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    ANLISE DA DINMICA DOS RECURSOS HIDRICOS E SEU USO NA FORMAO

    DO ASSENTAMENTO ANTONIO DE FARIA, CAMPOS DOS GOYTACAZES-

    RJ(BRASIL)

    Artur Fontes de Souza

    Graduando em Geografia, Departamento de Geografia de Campos (GRC), Universidade

    Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: [email protected].

    Raul Reis Amorim

    Professor Adjunto,Departamento de Geografia de Campos (GRC), Universidade Federal

    Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil. E -mail: [email protected]

    RESUMO

    O presente trabalho prope-se analisar a dinmica de utilizao dos recursos hdricos na

    formao do Assentamento Antonio de Farias, situado na localidade de Pernambuca no

    municpio de Campos dos Goytacazes-RJ. O objetivo deste trabalho identificar os

    recursos hdricos existentes na rea de estudo e a sua relao com o uso e ocupao das

    terras. A abordagem metodolgica deste trabalho a adoo da Teoria Geral dos

    Sistemas. Dentre os procedimentos metodolgicos adotados, est a realizao de

    trabalho de campo e a organizao de banco digital de dados. Com os resultados

    preliminares, verificou-se que as reas onde se encontram os corpos hdricos no

    apresentam o estado de preservao exigido pela legislao ambiental, ou seja, os

    corpos hdricos no esto protegidos pela mata ciliar. As etapas ento cumpridas iro

    subsidiar as etapas posteriores, que tem como objetivo final orientar a populao do

    assentamento rural a utilizar e conservar os recursos hdricos da propriedade.

    Palavras-chave: Recursos Hdricos; Assentamentos; Uso da Terra.

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    1. Introduo

    Todos os seres vivos tm necessidade de recursos naturais para manter sua

    existncia, e dentre eles o prprio homem. O homem diferente dos demais seres vivos

    organiza-se em sociedades que com desenvolvimento tcnico diferenciado apropria-se

    dos recursos maturais de maneira diferenciada.

    No passado, as diferentes sociedades tinham na localizao e abundncia dos

    recursos naturais um fator importante para o seu desenvolvimento, como os povos da

    antiguidade oriental que se instalaram nas margens dos rios Tigre, Eufrates e Nilo.

    Alm de desenvolverem diferentes tcnicas de cultivo e domesticao de animais,

    as sociedades antigas apropriam-se dos recursos hdricos no apenas para o

    desenvolvimento das atividades agrcolas, mais tambm para o consumo.

    medida que as sociedades passaram de essencialmente rurais e torna -se

    urbanas, o uso dos recursos hdricos passa a ser de grande importncia, pois a presena

    de variados tipos de recursos hdricos pode definir o desenvolvimento de formas de

    atividades no meio urbano e indiscutivelmente no meio rural. Sendo a gua de suma

    importncia para todos os tipos de produes agrcolas e obt eno de diferentes produtos

    industriais que a utilizam como matria prima.

    gua como elemento fundamental para a manuteno da vida um fato concreto

    na vida de todas as sociedades. A presena de nascentes nas reas estudadas pode

    influenciar na qualidade de vida e condies maiores para o desenvolvimento dos que ali

    residem e maior respaldo na produo e obteno e obteno de sua alimentao e

    criao de animais. Condies essa tambm presentes no meio urbano, onde a ocupao

    se da aliada a proximidade e obteno de variados recursos hdricos para ser utilizados

    em seu dia a dia como elemento fundamental para sua sobrevivncia.

    Infelizmente, as diferentes sociedades no que refere ao uso adequado dos

    recursos naturais em especial dos recursos hdricos no tem tido o devido cuidado para a

    manuteno e conservao da gua, que tanto no meio urbano como no meio rural esto

    sendo contaminadas.

