gabriella anderson - para sempre seu - ch 281

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  • 8/4/2019 Gabriella Anderson - Para Sempre Seu - CH 281

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Anderson

    Inglaterra, sculo XIXUMAMORQUEVALIAMUITOMAISQUEFORTUNAEINFLUNCIA!Ivy St. Clair est certa de que a carta do lorde Stanhope, que a nomeou uma de

    suas herdeiras, vai lhe proporcionar pelo menos aventura. E aventura a nica coisa queno vai existir na sua vida depois de, se casar com Neville, a mando da sua famlia. Parareceber a herana de Stanhope, ela deve entregar um retrato ao recluso Albert Seaton,conde de Tambetlake. Seaton um homem misterioso e possui cicatrizes de um graveacidente que sofreu. Mas suas cicatrizes so bem menos interessantes do que suamelancolia, e Seaton - gentil, bondoso e perigosamente atraente - tudo o que odesagradvel noivo de Ivy no . E, em pouco tempo, Ivy percebe que a improvvel

    amizade que brotou entre eles transformou-se em um tipo de amor pelo qual ela sercapaz de arriscar seu nome e sua fortuna!

    Gabriella Andersonvive em Albuquerque, no Novo Mxico, com o marido, trsfilhas e vrios animais de estimao. Quando no est escrevendo romances, realizatrabalho voluntrio em uma biblioteca escolar.

    Digitalizao: SimoninhaReviso: Denise Barros

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella AndersonI

    No tenho medo de voc. Ela atirou a mscara ao cho.O som da porcelana se partindoecoou pela galeria.Tamberlake debruou-se ameaador

    sobre seu rosto. O que voc fez?Sem pensar, ela tocou as cicatrizescomo se desejasse redesenh-las.

    um belo homem, lorde Tamberlake.O conde desistiu de lutar. Com um gemidogutural, ele se debruou e beijou-a.Por um instante, Ivy pensou queele a estava matando, mas depoissua boca sentiu a dele. Com o corao

    aos saltos, apoiou as mos em seusombros e se entregou Ao beijo.OSCORPOS estavam colados, e podia sentir o calor dos msculosFortes atravs de suas roupas.Querida leitora.Este romance nos mostra que o amor no mede esforos, que ele no tem raa,

    cor, religio, gosto ou classe social... O amor um sentimento puro e sincero. Quando elesurge, de maneira quase sempre inexplicvel e inesperada, impossvel no se deixarenvolver. Ento percebemos que somos capazes de fazer qualquer coisa e deencontrarmos uma soluo para qualquer situao!

    Fernanda Cardoso Editora

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella AndersonCopyright 2003 by Gabriella Andersoh Originalmente publicado em 2003 pela

    Kensington Publishing Corp.PUBLICADO SOB ACORDO COM KENSINGTON PUBLISHING CORP.NY, NY - USA Todos os direitos reservados.Todos os personagens desta obra so fictcios.

    Qualquer semelhana com pessoas vivas ou mortaster sido mera coincidncia.Ttulo original: Ever YoursTraduo: Dbora da Silva Guimares IsidoroEditora e Publisher: Janice FloridoEditora: Fernanda CardosoEditoras de Arte: Ana Suely S. Dobn, Mnica MaldonadoPaginao: Dany Editora Ltda.No compre livros usados, pois voc estar contribuindo para o aumento

    do mercado paralelo e a diminuio de empregos.

    UBEDITORA NOVA CULTURAL LTDA.Rua Paes Leme, 524 - 10s andarCEP 05424-010 - So Paulo - BrasilCopyright para a lngua portuguesa: 2004 EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.Impresso e acabamento:RR DONNELLEY AMRICA LATINA Tel.: (55 11)4166-3500Gabriella AndersonPARA SEMPRE SEUTRADUO Dbora da Silva Guimares Isidoro

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella AndersonCaptulo ILondres, 1854Tem certeza de que no cometeu um engano? Ivy perguntou ao sentar-se. O

    advogado encarou-a atravs dos culos. lady Ivy St. Clair, filha de Gerald e Phoebe St. Clair, conde e condessa de

    Dunleigh? Sim. Ento no h engano algum.Ivy olhou para o irmo, que encolheu os ombros. Ele cruzou os braos sobre o

    peito e apoiou as costas na parede. Mas uma herana? Eu nem conheci lorde Stanhope. Ivy balanou a cabea.

    Por que lorde Stanhope deixaria alguma coisa para mim? No cabe a mim responder tais perguntas. O advogado removeu os culos e

    limpou as lentes com um leno.Ivy decidiu que o sr. Jenkins combinava com o escritrio formal.

    O que ela herdou? perguntou Christopher. Uma casa em Devon e mil libras. O homem recolocou os culos. Nada mal, Ivy opinou o rapaz.Nada mal? Era espantoso. A herana no a enriqueceria, mas era suficiente para

    deix-la sem ar. Estava perplexa. No entanto, h uma condio a ser cumprida, uma tarefa que deve executar

    antes de tomar posse dos bens disse o advogado. Ele removeu um envelope de umadas gavetas e colocou-o sobre a mesa.

    De onde estava, Ivy podia ler o nome escrito nele. Era o seu nome.O sr. Jenkins levantou-se e atravessou a sala na direo de um pequeno armrio.

    De dentro dele, retirou um volume retangular e fino envolto em papel pardo e reuniu-seaos visitantes. O sr. Stanhope deixou instrues para que eu lhe mostrasse isto antes da leitura

    da carta.Com cuidado meticuloso, ele removeu o papel que guardava o pacote. Ao abri-lo, o

    advogado exibiu um retrato, e Ivy parou de raciocinar no instante em que o viu. Olhosazuis e claros a fitavam da tela. O homem retratado era jovem, mas j havia ultrapassadoo estranho estgio da adolescncia. As linhas agudas do queixo denotavam fora,enquanto a seriedade da expresso falava de inteligncia. O brilho em seus olhos sugeriamalcia e algo mais que ele no era capaz de identificar ou compreender.

    Tolice, Ivy. s uma pintura, nada mais. Tudo que v nessa expresso foi criadopor um artista.

    Quem ele? perguntou Ivy. Lorde Stanhope no me concedeu o privilgio de tal informao. Talvez tenha

    mencionado alguma coisa na carta. O advogado empurrou o envelope na direo dela.Christopher, irmo de Ivy, o pegou. Ela censurou-o com o olhar e estendeu a mo,

    pegou a carta e examinou a caligrafia ousada no envelope. Lorde Stanhope tambm me instruiu para conceder-lhe uma semana de prazo

    at que decida se concorda ou no com essa condio. Suponho que a tarefa esteja estipulada na carta. Ivy guardou-a na bolsa. Estou certo disso. Deve compreender que no li a carta.

    E se eu no concordar com a condio imposta por lorde Stanhope? A casa e o dinheiro sero revertidos para o sobrinho dele, o novo conde.

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Anderson O que seria uma pena Christopher opinou. Deve levar o retrato. Um de meus rapazes o levar at sua

    carruagem. No final da semana, ou antes, se desejar, sua resposta ter de ser anunciadaa mim. O homem levantou-se e sorriu, uma indicao de que o encontro chegava aofim. Ivy tambm se levantou.

    Obrigada por sua ateno, sr. Jenkins. Voltaremos a conversar dentro de umasemana.

    Devo reservar esse mesmo horrio na prxima semana? Sim, obrigada.O advogado abriu a porta do escritrio e despediu-se com uma inclinao que

    mesclava cortesia e respeito. Christopher seguiu a irm para fora da sala.No caminho de volta para casa, Ivy examinou o retrato. Aqueles olhos azuis no

    podiam ser reais. O olhar a atraa, provocando coisas dentro dela que no podia nomear. Quem supe que seja? perguntou seu irmo. A questo a arrancou do estado

    de torpor.

    Imagino que seja algum importante. um retrato muito bem-feito. Mame e papai no vo aceitar que leve para dentro de casa um homemestranho. Para ser franco, no sei se eu mesmo aprovo o gesto.

    No seja tolo. No estou levando um homem estranho para casa. Seu retrato, ento. No quero minha irm suspirando por uma imagem. Voc encantador, Christopher, mas isto apenas uma pintura. Encantador? Se algum a escuta, minha reputao estar arruinada! Mas ele

    beijou sua testa mesmo assim. Leia a carta, sim? Vamos descobrir quem essehomem.

    Ivy removeu o envelope da bolsa, quebrou o lacre de cera e removeu trs folhas de

    papel de dentro dele.Minha cara Ivy,Perdoe-me pelo tratamento informal, mas sinto que a conheo o bastante para

    abrir mo do aborrecimento causado pelo uso de ttulos. De qualquer maneira, tardedemais para censurar-me por minhas maneiras. ( s uma pequena piada. Sempre acheique ningum deve passar um nico dia sem rir.)

    Que homem estranho, pensou Ivy. E ento, o que ele diz? quis saber Christopher. Ainda no terminei a leitura. Depressa. Quero saber que histria essa. Se no parar de importunar-me, no lerei a carta at que estejamos em casa e

    eu possa trancar-me em meu quarto. Prometo que vou ficar quieto. O rapaz cruzou os braos e adotou uma pose

    de desinteresse, mas a observava pelo canto dos olhos.Ivy riu de sua artimanha e retomou a leitura.Deve estar se perguntando por que deixei to estranha herana para voc. H

    muitos anos, eu me apaixonei por uma bela mulher. Imagine minha alegria quando soubeque ela correspondia aos meus sentimentos. Nunca esqueci a temporada que passamosna companhia um do outro, as danas, os sussurros doces e os momentos roubados. Masfui o segundo filho de meu pai. Sem nada em meu nome e poucas perspectivas, os paisdela no aprovaram nossa unio e a casaram com outro homem. A mulher a que me

    refiro sua me, Phoebe. Foi com o corao partido que a vi desposar seu pai. Jureinunca causar a ela sequer uma frao da dor que ela me imps, e assim decidi que o

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Andersonmelhor seria nunca mais interferir em sua vida. Mas jamais a esqueci.

    Isso explicava a reao de sua me. Quando Ivy recebera a notcia de que lordeStanhope havia deixado uma herana, sua me suspirara, murmurara uma nica palavra,"Harold", e sara do aposento secando uma lgrima furtiva.

    Tomei conhecimento do nascimento do filho de Phoebe, depois do seu nascimento,

    depois de sua irm. Nessa poca, meu irmo havia falecido e eu adquiri o direito ao ttulo.Obtive o ttulo e a riqueza, mas havia perdido meu amor.

    Uma das pequenas ironias da vida. J disse que gosto de uma boa piada, no? Avida tambm capaz de brincar. No me julgue amargo. Pelo contrrio. No acredito emlamentar aquilo que no posso mudar. Phoebe foi feliz com sua vida, e eu me contenteicom a minha. Mas acompanhei de longe a vida de vocs, sempre interessado, embora ja-mais tenha tentando uma aproximao.

    Voc, Ivy, sempre foi a que considerei mais fascinante. Seus irmos so excelentesindivduos, mas voc possui um brilho, um amor pela vida que eles no possuem. Trataseus admiradores com gentileza, sem encoraj-los. Nenhum conseguiu roubar seu

    corao at o presente momento. Imagino que seus pais demonstrem desnimo com seucomportamento.Ivy riu. Lorde Stanhope de fato conhecia bem seus pais.Assim, deixo para voc uma pequena casa e algum dinheiro para que possa

    preservar sua independncia mesmo que se case. Mas, antes, tenho um pedido a fazer.Uma viagem pode esclarecer muitas coisas. E em muitas ocasies voc poder encontrara realizao de seu maior desejo ao final de uma jornada.

