seja, o que a Bíblia chama de carne. Este é o único
legado e marca que pode deixar para outros.
Além disso, deve ser considerado, conforme o
apóstolo expressara anteriormente em Romanos
7, que o que é nascido do espírito possui uma
mente e uma nova natureza que se inclinam para
Deus e para os Seus mandamentos. Por ter sido
185
feito espírito e por ter sido crucificada a carne, por
causa da fé em Jesus, não ama o que é carnal, mas
o que é espiritual e celestial.
186
A Supremacia do Espírito Sobre o Corpo
“O espírito é o que vivifica, a carne para nada
aproveita; as palavras que eu vos digo são espírito e
vida.” (João 6.63)
Observe atentamente o seguinte relato, baseado
em fatos reais:
Um homem pacífico, justo, piedoso e temente a
Deus sofreu um infarto agudo do miocárdio que o
conduziu ao internamento numa Unidade de
Tratamento Intensivo (UTI), e como a grave
insuficiência cardíaca produziu um edema
pulmonar, não diagnosticado e identificado pela
UTI, o mesmo passou a ter séria dificuldade para
respirar, e num estado de semiconsciência gemia
intermitentemente para conseguir aspirar e expirar
um pouco de ar. Pessoas do grupo de enfermagem
mandavam-lhe asperamente que calasse a boca,
187
achando que estava fazendo aquilo de propósito.
Então um psiquiatra foi convocado a dar o seu
parecer, e este entendeu que o melhor seria
ministrar-lhe uma forte dose de drogas
tranquilizantes (que ele veio a saber
posteriormente tratar-se da chamada “boa noite
Cinderela”, e também medicação para
esquizofrenia) que vieram a fazer um efeito reverso,
pois em vez de ser tranquilizado, veio a saber que
no período que esteve inconsciente passou a ter um
comportamento descompassado proferindo
palavras desconexas. Então um psicólogo foi
convocado para dar o seu parecer e este chegou à
conclusão que se tratava de um paciente mais
psiquiátrico do que cardiológico, tendo feito constar
em seu diagnóstico que se tratava de pessoa
descontrolada e agressiva. Com isto o mesmo foi
amarrado firmemente na maca em que se
encontrava, tendo suas mãos e pés imobilizados.
Quando voltou horas depois ao estado de
188
consciência, sua insuficiência respiratória e cardíaca
se agravou porque se viu naquelas condições,
estando com o corpo nu em um ambiente cuja
temperatura nunca ultrapassava os 18 graus
centígrados. Seu estado que era crítico e de
debilidade extrema por causa do infarto se agravou
ainda mais quando se viu naquela condição
humilhante de desproporcional ao que de fato
necessitava. Os médicos cardiologistas limitaram-se
simplesmente a lhe ministrar os medicamentos
vasodilatadores que haviam sido prescritos na
unidade de emergência, sem que lhe fosse prescrito
o uso de qualquer diurético para fazer o edema
pulmonar recuar. Sequer tivera seus pulmões
auscultados ou radiografados, bem como nenhum
eletrocardiograma ou ecocardiograma havia sido
realizado naqueles primeiros dez dias de
internação. Não fosse a graça de Jesus que
fortalecia o seu espírito enfraquecido, para
sustentar a sua alma abatida e o seu corpo
189
amortecido pela enfermidade, certamente não teria
suportado todo aquele tipo de atendimento que
estava recebendo.
Ninguém... quer na equipe de médicos, quer na de
enfermagem, demonstrou amor, compaixão ou
empatia pelo estado em que se encontrava, nem
sequer houve até aquele momento um só
samaritano entre eles que se sensibilizasse pela sua
condição de sofrimento, pois em suas consciências
todos estavam desculpados e justificados pela ideia
ilusória de que estavam realizando
competentemente as funções técnicas para as quais
haviam sido adrede preparados.
Eles estavam trabalhando com um pedaço de carne
que viera ter às suas mãos, assim como o
açougueiro trabalha fria e insensivelmente em cada
pedaço de corte com o seu facão, e não
propriamente com um ser humano dotado de razão,
vontade, intelecto, sentimentos, e emoções.