    O uso e ocupao das terras tanto na rea rural como na rea urbana deve serfeito de forma a conservar os recursos hdricos e evitar alteraes no ciclo hidrolgico,

    pois para Branco (2003) a gua constitui fator de grande importncia na constituio do

    mundo em que vivemos. Analisando os recursos hdricos sobre uma perspectiva

    sistmica, a gua est presente de maneira direta e indireta em todos os elementos que

    compem os aspectos naturais: No clima, permite a manuteno de temperaturas

    amenas e variao no muito acentuadas; na litosfera responsvel pela formao da

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    maior parte das rochas sedimentares, alm de possib ilitar os processos intempricos

    responsveis pela existncia dos solos; na biosfera, a gua constitui componente

    indispensvel existncia da vida em todas as suas formas, principalmente em

    decorrncia da variao de umidade que possibilita a existncia da diversidade biolgica,

    ou seja, pela distribuio to diversa da fauna e da flora em nosso planeta.

    importante refletir sobre o uso dos recursos hdricos na atualidade, e em especial

    nas reas rurais que apresentam grande diversidade de tcnicas de a propriao dos

    recursos naturais, pois a insero do capital possibilita a existncia de diferentes meios de

    produo no campo, que vai desde as empresas agrcolas com uso intensivo de

    tecnologias agricultura itinerante familiar, que ainda utiliza o arad o, queimada e outras

    tcnicas que degradam os recursos naturais.

    Os projetos de assentamento rural implantados no Brasil devem preocupar -se com

    o uso dos recursos naturais. Os assentados no devem simplesmente preocupa-se em

    adquirir a posse da terra, mais utiliz-la de maneira sustentvel, de forma a manter a

    potencialidade produtiva e tambm de conservar os recursos naturais como a gua, o

    solo e a biota.

    O objetivo deste trabalho fazer um levantamento e mapeamento dos recursos

    hdricos presentes no assentamento Antonio de Faria, avaliar a sua condio e uso e

    propor um melhor uso.

    1. Material E Mtodo

    rea de estudo

    O assentamento estudado o Antonio de Farias, localizado no distrito de Ibitioca, na

    vila de Pernambuca, no municpio de Campos dos Goytacazes, situado na Regio Norte

    Fluminense, Estado do Rio de Janeiro (Brasil). Este assentamento situa -se na antiga

    Fazenda Santa Rita do Pau Funcho, que foi desapropriada para a criao do

    Assentamento Rural pelo decreto da Presidncia da Republica de 08 de agosto de 2000,

    tendo como rgo expropriante o INCRA (Figura 01).

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    Figura 01 Localizao do Assentamento Antnio de Farias, no municpio de Campos

    dos Goytacazes/RJ (Brasil).

    A rea em estudo situa-se na rea de transio entre a Plancie Aluvi al do Rio

    Paraba do Sul e as colinas adjacentes Serra dos rgos. A rea do assentamento

    composta de um relevo ondulado com pequenas reas de baixadas onde esto

    localizados terrenos mais saturados.

    Uma analise mais aprofundada do solo demonstra um desgaste devido a inteno

    produo ao longo de seu histrico produtivo, principalmente no que refere -se ao cultivo

    de cana-de-acar. Por total falta de Mata Nativa, o solo tornou-se mais intemperizados

    devido ao ciclo de chuvas no, havendo um escoamento superficial para reas mais baixas

    onde se localizam reas mais saturadas formando os brejos.

    Alm de reas saturadas, encontram-se nascentes superficiais dando origem a

    pequeno lagos por toda a extenso do assentamento. H tambm a presena de um rio

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    que corta o assentamento proporcionando a obteno de gua para maiorias dos lotes

    que constituem o assentamento.

    Histrico de ocupao

    O uso e ocupao das terras da Regio Norte Fluminense, que teve seu inicio em

    1627, aps a diviso da Capitania de So Tom em glebas por ordem da CoroaPortuguesa. Tais glebas foram doadas a sete capites portugueses, alguns deles donos

    de engenho na regio da Guanabara, efetivando a ocupao.