    Seu maior desejo. Ivy balanou a cabea. A realizao de um sonho no era o quea esperava ao final da jornada. O dever a aguardava. Dever na forma de NevilleFoxworthy, conde de Wynbrooke. Com a testa franzida, ela continuou lendo.

    Jenkins j deve ter mostrado o retrato. Quero que o entregue a um amigo meu emGales. Ele no vai ficar feliz por eu t-lo retido por tanto tempo. Acredito que a nicacapaz de realizar tal tarefa.

    Minha antiga governanta, a sra. Pennyfeather, aceitou acompanh-la. Ela umaboa mulher e ser uma acompanhante admirvel. Um cocheiro e uma carruagem j estoao seu dispor para quando decidir fazer uso deles. Jenkins conhece os detalhes. Cara Ivy,espero que aceite essa proposta de um amigo bem-intencionado que jamais soube ter.Desejo-lhe tudo de melhor no futuro. S gostaria de estar presente para podertestemunh-lo.

    Seu, lorde Stanhope.A ltima pgina da carta fornecia o nome e o endereo do homem a quem ela

    deveria entregar o retrato. Albert Seaton, conde de Tamberlake, Gryphon's Lair, Betws-y-coed, Gales.

    Estranho. Nunca ouvira falar no conde Tamberlake.Ela dobrou a carta e guardou-a no envelope. Extraordinrio. Qualquer servio de

    entregas poderia levar o retrato a Gales. Por que ela? Lorde Stanhope no explicara porque a havia escolhido para a misso. E no entanto, Ivy no precisava de um motivo.

    Seus lbios se distenderam num delicado sorriso. E ento? Quem ele? Ele quem? O homem do retrato.

    Lorde Stanhope no revela. O que ele quer?

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Anderson Ele quer que ele leve o retrato para um amigo dele em Gales. Impossvel. Impossvel decidiu Phoebe St. Clair, condessa de Dunleigh. Nem pense

    nisso, Ivy. Voc no pode perder o incio da temporada. Acha que me importo com alguns bailes tolos?

    Tolos? Ivy St. Clair, no admito que... Me, lembre-se da sua dispepsia. Acalme-se, sim? Eu no disse que vou desistir

    do compromisso. Nem pense em tal coisa, Ivy. Foi s uma brincadeira. No brinque com tais coisas. Voc sabe que deve se casar primeiro. Depois

    encontraremos um marido adequado para Georgina.Ivy lamentou no ser a caula. J disse que vou me casar com lorde Wynbrooke. J adiamos demais o anncio oficial. O que as pessoas vo dizer?

    Nada. Se nenhum anncio foi feito... S me ausentarei por duas semanas. Ivylevantou-se da cadeira e foi at a janela, de onde olhou para o oeste. Queria ir, mas suame era difcil de convencer. Ento ela teve uma ideia. Pensei que ficaria feliz por eufazer tal favor a um velho amigo. Mas vejo que ele no significou tanto como imaginei.

    Lady Dunleigh suspirou. O querido Harold. Ela usou um leno para secar o canto de um olho.Embora sentisse mais estima pela me depois da descoberta de um amor perdido,

    Ivy no tinha escrpulos quanto a usar a lembrana de lorde Stanhope para enfraquecersua determinao. Decidida, ela se virou e segurou as mos de lady Dunleigh.

    Anunciaremos o noivado assim que eu voltar, prometo. Pode at ir buscar meu

    vestido.O entusiasmo da condessa foi imediato. Sei at o tom exato que vou escolher para realar seus olhos. uma pena que

    no seja loura como sua irm.Ivy voltou-se para a janela mais uma vez a fim de esconder um sorriso. No se

    incomodava por ter cabelos castanhos e olhos da mesma cor. Sua irm, Georgina, ouviapoesias e elogios suficientes pelas duas.

    Mas impossvel. No posso acompanh-la, e tambm no posso abrir mo desua ama. Georgina tem vrios bailes para ir. Ela no pode perder o incio da temporadaporque a irm mais velha decidiu aventurar-se pelas estradas.

    No preciso de minha ama. Lorde Stanhope tomou providncias para que suaantiga governanta me acompanhe. E Christopher disse que gostaria de ir tambm. Eacredito que as estradas podem ser menos selvagens do que a temporada por aqui.

    Uma governanta como acompanhante? Isso inaceitvel! Diremos a todos que a mulher uma nobre empobrecida, ou algo parecido. E

    Christopher estar comigo. Por favor, me. No vai querer que eu negligencie a memriade lorde Stanhope, no ?

    No, de fato. Que homem mais adorvel por lembrar de voc em seu testamento. Um sorriso enigmtico iluminou o rosto da condessa. Ela tocou o lao em sua gola eolhou para um ponto qualquer perdido no horizonte.

    Ele deixou para voc o chal em Devon.

    Sim, mas devo realizar essa tarefa. difcil imaginar que ele se foi.

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Anderson Ento, deixe-me honrar seu ltimo pedido.Lady Dunleigh assentiu. Sim, devemos honrar sua memria. Voc ir a Gales. Eu mesma acertarei tudo

    com seu pai e lorde Wynbrooke.Ivy mordeu o lbio para conter um grito de alegria. Teria mais trs semanas de

    liberdade antes de resignar-se com o destino que os pais haviam traado para ela.Aceitaria o casamento imposto por sua famlia, mas no era obrigada a gostar dessa ideia.E se o futuro noivo no se opusesse a sua ausncia, bem, teria todo o tempo do mundopara demonstrar obedincia depois do casamento.

    Repita o que tem a fazer em Gales. Devo entregar um retrato para o conde de Tamberlake. Lady Dunleigh

    empalideceu. Voc no havia mencionado esse nome. Ivy correu para perto da me. Qual o problema, me? Minha querida menina, no posso deix-la ir.

    Tolice. E s uma simples misso. Alm do mais, j admitiu que devo ir. No, voc no entende. No a misso. o homem. Que homem? Tamberlake. O conde monstro.

    Captulo II

    Conde Monstro. As palavras ecoavam na mente de Ivy enquanto seus olhosexaminavam a manso de pedras cinzentas por trs dos portes de ferro. No havia luz

    em nenhuma das janelas. As torres laterais lembravam uma fortaleza. As pedras eramrecobertas por musgo, e chamins brotavam do telhado sem que nada fosse feito paraocult-las. No havia adornos do lado de fora, exceto a imagem de um grifo sobre osportes.

    No parece muito amistoso disse Ivy. Christopher olhou pela janela dacarruagem.

    O que esperava? Estamos em Gales. A sra. Pennyfeather tocou seu brao. Estou certa de que o lugar garante segurana e proteo no inverno. A

    governanta tentava sempre encontrar o aspecto positivo de tudo e era uma companhiamuito divertida. Alegre, espirituosa, ela sabia entabular e manter uma conversainteressante. Lorde Stanhope escolhera bem. Ivy lamentaria despedir-se dela ao final dajornada.

    O clima combinava com seu estado de esprito. Nuvens cinzentas e pesadas osseguiam h dias, tornando a viagem mais lenta e transformando as estradas emverdadeiros pntanos. E hoje a situao era ainda pior.

    Em tal cenrio, Ivy podia quase acreditar em um conde monstro. Se fosse umacriatura monstruosa, sem dvida escolheria aquele ambiente para construir seu lar. Etalvez precisasse mesmo buscar refgio em terras estranhas. Sua me no ficaria felizquando descobrisse que demoraria mais do que o previsto para retornar. Mas o climaimpiedoso no era sua culpa. Esperava que a chuva continuasse por muitas semanas.

    Com um suspiro, Ivy soltou as cortinas que protegiam as janelas e reclinou-se

    contra o assento. Havia sido uma viagem difcil e desconfortvel. Pousadas cuja limpezaera muitas vezes questionvel, comida ruim, dias seguidos de progresso lento e tedioso...

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella AndersonAs estradas tornaram-se piores quando ultrapassaram os limites da Inglaterra, mas aquelaltima hora havia sido a pior. Cada solavanco a levava a questionar se algum diaconseguiria se ver livre de todos os hematomas que marcavam seu corpo.

    O cocheiro saltou de seu lugar e foi abrir os portes. Alguns minutos depois acarruagem parou novamente, dessa vez diante da casa. Ivy esperou que o condutor fosse

    abrir a porta. Christopher deixou seu assento com aparente relutncia, mas ajudou-a asaltar.

    Prefiro esperar aqui, se no se importar. Ele acendeu um charuto e ficouparado ao lado do veculo.

    Faa como quiser.Ivy subiu a escada que levava porta, e s a sra. Pennyfeather a acompanhou. O

    cocheiro tambm ficou ao lado da carruagem.A aldrava na porta tambm era um grifo. Uma sineta pendia de seu bico fino e

    longo, e as garras pareciam estar prontas para o ataque. Se fosse tmida, a imagemdaquela aldrava teria sido suficiente para afugent-la. Ivy ergueu a sineta. Ela rangeu

    como se protestasse contra o uso.No se deixe levar por sua imaginao.Ignorando os pensamentos sombrios, ela bateu duas vezes. Acha que h algum em casa? Ouvi dizer que o conde no sai nunca respondeu a sra. Pennyfeather. Foi o que pensei.Ivy segurou a aldrava para bater novamente, mas a porta se abriu antes que ela

    tivesse tempo para executar o movimento. Um homem grisalho e encorpado surgiu dooutro lado.

    Posso ajud-la?

    Estou procurando pelo conde de Tamberlake. Tenho aqui... Sua excelncia no recebe ningum. Bom dia. O mordomo fechou a porta.Ivy agarrou a aldrava e teve a impresso de que o grifo ria dela. Ele bateu a porta em meu rosto! exclamou indignada. Sim, eu notei. Mas a governanta parecia to surpresa quanto ela.Novas batidas, e dessa vez o mordomo abriu a porta mais depressa. Sua excelncia no deseja receber visitantes. Mas no estou aqui para visit-lo. Sou... A porta se fechou com um estrondo. Que homem mais rude e indelicado! Por favor, minha lady, acalme-se. No vai conseguir nada perdendo a calma

    dessa maneira.Christopher chamou-as de onde estava, ao lado da carruagem. Vamos voltar ao vilarejo e encontrar acomodaes para esta noite. Amanh

    voltaremos. Eu no voltarei, porque no irei a lugar nenhum. Tambm posso ser teimosa, se

    for necessrio. No vou sair daqui enquanto ele no nos receber.A sra. Pennyfeather ergueu as sobrancelhas. Como preferir, minha lady. Ivy bateu mais uma vez e gritou: Eu no parti. Ainda estou aqui.Durante meia hora ela ficou ali parada diante da porta, irredutvel. A sra.

    Pennyfeather desistiu de tentar lev-la de volta carruagem. Christopher a ignorava, e o

    mordomo parecia ter contrado uma surdez sbita e incurvel.Mas nada a tiraria dali. Nem mesmo a chuva que voltava a cair. Estaria o cu

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Andersonconspirando com o conde contra ela? Pois bem, sua teimosia podia superar tambm achuva.

    Ivy, venha para a carruagem chamou o irmo. Vai ficar molhada. No tem importncia. No vou sair daqui. No seja tola. Podemos encontrar boas acomodaes no vilarejo.

    No. No espere que eu fique na chuva com voc. claro que no.Christopher entrou no veculo. A sra. Pennyfeather suspirou e ajeitou o xale em

    torno da cabea e do pescoo. No posso permitir que fique na chuva comigo. V para a carruagem com meu

    irmo, sra. Pennyfeather. Oh, no, eu no poderia... Por favor, intil ficarmos ambas molhadas. Alm do mais, posso ordenar que

    v para o coche.