190
Quer para onde nos voltemos na rede hospitalar,
será este o quadro que encontraremos, e as raízes
desse comportamento se encontram nos seguintes
motivos, dentre outros:
É impressionante a extensão da ignorância que
existe sobre as faculdades da alma e do espírito
humano por parte da prática científica, uma vez que
de há muito as universidades, no afã de separarem
a ciência da religião, acabaram por eliminarem
também a subjetividade atrelada à religiosidade,
por considerar que a pesquisa científica deveria se
ater apenas à objetividade, de forma que tem sido
este o modo de pensar universitário, que mais e
mais se expande com um foco eminentemente
materialista, esquecendo-se que a parte nobre do
homem não se refere à biológica, mas à sua alma e
ao seu espírito.
Como a noção de espírito e alma canaliza para a
divindade, uma vez que Deus é espírito, o
humanismo, contradiz-se a si mesmo, ao negar a
191
participação de ambos na prática científica, porque
reduz a humanidade ao objeto, pela negação da
parte imaterial, tendo em vista deixar do lado de
fora a influência e realidade de Deus no ser humano
total.
A secularização da universidade excluiu dos
programas de ensino toda e qualquer abordagem
de caráter subjetivo, porque as emoções, os
sentimentos, a vontade, a imaginação, a intuição, a
consciência, e todas as demais faculdades da alma e
do espírito do homem não contam onde o que se
persegue e estuda é apenas a compreensão objetiva
da matéria, a saber, do universo material que nos
cerca, aí incluído o nosso próprio corpo.
A própria práxis psicológica e psiquiátrica, das quais
se deveria esperar uma maior pesquisa das
faculdades psicológicas e espirituais, no âmbito da
subjetividade em que elas existem, é
eminentemente acadêmica e empírica, focada na
objetividade, voltada simplesmente para a busca de
192
resultados aplicados às áreas terapêutica,
profissional, pedagógica dentre outras, e não
propriamente à compreensão para a elevação e
edificação do próprio espírito e alma humanos.
O grande paradoxo nisto tudo é que o corpo e a
matéria passam, mas o espírito é eterno, de modo
que se prioriza não o que permanece, senão o que é
temporário. E que sabedoria real há nisto?
Todo o esforço da sociedade secular se concentra
portanto não na edificação do ser humano, quanto
à sua necessidade de crescimento pessoal pelo
amadurecimento e aperfeiçoamento de suas
faculdades psicológicas, espirituais e morais, no que
poderíamos chamar de busca do homem total,
pleno da vida e da consciência de Deus, mas o
esforço se concentra meramente na formação
acadêmica secular pela obtenção de conhecimentos
e habilidades para a atuação na produção de bens e
serviços materiais, visando-se não ao sujeito, mas
ao objeto. O homem nada mais deve ser do que um
193
mero consumidor e executor das práticas em que foi
formado através dos programas de ensino
seculares.
Um ser espiritual sendo reduzido à matéria! A parte
nobre da alma sendo negligenciada em prol do
corpo – que é o invólucro temporário do espírito!
Ainda assim, gaba-se o cientista de viver de modo
objetivo, ignorando que a subjetividade que conduz
à religiosidade é inerente ao espírito humano, ali
instalada pelo próprio Deus, para que fosse buscado
pelo homem para ser adorado por ele. Ora, negar
tal realidade é negar a Deus o direito que Ele detém
sobre a criatura! E, por conseguinte, nega-se
também a própria humanidade, porque esta não
pode existir na verdadeira acepção da palavra, caso
esteja alijada da vida divina.
A adoração é uma das faculdades que pertencem
exclusivamente ao espírito humano, pois é notório
que mesmo nos animais que são dotados de alma, a
mesma não existe em razão de não serem dotados
194
de um espírito, que é a parte que distingue o ser
humano de tudo o mais que existe na criação.
Assim, Deus não poderia ter errado o grande alvo ao
nos dar a revelação da verdade na Bíblia, uma vez
que ela tem em vista o resgate e a restauração da
humanidade, sobretudo da alma e do espírito,
conforme podemos verificar em inúmeras
passagens bíblicas.
São faculdades do espírito: Consciência, comunhão,
adoração, intuição, amor ágape, fé, revelação, e
tudo o mais que faz parte do Espírito Santo, que
pode ser gerado no espírito humano: paz, alegria,
domínio próprio, bondade, fidelidade, mansidão
etc.
São faculdades da alma: emoção, vontade, razão,
sentimento, e tudo o mais que se refere às funções
cerebrais tanto em humanos quanto em animais.
Mas, na apreciação das faculdades da alma e do
espírito, não devemos nos limitar às que foram
anteriormente citadas, sem levar em conta a grande
195
gama de realidades invisíveis que operam em
ambas, e que são traduzidas em nosso
comportamento, e em especial em nossos
relacionamentos interpessoais.