    Em 1650 foi implantado o primeiro engenho de cana-de-acar na regio,

    culminando em 1677 a fundao da primeira vila, a vila de So Salvador dos Campos dos

    Goytacazes, pelo Visconde d'Asseca, que desencadeou ao entorno da vila a grande

    expanso pecuria.

    A introduo do primeiro engenho a vapor na regio, em 1830, trouxe grande

    transformao no processo de produo de acar. "A elevao da vila a condio decidade somente veio a ocorrer em 28 de maro de 1835. O aparecimento da ferrovia, em

    1837, com a inaugurao do trecho Campos-Goitacazes; e posteriormente em direo ao

    trecho Norte-Sul, facilitou a circulao, transformando o municpio em centro ferrovirio da

    regio.

    Em 1877, so implantados na regio os engenhos centrais (usinas), e inicia -se o

    processo de urbanizao e, a rea da Regio Norte Fluminense passou por processo de

    fragmentao territorial municipal. Em 1890, o municpio de Campos dos Goytacazes que

    foi fragmentado, j estava reduzido praticamente as fronteiras atuais.Ao longo do sculo XX, a consolidao da cultura canavieira, faz com que haja o

    crescimento das cidades que possibilitem a instalao de pequenas empresas, da

    melhoria de suas atividades comerciais e de servios.

    A Regio Norte Fluminense beneficia-se com a partir da dcada de 1970, com a

    implantao da Petrobras, em Maca, como base de operao das at ividades de

    prospeco e de produo para os recm-descobertos campos de petrleo na plataforma

    continental da Bacia de Campos (PIQUET, 2003).

    Com a explorao de petrleo, a dinmica econmica da Regio Norte Fluminense

    foi alterada, pois a atividade canavieira, a principal atividade econmica da regio foi

    perdendo espao para as atividades vinculadas ao setor urbano, como indstrias e o setor

    de servios.

    Com o declnio da lavoura canavieira muitas propriedades rurais passaram a ser

    improdutivas no municpio de Campos dos Goytacazes, dentre elas a Fazenda Santa Rita

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    do Pau Funcho, que foi desapropriada para a criao do Assentamento Rural Antonio de

    Farias, objeto de estudo desse trabalho.

    Fundamentao terica

    A anlise do uso dos Recursos Hdricos do Assentamento Rural Antnio de Farias

    ser analisada atravs da definio de Geossistemas, pois no considera a gua como

    um componente isolado no meio natural, mas sim, um elemento que atua como agente

    ativo na constituio das paisagens.

    Ao estudar o uso dos Recursos Hdricos, importante no apenas analisar como as

    diferentes populaes consomem este recurso, mas como a ao antrpica na construo

    das paisagens atuam alterando seus fluxos e a sua armazenagem, seja no solo, nos

    aquferos, na cobertura vegetal, nos corpos lquidos e at mesmo na atmosfera.

    Desta forma, este trabalho ir analisar os recursos hdricos como constituintes dos

    Geossistemas, que defino por Sotchava (1977) considerado um conjunto de el ementos

    do meio natural, que pode sofrer alteraes na sua funcionalidade, estrutura e

    organizao em decorrncia da ao antrpica. Vale ressaltar que esta interferncia no

    ocorre de maneira direta, como prope Bertrand (1971) ao considerar que a ao

    antrpica um integrante dos Geossistemas.

    Sotchava (1977), ao apresentar o estudo dos Geossistemas, diz que cada categoria

    de Geossistema se situa num ponto do espao terrestre. Observa que estes devem ser

    analisados como pertencentes a um determinado lugar sobre a superfcie da Terra. Para

    o autor, a natureza passa a ser compreendida no apenas pelos seus componentes, mas

    principalmente pelas conexes entre eles, no apenas restringindo -se morfologia da

    paisagem e as suas subdivises, mas priorizando a anlise de sua dinmica, sua

    estrutura funcional e suas conexes (SOTCHAVA, 1978).