    Mas... voc vai adoecer! Por causa de um pouco de agua? Ivy baixou a voz. Alm do mais, estouapostando na chuva para convencer o conde a nos deixar entrar.

    Nesse caso, devo ficar aqui com voc.O cocheiro ofereceu um guarda-chuva, mas Ivy recusou-o. Um guarda-chuva

    poderia ser visto como sinal de fraqueza.Quinze minutos mais tarde, ela comeou a tremer. H algum tempo passara a

    duvidar da eficincia do plano, mas a esperana de ver a porta se abrir no instanteseguinte a impedia de desistir. Pensou ter visto movimento nas janelas do andar de cima,mas, quando levantou a cabea, a chuva caiu em seus olhos e obscureceu sua viso.

    Tola. Sim, voc uma tola. Christopher est certo. Seu pai est certo. Qualquerpessoa com um mnimo de sanidade teria desistido h muito tempo.Ivy suspirou. Estava com frio, molhada e com fome. Os cabelos haviam despencado

    da touca, e a saia pesava tanto que poderia cair h qualquer momento. A sra.Pennyfeather tambm tinha uma aparncia miservel. A culpa tomou-a de assalto diantedo evidente sofrimento da pobre mulher.

    Poderiam voltar no dia seguinte. Quando estava se preparando para partir, o grifodeu um salto para trs. O mordomo apareceu imponente diante de seus olhos.

    Meu senhor diz que vocs devem entrar. Ivy sufocou um grito de triunfo.As duas mulheres entraram no hall escuro. Christopher alcanou-as antes que a

    porta fosse fechada. Devo admitir que tem fibra, minha irm. Nunca pensei que pudesse conseguir. Direi ao cocheiro para onde a carruagem deve ser levada o mordomo avisou a

    caminho da porta. Pea a ele para trazer nossa bagagem antes Ivy ordenou. O homem encarou-

    a com uma sobrancelha erguida. Precisamos de roupas secas. Ou prefere ter uma poa de gua no seu hall. Sim, claro. Muito bem. E diga a ele para trazer tambm o pacote. Muito bem, senhorita. Lady corrigiu a sra. Pennyfeather.

    Sem dizer nada, o mordomo abriu o guarda-chuva e saiu para ir falar com ococheiro. Minutos depois ele retornou.

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Anderson Sua carruagem ser conduzida para a parte posterior da propriedade. Podem

    usar um dos quartos para mudarem suas roupas. E quanto a mim? Christopher perguntou com seu sorriso radiante. Pode ficar no salo. Venha comigo, por favor. Ele o conduziu por um corredor.O segundo andar da manso era to sombrio quanto o primeiro. O quarto onde Ivy

    e a sra. Pennyfeather foram deixadas era sbrio, com poucos mveis e uma lareira queno era usada h muito tempo, a julgar pela aparncia das pedras. Talvez o conde nopudesse arcar com os custos de uma casa repleta de mveis. Talvez tivesse algumaaverso ao conforto. Desde que entrara ali, nada do que vira sugeria conforto ouaconchego.

    As palavras de sua mente surgiram cintilantes em sua memria. Conde monstro.Que tipo de homem vivia numa casa mergulhada na escurido?

    Batidas na porta a sobressaltaram. Sim?respondeu a sra. Pennyfeather. Sou a governanta. Meu marido deixou sua bagagem no quarto vizinho.

    Obrigada.Toquem o sino quando estiverem prontas, e eu virei busc-las.Meia hora mais tarde, as duas mulheres estavam secas e vestidas. Ivy conseguiu

    at torcer os cabelos molhados e ajeit-los num arremedo de penteado. Satisfeita com oresultado, ela tocou o sino.

    A governanta apareceu em poucos minutos. A mulher era baixa e rolia. Vejo que j esto secas. Venham comigo. Meu senhor as receber em breve.

    Ela as conduziu pela escada para o andar de baixo.O hall permanecia escuro como antes, mas a governanta no teve nenhuma

    dificuldade para encontrar e abrir uma porta.

    Podem entrar.Ivy parou ao passar pela soleira. Cus! A carta de lorde Stanhope para o conde. Ficou na caixa na carruagem. Isso no pode esperar? indagou a governanta. No. Devo entreg-la com o pacote. Vou buscar a carta anunciou a sra. Pennyfeather. Tome cuidado a outra criada aconselhou. A chuva parou, mas o ptio est

    cheio de lama e poas. Espere aqui ela disse a Ivy. Vou mostrar o caminho para asada.

    Ivy encontrou na lareira acesa uma fonte de luz. Cortinas fechadas impediam aentrada da luz natural pelas janelas. O lugar era mais do que sombrio.

    Christopher estava sentado em uma das duas poltronas mais prximas do fogo, ehavia um clice em sua mo.

    O conde possui um conhaque excelente. bom saber que est confortvel. Um fogo, bom conhaque e uma poltrona confortvel. O que mais um homem

    pode desejar? Fico feliz por constatar que se satisfaz com tanta facilidade. O pacote que

    deveria entregar fora deixado apoiado na parede ao lado da lareira. No havia quadrosnas paredes. Era uma pena deixar um retrato to adorvel para um homem sem nenhumgosto para a arte.

    A sra. Pennyfeather demorava a voltar. Christopher se mostrava satisfeito com seuconhaque, e Ivy no conseguiu conter um suspiro impaciente.

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Anderson O que foi?Ela encarou o irmo com uma mistura de irritao e culpa.

    Nada. Saboreie seu conhaque.Ivy foi at a porta para espiar o corredor escuro. Havia luz sob uma das portas do

    outro lado da passagem larga e fria. Curiosa, ela atravessou o corredor e empurrou aquela

    porta para descobrir o que havia alm dela. Era uma biblioteca. Apesar das sombras quedominavam quase todo o ambiente, o fogo da lareira espalhava um brilho dourado querivalizava com a luz da lmpada iluminando um dos cantos. Prateleiras cobriam todas asparedes, e livros ocupavam todas as prateleiras.

    Era surpreendente. Seu pai tambm possua uma biblioteca, mas mantinha suasarmas e seus cigarros dentro dela. Havia algo ali que a intrigava e atraa, e ela entrounaquele cmodo sem pensar no que estava fazendo. O som de um livro sendo fechadocom violncia a assustou. Ela se virou. No podia ver ningum, mas tinha o coraodisparado como se houvesse feito algo terrvel. Trmula, aproximou-se do fogo em buscade um pouco de calor.

    No sentiria tanto frio se no houvesse ficado na chuva.A voz masculina atraiu seu olhar. Um par de pernas cobertas por cala escura ebotas emergia de uma poltrona estofada. As sombras ocultavam o resto da criatura.

    Quem... quem voc? Imagino ser a pessoa a quem veio procurar respondeu a voz na penumbra. O

    homem levantou-se e mergulhou ainda mais fundo nas sombras. Sou Albert Seaton, conde de Tamberlake.Tamberlake notou o espanto nos olhos da desconhecida. De onde estava, notou

    que ela digeria a informao relativa a sua identidade e recuperava o controle. Depois deum instante de hesitao, a jovem decidiu seguir as convenes e inclinou-se.

    Lorde Tamberlake. Sou lady Ivy St. Clair. um prazer conhec-la. Duvido. No poupou esforos para demonstrar que no somos bem-vindos em

    sua casa.Tamberlake riu. Aquela era uma mulher incomum. Tem razo, no ofereci uma acolhida das mais amistosas. Ento, por que correu

    o risco de contrair uma pneumonia s para ver-me? Lorde Stanhope enviou-me aqui.Por um momento, a lembrana da amizade despertou sentimentos h muito

    enterrados. Como vai o velho Stanhope? Lady Ivy hesitou novamente. Lamento. Pensei que soubesse. Ele faleceu.A notcia era inesperada. O nico homem que permanecera a seu lado em todas as

    circunstncias j no existia. Sentirei falta dele. Talvez possa me contar mais sobre ele. No tive oportunidade de conhec-lo. Mas acabou de dizer que ele a enviou...

    Sim, eu sei, tudo muito confuso. Ele me deixou uma herana em testamento,mas imps uma condio para que eu possa receb-la, e essa condio de que entregueum pacote ao conde.

    Um pacote?

    A razo de minha visita. De fato? E onde est esse pacote?

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Anderson No salo. O aposento onde deveria esperar por mim?Ivy sentiu o rosto quente e no resistiu ao impulso de toc-lo. Sabia que estava

    vermelha. Por que no volta para l? Irei encontr-la em um minuto, e ento

    conversaremos melhor.Ivy saiu sem dizer nada. Tamberlake suspirou. Usando a bengala, seguiu a visitante

    com passos mais lentos e entrou no salo sem cumprimentar as pessoas que ali oaguardavam. Lady Ivy estava em p ao lado do fogo e um jovem se mantinha ereto eimponente ao lado dela. Quem poderia ser? A proximidade com Ivy sugeria uma certa deintimidade, o que o incomodava.

    Lorde Tamberlake disse o rapaz. Sou irmo de Ivy, Christopher St. Clair,Visconde Styles.

    Irmo. Um profundo alvio invadiu seu peito. Espero que tenha gostado de meu conhaque, Styles.

    Sua safra admirvel.A ousadia do jovem o divertia. Sem pressa, ele se serviu da bebida dourada eaveludada, ignorando a bandeja de ch deixada pela sra. Baker.

    Sente-se, lady Ivy. A poltrona prxima da lareira vai apagar quaisquer resquciosde frio e umidade que ainda possam importun-la. Fique vontade.

    Mas eu...Aceita um pouco de ch? Lamento, mas no recebo visitantes h muito tempo, e

    perdi o hbito de entreter. Ch seria timo. Leite e acar?

    S leite, por favor.Tamberlake serviu a bebida e aproximou-se da poltrona com a xcara fumegante,tomando cuidado para manter-se afastado das partes mais iluminadas da sala econtornando a cadeira para entregar a bebida por trs do encosto.

    Seu ch. Ela ergueu a cabea. No podia v-la na posio em que estava, masera evidente que estava surpresa.

    Obrigada.Os dedos se tocaram no momento em que ela pegou a xcara. A maciez de sua pele

    era espantosa. O conde afastou-se de forma brusca e procurou refgio nas sombras. Oconhaque o aquecia como nenhum fogo era capaz de aquecer. Protegido pela penumbra,olhou para lady Ivy. A jovem tinha cabelos castanhos que brilhavam como o mais finomogno polido. Deviam ser ainda mais macios do que suas mos.

    Lorde Tamberlake, fico constrangida por ter de falar para as sombras. No querjuntar-se a ns perto da lareira? Era hora de conformar-se. Sabia que no poderiaevitar esse momento, mas havia tentando ao menos adi-lo.Antes que ele pudessecaminhar para a luz, a porta do salo se abriu para dar passagem acompanhante delady Ivy. Aqui est. Ela entregou um envelope a sua senhora.

    Obrigada, sra. Pennyfeather. Demorou tanto que j estava comeando a pensarque nunca mais a veria.

    - Havia muita lama l fora.A mulher sentou-se em uma cadeira vazia. Ivy encarou-a com ar de censura.

    Sra. Pennyfeather, quero apresent-la ao nosso anfitrio, lorde Tamberlake.Ela se levantou de um salto.

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Anderson Cus, pensei que estivssemos sozinhos. Localizando o vulto na escurido, a

    criada inclinou-se em sinal de respeito e cortesia. Desculpe minha impertinncia, lordeTamberlake.

    - No se incomode, sra. Pennyfeather. Por favor, sente-se. Tamberlakepermanecia na penumbra, odiando o alvio causado pela desculpa para adiar sua

    exposio. Venha juntar-se a ns perto do fogo, Tamberlake Christopher convidou.