Sem que entremos no mérito do que é pertinente
exclusivamente ou não à alma ou ao espírito,
destacaremos algumas destas realidades que
podem ser classificadas como virtudes (quando
correspondem ao que existe no caráter de Deus),
tendo ao seu lado a designação da realidade
negativa que lhe corresponde, por pertencer à
natureza caída terrena.
Humildade – arrogância, soberba,
Misericórdia – implacabilidade, crueldade
Perdão – mágoa, rancor, juízo condenatório
Pureza – fornicação, impureza
Fidelidade – adultério, traição
Gratidão – ingratidão
Hospitalidade – inveja, ciúme
196
Gentileza – rudeza, vileza
Afabilidade – desafeição
Coragem – covardia
Altruísmo – ganância
Veracidade, sinceridade – hipocrisia, falsidade,
mentira
Justiça – injustiça
Amizade – inimizade, ira, porfia
Generosidade – egoísmo
A lista é extensa e aplicável sobretudo às virtudes
ou erros do espírito humano que podem ser
melhoradas (virtudes) ou agravados (erros), quando
respectivamente nos aproximamos ou nos
afastamos da operação da graça de Deus.
Daí sermos exortados como crentes, em II Coríntios
7.1: “Ora, amados, pois que temos tais promessas,
purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do
espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de
Deus.”
197
Ora se tais virtudes destacadas, dificilmente são
achadas em plenitude nos próprios crentes que têm
o Espírito Santo de Deus, por serem de Cristo,
quanto mais se poderia esperar achá-las como
virtudes genuínas e não o fruto de hipocrisia, em
pessoas que não amam a Cristo e os Seus
mandamentos?
Quem esperaria colher maçãs em um espinheiro?
Podemos observar nas passagens bíblicas do Novo
Testamento que a palavra psique – alma, (da qual
se origina a palavra psicologia) é várias vezes
empregada para designar não o corpo físico
humano, mas a parte imaterial animada, de modo
que é costumeiramente traduzida por vida, para
melhor expressar o significado a que se refere. De
modo que, por exemplo, quando nosso Senhor
afirma que veio para dar a sua vida em resgate de
muitos, ele não está se referindo apenas à morte
física, mas muito mais do que isso, a saber, que Ele
entregou todo o seu ser com todos os poderes e
198
faculdades animados e inteligentes da alma, do
espírito, e não apenas do corpo, ou seja, ele
entregou-se totalmente por nós.
Concluímos, pois, quão iludidos e enganados estão
todos aqueles que julgam a Bíblia como sendo um
livro ultrapassado e que não trata com
profundidade as questões relativas às necessidades
da natureza humana. Nada há mais distante da
verdade do que isto, porque se Deus não nos tivesse
revelado a verdade, jamais poderíamos chegar ao
conhecimento da nossa real condição corrompida e
decaída, e que pode ser restaurada somente pelo
remédio que também nos é revelado por Deus na
Sua Palavra. Tudo o que a chamada prática
científica tem afirmado em relação a este campo é
fumaça e não propriamente a substância real do
mundo espiritual que pode ser discernido somente
por meio da fé, a qual é um dom de Deus para
aqueles que o amam.
199
Na simplicidade da revelação nós encontramos um
castelo de ouro e pedras preciosas, e em todo o
emaranhado das teorias e postulados humanos
nada mais há do que um castelo de madeira e palha
que não poderá resistir à prova do fogo, e se
desfará.
Melhor então que os currículos universitários não
abordem as questões relativas à real condição de
nossos espíritos, porque se tentassem fazê-lo, pelas
mentes de homens incrédulos, o que teríamos seria
um grande amontoado de teorias enganosas,
conforme costuma suceder aos que se aventuram a
fazê-lo. E se não o fazem, é porque nada têm
realmente a dizer a respeito, porque coisas
espirituais só podem ser discernidas
espiritualmente por meio da operação do Espírito
Santo (I Cor 2.9-16)
Em suma, de tudo o que se aprende na Bíblia, tanto
no Velho quanto no Novo Testamento é que tanto a
alma quanto o espírito, afastados de Deus, estão
200
não apenas arruinados e em trevas, mas mortos, e
o corpo caminha para a destruição sem a esperança
da ressurreição em glória.