    Para Amorim (2011) um Sistema Ambiental pode ser caracterizado como entidade

    organizada na superfcie terrestre formada pelos subsistemas fsico/natural (Geossistema)

    e antrpico, bem como por suas interaes. O subsistema fsico-natural (Geossistema)

    composto por elementos e processos relacionados ao clima, solo, relevo, guas e seresvivos, enquanto os componentes e processos do subsistema Antrpico so aqueles

    ligados populao, urbanizao, industrializao, agricultura e minerao, entre outras

    atividades e manifestaes humanas. Assim, no contexto da Geografia, Sistema

    Ambiental trata-se da organizao espacial, fruto das relaes entre os Geossistemas, ou

    sistemas fsico/naturais e os Sistemas Antrpicos.

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    O ainda autor enfatiza que com os nveis de antropizao da atualidade, os

    Geossistemas e os Sistemas Antrpicos no podem ser estudados de maneira isolada,

    mais de forma integrada, pois mesmo os Geossistemas e os Sistemas Antrpicos

    apresentando leis e dinmicas prprias, este mantm um funcionamento parcialmente

    independente, e tambm um funcionamento dependente um do outro, ou seja, mesmo a

    natureza apresentando suas leis e dinmica prpria, esta pode sofrer alter aes em

    decorrncia da ao antrpica, como por exemplo, alteraes nos nveis pluviomtricos e

    alteraes na temperatura como consequncia do desmatamento, assim como os

    Sistemas Antrpicos sofrem interferncia das leis da natureza.

    Procedimentos metodolgicos

    O trabalho baseou-se em trs etapas: a primeira etapa refere-se a um inventrio dos

    aspectos fsico/naturais da rea do Assentamento Antnio de Farias, atravs de reviso

    bibliogrfica e levantamento cartogrfico, tanto em meio analgico como em me io digital;

    a segunda etapa foi a elaborao dos mapas temticos de uso e ocupao das terras

    utilizando o software Arc GIS 9.2, na interpretao visual da imagem Alos Prism de

    abril/2010. Outra etapa foi a digitalizao do Mapa de Solos, na Escala 1:15.00 0

    elaborado pela ITERJ e a organizao do Mapa Topogrfico. O objetivo da organizao

    deste mapa a obteno de informaes para a elaborao do Mapa Hipsomtrico e do

    Mapa Clinogrfico em ambiente de SIG.

    A partir do Mapa Topogrfico foi possvel elabora r o modelo digital de terreno que

    denominamos de Mapa Hipsomtrico.Para gerar tal modelo foi utilizado o software Arc

    GIS 9.2 no mdulo ArcToolBox, na ferramenta Interpolao de Raster, no comando Topo

    para raster, e nele ocorreu a interpolao dos layes curvas de nvel, pontos cotados e

    rede de drenagem, lagos e rios de margem dupla e limite municipais, assim, gerando

    um modelo digital de terreno. Este mapa foi elaborado a fim de identificar as reas com

    maior desnvel altimtrico, e as reas de topos e nascentes.

    O Mapa Clinogrfico foi gerado a partir do modelo digital de terreno com o uso do

    software Arc GIS 9.2 no mdulo ArcToolBox na ferramenta Superfcie para Raster nocomando Declividade. Este Mapa de fundamental importncia nos estudos vinculados

    ao planejamento do uso e ocupao das terras, e tambm constitui um documento

    cartogrfico que somado a outros mapas temticos, pode identificar reas com

    susceptibilidade a inundao.

    Complementando a etapa anterior, realizou-se na etapa final a realizao de um

    trabalho de campo trabalho de campo para o reconhecimento da rea do assentamento,

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    onde portando uma ficha de campo, GPS e mquina fotogrfica observou -se e

    registraram-se as caractersticas fsico-naturais da paisagem como formas de relevo

    predominante, tipos de solos expostos em perfis, cobertura vegetal natural, presena de

    corpos lquidos. Cada mudana na paisagem foi registrada com pontos no GPS e um

    registro fotogrfico.