    Gostaria de poder erguer um brinde ao nosso anfitrio.Receio sentir-me mais confortvel na penumbra. Um momento de silncio

    desceu sobre a sala. Depois lady Ivy levantou-se e olhou em sua direo. Lorde Stanhope enviou esta carta. Devo entreg-la junto com o pacote.Era intil continuar adiando o temvel momento da exposio. Tamberlake agarrou

    a bengala, deixou o copo vazio sobre um aparador e foi se juntar ao grupo perto dalareira. A sra. Pennyfeather foi a primeira a deixar escapar uma exclamao de assombro.Christopher aproximou o clice dos lbios e, depois de um momento de total imobilidade,

    esvaziou-o de um s gole.Ivy tinha os olhos muito abertos, mas no havia horror nem repulsa em suaexpresso. Ela estudava seu olho direito e o espao onde o esquerdo deveria estar, umlocal coberto por uma mscara de porcelana.

    A carta, lorde Tamberlake.Ele estendeu a mo para o envelope, certo de que o movimento causaria um recuo

    instintivo e brusco, mas em vez de tentar afastar-se, ela deixou os dedos roarem os dele.Tamberlake pegou a carta e guardou-a no bolso interno do colete.

    No vai ler a mensagem? Talvez mais tarde, lady Ivy. No conseguia desviar os olhos dela. Aquela era a

    primeira vez que uma mulher no reagia com repulsa a sua presena. Ali est o retrato que vim lhe entregar. Ela apontou para o pacote. Retrato? Pensei que tivesse um pacote para mim. Sim, e o pacote contm um retrato.Tamberlake aproximou-se do retngulo apoiado na parede e removeu o papel que

    o envolvia. Seu prprio rosto, ou o rosto que tivera no passado, havia sido pintado na tela. No pensei que fosse capaz de tal deboche, lady Ivy. O que quer dizer? D uma olhada para a pintura. Depois ria de mim at se cansar.Ela deixou escapar uma exclamao de surpresa. O retrato... E voc? Sim. Imagino que esteja se divertindo com tudo isso.

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Anderson Eu no sabia. Seus olhos estavam cheios de lgrimas. Espera que eu acredite no que diz?Antes que ela pudesse se defender da acusao injusta, Beaker entrou na sala.- Com licena, meu lorde. Temos um problema. Alm daquele que tenho diante de meus olhos? O que , Beaker?

    A carruagem dos visitantes, senhor. Est quebrada. O problema no meu.No, senhor, mas tarde para mandarmos algum ao vilarejo em busca de

    peas. Devo preparar seu coche para transport-los?No queria ver Ivy. Nunca mais. Sim, minha carruagem os levar a algum lugar onde possam acomod-los. No

    temos acomodaes anunciou Styls. Esperava cumprir minha tarefa e voltar ao vilarejo a tempo de encontrar uma

    hospedaria disse Ivy. No contvamos com seus jogos retardando nossa partida por tanto tempo.

    Ela parecia estar zangada. Que direito tinha de reagir com indignao? Prepare os quartos, Beaker. Eles podem passar esta noite em minha casa. Tamberlake despediu-se com uma rpida inclinao. Lamento no poder ser o anfitrioperfeito. Com licena. E o conde saiu sem olhar para trs.

    Ivy no conseguira comer e no era capaz de dormir. Mesmo sabendo que notinha culpa de nada, estava perturbada por conta do retrato. Como pudera deixar dereconhecer lorde Tamberlake? Passara as ltimas duas semanas sonhando com aquelerosto. Uma mscara de porcelana o cobria parcialmente, mas as semelhanas aindaestavam ali.

    O timbre da voz dele a aquecera mais do que o fogo, e seu toque fora to gentil

    que ainda estremecia com a lembrana. Sim, suas maneiras precisavam deaperfeioamento. Como algum podia julg-la to cruel a ponto de zombar de um defeitofsico?

    Inquieta, ela se levantou, acendeu uma vela na lareira e decidiu ir biblioteca paraler um pouco. O aposento ainda era claro e aconchegante como antes, e as prateleirasconvidavam explorao.

    Costuma vagar sozinha por todas as casas que visita?Ivy deixou escapar um grito de terror antes de cobrir a boca com a mo. Cus! Voc me assustou!lorde Tamberlake emergiu de um canto da sala. Eu j estava aqui. Foi voc quem entrou sem pedir licena ou ser convidada. No

    acha que j causou muito dano para um nico dia?A culpa que no devia estar sentindo a invadiu com fora total. Eu no conseguia dormir e... Ah, suponho que no tenha interesse nisso. Com

    sua permisso, posso escolher um livro e voltar ao quarto? Como quiser.A falsa cortesia a irritava. Mesmo assim, ela se virou para ler os ttulos nas capas

    dos volumes enfileirados nas prateleiras. Por que no consegue dormir? Tem medo dos monstros que habitam esta casa? No seja ridculo Ivy respondeu sem se virar. Ou seria apenas de um monstro em particular? A voz dele soava mais

    prxima. No acredito em monstros.

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Anderson No? O hlito era morno em sua nuca.Ivy virou-se e encontrou-o a menos de um passo de seu corpo. Tenho plena conscincia de como sou chamado nos sales da sociedade. No foi

    por isso que veio? Para ver o monstro? Havia um suave toque de conhaque no ar quebrotava de sua boca.

    A nica coisa monstruosa aqui seu comportamento. Pode ter optado porretirar-se da sociedade, mas isso no justifica suas maneiras deficientes. O conde usavaa mscara de porcelana que parecia fria e desconfortvel, e ela no conteve a curiosidade.

    Usa essa mscara sempre? O tempo todo? A mscara para os visitantes e para minha me. Quando estou sozinho, prefiro

    um simples tapa-olho. Ento, por que a est usando agora? Todos j foram dormir. No podia saber

    que me encontraria aqui. No, mas no quis correr o risco de chocar um de vocs, caso os encontrasse

    nos corredores da manso.

    Eu no teria ficado chocada. Talvez no, mas conseguiu me deixar perplexo, lady Ivy. No sempre queencontro uma mulher em trajes de dormir, especialmente em minha casa.

    Ivy sentiu o rosto arder. No havia pensado nos trajes que usava. A camisola eradiscreta, abotoada at o pescoo e com mangas longas que escondiam seus braos at ospunhos. Nem mesmo a ponta de seus dedos dos ps podiam ser vistos sob a barra.Mesmo assim, no era apropriado que um homem a visse em suas roupas de dormir.

    Tamberlake riu de seu constrangimento. Escolha o livro, lady Ivy. O monstro no vai devor-la. No hoje.Ivy pegou o primeiro livro que alcanou e saiu apressada. Quando fechou a porta

    do quarto, ela se apoiou no batente para recuperar o flego.Sua falta de modstia a inquietava menos do que as sensaes provocadas pelapresena do conde. Sentia o corao bater forte no peito, mas estava certa de que nohavia sido a corrida que provocava tal resposta. Algo em lorde Tamberlake falava para suaalma, embora no fosse capaz de compreender o que era dito.

    Levando o livro junto ao peito, Ivy foi para a cama e acomodou-se recostada contraos travesseiros. Ento olhou para o ttulo. Frankensteinde Mary Shelley.

    Com um gemido desanimado, ela abandonou o livro no cho e apagou a vela.

    Captulo IV

    Assim que Ivy deixou a biblioteca, Tamberlake arrancou a mscara do rosto eatirou-a sobre uma cadeira. O olho pintado o encarava como se debochasse dele.

    Mancando, ele voltou poltrona e pegou o clice que deixara sobre a mesa. Oconhaque era fonte de consolo, mas j havia bebido demais. Sim, aquele no havia sidoum dia comum, e qualquer um reconheceria seu direito de beber at embriagar-se.

    Mesmo assim, o conde deixou o clice sobre a mesa.O brilho da lamparina e do fogo inundavam o aposento com uma luminosidade

    dourada, uma claridade que o agradava muito. A biblioteca era seu santurio, o nicolugar onde permitia que a luz tocasse seu rosto. E agora ela o invadira.

    Tamberlake levou a mo ao rosto. Os dedos tocaram as cicatrizes e os hematomasque marcavam as faces e a testa.

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella AndersonAs lembranas eram inevitveis. O solavanco sbito, a carruagem tombando para o

    lado, a dor que sentira quando a perna ficara torcida sob o peso de seu corpo, o som devidros se partindo, o medo quando o fogo brotou da pequena lamparina e lambeu o as-sento estofado at tocar seu rosto, a fumaa que o sufocava, bloqueando sua viso paratudo que no fosse o alaranjado das chamas.

    No revia essas imagens com tanta nitidez h anos, exceto em pesadelos. E sabiaquem era a culpada por isso. Lady Ivy.

    No. Estava sendo injusto. Devia atribuir a culpa a Stanhope. Mas seu amigo estavamorto, e lady Ivy estava ali.

    Por que Stanhope pensara em mand-la ao Covil do Grifo? Ela era a primeiramulher que o encarava sem demonstrar medo ou repulsa. Nem mesmo sua noiva, aquelaque havia jurado am-lo, suportara olhar para ele depois do acidente. Por que Ivy nosentia medo? No sabia o que pensar dela.

    Sua beleza no era incomum. Com cabelos castanhos e olhos da mesma cor, elapossua um tipo fsico ordinrio, mas algo nela brilhava e a enchia de vida. Sentia-se

    atrado por essa mulher, contente com sua companhia como se sentia satisfeito com a lu-minosidade da biblioteca. Ela era capaz de dar vida ao ambiente que ocupava, a lugaresonde ele no esperava mais encontrar vida.

    Queria que ela partisse. No desejava lembrar a vida fora do Covil do Grifo, umavida que lhe havia sido negada pela mesma sociedade que o adulara antes do acidente.Quando era bonito, inteiro.

    Perturbado, foi buscar o retrato que deixara no salo e levou a tela para abiblioteca, colocando-a diante de seus olhos. Depois sentou-se em sua poltrona paraexamin-lo. Fora retratado aos vinte e quatro anos, seis anos mais jovem. No possuaespelhos na manso, mas tinha conscincia de sua aparncia. Metade de seu rosto

    revelava pouco de sua verdadeira idade, mas a outra mostrava quantas coisas podiamacontecer em um curto espao de tempo.Que tipo de piada Stanhope tentara fazer? Tamberlake levou a mo ao bolso do

    colete. A carta ainda estava ali, e ele pegou o envelope para estudar a caligrafia neleestampada.

    Era a letra de Stanhope. Tamberlake rasgou o envelope.Querido Tamberlake,Imagino que esteja pronto para matar-me, meu amigo. Mas, se est lendo esta

    carta, ento j estou morto.Tamberlake balanou a cabea. Stanhope sempre tivera um senso de humor mais

    do que imprprio.Com toda seriedade, espero que me desculpe por invadir sua vida privada. Sei que

    d muito valor a ela.Como senti sua falta, meu amigo. Londres muito aborrecida sem sua conversa

    vibrante e sua inteligncia rpida.Tamberlake quase gargalhou. Stanhope sempre havia comentado como as

    mulheres pareciam gravitar em torno do amigo esperando atrair sua ateno, encantadascom seu brilhantismo.

    na esperana de que se lembre da nossa amizade que envio o retrato. Vocqueria destrui-lo depois do acidente. Eu no permiti. Olhe para ele, Tamberlake. Olhepara o rosto do homem que voc foi um dia e pergunte a si mesmo o que v.