Se são de muita ajuda nos assuntos relativos à cura
de enfermidades físicas e psicossomáticas, o que
podem, no entanto, fazer os médicos, psicólogos,
psiquiatras e psicanalistas e qualquer cientista,
quanto ao resgate e restauração do homem como
um todo (espírito, alma e corpo) para a obtenção da
vida eterna que está somente em Cristo Jesus,
nosso Senhor, e não somente isto, como também
em relação à nossa educação e edificação espiritual
para que cheguemos à plena medida da
varonilidade de Cristo?
Esta total dependência do espírito humano do
Espírito de Deus, pode ser vista claramente na
abundância de referências ao Espírito Santo, no
texto bíblico, em conexão com o espírito humano.
201
Espiritual
A palavra “carne” (sarx, no grego) é usada no texto
do Novo Testamento, tanto para designar o corpo
físico natural, no qual não há inerentemente
qualquer mal moral, senão o mau uso que se pode
fazer do mesmo, e também, a condição da natureza
terrena decaída no pecado que se opõe a Deus e à
Sua vontade.
A revelação bíblica apresenta um contraste entre o
que é espiritual e o que é natural e carnal, e não
propriamente material, como costumeiramente
ocorre ao modo de se pensar em geral.
Sendo que o carnal e o natural aqui referidos
reportam, respectivamente, o primeiro ao que é
pecaminoso, e o segundo ao que é pertencente à
vida moral, que não é espiritual, celestial,
sobrenatural e divina.
O conceito de espiritual, conforme o encontramos
especialmente no Novo Testamento, transcende o
202
de espírito, porque os anjos caídos e o espírito de
pessoas ímpias não são ditos espirituais, pois esta
palavra indica a condição de espíritos que são
conduzidos pelo Espírito Santo de Deus, que se
encontram a Ele voluntariamente sujeitos, a saber,
os anjos eleitos e as pessoas que foram regeneradas
pelo Espírito.
A condição do espírito pode ser tanto de luz ou de
trevas. A de luz identifica os que são espirituais, e a
de trevas, os que são carnais, ou seja, os que não
são de Cristo e não têm, por conseguinte o Espírito.
Como a geração que viveu nos dias de Noé não
atendia ao propósito da criação do homem por
Deus, ou seja, viviam como carnais e não permitiam
o trabalho do Espírito Santo em seus corações,
então foi determinada a destruição pelas águas do
dilúvio (Gênesis 6.3), como um sinal e aviso do que
há de suceder a todos os que viverem como carnais,
resistindo ao Espírito.
203
Ao homem natural não ocorre o pensamento de ter
sido criado para viver no e pelo Espírito Santo. Se
Deus não abrir o seu entendimento para as coisas
que são espirituais e celestiais, ele jamais poderá
topar com o propósito da criação da humanidade
por Deus. E, não há nenhum jogo de esconde-
esconde nisto; nenhuma vontade caprichosa de
Deus envolvida nisto, senão a manifestação da vida
eterna que está oculta em Cristo, e à qual Ele dá
acesso somente àqueles que têm escolhido, e
obedecem à Sua vontade.
Evidentemente, para muitos propósitos úteis e
convenientes à Sua exclusiva soberania e
autoridade, bem como a nós próprios, fomos
criados por Deus sendo espíritos dotados de um
corpo natural, colocados a viver num mundo
também natural.
Por nossa relação com as realidades naturais, o
nosso espírito pode ser exercitado em cuidados
providenciais visíveis, que de outra forma, não
204
poderiam ser manifestados, e importava que Deus
manifestasse, segundo Seu propósito eterno, toda a
Sua glória, em demonstrações de Seu amor, Sua
bondade, misericórdia e justiça para com
pecadores.
O homem deve se interessar em saber o que fazer,
para que seja encontrado como espiritual e não
como carnal, pois temos este dever da parte de
Deus para que possamos agradá-Lo.
O apóstolo Paulo afirma na parte final do quinto
capítulo da epístola aos Gálatas, que devemos
andar no Espírito Santo de modo a não satisfazer às
cobiças da carne – carne aqui considerada, como na
maior parte das passagens do Novo Testamento,
como sendo a nossa natureza terrena decaída no
pecado, da qual devemos nos despojar pelo
trabalho de mortificação do pecado, pelo Espírito
Santo.