    Tambm foram observados os diferentes tipos de uso e ocupao das terras, e

    buscou-se sempre correlacionar a sua proximidade com os corpos hdricos. Observou-se

    que na area do assentamento existem reas com pastagem, eucalipto e desenvolvimento

    de agricultura familiar, com plantio de hortifrutigranjeiros, man dioca, feijo e milho.

    2. Resultados e Discusses

    O Assentamento Antnio de Farias com rea de 1008,00 h, dividido em 09

    ncleos, que apresentam reas e nmero de lotes distintos (Tabela 01).

    Tabela 01 Diviso do Assentamento Rural Antnio de Farias em Ncleos, nmero de

    lotes e rea em 2010.

    Ncleos rea em ha rea em %

    Ncleo 01 78,27 7,76

    Ncleo 02 83,29 8,26

    Ncleo 03 153,30 15,21

    Ncleo 04 57,82 5,74

    Ncleo 05 139,80 13,87

    Ncleo 06 105,02 10,42

    Ncleo 07 138,30 13,72

    Ncleo 08 103,90 10,31

    Ncleo 09 148,30 14,71

    Total 1008,00 100,00

    Elaborado pelos autores.

    Esta no homogeneidade decorrente dos diferentes atributos naturais na rea que

    tornam, principalmente os trechos com Organossolos onde desenvolve -se a vegetao de

    Brejo, apresentando baixa aptido agrcola (Figura 02). Observou -se no trabalho de

    campo que a rea apresenta grande abundancia em recursos hdricos, pois alm dos

    inmeros canais de primeira ordem tambm ocorre a formao de brejos onde o nvel do

    lenol fretico satura.

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    Figura 02 Mapa de Solos do Assentamento Antnio de Farias.

    A baixa aptido agrcola das reas de Organossolos esto vinculadas aos seguintes

    fatores: Este tipo de solo se desenvolve em reas em que as condies de dre nagem no

    so eficientes ocasionando condies de hidromorfismo responsveis pela reduo do

    ferro. Tais condies ocorrem em reas situadas em pores mais rebaixadas do relevo,

    como ocorre na rea em estudo, que situa-se entre 0 e 20 m (Figura 03) e declividades

    inferiores a 2%, como diz Young apud Oliveira (2006) so consideradas as reas com

    maior propenso a inundaes (Figura 04).

    As reas com ocorrncia dos Organossolos esto situadas as margens do rio Urura,

    que alimentado pelas guas da bacia do rio Imb, atravs da Lagoa de Cima, pelas

    guas do afluente Rio Preto, desaguando ao sul, na Lagoa de Cima e pelos canais de

    primeira ordem que tem suas nascentes na rea do assentamento.

    Na rea verifica-se que os aspectos naturais condicionam a abundancia em recursos

    hdricos, pois o relevo direciona os fluxos de gua que partem das colinas, escoam e

    acumulam-se nas pores mais rebaixadas.

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    Figura 02 Mapa Hipsomtrico do Assentamento Antnio de Farias

    Figura 03 Mapa de Declividade do Assentamento Antnio de Farias

    Observando a Figura 04 nota-se que predomina na rea de estudo as pastagens e

    cultivos de subsistncia. Essas pastagens encontram-se em torno dos corpos lquidos,

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    reas de brejo e habitaes, mantendo uma ligao direta com a criao de animais

    ruminantes para produo de leite.

    figura 03 - Mapa de uso e ocupao das terras do assentamento Antonio de Farias,

    destacando o uso e ocupao das margens dos rios, segundo a legislao brasileira.

    Nas reas ao entorno dos canais no respeita a legislao brasileira vigente, pois a

    cobertura vegetal foi retirada, alterando os fluxos de matria e energia, principalmente da

    gua, dos organismos e dos sedimentos desses Geossistemas.