    Tamberlake deixou as folhas sobre os joelhos e olhou para o quadro. O que via?Um homem com um rosto quase perfeito, um homem com toda a vida para ser vivida, um

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Andersonhomem que nunca havia sido testado nem testara a prpria fora de vontade. Seu nicoolho captava o brilho dos olhos azuis na tela. Em que estivera pensando quando posarapara o artista? No conseguia lembrar. Tamberlake balanou a cabea. A pintura notinha nenhum significado por ele. Era a encarnao de uma lembrana, pouco mais doque isso, e a imagem de um homem que j no existia mais. Ele retomou a leitura da

    carta.Se pelo menos metade do homem que penso ser, ento ver o que vejo. Um belo

    retrato, nada mais, nada menos. O homem da tela no existe, e no creio que ele algumdia tenha existido, para desnimo de todas aquelas jovens solteiras que sonhavam comele.

    Lady Ivy no como elas. Ela no acalenta sonhos impossveis nem suspira porcausas perdidas. Trate-a bem. Ela no merece seu escrnio. Eu a escolhi para essa mis-so. Assim, reserve seu escrnio para mim.

    Tamberlake riu. Stanhope o conhecia bem.No quero fazer sermo, meu rapaz, mas abrace a vida. Voc no precisa se

    esconder.Esconder? No estava escondido. Apenas evitava os idiotas da sociedade. Os queno podiam v-lo alm do rosto marcado e da perna manca. Como lady Ivy o vira.

    O pensamento o surpreendeu. No queria pensar nela. No queria pensar emningum. Stanhope no sabia o que estava dizendo.

    Viva bem, meu amigo. Sempre dei grande valor a nossa amizade, e espero que,quando pensar em mim, se pensar em mim, seja com carinho.

    Tamberlake amassou a carta e ameaou jog-la ao fogo, mas deteve-se. Alisou asfolhas com cuidado, sem pressa, e depois se levantou para ir guard-las entre as pginasde um livro. Don Quixote. Stanhope teria aprovado a escolha.

    Ivy acordou cedo. Ou melhor, no havia acordado porque, para isso, teria dedormir cedo, e no conseguira conciliar o sono na noite anterior. Quando o cu trocou onegro por um cinza plido, ela se levantou e se vestiu. No seria tola a ponto de esperarpor um cu azul.

    Depois de sua aventura na noite anterior, a familiaridade com a casa guiou seuspassos at a sala de estar. A mesa estava vazia e nenhum aroma provocava seussentidos. O Covil do Grifo no era lugar para madrugadores.

    As manhs em Gales eram sempre geladas, e ela decidiu que precisava de umalareira para aquecer-se. Sabia que havia fogo na biblioteca, o aposento mais iluminado dacasa. Talvez l pudesse encontrar algum conforto e ler enquanto esperava pelo desjejum.

    Ela hesitou diante da porta. Se lorde Tamberlake estivesse l dentro, no tinha odireito de incomod-lo. Por outro lado, ele tambm ficara acordado at tarde na noiteanterior, como ela. Devia estar dormindo. Afinal, que motivos tinha o homem para passartoda a noite em claro? Ivy abriu a porta.

    A lareira no abrigava um fogo, mas as brasas ainda brilhavam em seus ltimosmomentos de vida. Ela se aproximou e estendeu as mos para aquec-las.

    Quando se virou, seus olhos encontraram o retrato. Julgava que o conde ohouvesse destrudo, mas de repente o encontrava encostado em uma parede como se alipudesse ter um local de honra. E bem merecia. O homem era dono de uma belezaespantosa. E o pintor soubera retrat-lo com maestria.

    Tarde demais, lembrou-se de que no havia devolvido o livro que pegara na noite

    anterior. No havia nenhuma lamparina acesa, mas a luz natural penetrava pelas frestasdas cortinas. Ivy aproximou-se das janelas e abriu uma por uma, admirando a beleza da

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Andersonpaisagem oferecida pelas montanhas.

    Com o clima inspito, aquele lugar parecia ainda menos aconchegante. Havia umpequeno chal no alto da colina e ovelhas pastando nos campos muito verdes, mas tudoali sugeria solido. No era de estranhar que lorde Tamberlake houvesse construdo seular naquela regio.

    Ainda apreciava a beleza da paisagem quando viu uma silhueta esguia subindo porum caminho que acompanhava um riacho. Seu manto negro era batido pelo vento, ecabelos escuros chicoteavam em torno de seu pescoo. Uma bengala apoiava os passoslentos, porm seguros.

    Tamberlake.Ele parecia ser parte integrante do cenrio, e de repente Ivy sentiu que seus olhos

    se enchiam de lgrimas. Um anseio profundo brotou em seu peito. Tambm queria fazerparte daquela natureza to singular.

    Correndo, deixou a biblioteca e foi at o quarto. Havia um par de botas no baonde transportava a bagagem. Devia ser suficiente para o que tinha em mente.

    Trocar os sapatos pelas botas foi rpido, e em seguida ela se cobriu com um mantoespesso que tambm levara no ba. Ento correu para a porta.O ar frio da manh roubou-lhe o flego por um momento, mas pelo menos no

    chovia.Contornando a casa, ela chegou ao fundo do terreno, onde um pequeno porto de

    ferro se abria para a encosta da montanha. Era possvel identificar a silhueta deTamberlake no alto da colina, e Ivy aumentou a velocidade dos passos.

    As pernas doam, e ela escorregou duas vezes no terreno acidentado e lamacento,mas nada a detinha. Nunca havia escalado uma montanha antes, e a experincia eradivertida e excitante, embora exaustiva. A distncia entre ela e lorde Tamberlake era cada

    vez menor. Lorde Tamberlake Ivy chamou em voz alta. Ele no se virou.Andando ainda mais depressa, ela repetiu o chamado. Lorde Tamberlake!O conde parou e olhou para trs. Ele usava o tapa-olho, mas a mudana no a

    perturbou em nada. De fato, Ivy correu at alcan-lo e sorriu quando parou diante dele. Bom dia. Parece um pirata com esse tapa-olho. As crianas do vilarejo devem

    adorar brincar em sua companhia.- O que faz aqui? Tamberlake disparou carrancudo. Vi as montanhas pela janela da biblioteca e notei sua presena. Nunca havia

    escalado uma encosta antes, e decidi aproveitar a oportunidade. E acha que por isso tem o direito de importunar-me? Precisa ser sempre to rude?O conde a encarou com evidente surpresa. A jovem no parecia assustada ou

    arrependida. Usara seu tom mais furioso, e nem assim ela recuara.-Est me censurando? Algum precisa chamar sua ateno. No aprendeu boas maneiras na infncia? Boas maneiras so um desperdcio quando usadas com pessoas que ignoram a

    vontade de seus semelhantes. No ignorei sua vontade, meu lorde. No teria vindo, se houvesse dito que eu

    no poderia subir a montanha.

    J no deixei claro que no desejo sua companhia? Sim, foi bem claro nesse sentido. Com licena, lorde Tamberlake. Quero atingir o

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Andersontopo da montanha. Ela segurou a saia.

    Vai acabar se perdendo, caindo ou quebrando seu pescoo magro. E por que isso o incomodaria? Ivy falou por sobre um ombro. Em qualquer

    uma dessas ocorrncias, estaria livre de mim para sempre. E meu pescoo no tomagro.

    Tamberlake riu. A jovem no tinha juzo, mas era capaz de diverti-lo. Apoiado nabengala, ele a seguiu devagar. Se algo acontecesse com ela, s teria mais visitantesfazendo perguntas e perturbando sua tranquilidade.

    Como ela reagiria se soubesse que, ao subir, expunha mais do que os tornozelos?As botas os escondiam, certamente, mas uma dama de respeito nunca mostrava ostornozelos.

    Rpida, ela subia depressa e ia aumentando a distncia entre eles. Lady Ivy.A jovem parou e olhou para trs. Sim?

    Pode ir mais devagar? Por qu? No consigo andar to depressa. Pensei que no desejasse minha companhia.Ao v-la retomar a escalada com velocidade ainda maior, Tamberlake suspirou

    resignado. Lady Ivy, ser um prazer acompanh-la. Ser que pode esperar por mim? Por favor? O qu? Esqueceu de pedir por favor.

    No vou pedir a permisso da senhorita para escalar minha prpria montanha!Ela voltou a andar. Tamberlake rangeu os dentes. Por favor disse.Ivy encarou-o com um sorriso radiante nos lbios. Oh, sim, lorde Tamberlake. claro que posso esper-lo. O conde gemia a cada

    passo dado. Quando finalmente a alcanou, ele a observou por um momento. Algum j lhe disse que uma mulher muito irritante? Sim, meu pai vive dizendo isso, e minha me concorda com ele. Ela afirma que

    sou a causa de seus cabelos grisalhos porque incapaz de compreender-me. Posso imaginar.Subiram em silncio por mais alguns minutos, at Tamberlake notar que a barra do

    vestido de Ivy estava cada vez mais suja de lama. Vai arruinar seu vestido se insistir em seguir em frente. Bobagem! Por que vou me importar com um vestido se posso subir uma

    montanha? Meu pai comprar outro vestido novo para mim, mas no sei se verei outramontanha nos prximos anos. De qualquer maneira, mame est sempre tentandoconvencer-me a usar roupas novas. Ela vai ficar feliz quando souber que arruinei um demeus velhos vestidos.

    Ele muito bonito.Tambm acho, mas minha me acha que devo usar algo mais atraente do que

    verde ou rosa. Ela gosta de fingir que ainda estou em minha primeira temporada.

    E no est? Cus, no! Est a terceira.

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Anderson E ainda no se casou. Ainda no. Meu pai j est perdendo as esperanas, e minha irm mais nova j

    comea a criar problemas em casa. Papai insiste em casar-me primeiro, e Georginaconsidera a deciso injusta.

    Entendo. Era estranho, mas a notcia de que a jovem lady ainda no tinha

    pretendentes o agradava muito. Tambm no casado. Por qu? Afinal de contas, um conde. Muitas jovens

    adorariam ser condessa. Tive uma noiva h algum tempo, mas ela rompeu nosso compromisso. Por qu? E ainda pergunta? Tem razo. Desculpe-me. s vezes no consigo controlar minha curiosidade. E

    pensar que o censurei por suas maneiras.Tamberlake a encarou perplexo. Ento a mulher no sabia mesmo por que Daphne

    o deixara?

    A jovem era mesmo surpreendente, diferente de todas as pessoas que jconhecera. Ningum o aceitara com tanta facilidade desde o acidente. Apenas Stanhope.Ento ele parou. Oh, no! Stanhope a enviara. Certamente havia pensado em mais

    alguma coisa alm da entrega do retrato.Conhecia as artimanhas do falecido amigo, mas no estava interessado em

    casamento.Quando alcanaram o topo da montanha, o rosto de Ivy cintilava com uma mistura

    de fascnio e reverncia. Agora entendo por que estava subindo a encosta. Eu faria o mesmo esforo

    todos os dias s para ter essa viso.

    A paisagem era mesmo maravilhosa. Em poucos meses as estradas que a cortavamestariam repletas de carruagens transportando londrinos que haviam descoberto asbelezas da rea rural, mas at l teria todo aquele cenrio s para ele.

    Venho pelo exerccio. Mentira ela o desmentiu. Voc ama este lugar. Est escrito em seu rosto.O sorriso de Ivy o aquecia como nem mesmo o sol poderia aquec-lo. Tem razo, gosto muito daqui. Eu sabia. Ela abriu os braos e girou. Agora poderei contar a meus filhos

    que escalei uma montanha. Obrigada por ter permitido. Eu no poderia det-la. verdade, no poderia. Ela riu. Estou faminta. Acha que o desjejum estar

    pronto quando voltarmos?Era impossvel conter o riso diante de tanta ousadia. Ou seria apenas ingenuidade? Sim, certamente, mas devo preveni-la, lady Ivy. A sra. Beaker no a melhor

    cozinheira que conheo. Estou com tanta fome que comeria at mingau. Cuidado com o que diz. Mingau a especialidade da sra. Beaker.