Essa vida espiritual, como já foi dito antes, não é
pertencente à nossa natureza terrena, ela nos vem
205
do Alto, descendo do Pai das luzes, e por isso, assim
nos exorta o apóstolo Paulo:
“Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com
Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo
está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas
que são de cima, e não nas que são da terra; porque
morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo
em Deus.” (Colossenses 3.1-3)
O oitavo capítulo de Romanos e o segundo de I
Coríntios discorrem sobre a verdade, de que o
homem natural não tem o pendor do Espírito Santo,
porque a carne (aqui também com o significado de
natureza terrena corrompida pelo pecado), não
pode estar sujeita a Deus. Nisto se evidencia e
cumpre a seguinte palavra de nosso Senhor Jesus
Cristo: “o Espírito da verdade, o qual o mundo não
pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas
vós o conheceis, porque ele habita convosco, e
estará em vós.” (João 14.17).
206
Sem conversão, permanecendo carnal, o homem
não pode receber o Espírito Santo para nele habitar.
Então, o que nos torna espirituais é a habitação do
Espírito Santo.
Sendo feitos espirituais importa vivermos como
espirituais, andando continuamente no Espírito, e
não mais como carnais.
207
A Natureza da Nova Criatura em Cristo Jesus
Por mais repetitivos que sejamos em relação a
este assunto da natureza da nova criatura em Cristo,
na qual somos transformados na conversão, nunca
será demais, em face da importância de termos isto
devidamente gravado e lembrado em nossas
mentes.
“Portanto, assim como por um só homem entrou o
pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim
também a morte passou a todos os homens, porque
todos pecaram.” (Rom 5.12)
“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos
delitos e pecados,” (Ef 2.1).
Estas e outras passagens bíblicas se referem à
condição de morte, perante Deus, de toda a
208
humanidade em razão do pecado, tal como ele
havia dito ao primeiro homem que ele morreria e
nele toda a sua descendência, caso lhe fosse
desobediente.
Então Jesus nos foi dado para nos transportar da
morte para a vida.
“Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a
minha palavra e crê naquele que me enviou tem a
vida eterna, não entra em juízo, mas passou da
morte para a vida.” (João 5.24)
“Nós sabemos que já passamos da morte para a
vida, porque amamos os irmãos; aquele que não
ama permanece na morte.” (I João 3.14)
Vejamos então como passamos da morte para a
vida, por sermos agora novas criaturas, por meio da
fé em Jesus.
209
Isto não significa que recebemos um novo espírito
para ocupar o lugar do nosso espírito.
Não significa também o recebimento de uma nova
personalidade para substituir a que tínhamos até a
nossa conversão, uma vez que esta permanece em
nós.
Não encontramos amparo para este tipo de ensino
nas páginas de toda a Bíblia, mas lá encontramos
que passamos a ter um novo princípio de vida
espiritual, divina e celestial que é implantado em
nós, quando temos o nosso primeiro encontro
pessoal com Cristo, como uma semente, destinada
a germinar, e a crescer e a produzir frutos de justiça,
consoante as virtudes da própria pessoa de Jesus, I
Pe 1.23; Tg 1.21; 1 João 3.9.
É pela habitação do Espírito Santo no crente, e por
esta nova disposição de vida nele implantada, que
todas as faculdades e disposições do nosso corpo,
alma e espírito são vivificados e renovados, para o
que se chama de novidade de vida.
210
Por fazer aumentar e crescer em nós estas graças
referidas, mortificamos o princípio operante do
pecado, e adquirimos mais das virtudes do próprio
Cristo, em operações progressivas renovadoras do
Espírito Santo.
Assim, lemos em Romanos 8.6-13 o seguinte:
“Rom 8:6 Porque o pendor da carne dá para a
morte, mas o do Espírito, para a vida e paz.
Rom 8:7 Por isso, o pendor da carne é inimizade
contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem
mesmo pode estar.
Rom 8:8 Portanto, os que estão na carne não podem
agradar a Deus.
Rom 8:9 Vós, porém, não estais na carne, mas no
Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em
vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse
tal não é dele. Rom 8:10 Se, porém, Cristo está em
vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do
pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça.
211
Rom 8:11 Se habita em vós o Espírito daquele que
ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo
que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos
vivificará também o vosso corpo mortal, por meio
do seu Espírito, que em vós habita.
Rom 8:12 Assim, pois, irmãos, somos devedores,
não à carne como se constrangidos a viver segundo
a carne.
Rom 8:13 Porque, se viverdes segundo a carne,
caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito,
mortificardes os feitos do corpo, certamente,
vivereis.”
A qualidade da vida de Deus somente pode ser vista
portanto, naqueles que foram e que têm sido
vivificados pelo Espírito Santo.