    Segundo o Cdigo Florestal Brasileiro:

    Art. 2 Consideram-se de preservao permanente, pelo s efeito

    desta Lei, as florestas e demais formas de vegetao natural

    situadas:

    a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'gua desde o seu nvel

    mais alto em faixa marginal cuja largura mnima ser:

    1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'gua de menos de 10 (dez)

    metros de largura;

    2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'gua que tenham de

    10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;

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    3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'gua que tenham de 50

    (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;

    4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d'gua que tenham de

    200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;

    5 - de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'gua que tenham

    largura superior a 600 (seiscentos) metros;

    b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatrios d'gua naturais ou

    artificiais;

    c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos

    d'gua", qualquer que seja a sua situao topogr fica, num raio

    mnimo de 50 (cinquenta) metros de largura;

    d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;

    e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45,

    equivalente a 100% na linha de maior declive;

    Pargrafo nico. No caso de reas urbanas, assim entendidas as

    compreendidas nos permetros urbanos definidos por lei municipal,

    e nas regies metropolitanas e aglomeraes urbanas, em todo o

    territrio abrangido, obervar-se- o disposto nos respectivos planos

    diretores e leis de uso do solo, respeitados os princpios e limites a

    que se refere este artigo. (Includo pela Lei n 7.803 de 18.7.1989)

    Observando a Figura 04 e ao que determina o Cdigo Florestal Brasileiro,

    delimitou-se sobre um buffer ao entorno da rede de drenagem, respeitando as medidas

    expostas na legislao, e observou-se que em todos os ncleos do assentamento a

    preservao da Mata Ciliar foi respeitada. A Mata Ciliar foi predominantente substit uda

    por pastagens, pois facilitava o acesso do gado bovino aos canais para saciar de suas

    necessidades. Para o ITERJ (2002) a grama Pernambuco, dominante na regio,

    apresenta baixa capacidade de suporte nutricional, e que propicia o aumento de

    processos erosivos aumentando a dificuldade no manejo dos solos ali existentes. A MataCiliar tambm foi substituda nos Ncleos 01, 04, 05, 06, 07 e 08 pela cana-de-acar,

    que foram instaladas nos Latossolos, solos com excelente aptido agrcola, que

    necessitam de correo quando usados excessivamente, como aponta Carvalho et all

    (2009) ao propor o cultivo irrigado de coqueiros no assentamento em estudo.

    Nota-se que associada a essas pastagens temos algumas reas remanescentes de

    Matas, sendo as mesmas encontradas em pequenos pontos nos Ncleos 01, 02, 04, 05,

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    08 e 09 nas margens dos canais. O desmatamento nas margens dos rios e canais

    anterior a criao do assentamento, sendo um reflexo do histrico uso e ocupao do

    municpio que tinha no cultivo de cana-de-acar e secundariamente a pecuria como

    atividades econmicas predominantes. A Mata Ciliar foi devastada para o

    desenvolvimento dessas atividades, no preservando a Mata Ciliar.

    O que observa-se hoje como mata na verdade uma vegetao secundria que

    perdeu em diversidade e densidade as suas caractersticas originais.

    Nas pores mais rebaixadas (Figura 02) as baixas declividades favorecem a

    substituio das matas, que so constitudos de espcies de vegetao arbustiva, por

    pasto nativo ou por uma vegetao menos densa como as capoeiras.

    Devido a todo esse processo de degradao, as espcies animais encontradas na

    fauna so pequenas aves, cobras e anfbios residentes nas reas de brejo (ITERJ, 2004).

    Alm do desenvolvimento de pastagens e culturas de subsistncia, os ncleos

    ainda cultivam a cana-de-acar. Esta cultura esto situadas prximas dos corpos

    lquidos, o que compromete a qualidade da gua, pois os resduos provenientes dessa

    cultura, principalmente os insumos agrcolas e os resduos das queimadas da cana-de-

    acar contaminam tanto a gua superficial como a subterrnea .