    Captulo V

    A sra. Beaker havia preparado mingau, uma mistura sem sabor e de aparnciarepugnante, e Ivy no conseguia engolir o alimento pegajoso. A sra. Pennyfeather

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Andersontambm no estava comendo, e Christopher nem tocava na terrina.

    Tamberlake, agora usando novamente sua mscara de porcelana, ocupava acabeceira da mesa e comia colheradas seguidas do mingau.

    Come isso todas as manhs? Ivy perguntou ao conde num sussurro. No. s vezes ela tambm serve torrada queimada para acompanhar o mingau.

    Por que no contrata uma cozinheira de verdade? Ela veio com Beaker. Devia pensar em substitu-lo tambm. Nunca vi mordomo mais carrancudo. Beaker leal. No quis ofend-lo.O mordomo entrou na sala e parou ao lado da cadeira do patro. Uma mensagem do vilarejo, meu lorde. Obrigado, Beaker. Tamberlake pegou a folha dobrada e a abriu. Depois de ler

    a nota, ele franziu a testa. Ms notcias? perguntou Christopher.

    Sim. Sua carruagem no ficar pronta em menos de uma semana. O ferreiro dizque no sabe como vocs conseguiram chegar at aqui com todas aquelas peasquebradas. Ele vai ter de forjar peas novas para efetuar os reparos.

    Bem, saiba que no planejamos nada disso Ivy protestou ao v-lo to srio. Uma semana comendo mingau? Christopher gemeu. Podem ficar no vilarejo, se acharem melhor. Est nos expulsando de sua casa? De maneira nenhuma. S quero que saiba que tem outras alternativas. Bem, pelo menos eu comeria uma refeio decente. Christopher! Ivy censurou o irmo com o olhar, depois notou a expresso da

    sra. Pennyfeather. A mulher estava plida, e dois crculos vermelhos marcavam o centrode suas faces. Sra. Pennyfeather, sente-se bem?O qu? Oh, eu... Sim, estou bem. Apenas um pouco assustada com a notcia. Acalme-se, senhora. Nenhum mal nos acometeu, e voltaremos para casa em

    segurana assim que nosso veculo estiver pronto. Ivy olhou para o conde. Creio quej abusamos de sua hospitalidade. Podemos usar sua carruagem para irmos ao vilarejo?

    No. O qu? Ento nega... Acalme-se, minha lady. S quis dizer que no precisam ir ao vilarejo. Minha casa

    estar aberta enquanto necessitarem dela. Estava apenas brincando com seu irmo. Nesse caso, meu lorde, se eu puder fazer uma sugesto... Tamberlake ergueu as

    sobrancelhas. Tem algo a sugerir, sra. Pennyfeather?Tenho alguma experincia em tarefas domsticas. Talvez eu possa oferecer meus

    prstimos na cozinha enquanto estivermos aqui. Sim, por favor Christopher apoiou desesperado. Tamberlake cobriu a boca

    com o guardanapo como se quisesse esconder um sorriso. Sua sugesto excelente, sra. Pennyfeather. Estou certo de que a sra. Beaker

    vai apreciar sua ajuda.No final da manh, enquanto a sra. Pennyfeather lidava com os

    utenslios na cozinha, Ivy e Christopher esperavam no salo. As cortinas cobriam as

    janelas, mas havia um fogo na lareira e algumas lamparinas brilhavam em cantos maisafastados.

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella AndersonO que acha que ele est tramando?perguntou Christopher.Ivy abandonou a leitura. O que quer dizer? Tamberlake? Nunca conheci anfitrio mais negligente com o entretenimento de

    seus hspedes.

    No somos hspedes. Somos invasores. Mesmo assim, um conde deve ter um mnimo de decncia. Por outro lado, no

    posso dizer que esteja surpreso. Levando em conta quem ele ... Que tipo de comentrio esse? Bem, olhe para ele. Compreendo por que o homem se esconde aqui em Gales. E

    os cabelos? O que tem eles? A ltima vez que vi cabelos to longos foi em um certo coronel da Gergia que

    tentava ganhar a vida com sua plantao de algodo. Tamberlake um conde, no umagricultor falido. Acho que servem para esconder o rosto.

    No h nada errado no rosto do conde. Ivy! Quem alm de voc poderia dizer tal coisa, minha irm? Ele tem um rosto muito bonito. Sim, metade dele, mas a outra... Ei, voc est corando! No estou! Mas o esforo do protesto s tornou o rubor ainda mais intenso. Deve ver nesse homem a imagem de algum personagem romntico ou trgico. Tolice! Ele rude e arrogante, e seu comportamento mais do que condenvel.

    Na verdade, o conde muito parecido com um certo visconde que conheo bem. Eu no deixaria meus hspedes sem nada para fazer. Lorde Tamberlake deve ter coisas mais importantes a fazer do que cuidar do

    nosso entretenimento. Correspondncia, contas, papis... Exatamente, lady Ivy disse o conde da porta do salo. Ivy virou-se, e o ruborde antes assumiu as propores de um incndio.

    Tamberlake entrou apoiado em sua bengala. Mas j conclu minhas obrigaes desta manh. No tinha a inteno de ignor-

    los. Ns entendemos, lorde Tamberlake. Fale por voc resmungou Christopher. Ivy encarou-o. Nosso pai passa muito tempo cuidando de seus assuntos. Ficamos dias seguidos

    sem v-lo. E lorde Styles tambm deve ter suas responsabilidades.No, meu lorde. Papai no permite que eu assuma o comando de nenhuma de

    suas propriedades. Ouso dizer que seu pai no est agindo com sabedoria. Que melhor maneira de

    ensinar um filho do que dar a ele responsabilidades? perguntou.Christopher encarou-o espantado, como se duvidasse de seu atrevimento".Lorde Tamberlake ignorou o olhar de censura. Joga xadrez, Styles? No muito bem. No est interessado em jogar? O conde apontou para duas poltronas

    prximas da janela. Entre elas havia uma pequena mesa e um tabuleiro. Gostaria de

    praticar um pouco, e Beaker no conhece nenhum tipo de jogo.Christopher sentou-se diante de Tamberlake.

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Anderson O que devo fazer enquanto jogam? Ivy perguntou com os braos cruzados

    sobre o peito. Pode assistir partida, ou jogar pacincia sugeriu Christopher, com um leve

    sorriso. O que me deixa sem muitas alternativas, como antes. Tentou ler, mas o livro

    no prendia sua ateno. Em vez de insistir, ela optou por assistir ao jogo e estudar asexpresses dos jogadores. Tamberlake revelava pouco, sempre concentrado e calmo,atento a cada movimento. Como seria receber toda essa ateno?

    Ela suspirou. Est aborrecida, lady Ivy? Oh, no, eu... eu... Sentia o rosto queimando. Vou mudar de roupa para o

    almoo.Assim que a jovem saiu, Tamberlake olhou para Christopher. Ela sempre to imprevisvel? Sempre. Styles moveu o cavalo. Tamberlake ergueu a rainha e apoderou-se

    do cavalo. Xeque-mate. Quer jogar outra partida? Sim, meu lorde. Quero revanche. Por que to importante vencer? No apostamos nada. Sim, eu sei, mas... Bem, trata-se de uma questo de orgulho. Orgulho... Era a chance de abordar o assunto pelo qual de fato se

    interessava. Creio que posso compreender. Seu pai homem de elevada reputao emLondres. Estou surpreso por ele ter permitido que se ausentasse agora, no incio datemporada.

    Meu pai nem teve chance de opinar. Minha me o convenceu. Styles moveu o

    peo. Sua me? No pensei que ela tivesse tanto poder sobre o marido. Tamberlakefez seu movimento, mas os olhos permaneciam fixos no rosto do oponente.

    No foi isso que eu quis dizer. Minha me intercedeu, mas meu pai no teriapermitido nossa viagem se no fosse conveniente. No me importo por perder algunsbailes. Afinal, no tenho a inteno de assentar-me no futuro prximo. E meu pai no seincomoda muito com Ivy. Quero dizer, ele... no d muita ateno a ela. Afinal, ela suma mulher e, como tal, tem importncia apenas pela possibilidade de promover boasconexes para a famlia atravs do casamento.

    Ela vai perder o incio da temporada. Como poder encontrar um pretendente seno conhecer homens solteiros nas festas oferecidas pela sociedade?

    Ivy j est comprometida. Meu pai no a teria deixado vir se fosse diferente.Tamberlake sentiu um aperto no estmago. Lady Ivy comprometida? No oficialmente. Ofereceremos um baile para anunciar o noivado assim que

    voltarmos para casa. Styles riu. Wynbrooke deve estar ansioso. Nossa viagem j seestendeu por mais tempo do que foi planejado.

    Wynbrooke? Tamberlake exps o cavalo preto. Neville Foxworthy, conde Wynbrooke. Ele o homem que meu pai escolher para

    Ivy. Styles capturou o cavalo preto. Bom movimento disse Tamberlake. Estava fazendo um grande esforo para

    identificar o tal Wynbrooke, mas sua memria no o ajudava. Georgina tambm deve estar aflita com nossa demora.

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Anderson Quem Georgina?Minha irm caula. Meu pai a proibiu de aceitar pretendentes antes de Ivy estar

    casada.Tamberlake formava uma imagem bem ntida da famlia de Ivy. E Georgina ...

    Linda! Ela tem apenas dezoito anos, mas vive dizendo que tem medo de que Ivynunca se case. Aos vinte e um, Ivy parecia estar correndo o risco de ser posta naprateleira, como dizer, e Georgina temia que nosso pai a proibisse de se casar. A julgarpela quantidade de poemas que ela j recebe, muitos solteiros da sociedade tambm tmsofrido por conta do atraso de Ivy.

    Lady Ivy nunca teve pretendentes? Alguns se interessaram por seu dote, mas desapareceram logo depois de

    conversarem com ela. Ivy nunca se abstm de expressar suas opinies. J percebi. Tamberlake tomou o castelo de Styles, colocando-se merc de

    um xeque-mate.

    Wynbrooke foi mais persistente que os outros, e meu pai finalmente anunciousua aprovao e comunicou a deciso a Ivy. Xeque-mate. Ora, voc jogou muito bem. Temos de nos enfrentar outras vezes.

    Tamberlake guardou as peas nas gavetas do tabuleiro e levantou-se. ConheceuStanhope?

    Stanhope? Oh, refere-se ao homem que deixou uma herana para Ivy. No, euno o conheci. Styles tambm se levantou para ir juntar-se ao conde perto da lareira.

    Cada vez mais, Tamberlake compreendia a inteno de Stanhope ao enviar Ivy.Mas o que o homem poderia fazer agora? A menos que fosse um fantasma, no podiamais interferir, e Tamberlake no acreditava em fantasmas. J enfrentava problemas

    demais com monstros. Disse que ele deixou uma herana? Sim, e uma misso. Parece que esse homem foi apaixonado por minha me, mas

    no pde se casar com ela. Ele deixou paraIvy uma casa em Devon e algum dinheiro, mas, para tomar posse do lote, ela teria

    de vir at aqui entregar-lhe um pacote. Uma condio estranha, especialmente vindo deum homem que nem conhecamos, mas agora ela cumpriu sua misso. No imagino por-que esse desconhecido agiu assim. Minha irm no desprovida de posses ouperspectivas.

    Talvez tenha sido na poca em que Stanhope fez o testamento. Esse Winthorpeest por perto h muito tempo?