É destes e somente destes que Deus declara nas
Escrituras que vivem. Seguramente, a qualidade de
vida que se tem fora da comunhão com Deus não
pode ser chamada propriamente de vida, senão de
212
morte, por causa da impossibilidade da citada
condição de nos habilitar a amarmos a Deus e a ter
prazer na sua vontade e mandamentos, provando
este amor, por permitir que Sua Palavra seja
aplicada às nossas próprias vontades e vidas.
213
Natural e Espiritual
“O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido
do Espírito é espírito.” (João 3.6)
Nosso Senhor nos dá em poucas palavras qual é a
condição real da natureza humana, ao afirmar que
“o que é nascido da carne, é carne, e o que é nascido
do Espírito é espírito."
Ele se refere a dois tipos de nascimentos distintos
por reprodução. O primeiro em relação à carne, ou
ao que é natural, que somente pode gerar algo à sua
própria semelhança, ou seja, natural. O segundo em
relação ao Espírito Santo que gera nascimentos
sobrenaturais, ou seja, espirituais.
Apesar de existir aquilo que poderíamos chamar de
algo assombroso relativamente à formação de um
ser natural como o humano, que é gerado a partir
de uma única célula formada da união de um
214
espermatozoide com um óvulo, e que por
reproduções sucessivas chega a formar o complexo
de órgãos, sistemas, processos físico-químicos, e
tudo o mais que mantém a vida em funcionamento,
com comandos involuntários criados e
programados por Deus de modo sobrenatural, para
a constituição plena das funções do ser humano,
todavia, ele dispôs este processo natural de tal
forma, que toda geração natural será processada
espontaneamente a partir dos princípios que ele
estabeleceu previamente para tal propósito.
Daí nosso Senhor afirmar que o que é nascido da
carne é carne.
Entretanto, quanto ao nascimento espiritual
operado pelo Espírito Santo, nestes que chegaram à
existência através da geração natural, este é de
outro caráter, porque não pode ocorrer
espontaneamente pela vontade e controle do
homem, como o primeiro, e nem a nova vida
espiritual gerada pode ser mantida por processos
215
naturais, senão somente pelas operações
sobrenaturais do Espírito Santo.
No contexto desta passagem de João 3.6 nós
encontramos o diálogo de Jesus com Nicodemos, no
qual ele destacou a necessidade de um novo
nascimento do alto, do Espírito Santo, para que
possamos ver o reino de Deus. Assim ele apontou
que permanecemos alijados da vida espiritual de
Deus, que é espírito, enquanto não nascemos de
novo do Espírito Santo.
Nosso Senhor também ensinou no contexto desta
passagem que este novo nascimento somente pode
ser obtido pela fé nele.
Daí se dizer nas Escrituras que se alguém está em
Cristo é uma nova criatura, ou novo homem, o que
é designado pelo Senhor no texto de João 3.6
simplesmente pela palavra espírito.
Esta nova criatura gerada pelo Espírito Santo não é
algo de outra substância que é acrescentada ao
216
espírito da pessoa que nasceu de novo na conversão
a Cristo.
Fala-se na Escritura de algo que é colocado, como
uma nova disposição, como vemos em Col 4.10.
Embora seja algo distinto do espírito do homem; no
entanto, é uma coisa mais intimamente inerente a
ele, e que é mais estreitamente unida a ele, e que
nos renova, Ef 4.23; Sl 51.10. E este trabalho de
renovação é feito no homem interior, ou seja, no
mais profundo do nosso ser, em nossas disposições
interiores que nos definem como a pessoa que
realmente deveríamos ser, conforme projetado por
Deus, e não no homem exterior, que se corrompe
com o avançar do tempo, ou mesmo em
manifestações superficiais de nossas faculdades
que se revelam em conversações e ações vazias e
infrutíferas relativamente aos desígnios de Deus.
É impossível para a mente comum conceber que
haja uma outra dimensão de vida (a espiritual que
nos vem do alto) além desta já tão complexa vida
217
natural com todo o seu aparato de possibilidades de
desenvolvimento de habilidades e conhecimentos,
conforme foi programado por Deus, e daí não serem
poucos os que negligenciam esta necessidade vital
de um novo nascimento do espírito, por não crerem
que seja de fato necessário ou mesmo possível, uma
vez que a própria vida natural é assim tão cheia de
mistérios que o homem vem desvendando ao longo
das eras.
Mas como Deus não projetou o que é natural para a
eternidade, senão somente o que é espiritual, e que
possua o mesmo caráter da divindade, em seus
atributos e virtudes espirituais, então, torna-se
crucial atingir este propósito eterno, uma vez que
tudo o que é natural se desfaz pelo uso e com o
tempo.