    Responsvel pela maior fonte de renda, a produo de cana -de-acar encontra-se

    dividindo sua rea com a pastagem, formando uma parceria entre a produo canavieira

    e alimentao dos animais contidos nas pastagens. Em perodo de colheita, feita atravs

    da utilizao de fogo, o solo tem uma perda significativa de nutrientes, p ois os

    microorganismos que os sintetizam tambm morrem, comprometendo a otimizao do

    solo para a produo seguinte.

    A segunda maior rea do Assentamento Antnio de Farias constituda por brejos.

    So locais com caractersticas de solos muito midos durante o ano todo, com pequenos

    afloramentos do nvel do lenol fretico sendo pouco e no utilizado.

    Em sua maioria esto circundados pela pastagem, onde tambm servem de

    bebedouros para os animais. Com caractersticas pantanosas, os brejos so reas

    praticamente improdutivas dentro do mecanismo de funcionalidade e produtividade doassentamento.

    Em estudos preliminares, percebe-se grande presena de nascentes sendo destes

    mal utilizados e quase nunca preservados. Essa caracterstica pode ocasionar a extin o

    de alguns rios em um perodo muito curto. Todas essas nascentes encontram -se

    predominantemente em reas que atualmente desenvolve -se a pastagem, alm de

    nascentes situadas tambm situadas em reas de plantao de cana -de-acar e de

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    habitaes (Figura 04), sem nenhuma preocupao com sua contaminao e exposio a

    animais ou outros agentes contaminantes. Encontra-se um rio de grande extenso dentro

    dos limites do assentamento, onde sua utilizao feita atravs da capitao de suas

    guas por bombas submersas e rede de canalizao primria para abastecimento das

    residncias contidas na sua proximidade.

    Com pouca representatividade, encontramos o solo exposto, nos Ncleos 06 e 08,

    que so adjacentes s pastagens, nas quais o solo no teve uma manuteno mnima

    para a sua utilizao e acabou por adquirir uma caracterstica improdutiva. Assim sendo,

    no utilizado para o plantio e nem produo de nenhum tipo de alimento, por possuir por

    muitas vezes uma caracterstica ferruginosas, com processos ativos erosivos.

    Outra rea nfima a produo de eucalipto, onde ao ser remarcado a terra para

    uso do assentamento, verificou-se a presena de pequenas reas com o plantio dos

    mesmos, assim sendo, essa produo tornou-se comunitria, onde toda a produo

    transformada em hastes para o cercado e dividida pelas famlias moradoras do

    assentamento.

    O limite associado rea total do assentamento rural Antnio de Faria,

    compreende uma pequena rea urbana chamada Pernambuca, onde em sua maioria, so

    pessoas com algum tipo de associao da terra, mas sendo especifico do caso, pouco

    produz e no produz absolutamente nada.

    Dentro do limite rural, encontrado pequenas reas de moradias, em sua maioria

    associada proximidade dos recursos hdricos e pastagens ou produo da cana-de-

    acar. Ligado diretamente a estas reas de habitao, temos a produo de fruticulturas,

    onde tem como caracterstica a produo de reas em torno a suas moradias sendo

    utilizadas para consumo prprio, venda em feiras rurais ou at mesmo produo de doces

    para abastecimento do mercado local da rea urbana compreendida dentro do limite do

    assentamento.

    Em visitas de campo verifica-se a grande extenso territorial associada a cada

    famlia, onde tendo uma diviso em formatos triangulares facilitando assim toda a

    locomoo dentro dos lotes e a obteno de algum recurso hdrico, sendo este canalizadoou obtido por meio de captao primria destes corpos lquidos.