    Wynbrooke. No, ele no surgiu em cena h muito tempo. Ele e meu paiconversaram pela primeira vez h cerca de um ms, e antes no o vamos muito. Nemmesmos nos clubes. E ele no foi um pretendente ardoroso, se entende o que quero dizer.S aparecia de vez em quando.

    Tamberlake estava mais convencido do que nunca sobre o plano de Stanhope paraaproxim-lo de Ivy. Como se um monstro fosse boa companhia para uma dama.

    Gostaria de saber onde Ivy se meteu Styles comentou olhando para a porta. Ela nunca demora tanto para vestir-se.

    Talvez tenha se escondido com medo da comida da sra. Beaker. Tamberlakeapoiou-se na bengala e caminhou para a porta. Vou ver se ela est na biblioteca. Sua

    irm parece ter gostado muito de l.Quando abriu a porta da biblioteca, o conde quase no reconheceu o ambiente. As

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Andersoncortinas estavam abertas, e a luminosidade que penetrava pelas janelas era muito maiordo que jamais entrara em sua casa. Normalmente, mantinha lamparinas acesas naqueleaposento, mas nunca tivera tanta luz em um s cmodo.

    Ivy estava parada ao lado da janela. Havia um livro entre suas mos, mas elaolhava para as montanhas.

    O que est fazendo? Ela se virou. Eu? No estou fazendo nada. Tamberlake fechou as cortinas. Por que fez isso? Se eu tivesse tal vista de minha janela, meu lorde, jamais a

    manteria fechada. No gosto da luz. Bem, claro que no. Com essa atitude...Houve um longo perodo de silncio. Tamberlake foi o primeiro a desviar o olhar. Desculpe-me pediu. Desculpas aceitas. Ivy sorriu para ele.Uma onda de calor o invadiu diante daquele sorriso. Irritado, notou que o corao

    tambm batia mais depressa. Pensei que estivesse mudando de roupa. Eu desisti. Ivy aproximou-se de uma prateleira para devolver o livro ao seu

    lugar de origem. Por qu? Teremos uma refeio formal? De jeito nenhum. Seu traje est mais do que adequado. Podemos ir ao encontro

    de seu irmo? Como quiser, meu lorde.Ele se apoiou na bengala e deu dois passos para a porta. Ivy no se moveu. E ento? Podemos ir? Certamente.

    Ela permanecia parada, fitando-o com aquele sorriso. O almoo... Tamberlake deu mais um passo. Almoo? Sim, estou faminta. Ivy continuava imvel.O conde voltou ao centro da sala, e ento seu sorriso tornou-se ainda mais largo.

    Ela aceitou o brao livre da bengala. Obrigada, lorde Tamberlake. Sabia que no deixaria uma dama dirigir-se mesa

    de refeies sem o devido acompanhamento.

    Captulo VI

    O grito de dor ecoou lancinante quando sua perna se partiu. Mova-se, rapaz idiota!Mas ele se manteve quieto enquanto a carruagem tombava.Levante-se.A fumaa surgiu primeiro, sufocando-o, cegando-o, at brilharem as chamas. Ento

    ele gritou.Tamberlake abriu os olhos. Estava sentado na cama, as mos apertando o pescoo

    e cobrindo o rosto. Sua respirao era arfante, e o corao batia acelerado. O suor

    ensopava a testa, a cabea e a nuca. O pnico ainda se estendeu por mais um instanteat se dar conta de que estava em segurana.

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella AndersonUma fresta entre as cortinas deixava entrar um raio de luz.O brilho o atingiu no olho. O conde encolheu-se. Maldito sol.Ele se levantou para ir ao lavatrio. A perna sempre doa mais depois de um

    pesadelo. Tudo era pior depois de um pesadelo.Odiava despertar dessa maneira. Era sempre um pressgio para o dia que

    comeava.Ivy espreguiou-se e piscou surpresa. O sol brilhava atravs das janelas. No via

    tanta luminosidade h dias. Talvez a mudana no tempo pudesse afastar o frio oumelhorar o humor de seu anfitrio. De qualquer maneira, sentia-se feliz com a claridade.

    Enquanto se vestia, ela percebeu que no sentia falta do exrcito de criadoscarregando bandejas e madeira para as diversas lareiras.

    Embora no pudesse apertar o espartilho sozinha, tinha a ajuda da sra.Pennyfeather, se a quisesse. Tambm no sentia falta da famlia. Ali ningum lhe diziaonde ir ou o que fazer, ou como vestir-se. Ningum esperava que fosse outra pessoa.Ningum a criticava por ser desprovida de beleza.

    Havia algo de positivo na vida em isolamento. Georgina era linda, mas Ivy nosaberia dizer quando havia sido a ltima vez que a irm lera um livro. E o conforto de umespartilho frouxo era algo a ser levado em considerao.

    Ivy dirigiu-se sala de refeies para o desjejum e parou surpresa. Havia po egelia sobre o aparador. Duas jarras continham lquidos fumegantes, e ela os cheirou. Che caf. Ela se serviu de uma xcara de ch e de um po. Com um pouco de manteiga egelia, o alimento a nutriria at que pudesse fazer um desjejum apropriado com todos osocupantes da casa.

    O po ainda estava morno e exalava um aroma maravilhoso. No sabia que tipo demilagre a sra. Pennyfeather havia realizado na cozinha, mas estava grata por ele.

    Bom dia.Ivy sobressaltou-se.Lorde Tamberlake estava parado na porta No queria assust-la. No, eu... no esperava encontrar algum em p to cedo. Christopher costuma

    dormir at a hora do almoo, e...Ela notou as botas e o pesado manto que o protegiam. Vejo que vai sair novamente.

    Costumo caminhar todas as manhs. Minha perna fica menos dolorida quando aexercito. O conde serviu-se de um pedao de po e uma xcara de caf, e seus olhosrevelaram satisfao logo na primeira mordida.

    Vai subir a montanha outra vez? No. Ento, aonde vai? Ao limite do bosque. Deve ser um passeio encantador. Posso acompanh-lo? Se eu disser que no, vai me seguir da mesma maneira. bem provvel. Muito bem, mas no se surpreenda se passarmos algum tempo fora. A subida da

    montanha mais cansativa, mas essa caminhada mais longa edemorada. Pegue seumanto. O sol voltou a brilhar, mas ainda faz frio l fora.

    Voltarei em um minuto.

    Quando retornou, Ivy encontrou Tamberlake na porta. Tive de trocar meus sapatos ela disse, mostrando a ponta de uma bota sob a

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Andersonsaia. Creio que estes so mais apropriados para uma longa caminhada.

    Permita-me ajud-la.O conde tirou o manto das mos dela para coloc-lo sobre seus ombros, uma

    atitude que a surpreendeu por sua gentileza. Obrigada.

    O conde abriu a porta e esperou que ela sasse. Lindo dia, no? Ivy voltou o rosto para o sol e fechou os olhos. Brilhante demais. Vamos.Ao abrir os olhos, ela o viu caminhando sem esper-la. E pensar que chegara a

    acreditar em uma mudana de atitude!Caminhavam em silncio h cerca de meia hora quando, distrada com a paisagem,

    Ivy pisou sobre uma pedra e perdeu o equilbrio. O grito assustado chamou a ateno deTamberlake, que a amparou com uma graa e uma agilidade surpreendentes para umhomem em sua condio.

    Lady Ivy, est ferida?

    Ela no respondeu. O homem podia ter uma perna enfraquecida, mas seus braoseram muito fortes. Mantinha as mos apoiadas em seu peito, e ali tambm no havianenhum sinal de fraqueza. A sensao de ser amparada por um homem de to grandepoder fsico era mais do que agradvel.

    Lady Ivy?Ela corou. Oh, cus, o que ele estaria pensando agora? Est ferida? No... no. Tinha de recompor-se, e para isso afastou-se dele e virou-se de

    forma a esconder o rosto vermelho. Eu tropecei em uma pedra. Estou bem. Prefere voltar?

    Oh, no! Gostaria de ver o bosque. Tamberlake tambm parecia perturbado, eela o encarou esperando ter apenas um leve tom rosado nas faces, o que seriacompreensvel depois do esforo fsico da caminhada. Ainda estamos muito longe?

    No. Ento podemos continuar... a menos que queria voltar. No.O que fizera para merecer o tratamento frio de antes? Lorde Tamberlake, a paisagem realmente linda! Ivy comentou quando

    alcanaram o limite do bosque. Havia um lago pacato cujas guas lembravam um espelhoe rvores frondosas e exuberantes, apesar de ainda estarem no incio da primavera.

    Tem razo. Por isso costumo vir aqui. No me arrependo por ter vindo. No? Sabe por que aceitei sua companhia? Acaso esqueceu que uma lady em

    companhia de um homem solteiro? Estamos sozinhos aqui.O comentrio causou uma tenso sbita. verdade. A sra. Pennyfeather deveria estar aqui. Minha me sofreria um

    ataque apopltico se soubesse. Sabe por que sua reputao no ser prejudicada pelo nosso passeio? Porque um homem honrado e no contar a ningum sobre minha indiscrio. No. Porque sua reputao est segura comigo. Ningum acreditaria que um

    homem como eu capaz de atentar contra a virtude de uma mulher.

    Por que no? Abra os olhos, lady Ivy? Quem beijaria este rosto? Ele se aproximou

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Andersonameaador, e Ivy recuou. Eu poderia atac-la agora, e ningum acreditaria em suasqueixas.

    Bobagem.O conde aproximou-se ainda mais. Quer que eu prove o que digo? Ele a tomou nos braos e beijou seus lbios.

    O calor daquela boca roubava-lhe o flego, e Ivy sentia-se tonta. Fechando osolhos, sentiu crescer a maravilhosa vertigem, e quando a lngua invadiu sua boca ela noconseguiu conter um gemido de prazer. Nunca havia sido beijada antes, e a experinciaera muito melhor do que imaginara.

    Ento ele a soltou, e o ar frio sobre seu rosto a chocou. Conte a seu irmo, e espere por sua reao. Ele se virou e iniciou a

    caminhada de volta.Ivy o seguiu indignada. O beijo havia sido apenas um experimento. Ele s quisera

    provar o que dizia. Pois bem, contaria a Christopher e demonstraria que o conde estavaenganado.

    No sabia se estava zangada ou devastada. Tamberlake no gostava dela. E da?No ia chorar. No devia.De queixo erguido, continuou caminhando e enxugando uma ou outra lgrima

    furtiva que insistia em rolar.No conversaram durante todo o caminho de volta. Ivy se mantinha alguns passos

    atrs do conde, alimentando a fria que s crescia com o passar dos minutos.Durante o caf, Ivy comia em silncio ignorando os olhares curiosos do irmo e da

    sra. Pennyfeather. Tamberlake foi o primeiro a deixar a mesa. Minutos depois, a sra.Pennyfeather disse alguma coisa sobre ir cuidar de seus afazeres na cozinha e tambmdeixou a sala. Ento Ivy ps o guardanapo sobre a mesa.

    O que aconteceu? perguntou Christopher. Ela olhou com firmeza para oirmo. Tamberlake beijou-me. Ah, francamente, Ivy! Se no quer me contar, s precisa dizer. A raiva tomou

    propores assustadoras. O conde estava certo! Ele disse alguma coisa sobre as ideias que as mulheres desenvolvem quando

    lem demais? O qu? Christopher, eu... Ah, homens! Ela se levantou e deixou a sala com

    passos furiosos.Queria solido. A biblioteca devia estar vazia, porque quela hora Tamberlake

    costumava ficar no estdio. No interior do aposento, ela se deixou dominar pela rebeldia eabriu as cortinas. Ningum poderia convenc-la a impedir a entrada da luz num dia comoaquele.