A vida natural por mais plena e pura que fosse,
ainda assim, não poderia adentrar a eternidade,
porque isto é concedido somente ao que é
espiritual. Espiritual, não simplesmente por
218
possuirmos um espírito, porque disto todas as
pessoas são dotadas, mas espiritual no sentido de
possuir a vida que é produzida pelo Espírito Santo
naqueles que têm a Cristo.
Deve ser levado em conta, sobretudo, que Deus não
pode habitar senão naqueles que são assim
nascidos de novo do Espírito Santo, porque é nestes
que há o consentimento voluntário do trabalho que
Ele operará da transformação deles à sua própria
imagem e semelhança. Daí o apóstolo chamar a isto
de coparticipação da natureza divina, 2 Pe 1.4,
indicando que esta harmoniosa cooperação da
vontade do homem, submetendo-se à vontade de
Deus, uma vez que nele agora habita esta nova
disposição espiritual que é nele produzida pela
habitação do Espírito Santo.
Há necessidade desta justa cooperação porque na
criatura natural tudo está disposto para crescer
espontaneamente sem a influência direta do
exercício da nossa vontade para o seu
219
funcionamento e crescimento. Mas tal já não
sucede em relação à nova criatura onde tudo exige
esforço, diligência, escolha, segundo o querer e o
efetuar de Deus. Ou seja, a nova criação espiritual
demanda um contínuo andar no Espírito Santo e
obediência às ordenanças de Deus constantes de
Sua Palavra. Sem isto não há crescimento e nem a
manutenção das graças recebidas por meio da fé em
Cristo.
A criatura natural pode viver sem Deus no mundo.
Mas a nova criatura não somente existe sem Deus,
como também não pode subsistir afastada dele.
Daí o apóstolo ter afirmado: “já não vivo eu, mas
Cristo vive em mim” Gál 2.20.
A nova criatura garante a permanente presença
diante de Deus, porque é nascida do Espírito, e
assim, não pode morrer, e nunca deixará de viver
aquela vida sobrenatural e superior que se encontra
em Jesus Cristo.
220
Esta nova vida foi gerada da semente incorruptível,
que não comete pecado, e que foi colocada por
Deus na alma de todo o que crê em Jesus, 1 João 3.6.
É pela germinação e crescimento progressivo desta
semente que o pecado será mortificado mais e mais
para que possamos produzir os frutos espirituais de
justiça esperados por Deus, Rom 8.6-14.
221
Curando a Doença e Não Aliviando Somente os Sintomas
Quando a Bíblia fala sobre o pecado, apesar de
definir muitos comportamentos como
pecaminosos, o sentido em aplicação nunca é o de
simplesmente afirmar algo do tipo: “isto é pecado,
aquilo não é pecado, você pecou nisto, você não
pecou naquilo”, ou seja, não estamos diante de um
aferidor ou classificador de nossos pensamentos,
palavras e ações, mas de uma afirmação da nossa
condição interior que está disposta naturalmente
para se afastar de Deus e de tudo o que se refira à
sua vontade.
A Bíblia atesta que o nosso caso, a saber, de toda a
humanidade, é desesperador.
E foi em razão disto que Deus nos preparou o
Salvador desta nossa condição ruim e que está
sujeita à condenação pela perfeita justiça celestial.
222
Ainda que não aceitemos o veredicto relativo à
nossa situação, ele é e continuará sendo dado pelo
testemunho da Palavra de Deus, que nos aponta a
necessidade do arrependimento e da fé em Cristo,
para que sejamos resgatados da referida situação.
O alvo em vista é de restauração total e não de
remendar este ou aquele procedimento que
necessite de uma reforma da nossa parte.
É a recuperação do homem total para ser
conformado eficazmente à imagem e semelhança
de Deus, pela resposta adequada de todo o seu
querer, pensar e agir, às demandas da santidade de
Deus, que está em foco.
Este objetivo, conforme definido pela Bíblia, não é
algo que possa ser cumprido pelo nosso próprio
poder natural. Necessitamos da graça sobrenatural
de Jesus para efetuar em nós tanto o querer quando
o realizar. Onde a graça não estiver operando nada
poderá ser feito para o atingimento do objetivo
proposto.
223
E como a graça não pode reinar onde o pecado
estiver reinando, devemos nos submeter
inteiramente ao trabalho de mortificação da raiz do
pecado, pelo poder do Espírito Santo atuando em
nós.