    As habitaes tem uma padronagem estabelecida, sendo estabelecida uma

    metragem igual para cada famlia contemplada pelo sistema de reforma agrria. Essas

    habitaes so constitudas de 2 quartos, 1 sala, 1 cozinha e por 1 banheiro, sendo

    passvel de mudana ou expanso de acordo com a famlia. As famlias beneficiarias da

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    reforma agraria tem por caracterstica o origem humilde, de perfil associado ao convvio e

    trabalho da terra.

    Verificou-se dentro do zoneamento estabelecido pelo PDA a no existncia de uma

    rea destinada reservas legais (RLs) e reas de Proteo Permanentes (APPs),

    embora a legislao recomende um limite em torno dos cursos dgua, nota -se a falta de

    conservao da mata ciliar e de suas pequenas manchas arbreas.

    Costa e Arajo (2002) ressaltam que o Cdigo Florestal estabelece o conceito de

    APPs - reas de Preservao Permanente, sendo estas situadas prximas a lagos,

    lagoas, rios com variao de acordo com o tamanho de cada um, nas nascentes num raio

    mnimo de 50 m, topo de morros, nas encostas, nas restingas e manguezais, bordas de

    tabuleiro ou chapadas e em terrenos com declividade a partir de 45.

    Segundo informaes apuradas por Haddad e Pedlowski (2009), umas das maiores

    queixas em relao a implantao das RLs e APPs seriam a perda significativa de rea

    cultivvel de cada lote no assentamento, assim sendo, existe uma despreocupao em

    relao a essa poltica de preservao ambiental.

    Em questo da utilizao do solo, Costa e Arajo (2002) sugerem que seria

    necessrio que fosse feito um planejamento da paisagem com objetivo de identificar os

    espaos mais apropriados para o desenvolvimento das atividades econmicas, em

    consonncia com as reas que devem ser destinadas proteo.

    Para tanto, primamos pra uma utilizao do uso da terra de forma onde poderiam se

    potencializar as caractersticas naturais dos solos a favor do pblico alvo. A

    predominncia de Latossolo faz com que se priorize o cultivo de manga, banana ou

    laranja; nas reas mais baixas, sendo a predominncia do Organossolo, devido a

    saturao em perodos prolongados do ano, aperfeioa-se o cultivo de ciclo curto como a

    abbora, quiabo e feijo. Os Cambissolos encontrados as margens do Rio Ururai, sendo

    considerado o leito maior do rio, recomenda -se o cultivo de milho, quiabo e abbora e nas

    reas de Gleissolo, o cultivo s recomendado em reas de seca e de ciclo curto como

    hortalias, feijo e milho.

    No que tange o Assentamento Antnio de Farias, verifica -se a pouca organizaosocial e um maior controle ambiental em toda sua extenso territorial, sendo suas reas

    poucas conservadas e raramente preservadas.

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    Consideraes Finais

    A dinmica hdrica condiciona naturalmente a disposio dos ncleos de convivncia

    assim como a forma produtiva adotada. Verificou-se que ao entorno dos canais de

    primeira ordem cobertura vegetal nativa foi severamente degradada, sendo substituda

    por pastagem ou cultivo extensivo agrcola, em contra partida as reas de Organossolo

    encontram-se em perfeito estado de conservao devido a sua caracterstica de

    saturao natural.

    Outro ponto alarmante encontra-se em reas de declividade maior que 45% sem

    nenhuma presena de cobertura vegetal, possibilitando o maior carreamento de material

    sedimentar causando o assoreamento dos canais hdricos.

    Alm do problema vinculado a interferncia no ciclo hidrolgico em decorrncia da

    modificao no uso da terra verificou-se que os moradores coletam a gua de poos,

    mais que tambm utilizam como sistema de despejo de efluentes domsticos o sistema

    de fossas asspticas. Essa relao esta diretamente empregada ao desenvolvimento de

    cada lote atravs da obteno e captao de alguns recursos hdricos para ser utilizado

    em seu dia-a-dia e no modo de produo.

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