    Sentada em uma poltrona confortvel, recusou-se a pensar em Tamberlake, nobeijo ou na reao do irmo.

    O livro permanecia aberto sobre seu colo, esquecido.O beijo de Tamberlake era uma experincia revivida de forma incansvel pela

    memria. Irritada, ela ergueu o livro e colocou-o diante dos olhos. No via as palavras. Ocorao bateu forte em seu peito quando ela deslizou a lngua pelos lbios. Se fechasse osolhos, poderia recordar cada sensao provocada pelo contato.

    O almoo foi to silencioso quanto o caf da manh. Styles tentou conversar, mas

    desistiu depois das primeiras tentativas frustradas. Ivy no ousava erguer os olhos, eTamberlake apreciava o silncio. Era quase como se os hspedes nunca houvessem

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Andersonestado ali, como se no a houvesse beijado.

    Por que ainda pensava no beijo? Sabia que no devia t-la tocado, mas ela semostrara to confiante, to inocente, to deliciosa, que se deixara dominar pelassensibilidades. E ainda no conseguia desviar os olhos daquele rosto. Felizmente elaevitava encar-lo.

    O conde no conseguia lembrar-se da ltima vez em que comera to bem, e odiavacada minuto da refeio. Queria sua solido. Queria a escurido. Queria...

    Queria que Ivy olhasse para ele.Em que estava pensando? Os dedos tocaram a fria mscara de porcelana. A ltima

    mulher a fit-lo fora Daphne, a mulher que havia jurado am-lo e fugira aterrorizadadepois de ver seu rosto. Por que Ivy no fugia?

    A refeio interminvel chegava ao fim quando Beaker entrou na sala. Com licena, meu lorde? sim, Beaker. Outra carruagem acaba de chegar.

    O qu? Dois cavalheiros desejam falar com o conde. Disse a eles que no vou receb-los? claro, meu lorde, mas eles afirmam conhecer lady Ivy. Ivy levantou a cabea

    sem esconder a surpresa. Quais so seus nomes?Beaker entregou dois cartes ao conde. Tamberlake leu os nomes impressos nele,

    depois olhou para Ivy. Quem so? ela perguntou. Parece que seu noivo veio busc-la. Tamberlake jogou os cartes sobre a

    mesa. Os nomes, Neville Foxworthy, conde Wynbrooke, e Roger Thorndike, Escudeiro,estavam ali para quem quisesse v-los.

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella AndersonCaptulo VII

    Tamberlake espiava por entre as cortinas de um aposento no segundo andar. Ivy eStyles esperavam ao lado da carruagem enquanto dois homens saltavam dela. Um eramais alto do que o outro. Ele se inclinou para Ivy, depois afastou-se. O mais baixo

    segurou a mo dela e cumprimentou-a com um sorriso amplo.Wynbrooke. No precisava de uma apresentao formal para saber qual dos dois

    era ele. O homem devia ser ator, porque sua voz retumbante ecoava por todo o ptio.Podia ouvi-lo de onde estava.

    Lady Ivy, finalmente a encontrei. Wynbrooke beijou a mo dela.Tamberlake decidiu que no gostava do homem. Bem vestido e ostentando um

    penteado impecvel, ele no parecia ter sado de sua carruagem. Esguio, de boaaparncia, ele exibia uma felicidade que chegava a ser irritante.

    E estava inteiro.Tamberlake fechou as cortinas. Beaker levaria os recm-chegados ao salo. Estaria

    l esperando por ele.Ao entrar no principal aposento da manso, o conde notou as lamparinas acesaspouco antes. Dera ordens nesse sentido pensando em alegrar Ivy, mas agora no asqueria mais. Preferia a habitual escurido. Como de costume, acomodou-se na cadeira deencosto alto no canto mais escuro da sala. Sentado, ficou esperando e sentindo-se comouma aranha que espera pela mosca.

    De onde estava, Tamberlake viu a surpresa estampada no rosto de Wynbrooke. Escuro, no? Um homem rico como Tamberlake deve ter posses para adquirir

    mais lamparinas. Rico? indagou Ivy.

    Fiz uma rpida investigao sobre o homem. Sua fortuna faz seu pai parecer ummiservel.O conde olhou para Ivy. Seus olhos permaneciam fixos no cho. Ouvimos dizer que o homem excntrico, Wyn. Parece que os rumores tm um

    fundo de verdade, afinal comentou o mais alto, apoiando-se no console da lareira comose fosse um lorde.

    Tamberlake deduziu que aquele era Thorndike. Arrogante. Tambm no gostavadele.

    O que faz aqui, Wynbrooke? Styles perguntou depois de sentar-se. Sua me pediu minha ajuda. Ela no gostou do tom de sua ltima carta, lady

    Ivy. Minha carta? Suponho que esteja se referindo nota que enviei da hospedaria

    onde ficamos retidos por conta do mau tempo. Sua me presumiu que, como seu prometido, eu devia ser informado sobre suas

    dificuldades. E ela estava certa. Como a adorvel senhora se mostrou muito perturbadacom sua viagem, julguei ser meu dever tranquiliz-la e vir at aqui para acompanh-la devolta.

    Alm do mais, Wynbrooke no quis correr riscos. Tamberlake podia roub-ladele, no mesmo? Thorndike riu com ar debochado.

    evidente que no. Onde esto os criados desta casa? Preciso de um conhaque. No h muitos criados por aqui Styles revelou. Thorndike fez uma careta.

    O homem avarento, apesar de rico. Ele no avarento Ivy protestou. O conde nos deu abrigo quando nossa

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Andersoncarruagem quebrou.

    Sua carruagem quebrou? Vejo que fiz bem vindo at aqui. Podemos voltar nomeu veculo.

    Tamberlake sentiu o estmago se revoltar diante da ideia. No caberamos todos em sua carruagem disse Ivy. E no posso pedir a

    sra. Pennyfeather para ficar aqui sem mim. Temos de esperar pelo reparo do nossoveculo.

    Quanto tempo at que a carruagem seja reparada? quis saber Thorndike. No quero ficar nesse fim de mundo um minuto alm do necessrio.

    Parece que vamos ter de esperar por uma semana informou Christopher. Uma semana? Wynbrooke soou desanimado. No h outra soluo, suponho? Thorndike suspirou resignado. Bem,

    pensem em como vamos nos divertir no futuro, quando jantarmos lembrando a semanaque passamos no castelo do conde monstro.

    Dois crculos vermelhos surgiram no rosto de Ivy.

    Ele no um monstro, e no permitirei que fale dele dessa maneira.Tamberlake levantou-se de sua poltrona. No se incomode comigo, lady Ivy. J ouvi coisas piores. Ele se aproximou do

    pequeno grupo mancando. Styles sorria diante do espanto de Wynbrooke, mas Ivy parecia beira das lgrimas. Sejam bem-vindos, cavalheiros, ao Covil do Grifo. Lamento noter podido ir receb-los l fora.

    Banhado pela luz do fogo, o conde esperou pela reao dos homens. Ao ver omesmo horror de sempre, ele no conteve um sorriso satisfeito. Os cavalheiros aceitamconhaque?

    Wynbrooke engoliu em seco.

    Sim, obrigado. Conhaque seria timo. Vou buscar a bebida. Styles levantou-se e foi at o armrio. Quando passoupor Tamberlake ele piscou.

    Tamberlake assumiu uma posio ao lado da lareira. Thorndike afastou-se dele omximo que pde.

    Lorde Wynbrooke, um prazer conhec-lo. No entanto, confesso que no melembro de ter ouvido seu nome antes.

    Herdei o ttulo recentemente, quando meu pai faleceu depois de um longoperodo de doena. Ele no frequentava muito os sales da sociedade.

    Eu tambm no estive em muitas festas recentemente. Tamberlake riu daprpria piada.

    Wynbrooke tambm riu, embora estivesse apavorado. Sr. Thorndike, espero que a jornada no tenha sido muito cansativa. Nem um pouco, meu lorde. A paisagem fascinante. Ah, a paisagem! S um indivduo especial capaz de apreciar a beleza nica de

    Gales. Concorda comigo, lady Ivy? Definitivamente ela respondeu, escondendo um sorriso discreto com a mo.Styles retornou com quatro clices e deu um deles a cada cavalheiro antes de ir

    sentar-se. Ento props um brinde: A sade de todos, cavalheiros. Tamberlake esperou at que todos levassem

    os copos aos lbios.

    E sade de lady Ivy.Como esperava, os dois visitantes retiraram os clices de suas bocas, deixando

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    CH 281 Para sempre seu Gabriella Andersonescorrer conhaque pelos queixos.

    Sim, a lady Ivy concordou Wynbrooke. Thorndike limitou-se a assentir. Lamento que tenham feito viagem to longa por ns, lorde Wynbrooke disse

    Ivy. No pensarei mal de sua excelncia se desejar voltar sem ns. Christopher ficarpara acompanhar-me de volta.

    Eu nem sonharia abandon-la, minha lady. No tenho compromissos urgentesem Londres. A temporada pode comear sem mim. Lorde Tamberlake, pode recomendaralguma hospedaria apropriada?

    Como sua partida ter de ser adiada por alguns dias, permita-me oferecer asacomodaes disponveis em minha casa.

    Tamberlake notou a expresso de alvio que suavizou as linhas no rosto dovisitante.

    Sou grato por sua hospitalidade, meu lorde. Beaker vai preparar mais dois aposentos. No me lembro da ltima vez em que

    ele teve de dar conta de tantos hspedes. A experincia o deixar muito excitado.

    Beaker? exclamou Styles. Essa eu pago para ver!Uma hora mais tarde, Tamberlake trancou-se em seu estdio em busca de umpouco de paz. Havia decidido mostrar a Ivy que era de fato um homem generoso, masdetestava a ideia de ter sua casa to cheia de gente. Algumas horas de trabalhodeterminado o ajudariam a esquecer o desconforto provocado pela presena dosvisitantes.

    Estava de fato decidido a trabalhar, mas os olhos caram sobre uma cpia deNobreza de Burke, e ele foi virando as pginas at encontrar Wynbrooke. A histria dafamlia era ilustre. A linhagem datava de sculos. Enquanto lia sobre todas as conquistasdos Wynbrooke, Tamberlake sentia que sua disposio ia se tornando mais e mais

    sombria. Quando finalmente chegou ao atual conde Wynbrooke, seu interesse cresceu.Mas o livro no cobria o atual Wynbrooke. Apenas o pai dele.O conde fechou o volume e guardou-a na prateleira.Resmungando contra si mesmo, sentou-se escrivaninha para cuidar dos livros-

    caixas. Ainda tentava concentrar-se nos nmeros quando as batidas na porta ointerromperam.

    Entre!Para sua surpresa, a sra. Pennyfeather surgiu na soleira. Perdoe minha intruso, lorde Tamberlake. No cabe a mim dizer como deve

    administrar sua casa, mas...Agora estava ficando curioso. Continue, sra. Pennyfeather. Agora que recebeu novos hspedes, os Beaker precisam de ajuda. No pode

    esperar que eles cuidem dos aposentos, da comida, da lavandeira, da gua quente e detudo que h para ser feito.

    O que sugere? Proponho a contratao de algumas jovens no vilarejo. As moas podem servir

    como camareiras e ajudantes de servios gerais. Talvez deva contratar tambm algunshomens para cuidar dos cavalos e servir de valetes para os cavalheiros.

    E se ningum quiser trabalhar para o conde monstro? Bobagem! Um bom salrio far essa gente esquecer seus temores tolos.

    surpreendente como o dinheiro pode suplantar a superstio. Vejo que j refletiu muito sobre a situao.

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