E enquanto neste mundo, o trabalho desta
mortificação deve ser renovado e continuado,
porque o pecado lança novas raízes, e estas devem
ser sempre desarraigadas pelo Espírito.
E ai de nós, enquanto não adquirirmos o hábito da
santificação, pelo qual até o nosso próprio desejo é
conduzido pelo Espírito, de modo a achar prazer em
sua santificação sendo operada em nós.
Dizemos ai de nós, porque enquanto não formos
confirmados em toda boa obra e boa palavra pelo
Pai e pelo Filho, 2 Tes 2.16,17, estaremos sujeitos a
muitas dúvidas, apostasias, e a um viver
inconstante e carnal.
Portanto, quando se fala em pecado, quer na Bíblia,
quer na pregação, quer no ensino do evangelho, não
224
devemos ter uma atitude dogmática do tipo que nos
leve a ficar satisfeitos caso não tenhamos praticado
determinadas coisas que Deus condena, porque é
possível fazer isto, e ainda assim o nosso coração
poderá ser achado afastado dele e não ter qualquer
interesse numa verdadeira comunhão espiritual, e
numa purificação real do nosso coração, que nos
leve a viver de fato de modo agradável a Deus.
É somente assim que podemos achar paz e descanso
para as nossas almas, e ter uma boa consciência
para com Deus e para com todos os homens.
Satanás usa a palavra pecado sempre com a
intenção de nos condenar e fazer com que sintamos
que a vida cristã é um fardo impossível de ser
carregado e insuportável, mas quão isto está
distante da verdade, pois podemos ter toda a
convicção na nossa própria experiência, do quanto
é feliz todo aquele que se consagra inteiramente a
Jesus.
225
Devemos sempre lembrar que há situações e
comportamentos que não podem ser relacionados
numa lista dogmática quanto a serem ou não
pecaminosos, e por isso necessitamos em todo o
tempo da ação do Espírito Santo para nos instruir e
dirigir quanto a tudo o que nos convém ou não
praticar ou falar, e até mesmo desejar.
Por isso se afirma na Palavra que andando no
Espírito jamais satisfaremos os desejos da carne,
Gál 5.16.
226
Destruindo a Fábrica do Mal e Não Apenas os Seus Produtos
O domínio do pecado não é uma mera força contra
a vontade e os esforços dos que estão sob ele. Este
domínio consiste principalmente na conquista da
mente e de todas as suas faculdades, e
especialmente da vontade, por meio de fascínio e
tentações para os quais a natureza humana não está
capacitada a resistir e vencer. Tanto que, ainda que
alguém resista à prática consumada do pecado,
todavia, o desejo permanece no interior do coração.
Esta vitória é alcançada somente pela nova
natureza recebida na conversão a Cristo, pela qual
somos feitos coparticipantes da natureza divina. É o
novo homem criado segundo a justiça em Cristo
Jesus que está habilitado a vencer o pecado, por
meio da graça. O velho homem nada pode fazer
porque se encontra morto espiritualmente, em
delitos e pecados.
227
Por isso, ao se referir à nossa escravidão ao pecado,
nosso Senhor afirmou que somente ele pode nos
livrar desta servidão, uma vez que não há poder na
nossa própria natureza para tal propósito.
Não se vence portanto o pecado, por ações
violentas de nossa própria vontade contra ele, nem
com meras deliberações de que faremos uma
reforma de nossas vidas, mas nos sujeitando
efetivamente ao poder de Deus, que nos purifica de
todo o pecado, com base no sangue que Jesus
derramou para a sua expiação.
Aquele portanto, que pode distinguir entre o que
seja a natureza do pecado em si, e as meras
impressões do pecado sobre a nossa mente e
vontade, está a caminho da paz, porque
certamente, sairá mais do que vencedor desta
guerra contra o pecado, por meio de um viver
santificado pela graça e aplicação da Palavra de
Deus ao seu coração, pelo Espírito Santo.
Mais do que evitar determinados pecados, deve-se
combater o mal pela raiz, pela subjugação do
princípio do pecado que opera na carne, por meio
de um andar no Espírito Santo, e na novidade de
vida da nova criatura que fomos feitos em Jesus.
Vê-se com isto quão importante é a prática da
oração, da meditação na Palavra, da vigilância do
coração, e de todos os demais exercícios espirituais
que nos são ordenados por Deus para que
tenhamos um viver
vitorioso sobre todas as forças do mal, quer
externas, quer internas.